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METACONTINGÊNCIA, COMPORTAMENTO, CULTURA E SOCIEDADE

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Metacontingencia - comportamento, cultura e sociedade.
Book · January 2005
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Joao CLAUDIO Todorov
University of Brasília
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Ricardo Correa Martone
7 PUBLICATIONS   49 CITATIONS   
SEE PROFILE
Marcio Borges Moreira
Centro Universitário de Brasília
32 PUBLICATIONS   95 CITATIONS   
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www.jspsi.blogspot.com
Metacontingências: 
comportamento, cultura 
e sociedade
CapyfightS cfcisffl oetsáa- 
L S E le c b d lio te s A sso cia d o s. Sitnlp Ajii:< f. 20W>. 
tOdC-% l» Ctfe*túS HKofVjnxj*
Todorov: Joào Cláudio, et al
Metacontingências: comportamento, cultura o sodedade - 
Org. J.C. Todorov. R. C. Martone, M B. Moreira. 1-ed Santo André. 
SP: ESETec Editores Associados. 2005.
171 p. 14 x21 cm
l Psicologia do Comportamento e Cognição
2. Análise do Comportamento
CDD155 2 
CDU 159.9.019.4
ISBN 85 - 88303 -61 -2
ESETec Editores Associados
Solicitação de exemplares. 
comorcial@esetec com. br 
wyvw.esetec.com.br
Tel/fax: (11)4438-6866
Metacontingências: 
comportamento, cultura 
e sociedade
João Cláudio Todorov 
Ricardo Corrêa Martone 
Márcio Borges Moreira 
Organizadores
ESETec
Christian Vichi
Fundação Universidade Federal do 
Valo do São Francisco
Gisele Carneiro Campos Pereira
Universidade de Brasilia
João Cláudio Todorov
Instituto de Educação Superior de 
Brasilia
Universidade Católica de Goiás
Maisa Moreira
Universidade de Brasília
Mara Regina A. Prudéncio
Universidade de Brasília
Márcio Borges M oieira
Instituto de Educação Superior de 
Brasilia
Maria Amalia Pie Abib Andery
Pontifícia Universidade Católica do 
São Paulo
Agradecim entos
ASguAs cnpttuk» oeste livro foram originalmente pwVicudos cm outros veículos do divulgação 
cientifica. Estamos graxjs aos veiculas c fc a d o s a lx iix o o ^ g e rtil autorização para a publicação 
<io3 segut^e» o rtç r»
Capitulo 02: Glenn, S.S (15)86) M citoontingcntim in Waltfon Two Pohimtyai Angtya/s antf Soc/a( 
Action, 5 ,2-fl PiibíincJo ccen a autorcaçüo do fks'.#vk\rifís for Social Responsibility.
C apítulo. 03: Todorov J. C . {1087). A Constituição como M ot&cont.-<j*icla. Pstcofoçta: C & nc i£» 
9 Profissão, 7 9 - 13
C apitu lo 04: Todorov. J. C. e V o re ra . M . (200-1). A^Alse expdf.mentól oo comoofiamemo e 
sociedade: um novo foco c * estudo. P&cotogta: R efíexáo e Crítica. 1 7 .25-2«
C apftu lo 05: foCoroV, J. C .. Moreira. M . Prudênao M R. A. &. Pereira, G. C . C. <2CC4) O 
E*tatuto da Scianvj o do Adolescente como motacroilingôocia l r M 7. S BrsndttO, F- C. 
S Cor.ln. F. S. Brandão. Y. K. irgbM m an. V I M Silva A S. M. Oliani (fids.) Sobre 
comportamento o cognição contingências 0 m oincoringèncías. contextos sócio-VWbais 
9 0 com podamootodo terapeuta. Siinto Andié' fcSETea 
C apitu lo 00; Todorov. J C . Moreira. M 8 & M orara. M (20IMJ. M otaconl'igonoes <neilock*>: 
a id unrelated conlhtjencios In T. C. C. Gra&si (Org J. Contemporary chaUenyes m ttto 
ben auow i approach Santo A rdré . -SET&c.
C a p itu lo 09; Glonn, S .S & M alott, M . {2 0 0 4 ) Complexity and Selection lmpllcullo>i3 foi 
O rganizational Change Bvrm viut and S o d a i issues. 13. 8 5 -106 Puhllcudo corn a 
autorfcaçSo 0 0 8etiavforists- for SotíaJ ReaponslbMiy.
C apitu lo 10: P.lartone, R.C , & Todorov J.C. (2005) Sobr« ■Compltfxidmfoe ftnloçflo iaiplicaçícR 
»ara inudnnçii o rg an izac io n a l' oe G lenn e M alo l! Rttvísia BratW aira do Tntnpin 
Camfxxlanientuf t: CttgrJtivx
C a p itu lo ll: Andnry, M A . Mirh<*l«3lo, N , &S6 ro . T M (2005) A noálise do íonftmuno» sociais- 
eso nçív ido um a proposto paro a idontlficaçÃo do corn ingércín» «r.tm taçDdas e 
•netacortigénda-s Rev<ste Bras.'>era be Anáitee do Comportamento (no piolo) 
C apttulo1 2 : Ancery M A . & Séoo. T.M ( l í '9 7 ) O conceito 0 0 m otacontirrtf-rci#*. J-.tlnal a 
veina conongônciace retorçamento e Hftrtlcfente? R B arreo , (Cry i Sot«« com coitarr^ilo 
e C0 9 .11Ç&0 . Santo Andnô. ARBytea-' ESETec (pp. 108-116) |r>o prelo)
Maria E. Maltot
Mafíot & Associates
Nilza Micheletto
Pontifícia Universidade Católica de 
São Paulo
Ricardo Corrôa Martone
Instituto de F.tíucação Superior de 
Brasília
Universidade de Brasilia
Roberto Alves Banaco
Pontifícia Universidade Catótica de 
São Pauto
Sigrid S. Glenn
University of North Texas
Tereza M aria de A ze v e d o P ires 
Sério
Pontifícia Universidade Católica de 
São Pauto
II.SB - Inxiitulo dc rdurH<2u Sii|Kito> tfr lii jtiliu
Ti|Wi <lí Document»: DaU:
Livro 04AHV200?
A<| iiiklçAo rrocedéncm
'
Curto: Píívolo^ a 
l.iKalwuçio: *iul 
Preçn: RS 25.50 Sumário
Prefácio.....................................................................................................7
Capítulo 1
Os fins e os meios de uma Ciência do C om portam ento............ 9
Márcio Borges Moreira, Ricardo Corrêa Martorie, Joào Cláudio Todorov
Capitulo 2
Metacontingéncias em W alden D ois ................................................. 13
Sigrid Glenn
Capitulo 3
A Constituição como Metaconlingência.......................................... 29
João Cláudio Todorov
Capitulo 4
A n á lise E x p e rim e n ta l do C o m p o rta m e n to e S ociedade: 
um novo foco de e s tu d o ....................................................................... 37
João Cláudio Todorov, Maísa Moreira
Capitulo 5
Um estudo de Contingências e Metacontingéncias no Estatuto da 
Criança e do A dolescente..................................................................... 45
Joào Cláudio Todorov. Maisa Moreira, Mara Regina A Prudêncio. Gisele 
Carneiro Campos Pereira
Capitulo 6
Contingências Entrelaçadas e Contingências Não-Relacionadas 55
João Cláudio Todorov, Márcio Borges Moreira. Maísa Moreira
Capitulo 7
Comportamento Social: A Imprensa como agência e ferramenta 
de controle s o c ia l....................................................................................61
Ricardo Corrêa Martone, Roberto Alves Banaco
Capitulo 8
Igualdade ou Desigualdade: Manipulando um análogo experimental 
de prática cultural em laboratório.......................................................81
Christian Vichi
Capítulo 9
Complexidade e Seleção: Implicações para a mudança organizacional...101
Sigrid S. Glenn, Maria E. Mallot
Capitulo 10
Comentários sobre ‘Complexidade e seleção: implicações para mudança 
organizacional' de Glenn e Malott (2004)......................................... 121
Ricardo Corrêa Martone, João Cláudio Todorov
Capitulo 11
A a n á lis e d e fe n ô m e n o s so c ia is : e s b o ç a n d o u m a p ro p o s ta 
p ara a id e n tific a ç ã o d e c o n tin g ê n c ia s e n tre la ç a d a s e m eta- 
c o n tig ê n c ia s .............................................................................................129
Maria Amalia P. A. Andery. Nilza Michetetto, Teresa M. dc Azevedo Pires Sério
Capitulo 12
O co nce ito d e m etacon tlng ô n c ias : a fina l, a ve lha co n tin g ên c ia 
de re fo rçam ento é in s u fic ie n te ? ................................................... 149
Maria Amalia P. A. Andery, Teresa M. do Azevedo Pires Sério
Capitulo 13
Introdução ao estudo de MetacontingénciasMárcio Borges Moreira
161
Prefácio
Já há algum tempo queríamos publicar um livro com artigos exclusi­
vamente sobre metacontingèncias e questões sociais uma vez que os as­
pectos sociais e culturais do ser humano vèm ganhando, desde a década 
de 80. um relativo espaço nas publicações em Análise do Comportamento. 
Não como un> novo foco de estudo, mas como uma retomada do projeto 
original de B.F. Skinner, explicitado na terceira parte de Ciência e Compor­
tamento Humano e em tantas outras obras de sua autoria.
No presente livro o leitor encontrará uma compilação de alguns tra­
balhos de autores brasileiros sobre o assunto, trazendo alguns trabalhos já 
publicados em outros veiculos de divulgação e outros inéditos.
Além das publicações de autores brasileiros o livro também apresen­
ta traduções de dois outros importantes artigos de autores norte-america­
nos: Metacontingèncias em Walden Dois, publicado em 1986 e do autoria de 
Sigrid Glenn. considerado o artigo seminal sobre Metacontingèncias: e Com­
plexidade e Seleção: Implicações para a Mudança Organizacional, de auto­
ria de Sigrid Glenn e Maria Mallot. O primeiro destaca-se por sua importância 
histórica e pelo mérito de retomar o interesse, de forma explicita, pelos as­
pectos sociais do comportamento humano O segundo dostaca-se pela atu­
alidade e pelas vividas discussões geradas recentemente ao ser publicado 
no periódico Behavior and Social Issu&s {2004, vol.13).
Os trabalhos apresentados neste livro versam, de forma geral, so­
bre a pertinência, relevância e definição do que tem sido discutido sob a 
alcunha de Metacontingència em Análise do Comportamento. Diversos 
aspectos do assunto são abordados com maior ou menor ênfase em cada 
texto (e.g. metodologia, definição, aplicabilidade, interpretações de acon­
tecimentos recentes, como os "atentados terroristas" de 11 de setembro, á 
luz do concoito, dentre outros).
O presente trabalho surge, também, em um momento muito oportu­
no. pois seu lançamento ocorre concomitantemente á realização de um 
evento que. certamente, constituir-se-á em um marco histórico nos estu­
dos sobro Metacontingèncias: Think Tank on M etacon lfngenc ics and 
C u ltu ra l Ana lys ls , que ocorrerá em agosto de 2005, em Campinas, e con­
tará com a participação de 16 importantes nomes da Análise do Comporta­
mento brasileira o mundial com o intuito de abordar quatro questões funda­
mentais:
1 Quais são as opções que temos para caminharmos em d i r e to a estu­
dos observacionais ou ao menos podermos empreender modestos tra­
balhos experimentais, a partir de um trabalho que tem se caracterizado 
pela interpretação?
2. Quais são os caminhos para uma ação efetiva em direção à mudança 
cultural?
3. Como o instrumental teórico da análise do comportamento pode auxiliar 
na compreensão dos fenômenos sócio-culturais?
4. Quais são os caminhos para que possamos estabelecer interface com 
outras áreas do conhecimento?
Recomendamos ao leitor que entra em contato com este assunto 
pela primeira vez, através desse livro, que comece sua leitura pelo Capitulo 
13. Este capítulo é uma introdução ao conceito de metacontingência elabo­
rado em forma de instrução programada, uma tecnologia de ensino bastan­
te utilizada em décadas passadas, sobretudo por analistas do comporta­
mento, para aumentar ou refinar o repertório verbal de seus alunos.
João Cláudio Todorov 
Ricardo Corrêa Martone 
Márcio Borges Moreira
Agosto/2005
Os fins e os meios de uma 
Ciência do Comportamento
Márcio Borges Moreira 
Ricardo Corrêa Martone 
João Cláudio Todorov
O comportamento social pode ser definido como o comportnmento 
de duas ou mais pessoas em relação a uma outra ou em conjunto em 
relação ao ambiente comum. Com frequência se argumenta que é 
diferente do comportamento individual e que há situações sociais' e 
‘forças sociais ' que não podem ser descritas na linguagem da ciência 
natural. Diz-se que requer uma disciplina especial denominada 'ciên­
cia social' por causa dessa aparente ruptura na continuidade da na­
tureza. Há, é claro, muitos fatos referentes a governos, guerras, mi­
grações. condições econômicas, procedimentos culturais, etc. - que 
nunca se prestariam a estudo se as pessoas não se juntassem e se 
comportassem em grupos, mas ainda assim continua a questão de 
se saber se os dados básicos são fundamentalmente diferentes. Aqui 
nos interessamos (>elos métodos das ciências naturais como os vi­
mos funcionando na Fistca, na Química, na Biologia, e com os ter­
mos aplicados ao campo do comportamento. Até onde nos levaráo 
no estudo do comportamento de grupos?" (Skinner. 1953/2000. p. 
