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LFG LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL I Aula 02 Falência Material do Professor

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LEI DE RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS
E FALÊNCIA (LEI 11.101/05)
Com o professor André Monteiro
INTRODUÇÃO
Art. 1o Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação
extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária,
doravante referidos simplesmente como devedor.
Art. 2º Esta Lei não se aplica a:
I – empresa pública e sociedade de economia mista; (seja prest. de
serviço público ou exploradora de atividade econômica)
II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito,
consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade
operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora,
sociedade de capitalização e outras entidades legalmente
equiparadas às anteriores. (Lei 6.024/74)
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DIFERENÇAS CONCEITUAIS
� Recuperação judicial (art. 47): superação de crise
econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos
trabalhadores e dos interesses dos credores,
promovendo, assim, a preservação da empresa, sua
função social e o estímulo à atividade econômica.
� Alteração do controle societário, alteração de
administradores, redução salarial, venda parcial de
bens etc.
DIFERENÇAS CONCEITUAIS
� Recuperação extrajudicial (art. 161): mesmo objetivo
da recuperação judicial, porém o plano é apenas
homologado em juízo.
� Não poderá fazer a recuperação extrajudicial o
devedor de créditos tributários, derivados da
legislação trabalhista ou decorrentes de acidente de
trabalho.
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DIFERENÇAS CONCEITUAIS
� Falência (art. 75 e ss.): Processo de execução
concursal (concurso de credores) do patrimônio do
devedor.
� Não tem por finalidade a superação das dificuldades
econômicas e financeiras do devedor, e sim otimizar a
execução do patrimônio.
EXPLICAÇÃO DE FÁBIO ULHOA COELHO:
“Se alguém não possui bens suficientes para pagar todas
as suas dívidas, o mais justo é a instauração de uma
execução única, envolvendo todos os credores e
abrangendo a totalidade dos bens do patrimônio do
devedor. A série de execuções singulares não permite o
tratamento paritário dos credores, com o atendimento
preferencial aos mais necessitados e ao interesse público.
Esses objetivos só se alcançam numa execução
concursal.”
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OBJETIVOS DA LEI:
i) Preservação da empresa
ii) Separação dos conceitos de empresa e empresário
iii) Recuperação da empresa viável economicamente
iv) Retirada do mercado da empresa não recuperável
v) Proteção dos trabalhadores
vi) Redução do custo do crédito (benefícios instituiç. financ.)
vii) Celeridade e eficiência do processo judicial
viii) Participação ativa dos credores
ix) Maximização dos valores dos ativos dos devedores
x) Desburocratização da recuperação de ME e EPP
xi) Rigor na punição dos crimes relacionados
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LEI DE RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS
E FALÊNCIA (LEI 11.101/05)
Com o professor André Monteiro
IMPORTANTE
� Falir ou estar em recuperação não é, por si só, ilícito
penal.
� A situação falimentar possui natureza econômico-
social com consequências jurídicas definidas, mas
não se reveste de tipicidade penal.
� Os crimes referem-se a comportamentos, anteriores
ou posteriores à falência ou recuperação, que,
normalmente, prejudicam o direito de credores ou
leva o devedor à situação de inviabilidade econômica.
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PRINCÍPIO DA UNIDADE DOS CRIMES FALIMENTARES
� Havendo a prática de mais de uma conduta típica
prevista na Lei de Falência, o agente deverá
responder apenas pelo crime mais grave, não
havendo concurso de crimes falimentares (material,
formal ou continuidade)
� Todas as condutas são entendidas como fragmentos
de uma única intenção: prejudicar a comunidade de
credores
CONCURSO COM CRIMES COMUNS
� O princípio da unidade (ou unicidade) apenas tem
aplicação entre os crimes falimentares, não
abarcando o concurso entre um crime falimentar e
um crime comum
� Exemplo: habilitação ilegal de crédito (art. 175 da
LREP) e duplicata simulada (art. 172 do CP)
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ENTENDIMENTO DO STJ
3. O princípio da unicidade estabelece que, havendo o concurso de
diversas condutas voltadas ao cometimento de fraudes aos
credores da empresa em processo de falência, considera-se a
prática de apenas um único tipo penal, para o qual deve ser
aplicada a pena do mais grave deles.
4. Tal princípio não se aplica no caso de concurso de crimes
falimentares e delitos comuns elencados no Código Penal
brasileiro, que devem ser apurados e punidos separadamente,
segundo as regras do concurso material de crimes, conforme previa
expressamente o art. 192 do Decreto-Lei n.º 7.661/45, revogado
pela nova Lei de Falências. (STJ, HC 94.632/MG, 6ª T., Rel. Min. Og
Fernandes, j. em 12/03/2013)
CONCURSO DE PESSOAS
Art. 179. Na falência, na recuperação judicial e na
recuperação extrajudicial de sociedades, os seus sócios,
diretores, gerentes, administradores e conselheiros, de fato
ou de direito, bem como o administrador judicial, equiparam-
se ao devedor ou falido para todos os efeitos penais
decorrentes desta Lei, na medida de sua culpabilidade.
