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Lei_de_Abuso_de_Autoridade

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Direito Penal IV - Lei de Abuso de Autoridade 
 
 Página 1 
 
ASPECTOS PENAIS LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE – LEI 4.898/65 
 
O ato de abuso de autoridade enseja tríplice responsabilização. As três responsabilidades 
estão reguladas na Lei 4.898/65, daí que podemos concluir que, apesar de ser uma lei 
predominantemente penal, não é apenas penal. 
E aqui nos interessa estudar os aspectos penais da lei de abuso de autoridade. 
 
1. Objetividade Jurídica: 
 
Os crimes de abuso de autoridade têm dupla objetividade jurídica. Há objetividade jurídica 
principal que é a proteção dos direitos e garantias fundamentais das pessoas físicas e jurídicas. Há 
ainda uma objetividade jurídica mediata ou secundária que diz respeito à normalidade e à 
regularidade dos serviços públicos. 
 Os crimes de abuso de autoridade protegem também a normalidade da prestação do serviço 
público e isso se dá considerando que o crime de abuso de autoridade significa uma irregular e 
anormal prestação do serviço público. Aquele que abusa da autoridade presta serviço irregular e 
anormal. 
 
2. Elemento Subjetivo: 
 
O elemento subjetivo é o dolo. Não há abuso de autoridade culposo. É necessário observar 
ainda que não basta o dolo de praticar a conduta típica de abuso, sendo necessário ainda a finalidade 
específica de abusar, ou seja, o propósito deliberado de agir abusivamente, o que nos chamamos de 
elemento subjetivo do injusto penal. 
Em outras palavras, o dolo deve incluir também a consciência da autoridade de que esteja 
praticando o abuso. 
Daí que, se a autoridade, na justa intenção de cumprir seu dever e proteger o interesse 
público, acaba se excedendo, haverá ilegalidade do ato da autoridade, mas não haverá crime de 
abuso de autoridade, em face da ausência da intenção específica de abusar. 
Atente-se que é muito tênue a linha que divide a discricionariedade da arbitrariedade e não se 
tem como configurar se a conduta configura ou não abuso de autoridade. Se a autoridade agiu com a 
intenção específica de abusar, é abuso se não agiu, não resta configurado o crime. 
 
3. Formas de Conduta: 
 
O abuso de autoridade pode ser praticado tanto por ação quanto por omissão. Em outras 
palavras, pode ser crime comissivo ou omissivo. Em regra é crime praticado por ação, mas nada 
impede que seja praticado por omissão. 
Os crimes do art. 4º, “c”, “d”, “g”, e “i” somente podem ser praticados por omissão. São 
crimes omissivos puros ou próprios. 
Direito Penal IV - Lei de Abuso de Autoridade 
 
 Página 2 
 
Atente-se que, na forma omissiva, também é necessário o elemento subjetivo do injusto, ou 
seja, também é necessária a intenção específica de se omitir abusivamente. 
 
4. Consumação e tentativa: 
 
4.1. Crimes do art. 3º: 
 
Os crimes do art. 3º consumam-se com a simples conduta praticada no tipo penal, 
independentemente da efetiva violação do direito ali protegido. Tais crimes, segundo entendimento 
pacífico da doutrina, não admitem a tentativa e isso se dá considerando que, o simples atentado aos 
direitos previstos no art. 3º já configura crime consumado. 
Cite-se o caput do dispositivo: 
 Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: 
Não se pode falar em tentativa de atentado ao direito de locomoção. 
Sucede que, Rogério Greco afirma que os crimes de atentado admitem tentativa. Mas aqui a 
questão é semântica. O simples atentado já foi tipificado como crime consumado. 
 
4.2. Crimes do art. 4º: 
 
No que tange aos crimes previstos no art. 4º, a consumação será analisada casuisticamente. Já 
no que tange a tentativa, esta não é possível nos crimes das alíneas “c”, “d”, “g” e “i” e isso se dá 
considerando que, conforme já foi dito, esses crimes são crimes comissivos puros ou próprios, que 
não admitem tentativa. 
Nas demais alíneas é possível a tentativa. 
 
5. Sujeitos do crime de abuso de autoridade: 
 
5.1. Sujeito ativo: 
 
O sujeito ativo nos crimes de abuso de autoridade, é a autoridade. Daí que, os crimes de 
abuso de autoridade são crimes próprios. São crimes que exigem uma qualidade especial do sujeito 
ativo. 
O conceito de autoridade está previsto no art. 5º da Lei: 
 Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza 
civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração. 
 
O conceito de autoridade aqui delineado coincide com o conceito de funcionário público para 
fins penais previsto no art. 327 do Código Penal. 
É necessário observar que o conceito de autoridade para os efeitos essa lei é amplíssimo. Para 
os efeitos dessa lei, é autoridade pública toda pessoa que exerça função pública, pertencendo ou não 
Direito Penal IV - Lei de Abuso de Autoridade 
 
 Página 3 
 
à administração pública, e ainda que exerça tal função de forma passageira e gratuita. Ex. mesário 
eleitoral, jurado. 
Obs.: a jurisprudência já admitiu como sendo autoridade para efeitos dessa lei o guarda 
noturno, que, apesar de exercer função em caráter privado, a função busca interesse público. 
 