325).
É desta forma que Skinner inicia a quarta seção de Ciência e Com­
portamento Humano (C&Chf), seção esta intitulada: "O Comportamento das 
pessoas em grupo". C&CH. que foi escrito em 1953 e é considerado por 
muitos a 'bíblia" da Análise do Comportamento, é, sem dúvida uma obra de 
reíorència fundamental. Esta quarta seção é composta pelos capítulos ‘ Com­
portamento social”, "Controle pessoal* e "Controle pelo grupo*. A quinta 
seçáo se intitula "Agências controladoras", fazendo referência em capítu os 
distintos a 'Governo e lei’ , "Religião", 'Psicoterapia", “Controlo econômico", 
e “Educação". Por fim, a ultima seção. Intitulada “O controle do comporta­
mento humano", versa sobre "Cultura e controle”, "Planejamento de uma 
cultura" e *0 problema do controle". Praticamente um terço de Ciência o 
Comportamento Humano é dedicado ao comportamento do indivíduo inse­
rido em um contexto sóao-cultural.
10 M a r a o B o rg o n fA ifattti, R ic u td o C a rrA c M a r u n * . J o i » O a j c J ' j T g o o io v
Ainda antes da publicação de C&CH, em 1948. Skinner publica 
Walden Two, uma obra definida, pelo próprio Skinner. desta forma:
"Minha novela utopista... publicada há quarenta anos foi uma anteci­
pação ficc io n a l daquilo que veto a se r cham ado análise 
comportamental aplicada Ela descreve uma comunidade em que 
instituições governamentais, religiosas e capitalistas sào substituí­
das por controle face a face. Os novos membros começam seguindo 
regras simples, com o auxilio de instruções e aconselhamento, e seu 
comportamento é logo posto sob o controle de contingências soci­
ais cuidadosamente planejadas .. Como todas as utopias, Walden 
Two tenta resolver os problemas da cultura, todos de uma vez e 
não um a um. Ê provável que não consigamos nos direcionar para 
esse lipo de mundo melhor, mas, penso eu, é valioso té-lo como um 
modelo.'(Skinner, 1989/1991, p. 115, grifo nosso).
Vemos claramente neste trecho a preocupação de Skinner em forjar 
uma ciência do comportamento cujo objetivo maior seria o planejamento 
cultural.Ao longo de sua produtiva carreira Skinner publicou várias obras, 
como Frvedom and the control o fm en (1955), The design ofcultures {1961), 
The design o f experimental communities (1968), 8eyond freedom anddignity 
(1971) e Reflections on behaviorism and socie ty (1978) Upon Furlher 
Refíection (1987) que expressavam sua preocupação com o planejamento 
cultural e exploravam idéias acerca de "como a ciência pode ajudar?’ .
Mesmo tendo sido o planejamento cultural, norteado por uma ciência 
do comportamento, tantas e tantas vezes ressaltado por Skinner. este aspecto 
do comportamento humano parece ter sido relegado a um segundo plano den­
tro da própria Análise Experimental do Comportamento. Como ressaltado pelo 
próprio Skinner. “é o indivíduo que se comporta. O problema apresentado pelo 
grupo maior ó explicar por que os indivíduos se comportam juntos." (Skinner. 
1953/2000, p. 340). Mesmo olhando para o grupo, o foco principal sempre será 
o indivíduo, mas será que existe algo mais a ser considerado quando o ambi­
ente do individuo é um grupo social? A resposta a esta pergunta ainda é con­
troversa. mas. graças a SigridGlenn (1986) esta pergunta tem. pelo menos, 
sido feita por alguns analistas do comportamento.
Sigrid Glenn (1986) trouxe o assunto à tona com o conceito do 
m etacontingênc ia , de fin ida por e la com o con tingênc ias ind iv idua is 
entrelaçadas {bterlocking em inglês, no original), em que todas elas juntas 
produzem um mesmo resultado a longo prazo. Metacontingèncias envol­
vem contingências socialmente determinadas. O elo de comportamentos 
individuais em uma metacontingência é a conseqüência a longo prazo que 
afeta toda a sociedade (ou grupo de pessoas).
É verdade que ainda há muito o que aprender sobre o comportamen­
to do individuo. ainda temos muito o que aprender sobre o comportamento 
dos nossos tão conhecidos sujeitos experimentais náo-humanos (ratos e 
pombos) e, de importância fundamental, temos que aprender ainda muito 
mais sobro comportamento verbal. No entanto, não é verdade que o conhe­
cimento produzido até o momento em Análise Experimental do Comporta­
mento não seja suficiente para que haja, entre os analistas do comportamen­
to. tentativas de a lçar vôos maiores, mesmo que inicialmente apenas
camila paiffer
Highlight
camila paiffer
Highlight
W nt»»ci«tlirí)êf*sM *: o ^ n p o ta iru M rio . c l <Ij t a « v j i in d m j« 11
especulativos - no bom sentido da palavra - no intuito de analisar e compre­
ender fenômenos culturais (o terceiro nível de seleção pelas consequências).
Questões de amplo interesse social, e que resgatam a responsabili­
dade social proposta por Skinner desde os primórdios de sua carreira, têm 
sido abordadas recentemente por vérios analistas do comportamento. Siste­
mas sócio-econômicos (Kunkel, 1991; Lama!. 1991; Rakos. 1991; Rakos. 
1989), política (Goldstein & Pennypacker, 1998; Lamal & Groenspoon, 1992: 
Todorov, 1987). educação (Greenspoon, 1991), políticas públicas (Hovell, 
Wahlgren & Russos, 1997; Mattaini & Magnabosco, 1997), sistemas peniten­
ciários {Ellis. 1991), e o controle do comportamento por intermédio da infor­
mação (Guerin. 1992; Martone, 2003; Rakos. 1993) são alguns dos temas 
estudados por alguns (ainda muito poucos!) analistas do comportamento. 
Vale ressaltar também o brilhante esforço de alguns autores que vôm desen­
volvendo teoricamente o conceito, discutindo sua pertinência, suas implica­
ções metodológicas e a necessidade de construir parâmetros para que se 
possa de lato caminhar rumo à sua aplicabilidade (Andery & Sério, 1999; 
Glenn. 1991; Todorov. Moreira & Moreira, 2004).
Desenvolver ainda mais os temas apontados acima e tantos outros 
que podem e devem ser alcançados por uma ciência do comportamento é 
de importância fundamental no mundo atual, sobretudo quando deparamo- 
nos com problemas que á primeira vista nos parece não existir qualquer 
solução a médio prazo. O recrudesci mento do terrorismo em muitas partes 
do mundo e a extrema pobreza observada em muilos paises são alguns 
dos problemas que não dependem somente de 'vontade política*. Necessi­
tamos cada vez mais de mudanças, mudanças estas que de fato produzam 
efeitos duradouros e que beneficiem o maior número de pessoas possível. 
Temos ainda um longo caminho!
Referências Bibliográficas
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camila paiffer
Highlight
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A. L. Neri. São Paulo: Papirus. (trabalho originalmente publicado em 1989)
Metacontingências em 
Walden Dois1
Sigrid Glenn
Li pela primeira vez a novela utópica Walden Dois, de B.F.Skinner, 
por voita de 1972 g estive a ponto de fazer minhas malas: seguramente 
alguem foz algo para que isso pudesse acontecer. Desde aquela época 
tenho ouvido sobre comunidades planejadas nos moldes da utopia de 
Skinner - especialmente Twin Oaks e Los Horcones. Entretanto, eu quero 
uma utopia com o re tra tada no liv ro - v inda d ire tam ente da escrita 
skinneriana. Talvez, assim como Estragon e Vladimir na peça de Samuel 
Becket. eu esteja esperando por um GorJot que trará a Terra Prometida até 
mim. Ao menos aguardo por um Frazler, o planejador fictício de Walden 
Dois, o qual saberá o que fazer e como fazer.
Provavelmente,uma solução que nos leve a um mundo melhor deve 
embasar-se no planejamento de melhores contingências em nosso ambien­
te atual para que alcancemos esse objetivo. Além disso, devemos começar 
agora e a partir do ponto em que estamos. Ir a algum lugar qualquer a espera 
de um sábio planejador cultural, provavelmente, não tomará nosso inicio mais 
fácil. Nossa tarefa implica em encontrar um caminho através da selva que se 
encontra entre nós e a Terra Prometida, planejando e construindo os veícu­
los necessários, que nos levaráo até lá. Em suma, nós devemos criar uma 
tecnologia que envolva mais do que “aplicaralguns poucos princípios gorais” 
(Skinner. 1969, p.97).
Com esse objetivo, tenho gastado algum tempo buscando compre­
ender as diferenças fundamentais entre Walden Dois e nossa própria cultu­
ra. Tentei para mim mesma clarificar algumas discriminações de Skinner e, 
quando necessário, utilizei inslghls de outros pensadores radicais perten­
centes ou não ao campo da análise do comportamento. Estou aqui para 
contar meu progresso - pelo menos acho ter sido um progresso - enquan­
to ou caminho através da selva.
Contingência e Metacontingências
Alguns anos atrás, ao tentar descrever alguns elementos que nos apro­
ximavam de Walden Dois no Center for Behavioral Sludies, trabalhei no senti­
do de distinguir entre dois tipos de contingências que pareciam estar em ope-
1 T iaduçd o d e Gfonn. S .S . (1 9 8 6 ) M olacontlrydncius I r W aldon Two. 8eh av lu ra l A ra lys i» ;»nd 
Social A c to n , 5. 2 -8 , puW kada c o t i a autorização do B^avx>rí;,ts for S o d af Rosponslbility. Este 
penôdico tm nslo im ou-sa r o Üehavior and Scx.iol Issues cujo cor*teí»do podit $<*• aces-satío em 
liCp .'''/Av'>v b fe .o rg . Tradução realizada por Ricar<ío C crrèa M ar.ono e Diogo Seoo C e rq u e Ryrw ira
14 S g r i d G lo tv i
raçâo lá: 1) relações de conbngênda entre uma dasse de respostas e uma 
conseqüência comum - contingências de reforçamento - e 2) relações de 
contingência entre uma classe de operantes e uma conseqüência cultural co­
mum. A esse segundo tipo de relações de contingência dei o nome de 
metacontingêndas. Algum tompo depois oompreendi que eu estava traduzin­
do em eventos cotidianos, ou talvez esclarecendo para mim mesma, a diferen­
ciação entre a seleção do comportamento operante em indivíduos e a seleção 
de práticas culturais em sociedades feita por Skinner. Parece-me que a dife­
rença crucial entre o nosso mundo e Walden Dois está nas metaoontíngèncias. 
Antes de prosseguir, permitam-me esclarecer a diferença entre contingêndas 
e metacontingêndas.
Um operante ê um grupo de respostas de topografias variadas que 
foram aglutinadas em uma classe funcional por terem produzido unia conse­
qüência comum A contingência de reforçamento é a unidade de análise que 
descreve as relações funcionais entre o comportamento operante e o ambi­
ente com o qual o organismo que se comporta interage. A contingência de 
reforçamento envolvo um processo de seleção no nível comportamental que 
mantém um paralelo com o processo filogenético chamado seleção natural, 
devendo sua existência a ele. Embora muitas das relações que surgem entre 
o comportamento operante e o ambiente se configuram como o resultado de 
uma história individual - a maioria das relações estabelecidas entre seres 
humanos e o ambiente assim se caracteriza - o processo õ diretamente 
mediado pela biologia do organismo.
Bater á porta, chamar, girar a maçaneta e empurrar a porta, inserir a 
chave na fechadura e girá-la, entre outros, são exemplos freqüentemente 
citados de respostas que conduziram historicamente à porta aberta, cons­
tituindo assim uma classe operante. A conseqüência re fo rça d o r ê imedia­
ta e, como Michael (1984) apontou, temos que procurar por outras explica­
ções para o fortalecimento dos comportamentos que estão amplamente 
separados no tempo de suas conseqüências.
A metacontingência é a unidade de análise que descreve a relação 
funcional entre uma classe de operantes, cada operante possuindo sua pró­
pria conseqüência imediata e única, e uma conseqüência a longo prazo co­
mum a todos os op o ra n te s que pe rtencem à m e ta co n tin g ê n c ia . 
Metacontingêndas devem ser mediadas por contingências de reforçamento 
socialmente organizadas. Tomemos como exemplo os vários comportamen­
tos envolvidos na conseqüênda a longo prazo ’ redução da poluição do ar*. 
Engenheiros devem se engajar em vários operantes necessários na elabora­
ção de catalisadores para escapamentos de automóveis: os trabalhadores 
da linha de montagem devem aprender a construi-los e encaixá-los correta­
mente; os consumidores precisam comprar esses automóveis assim como 
abastecê-los com gasolina sem chumbo; as refinarias devem desenvolver 
técnicas para retirar o chumbo da gasolina. A probabilidade de todos esses 
operantes ocorrerem sem contingências mediadas socialmente parece ser 
pequena. As contingências de mediação são planejadas e implementadas 
em virtude de sua relação com o efeito a longo prazo como. por exemplo, 
reduzir a poluição do ar.
