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Apostila - Recuperação Judicial FGV

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A cópia do material didático utilizado ao longo do curso é de propriedade do(s) autor(es), 
não podendo a contratante vir a utilizá-la em qualquer época, de forma integral ou 
parcial. Todos os direitos em relação ao design deste material didático são reservados à 
Fundação Getulio Vargas. Todo o conteúdo deste material didático é de inteira 
responsabilidade do(s) autor(es), que autoriza(m) a citação/divulgação parcial, por 
qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que 
citada a fonte. 
 
Adicionalmente, qualquer problema com sua turma/curso deve ser resolvido, em primeira 
instância, pela secretaria de sua unidade. Caso você não tenha obtido, junto a sua 
secretaria, as orientações e os esclarecimentos necessários, utilize o canal institucional da 
Ouvidoria. 
 
 
 
 
 
 
 
ouvidoria@fgv.br 
 
 
 
 
 
 
 
www.fgv.br/fgvmanagement 
 
1 
Recuperação de Empresas 
 
 
1. PROGRAMA DA DISCIPLINA 
 
1.1 Ementa 
Falência: pressupostos. Rito Processual. Declaração da falência e seus efeitos. Arrecadação e 
Alienação de bens, habilitação de créditos, ações revocatória e de restituição. Extinção do 
processo. Recuperação Judicial. Legitimidade Ativa. Litisconsórcio. Requisitos para o 
deferimento. Apresentação do plano de recuperação. Aprovação do Plano de Recuperação. 
Sentença Homologatória. Cumprimento do Plano de Recuperação. Sentença de Encerramento. 
Aspectos principais do Plano Especial das Micro e Pequenas Empresas. Recuperação 
Extrajudicial. 
 
1.2 Carga horária total 
24 horas/aula 
 
1.3 Objetivos 
Objetivo da disciplina é introduzir o aluno nos questionamentos acerca das mais relevantes 
questões que abordam a recuperação das empresas, como instituto criado com a finalidade 
de dar cumprimento ao princípio da preservação da empresa, bem como as figuras jurídicas 
envolvidas nestes fenômenos. Deve-se ainda levar ao aluno o conhecimento das questões 
falimentares mais relevantes, todos pela utilização de casos concretos. 
 
1.4 Metodologia 
Aulas teóricas expositivas intercaladas com sessões de estudo de casos e análise de 
jurisprudências com utilização do PowerPoint e divisão de alunos em grupos, mediante a 
utilização da metodologia participativa dos alunos na discussão dos conceitos e sua 
aplicabilidade nas questões práticas por análises de casos concretos. 
 
1.5 Critérios de avaliação 
O aluno será avaliado a partir de uma prova escrita, discursiva e individual, com consulta 
apenas à legislação não comentada, a qual serão abordadas questões discutidas em sala 
de aula (que podem ou não constar expressamente desta apostila), cuja nota poderá 
atingir até o conceito 7, e por trabalhos desenvolvidos em grupo e/ou individual, cuja a 
nota poderá atingir até o conceito 3. 
 
1.6 Bibliografia recomendada 
BEZERRA, Manoel Justino Filho, Lei de Recuperação de Empresas e Falências Comentada, 
12ª Edição, Ed. RT, 2017; 
 
AYUBI, Luiz Roberto, Cavalli Cássio, A Construção Jurisprudencial da Recuperação Judicial 
de Empresas. 3ª Edição, 2017; 
 
COELHO, Fábio Ulhoa, Comentários À Lei de Falências e de Recuperação de Empresas - 
11ª edição, Ed. Saraiva 2016; 
2 
Recuperação de Empresas 
 
 
CAMPINHO, Sérgio, Falência e Recuperação de Empresas, 8ª Edição, Ed. Renovar, 2017; 
 
FAZZIO JUNIOR, Waldo Lei de Falência e Recuperação de Empresas, 7ª edição, Ed. Atlas 
SA, 2015; 
 
Curriculum vitae do professor 
Dones Nunes, Doutorando pela Universidade Federal Fluminense, Mestre pela 
Universidade Federal Fluminense – UFF, especializado Master of Business Administration 
em Direito Empresarial, Professor e Palestrante de Direito Empresarial de diversas 
instituições, dentre as quais destacamos: FGV – Fundação Getúlio Vargas, IBMEC 
– Faculdade de Economia e Finanças, PUC-IAG – Pontifícia Universidade Católica do Rio de 
Janeiro, FEMPERJ – Fundação Escola Superior do Ministério Público do Estado do Rio de 
Janeiro, IBEF – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças, FBT – Faculdade Brasileira 
de Tributação, Grupo Kroton, Grupo Anhaguera. Advogado com larga experiência no 
segmento empresarial, membro do IBRADEMP – Instituto Brasileiro de Direito Empresarial 
membro do IAB – Instituto dos Advogados do Brasil, membro fundador do IPOJUR – 
Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas em Ciências Políticas e jurídicas membro da 
Comissão de Recuperação Judicial da OAB-RJ, Administrador Judicial Certificado pelo 
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Autor da obra, “Dos Créditos Trabalhista 
na Nova Lei de Falências”. 
3 
Recuperação de Empresas 
 
 
2. ESTRUTURA DA LEI 11.101/2005 
 
CAPÍTULO I - DISPOSIÇÕES PRELIMINARES – Arts. 1° ao 3° (4° vetado) 
CAPÍTULO II – DISPOSIÇÕES COMUNS À RECUPERAÇÃO JUDICIAL E À FALÊNCIA 
SEÇÃO I - DISPOSIÇÕES GERAIS – Arts. 5° ao 6° da LRE 
SEÇÃO II - DA VERIFICAÇÃO E DA HABILITAÇÃO DE CRÉDITOS – Arts. 7° ao 20 da LRE 
 
SEÇÃO III - DO ADMINISTRADOR JUDICIAL E DO COMITÊ DE CREDORES – Arts. 21 ao 34 
da LRE 
 
SEÇÃO IV - DA ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES – Arts. 35 ao 46 da LRE 
CAPÍTULO III – DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
SEÇÃO I - DISPOSIÇÕES GERAIS – Arts. 47 ao 50 da LRE 
 
SEÇÃO II - DOS PEDIDOS E DO PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL – Arts. 51 
ao 52 da LRE 
 
SEÇÃO III - DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL – Arts. 53 ao 54 da LRE 
 
SEÇÃO IV - DO PROCEDIMENTO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL – Arts. 55 ao 69 da LRE 
 
SEÇÃO V - DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL PARA MICROEMPRESAS E EMPRESAS 
DE PEQUENO PORTE – Arts. 70 ao 72 da LRE 
 
CAPÍTULO IV – DA CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM 
FALÊNCIA - Arts. 73 ao 74 da LRE 
CAPÍTULO V – DA FALÊNCIA 
 
SEÇÃO I - DISPOSIÇÕES GERAIS – Arts. 75 ao 82 da LRE 
 
SEÇÃO II - DA CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS – Arts. 83 ao 84 da LRE 
SEÇÃO III - DO PEDIDO DE RESTITUIÇÃO – Arts. 85 ao 93 da LRE 
SEÇÃO IV - DO PROCEDIMENTO PARA A DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA – Arts. 94 ao 101 da 
LRE 
 
SEÇÃO V - DA INABILITAÇÃO EMPRESARIAL, DOS DIREITOS E DEVEES DO FALIDO – Arts. 
102 ao 104 da LRE 
 
SEÇÃO VI - DA FALÊNCIA REQUERIDA PELO PRÓPRIO DEVEDOR – Arts. 105 ao 107 da LRE 
SEÇÃO VII - DA ARRECADAÇÃO E DA CUSTÓDIA DE BENS – Arts. 108 ao 114 da LRE 
4 
Recuperação de Empresas 
 
 
SEÇÃO VIII - DOS EFEITOS DA DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA SOBRE AS OBRIGAÇÕES DO 
DEVEDOR – Arts. 115 ao 128 da LRE 
 
SEÇÃO IX - DA INEFICÁCIA E DA REVOGAÇÃO DE ATOS PRATICADOS ANTES DA FALÊNCIA 
– Arts. 115 ao 128 da LRE 
 
SEÇÃO X - DA REALIZAÇÃO DO ATIVO – Arts. 139 ao 148 da LRE 
SEÇÃO XI - DO PAGAMENTO AOS CREDORES – Arts. 149 ao 153 da LRE 
SEÇÃO XII - DO PAGAMENTO AOS CREDORES – Arts. 154 ao 160 da LRE 
CAPÍTULO VI – DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL 
Arts. 161 ao 167 da LRE 
 
CAPÍTULO VII – DISPOSIÇÕES PENAIS 
 
SEÇÃO I - DOS CRIMES EM ESPÉCIE – Arts. 168 ao 178 da LRE 
SEÇÃO II - DISPOSIÇÕES COMUNS – Arts. 179 ao 181 da LRE 
SEÇÃO III - DO PROCEDIMENTO PENAL – Arts. 183 ao 188 da LRE 
CAPÍTULO VIII – DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS 
Arts. 190 ao 201 da LRE 
5 
Recuperação de Empresas 
 
 
3. RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
 
3.1 Introdução 
A Lei nº 11.101/2005 (“Nova Lei de Falências”) contemplou duas formas de se evitar a 
falência de um devedor em crise econômico-financeira: a recuperação judicial e a 
recuperação extrajudicial. 
A recuperação extrajudicial tem natureza contratual, sendo precedida de um acordo 
homologado pelo Juízo competente. O presente trabalho versa, no entanto, sobre a análise 
dos principais aspectos relativos à recuperação judicial, bem como do respectivo plano de 
recuperação. 
Inicialmente, cabe ressaltar que a introdução deste novel instituto em nosso ordenamento 
jurídico não dependeu exclusivamente da aprovação da Nova Lei de Falências, tendo sido 
também necessária uma alteração no Código Tributário Nacional, o que se deu por meio 
da Lei Complementar nº 116/2005. Note-se ainda que também será necessária, para 
viabilizar a recuperação judicial, a aprovação do Projeto de Lei nº 245-04, que trata do 
parcelamentode dívidas tributárias do devedor em recuperação. 
De acordo com o art. 47 da Nova Lei de Falências, 
a recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da 
situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir 
a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e 
dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da 
empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.1 
A redação do dispositivo acima denota a preocupação do legislador com a preservação da 
empresa. Tal preocupação, em relação às sociedades anônimas, é ressaltada pelo professor 
José Edwaldo Tavares Borba, ao afirmar que tais sociedades não são apenas “um mero 
instrumento de produção de lucros para a distribuição aos detentores do capital”2, mas sim 
uma “instituição destinada a exercer o seu objeto para atender aos interesses de acionistas, 
empregados e comunidade”.3 
 