É necessário observar que os crimes de abuso de autoridade podem ser praticados no 
exercício da função ou em razão dela. “Em razão dela” significa que a autoridade invoca tal qualidade 
para praticar o abuso e o pratica prevalecendo-se dessa função. Há quem discorde acerca dessa 
possibilidade de praticar o crime em razão da função, mas essa é minoria. 
Merece destaque a Súmula 172 do STJ: “Compete à Justiça comum processar e julgar militar 
por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço”. Esse “ainda que praticado em 
serviço” permite deduzir que o delito possa ser praticado em serviço ou em razão dela. 
Atente-se que não são consideradas autoridades as pessoas que exercem munus público. 
Múnus público é um encargo imposto pela lei ou pelo Juiz para a proteção de um interesse particular 
ou social. Veja que, o detentor de múnus público não é detentor de parcela do poder estatal, e 
defende interesse privado e daí que não é autoridade para os efeitos da lei de abuso de autoridade. 
Como exemplos podemos citar: tutor e curador dativos, inventariante, administrador de falência, 
depositário judicial, advogado. O Estatuto da OAB é expresso em dizer que o advogado exerce munus 
público, mas observe-se que o defensor público é autoridade para efeitos da lei de abuso de 
autoridade. 
Também não é considerada autoridade, o funcionário público demitido, exonerado ou 
aposentado. Isso porque, não mais ostentam a condição de autoridade. O funcionário público, nessas 
situações, pode responder pelo crime de abuso de autoridade se cometeu a infração quando ainda 
estava no exercício da função. 
Obs.: A pessoa que não é autoridade, pode responder pelo delito de abuso de autoridade? 
Sozinha, jamais, considerando que não possui a qualidade de autoridade. Sucede que, pode 
responder, desde que cometa o crime em concurso com uma autoridade e, saiba que o comparsa é 
considerado autoridade. É necessário esse conhecimento pois a condição pessoal de autoridade é 
elementar do delito de abuso de autoridade e, sendo elementar, ainda que subjetiva, comunica-se 
ao particular caso esse tenha conhecimento da situação do agente. É a mesma explicação que se 
tem para os crimes funcionais. 
Ex. soldado do Estádio do Pacaembu juntamente com um pipoqueiro agridem outrem sem 
motivo algum. O pipoqueiro irá responder por abuso de autoridade pois praticou o crime 
juntamente com o soldado. 
 
5.2. Sujeito passivo: 
 
O crime de abuso de autoridade tem dupla subjetividade passiva e isso quer dizer que: 
a) Sujeito passivo imediato ou principal: o sujeito passivoimediato ou principal é a pessoa física 
ou jurídica que sofre a conduta abusiva. Pode ser qualquer pessoa física: capaz, incapaz, 
Direito Penal IV - Lei de Abuso de Autoridade 
 
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nacional, estrangeira e também, qualquer pessoa jurídica, seja de direto público ou de direito 
privado. 
Observe-se pois que pessoa jurídica pode ser vítima do crime de abuso de 
autoridade. 
Obs.: Se a vítima for criança ou adolescente, a conduta poderá configurar crime do ECA, 
tendo-se em mente o Princípio da Especialidade. 
Atente-se ainda que, o sujeito passivo pode ser, inclusive, uma autoridade. 
 
b) Sujeito passivo mediato ou secundário: é a administração Pública. Alguns afirmam que seja o 
Estado, cujos serviços são prejudicados pelo ato de abuso de autoridade. Isso porque o abuso 
de autoridade é uma prestação irregular de serviço público e quando o funcionário comete 
abuso, ele atinge a regularidade dos serviços públicos e causa como vítima também, a 
administração pública, interessada na normalidade dos serviços públicos. 
 
6. Ação Penal: 
 
Os arts. 1º e 2º da lei falam em direito de representação que deve ser endereçada ao MP. 
 Art. 1º O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa civil e penal, contra as autoridades 
que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, são regulados pela presente lei. 
 Art. 2º O direito de representação será exercido por meio de petição: 
 a) dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à autoridade civil ou militar culpada, a 
respectiva sanção; 
 b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver competência para iniciar processo-crime contra a autoridade 
culpada. 
 Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e conterá a exposição do fato constitutivo do abuso de 
autoridade, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e o rol de testemunhas, no máximo de três, se as 
houver. 
 
O art. 12 da lei de crimes de abuso de autoridade diz que denúncia será instruída com a 
representação da vítima, senão vejamos: 
Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente de inquérito policial ou justificação por denúncia do Ministério 
Público, instruída com a representação da vítima do abuso. 
 
Sucede que, apesar do uso da expressão representação a ação penal nos crimes de abuso de 
autoridade é pública incondicionada, sem necessidade de representação da vítima e isso se dá 
considerando que representação a que se refere esses artigos da lei de abuso de autoridade significa 
apenas o direito de petição contra abuso de poder, previsto no art. 5º, XXXIV, “a” da CR. 
Assim, a representação prevista na lei de abuso de autoridade não é aquela condição de 
procedibilidade que subordina o exercício da ação penal. 
 
7. Competência: 
 
Direito Penal IV - Lei de Abuso de Autoridade 
 
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 A competência para processo e julgamento dos crimes de abuso de autoridade, considerando 
que possuem pena máxima de 06 meses de detenção, é do Juizado Especial Criminal. Essa pena é tão 
baixa pois foi editada na época da Ditadura. 
Se a pena máxima é de seis meses, abuso de autoridade é infração de menor potencial 
ofensivo e a competência é dos Juizados Especiais Criminais Federais ou Estaduais. 
A regra é que a competência é dos juizados estaduais, salvo se o crime atingir bens, serviços 
ou interesses da União, suas autarquias ou empresas públicas. 
 