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M W K iy t t ln g f t r c t M ' r n T p c r t a T u i t t a c U tu ra • »co «> .1nOi* 15
O comportamento verbal ô uma ligação fundamental entre contingên­
cias e metacontingèncias, ao menos de dois modos. Primeiro, o comporta­
mento verbal em forma de regras preenche o vácuo existente entre o com­
portamento e a conseqüência a longo prazo. Isto é, o comportamento verbal 
possibilita que um ato único, a dedaração de uma regra, ocorra em resposta 
a eventos amplamente dispersos no tempo Como um estimulo discriminativo 
a regra deve então fazer parte da contingência de reforçamento que gera e 
mantém comportamento o qual não ocorreria na sua ausência. Por exemplo, 
a regra: "abraçar o meu filho quando ele se aproxima de mim com um sorriso 
resulta em mais sorrisos"è comportamento verbal sob controle de estimulos 
de eventos não relacionados temporalmente. Uma vez sondo bem formula­
da a regra pode ser usada para trazer outros comportamentos sob o controle 
de estímulos dessa relação. O segundo modo como o comportamento verbal 
participa das metacontingèncias é quando o reforçamento social fomeco as 
conseqüências que mantém o comportamento sob cont/ole das regras até o 
momento em que as conseqüências a longo prazo possam ser distinguidas. 
Todos aqueles que buscam ensinar clientes ou estudantes a reforçarem com­
portamento desejável de outras pessoas, sabom quo as mudanças almeja­
das no comportamento ocorrem tão vagarosamente, tão distribuídas ao lon­
go do tempo e tão cindidas do comportamento do agente de mudança para 
funcionar como reforçamento sem a mediação social'(a.gr.. gráficos de de­
sempenho, elogios etc.)
Muitas das contingências de reforçamento em Waiden Dois são simi­
lares ás de nossas próprias vidas. Quando apertamos o botão do interru|X>r 
de luz, a luz se acende; quando dizemos ‘ bom dia”, as pessoas respondem 
com uma saudação. No entanto, quando nos referimos às metacontingèncias 
as coisas são bem diferentes. Assim, o comportamento verbal que interliga 
as duas é necessariamente diferente. Desde o instante em que o que dize­
mos sobre o mundo cria nossos conceitos a respeito da realidade, as 
metacontingèncias parecem ser o rabo que balança o cachorro^
Desde que Skinner apresentou Waiden Dois como uma utopia, pode- 
se perguntar se as metacontingèncias dispostas na comunidade utópica pos­
sivelm ente são mais prováveis de prom over sobrevivência do que as 
metacontingèncias dispostas em nossa própria cultura. Como toda ficção, 
V/akien Dois nos apresenta um retrato e deixa que abstraiamos as regras. 
Mas Skinner nos dá uma pista, a qual me levou à presente análise oas 
metacontingèncias em WaidenDois e suas relações com sou caráter utópico.
Processos Culturais Tecnológico e Cerimonial
Logo nas primeiras páginas de Waiden Dois. Skinner retere-se ao livro 
Teoria da Classe Ociosa, de Thorstein Veblen. Nesse livro Veblen distinguiu 
entre dois processos culturais opostos os quais acreditava operarem em nos­
sa sociedade assim como om outras - processo tecnológico e processo ceri­
monial. Embora Veblen deva ter considerado essas forças imutáveis, como
•' N .T : A autora utÜtea o ditado apare*’ tem erve aludindo ao fato do aer Indlscarnlvol so o nx jrd o c íií i 
nossa percepção d e realidade ou o contráno.
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16 SISJIC G(«'in
Yin e Yang, bem e mal, ou como a força da vida e a força da morte, Walden 
Dois parece representar a hipótese de Skinner de que essas forças na verda­
de não são imutáveis, mas sim, emergentes do comportamento humano - 
muitas das quais são funções de contingências de reforçamento, portanto 
mutáveis. A diferença entre Walden Dois e nossa própria cultura está no fato 
de Walden Dois ter eliminado os processos culturais cerimoniais e dispor de 
metacontingéndas que sustentam procossos tecnológicos. Em um trabalho 
anterior (Gtenn, 1985) analisei as contingências comportamentais subjacentes 
a esses processos. Um resumo dessa análise auxiliará na comproensão das 
metacontingéndas dispostas em Walden Dois.
Contingências tecnológicas envolvem comportamentos que são manti­
dos por mudanças não arbitrárias no ambiente. Os reforços que participam 
das contingências tecnológicas derivam seu poder de sua utilidade, de seu 
valor, ou de sua importânda às pessoas que estão envolvidas nesses tipos de 
contingências, assim oomo de outras. Por outro lado, contingências cerimoni­
ais envolvem comportamentos mantidos por reforços sodais os quais derivam 
seu poder do status, da posição ou da autoridade do agente reforçador inde­
pendentemente de qualquer relação com as mudanças ambientais que, direta 
ou indiretamente, beneficiam as pessoas que se comportam.
O controle cerimonial pode ser exemplificado pola expressão: 'Faça 
porque estou dizendo para fazê-lo" Já o controle tecnológico pode ser 
exemplificado, primeiro, pelo comportamento que partidpa das contingên­
cias naturais de reforçamento (alavancas e roldanas são utilizadas, pois 
permitem construir mais rapidamente) e. segundo, por contingências soci­
ais planejadas que medeiam as relações entre comportamento e os efeitos 
resultantes em motacontingencias tecnológicas (T a ça isso, pois o resulta­
do será melhores condições de saneamento, por conseqüência, melhores 
condições de saúde").
As metacontingéndas envolvidas em comportamento tecnológico 
aglutinam um grande número de dasses operantes (ou um grande número 
de indivíduos), as quais apresentam uma conseqüência a longo prazo que 
be n e fic ia todos os in d iv íd uo s e nvo lv idos na m e tacon tingênc ia . 
Metacontingéndas tecnológicas requerem a abstração de boas regras, ou 
seja, regras que descrevam com acurácia as relações funcionais entre o 
comportamento e conseqüências não arbitrárias imediatas ou conseqüênci­
as a longo prazo Essas metacontingéndas envolvem também a mediação 
do comportamento verbal do especificar regras, as conseqüências dispostas 
para o seguimento das rogras e o continuo monitoramento dos resultados de 
soguir regras. Motacontingônciao tocnológicas solicitam que façdilius uuns- 
tantemente a seguinte pergunta: as conseqüências ainda são aquelas inid- 
almente previstas? A regra ainda é boa?
Metacontingências conflitantes
De acordo com Clarence Ayres (1944-1962). discípulo de Veblen, pro­
cessos tecnológicos impulsionam os culturas adiante - utilizando nosso pró­
pria terminologia, processos tecnológicos aumentam o alcance e a efetividade 
do comportamento operante nas mudanças ambientais, aumentando a so­
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M e l n c o r t r v j « i c i * v c O T j w r t à m j i l o . c u l t u - a o » o p o d a t f o 17
brevivência e a satisfação do grupo e do indivíduo. Contingências cerimoni­
ais impedem a evolução do comportamento operante, em especial, daqueles 
operantes definidos oomo "práticas culturais". Os processos cerimoniais for­
çam as práticas culturais para dentro de esquemas rigidamente definidos, 
mantendo-os assim por intermédio de controle social derivado de status, 
posição ou autoridade. À medida que práticas casuais resuttam om conseqü­
ências a longo prazo benéficas aos membros da cultura, o controle cerimoni­
al não deve ser terrivelmente prejudicial. Mas o controle cerimonial não ò 
sensível às possibilidades de mudanças construtivas. Metacontingéncias ce­
rimoniais retardam e Impedem mudanças de qualquer tipo. mesmo quando 
as contingências atuais produzem sérios problemas.
Ayres sugeriu que a rápida evolução cultural ocorre em culturas no 
m om ento em que os processos cerim onia is desfalecem e processos 
tecnológicos pressionam de forma incontrolável. produzindo massivas mu­
danças em curtos espaços de tempo. Tais mudanças, claro, possibilitam a 
oportunidade para o surgimento de novo controle cerimonial, pois um novo 
grupo poderoso passa a ter o controle através da autoridade e do status 
ganhos em decorrência do seu papel no desenvolvimento de tecnologias 
avançadas. Os vários grupos cujo comportamento tecnológico produziu as 
mudanças revolucionárias, agora, adquiriram status e tendem a estacionar a 
evolução cultural e manter o controle pela autoridade Controle cerimonial 
mantém-se por si só, controle tecnológico assegura mudança
Como apontado por Skinner em Ciência e Comportamento Humano 
(1953), o desenvolvimento tecnológico ocorreu rapidamente em domínios 
sobre os quais se empregou o método científico. A discrepância entre o pro­
gresso tecnológico nas ciências física e biológica e o progresso tecnológico 
das ciências comportamental e social levou a um perigoso desequilíbrio em 
nosso poder de lidar efetivamente com o ambiente fisico e com o comporta­
mento de grupos e indivíduos na cultura. Já que nós não estamos propensos 
a virar as costas às tecnologias que melhoraram a vida dos seres humanos 
de forma significativa, Skinner sugeriu que nos movimentemos adiante para 
desenvolvermos as tecnologias comportamentais necessárias para reparar 
esse desequilíbrio
Em Além da Liberdade e Dignidade (1971) Skinner sugeriu que a 
nossa falha continua em corrigir o desequilíbrio do progresso tecnológico 
nas duas arenas é o resultado de nossa tenacidade om apegar-nos a uma 
visão da realidade produzida por progressos tecnológicos antigos. Essa 
visào esta sendo mantida por controle cehmonial e continua a impedir o 
desenvolvimento de tecnologias comportamentais necessárias para a so­
brevivência de nossa cultura
Um recente exemplo de um impedimento cerimonial a um progresso 
tecnológico em práticas culturais, pode ser encontrado na recusa generali­
zada em im plem entar ou incentivar o desenvolvim ento da poderosa 
tecnologia educacional denominada Instrução Direta. Como podemos nos 
responsabilizar pela profunda indiferença de nosso sistema educacional e 
pelo financiamento a uma tecnologia que demonstrou ser capaz de produ-
18 S ig rid G iw v i
zir competência em habilidades académicas básicas om populações previ­
amente condenadas ao fracasso? A decisão irracional do promover proje­
tos que falham em produzir tais resultados e negar verbas para aqueles 
que apresentam sucesso (Carnine, 1984) sugere que a efetividade e o re­
sultado não foram os critérios a partir dos quais a decisão foi tomada. Ao 
considerarmos a necessidade critica presente em nossa cultura, de uma 
população capacitada para participar das atividades técnicas e socialmen­
te complexas atualmente exigidas, rião seriam necessárias muitas deci­
sões para assegurar nossaprópria extinção cultural. Por outro lado, Waiden 
Dois é apresentada por Skinner (1985) como tendo realizado uma comple­
ta reversão em suas práticas educacionais entre 1948 e 1984.
Processos Tecnológico e Cerimonial em Waiden Dois
Drásticas transformações nas práticas educacionais de Waiden Dois 
foram completamente previsíveis dadas as metacontingènrias sob as quais 
a comunidade é retratada om seu funcionamento. As metacontingéncias fo­
ram especificamente planejadas a permitir tais mudanças. Waiden Dois é 
uma comunidade experimental Isso não quer dizer que a comunidade é um 
experimento, mas sim que a comunidade experimenta. Em Waiden Dois o 
valor de qualquer comportamento é explicitamente julgado em termos de 
suaS conseqüências práticas para os seus membros. Essas conseqüências 
beneficiam diretamente a comunidade e a todos os seus componentes?
Waiden Dois foi planejada de modo que as conseqüências benéficas 
tenham precedência no desenvolvimento de suas práticas culturais. Quais 
características de planejamento foram incorporadas por Frazier para asse­
gurar tais resultados? Eu acredito existirem ao menos duas características 
que se relacionam uma à outra. A primeira é a abolição de instituições mantidas 
por controle cerimonial; a segunda é a relação clara entre as contingências e 
as metacontingéncias em Waiden Dois.
Ausência de Controle Cerimonial
Vamos examinar, primeiramente, as evidências da abolição do con­
trole cerimonial em Waiden Dois e seus efeitos sobre as práticas culturais. 
Três instituições que têm exercido controle cerimonial em virtualmente to ­
das as culturas são a familia, a igreja e o estado. Desde que o controle 
cerimonial deriva seu poder da autoridade ou status independente de con­
siderações pragmáticas (resultados), processos cerimoniais freqüentemente 
contam maciçamente com controle aversivo. Entre as três instituições, a 
familia é a que provavelmente mais combine contingências cerimoniais e 
tecnológicas diretamente reforçadas. A família, tradicionalmente, tem apre­
sentado duas funções - fornecer segurança económica e interpessoal a 
seus membros e também treiná-los a aceitar o poder cerimonial arbitrário 
da autoridade.
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M w la c o i* fiu é ncia * . c o it f > c f U iT « ii io . o iN is a a c o s w d iis o 19
Em WêkJen Dois, a familia como uma unidade funcional não existe. 