� Norma semelhante ao art. 29 do CP
� A imputação não é automática, sendo necessária a
comprovação do dolo (responsabilidade penal subjetiva)
� Relevância para os crimes próprios (praticados pelo
devedor – fraude a credores)
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CONDIÇÃO OBJETIVA DE PUNIBILIDADE
Art. 180. A sentença que decreta a falência, concede a
recuperação judicial ou concede a recuperação extrajudicial
de que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de
punibilidade das infrações penais descritas nesta Lei.
� Não poderá haver persecução penal enquanto não
sobrevier a condição objetiva de punibilidade
� A conduta só terá relevância penal se houver falência ou
recuperação
� Crimes pré-falimentares (antes da sentença – a condição
não é abrangida pelo dolo)
� Crimes pós-falimentares (após a sentença)
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LEI DE RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS
E FALÊNCIA (LEI 11.101/05)
Com o professor André Monteiro
EFEITOS DA CONDENAÇÃO
Art. 181. São efeitos da condenação por crime previsto nesta Lei:
I – a inabilitação para o exercício de atividade empresarial;
II – o impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho
de administração, diretoria ou gerência das sociedades sujeitas a
esta Lei;
III – a impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão
de negócio.
§ 1o Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos,
devendo ser motivadamente declarados na sentença, e perdurarão
até 5 (cinco) anos após a extinção da punibilidade, podendo,
contudo, cessar antes pela reabilitação penal.
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EFEITOS DA CONDENAÇÃO - Continuação
� Afastamento do condenado da atividade empresária, seja
como sócio ou administrador
� Permanecem os demais efeitos genéricos e específicos da
condenação, previstos, nos arts. 91 e 92 do CP (obrigação
de indenizar, confisco, perda de cargo público)
� Necessidade de motivar o efeito aplicado ao crime
falimentar
� O juiz pode fixar prazo menor do que 5 anos considerando
a gravidade do crime
� Reabilitação criminal (arts. 93 e ss. – 2 anos)
PRESCRIÇÃO
Art. 182. A prescrição dos crimes previstos nesta Lei reger-se-
á pelas disposições do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal, começando a correr do dia
da decretação da falência, da concessão da recuperação
judicial ou da homologação do plano de recuperação
extrajudicial.
Parágrafo único. A decretação da falência do devedor
interrompe a prescrição cuja contagem tenha iniciado com a
concessão da recuperação judicial ou com a homologação do
plano de recuperação extrajudicial.
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PRESCRIÇÃO - Continuação
� Crimes pré-falimentares (prescrição começa com a
condição objetiva de punibilidade)
� Crimes pós-falimentares (prescrição começa com a
consumação do crime)
� Interrupção do prazo pela decretaçãoda falência do
devedor em recuperação
COMPETÊNCIA
Art. 183. Compete ao juiz criminal da jurisdição onde tenha
sido decretada a falência, concedida a recuperação judicial ou
homologado o plano de recuperação extrajudicial, conhecer
da ação penal pelos crimes previstos nesta Lei.
� O TJSP entende pela competência da vara cível, afirmando
tratar-se de norma de organização judiciária.
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COMPETÊNCIA - Continuação
Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis
de organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do
Júri.
� Em São Paulo a Lei de Organização Judiciária (3.947/83,
art. 15) cria o juízo universal da falência, já tendo sido
declarada constitucional pelo STF
� Crítica: parcialidade do juiz da falência (Exemplo: crime
de indução em erro)
AÇÃO PENAL (ART. 184)
� É pública incondicionada
� Se o MP não oferecer denúncia no prazo legal, qualquer
credor habilitado ou o administrador judicial poderá
oferecer ação privada subsidiária da pública, dentro de seis
meses
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PROCEDIMENTO PENAL
� Revogados os arts. 503 a 512 do CPP, que tratavam do
processo dos crimes falimentares
� Aplica-se, por expressa previsão legal (art. 185) o rito
sumário, embora, para a maioria dos crimes, seria o
ordinário
� Exceção é o art. 178 (omissão de documentos contábeis),
pois é infração de menor potencial ofensivo
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LEI DE RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS
E FALÊNCIA (LEI 11.101/05)
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RELATÓRIO DO ADMINISTRADOR JUDICIAL
Art. 186. No relatório previsto na alínea e do inciso III do caput do
art. 22 desta Lei, o administrador judicial apresentará ao juiz da
falência exposição circunstanciada, considerando as causas da
falência, o procedimento do devedor, antes e depois da sentença, e
outras informações detalhadas a respeito da conduta do devedor e
de outros responsáveis, se houver, por atos que possam constituir
crime relacionado com a recuperação judicial ou com a falência,
ou outro delito conexo a estes.
Parágrafo único. A exposição circunstanciada será instruída com
laudo do contador encarregado do exame da escrituração do
devedor.