7.1. Crime praticado contra servidor Federal: 
 
Tratando-se de crime praticado contra servidor federal (a vítima é servidor federal), por 
exemplo soldado do exército, a competência será da Justiça Federal, nos termos da Súmula 147 do 
STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público 
federal quando relacionados com o exercício da função” 
 Atente-se que é necessário que o abuso tenha relação com a função do servidor federal. Se 
não houver relação com a função do servidor federal, a competência será do Juizado Especial 
Criminal estadual. 
 Ex. soldado do exército é vítima de abuso por seu superior � JeCrime Federal. Por outro lado, 
servidor federal em férias é vítima de abuso de autoridade � JeCrime estadual. 
Obs.; recentemente (2008), o STJ decidiu que crime de abuso de autoridade praticado contra Juiz 
Federal é Competência do JeCrime Federal, mesmo o crime não tendo relação com a função do 
magistrado. O fundamento da decisão foi o seguinte: Juiz Federal é órgão da Justiça Federal, não se 
enquadrando no conceito de funcionário público. Assim, essa qualidade de órgão do Poder 
Judiciário não pode ser afastada, mesmo que a vítima não esteja no exercício de suas funções 
jurisdicionais. 
 Concluindo, o STJ afirma que a interpretação restritiva da Súmula 147 do STJ não se aplica 
aos Juízes Federais. CC 89.397/AC, STJ. 
 
7.2. Crime praticado por servidor federal: 
 
Nessa situação há divergência, senão vejamos: 
1ª Corrente: a competência é do JeCrime Federal, e isso se dá considerando que o abuso atinge a 
normalidade do serviço público federal, acarretando interesse da União. Essa é a corrente 
majoritária na doutrina. 
2ª Corrente: o fato do infrator ser servidor federal, por si só, não fixa a competência da Justiça 
Federal. Nesse sentido, Guilherme de Souza Nucci. É necessário, segundo ele, a existência de 
circunstância, que não a qualidade de funcionário público que justifique o interesse da União na 
causa. Ex. se o crime é praticado em ambiente controlado pela União. Nessa hipótese, há interessa da 
União na causa. Ex. crime cometido na carceragem da polícia federal, em zona alfandegária de 
aeroporto. Recentemente, o STJ adotou essa segunda Corrente. O caso foi o seguinte: Delegado da 
Polícia Federal agrediu fisicamente uma Médica porque essa se recusou a entregar-lhe prontuários 
Direito Penal IV - Lei de Abuso de Autoridade 
 
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de pacientes. Nesse caso, entendeu o STJ que a simples condição de servidor federal do Delegado 
não justifica, por si só, a competência da Justiça Federal. HC 102.049/ES, STJ. 
 
7.3. Abuso de autoridade praticado por Militar: 
 
Na hipótese de abuso de autoridade praticado por militar, temos que referido abuso, ainda 
que a vítima seja outro militar, é de competência do Juizado Especial Criminal, federal ou estadual, 
conforme a hipótese. 
Não se trata de crime de competência da Justiça Militar uma vez que o abuso de autoridade 
não é crime militar e não sendo crime militar não é julgado pela Justiça Militar. 
Nesse sentido, a Súmula 172 do STJ: “Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por 
crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço”. 
Obs.: 
1) O STJ decidiu o seguinte: se o Juiz Militar arquiva inquérito por crime de abuso de 
autoridade, é cabível a impetração de Mandado de Segurança pelo MP Estadual ou Federal. 
Essa decisão foi fundamentada no sentido de que a decisão de arquivamento proferida pelo 
Juiz Militar incompetente, subtrai do Ministério Público (estadual ou federal), como titular 
da ação penal, o direito de formar a opinio dellicti e ajuizar ou não, a ação penal ou propor a 
transação penal. Esse é mais um caso de MS impetrado contra ato Judicial. Nesse sentido, o 
RMS 24.328/PR. 
 
2) O crime de abuso de autoridade praticado por militar, contra militar configura, em algumas 
hipóteses, crime do Código Penal Militar, que prevalece sobre a Lei de abuso de autoridade 
pelo princípio da especialidade. Ex. Crime de “violência contra inferior” ���� tem previsão no 
art. 165 do CPM. 
 
3) Se houver concurso de crimes entre crime militar e crime de abuso de autoridade, haveráseparação de processos, nos termos do art. 79, I do CPP, ou seja, o militar será processado 
no JeCrime pelo Abuso e na Justiça Militar pelos Crimes Militares. Ex. Militar comete abuso 
de autoridade + lesão corporal + violação de domicílio ���� lesão corporal e violação de 
domicílio são crimes militares e serão julgados na Justiça Militar. No que tange ao abuso de 
autoridade, esse será julgado o JeCrime. Nesse sentido, STF HC 92.912/RS; STJ, HC 
81.752/RS. 
 
8. Concurso de crimes: 
 
O STF e o STJ já pacificaram que os crimes de abuso de autoridade não absorvem os crimes 
com ele conexos. Ex. crimes contra a honra, lesões corporais, etc. 
Daí que o STJ admite que pode haver concurso entre crime de abuso de autoridade e lesões 
corporais. 
Direito Penal IV - Lei de Abuso de Autoridade 
 
 Página 7 
 
Ex. STJ, Resp. 684.532. Nesse julgado, o STJ reconheceu que o Juiz de Direito, em audiência, 
praticou abuso de autoridade + injúria + difamação. 
Quanto ao crime de tortura, prevalece na doutrina que o abuso de autoridade fica sempre 
absorvido pela tortura. Mas não é esse o entendimento do STJ que reconhece a possibilidade de 
concurso entre abuso de autoridade e tortura. Ex. RHC 22.727/GO, HC 11.159. 
De acordo com Silvio Maciel, em alguns casos, o abuso de autoridade é meio de execução da 
tortura, e nesse caso, não há dúvida que haverá absorção. Ex. Torturar preso para obter confissão � 
o abuso fica absorvido pela tortura. 
Há outros casos que os crimes de abuso e de tortura são independentes: como exemplo 
podemos citar a situação em que policiais torturam preso para obter confissão. Depois, os policiais 
expõem o preso na mídia com autor “confesso” do crime. Nesse caso, não há dúvida. Haverá 
concurso entre os delitos de tortura e de abuso de autoridade (previsto no art. 4º, “b” da Lei de 
Abuso). 
 