Suas características desejáveis, prover segurança interpessoal e econômica, 
foram assumidas pela comunidade como um todo: seu poder cerimonial desa­
pareceu uma vez que o grupo familiar não obtém o controle de quaisquer 
reforçadores que não possam ser obtidos pelos membros individuais indepen­
dentemente. Todos os reforçadores em Walden Dois estão disponíveis a todos 
os membros durante todo o tempo, contingentes somente aos comportamen­
tos requeridos para produzi-los. O critério fundamental para a abolição do con­
trole cerimonial é a igualdade econômica. Com a ausência de controle cerimo­
nial cada membro da comunidade está livre para desenvolver o que pode ser 
chamado de "relações interpessoais honestas". Reforçadores interpessoais 
são completamente ooritingentes a comportamento interpessoal.
Em W alden D ois os ind iv íduos são m ais independentes e 
interdependentes que em nossa própria cultura. Os recursos (condições que 
fazem o com portam ento possível) e os reforçadores (conseqüências 
oomportarTientais) não são contingentes à obediência cerimonial. No entanto, 
para manter suas autonomias sociais relativas, os membros devem compor- 
tar-so do manoira que beneficie o grupo. Isso não se torna tão oneroso, pois 
qualquer benefício ao grupo automaticamente beneficia o indivíduo. Se 
reforçadores sociais medeiam comportamento tecnológico, sua importância é 
igual ao resultado tecnológico. A não ser que reforçadores sociais plar.ejados 
façam a mediação entre contingências tecnológicas e metacontingéncias. os 
reforçadores interpessoais participam somente om contingências interpessoais.
Há tempos a importância de tais relações vem sendo reconhecida. 
Parafraseando a descrição de Pascal (1961) sobre a tirania - quando a 
beleza demanda crença, força demanda arnor e aprendizagem demanda 
medo: "Nós devemos diferentes obediências a diferentes qualidades; am or 
é a resposta adequada ao charme, medo ò força e crença à aprendiza­
gem". Marx (1963) colocou isso de maneira um pouco mais áspera "então, 
am or só pode ser trocado po r amor, confíança p o r confiança... se você oe- 
seja influenciar as pessoas, você deve ser uma pessoa que tenha um efe 'to 
estimulante e encorajador sobre os outros.. Se você ama sem incitar amor 
de volta, se você nào é capaz em fazer de você mesma uma pessoa ama­
da. então, seu arnor é impotente” *, Skinner afirma isso de modo mais útil á 
ação do que todos: “Em um mundo de igualdade econômica total, você 
obtém e mantém as afeições que você merece. Vocè não pode comprar 
am or com presentes ou favores, você não pode manter am or criando uma 
criança inadequada e você não pode te r segurança no am or servindo como 
uma boa empregada ou um bom p rovedo r'{ 1948, p 147).
Quanto á autoridade religiosa, ela não é necessária em Walden Dois, 
pois a relação entre contingências e metacontingéncias é claramente 
especificada. Tradicionalmente, o papel da autoridade religiosa tem sido o 
de manter contingências que promovam a sobrevivência do grupo Isso 
tem sido feito estabelecendo regras que são usualmente abstraídas de con-
' As cllaçôes a Pascal e Marx foram sugeridas a mim por Willinm A Luker, Professor d* Eooromia
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20 SlarkJ G le n o
tingéncias atuais (isto é. boas regras) mantendo-as por intermédio de con­
trole cerimonial, mesmo que elas se tornem mal cspeciticadas como o re­
sultado de contingências em mudança. Um protótipo desse caso pode ser 
encontrado no Êxodo Moisés conduziu seu povo para fora do Egito onde 
viviam em circunstancias relativamente suntuosas, mas sob controlo ceri­
monial de seus senhores egípcios. Os frutos do comportamento tecnológico 
do povo de Moisés pertencem aos egípcios, beneficiando-o somente se 
seguir ás solicitações cerimoniais. Todavia, dentro de um ambiente relati­
vamente caótico. Moisés tem de conseguir levar seu povo suficientemente 
longe dos reforçadores do Egito antes que ele possa ter a chance de oferecê- 
los a escolha de prosseguir ate a Terra Prometida. Nesse momento o povo 
de Moisés entra em um pacto que o amarra conjuntamente na busca por 
um objetivo comum.
O interessante desse pacto é que ele não é travado um com o outro, 
mas sim com Deus. Para que o povo sobreviva como uma cultura algumas 
diretrizes foram necessárias para proteger a integridade do grupo. Conse­
qüentemente. Moisés desceu da montanha com os Dez Mandamentos que 
parecem ter sido derivados de uma notável e astuta análise do comporta­
mento necessária para manter a integridade do grupo, dada a natureza 
vigente de seu ambiente social e tecnológico. Muito possivelmente Moisés 
não estava em uma posição de explicar a base racional dos Dez Manda­
mentos. assim como seu valor em manter a união do grupo. Assim, os Dez 
Mandamentos adquiriram controle cerimonial Imediato quando apresenta­
dos como a contrapartida de Deus para conduzir seu povo à Terra Prome­
tida O primeiro mandamento estabeleceu a autoridade final de Deus e se­
lou o controle cerimonial. Moisés tomou-se um agente de Deus.
Como esperado, logo que Moisés fez sua parte ao levar o povo até 
a visão da Terra Prometida, ele morreu, talvez porque tal controle centrali­
zado era perigoso uma vez que o objetivo já havia sido alcançado. Em seu 
livro Êxodo e Revolução. Michael Walzer sugere que o Êxodo é o protótipo 
das revoluções sociais na civilização ocidental, e que embora a Terra Pro­
metida nunca vivesso completamentea altura da propaganda feita, a histó­
ria nos tem servido bem para conduzir o progresso social. Talvez, nós sere­
mos capazes de conseguir uma maior aproximação com a Terra Prometida 
dispensando o controle cerimonial da autoridade religiosa e olhando com 
maior cuidado para as contingências implícitas ás regras que seguram no 
lugar nossas práticas sociais. De qualquer maneira, foi assim que Frazier 
planejou Walden Dois.
A versão dos Dez Mandamentos em Walden Dois é o Código Walden. 
Embora Skinner não tenha sido muito especifico quanto ao conteúdo do 
Código, pode-se conjecturar seu conteúdo a partir do planejamento e do 
funcionamento da comunidade. Minha hipótese sobre o conteúdo do Código 
não será abordada nesse texto; o ponto importante a ser salientado é que o 
Código constitui-se em uma série de diretrizes que especificam as classes 
de operantes necessárias à sobrevivência da cultura. Para que o Código 
tenha um efeito que não envolva controle cerimonial, o comportamento es­
pec ificado deve p roduz ir conseqüências que sejam corren tem ente 
reforçadoras para a comunidade assim como aumentem sua sobrevivência
MetacGnfli»£f>cl32: c â m p fó n n rrilo , c m um <? sociA jcde 21
a longo prazo. Desse modo, o Código seria possivelmente uma série de [Vós] 
Deveis ao Invós do [Vós] Não deveis. Se o comportamento especificado no 
Código ó para ser mantido por reforçadores sociais que derivam sua força 
dos efeitos a longo prazo do comportamento sobre a comunidade, o valor 
dos itens no Código devem ser avaliados em termos de sua utilidade. 
Presumivelmente, o Código se transformará gradualmente à medida que a 
cultura Wafden evolua. Assim, as metacontingências que mantém o compor­
tam ento de acordo com o C ódigo estão em basadas em processos 
tecnológicos. A autoridade cerimonial da religião é substituída pelo pragmá­
tico. Desde que o que nós chamamos de aspectos espirituais da religião 
possam ser conceptualizados como fenômeno comportamental (Shimoff, 
1984), eles náo oferecem nenhum problema em Watden Dois,
Também o Estado é dispensado em Watden Dois. Isso é possível por­
que todos os membros da comunidade são diretamente responsáveis uns pelos 
outros, a comunidade é pequena o bastante para proporcionar a cada membro 
o contato direto com todos os outros. Como Marx enxergou há mais de um 
século, também é preciso haver igualdade económica. Walden Dois ê capaz 
de funcionar sem o Estado somente porque suas metacontingências reque­
rem que os resultados beneficiem a todos os membros. A funçáo primária do 
Estado é impingir metacontingências cerimoniais e regular a competição por 
recursos. O Estado totalitário nâo oferece contracontrole adequado ao que é 
regulado, resultando invariavelmente em extremos de controle aversivo e ceri­
monial por parte do governante. Também, utiliza-se facilmente o Estado demo- 
crático sem igualdade econômica para manter o controle cerimonial sobre os 
recursos. Mesmo desfrutando de igualdade econômica, os Estados democrá­
ticos dependem da opinião pública que pode não ostar bem informada - com­
portamento verbal sob controle de variáveis irrelevantes ou mesmo prejudicial 
á sobrevivência da cultura. Como Walden Dois pode funcionar sem o Estado 
será discutido na próxima sessão.
A ausência de controle institucional cerimonialmente mantido em 
Wafden Dois ê provavelmente a característica que assusta muitos leitores 
que persistem em enxergar o espectro do controle autoritário quando, de 
fato. não há evidência de tal controle. Visto que a maioria dos leitores terá 
experenciado controle cerimonial por pade da família, da igreja e do esta­
do. e!es parecem ter dificuldades em imaginar uma comunidade onde o 
controle cerimonial esteja ausente. Eles devem assumir que isso é tão oia- 
bolicamente obscuro o ponto de não ser visível especialmente como o 
Complexo de Édipo. sobre o qual dizem que Anna Freud não encontrou 
evidências, concluindo através disso, que a possibilidade de náo haver con­
trole cerimonial deve ter tamanha força para ser tão bem reprimido.
Contingências e Metacontingências em Walden Dois
O comportamento operante dos membros de qualquer cultura deve 
ser classificado em termos dos tipos de conseqüências que o comportamen­
to tem para os indivíduos que se comportam e para a cultura. Historicamen­
te, nós temos distinguido, com algum grau de intuição, entre: trabalhar, ativi­
dades de diversão e comportamento interpessoal. Trabalhar pode ser espe­
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22 S ig n e G rtr in
cificado como um comportamento que é essencial para a sobrovivônda da 
cultura, e por essa razão, participa de metacontingências tecnológicas. Nós 
distinguimos entre trabalho e ocupação1’ pelas discrepâncias nos efeitos 
tecnológicos de cada uma. Ocupar-se não leva a nada e é cerimonialmente 
mantido. Atividades de diversão envolvem tipos de comportamentos que pro­
duzem reforçadores não arbitrários, não apresentando uma influência direta 
sobre a sobrevivência da cultura. Entretanto, a oportunidade de engajar-se 
em comportamentos que produzam esses reforçadores é uma importante 
característica de uma cultura com valor de sobrevivência. Comportamento 
interpessoal, stríctu sensus, é aquele comportamento voltado a outras pes­
soas que ê mantido pelas respostas dessas outras pessoas.
Em Walden Dois as metacontingências são planejadas de maneira 
que os reforços a esses comportamentos não sejam confundidos ou mes­
mo igualados. Reforçadores interpessoais não compram nada, oxceto o 
comportamento interpessoal de outras pessoas. As relações interpessoais 
em uma comunidade sem controle cerimonial, possivelmente, seriam exa­
tamente parecidas com a forma como Skinner as retratou - simples, since­
ras e inteiramente honestas. Não há razão para que sejam de outra forma. 
Trabalhar não produz reforçadores interpessoais diretamente, nem oportu­
nidades diferenciadas de engajar-se em diversão e os reforçadores que as 
acompanham. O trabalho que envolve comportamento cooperativo ou 
interativo deve ser intrinsecamente interessante para algumas pessoas, 
entretanto, esse trabalho como qualquer outro é mantido pelas suas conse­
qüências tecnológicas. Atividades de diversão não resultam em quaisquer 
outros reforçadores que não sejam aqueles derivados das conseqüências 
do engajar-se em diversão por si só, incluindo oportunidades de interagir 
com outras pessoas. Como Walden Dois toi planejada de forma a assegu­
rar que a tirania, como descrita por Pascal, não atrapalhe?
Primeiro, vamos olhar para o trabalho em Walden Dois. Somente as 
atividades essenciais à sobrevivência da comunidade sáo designadas como 
“trabalho", e por isso. administradas pelo sistema de Crédito de Trabalho. Exis­
tem três tipos de trabalho em Walden Dois - trabalho manual, organização e 
administração, o legislar e avaliar. Trabalho manual e administração são tipos 
de trabalho que produzem conseqüências daramente relacionadas ao com­
portamento operante. Remove-se o legislar para o mais distante possivel de 
suas conseqüências, talvez uma razão seja porque legislar não deva receber 
todos os créditos de trabalho referentes a essa atividade. Os planejadores 
devem ganhar um crédito de trabalho por dia para fazer o trabalho manual. 
Uma razão muito importante para o engajamento dos planejadores em algum 
trabalho deve ser porque isso os coloca em contato com as mesmas contin­
gências experimentadas pelos outros membros da comunidade. Ademais, essa 
estratégia evita que os planejadores façam parte de uma "classe" diferenciada, 
o que possivelmente instigaria controle cerimonial.