3.2 Legitimidade e Requisitos para o Pedido de Recuperação Judicial 
– Fase Postulatória 
O processo de recuperação judicial será instaurado por iniciativa do devedor em crise 
econômico-financeira, ou seja, “somente aquele que está exposto ao risco de ter a falência 
decretada pode pleitear o benefício da recuperação judicial”3. Assim sendo, é o devedor o 
único legitimado para tal ação, de modo que credores ou empregados do devedor, ainda 
que tenham um plano de recuperação, não poderão apresentá-lo em juízo.4 
O parágrafo único do artigo 48 da Nova Lei de Falências estende a legitimidade para o 
pedido de recuperação judicial ao cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor ou 
 
 
1 Art. 47, caput da lei 11.101/2005. 
2 BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito Societário. Rio de Janeiro: Renovar, 8a ed, 2003, p. 134. 
3 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentário à Nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas. São Paulo: Saraiva, 
2005, p. 124. 
4 Idem. p. 124. 
6 
Recuperação de Empresas 
 
 
inventariante, caso se trate de empresário individual falecido, bem como aos sócios 
remanescentes, quando se tratar de sociedade empresária.5 
O art. 48 da Nova Lei de Falências traz os requisitos para o devedor poder requerer a 
recuperação judicial. De acordo com o referido dispositivo legal, o devedor deve exercer 
regularmente suas atividades há mais de dois anos e deve preencher cumulativamente os 
seguintes requisitos: 
I – não ser falido, e, se o foi, estejam declaradas extintas, por 
sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí 
decorrentes; 
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de 
recuperação judicial; 
III – não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de 
recuperação judicial com base no plano especial de que trata a 
Seção V deste Capítulo; 
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio 
controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos 
nesta Lei.6 
O primeiro requisito diz respeito ao tempo mínimo de exercício da atividade empresarial, 
tendo sido exigidos pelo legislador dois anos. De acordo com o professor Fábio Ulhoa 
Coelho, a razão de ser deste prazo reside no fato de se presumir a importância local, 
regional ou nacional de uma sociedade empresária ou empresário individual em atividade 
a mais de dois anos.7 
O inciso I do art. 48 da Nova Lei de Falências determina como requisito que o devedor não 
tenha tido sua falência decretada. Note-se que a lei fala em decretação de falência, ou 
seja, se, por exemplo, um devedor já teve sua falência requerida, mas esta ainda não foi 
decretada, ele poderá requerer a sua recuperação judicial. Caso a falência do devedor já 
tenha sido decretada, existe ainda uma alternativa: a reabilitação do falido. 
O terceiro requisito é de ordem temporal, não sendo possível o pedido de recuperação 
judicial pelo devedor que a tenha obtido há menos de 5 anos. Segundo o professor Fábio 
Ulhoa, “se foi concedida a uma sociedade empresária a recuperação judicial nesse período 
(no qüinqüênio anterior) e está ela necessitando de novo socorro para reorganizar seu 
negócio, isso sugere falta de competência suficiente para a exploração da atividade 
econômica em foco”.8 
Na hipótese de tratar-se de sociedade microempresária ou empresária de pequeno porte, 
tal prazo é elevado, por determinação do inciso III do art. 48 da Nova Lei de Falências, 
para oito anos. 
 
 
 
5 Note-se que o professor Fábio Ulhoa afirma que, quando o legislador se referiu a sócio remanescente, quis 
referir-se a sócio minoritário, permitindo, assim, que os sócios que discordaram, em assembleia geral, de eventual 
rejeição de proposta de recuperação judicial possam aduzir em juízo o pedido de recuperação. COELHO. Ob. cit. 
p. 126. 
6 Art. 48, I a IV da Lei 11.101/2005. 
7 Idem. p. 125. 
8 COELHO. Ob. cit. p. 125. 
7 
Recuperação de Empresas 
 
 
O último requisito impede que o devedor tenha sido condenado por crime falimentar. Tal 
proibição estende-se ao controlador ou administrador da sociedade empresária. 
Além dos requisitos acima enumerados, o art. 51 da Nova Lei de Falências determina que 
a petição inicial esteja instruída com os seguintes documentos: 
I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do 
devedor e das razões da crise econômico-financeira; 
II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos 
exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o 
pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação 
societária aplicável e compostas obrigatoriamente de9: 
a) balanço patrimonial; 
b) demonstração de resultados acumulados; 
c) demonstração do resultado desde o último exercício social; 
d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção; 
III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por 
obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada 
um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, 
discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e 
a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente; 
IV – a relação integral dos empregados, em que constem as 
respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que 
têm direito, com o correspondente mês de competência, e a 
discriminação dos valores pendentes de pagamento; 
V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de 
Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos 
atuais administradores; 
VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos 
administradores do devedor; 
VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de 
suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, 
inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, 
emitidos pelas respectivas instituições financeiras; 
VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do 
domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial; 
IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais 
em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, 
com a estimativa dos respectivos valores demandados.10 
 
Note-se que um dos documentos exigidos (inciso VI) é a relação dos bens particulares dos 
sócios ou acionistas controladores e administradores. O professor Paulo Penalva Santos, 
em palestra proferida na Escola da Magistratura do Rio de Janeiro, em 07 de março de 
2005, criticou referido dispositivo, por estar o legislador presumindo uma fraude que não 
 
 
 
9 O § 2o do art. 51 da Nova Lei de Falências autoriza as microempresas e as empresas de pequeno porte a 
apresentar livros e escrituração contábil simplificados, que poderão ser depositados em cartório. 
10 Art. 51, I a IX da Lei 11.101/2005. 
8 
Recuperação de Empresas 
 
 
necessariamente existe. Ademais, tal exigência pode colocar em risco os bens particulares 
dos controladores e administradores. 
Outra exigência criticada pelo professor Paulo Penalva diz respeito à apresentação de 
extratos de contas bancárias e aplicações financeiras ou em bolsa, porentender 
desnecessárias neste primeiro momento. 
Estando a inicial devidamente instruída, e preenchidos todos os requisitos acima 
enumerados, o juízo competente determinará o processamento do pedido de recuperação 
judicial, encerrando, assim, a sua fase postulatória. 
 
3.3 Credores sujeitos à recuperação judicial 
De acordo com o art. 49, caput da Nova Lei de Falências, em regra a recuperação judicial 
irá atingir “todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos”.11 
Assim, os créditos constituídos após o pedido de recuperação não sofrerão os efeitos da 
recuperação judicial pois, caso contrário, “o devedor não conseguiria mais acesso a 
nenhum crédito comercial ou bancário, inviabilizando-se o objetivo da recuperação”.12 O 
professor Fábio Ulhoa Coelho considera o dia da distribuição do pedido como marco a ser 
considerado para determinar se um crédito se sujeita ou não à recuperação.13 
Também não estará sujeito aos efeitos da recuperação judicial, de acordo com o § 3o do 
art. 49 da Nova Lei de Falências, o credor titular da posição de fiduciário, arrendador 
mercantil ou negociante de imóvel (vendedor, promitente vendedor ou titular de reserva 
de domínio), cujo contrato tenha cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade.14 
No mesmo sentido, dispõe o § 4o do referido dispositivo legal, que afasta dos efeitos da 
recuperação os bancos credores por adiantamento a contrato de câmbio para exportação. 
Em relação aos credores sujeitos à recuperação judicial, é importante ressaltar que, 
conforme dispõe o § 1o do art. 49 da Nova Lei de Falências, seus direitos e privilégios contra 
os coobrigados, fiadores e obrigados de regresso serão mantidos. Acrescente-se que as 
obrigações anteriores à recuperação conservarão “as condições originalmente contratadas 
ou definidas em lei, inclusive no que diz respeito aos encargos, salvo se de modo diverso 
ficar estabelecido no plano de recuperação judicial”.15 
 
3.4 Processamento da Recuperação Judicial 
Conforme acima mencionado, preenchidos os requisitos legais – legitimidade ativa e 
instrução da inicial nos termos da lei –, o juiz deferirá o processamento do pedido de 
recuperação judicial. 
Tal despacho de processamento, conforme ensina o professor Fábio Ulhoa, não se confunde 
com a decisão concessiva da recuperação judicial, já que se limita a acolher o pedido de 
tramitação do mesmo.16 
 
 
 
11 Art. 49, caput da Lei 11.101/2005. 
12 COELHO. Ob. cit. p. 132. 
13 Idem. p. 131. 
14 Idem. p. 131-132. 
15 Art. 49, § 2o da Lei 11.101/2005. 
16 COELHO. Ob. cit. p. 154-155. 
9 
Recuperação de Empresas 
 