9. Análise do art. 3º da Lei de Abuso: 
 
 Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: 
 a) à liberdade de locomoção; 
 b) à inviolabilidade do domicílio; 
 c) ao sigilo da correspondência; 
 d) à liberdade de consciência e de crença; 
 e) ao livre exercício do culto religioso; 
 f) à liberdade de associação; 
 g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto; 
 h) ao direito de reunião; 
 i) à incolumidade física do indivíduo; 
 j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional. (Incluído pela Lei nº 6.657,de 05/06/79) 
 
9.1. Inconstitucionalidade do dispositivo: 
 
Acerca do tema, há divergência: 
1ª Corrente: o art. 3º é inconstitucional por violação ao princípio da taxatividade. O art. 3º tem 
redação vaga, genérica, imprecisa e pelo princípio da taxatividade, os tipos penais devem ser claros e 
precisos, ou seja, os tipos penais devem descrever, de forma detalhada e precisa, qual é a conduta 
proibida, para que as pessoas possam saber de antemão qual é o comportamento proibido. Essa é 
uma questão de segurança jurídica. 
 O princípio da taxatividade tem previsão no art. 1º do CP, na palavra “defina”. O art. 1º diz 
“que não há crime sem lei anterior que o defina [...]”. Definir significa expor com precisão, dar a 
conhecer com exatidão. Portanto, a palavra em questão proíbe tipos penais abertos, salvo exceções. 
 
2ª Corrente: o art. 3º é considerado Constitucional uma vez que a técnica dos tipos penais abertos é 
absolutamente legítima nos crimes de abuso de autoridade uma vez que é impossível ao legislador 
prever todas as hipóteses concretas de abuso. 
Todos os direitos previstos 
aqui estão protegidos pelo 
Art. 5ºda CF. Daí se falar que 
se trata de objeto jurídico a 
proteção de direitos 
fundamentais. 
Direito Penal IV - Lei de Abuso de Autoridade 
 
 Página 8 
 
 É o mesmo raciocínio que se emprega quanto ao crime culposo, sendo legítima a técnica de 
uso do tipo penal aberto. Essa é a corrente que deve ser adotada, considerando que o STF e o STJ 
jamais declararam a inconstitucionalidade do referido artigo 3º, nem mesmo incidentalmente. 
 É necessário lembrar que se a conduta abusiva se enquadrar simultaneamente, nas condutas 
previstas nos artigos 3º e 4º da lei, prevalece o art. 4º e isso se dá considerando que referido 
dispositivo é mais detalhado. Tem redação mais detalhada, logo é mais específico que o art. 3º, 
devendo prevalecer sobre ele tendo em vista o princípio da especialidade. 
 Atente-se ainda que os crimes do art. 3º são crimes formais ou de consumação antecipada, ou 
seja, consumam-se independentemente da efetiva violação do Direito protegido, ou seja, consumam-
se independentemente do resultado naturalístico que é a lesão, a ofensa a honra. 
 
9.2. Análise das alíneas: 
 
 Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: 
 
a) à liberdade de locomoção; 
 
A liberdade de locomoção tem proteção no art. 5º, XV da CF. A liberdade de locomoção inclui 
também o direito de permanecer, de ficar, de não ir. 
A jurisprudência já reconheceu abuso de autoridade na conduta de policial que expulsou uma 
pessoa da praça pública sem qualquer motivo. 
Se a restrição à liberdade de locomoção for justificada, não há abuso. Trata-se de legítimo 
exercício do Poder de Polícia estatal. Ex. retirar pessoas embriagadas ou doentes mentais de 
determinados locais, desde que elas estejam causando tumulto ou colocando em risco algum bem 
jurídico. 
Ex. expulsar prostitutas de determinados locais, desde que elas estejam promovendo 
desordem, ou seja, barulho na frente de residências, gritarias, atrapalhando fluxo de trânsito, etc. 
Observe-se que, se a prostituta não está praticando excesso algum, ela não pode se retirada 
do local, uma vez que prostituição não é crime nem ilícito civil. 
Ex. bloqueio de trânsito � é legítima restrição momentânea do direito de locomoção. 
 
Detenção Momentânea Prisão para averiguações 
Detenção momentânea é a breve retenção da 
pessoa ou a condução dela a algum local pelo 
tempo estritamente necessário para o 
esclarecimento de uma justificável situação de 
dúvida. 
Ex. conduzir uma pessoa a uma delegacia para 
conferir a autenticidade de documentos com 
sinais de adulteração; conduzir uma pessoa até 
uma delegacia que ainda consta como procurado 
Prisão para averiguação é restrição da liberdade 
da pessoa para a efetiva investigação de crime, 
ainda que informalmente. 
Ex. secretário de segurança pública manda 
Delegado manter custodiadas na Delegacia 
pessoas cujas prisões não foram feitas com 
ordem judicial nem em situação de flagrante. 
Nesse sentido, STF, HC 93.224, SP. 
Direito Penal IV - Lei de Abuso de Autoridade 
 
 Página 9 
 
no cadastro desatualizado da polícia. 
 
b) à inviolabilidade do domicílio; 
 
O fundamento constitucional é o art. 5º, XI da CF. 
Para efeitos dessa lei, o domicílio é considerado qualquer local não aberto ao público, onde 
alguém exerça moradia, habitual ou passageira, ou onde exerça qualquer atividade, trabalho ou 
profissão. 
Ex. o STF e o STJ consideram como domicílios os escritórios profissionais de contabilidade. Daí 
que, a entrada de fiscal sem mandado, em escritórios, ou mesmo no escritório da própria empresa, 
sem ordem judicial pode configurar abuso de autoridade, sem prejuízo da ilicitude da prova. 
Obs.: Essa letra “b” do inciso III, revogou tacitamente o crime de violação de domicílio 
praticado por funcionário público previsto no art. 150, §2º do CP. 
 