O trabalho de organizar e administrar, que também leva a privilégios 
cerimoniais em nossa própria cultura, não produz privilégios parecidos em 
Walden Dois. Um gigantesco segmento da população aspira a tal 'posição"MelK»rrW;jôrc3»s: oomaortíitnnivKj, c u llu '* e uiciccaOo 23
pelo fato de tais comportamentos em nossa própria cultura freqüentemente 
assegurarem uma melhor posição econômica, assim como controle ceri­
monial Freqüentemente, essas posições são agarradas por pessoas oue 
as obtiveram por caminhos cerimoniais e não aprosentam os repertór os 
comportamentais de Interesse para executar as responsabilidades do tra­
balho de forma adequada. Em Walden Dois, não há nenhuma vantagem, 
mas ató algumas desvantagens (longas horas de trabalho), ás pessoas 
que se engajam em tal trabalho. As contingências quase asseguram que 
as pessoas que tomarem parte em organizar e administrar a comunidade, 
assim o farão porque o trabalho é agradável a elas. e porque os resultacos 
de suas atividades beneficiam o grupo e a elas próprias
O trabalho manual é distribuído entre os membros da oomunidade de 
modo que ninguém necessite trabalhar mais do que quatro horas por dia. e 
aqueles que fazem um trabalho menos desejável o faz somente por duas 
horas e meia ao dia. Toma-se cuidado para que o trabalho náo seja separa­
do de suas conseqüências naturais; as pessoas têm muitas oportunidades 
para mudar de atividade quando desejarem, todo trabalho em Watden Dois 
obtém o mesmo respeito. Tal respeito existe pelo fato de todos os membros 
terem acesso igual a todos os recursos, e não obterem nenhum crédito pes­
soal para atividades bem feitas.
Ao arranjar as contingências do ambiente de trabalho como descrito 
acima, Frazier montou as seguintes metacontingências. Primeira, para qual­
quer um em Walden Dois ê vantajoso conservar os recursos, porque o nível 
de vida. demonstrado pela pouca quantidade de tempo gasto no trabalho, 
está diretamente relacionado à reduçào da quantidade do trabalho neces­
sária para garantir a sobrevivência em um ambiente confortável, se não 
luxuoso. As metacontingências dispostas em nossa cultura são completa­
mente distintas, pois os indivíduos competem pela disponibilidade de re­
cursos. fazem um uso maior dos recursos para competir efetivamente por 
intermédio da produção, reduzindo, em decorrência disso, sua quantidade 
disponível (ou o aumento do custo para utilizá-los) em nome de uma efetiva 
competição. Segunda, dão-se créditos somente para atividades importan­
tes ã sobrevivência do grupo e para seu bem estar físico, entrando todas 
elas no sistema de Crédito de Trabalho. Define-se o valor do crédito do 
uma determinada atividade pela sua preferência - o trabalho de maior pre­
ferência recebe menos cróditos. Isso é eminentemente racional, pois o tra­
balho que é mais valorizado em detrimento de outro tem um valor reforçador 
excessivamente maior. Em Walden Dois, o valor comum é explicitamente a 
sobrevivência e o bem estar do grupo. O trabalho menos reforçador possui 
valor somente em decorrência de sua contribuição á comunidade - possibi­
litando ao trabalhador uma quantidade de tempo máxima para se engajar 
em outras atividades intrinsecamente mais reforçadoras.
Vamos agora às atividades caracterizadas como divertimento em 
Walden Dois. Tradicionalmente, imaginamos as atividades de diversão como: 
arte em todas as suas formas, jogos e recreação, e ciência, ao menos en­
quanto pesquisa básica. Embora essas atividades sejam diferentes, asse­
melham-se em dois aspectos cruciais: são atividades em que as pessoas se
camila paiffer
Highlight
24 Signd G i«m
engajam pelo o que elas mesmas têm a oferecer; e não são essenciais para 
a sobrevivência ootídiana. Períodos da história conhecidos por essas ativida­
des são conhecidos como Idades Douradas. Presumivelmente são denomi­
nadas assim pelo fato de terem produzido muitos artefatos que viriam a ter 
um grande valor reforçador em épocas posteriores - literatura, história, arte. 
música e sistemas conceituais que ordenam e fornecem um sentido ao uni­
verso. Tais conseqüências exigem que muitas pessoas tenham o ócio neces­
sário para poderem se dedicar a esta peculiar busca humana.
Ao longo da história humana, pouquíssimas pessoas obtiveram tem­
po livre suficiente para essas atividades. Muitos daqueles quo as buscaram 
assim o fizeram às custas de privações cruéis. Atualmente, pouquíssimos 
indivíduos estão aptos a comprar a oportunidade de se dedicarem a tais 
comportamentos negociando seus produtos nos mais elevados preços. As 
metacontingências em Walden Dois estabelecem a oportunidade para que 
todos seus membros possam se empenhar em tais comportamentos. Os 
produtos desses comportamentos sáo disponíveis a todos os membros da 
comunidade. Frazíer (quem. enquanto protagonista, freqüentemente dá voz 
aos pensamentos de Skinner) prediz uma Idade Dourada em Walden Dois 
sem paralelo. As pessoas não estarão exaustas em decorrência do trabalho; 
estarão livres para desenvolverem seus próprios interesses; tempo e recur­
sos materiais estarão disponíveis; todos viverão desde o nascimento entre 
pessoas interessadas em tais atividades; e a ausência de contingências com­
petitivas deveria indlnar os membros a encorajar e apoiar o empenho de 
todos. As metacontingências em Waiden Dois são planejadas para fornecer 
amplas oportunidades e apoiar todos os membros a explorarem arte. literatu­
ra, música etc. O comportamento que atualmente evolui será modelado e 
mantido pelas conseqüências intrínsecas.
Talvez o efeito mais radical notado pela ausência de controle ceri­
monial em Walden Dois seja provavelmente na esfera interpessoal. O uso 
de reforçadores interpessoais que comandam o controle cerimonial prova­
velmente tem levado a muitos dos problemas que importunam a humanida­
de ao longo da história. A concentração de controle cerimonial nas mãos 
de uma minoria em uma cultura deve ter exigido que as mais fracos inclu­
am controle interpessoal em contingências que não têm relação direta com 
comportamento interpessoal. Esse padrão parece ter sido sistematicamen­
te desempenhado nas relações entre homens e mulheres nas culturas oci­
dentais. Os homens têm assegurado controle cerimonial sobre a maioria 
dos recursos naturais e culturais mesmo se produzidos pelo comportamen­
to tecnológico das mulheres. As mulheres têm, talvez em conseqüência ou 
talvez antecipadamente, ganho acesso aos reforçadores tecnológicos fa­
zendo com que reforçadores pessoais sejam contingentes ao acesso. Ho­
mens com menos contro le cerim onial tam bém têm utilizado controlo 
interpessoal para obter acosso aos reforçadores não disponíveis através 
de comportamento mais relevante.
O desequilíbrio parece ter levado a uma profunda desconfiança entre 
os indivíduos, especialmente entre os que possuem poder cerimonial, mas
camila paiffer
Highlight
MtfacomtnjAqclaK cjytiparliynerilo, cuKure » uix:<Kt(Klu 25
não apresenlarn reforçadores interpessoais: e os que possuem poder 
interpessoal, mas não têm acesso aos reforçadores cerimoniais (status. po­
sição etc.). Metacontingéncias culturais que sustentam controle cerimonial 
garantem uma guerra fria permanente entre as partes. Talvez pior ainda, até 
mesmo a possibilidade de tal troca não reciproca de reforçadores podo ter 
retraído afeto genuíno onde era possível e comportamento tecnológico ge­
nuíno onde ele poderia ter feito a diferença. Sansão e Dalila sáo bons mode­
los. Na medida em que alguns acoitam perder seus poderes ao serem sedu­
zidos por reforçadores interpessoais e alguns têm aperias reforçadores 
interpessoais para ter acesso a recursos controlados cerimonialmente, pes­
soas com controle cerimonial nunca estarão confiantes de que são amadas 
‘ pelo que sáo" e aqueles a quem foi cerimonialmente negado acesso a re­
cursos tecnológicos nunca saberão se eles tinham realmente “algo a ofere­
cer* além deles mesmos (ou, mais apropriadamente, seu comportamento 
interpessoal).
Governo em Walden Dois
Talvez, a característica mais difícil de entendermos em Walden Dois 
é seu governo.Provavelmente, a dificuldade está no fato do governo quase 
sempre se caracterizar como um agente de controle cerimonial. Em Walden 
DoiSr o governo não se caracteriza assim. Nele, as pessoas que realizam o 
trabalho chamado de 'governar' em Walden Dois estão trabalhando pela 
mesma conseqüência a longo prazo como quaisquer outras. O trabalho de 
todos faz parte das mesmas metacontingéncias. Além do mais. as ativida­
des aglutinadas no 'governar" sáo tão severamente reduzidas assim como 
as conseqüências que rnantém essas atividades.
O governo historicamente tem se caracterizado por algumas funções, 
que incluem: estabelecer políticas e fazer leis, forçar a obediência às mes­
mas. proteger a comunidade de grupos externos ou renegar membros dentro 
da comunidade, ooletar taxas e gastar o dinheiro. O governo om Walden 
Dois não tem nenhuma dessas incumbências, com exceção da primeira - 
estabelecer políticas e regras. As outras funções do governo têm sido distri­
buídas entro os outros trabalhadores em Walden Dois, muitas delas de ma­
neira igualitária por toda a comunidade. Parece haver pouquíssima necessi­
dade de leis em Walden Dois porque existe pouquíssima necessidade de se 
regular as relações entre indivíduos ou grupos. Walden Dois funciona como 
um organismo, cada componente em conjunção com os outros, todos por 
um e um por todos. Não se oxige motivação altruística uma vez que as 
metacontingéncias garantem que o que é bom para um é bom para todos.
De maneira geral, o papel do governo tem sido o de garantir a con­
centração de controle cerimonial a um pequeno número de pessoas, inclu­
indo os que participam do governo. Em oposição ao desequilíbrio, a ten­
dência tem sido geralmente distribuir esse controlo entre um maior número 
de pessoas. Em nonhum outro lugar pode-se observar mais claramente o
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Highlight
26 Cterri
resultado dessa tendência do que no comportamento de burocratas meno­
res. Não importa se as circunstâncias de uma determinada situação se 
igualem ás contingências que fundamentam uma regra. A regra controlará 
seu comportamento porque o burocrata garantirá que ela assim o faz - 
frequentemente pelo puro prazer de estar no comando. Aqui não há nenhu­
ma conseqüènda do trabalho de uma pessoa além da manipulação e con­
trole do comportamento de outras pessoas - para seu próprio bem.
O foco nesse processo tem sido sempre em pessoas e suas posi­
ções em consideração um com os outros. Na tentativa de reparar o 
desequilíbrio, os seres humanos primeiramente enxergariam no problema 
uma oportunidade para dispensar o líder ruim e trocá-lo por um bom. Entre­
tanto, encontrar outro líder melhor não era assim tão fácil. Primeiro, contin­
gências casuais teriam que produzir, em algum lugar, um Indivíduo que 
tivesse o repertório comportamental que o caracterizasse como um "bom 
líder". Segundo, esse indivíduo teria de sor cerimonialmente acessível - 
isto é, ter nascido dos pais corretos etc. Terceiro, o indivíduo teria que ser 
reconhecido como possuidor do negócio certo; e quarto; para instalar o 
indivíduo como um lider, a competição teria que ser aplacada ou arrasada.
A tendência, decorridas algumas centenas de anos, de distribuir poder 
cerimonial entre muitas pessoas, mesmo através de diferentes ramifica­
ções governamentais, tem sido bastante efetiva em estabelecer algum 
contracontrole praticável entre indivíduos e grupos. Mas o processo embasa- 
se em uma discriminação fundamental a qual tem demonstrado ser inade­
quada na solução do problema A discriminação tem sido entre governantes 
ruins e governantes bons, e entre pessoas ruins e pessoas boas. As mu­
danças baseadas nessa discrim inação têm envolvido uma procura por 
modos de garantir que as pessoas ruins não possam conseguir ou susten­
tar controle cerimonial.
Se o foco fosse comportamentos desejáveis e indesejáveis seriamos 
levados a contingências desejáveis e indesejáveis. O que a cultura oddental 
tem se ocupado em distribuir é controle cerimonial. Quanto maior o número 
de pessoas que apresentarem um pouco de controle cerimonial, melhor será 
o equilíbrio de poder, e melhor será a estabilidade da cultura. Existem dois 
problemas com isso. O primeiro é político. Para que o controle cerimonial 
tenha algum valor, deve haver acesso direto desproporcional a reforçadores 
e a oportunidades de comportar-se de modo a gerar reforçadores tecnológicos. 
Assim , deve haver alguóm com desproporc iona l fa lta de acesso. A 
redistribuição do poder cerimonial tem sido forçada sobre a minoria que de­
tém esse poder pela maiooa que tem força quantitativa. Mas na medida em 
que a distribuição atinja o meio do caminho, será a minoria que estará caren­
te. deixando-a sem poderes políticos om número para contrabalanoear o 
controle cerimonial dos recursos. O acesso a armas poderosas, entretanto, 
não pode ser evitado indefinidamente. Assim, a esperança que poderíamos 
ter de que o poder cerimonial ficaria tão igualitariamente distribuído que se 
anularia ó provavelmente infundada.