 
O art. 52 da Nova Lei de Falências prevê o conteúdo do despacho de processamento. 
Dispõe o referido dispositivo legal que o juiz, no mesmo ato que deferir o processamento 
da recuperação judicial: 
I – nomeará o administrador judicial, observado o disposto no art. 
21 desta Lei; 
II – determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas 
para que o devedor exerça suas atividades, exceto para contratação 
com o Poder Público ou para o recebimento de benefícios ou 
incentivos fiscais ou creditícios, observando o disposto no art. 69 
desta Lei; 
III – ordenará a suspensão de todas as ações e execuções contra o 
devedor, na forma do art. 6o desta Lei, permanecendo os respectivos 
autos no juízo onde se processam, ressalvadas as ações previstas 
nos parágrafos 1o, 2o e 7o do art. 6o desta Lei e as relativas a créditos 
excetuados na forma dos parágrafos 3o e 4o do art. 49 desta Lei; 
IV – determinará ao devedor a apresentação de contas 
demonstrativas mensais enquanto perdurar a recuperação judicial, 
sob pena de destituição de seus administradores; 
V – ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por 
carta às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e 
Municípios em que o devedor tiver estabelecimento17. 
Uma vez proferida a decisão, o juiz determinará a expedição de edital, na forma do § 1o 
do art. 52 da Nova Lei de Falências, contendo o resumo do pedido e da decisão, a relação 
nominal dos credores, a discriminação do valor atualizado e a classificação de cada crédito, 
além das advertências acerca dos prazos para habilitação dos créditos e para que os 
credores apresentem objeção ao plano de recuperação judicial. 
Note-se, ainda, que o devedor não pode desistir do pedido de recuperação judicial após o 
processamento deste, salvo se com a aquiescência da Assembleia Geral de Credores.18 
 
3.4.1 Nomeação do Administrador Judicial 
O administrador judicial, de acordo com o art. 21 da Nova Lei de Falências, deve ser 
“pessoa idônea, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou 
contador, ou pessoa jurídica especializada”.19 
Note-se que o administrador é originalmente nomeado pelo juiz, no despacho que defere 
o processamento da recuperação judicial. Contudo, é possível que ele seja substituído pela 
Assembleia dos Credores, caso em que o substituto será nomeado por este órgão 
colegiado.20 
Se existir Comitê instaurado, caberá ao administrador judicial a verificação dos créditos, a 
presidência da Assembleia dos Credores e a fiscalização do devedor. Caso não tenha sido 
 
17 Art. 52, I a V da Lei 11.101/2005. 
18 Art. 52, § 4o da Lei 11.101/2005. 
19 Art. 21, caput da Lei 11.101/2005. 
20 COLEHO. Ob. cit. p. 63. 
10 
Recuperação de Empresas 
 
 
instaurado o Comitê, o administrador também exercerá a competência atribuída por lei a 
este órgão.21 
Na hipótese de o juiz ter afastado os administradores do devedor, o administrador judicial 
irá assumir a administração da sociedade empresária e representá-la. 
 
3.4.2 Dispensa da apresentação de certidões negativas 
O inciso II dispensa o devedor da apresentação de certidões negativas para o exercício de 
suas atividades. Tal dispositivo é importante, já que a inexistência desta previsão legal 
poderia inviabilizar o prosseguimento das atividades empresárias pelo devedor e, 
consequentemente, a sua recuperação. 
Contudo, referido inciso excepciona a contratação com o Poder Público e o recebimento de 
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, casos em que será imprescindível a 
apresentação das certidões devidas. 
 
3.4.3 Suspensão das ações e execuções 
O despacho de processamento da recuperação judicial irá suspender as ações e execuções 
em curso contra o devedor requerente. 
Contudo, não serão suspensas as seguintes ações: a) ação que demandar quantia ilíquida; 
b) ações de natureza trabalhista; c) execuções fiscais em que não tenha sido concedido 
parcelamento, na forma do Código Tributário Nacional; e d) execuções movidas por 
credores não sujeitos aos efeitos da recuperação judicial. 
De acordo com o § 4o do art. 6o da Nova Lei de Falências, a suspensão é temporária, não 
podendo exceder o prazo improrrogável de 180 dias contados do despacho de 
processamento. Cessará a suspensão antes dos 180 dias previstos em lei, caso seja 
aprovado o plano de recuperação judicial pela Assembleia de Credores. 
 
3.5 Plano de Recuperação 
Com o despacho de processamento, inicia-se, segundo o professor Fábio Ulhoa Coelho, a 
fase de deliberação, cujo objetivo é a votação do plano de recuperação do devedor.22 
O plano de recuperação não precisa ser apresentado ao Juízo no momento do ajuizamento 
da inicial. O devedor, conforme dispõe o art. 53 da Nova Lei de Falências, terá o prazo 
improrrogável de sessenta dias, contados da publicação do despacho de processamento, 
para apresentar o plano em juízo. 
O plano deverá, por determinação do art. 53 da lei de falências, discriminar o meio de 
recuperação, dentre os do art. 50 da Nova Lei de Falências, bem como demonstrar a sua 
viabilidade e trazer laudo econômico e financeiro. 
Recebido o plano de recuperação do devedor, o juiz determinará a publicação de edital 
com aviso aos credores sobre o recebimento do plano e fixará prazo para que eventuais 
objeções.23 Havendo impugnação por parte de qualquer credor, o plano de recuperação21 Idem. p. 64. 
22 COELHO. Ob. cit. p. 156. 
23 Art. 53, parágrafo único da Lei 11.101/2005. 
11 
Recuperação de Empresas 
 
 
deverá ser aprovado pela Assembleia Geral de Credores, convocada pelo juiz, na forma do 
art. 56 da Nova Lei de Falências. 
 
3.5.1 Meios de Recuperação Judicial 
O art. 50 da Nova Lei de Falências, em seus incisos, elenca meios pelos quais poderá ser 
realizada a recuperação judicial do devedor em crise econômico-financeira. Note-se que o 
rol trazido por tal dispositivo é meramente exemplificativo, sendo admitido qualquer meio 
lícito para a recuperação. 
 
3.5.2 Cumprimento do Plano 
Primeiramente, cumpre-nos destacar que não há prazo fixado em lei para o cumprimento 
do plano de recuperação do devedor. Contudo, em relação aos credores trabalhistas, a lei 
determinou que estes sejam pagos em até um ano, “devendo ser quitados os saldos 
salariais em atraso em 30 dias”.24 Assim sendo, o devedor deverá pagar, em um ano e 
trinta dias, até cinco salários mínimos por empregado. 
É possível dividir, para fins didáticos, o cumprimento do plano em cinco fases. 
Inicialmente, o plano de recuperação é apresentado pelo devedor. Caso haja impugnação 
por algum dos credores, o plano deverá ser aprovado pela Assembleia Geral de Credores. 
Poderá a assembleia, com a anuência expressa do devedor, alterar o plano de 
recuperação25, o qual deverá ser aprovado na Assembleia Geral em três classes de 
credores: credores trabalhistas26 ou titulares de crédito decorrente de acidente de trabalho, 
credores com garantia real e credores quirografários, com privilégio especial, com privilégio 
geral ou subordinados.27 
É facultado ao Juízo competente conceder a recuperação judicial sem aprovação da 
Assembleia-geral de credores se, na mesma assembleia, forem obtidos cumulativamente: 
I – o voto favorável de credores que representem mais da metade 
do valor de todos os créditos presentes à assembleia, 
independentemente de classes; 
II – a aprovação de 2 classes de credores nos termos do art. 45 
desta Lei ou, caso haja somente 2 classes com credores votantes, a 
aprovação de pelo menos 1 delas; 
III – na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 
1/3 dos credores, computados na forma dos parágrafos 1o e 2o do 
art. 45 desta Lei.28 
 
 
 
 
 
24 Idem. p. 159. 
25 Art. 56, § 3o da Lei 11.101/2005. 
26 Note-se que o art. 37, § 5o da Nova Lei de Falências permite a representação dos credores trabalhistas pelo 
sindicato, o que, segundo o professor Paulo Penalva Santos, viabiliza a realização da assembleia geral em 
sociedades com muitos empregados, conforme manifestado na referida palestra proferida na Escola da 
Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, em 07 de março de 2005. 
27 Art. 41, I a III da Lei 11.101/2005. 
28 Art. 58, I a III da Lei 11.101/2005. 
12 
Recuperação de Empresas 
 
 
Não sendo aprovado o plano pela Assembleia-geral, o juiz decretará a falência do devedor. 
Por outro lado, se os credores reunidos em assembleia aprovarem o plano de recuperação, 
este será apresentado em juízo. 
Depois de juntado o plano aprovado, devem ser apresentadas as certidões negativas 
tributárias, conforme determina o art. 57 da Nova Lei de Falências. O legislador suprimiu 
o parágrafo único do art. 57, o qual aplicava sanção para a não apresentação das certidões. 
O professor Paulo Penalva entende que tal supressão não impede que o juiz fixe prazo para 
a apresentação das certidões, sob pena de aplicação de sanção, inclusive a decretação da 
falência.29 
Posteriormente, o juiz concederá a recuperação judicial do devedor. Proferida tal decisão, 
o devedor permanecerá em recuperação até que se cumpram as obrigações previstas no 
plano, que se venceram após dois anos da concessão de recuperação (art. 61 da Nova Lei 
de Falências). Depois deste processo, será decretado o encerramento da recuperação (art. 
63 da Nova Lei de Falências). 
Ressalte-se que se nesse prazo houver descumprimento de alguma condição fixada no 
plano de recuperação, será decretada a falência do devedor. Caso tal inadimplemento se 
dê após os dois anos acima mencionados, a falência não poderá ser decretada, podendo o 
credor executar o devedor ou requer sua falência. 
É importante observar ainda que o art. 96, VII da Nova Lei de Falências, autoriza a 
apresentação do plano de recuperação na contestação da falência. 
 