*Crime permanente e busca domiciliar sem ordem judicial: 
 
 O STF e o STJ pacificaram o seguinte: a invasão domiciliar em caso de crime permanente 
dispensa ordem judicial, por contado estado de flagrante. 
 Ex. a polícia recebe denúncia anônima, entra na casa da pessoa, e acha droga � nesse caso o 
STJ entende que não há abuso de autoridade pois a situação de flagrância impede o abuso de 
autoridade. 
 Nucci sustenta que a invasão da polícia em domicílio, sem ordem judicial é por conta e risco 
da própria polícia, ou seja, se a polícia entrar e encontrar situação de crime permanente, o ato é 
legal. Mas se a polícia entrar e nada encontrar, temos o crime de abuso de autoridade. 
Silvio Maciel descorda desse entendimento sob a alegação de a violação de domicílio pois a 
situação de flagrância exige a certeza visual do crime e não mera suposição. A situação de flagrância 
que dispensa ordem judicial é aquela em que há a certeza visual do crime. 
Se a polícia invade domicílio sem mandado com base em mera suspeita, isso é obtenção de 
prova ilícita em crime permanente. 
 
c) ao sigilo da correspondência; 
 
Obs.: É necessário observar que o sigilo da correspondência não é direito absoluto. Isso quer 
dizer que, em hipóteses muito excepcionais, o sigilo da correspondência pode ser legitimamente 
violado. HC 70.814, STF ���� nesse caso o STF entendeu como lícita a violação de correspondências de 
presos realizadas por agentes policiais. 
 
 O tipo penal tutela correspondências escritas, fechadas e eletrônicas. 
 
* Correspondências de advogados: 
 
Direito Penal IV - Lei de Abuso de Autoridade 
 
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O art. 7º, II do Estatuto da OAB. 
Antes da lei 11.767/08 Após a alteração da Lei 11.767/08 
Dizia que a correspondência do advogado era 
inviolável, salvo no caso de apreensão 
determinada por Juiz e acompanhada de 
representante da OAB. 
Admitia a violação das correspondências 
relativas a profissão, salvo se houvesse ordem 
judicial e representante da OAB. 
O sigilo das correspondências relativas ao 
exercício da profissão é absoluto. Já as 
correspondências particulares seguem a regra 
geral. 
Atualmente, não se permite a violação das 
correspondências profissionais relativas a 
profissão do advogado, em hipótese alguma. 
 
d) à liberdade de consciência e de crença; 
e) ao livre exercício do culto religioso; 
 
Tais alíneas dizem respeito a direitos tutelados pela CF. 
Os excessos e abusos cometidos pelo excesso de liberdade de crença ou cultos religiosos 
podem e devem ser coibidos, inclusive com providências criminais cabíveis. 
Ex. culto religioso com sacrifício de seres humanos, cultos religiosos com excesso de som. 
 
f) à liberdade de associação; 
 
Configura abuso de autoridade inclusive obrigar alguém a permanecer associado contra sua 
vontade. 
A CF proíbe associação para fins ilícitos ou paramilitares. Essas podem e devem ser dissolvidas 
pelo Poder público. 
 
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto; 
 
Trata-se de delito subsidiário. Se a conduta não configurar nenhum crime eleitoral, configura-
se abuso de autoridade. 
 Obs.: Fernando Capez afirma que não há no Código Eleitoral conduta alguma que se 
assemelha a essa alínea. Portanto, não há conflito aparente de normas entre o Código Eleitoral e 
essa alínea “g”. 
 Sílvio Maciel por outro lado, sustenta que o conflito aparente é evidente. Ex. art. 292 do CE 
que trata da hipótese em que o juiz, sem fundamento legal, nega ou retarda a inscrição de alguém 
como eleitor. 
 
h) ao direito de reunião; 
 
No art. 5º, XVI a CF tutela o direito de reunião, mas a própria CF impõe limites a esse direito 
de reunião. Daí que os excessos no direito de reunião podem e devem ser coibidos pelas autoridades. 
Direito Penal IV - Lei de Abuso de Autoridade 
 
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 Ex. as autoridades podem delimitar espaços por questões de segurança ou para que outros 
direitos de locomoção não sejam violados. 
 
i) à incolumidade física do indivíduo; 
 
Esse crime pode variar desde uma simples vias de fato até um homicídio. Se houver lesões ou 
morte da vítima, haverá concurso de crimes: abuso de autoridade + lesão ou homicídio, por exemplo. 
Para Fernando Capez, haverá concurso formal impróprio. 
Para Wladimir Passos de Freitas e Gilberto Passos de Freitas, o concurso será sempre material. 
Já Guilherme de Souza Nucci entende que a lesão leve fica absorvida pelo abuso. Já no caso de 
lesão grave, gravíssima ou homicídio, entende que há concurso formal. 
Obs.: O STF entende que esse art. 3º, “i” não revogou o crime de violência arbitrária do art. 
322 do CP. Nesse sentido, STF, RHC 95.617, julgado em 17.04.09. 
 
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional. (Incluído pela Lei nº 
6.657,de 05/06/79) 
 
O fundamento constitucional é o art. 5º, XIII da CF. 
 Essa alínea “j” se trata de norma penal em branco pois precisa ser complementada por outra 
norma que prevê direitos e garantias do profissional. 
 Ex. Delegado de Polícia impede Promotor de fiscalizar presídio � houve violação de 
prerrogativa de fiscal da lei do MP; Delegado impede advogado de ter acesso ao inquérito � há 
violação do art. 7º, XIV do Estatuto da OAB e Súmula vinculante 27. 
 