O segundo problema é mais prático. Ao darmos ênfase á distribui­
ção do poder cerimonial, negligenciamos a origem de todo poder real para
M o ta to n li> ]A n r.i8 h r x > T p o r la r m í o , a i f t r a *» soseJ<*do 27
mudança positiva: o comportamento oporante que produz conseqüências 
não arbitrárias. Assim, nossa tendência em focar as diferenças entre pes­
soas boas e pessoas ruins, faz com que negligenciemos as possíbilidacos 
inerentes em discriminar comportamento útil de inútil. Em Walden Dois, as 
metacontingéncias sustentam comportamento útil para a comunidade e todo 
membro que participa dela. O papel do governo é simplesmente assegurar 
que essas metacontingéncias sejam mantidas. Esse governo deve assim 
fazer sem beneficiar poder cerimonial.
A s pessoas que compõem o governo em Walden Dois são chama­
das de Planejadores. Existem somente poucos deles e seu trabalho é man­
tido somente por contingências tecnológicas, assim como o trabalho de 
qualquer outra pessoa. Reforçadores cerimoriialmente derivados não es­
tão disponíveis aos Planejadores. O trabalho deles não é considerado um 
privilégio, merecedor de reconhecimento especial, ou mais valorizado do 
que qualquer outro. Eles conseguem exatamente as mesmas coisas de 
seu trabalho como qualquer outia pessoa consegue - satisfação em reali­
zar o trabalho por si só e os resultados do trabalho para a comunidade, 
incluindo para eles próprios.
O governo em Walden Dois, como qualquer outra atividade, é visto 
como comportamento operante. Ê julgado petas suas conseqüências - Ime­
diata ou a longo prazo. O foco total da comunidade sobre as conseqüências 
do comportamento para a própria comunidade é o que toma o controlo ceri­
monial dispensável. As metaoontingências igualitárias só são possíveis devi­
do à ausência de controle cerimonial. À medida que Walden Dois permanece 
uma comunidade experimental, ela se gerenciará sozinha
Do Egito à Terra Prometida5
Para aqueles de nós que enxergam Walden Dois como a Terra P ro­
metida e onde encontramos o Egito, ó importante lembrar que um território 
vasto e ormo situa-se entre ambos. A tendência em sair e começar do zero. 
em um novo lugar, onde possamos começar uma nova sociedade nunca 
terá êxito porque levamos nosso velho comportamento conosco, e ele for­
nece as contingências para o comportamento dos outros em nosso novo 
ambiente. Então, nós poderíamos da mesma forma começar bem aqui, no 
Egito, e lidar com a menor área possível, aquela com a qual temos contato 
direto e contínuo - nosso ambiente doméstico, nosso ambiente de trabalho 
e nossas atividades de lazer.
Para nos ajudar a caminhar através desse território eu sugiro que, 
primeiro, olhemos atentamente para o nosso próprio comportamento. Pode­
mos separar os reforçadores tecnológicos dos reforçadores cerimoniais vi­
randoas costas a esses últimos? O que podemos fazer para fornecer um 
ambiente de trabalho para outras pessoas que as coloque em contato com 
reforçadores tecnológicos e diminua o efeito do contingências cerimoniais?
Agi nüoçoao professor Lukor por rtroduzw-m a a o Iwfo W atzer e por sugw ir qi*o vivam os r o E tflo .
camila paiffer
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camila paiffer
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28 _ ü < j r d õ t a n r t
Teremos coragem de dar afeto gratuitamonto sem utilizá-lo como moeda de 
troca por acesso a controle cerimonial? Existe alguma maneira que possa­
mos arranjar, mesmo em um pequeno sistema, para que o comportamento 
de todos seja igualmente valorizado? Que todos contribuam para o bom es­
tar do grupo e partilhem igualmente os produtos dos esforços grupais? Ten­
do sucesso ao fazer essas atividades, poderemos progredir através desse 
território ermo.
Os poucos de nós. felizardos, náo estarao juntos nessa jornada, 
mas em tempos e lugares separados. Mas em decorrência da moderna 
tecnologia de comunicação podemos provavelmente nos beneficiar do que 
os outros estejam aprendendo à medida que façam a jornada. Talvez, nós 
poderemos usar nosso tempo quando nossos cominhos se encontrarem 
para relembrar uns aos outros para que estamos trabalhando E nós preci­
samos começar. O tempo é curto.
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camila paiffer
Highlight
A Constituição como 
Metacontingência
João Cláudio Todorov
“Demonstrando corno os procedimentos governamentais modelam o 
comportamento dos governos, a ciônda pode nos lavar mais rapida­
mente ao planejamento de um governo, no sentido mais amplo pos­
sível, que necessariamente promova o bem estar daqueles que são 
governados. " (Skinner, 1953/2000, p 482)
As metacontingências do processo cultural tecnológico aumentam 
o âmbito de ação e a eficácia do comportamento que altera o ambiente no 
sentido de garantir a sobrevivência e a satisfação do indivíduo e da socie­
dade (são exemplos a redução da poluição ambiental e a proteção aos 
direitos humanos). Por outro lado, as metacontingências cerimoniais impe­
dem o surgimento de novos comportamentos, mantêm o controle social 
como está, e são nocivas a longo prazo quando a sobrevivência de todos 
depende da ocorrência de mudanças. Metaconbngências cerimoniais já 
existem na sociedade e as regras das quais dependem estão formuladas 
tácrta ou explicitamente no processo de socialização da criança. Quando 
há conflito ontre metacontingências tecnológicas e cerimoniais, a vanta­
gem inicial está toda com as metacontingências cerimoniais.
Vista a Constituição como a lei fundamental ou coleção de leis regen­
do a natureza e as funções do Estado, e o conjunto dos direitos e deveres do 
povo, vejamos como retomar a ela depois de passar por vários conceitos que 
pertencem ao discurso da análise do comportamento enquanto abordagem 
psicológica. Uma lei que se prezo sempre prescreve alguma conseqüência 
para algum tipo de comportamento Com maior freqüência, as leis estabele­
cem conseqüências punitivas e visam controlar o comportamento a ser puni­
do O Código Penal autoriza certos agontes a aplicar a punição, especifican­
do os parâmetros do processo. Algumas leis visam incent-var comportamen­
tos desejáveis, do ponto de vista de quem redige a lei, e prescrevem conse­
qüências positivas para tais comportamentos (geralmente dinheiro, que sai 
do bolso de todos nós). Em outros casos é a ausência do certos comporta­
mentos que é punida ou recompensada, como a omissão de socorro e a 
poupança voluntária, respectivamente. Em todos esses exemplos configura- 
se uma relaçáo que ó fundamental para o trabalho de análise do comporta­
mento: a contingência de dois termos.
30 jo tto Clflufllo Todnruv
Contingência, como usamos o termo, é uma relação condicional entre 
uma classe de respostas, ou tipo de comportamento, o conseqüências que 
advêm da ocorrência desse comportamento. Os exemplos são infinitos e 
banais, mas gostamos de começar pelas coisas aparentemente simples 
para chegar a um entendimento mais firme dos casos complexos. Que a 
simplicidade é aparente veremos logo a seguir, com um exemplo do tipo: 
“Quem tropeça pode cair'’ . A frase pode ser vista como uma contingência 
de dois termos, uma relação condicional entre um comportamento, trope­
çar, e uma conseqüência desse comportamento, cair Não é necessário 
muito pensar para concluir que cair depois de tropeçar depende também 
de diversos outros fatores: afinal, "nem tudo que balança cai". Tentando 
continuar com um exemplo simples, imaginemos uma escada com corri­
mões onde quem sobe com as mãos apoiadas, tropeçando não cai; quem 
sobe com as mãos abanando, tropeçando sempre cai Temos agora o mes­
mo exemplo em dois cenários diferentes, e isso é bastante para o que que­
remos explicar. Não há sentido na pretensão de se entender o comporta­
mento de tropeçar sem se levar em conta o cenário e a conseqüência.
Escolhemos de propósito começar com um exemplo que envolve a 
interação do homem com seu ambiente fisico. As contingências são as 
mesmas em todo o mundo conhecido, independem de regras, leis ou con­
venções sociais. Mesmo assim, a unidade básica de análise envolve uma 
relação condicional de três termos, ou contingência tríplice: situação, com­
portamento e conseqüência. Nas relações sociais, no comportamento de 
pessoas interagindo com outras pessoas, a contingôncia tríplice sorve ape­
nas como um instrumento de partida. Possibilita o estudo do que chama­
mos de controle discriminativo do comportamento, e é extremamente útil 
em áreas como alfabetização e no tratamento de deficiências graves de 
repertório social, mas a não ser para os que se preocupam com os altos 
índices de repetência no primeiro ano do primeiro grau ou para os sócios 
da APAE, estudos que imitam a análise da contingência tríplice aborrecem 
os intelectuais ocupados com os mistérios da vida e da morte.
Como dizíamos, nos assuntos humanos a complexidade é maior. 
Mas é ao analisar essa complexidade que percebemos as sutilezas do con­
trole discriminativo. A contingência tríplice pode ser colocada sob o contro­
le de diferentes cenários. Se. na presença do Sr. X (cenário 1) afirmo "O 
senhor ó um ladrão*, a conseqüência do meu comportamento vai depender 
de outras condições do ambiente. Se estamos sós. se não há testemu­
nhas, o Sr. X pode reagir Irado e mo agredir fisicamente, mesmo sendo um 
político experiente.Se, na presença do Sr. X (cenário 1), o das câmeras de 
televisão (cenário 2). faço a mesma afirmação, a conseqüência de meu 
comportamento pode ser uma resposta em termos elevados e inteligentes, 
como o Sr X tentando convencer o eleitorado de que. polo contrário, o 
ladrão ó o outro candidato.
Quando temos uma contingência triplice colocada sob o controle 
discriminativo de outros aspectos do ambiente, temos uma contingôncia de 
quatro termos, também condicional, com dois termos que se referem a situ­
Motacontíngflnci*»: nciirrourlaiiMiito t;u tu m t> SMtoíCKto 31
ações ambientais, um ao tipo de comportamento, e um às conseqüências 
desse comportamento. D irem os, então, que a contingência de três termos, 
que especifica o controle discrim nativo, está sob um controle condicional 
na contingência quádrupla. Estímulos condicionais (ou contextuais) não 
controlam o comportamento diretamente, mas determinam o controle oue 
outros estímulos exercem sobre o comportamento.
Políticos bem-sucedidos e pessoas nomiais nâo oostumarn se preocu­
par muito com exemplos do contincôncias quádruplas - afinal, a classe média 
riasce sabendo como comportar-se a mesa. O assunto tem. entretanto, inte­
ressado aos estudiosos dos aspectos não-lingüísücos da linguagem, aos que 
se preocupam com as condições da formação de relaçõos de equivalência 
entre conceitos, aos que ganham a vida como psicoterapeutas, e aos Que 
tentam explicar o fracasso eleitoral de certos políticos bem conheodos.
Contingências quádruplas tambôm podem estar sob o controle de 
outras condições do ambiente. Caracterizando contingências quíntuplas e 
controle condicional de segunda ordem (Sidman, 1986). Usando o conceito 
de contingência quintupla como ferramenta, podemos começar a falar de 
conceitos mais abstratos, mas não convém agora abusar da paciência do 
leitor interessado em saber o que metacontingéncia tem a ver com Consti­
tuição. A intenção foi fixar o conc3ito de contingência e deixar bem claro 
que não se aplica apenas a situações do tipo ‘ se correr o bicho pega’ . A 
contingência é, pois, a unidade de análise que descreve as relações funci­
onais entre o comportamento e o ambiente no qual a pessoa interage. A 
metacontingéncia é a unidade de énálise que descreve as relações funcio­
nais entre uma classe de comportamentos, cada comportamento como parto 
de uma contingência específica, e uma conseqüência que ccorre a lor.go 
prazo e que é comum a todos cs comportamentos inseridos em uma 
metacontingéncia. Metacontingéncia» envolvem essencialmente contingên­
cias socialmente determinadas.