3.6 Convolação da Recuperação em Falência 
A possibilidade de convolação da recuperação judicial em falência encontra previsão no art. 
73 da Nova Lei de Falências. De acordo com o referido dispositivo legal, ocorrerá a 
convolação em quatro hipóteses: 
a) Deliberação da assembleia geral de credores, pelo voto favorável de credores que 
representem mais da metade do valor total dos créditos presentes à assembleia- 
geral (art. 73, I c/c art. 42 da Nova Lei de Falências). 
b) Não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação no prazo improrrogável 
de sessenta dias, contados do despacho de processamento (art. 73, II c/c art. 53, 
caput da Nova Lei de Falências). 
c) Rejeição do plano de recuperação pela assembleia-geral de credores (art. 73, III 
c/c art. 56, § 4o da Nova Lei de Falências). 
d) Descumprimento de obrigações assumidas no plano, durante o período de 
recuperação, que poderá chegar a dois anos a partir da sua concessão. Para o 
professor Fábio Ulhoa Coelho, existe, em toda recuperação judicial, uma “cláusula 
resolutiva tácita”30 para as hipóteses de inadimplemento de obrigações. 
Por fim, cumpre destacar que o parágrafo único do art. 73 da Nova Lei de Falências 
acrescenta que será possível a decretação da falência “por inadimplemento de obrigação 
não sujeita à recuperação judicial, nos termos dos incisos I ou II do caput do art. 94 desta 
Lei, ou por prática de ato previsto no art. 94, III”.31 
 
 
 
 
 
 
29 Em palestra proferida na Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, em 07 de março de 2005. 
30 COELHO. Ob. cit. p. 190. 
31 Art. 94, parágrafo único da Lei 11.101/2005 
13 
Recuperação de Empresas 
 
 
4. DELIBERAÇÃO PELOS CREDORES. APROVAÇÃO OU 
REJEIÇÃO. CUMPRIMENTO DO PLANO. 
4.1 Plano de Recuperação – Noções Gerais 
Primeiramente, cumpre-nos destacar, de modo sucintamente descrito, que o processo de 
recuperação judicial será instaurado por iniciativa do devedor em crise econômico- 
financeira, devendo a peça exordial vir instruída com os documentos previstos no art. 51 
da Lei nº 11.101/2005 (“Nova Lei de Falências”). Preenchidos os requisitos exigidos – quais 
sejam, legitimidade ativa e instrução da inicial nos termos da lei –, o juiz deferirá o 
processamento do pedido de recuperação judicial. 
Com o despacho de processamento, o devedor terá 60 (sessenta) dias para apresentar o 
Plano de Recuperação Judicial, após a qual se inicia a fase de deliberação, cujo objetivo é 
a votação do plano de recuperação do devedor.32 
Note-se que, a partir do deferimento do processamento, o devedor somente poderá desistir 
do pedido de recuperação mediante aprovação da Assembleia Geral de Credores. 
O plano de recuperação deverá atingir todos os credores do devedor, discriminando, 
conforme determina o art. 53 da Nova Lei de Falências, a forma de recuperação. 
Acrescente-se que deverá restar demonstrada a viabilidade da recuperação, mediante a 
apresentação de laudo econômico e financeiro. 
Após o recebimento do plano, será publicado edital com aviso aos credores, visando a 
permiti-lhes eventuais objeções.33 Na hipótese de algum credor manifestar objeção, o plano 
de recuperação deverá ser submetido à Assembleia Geral de Credores, a ser convocada 
pelo juiz, para aprovação, conforme dispõe o art. 56 da Nova Lei de Falências. 
Será objeto do presente trabalho a deliberação dos credores sobre o Plano de Recuperação, 
bem como o seu cumprimento. 
 
4.2 Deliberação pelos Credores 
De acordo com o art. 55 da Nova Lei de Falências, 
“qualquer credor poderá manifestar ao juiz sua objeção ao plano de 
recuperação judicial noprazo de 30 (trinta) dias contado da 
publicação da relação de credores de que trata o parágrafo 2o do art. 
7o desta Lei.”34 
Nesse sentido, acrescenta o parágrafo único do art. 53 que, apresentado o plano pelo 
devedor, o juiz irá ordenar a publicação de edital contendo aviso aos credores, fixando- 
lhes prazo para a manifestação de eventuais objeções, as quais poderão ser realizadas por 
qualquer credor. 
Note-se que o prazo para as objeções – de 30 dias – começa a correr da data da publicação 
da relação de credores, elaborada pelo administrador judicial para a verificação dos 
créditos. No entanto, caso na data da publicação da referida publicação ainda não tenha 
 
32 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à Nova Lei de Falências e de Recuperação de Empresas. São Paulo: Saraiva. 
2005. p. 156. 
33 Art. 53, parágrafo único da Lei 11.101/2005. 
34 Art. 55, caput da Lei 11.101/2005. 
14 
Recuperação de Empresas 
 
 
sido publicado aviso de recebimento do plano de recuperação, o prazo começará a correr 
a partir desta segunda publicação, conforme determina o art. 55, caput e parágrafo único. 
Ressalte-se, entretanto, que segundo o professor Fábio Ulhoa Coelho, essa última hipótese 
é impossível, já que “sem a apresentação da relação de credores, o juiz não pode 
determinar o processamento da recuperação judicial”.35 
Na hipótese de o plano apresentado sofrer objeção, o juiz irá convocar a Assembleia Geral 
de credores, que deverá se realizar até 150 dias após o deferimento do processamento da 
recuperação judicial, a fim de que esta delibere sobre o plano. Neste sentido, dispõe o § 
1o do art. 56 que “a data designada para a realização da assembleia geral não excederá 
150 dias contados do deferimento do processamento da recuperação judicial”. Assim 
sendo, a competência para apreciar o conteúdo da objeção não é do juiz da causa, mas 
sim da Assembleia Geral de Credores.36 
Convocada a Assembleia Geral, existem três possíveis alternativas: a) a assembleia rejeita 
o plano; b) a assembleia altera o plano; ou c) a assembleia aprova o plano. 
Para que haja aprovação total do plano de recuperação, este deverá ser aprovado na 
Assembleia Geral em três classes de credores: credores trabalhistas37 ou titulares de 
crédito decorrente de acidente de trabalho, credores com garantia real e credores 
quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados.38 De acordo 
com o art. 41 da Nova Lei de Falências, tais são as classes de credores que compõem a 
assembleia geral, conforme segue: 
Art. 41. A assembleia-geral será composta pelas seguintes classes 
de credores: 
I – titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou 
decorrentes de acidentes de trabalho; 
II – titulares de crédito com garantia real; 
III – titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, 
com privilégio geral ou subordinados. 
§ 1o Os titulares de créditos derivados da legislação do trabalho 
votam com a classe prevista no inciso I do caput deste artigo com o 
total de seu crédito, independentemente do valor. 
§ 2o Os titulares de créditos com garantia real votam com a classe 
prevista no inciso II do caput deste artigo até o limite do valor do 
bem gravado e com a classe prevista no inciso III do caput deste 
artigo pelo restante do valor de seu crédito. 
 
 
 
 
 
 
35 COELHO. Ob. cit. p. 165. 
36 Idem. Ob. cit. p. 166. 
37 Note-se que o art. 37, § 5o da Nova Lei de Falências permite a representação dos credores trabalhistas pelo 
sindicato, o que, segundo o professor Paulo Penalva Santos, viabiliza a realização da assembleia geral em 
sociedades com muitos empregados. 
38 Art. 41, I a III da Lei 11.101/2005. 
15 
Recuperação de Empresas 
 
 
O quorum de deliberação do plano de recuperação é qualificado, devendo, conforme acima 
mencionado, ser aprovado nas três classes de credores que compõem a assembleia, 
conforme dispõe o art. 45 da Nova Lei de Falências: 
Art. 45. Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial, 
todas as classes de credores referidas no art. 41 desta Lei deverão 
aprovar a proposta. 
§ 1o Em cada uma das classes referidas nos incisos II39 e III40 do art. 
41 desta Lei, a proposta deverá ser aprovada por credores que 
representem mais da metade do valor total dos créditos presentes 
à assembleia e, cumulativamente, pela maioria simples dos credores 
presentes. 
§ 2o Na classe prevista no inciso I41 do art. 41 desta Lei, a proposta 
deverá ser aprovada pela maioria simples dos credores presentes, 
independentemente do valor de seu crédito. 
 
Note-se que o credor cujo direito não for atingido pelo plano de recuperação “não terá 
direito a voto e não será considerado para fins de verificação de quorum de deliberação”.42 
Ao mesmo tempo, é importante destacar que “se o plano prevê a alienação de bens 
onerados (hipotecados ou empenhados), a supressão ou substituição da garantia real 
depende da expressa aprovação do credor que a titulariza”.43 
Aprovando o plano, a Assembleia Geral poderá indicar membros do Comitê de Credores, o 
qual terá as atribuições previstas no art. 27 da Nova Lei de Falências: 
Art. 27. O Comitê de Credores terá as seguintes atribuições, além 
de outras previstas nesta Lei: 
I – na recuperação judicial e na falência: 
a) fiscalizar as atividades e examinar as contas do administrador 
judicial; 
b) zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da 
lei; 
c) comunicar ao juiz, caso detecte violação dos direitos ou prejuízo 
aos interesses dos credores; 
d) apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamações dos 
interessados; 
e) requerer ao juiz a convocação da assembleia-geral de credores; 
f) manifestar-se nas hipóteses previstas nesta Lei; 
II – na recuperação judicial: 
a) fiscalizar a administração das atividades do devedor, 
apresentando, a cada 30 (trinta) dias, relatório de sua situação; 
b) fiscalizar a execução do plano de recuperação judicial; 
c) submeter à autorização do juiz, quando ocorrer o afastamento do 
devedor nas hipóteses previstas nesta Lei, a alienação de bens do 
ativo permanente, a constituição de ônus reais e outras garantias, 
39 Titulares de crédito com garantia real. 
40 Titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados. 
41 Titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho. 
42 Art. 45, § 3o da Lei 11.101/2005. 
43 COELHO. Ob. cit. p. 159. 
16 
Recuperação de Empresas 
 
 
bem como atos de endividamento necessários à continuação da 
atividade empresarial durante o período que antecede a aprovação 
do plano de recuperação judicial. 
 
A Assembleia Geral poderá alterar o conteúdo do plano. Contudo, para tanto é necessária 
–conforme previsão do § 3o do art. 56 da Nova Lei de Falências – a aquiescência do 
devedor. Ressalte-se que não será permitida a realização de alterações que importem na 
redução dos direitos exclusivamente dos credores ausentes.44 Neste sentido, dispõe o art. 
56, § 4o: 
“o plano de recuperação judicial poderá sofrer alterações na 
assembleia geral, desde que haja expressa concordância do devedor 
e em termos que não impliquem diminuição dos direitos 
exclusivamente dos credores ausentes.” 
Por fim, é possível que o plano de recuperação seja rejeitado pela Assembleia Geral. Nesta 
hipótese, conforme determina o art. 56, § 4o da Nova Lei de Falências, o juiz decretará a 
falência do devedor. 
 