10. Análise dos Crimes do art. 4º: 
 
 
 Art. 4º Constitui também abuso de autoridade: 
a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou 
com abuso de poder; 
Esse crime se consuma se a prisão ou medida de segurança é ordenada ou executada: 
1. Sem as formalidades legais: ex. recolher à prisão pessoa em situação de flagrante, mas sem 
lavrar o auto de prisão; executar a prisão temporária antes da expedição do mandado (a lei de 
prisão temporária diz que a pessoa só pode ser presa com a expedição do mandado). 
2. Se for executada com abuso de poder. Ex. Algemar desnecessariamente � Súmula vinculante 
11. 
Atente-se que o tipo penal pune tanto quem ordena como quem executa a prisão. No verbo 
ordenar o crime é formal e se consuma ainda que a prisão não se efetive. A tentativa é possível. 
No que tange ao verbo executar, o crime é material, consumando-se com a efetiva execução 
ilegal. 
Obs.: Se a vítima for criança ou adolescente, essa conduta configura crime do art. 230 do ECA. 
Direito Penal IV - Lei de Abuso de Autoridade 
 
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b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não 
autorizado em lei; 
 
 Só há o crime se o vexame ou constrangimento for ilegal. Se for vexame legal não configura 
crime. Ex. prender em público um procurado pela polícia; fazer identificação criminal nas hipóteses 
previstas em lei. 
 O crime é material, consumando-se com o efetivo vexame ou constrangimento. A tentativa é 
plenamente possível. 
 A vítima aqui não é somente preso ou submetido a medida de segurança. É qualquer pessoa 
que esteja sob guarda ou custódia de autoridade. 
Obs.: Se a vítima for criança ou adolescente, configura o art. 232 do ECA. 
 
c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer 
pessoa; 
 
Aqui é necessário observar o art. 5º, LXII da CF que impõe um duplo dever de comunicação. A 
prisão deve ser comunicada ao Juiz competente e à família do preso ou pessoa por ele indicada. Mas, 
somente é crime deixar de comunicar o Juiz pois o tipo penal somente fala em juiz competente. 
Atente-se que a comunicação deve ser imediata, ou seja, no primeiro momento possível. 
A demora injustificada na comunicação configura crime. 
Observe-se ainda que a comunicação deve ser ao juiz competente. Se a autoridade, 
dolosamente, comunica a juiz incompetente para retardar o controle judicial da prisão, haverá crime. 
Mas se a comunicação errada for sem dolo, não há crimeculposo de abuso de autoridade. 
Esse crime é formal ou de consumação antecipada, ou seja, consuma-se com a simples 
omissão da comunicação, ainda que o preso não sofra qualquer prejuízo. A tentativa não é possível, 
conforme já foi visto. 
Obs.: Se a vítima for criança ou adolescente, haverá o crime do art. 231 do ECA. No caso do 
ECA é crime deixar de comunicar ao juiz ou à família do menor por ele indicada da apreensão 
efetivada. E isso se dá considerando que o ECA é posterior à CF. 
 
d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja 
comunicada; 
 
Tal crime somente pode ser praticado por Juiz. Leia-se: qualquer autoridade Judicial. Como o 
tipo penal fala em relaxamento, temos a hipótese de prisão ilegal. 
Esse crime consuma-se com a simples omissão e a tentativa não é possível. 
Obs.: Se a vítima for criança ou adolescente configurado estará o art. 234 do ECA. 
 
e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei; 
 
Direito Penal IV - Lei de Abuso de Autoridade 
 
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Esse crime existe quando a vítima é recolhida para prisão ou é mantida na prisão, tendo o 
direito de prestar fiança e querendo prestá-la. 
O crime pode ser praticado tanto por autoridade que se recuse a prestar fiança, como pela 
autoridade que se recusa a receber a fiança arbitrada. Ex. escrivão se recusa a receber fiança 
arbitrada pelo Juiz. 
Obs.: Se o Juiz deixar de conceder liberdade provisória sem fiança, não há crime de abuso de 
autoridade uma vez que a lei somente pune duas condutas: deixar de relaxar prisão ilegal e deixar 
de conceder liberdade provisória com fiança, quando essa é cabível, desde que de forma abusiva. A 
lei não pune a conduta de deixar de conceder liberdade provisória sem fiança. Daí a inexistência de 
crime. Até porque, liberdade provisória sem fiança é cabível se não há motivos para a prisão 
preventiva. E, se há ou não motivos para a prisão preventiva, é ato discricionário do Juiz. 
Atente-se que de acordo com o STJ e com o STF não existe o chamado crime de exegese 
(crime de interpretação), ou seja, o juiz não pode ser censurado penalmente por suas decisões 
jurisdicionais. 
 
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou 
qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à 
espécie quer quanto ao seu valor; 
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título 
de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa; 
 
No Brasil não há nenhuma lei que fixe despesas de pessoas presas. Não há taxas, custas ou 
emolumentos de pessoas presas. Diante disso, a cobrança será sempre sem apoio em lei e sempre 
configurará abuso de autoridade. 
Obs.: Se o carcereiro solicita ou exige vantagem pessoal indevida para ele ou para terceiro 
sob o pretexto de custas carcerárias, haverá crime de concussão ou corrupção passiva. 
A alínea “g” se trata de mero exaurimento do crime descrito na letra “f”. 
 
h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com 
abuso ou desvio de poder ou sem competência legal; 
 