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RELATÓRIO DO ADMINISTRADOR JUDICIAL
Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do
juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe:
III – na falência:
e) apresentar, no prazo de 40 (quarenta) dias, contado da
assinatura do termo de compromisso, prorrogável por igual
período, relatório sobre as causas e circunstâncias que conduziram
à situação de falência, no qual apontará a responsabilidade civil e
penal dos envolvidos, observado o disposto no art. 186 desta Lei;
� Possibilidade de dispensa do inquérito policial (art. 187)
FRAUDE A CREDORES
Art. 168. Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a
falência, conceder a recuperação judicial ou homologar a
recuperação extrajudicial, ato fraudulento de que resulte ou
possa resultar prejuízo aos credores, com o fim de obter ou
assegurar vantagem indevida para si ou para outrem.
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Exemplos: a) venda fraudulenta de ativos;
b) Omissão de credores no pedido de recuperação judicial;
c) Aquisição de mercadoria a crédito à véspera da falência,
desviando-as ou liquidando-as em proveito próprio.
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Continuação:
�Crime próprio: só pode ser praticado pelo devedor, mas
admite coautoria
�Crime formal: não exige que o agente consiga a vantagem
indevida, basta a prática do ato fraudulento com essa
finalidade
�De dano ou de perigo
�Na forma pré-falimentar é preciso analisar a proximidade
temporal com a situação de crise na empresa (ato
praticado anos antes da crise não se enquadra como crime
falimentar)
Continuação:
� Tentativa: só se admite na forma pós-falimentar
� No âmbito da Lei 11.101/05, a conduta só terá
relevância penal se tiver relação com a falência ou a
recuperação (tanto que são condições de punibilidade).
A mera tentativa anterior à decisão de falência não
gera prejuízo aos credores, portanto não auxiliou na
situação de crise financeira.
� Contudo, no crime pós-falimentar, a empresa já se
encontra em crime financeira, por isso a tentativa é
punível.
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VIOLAÇÃO DE SIGILO EMPRESARIAL
Art. 169. Violar, explorar ou divulgar, sem justa causa, sigilo
empresarial ou dados confidenciais sobre operações ou
serviços, contribuindo para a condução do devedor a estado
de inviabilidade econômica ou financeira:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
� Objeto material: patentes, know how, segredos industriais
� Sujeito ativo: comum
� Crime material: exige a ocorrência da inviabilidade
econômica (falência ou recuperação)
DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES FALSAS
Art. 170. Divulgar ou propalar, por qualquer meio, informação 
falsa sobre devedor em recuperação judicial, com o fim de 
levá-lo à falência ou de obter vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
� Sujeito ativo: comum
� Crime formal: não exige a ocorrência da falência
Exemplo: indivíduo que divulga informação falsa sobre a
condição financeira da empresa, impedindo a obtenção de
crédito bancário ou a contratação com novos fornecedores
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FAVORECIMENTO DE CREDORES
Art. 172. Praticar, antes ou depois da sentença que decretar a 
falência, conceder a recuperação judicial ou homologar plano 
de recuperação extrajudicial, ato de disposição ou oneração 
patrimonial ou gerador de obrigação, destinado a favorecer 
um ou mais credores em prejuízo dos demais:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
� Sujeito ativo: crime próprio (devedor)
� Crime formal: não exige a ocorrência do prejuízo ao demais
� De forma vinculada: ato de disposição (venda) ou oneração
patrimonial (hipoteca) ou gerador de obrigação
(pagamento antecipado de dívidas)
HABILITAÇÃO ILEGAL DE CRÉDITO
Art. 175. Apresentar, em falência, recuperação judicial ou
recuperação extrajudicial, relação de créditos, habilitação de
créditos ou reclamação falsas, ou juntar a elas título falso ou
simulado:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Lei 7.492/86 (Lei dos crimes contra o sistema financeiro)
Art. 14. Apresentar, em liquidação extrajudicial, ou em
falência de instituição financeira, declaração de crédito ou
reclamação falsa, ou juntar a elas título falso ou simulado:
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.
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Exercício ilegal de atividade
Art. 176. Exercer atividade para a qual foi inabilitado ou
incapacitado por decisão judicial, nos termos desta Lei:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Violação de impedimento
Art. 177. Adquirir o juiz, o representante do Ministério Público, o
administrador judicial, o gestor judicial, o perito, o avaliador, o
escrivão, o oficial de justiça ou o leiloeiro, por si ou por interposta
pessoa, bens de massa falida ou de devedor em recuperação
judicial, ou, em relação a estes, entrar em alguma especulação de
lucro, quando tenham atuado nos respectivos processos:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
OMISSÃO DOS DOCUMENTOS CONTÁBEIS OBRIGATÓRIOS
Art. 178. Deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou
depois da sentença que decretar a falência, conceder a
recuperação judicial ou homologar o plano de recuperação
extrajudicial, os documentos de escrituração contábil
obrigatórios:
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa, se o fato
não constitui crime mais grave.
�Subsidiariedade explícita: deixar de escriturar uma
operação para ocultar uma fraude praticada

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