4.3 Cumprimento do Plano 
A primeira fase do cumprimento do plano corresponde ao requerimento da recuperação e 
apresentação do plano pelo devedor em crise econômico-financeiro. De acordo com o art. 
66 da Lei de Falências e Recuperação Judicial e Extrajudicial, “após a distribuição do pedido 
de recuperação judicial, o devedor não poderá alienar ou onerar bens ou direitos de seu 
ativo permanente, salvo evidente utilidade reconhecida pelo juiz, depois de ouvido o 
Comitê, com exceção daqueles previamente relacionados no plano de recuperação 
judicial”.45O juiz, quando do deferimento do processamento, irá nomear administrador, ordenar a 
suspensão das ações e execuções movidas contra o devedor. Apresentado o Plano de 
Recuperação, o que, conforme já mencionado, deve ser feito nos 60 dias que seguirem o 
processamento, sob pena de decretação da falência do devedor, será determinada a 
publicação de editais com aviso aos credores. 
Assim, apresentado o plano, a próxima fase será a realização da Assembleia Geral de 
Credores. Note-se, no entanto, que a realização da assembleia não é obrigatória, 
determinando o art. 56 da nova lei que esta se realize na hipótese de haver objeção pelos 
credores ao plano. Tal objeção deve ser manifestada, por qualquer dos credores, no prazo 
de 30 dias, contados da data da publicação do edital contendo aviso aos credores. Note- 
se que a Assembleia Geral de Credores deverá ser realizada em 150 dias, contados da data 
do processamento. 
A assembleia geral de credores poderá, de acordo com o art. 35, I da Nova Lei de Falências, 
aprovar, modificar ou rejeitar o plano de recuperação. Note-se que, para a modificação, é 
necessária a aprovação do devedor, de acordo com o art. 56, § 3° da lei. 
 
 
 
 
44 Art. 56, § 3o da Lei 11.101/2005. 
45 Art. 66 da Lei 11,101/2005. 
17 
Recuperação de Empresas 
 
 
Na hipótese de rejeição do plano, será decretada a falência do devedor. Contudo, é 
importante observar que a deliberação a respeito do plano segue quoruns diferenciados, 
conforme acima mencionado. 
Caso o plano seja aprovado ou modificado com a anuência do devedor, este será 
apresentado em juízo. Ao mesmo tempo, de acordo com o art. 57 da Nova Lei de Falências, 
após a juntada aos autos do plano aprovado pela assembleia-geral 
de credores ou decorrido o prazo previsto no art. 55 desta Lei sem 
objeção de credores, o devedor apresentará certidões negativas de 
débitos tributários nos termos dos arts. 151, 205, 206 da Lei no 
5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário Nacional. 
 
Assim, as certidões negativas tributárias do devedor empresário devem ser apresentadas 
em Juízo, de modo a permitir a concessão da recuperação judicial. Note-se que a Nova Lei 
de Falências e o Código Tributário Nacional, alterado pela Lei Complementar nº 118/2005, 
condicionam a recuperação à quitação de todos os tributos.46 
É importante mencionar ainda que o art. 57 da Nova Lei de Falências, em sua redação 
original, trazia, em seu parágrafo único, sanção para o devedor que não apresentasse as 
certidões a que o mesmo se refere. Com a supressão de tal norma, o professor Paulo 
Penalva sustenta que o Juiz, ainda assim, poderá fixar prazo para a apresentação das 
certidões e, caso não o faça, poderá determinar a aplicação de sanções, dentre elas a 
decretação da falência.47 
Apresentado o plano de recuperação aprovado pelos credores e exibidas as certidões 
negativas de débito tributário, será concedida a recuperação judicial do devedor em crise 
econômico-financeira. 
Observe-se que a aprovação do plano de recuperação pela Assembleia Geral de Credores 
poderá ser suprida pelo juiz competente e, consequentemente, concedida a Recuperação 
Judicial, caso se obtenha: a) voto favorável dos credores representantes de mais da 
metade do valor dos créditos, independentemente de classe, presentes na assembleia de 
credores; b) a aprovação de duas classes de credores, conforme dispõe o art. 45 da lei ou, 
na hipótese de haver apenas duas classes de credores votantes, a aprovação de apenas 
uma delas; e c) o voto favorável de mais de um terço dos credores, na classe que houver 
rejeitado o plano. 48 
Concedida a Recuperação Judicial, o devedor nela permanecerá até o cumprimento integral 
das obrigações previstas no plano de recuperação aprovado pelos credores e apresentado 
em Juízo. Observe-se que não há previsão legal sobre o prazo de duração da recuperação 
do devedor, devendo esta, portanto, se estender pelo prazo previsto no plano. No entanto, 
no momento da elaboração do plano, somente poderão ser contemplados credores cujos 
créditos se vençam até dois anos após a concessão da recuperação, conforme dispõe o art. 
61 da Nova Lei de Falências. 
É importante observar ainda que enquanto perdurar a recuperação judicial, caso haja 
descumprimento pelo devedor de alguma obrigação imposta no plano de recuperação, 
 
46 Art. 191 – A do Código Tributário Nacional. 
47 Em palestra proferida na Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. 
48 Art. 58, I a III da Lei 11.101/2005. 
18 
Recuperação de Empresas 
 
 
deverá ser decretada a sua falência, já que de acordo com o professor Fábio Ulhoa Coelho, 
o plano de recuperação é imutável.49 Contudo, ressalte-se que “a decisão concessiva da 
recuperação judicial é título executivo judicial”50, ou seja, poderá, ao invés de ser decretada 
de plano a falência do devedor, ser instaurada ação de execução contra o devedor em 
recuperação, para que se o obrigue ao cumprimento do plano. Note-se, todavia, que caso 
o devedor não atenda a créditos não abrangidos pela recuperação – ou seja, créditos cujo 
vencimento se dá fora dos dois anos acima mencionados –, poderá ser requerida a sua 
falência. Dessa forma, conforme acima exposto, é possível que o plano preveja a 
recuperação, por exemplo, em quatro anos. No entanto, somente abrangerá créditos 
vencidos em dois anos, nos termos do art. 61 da nova lei. Assim, se, no terceiro ano, o 
devedor deixa de atender a um crédito vencido naquele ano, tal credor poderá requerer a 
falência do devedor, ainda que este esteja em recuperação. 
Observe-se também que, não obstante a lei não ter fixado prazo para o cumprimento do 
plano em relação aos credores trabalhistas, determinou-se o pagamento destes em até um 
ano, de modo que sejam “quitados os saldos salariais em atraso em 30 dias”.51 
Quanto ao prazo para pagamento dos credores trabalhistas, o professor Paulo Penalva 
Santos, em palestra proferia na Escola da Magistratura do Rio de Janeiro, defendeu a 
possibilidade de sua dilação, caso haja concordância de sindicatos e empregados. 
Encerrado o prazo da recuperação judicial e cumpridas todas as obrigações fixadas no 
plano, o juiz decretará, conforme determina o art. 63 da Nova Lei de Falências, o 
encerramento da recuperação. 
Em relação ao cumprimento do plano, deve-se mencionar que na hipótese de o plano de 
recuperação aprovado “envolver alienação judicial de filiais ou de unidades produtivas 
isoladas do devedor, o juiz ordenará a sua realização, observado o disposto no art. 142”52 
da Nova Lei de Falências, ou seja, a venda deverá ser realizada em hasta pública. O 
professor Fábio Ulhoa Coelho ressalta que o plano de recuperação pode estabelecer um 
preço mínimo para a hasta.53 
Finalmente, acrescente-se que, de acordo com o disposto no art. 96, VII da Nova Lei de 
Falências, é possível que o pedido de recuperação judicial seja formulado como defesa a 
um requerimento de falência e, neste caso, o deferimento de processamento da 
recuperação irá suspender a falência requerida. 
 
4.3.1 Substituição dos administradores do devedor durante o 
cumprimento do plano de recuperação 
Em regra, os administradores da sociedade em processo de recuperação judicial 
permanecem no exercício de suas funções. No entanto, tal regra não é absoluta, cabendo 
exceção nas hipóteses em que o administrador: 
I – houver sido condenado em sentença penal transitada em julgado 
por crime cometido em recuperação judicial ou falência anteriores 
 
 
49 COELHO. Ob. cit. p. 173. 
50 Idem. p. 171. 
51 Idem. p. 159. 
52 Art. 60 da Lei 11.101/2005. 
53 COELHO. Ob. cit. 171. 
19 
Recuperação de Empresas 
 
 
ou por crime contra o patrimônio, a economia popular ou a ordem 
econômica previstos na legislação vigente; 
II – houver indícios veementes de ter cometido crime previsto nesta 
Lei; 
III – houver agido com dolo, simulação ou fraude contra os 
interesses de seus credores; 
IV – houver praticado qualquer das seguintes condutas: 
a) efetuar gastospessoais manifestamente excessivos em relação a 
sua situação patrimonial; 
b) efetuar despesas injustificáveis por sua natureza ou vulto, em 
relação ao capital ou gênero do negócio, ao movimento das 
operações e a outras circunstâncias análogas; 
c) descapitalizar injustificadamente a empresa ou realizar operações 
prejudiciais ao seu funcionamento regular; 
d) simular ou omitir créditos ao apresentar a relação de que trata 
o inciso III do caput do art. 51 desta Lei, sem relevante razão de 
direito ou amparo de decisão judicial; 
V – negar-se a prestar informações solicitadas pelo administrador 
judicial ou pelos demais membros do Comitê; 
VI – tiver seu afastamento previsto no plano de recuperação judicial. 
 