Aqui está a prova de que pessoa jurídica pode ser vítima do crime de abuso de autoridade. 
Atente-se que, somente haverá crime se o ato lesivo da honra ou patrimônio for ilegal. 
Tratando-se de ato legal, não há crime. 
Ex. Fiscais da vigilância sanitária interditam abusivamente um restaurante � essa interdição 
causou lesão a honra objetiva e ao patrimônio da pessoa jurídica. 
Por outro lado, se a interdição for legal, não há crime, apesar de gerar lesão à honra ou ao 
patrimônio do restaurante. 
Esse crime é material, ou seja, consuma-se com a efetiva lesão à pessoa física ou jurídica e a 
tentativa é perfeitamente possível. 
Direito Penal IV - Lei de Abuso de Autoridade 
 
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i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando 
de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade. 
(Incluído pela Lei nº 7.960, de 21/12/89) 
 
Esse crime é crime de conduta mista, sendo formado por uma ação e uma omissão. 
Há o crime quando ocorre a prolongação ilegal de: 
1) Prisão temporária 
2) Pena 
3) Medida de segurança 
Essa alínea, perceba-se, não se refere à prisão preventiva. E a prolongação de prisão 
preventiva configura o delito do art. 4º, “d” – constrangimento ilegal ao preso. Ex. delegado se recusa 
a cumprir alvará de soltura do preso preventivo. 
O tipo penal pune as condutas de deixar de expedir ou deixar de cumprir a ordem de 
liberdade. Portanto, respondem por esse crime tanto quem não expede a ordem de liberdade, tanto 
quem não cumpre a ordem de liberdade (Juiz que deixa de expedir e Delegado que deixa de cumprir 
o alvará de soltura). 
 Esse crime é material, consumando-se com a ilegal prolongação da prisão ou medida de 
segurança. A tentativa é perfeitamente possível. 
 
11. Art. 350, CP versus Lei 4.898/65: 
 
Exercício arbitrário ou abuso de poder 
Art. 350 - Ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso 
de poder: 
Pena - detenção, de um mês a um ano. 
Parágrafo único - Na mesma pena incorre o funcionário que: 
I - ilegalmente recebe e recolhe alguém a prisão, ou a estabelecimento destinado a execução de pena privativa de 
liberdade ou de medida de segurança; 
II - prolonga a execução de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de 
executar imediatamente a ordem de liberdade; 
III - submete pessoa que está sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; 
IV - efetua, com abuso de poder, qualquer diligência. 
 
O art. 350 do CP foi totalmente revogado pela Lei de abuso de autoridade? 
Fernando Capez, Mirabete, Delmanto, dizem que sim. STF e STJ dizem que não. STJ, HC 65.499 
e HC 49.083; STF Re 739.914. 
 
27.11.2010 
 
12. Sanções Penais da na lei de abuso de autoridade: 
 
Essas sanções têm previsão no art. 6º, §3º da Lei de Abuso de Autoridade: 
 Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa civil e penal. 
Direito Penal IV - Lei de Abuso de Autoridade 
 
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 § 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 (LEIA-SE ARTS. 59/76) do Código Penal 
e consistirá em: 
 a) multa de cem a cinco mil cruzeiros; 
 b) detenção por dez dias a seis meses; 
 c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até três anos. 
§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou cumulativamente. 
§ 5º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser 
cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusado exercer funções de natureza policial ou militar no 
município da culpa, por prazo de um a cinco anos 
 
São penas cominadas: 
 Multa: fixada com base no art. 49 do CP. A lei 7.209/84 substituiu todos os valores de multa 
previstos no CP e nas leis especiais, pela expressão “multa”. Daí que todos os valores de multa 
foram substituídos, atentando-se que referida multa é calculada com base no art. 49 do CP. 
 Detenção de dez dias a 06 meses: trata-se de pena bastante reduzida e isso se deu 
considerando que a lei de abuso de autoridade foi editada quando da Ditadura e isso explica a 
complacência da pena. 
Obs.: Embora a pena não seja superior a um ano, ela não pode ser substituída pela multa 
vicariante do art. 44, §2ºdo CP. Isso se dá considerando que a detenção está cumulada com 
a pena de multa. Além disso, a Súmula 171 do STJ diz que: “Cominadas cumulativamente, 
em lei especial, penas privativa de liberdade e multa, é defeso a substituição da prisão por 
multa” 
 Perda do cargo e inabilitação para função pública por até três anos: atente-se que a 
inabilitação é para qualquer função pública e não apenas para a função que a autoridade 
exercia quando cometeu o abuso. 
A inabilitação é por até três anos. A lei não prevê o prazo mínimo da inabilitação. 
 
 Observe-se que as penas podem ser aplicadas autônoma ou cumulativamente, segundo 
dispõe o art. 6º, §4º. Isso quer dizer que o Juiz pode aplicar apenas uma delas, duas delas ou as três 
sanções. 
 Essas sanções, inclusive a perda do cargo e a inabilitação, são penas principais. Em outras 
palavras, não são efeitos da condenação. Ainda a perda do cargo e a inabilitação para função pública 
são penas principais. Daí que tais penas podem ou não ser aplicadas. Não se trata de efeito 
automático da condenação a perda do cargo e a inabilitação para exercício de função pública. 
 É necessário observar que Fernando Capez tem entendimento distinto. Segundo ele, a perda 
do cargo e a inabilitação para exercício de cargo são efeitos extrapenais secundários da condenação, 
que, porém, não seguem a regra do art. 92 do CP, tendo em vista que a lei de abuso de autoridade é 
norma especial. O art. 92, I do CP diz que a perda do cargo somente pode ser aplicada nas sanções 
cujas penas são iguais ou superiores a um ano e no abuso de autoridade, salvo na hipótese de 
concurso material, nunca haverá pena igual ou superior a um ano. Sucede que esse entendimento é 
minoritário e não deve ser adotado em concursos públicos. Isso porque a lei é clara ao afirmar que se 
trata de pena e não efeito da condenação. 
Direito Penal IV - Lei de Abuso de Autoridade 
 
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 Se o condenado for policial militar, civil ou federal, nos termos do art. 6º, §5º da Lei de Abuso 
de autoridade, ainda pode ser aplicada uma quarta pena, qual seja a de proibição de exercer função 
de policial no município em que ocorreu o abuso, pelo prazo de um a cinco anos. 
 Atente-se que, embora o dispositivo diga que se trata de pena autônoma ou acessória, o certo 
é que somente pode ser pena autônoma considerando que reforma do CP extinguiu as penas 
acessórias no direito penal. 
 