Vejamos um exemplo arriscadíssimo. A mudança de um governo 
predom inantem ente m ilitar para um governo predominantemente civil, 
abreviadamente, a passagem do controle do PDS para o PMDB. pode ser 
vista sobre o prisma do conceito de metacontingéncia. A conseqüência a 
longo prazo ora a saida dos militeres e dos políticos a eles diretamente 
ligados e a passagem do poder a uri partido predominantemente civil. Des­
cartada a hipótese de um Exército substituir a outro, a transição ocorreu 
como resultante de um movimento social que envolveu milhões de pessoas 
e m ilhares de entidades responsáveis pela organ ização do que se 
convencionou chamar de sociedade civil. Abandonado o uso abusivo da 
força para impor a lei ilegítima (desde Geisel), mudavam as contingências 
que envolviam o comportamento político
A desobediência civil, era possivel. Novas contingências que afe­
tam o comportamento de indivíduos se estabeleceram e foram organizadas 
em metacontingências pelo discurso politico unificado de amplos setores, 
do centro à esquerda. O objetivo a fongo prazo coordenou diferentes com­
portamentos submetidos a conseqüSncías imediatas que, separadamente,
32 Ju 5o C ttu dto Tb o w o v
pouco teriam a ver com a redemocratização do pais. O que pode uma rebe­
lião do professores contra o autoritarismo de dirigentes de uma escola ter a 
ver, quando vista isoladamente, com a transição da ditadura para a dem o­
cracia? Os exemplos de comportamentos específicos de diferentes pesso­
as e grupos do pessoas, todos submetidos a diferentes conseqüências ime­
diatas. são inumeráveis. O elo de união desses comportamentos individu­
ais em uma metacontingência ô a conseqüência a longo prazo que afeta a 
toda a sociedade, e o que liga essa conseqüência a longo prazo às nossas 
ações do dia-a-dia é o discurso político, visto aqui sob a ótica da análise do 
comportamento, enquanto comportamento verbal. Esse discurso político 
rege as interações entre as pessoas organizadas em grupos e assim man­
tém seu comportamento enquanto a conseqüência a longo prazo não che­
ga
Metacontingências tecnológicas e cerimoniais
Metacontingências não envolvem necessariamente mudanças soci­
ais. Ao contrário, seria mais fácil exemplificar metacontingências de manu­
tenção do status quo. Skinner (1967) retira da Teoria da Classe Ociosa" de 
Thornstein Veblen (1965) os conceitos de dois processos culturais distin­
tos. um tecnológico, outro cerimonial. Sigrid Glenn (1986). analisando os 
trabalhos de Skinner, propõe o conceito de metacontingência e mostra quo 
Skinner, ao contrário de Veblen. não vê os dois processos como imutáveis, 
mas sim como produtos do homem, e como tais. possíveis de alteração 
(Avros. 1962). Contingências ligadas ao processo cultural tecnológico en­
volvam comportamentos mantidos por conseqüências não arbitrárias. Es­
sas conseqüências têm poder sobre a manutenção do comportamento por­
que são úteis, de valor ou são importantes para a pessoa que se comporta 
assim como para as demais pessoas. As contingências associadas ao pro­
cesso cultural cerimonial, por outro lado. envolvem comportamentos manti­
dos por conseqüências sociais que derivam seu poder do status, da posi­
ção ou da autoridade do agente que maneja as conseqüências, indepen­
dentemente de alterações no ambiente que beneficiem direta ou indireta­
mente a pessoa que se comporta. Sigrid Glenn oforece dois exemplos sim­
ples dos controles cerimonial e tecnológico: “Faça isso porque eu estou 
mandando’ raramente envolve comportamentos que beneficiam a pessoa 
que recebe a ordem: "Faça isso porque teremos então melhores condições 
sanitárias, o que levará à melhoria nas condições de saúde de todos” espe­
cifica conseqüências positivas para a pessoa que se comporta e para a 
coletividade como um todo. A redução da poluiçào ambiental, por exemplo, 
depende do processo cultural tecnológico, por meio de metacontingências 
que reunam os comportamentos de milhões de pessoas, diferentes com­
portamentos em diferentes situações, todos, porém, levando a uma conse­
qüência comum a longo prazo que beneficiara a cada uma daquelas pes­
soas. assim como a todos que convivem na sociedade. Da mesma forma, 
podemos pensar em metacontingências associadas ã proteção dos direi­
M tfa c o M O n jta c U ie irc m p o r le m fn io , c u r .u a o *c< te d ed e 33
tos humanos, à melhoria da distribuição de renda, ao uso social e produtivo 
da terra etc.
As metacontingências do processo cultural tecnológico aumentam o 
âmbito de ação e a eficácia do comportamento que altera o ambiente na 
direção de garantir a sobrevivência e a satisfação do indivíduo e da socieda­
de. Por outro lado, as contingências cerimoniais impedem o surgimento de 
novos comportamentos, mantêm o controle social como está, e são nocivas 
a longo prazo quando a sobrevivência de todos depende da ocorrência de 
mudanças. Quando há conflito entre metacontingências tecnológicas e ceri­
moniais.. a vantagem inicial está toda com as metacontingências cerimoniais. 
Como afirmamos acima, a lacuna entre o objetivo a longo prazo e o compor­
tamento que deve ocorrer hoje é preenchida pelo comportamento verbal, 
especificamente por regras de conduta a serom seguidas. Quando r.o pro­
cesso cultural tecnológico se propõemmudanças que envolvem o estabele­
cimento de uma metacontingência, há a seguir todo um trabalho de detennl- 
naçáo de regras específicas, de providenciar conseqüências imodiatas para 
a observância dessas regras, e de avaliação dessas regras e das conseqü­
ências. Bons exemplos disso podem ser encontrados nos anais das Confe­
rencias Nacionais do Saúde ou nos debates sobre a Reforma Agrária no 
Brasil. A avaliação critica é necessária a todo momento. E as divergências 
sobre as avaliações às vezes levam a polêmicas acirradas e a disputas 
iriterpartidárias. O processo é trabalhoso, mas esse é o preço pago pela 
democracia para livrar-se de um Grande Planejador.
Metacontingências cerimoniais, por sua vez já existem ria sociedade e 
as regras das quais dependem estão formuladas tácita ou explicitamente no 
processo de socialização da criança, no qual atuam em grande sintonia as três 
instituições mantenedoras do status quo: Família. Igreja e Estado Esse con­
trole cerimonial não é necessariamente nocivo ao indivíduo e a sociedade, 
mas não é sensível às possibilidades de inovação e de mudanças sociais cons­
trutivas. Para garantir a estabilidade social, as agências que atuam no proces­
so de socialização valorizam mais a obediência às regras que o pensamento 
critioo. a repetição do saber que seu questionamento, a verbalização de solu­
ções que a formulação de problemas.
Sigrid Glenn mostra como até este ponto os trabalhos de Skinner 
devem muito a Clarence Avres, discípulo de Veblen (Skinner, 1972). Para 
Avres, ti possib ilidade de evolução cultural rápida ocorre quando há crise no 
processo cultural cerimonial e o processo cultural se desenvolve por algum 
tempo sem oposição. Mas as mudanças produzidas levam a um novo tipo do 
controlo cerimonial mantido pela autoridade de um novo grupo que assume o 
poder Assim o mesmo grupo que produz mudanças revolucionárias mantém 
as novas práticas culturais através do processo cultural cerimonial cercean­
do nova evolução cultural e mantendo o controle através do uso da autorida­
de. Skinnor vai além dos trabalhos de Avres e de Veblen ao ocupar-se das 
contingências específicas que compõem o controle cerimonial e ao cnticar o 
controle social atual mostrando, através de uma utopia, como poder-a ser 
uma sociedade sem instituições mantidas pelo controle cerimonial onde as
34 J o i o O M q T s i is ío v
relações entre as contingências ligadas ao comportamento do cada pessoa 
e as metacontingôncias são claramente formuladas.
Constituição: as metacontingências que queremos
Este não ó um trabalho sobre metacontingências e utopias, entre­
tanto. Aos interessados, os trabalhos de Skinner disponíveis no Brasil po­
dem ser facilmente encontrados em qualquer livraria. Esperando ter escla­
recido o que sâo metacontingências, vejamos agora a Constituição como 
metacontingência. A constituição escrita de qualquer pais traz, bem ou mal 
formuladas, metacontingências, algumas cerimoniais, outras tecnológicas. 
A constituição outorgada pela Junta M ilitar em 1969 tem metacontingências 
relacionadas principalmente ao processo cultural cerimonial, algumas já 
tradicionais em Constituições anteriores, como a que define a Republica 
como Federação de Estados, a que especifica o âmbito de ação das For­
ças Armadas, etc. Mas mesmo a Constituição de 1969 prevê a possibilida­
de de metacontingências relacionadas ao processo cultural tecnológico, ao 
prever emendas desde que aprovadas por dois terços do Congresso.
Neste momento histórico em que nós, como nação, temos a oportuni­
dade de rever a Constituição, redigir claramente as regras do jogo, convém 
refletir um pouco sobre quais são as metacontingências cerimoniais que que­
remos e quais são as mudanças de que necessitamos a serem especificadas 
em metacontingências tecnológicas. Como deve organizar-se o Estado para 
evitarmos o abuso do controle cerimonial? Uma vez especificadas as 
metacontingências, como garantir a especificação das novas regras a serem 
aprendidas por todos, pois que afetarão o comportamento de cada um? Es­
sas regras estarão contidas em leis, decretos, portarias, atos. resoluções 
etc.? Como orientar as diversas autoridades que assinarão essas regras? 
Respostas a essas questões são cruciais, pois de nada adiantara uma Cons­
tituição com objetivos nacionais bem formulados, consensualrnente aceitos 
pela nação, sem que a lacuna entre esses objetivos gerais e o comporta­
mento individual de cada cidadão não seja preenchida por um sistema de 
regras de relações sociais e interpessoais que privilegie o trabalho em detri­
mento da escamoteação, a produção e não a especulação, a saúde de todos 
por ser um direito de cada um. a educação crítica porque a nação precisa de 
cidadãos pensantes, e assim por diante.
A oportunidade de redigir uma nova constituição e também a oportu­
nidade que o pais tem de conscientizar o cidadão sobre a importância des­
sas questões e o papel de cada um no fornecimento de respostas. E. nesse 
ponto, a campanha eleitoral que resultou na composição do Congresso Cons­
tituinte pouco esclareceu o eleitorado. O papel a ser reservado as Forças 
Armadas, por exemplo, foi assunto de discussões nas antecâmaras do poder 
e recebeu alguma atenção da imprensa no primeiro semestre do 1986. A 
discussão parou porém, após 25 de agosto, com o pronunciamento firme do 
Ministro do exérdto: a questão certamente não foi tema de campanha eleito­
ral. Sobre a reforma agrária, outro exemplo, não foram esclarecidas ques-
MiKüCoabngAnci»»: coro^rta/uurito, cu r.u ia e «eo edadi» 35
Iões como onde. quando, como por quê? Outro exemplo. qual o papel a ser 
reservado à iniciativa privada nas áreas de educação, saúde, transportes? 
Diferentes caminhos em cada uma dessas encruzilhadas levam a contingên­
cias incompatíveis e ao estabelecimento de metacontingéndas que englo­
bam objetivos a longo prazo muito diferentes. Perdidas as oportunidades 
oferecidas pela campanha eleitoral, resta a sociedade civil que de fato ele­
geu Tancredo e Sarney acompanhar os trabalhos do Congresso Constituinte 
reavivando a memória de nossos representantes.
A nova Constituição poderá ser sintética, a moda americana, ou 
detalhista, como o projeto da Comissão Afonso Arinos. Em uma Constituição 
de poucos artigos, os objetivos colocados são necessariamente gerais e 
abstratamente formulados. O projeto Arinos. por outro lado. exemplifica uma 
redação que pode especificar melhor esses objetivos. Os dois exemplos, é 
claro, representam apenas casos extremos. Para o que nos interessa neste 
artigo, uma Constituição, muito sintótica tem a desvantagem do ser tão abs­
trata que não possibilita a explicitação das metacontingéndas que abriga. Já 
uma Constituição quilométrica certamente descerá ao nível de especificas 
contingências que seriam mais propriamente matéria de lei ordinária.
Num caso ou no outro, as metacontingéndas poderão ser predomi­
nantemente cerimoniais, e estaremos frustrando as expectativas da popula­
ção e esfacelando o amplo acordo político que sustenta a transição para a 
democracia. Ou serão predominantemente tecnológicas, definindo as trans­
formações sociais possíveis sem a ruptura de vida social organizada Neste 
segundo caso, do uma Constituição que especifique metacontingéndas 
tecnológicas, convém que a redaçáo não se faça em termos puramente abs­
tratos. do tipo *a educação é um direito de todos e um dever do Estado'. Por 
mais amplo que seja o consenso sobre um objetivo tão geral e exatamente 
por ser tão geral que. se ficarmos nesse nível de abstração, não estaremos 
apontando os caminhos para a educação brasileira.
A tarefa dos constituintes será das mais difíceis. Se não houver ou­
tro esforço nacional dirigido para garantir a democracia, definindo objetivos 
e os caminhos para atingir, correremos o risco de termos uma Constituição 
que resultará das-pressõesdos diferentes "lobbies" já articulados. Teremos 
então uma colcha de retalhos, certamente de curta duração.
Referências Bibliográficas
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Análise Experimental do 
Comportamento e Sociedade: 
um novo foco de estudo
João Cláudio Todorov 
Maísa Moreira
’Assim como as características genéticas que surgem como muta­
ções são selecionadas ov rejeiladas por suas consequências, tam­
bém as novas formas do comportamento são selecionadas ou rejet- 
ladas pelo reforço. Há ainda uma lerceira espécie de seleção que se 
aplica às práticas culturars.' (Skinner. 1953/2000. p. 467-468).
Tragédias como a ocorrida em 11 de setembro do 2001, nos Estados 
Unidos, que resultou na morte de mais de 3000 pessoas e em posteror ata­
que dos Estados Unidos ao Afeganistão (entre milhares de outras tragédias 
que ocorrem todos os dias em nossos paises, incluindo a atual invasão do 
Iraque) nos lembram que várias das nossas práticas culturais trazem preiui- 
zos às vidas de todos. Apesar dos grandes progressos técnicos e científicos, 
nâo há suficiente preocupação sobre o gasto dos recursos naturais ou com a 
excessiva poluição das águas e do ar, e menos ainda mecanismos de contro­
le do uso da violência, seja por pessoas, por organizações ou por paises. 