Estando presente alguma das hipóteses acima, o administrador deverá ser afastado pelo 
juízo, “que convocará a assembleia-geral de credores para deliberar sobre o nome do 
gestor judicial que assumirá a administração das atividades do devedor, aplicando-se-lhe, 
no que couber, todas as normas sobre deveres, impedimentos e remuneração do 
administrador judicial”.54 
 
4.4 Encerramento da Recuperação Judicial pelo Cumprimento do 
Plano 
Cumpridas as obrigações consubstanciadas no plano de recuperação judicial no prazo de 
dois anos, o juiz proferirá sentença de encerramento da recuperação judicial e 
determinará: 
I – o pagamento do saldo de honorários ao administrador judicial, somente 
podendo efetuar a quitação dessas obrigações mediante prestação de 
contas, no prazo de 30 (trinta) dias, e aprovação do relatório previsto no 
inciso III do caput deste artigo; 
II – a apuração do saldo das custas judiciais a serem recolhidas; 
III – a apresentação de relatório circunstanciado do administrador judicial, 
no prazo máximo de 15 (quinze) dias, versando sobre a execução do plano 
de recuperação pelo devedor; 
IV – a dissolução do Comitê de Credores e a exoneração do administrador 
judicial; 
V – a comunicação ao Registro Público de Empresas para as providências 
cabíveis. 
 
54 Art. 65, caput da Lei 11.101/2005. 
20 
Recuperação de Empresas 
 
 
5. RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL 
 
5.1 Introdução 
Na recuperação extrajudicial, o devedor em crise econômico-financeira reúne-se com 
algum(s) de seu(s) credor(es) ou com todos eles e celebra acordo, que será homologado 
em juízo. 
De acordo com o professor Paulo Penalva Santos, em palestra proferida na Escola da 
Magistratura do Rio de Janeiro, realizada em 07 de março de 2005, existem dois tipos de 
acordo que podem ser objeto de homologação: a) plano de recuperação que abrange 
apenas os credores que a ele aderiram; e b) plano de recuperação que abrange todos os 
credores, desde que aceito por 3/5 de cada classe de credores.55 
O art. 167 da Lei 11.101, de 09 de fevereiro de 2005 (“Nova Lei de Falências”) indica que 
será possível qualquer espécie de acordo entre credor e devedor, ao prever que o disposto 
no capítulo atinente à Recuperação Extrajudicial não implicará a “impossibilidade de 
realização de outras modalidades de acordo privado entre devedor e seus credores”.56 
Para o devedor que opta pela recuperação judicial, a lei também não conferiu, segundo o 
professor Paulo Penalva Santos, qualquer vantagem prática. A recuperação extrajudicial 
evitaria que os credores do devedor requeressem sua falência, pois, na vigência do 
Decreto-Lei nº 7.661/45, o simples fato de renegociar com seus credores configurava 
causa para o requerimento da falência do devedor. No entanto, a negociação com credores 
não é mais considerada ato de falência. 
 
5.2 Requisitos subjetivos para Homologação da Recuperação 
Extrajudicial 
O art. 161 da Nova Lei de Falências remete o intérprete para ao art. 48 deste diploma, 
indicando, com isso, requisitos que devem ser preenchidos pelo devedor que pretende 
“propor e negociar com credores plano de recuperação extrajudicial”.57 
O professor Fábio Ulhoa Coelho afirma que os requisitos subjetivos exigidos pelo art. 161 
somente serão necessários para a homologação do plano em juízo, ou seja, qualquer 
devedor pode “simplesmente procurar seus credores e tentar encontrar, em conjunto com 
eles, uma saída negociada para a crise”58 mas, se precisar requerer homologação da 
recuperação extrajudicial, deverá preencher os seguintes requisitos: 
I – não ser falido, e, se o foi, estejam declaradas extintas, por 
sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí 
decorrentes; 
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de 
recuperação judicial; 
 
 
 
55 Sobre Classes de Credores, ver apostila XIV. 
56 Art.167, in fine da Lei 11.101/2005. 
57 Art. 161, caput, in fine da Lei 11/101/2005. 
58 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à Nova Lei de Falências e de Recuperação de Empresas. São Paulo: Saraiva. 
2005. p. 394.. 
21 
Recuperação de Empresas 
 
 
III – não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de 
recuperação judicial com base no plano especial de que trata a 
Seção V desde Capítulo; 
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio 
controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos 
nesta Lei.59 60 
Acrescente-se, ainda, como requisito subjetivo, o fato de o devedor não poder ter pendente 
pedido de recuperação judicial, ou ter obtido “recuperação judicial ou homologação de 
outro plano de recuperação extrajudicial há menos de 2 (dois) anos”.61 
 
5.3 Requisitos Objetivos para Homologação da Recuperação 
Extrajudicial 
Os requisitos objetivos necessários à homologação do plano de recuperação extrajudicial 
referem-se ao conteúdo do plano e se encontram dispersos no capítulo da Nova Lei de 
Falências referente à Recuperação Extrajudicial. 
Os dois primeiros requisitos objetivos têm previsão no § 2o do art. 161 da Nova Lei de 
Falências. De acordo com o referido dispositivo legal, “o plano não poderá contemplar o 
pagamento antecipado de dívidas nem tratamento desfavorável aos credores que a ele não 
estejam sujeitos”. 
O plano de recuperação somente poderá abranger credores de créditos já constituídos à 
data do pedido de homologação, de acordo com o disposto no art. 163, § 1o, in fine da 
Nova Lei de Falências. 
Outro requisito objetivo diz respeito aos credores com garantia real. Conforme dispõe o 
art. 163, § 4o, o plano de recuperação somente pode prever a alienação de bem objeto de 
garantia real, a supressão de garantia ou a sua substituição, se houver aquiescência 
expressa do credor garantido. 
Por fim, o último requisito trata das hipóteses que em o plano abrange créditos em moeda 
estrangeira. Prevê o art. 163, § 5o da Nova Lei de Falências que o credor de crédito em 
moeda estrangeira deve aprovar plano que afaste a variação cambial. 
 
5.4 Desistência de Adesão ao Plano de Recuperação Extrajudicial 
De acordo com o art. 161, § 5o da Nova Lei de Falências, “após a distribuição do pedido de 
homologação, os credores não poderão desistir da adesão ao plano, salvo com a anuência 
expressa dos demais signatários”.62 
De acordo com o professor Fábio Ulhoa Coelho, “a anuência do devedor e de todos os 
credores é condição para existência, validade e eficácia do arrependimento porque o plano 
de recuperação deve sempre ser considerado em sua integralidade”63. Acrescenta, ainda, 
que não se pode fazer uma interpretação a contratio sensu do art. 161, § 5o da Nova Lei 
 
 
59 Art. 48, I a IV da Lei 11.101/05. 
60 Os requisitos subjetivos são os mesmos exigidos para a recuperação judicial, portanto, vide apostila XIII. 
61 Art. 161, § 3o da Lei 11.101/05. 
62 Art. 161, par. 5o da Lei 11.101/05. 
63 COELHO. Ob. cit. p. 395. 
22 
Recuperação de Empresas 
 
 
de Falências, de modo a sustentar que até a distribuição da homologação do plano qualquer 
credor pode desistir, unilateralmente, de sua adesão.64 
 
5.5 Credores Excluídos da Recuperação Extrajudicial 
Existem credores que, por determinação legal, não podem participar do plano de 
recuperação extrajudicial, ou seja, não terão seus créditos atingidos pela recuperação.De acordo com o § 1o do art. 161 da Nova Lei de Falências, não serão atingidos pela 
recuperação extrajudicial os “titulares de créditos de natureza tributária, derivados da 
legislação do trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho, assim como aqueles 
previstos nos art. 49, § 3o, e 86, inciso II do caput, desta Lei”. 
A razão de o credor tributário estar excluído do regime de recuperação encontra-se no fato 
de ser tal categoria de crédito disciplinada por normas de direito público, somente podendo 
ser concedida remissão, conforme bem salienta o professor Fábio Ulhoa, mediante lei65. 
Ao contrário dos titulares de crédito tributário, os credores identificados no art. 49, § 3o da 
Nova Lei de Falência, segundo o professor Fábio Ulhoa Coelho, não estão impossibilitados 
de renegociar seus créditos. Entretanto, não será possível, em hipótese alguma, que a 
homologação de recuperação extrajudicial atinja seus créditos. Incluem-se, no rol do artigo 
49, § 3o da lei de falências, o proprietário fiduciário, o arrendador mercantil, o vendedor 
ou promitente vendedor de imóvel por contrato irrevogável e o vendedor titular de reserva 
de domínio. 
Por fim, de acordo com o art. 86, II da Nova Lei de Falências, também não se sujeitarão 
aos efeitos da recuperação extrajudicial a instituição financeira credora por adiantamento 
ao exportador. 
 
5.6 Homologação do Plano de Recuperação Extrajudicial 
A homologação do plano de recuperação extrajudicial poderá ser facultativa ou obrigatória. 
De acordo com as lições do professor Fábio Ulhoa Coelho, será facultativa a homologação 
quando todos os credores do devedor aderirem ao plano. Ou seja, o plano será 
implementado ainda que não haja homologação judicial.66 Não obstante dispensável para 
a produção de efeitos do plano de recuperação extrajudicial, a Nova Lei de Falências, em 
seu art. 162 prevê a possibilidade de homologação. Para o professor Fábio Ulhoa, duas são 
as razões que podem levar o devedor a requerer a homologação do plano: “revestir o ato 
de maior solenidade e possibilitar a alienação por hasta judicial de filiais ou unidades 
produtivas isoladas, quando prevista a medida”.67 Esta segunda razão se refere ao art. 166 
da Nova Lei de Falências, segundo o qual quando o plano de recuperação extrajudicial 
previr alienação judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas, a venda se dará por 
hasta e, para tanto, é necessário que haja homologação judicial do plano. 
Para requerer a homologação do plano de recuperação, quando esta for facultativa, o 
devedor deverá apresentar ao Juízo competente justificativa para a recuperação, e 
documento que contenha os termos e condições do plano. 
 