13. Prescrição: 
 
A lei de abuso de autoridade não tem regra sobre prescrição. Daí que devem ser aplicadas as 
regras de prescrição do CP, de forma subsidiária. Isso quer dizer que, tanto a prescrição da pretensão 
punitiva ou a prescrição da pretensão executória do abuso de autoridade ocorrem em três anos nos 
termos do art. 109, VI do CP, já que a pena máxima não passa de seis meses, dispositivo esse 
modificado pela Lei 12.234/10. 
 
14. Procedimento de apuração: 
 
 A competência para julgar o delito de abuso de autoridade é do Juizado Especial Criminal. Daí 
que, em regra, o procedimento é o da lei 9.099/95 – Procedimento sumaríssimo. Mas há duas 
hipóteses nas quais o procedimento é procedimento especial da Lei de abuso de autoridade: 
 
 Quando o infrator não for encontrado para ser citado pessoalmente, tendo em vista o 
disposto no art. 66, p. ún. da Lei do Jecrim, considerando que no Juizado especial criminal não 
é cabível a citação por edital. 
 Quando o fato for complexo: quando o fato for complexo, o crime deixa de ser da 
competência do Juizado e vai para o Juízo comum. 
 
É necessário observar a ordem dos atos no procedimento especial: 
1. Oferecimento de denúncia em 48 horas: é o que diz o art. 13 da Lei de abuso de autoridade. 
Obs.: Se o MP requerer o arquivamento e o Juiz discordar do pedido de arquivamento, 
aplica-se o art. 15 da Lei de Abuso de Autoridade que prevê a mesma solução do art. 28 do 
CPP, senão vejamos: 
Art. 15. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia requerer o arquivamento da 
representação, o Juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa da 
representação ao Procurador-Geral e este oferecerá a denúncia, ou designará outro órgão do Ministério 
Público para oferecê-la ou insistirá no arquivamento, ao qual só então deverá o Juiz atender. 
 
2. Citação do acusado para apresentar resposta à acusação em 10 dias: nos termos do art. 394, 
§4º c.c. 396 e 396-A do CPP. 
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Obs.: Não se aplica ao procedimento da lei de abuso de autoridade, a resposta prévia 
prevista no art. 514 do CPP. De acordo com o STF e o STJ, essa resposta preliminar somente 
se aplica aos crimes funcionais típicos. 
 
3. Possibilidade absolvição sumária: art. 394 c.c. 397 do CPP. 
 
4. Não sendo hipótese de absolvição sumária, o juiz designa audiência de Instrução e 
Julgamento, no prazo improrrogável de 05 dias, segundo dispõe o art. 17, §1º da Lei de Abuso 
de autoridade: 
Art. 17. Recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de quarenta e oito horas, proferirá despacho, recebendo ou 
rejeitando a denúncia. 
§ 1º No despacho em que receber a denúncia, o Juiz designará, desde logo, dia e hora para a audiência de 
instrução e julgamento, que deverá ser realizada, improrrogavelmente. dentro de cinco dias. 
Nessa audiência de instrução e julgamento existirão os seguintes atos: 
 Interrogatório do réu: art. 22 
 Oitiva de testemunhas 
 Debates: 15 minutos para cada parte, prorrogáveis por mais dez minutos. 
 
5. Sentença: art. 24 da Lei de Abuso: 
Art. 24. Encerrado o debate, o Juiz proferirá imediatamente a sentença. 
 
�Fora isso, aplicam-se subsidiariamente ao procedimento, as regras do CPP, nos termos do art. 28 
da Lei de Abuso: 
Art. 28. Nos casos omissos, serão aplicáveis as normas do Código de Processo Penal, sempre que compatíveis com o 
sistema de instrução e julgamento regulado por esta lei. 
Parágrafo único. Das decisões, despachos e sentenças, caberão os recursos e apelações previstas no Código de Processo 
Penal. 
 
Obs.: 
1. É necessário observar que, se o crime de abuso de autoridade for cometido em conexão com 
outro crime, é seguido o procedimento do crime mais grave. 
2. Nucci e Cezar Roberto Bittencourt entendem que os crimes de abuso de autoridade não são 
de menor potencial ofensivo, em razão da pena de perda do cargo e inabilitação para 
função pública como cominada a qual não pode ser objeto de transação penal. Daí que, 
segundo tais autores, o procedimento que se aplica é sempre o procedimento especial da 
Lei 4.898. No STJ é pacífico que os crimes de abuso de autoridade são infrações de menor 
potencial ofensivo. 
Sílvio entende que o STJ está certo e o fato de existir a pena de perda do cargo não 
descaracteriza o abuso como infração de menor potencial ofensivo já que, o Promotor, ao 
propor a transação penal, deve especificar a pena proposta e se o MP entender que é 
suficiente a pena de multa ou uma pena restritiva de direitos, ele irá propor a transação e a 
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pena de multa ou restritiva de direitos. Já se o MP entender que deve também haverá perda 
do cargo, ele deixa de propor a transação, explicando isso ao Juiz.

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