64 Idem. p. 395. 
65 Idem. p. 396. 
66 Idem. p. 397. 
67 Idem. p. 398. 
23 
Recuperação de Empresas 
 
 
A hipótese de homologação obrigatória está prevista no art. 163 da Nova Lei de Falências. 
A homologação será obrigatória quando o devedor não conseguir a adesão da totalidade 
de seus credores ao plano de recuperação extrajudicial. Contudo, para que haja a 
homologação, é necessário que 3/5 dos titulares de créditos de cada classe68 tenham 
assinado o plano. Conforme salienta o professor Fábio Ulhoa Coelho, “com a homologação 
judicial do plano de recuperação extrajudicial, estendem-se os efeitos do plano aos 
minoritários nele referidos, suprindo-se desse modo a necessidade de sua adesão 
voluntária”.69 
Para o requerimento da homologação do plano de recuperação extrajudicial, quando esta 
for obrigatória, o devedor deverá instruir a inicial com os seguintes documentos: a) plano 
de recuperação; b) justificativa para a recuperação; c) exposição da situação patrimonial 
do devedor; d) demonstrações contábeis relativas ao último exercício social; e) 
demonstrações contábeis levantadas especialmente para instruir o pedido; f) documentos 
que comprovem os poderes dos subscritores para novar ou transigir, relação nominal 
completa dos credores, com indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação 
e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos 
vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente.70 
 
5.7 Processamento do Pedido de Homologação 
O pedido de homologação, seja ele facultativo ou obrigatório, será processado de acordo 
com o disposto no art. 164 da Nova Lei de Falências. 
A inicial, instruída com os documentos acima mencionados, será recebida pelo juízo 
competente. Recebido o pedido, o juiz determinará a “publicação de edital no órgão oficial 
e em jornal de grande circulação nacional ou das localidades da sede e das filiais do 
devedor, convocando todos os credores do devedor para apresentação de suas 
impugnações ao plano de recuperação extrajudicial”.71 Para os credores domiciliados ou 
sediados no estrangeiro, o devedor deverá enviar cartas, no prazo do edital, informando a 
distribuição do pedido de homologação, as condições do plano e prazo para impugnação. 
O prazo para impugnação do plano pelos credores será, de acordo com o art. 164, § 2o da 
Nova Lei de Falências, de 30 (trinta) dias. A impugnação dos credores somente poderá 
versar sobre as matérias elencadas nos incisos do § 3o do art. 164 da Nova Lei de Falências: 
“I – não preenchimento do percentual mínimo previsto no caput do 
art. 163 desta Lei72; 
II – prática de qualquer dos atos previstos no inciso III do art. 94 
ou do art. 130 desta Lei, ou descumprimento de requisito previsto 
nesta Lei; 
III – descumprimento de qualquer outra exigência legal.” 
 
 
 
68 São classes de credores, a serem considerados na recuperação extrajudicial: a) credores com garantia real; b) 
credores com privilégio especial; c) créditos com privilégio geral; d) crédito quirografário; e e) crédito 
subordinado. 
69 Idem. p. 400. 
70 Art. 163, § 6o da Lei 11.101/2005. 
71 Art. 164, caput da Lei 11.101/2005. 
72 Refere-se ao percentual de 60% (3/5) dos credores de cada classe, que devem ter aderido ao plano. 
24 
Recuperação de Empresas 
 
 
Apresentada a impugnação, a Nova Lei de Falências determina que seja aberto prazo de 
cinco dias para que o devedor se manifeste sobre ela.73 Após, o juiz decidirá, no prazo de 
cinco dias, sobre o plano de recuperação extrajudicial, deferindo ou indeferindo a 
homologação do mesmo. Da sentença, em qualquer hipótese, caberá apelação sem efeito 
suspensivo (art. 164, § 8o da Nova Lei de Falências). 
O pedido de homologação será deferido caso o juiz verifique que o cumprimento do plano 
não implica a prática de atos previstos no art. 130 da lei de falências, ou seja, atos com 
intenção de prejudicar credores, e que não há outras irregularidades que impeçam a 
homologação. 
Caso o pedido seja indeferido, o professor Fábio Ulhoa Coelho salienta que não há 
impedimento para nova apresentação do pedido, desde que afastado o motivo que levou 
à denegação do pedido.74 
 
5.8 Efeitos da Homologação 
De acordo com o art. 165 da Nova Lei de Falências, “o plano de recuperação extrajudicial 
produz efeitos após sua homologação judicial”.75 Contudo, é possível que o plano disponha 
de forma diversa, estabelecendo a produção de efeitos imediatos “em relação à modificação 
do valor ou da forma de pagamento dos credores signatários”.76 Nesta hipótese, caso o 
juízo a que for submetido o plano para homologação o rejeite, os credores poderão exigir 
seus créditos nas condições originais, deduzindo-se os valores já pagos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
73 Art. 164, § 4o da Lei 11.101/2005. 
74 COELHO. Ob. cit. p. 404. 
75 Art. 165, caput da Lei 11.101/2005. 
76 Art. 165, § 1o da Lei 11.101/2005. 
25 
Recuperação de Empresas 
 
 
6. FALÊNCIAS 
 
6.1 Introdução: A reforma da legislação concursal e suas 
justificativas 
O risco é inerente a qualquer atividade econômica. No desenvolver de sua atividade, 
empresários e sociedades empresárias, inevitavelmente, passarão por períodos de crise, 
as quais, de acordo com Fábio Ulhoa Coelho, podemser de três tipos: crise econômica, 
financeira e patrimonial77. 
A crise econômica seria caracterizada por uma retração nos negócios do empresário. A 
crise financeira, por seu turno, seria uma crise de liquidez: ocorreria quando falta ao 
empresário montante em caixa necessário para honrar suas obrigações imediatas. Por fim, 
a crise é patrimonial quando o ativo do empresário é inferior ao seu passivo total, 
caracterizando o estado de insolvência. 
Crises podem ser passageiras, mas também podem inviabilizar o prosseguimento das 
atividades empresárias. Sob certa ótica, por análise essencialmente econômica, a quebra 
de um empresário ou sociedade empresária que não possui condições de prosseguir com 
seus negócios é considerada positiva, eis que permite que os recursos escassos da empresa 
sejam alocados do modo mais eficiente possível, priorizando-se os credores que gozem de 
privilégios no recebimento dos valores que lhe são devidos. 
Ademais, não se pode fechar os olhos para o fato de existir grande responsabilidade social 
de quem desempenha uma atividade empresarial, de modo que, em última instância, será 
quem absorverá a força de trabalho, efetuará o recolhimento de tributos e fará circular 
riquezas. Desse modo, o empresário pode ser considerado, sob certos aspectos, um 
destacado responsável pelo desenvolvimento econômico da nação. Desta feita, quando as 
atividades do empresário ou da sociedade empresária78 não obtêm sucesso, a 
impossibilidade de sua manutenção no mercado pode acarretar graves problemas sociais. 
Assim, o encerramento das atividades empresariais é um fato bastante relevante não só 
em termos individuais e privados, mas também para a comunidade na qual se insere o 
exercício daquela atividade. Implica, dentre outros malefícios, o fechamento de postos de 
trabalho e a perda de arrecadação por parte do Estado que, em consequência, passa a 
dispor de menos recursos para aplicar em suas atividades. Cientes de tais fatos, os 
modernos ordenamentos jurídicos buscam criar regras que possibilitem a recuperação de 
empresas que, embora em crise, ainda sejam economicamente viáveis e socialmente 
relevantes. 
Verifica-se, assim, que a recuperação da empresa não é um valor que deva ser defendido 
independentemente do custo desta decisão, de modo que se o devedor não possuir 
mecanismos suficientes ou possibilidades vislumbradas de recursos para se reerguer, deve 
encerrar suas atividades. 
O sistema concursal brasileiro foi, durante mais de meio século, regido pelo Decreto-lei 
7.661/45, alcunhada “Lei de Falências”, a qual só veio a ser efetivamente revogada pela 
lei 11.101/2005 – a nova Lei de Falências. A longevidade do referido diploma não significa 
 
77 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, vol. 3. São Paulo: Editora Saraiva, 2002, pp. 215 e ss. 
78 Doravante, irá ser utilizada a expressão devedor para se referir tanto ao empresário individual quanto à 
sociedade empresária. 
26 
Recuperação de Empresas 
 
 
que o mesmo tenha tido uma existência tranquila. Ao contrário, há muito se advoga que o 
referido diploma dificultava excessivamente a recuperação das empresas viáveis, havendo 
portanto a necessidade de edição de normas mais eficientes. Nesse sentido, a edição da 
nova lei de falências – Lei nº 11.101/2005 – representou uma tentativa do legislador atual 
de possibilitar a recuperação da empresa viável. 
O encerramento das atividades empresariais não é, contudo, um processo simples. O 
processo ordinário de execução afigura-se como injusto nas hipóteses em que o empresário 
não possui bens suficientes para pagar todas as suas dívidas. Nesses casos, apresenta-se 
como medida de justiça a instauração de um único processo para a liquidação da atividade, 
sendo certo que não se trata de uma execução coletiva, pois, ao contrário do processo de 
execução, na falência, mesmo que não sejam satisfeitos os créditos, a extinção do processo 
será engendrada. 
A falência é justamente o procedimento utilizado para os casos de empresários e 
sociedades empresárias que não possuem modo de se recuperar. O processo falimentar é, 
assim, uma execução concursal que visa a liquidação do patrimônio do devedor. Em termos 
bastante simplificados, trata-se do procedimento que regula o modo pelo qual os credores 
concorrerão na partilha dos bens do devedor a fim de verem satisfeitos seus créditos, 
ressaltando-se que, na maioria das vezes, tal desiderato não será alcançado. 
A toda evidência, a instauração da falência pressupõe que os devedores encontram-se 
incapacitados de prosseguir com suas atividades. Por tal motivo, só podem ser requeridas 
as falências de quem se apresentar presumidamente insolvente, isto é, incapaz de honrar 
as obrigações assumidas ou praticando atos que evidenciem sua dificuldade ou que sejam 
capazes de dilapidar o patrimônio que suportará a execução a ponto de prejudicar os 
interesses dos credores. 
O requerimento de falência é o processo por meio do qual os credores e outros legitimados 
pretendem a falência do devedor empresário. O requerimento de falência constitui um 
processo de conhecimento constitutivo, que segue um procedimento especial, previsto pela 
Lei 11.101/2005. O processo tem natureza constitutiva, porque a falência é declarada a 
partir da criação, modificação e extinção de diversas situações jurídicas. 
 
6.2 Sujeitos da Falência 
Antes de se passar à análise dos atos caracterizadores da insolvência, importa verificar 
quais pessoas encontram-se sujeitas à legislação falimentar – em outras palavras, o 
requisito subjetivo da falência. 
De acordo com o art. 1º da nova Lei de Falências, são sujeitos aos seus efeitos o empresário 
e a sociedade empresária. Em seu art. 2º, a lei ressalva não se aplicar às empresas 
públicas, às sociedades de economia mista, às instituições financeiras públicas ou privadas, 
às cooperativas de crédito, aos consórcios, às entidades de previdência complementar, às 
sociedades operadoras de plano de assistência à saúde, às sociedades seguradoras, às 
sociedades de capitalização e quaisquer outras entidades legalmente equiparadas às 
anteriores. 
Note-se, todavia, que o art. 197 da Lei de Falências ressalva a regra em tela, prevendo 
que ainda deverão ser editadas normas específicas para as falências dessas sociedades. 
Até o advento dessas novas leis, a Lei nº 11.101/2005 deverá ser subsidiariamente 
aplicada a esses procedimentos de quebra. 
27 
Recuperação de Empresas 
 
 
6.3 A definição de empresa e de empresário 
Na vigência da lei revogada, até o advento do Código Civil de 2002, a legislação falimentar 
destinava-se aos comerciantes. A superação do conceito de “comerciante” em favor do de 
“empresário” na letra da lei falimentar veio em boa hora, visto que, desde a edição do novo 
Código Civil – Lei nº 10.406/ 2002, que a teoria dos atos de comércio havia sido substituída 
pela teoria da empresa. 
As definições de empresário e de sociedade empresária encontram-se, respectivamente, 
nos arts. 966 e 982 do Código Civil, in verbis: 
Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente 
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de 
bens ou de serviços. (grifos nossos) 
Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a 
sociedade que tem por objetivo a atividade própria de empresário 
sujeito a registro; e simples, as demais. 
Parágrafo Único. Não se considera empresário quem exerce 
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, 
ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o 
exercício da profissão constituir em elemento de empresa. 
A teoria da empresa tem sua origem no direito italiano, tendo sido inicialmente formulada 
por Alberto Asquini em seu clássico estudo “Perfis da Empresa”79. Em termos resumidos, 
pode-se entender que a atividade é empresária quando a atividade é (1) econômica, isto 
é, voltada para a criação de riquezas, bens ou serviços, (2) organizada, ou seja, envolve acoordenação e organização dos fatores de produção, trabalho, natureza e capital, e (3) 
profissional – exercida com habitualidade, de forma sistemática e com ânimo de lucro. 
 
6.4 As sociedades de economia mista e as empresas públicas 
Ainda em sede dos sujeitos à falência, deve-se ressaltar que o novo diploma, ao excluir as 
sociedades de economia mista e as empresas públicas do rol das empresas passíveis de 
falir, retrocedeu. Isto porque a reforma da Lei das S.A. – Lei nº 6.404/76 –, promovida 
pela edição da Lei nº 10.303/2001, já havia revogado o artigo 242 da lei do anonimato, o 
qual vedava a falência das sociedades de economia mista80. 
Há, no direito administrativo, uma corrente doutrinária que sustenta que a imunidade 
falimentar das sociedades de economia mista e das empresas públicas somente se aplicaria 
àquelas que prestassem serviços públicos. As sociedades de economia mista que 
explorassem atividades econômicas eminentemente privadas estariam assim sujeitas à 
falência, em razão do princípio da isonomia81. Note-se, contudo, que essa argumentação 
cai por terra com a entrada em vigência da nova lei de falências, que em seu art. 19582 
prevê expressamente a possibilidade de empresas prestadoras de serviço público falirem. 
 
79 ASQUINI, Alberto. “Perfis da Empresa” in Revista de Direito Mercantil 104, pp. 109-126. Tradução de Fábio 
Konder Comparato para “Profili dell’imprensa”, publicado na Revista Del Diritto Commerciale, 1943, vol. 41, I. 
80 Para uma discussão mais aprofundada sobre o assunto, veja-se MODESTO CARVALHOSA, “Comentários à Lei 
de Sociedades por Ações”, vol 4, tomo I, São Paulo: Editora Saraiva, pp. 421 e ss. 
81 Art. 173, § 1º da Constituição Federal. 
82 Lei nº 11.101/ 2004, art. 195: “A decretação da falência das concessionárias de serviços públicos implica 
extinção da concessão, na forma da lei”. 
28 
Recuperação de Empresas 
 
 
Em vista de tal fato, parece injustificável a manutenção desse privilégio concedido às 
sociedades de economia mista e empresas públicas, havendo questionamentos, em sede 
doutrinária, a respeito da constitucionalidade de tal dispositivo. 
 
6.5 A caracterização da insolvência empresarial 
No ordenamento jurídico brasileiro, para existir falência é necessário o concurso de três 
requisitos. O primeiro é a qualidade de empresário do devedor, requisito subjetivo da 
falência, discutida no item 1.2 supra. O segundo pressuposto, abordado no presente item, 
é que o empresário devedor ou a sociedade empresária devedora encontre-se em estado 
de insolvência. Trata-se do requisito objetivo. O terceiro e último pressuposto consiste na 
declaração judicial do estado de falência (requisito formal da falência). 
Como visto acima, a falência decorre da impossibilidade de o empresário saldar as 
obrigações que possui com seus credores. Note-se, contudo, que a insolvência é um estado 
de fato, consubstanciado na incapacidade do empresário devedor de honrar suas 
obrigações, a qual só passa a produzir efeitos na esfera jurídica com a decretação judicial 
da falência. 
Verifica-se, destarte, que, na sistemática da lei de falências, a insolvência caracteriza-se 
pela impontualidade de pagamentos ou pela verificação de certos atos enumerados em lei 
– conhecidos como “atos de falência”. Assim, não cabe ao juiz que analisa um requerimento 
averiguar a desproporção negativa patrimonial do empresário, mas apenas se este se 
encontra em impontualidade ou se praticou algum ato de falência. 
Ao optar pela caracterização da insolvência empresarial, via impontualidade ou prática de 
atos de falência, a nova Lei de Falência não inovou. Ambas as hipóteses - que eram listadas 
nos artigos 1º e 2º do antigo diploma - encontram-se agora elencadas no art. 94 da Lei nº 
11.101/ 2005. As subseções seguintes tratam separadamente de cada uma dessas 
hipóteses. 
 
6.6 Caracterização da falência 
 
6.6.1 Impontualidade 
O sistema da impontualidade é o principal mecanismo adotado na legislação brasileira para 
a caracterização do estado de insolvência83 e encontra-se regulado no inciso I do art. 94 
da nova lei de falências, in verbis: 
Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: 
I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, 
obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos 
protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) 
salários-mínimos na data do pedido de falência; 
 
Para a caracterização da insolvência pela impontualidade basta que um credor ou um grupo 
de credores que, em conjunto, possuam títulos executivos protestados cuja soma das 
dívidas líquidas ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos. Satisfeitas 
essas condições, e não havendo alguma relevante razão por parte do credor para o 
inadimplemento das obrigações por ele assumidas, deve o juiz decretar a falência sem 
 
83 NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa, vol. 3. São Paulo: Editora Saraiva, 2004, p. 59. 
29 
Recuperação de Empresas 
 
 
analisar se a impontualidade decorre de um real estado de insolvência econômica. Veja- 
se, nesse sentido, as ementas de decisões judiciais abaixo transcritas: 
 
6.6.1.1 Relevantes razões de direito para o não pagamento da dívida 
Note-se que não é qualquer impontualidade que enseja a decretação de falência do devedor 
empresário, mas tão somente a impontualidade injustificada. Também nesse ponto, a Lei 
de Falências não inova, mantendo o sistema já existente na antiga lei. 
O artigo 96 da nova lei enumera algumas hipóteses em que haveria “relevante razão de 
direito” para o não pagamento do título apresentado no pedido da falência. Seriam essas: 
a falsidade de título; a sua prescrição; a nulidade de obrigação ou de título; o pagamento 
da dívida; qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a 
cobrança de título; vício em protesto ou em seu instrumento; a apresentação de pedido de 
recuperação judicial no prazo da contestação e a cessação das atividades empresariais 
mais de dois anos antes do pedido de falência. 
As hipóteses previstas no art. 96 da nova Lei de Falências traz rol de hipóteses elencadas 
não exaustivo, mas sim exemplificativo. 
 
6.6.1.2 Obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos 
O inciso I do art. 94 da nova Lei de Falências exige que a impontualidade advenha de 
obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos. Anota Ricardo Negrão, 
valendo-se da lição de Waldemar Ferreira, que “obrigação líquida é a certa quanto à 
existência e determinada quanto ao seu objeto”84. 
Essas obrigações deverão estar materializadas em títulos executivos judiciais ou 
extrajudiciais, previstos nos artigos 584 e 585 do Código de Processo Civil, in verbis: 
Art. 584 – São títulos executivos judiciais: 
I – a sentença condenatória proferida no processo civil; 
II – a sentença penal condenatória transitada em julgado; 
III – a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que 
verse matéria não posta em juízo; 
IV – a sentença estrangeira, homologada pelo Supremo Tribunal Federal; 
V – o formal e a certidão de partilha; 
VI – a sentença arbitral. 
Parágrafo único – Os títulos a que se refere o nº V deste artigo têm força 
executiva exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos 
sucessores a título universal ou singular. 
Art. 585 – São títulos executivos extrajudiciais: 
I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o 
cheque; 
 
 
 
84 Idem, p. 60. 
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II – a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; 
o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o 
instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela 
Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores; 
III – os contratos de hipoteca, de penhor, de anticrese e de caução, bem 
como de seguro de vida e de acidentes pessoais de que resulte morte ou 
incapacidade; 
IV

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