Estas preocupações tém sido temas das ciências sociais, e com poucas ex­
ceções. a análise do comportamento não as tem abordado, apesar de ter 
considerável potencial para servir à nossa cultura no aumento das chances 
de sobrevivência, ou ao menos tornar mais compreensível os processos o as 
variáveis que determinam as direções atuais.
Este potencial, porém, tem sido pouco utilizado. Esta escassa ex­
ploração do potencial da análise do comportamento, no estudo social acon­
tece apesar das contribuições de B. F. Skinner sobre a análise social e 
cultura l com o um com ponente fundam enta l do behaviorism o radical 
(Malagodi. 1986). Muitos trabalhos teóricos de Skinner (1953 ,1955a, 1955b, 
1956. 1957, 1961. 1964. 1968a. 1968b, 1969, 1972, 1974, 1978) têm em 
sua compreensão uma nova visão de mundo (Michael, 1980; Todorov, 1982) 
que integra filosofia, ciência e princípios do comportamento dentro de uma 
teoria opistemológica consistente e geral do comportamento humano. O 
maior componente desta visão d e mundo está na extensão de princípios 
comportamentais para a análise do processos sociais e culturais. Em “Ci­
ência e Comportamento Humano“ Skinner (1953) dedicou as três últimas
38 Jofio C líud io TodOTOV. M biüu Muiotia
seções para discutir extensivamente assuntos sobre a natureza, evolução, 
sobrevivência, valores o planejamento cultural.
Nesse sentido, a visão de mundo do Skinner implica uma ciência do 
comportamento que estuda regras que descrevem as relações de controle 
entre contingências ambientais e comportamentos. Quando os membros atu­
antes da sociedade entram em contato com essas regras e as soguem, re­
pertórios de solução de problemas sâo solecionados e mantidos por contin­
gências de reforçamento existentes na cultura. Apesar deste tema ser impor­
tante para muitos, houve poucos estudos nos últimos 20 anos. A ciência do 
comportamento tem se dedicado a resolver problemas principalmente de in­
divíduos ainda que em organizações ou instituições, muitas vezes vitimas 
de um mau planojamento cultural, mas sem um instrumental teórico explicito 
que se aplicasse ao comportamento de grupos sociais.
Glenn considerou importante esta interdisdplinaridade á medida que 
estudar sociedades e práticas culturais tendo como instrumento a contingên­
cia tríplice (Skinner. 1953; Souza, 1999. Todorov, 1985) pode não significar 
êxito total pois corremos o risco de reduzir a análise a um ponto que nào 
mostra como se deu a evolução e a manutenção da prática em estudo. O 
nivel comportamental da análise científica considera o organismo a base a 
partir da qual as relações funcionais entre o comportamento e os eventos 
ambientais são experimentalmente examinados (Glenn, 1988). Já na análise 
cultural o comportamento do indivíduo ê a base a partir da qual práticas cul­
turais emergem e o estudo das relações funcionais ocorre em outro nivel.
Seleção em nivel comportamental e seleção em nivel cultural po­
dem ser facilmente confundidos poisos dois envolvem relações entre even­
tos com porta menta is e resultam em mudanças no ambiente. Conseqüênci­
as culturais, no entanto, nâo selecionam comportamentos individuais, sele­
cionam relações entre contingências comportamentais, compreendendo as 
práticas culturais. O comportamento de um indivíduo especifico tem pouco 
efeito nas conseqüências culturais.
Metacontingências
Para estudos do oomportamenlo humano em nível social, uma impor­
tante unidade de análise usada é a metacontingència. Esta ê uma unidade que 
descreve as relações funcionais entre classes de operantes. cada classe as­
sociada a uma contingência tríplice diferente, e uma conseqüência comum a 
longo prazo, comum a todos os operantes na metacontingència Os comporta­
mentos operantes dos membros do grupo formam um conjunto de ações coor­
denadas. geralmente chamado de prática cultural, que se relaciona a um am­
biente comum aos membros. Práticas culturais envolvem o comportamento 
operante de grupos de pessoas que compõem a sociedade.
Metacontingências são relações contingentes entre práticas cultu­
rais o suas conseqüências. Sáo relações funcionais om nivel de análise 
cultural, cuja existência deriva mas não ê equivalente a contingências 
comportamentais (Glenn, 1991). Uma metacontingència não é um arranjo
M ftíic o n b n g to c tflft c O T p í i la r a o n t o . O J lh r a o R o c to i.a t» 39
de contingências individuais de diferentes pessoas. Ela consiste em contin­
gências individuais interligadas, entrelaçadas, em que todas elas juntas 
p roduzem um m esm o re su lta d o a longo p razo . O co n ce ito de 
metacontingência nos permite efetivamente considerar o comportamento 
de grandes grupos de indivíduos em certas situações. Isso pode ser 
exemplificado pelos vários comportamentos envolvidos na redução da po­
luição do ar (Glenn, 1986).
Meta contingências envolvem essencialmente contingências social­
mente determinadas. O elo de união de comportamentos individuais em uma 
metacontingência é a conseqüência a longo prazo que afeta toda a socieda­
de. São essas conseqüências que ligam as ações do dia-a-dia de diferentes 
pessoas e que podem ser controladas pelas regras da sociedade como. por 
exemplo, a Constituição (Todorov, 1987). Uma motacontingência existo se o 
objeto de análise for uma prática cultural de um grupo do indivíduos, se as 
conseqüências desta praüca, para o grupo, e se seus antecedentes puderem 
ser identificados (Glenn. 1986). No estudo das contingências sociais usarido 
a unidade de análise metacontingência, há uma distinção entre contingênci­
as de reforçamento (relações de contingências entre uma classe de respos­
tas e uma consequência comum) e metacontingências (relações de contin­
gência entre uma classe do operantes e uma conseqüência cultural e co­
mum a longo prazo).
No processo cultura l existem m etacontingências cerim onia is e 
tecnológicas, segundo Glenn (1986), aproveitando conceitosde Veblen(1899/ 
1965). A Família, a Igreja o o Estado usam as metacontingências cerimoniais 
paia garantir a manutenção do status quo da sociedade. Este oontroio ceri­
monial não é necessariamente nocivo ao indivíduo e à sociedade, mas ô 
insensivel às possibilidades de inovações de mudanças sociais construtivas 
(Todorov, 1987), O controle cerimonial pode ser exemplificado pela afirmati­
va: "Faça isso porque eu disse!” (Glenn, 1986). Este controle, apesar de 
garantir a ordem pela Família, Igreja e Estado, não incentiva a experimenta­
ção e adaptação dessos comportamentos às mudanças sociais.
As metacontingências tecnológicas propõem um trabalho de determi­
nação de regras especificas, de providenciar conseqüências imediatas para 
a observância dessas regras, e de avaliação dessas regras e das conseqü­
ências (Todorov, 1987). O controle tecnológico pode ser exemplificado pela 
afirmativa: Faça isso porque resuftará numa melhoria das condições sanitá­
rias e conseqüentemente na melhoria da saúde (Glenn, 1986). Porém, mes­
mo as metacontingências tecnológicas após mudanças culturais podem pos­
teriormente se tornar metacontingências cerimoniais cerceando nova evolu­
ção cultural, Por isso a avaliação das regras sociais deve ser um processo 
contínuo.
Sociedades se comportam governadas por metacontingências. Estas 
metacontingências podem ser definidas nos códigos e leis dos paises. Em 
Estados democráticos de direito, como o Brasil, as metacontingências que 
controlam a sociedade são deliberadas democraticamente por um Congres­
so eleito pela maioria da população. Alguns exemplos são: a Constituição, o
40 Jo ã o CttM Jk» Toúorttv. Mais* M o rétn
Código Penal, o Código Civil e o Estatuto da Criança e do Adolescente. To­
dos estes códigos de comportamento possuem metacontingências cerimoni­
ais © tecnológicas. E pelos seus resultados no controle do comportamento 
podemos predizer que sua grande maioria é cerimonial.
A idéia de planejamento cultural (Skinnor. 1953) vai ao encontro das 
metacontingências tecnológicas, no sentido de procurar sempre estabele­
cer situações sociais deliberadas e que sigam também uma evolução cul­
tural. acompanhando as mudanças que o ambiente sofre. As práticas cultu­
rais devem sofrer uma seleção natural para que continuem funcionais. A 
disfuncionalidade das práticas culturais, devido à Inobservância das mes­
mas, pode ser constatada atualmente na questão das regras e da estrutura 
da família A estrutura não é mais a mesma, pois o ambiente mudou. Nao 
há mais lugar para a família patriarcal nesses dias em que o capitalismo 
demanda o poder aquisitivo e impulsiona os indivíduos ao consumismo. A 
família teve que se adequar a esta necessidade criada, transformando seus 
membros em força de trabalho ativa.
Concluindo, entendemos que o conceito de metacontingôncia am­
plia o campo de estudo da análise do comportamento. Ele resgata a preo­
cupação de Skinner sobre planejamento cultural, já muito discutida em ’ Ci­
ência e Comportamento Humano’ . O desenvolvimento do conceito de 
metacontingência mostra a importância da realização da pesquisa básica, 
mas enfatiza o valor dos resultados desta pesquisa no estudo social
Estudos sobre Metacontingências
Todorov analisou a Constituição do Brasil sob o ponto de vista do 
conceito de metacontingência (Todorov, 1987). A Constituição de qualquer 
pa is traz. bem ou mal form uladas, m etacontingências cerim onia is e 
tecnológicas. A Constituição outorgada pela Junta Militar em 1969 tem 
metacontingências relacionadas principalmente ao processo cultural ceri­
monial. Mas mesmo a Constituição de 1969 prevê a possibilidade de 
metacontingências relacionadas ao processo cultural tecnologico. ao pre­
ver emendas desde que aprovadas por dois terços do congresso.
Todorov (1987) se preocupou com o momento de revisão da Consti­
tuição de 1988 e considerou várias reflexões sobre as metacontingências 
cerimoniais o tecnológicas da Constituição. Dentre estes pontos de refle­
xão estão as perguntas: uma vez especificada a metacontingência, como 
garantir a especificação das novas regras a serem apreendidas por todos e 
que afetará o comportamento de cada um? Todorov argumenta que na re­
visão da Constituição (o trabalho foi escrito e publicado durante a Constitu­
inte. antes da aprovação da Constituição de 1988) os constituintes deveri­
am se preocupar em não escrever uma Constituição extremamente ceri­
monial, frustrando as expectativas da população e esfacelando o amplo 
acordo politico que sustentou a transição para a democracia, e nem extre­
mamente tecnológica, com termos puramente abstratos como "a educação
Mal.i^.:n ‘,ino0i 03; OdPttiytartXul». cultum esociedndo 41
é um direito de iodos e um dever do Estado’ , que não apontam os cami­
nhos para a efetivação da idéia.
Lamal e Greenspoon {1992) descrevem uma rftetacontingència que 
controla a maioria dos comportamentos dos membros do Congresso cos 
EUA: a metacontingência da reeleição. Há um paradoxo entre os deputa­
dos e senadores: apesar de serem consistentemente reeleitos as pescui- 
sas mostram que os eleitores que os elegem têm pouca estima por eles. Os 
padrões de votação dos membros do congresso podem, em muitas vez-ss, 
ser acuradamente previstos porque o seu comportamento de votar ó posi­
tivamente e negativamente reforçado por grupos organizados (com interes­
ses especiais) que pagam, dão apoio financeiro para que votem em causas 
que são benéficas a esses grupos. Assim, não é surpreendente que o com­
portamento de votar as leis seja consistente com o ponto de v;sta de grupos 
organizados.
O controle de grupos organizados sobre o voto dos deputados e se­
nadores é relacionado em grande parte ao financiamento das campanhas 
eleitorais. Este controle tem crescido cada vez mais nos últimos 15 anos. A 
emergência e proliferação dos comitês politicos de ação tem um profundo 
efeito na contribuição das campanhas. Aqueles que votam nos candidatos 
(pela boa propaganda eleitoral) e os grupos organizados sáo sem dúvidas 
fontes de reforçamento deles. Algumas vezes os comités políticos funcionam 
como operações estabelecedoras (Michael, 1982. 2000). Semelhantes aos 
comitês de ação política são os lobistas. Nos EUA lobistas tèm adquirido 
considerável controle sobre deputados e senadores porque têm comando 
sobre a distribuição do dinheiro, especialmente ern fundos de campanha, e 
porque estão freqüentemente relacionados aos comités de ação política.
Um estudioso do Congresso americano descreveu três categorias de 
comportamento verbal dos congressistas, deputados e senadores: fazem 
propaganda, pedem verbas e tomam posições. Fazer propaganda envolve 
em sua grande parte tornar reconhecido popularmente seu nome. sendo a 
mídia, especialmente a televisão, uma importante fonte de controle em mas­
sa dos congressistas. A categoria de tomar posição significa fazer uma de­
claração em público que interesse aos constituintes e aos grupos organiza­
dos. A categoria de pedir verba consiste em fazer com que o governo provi­
dencie reforçadores aos constituintes, ou ao menos convencer os constituin­
tes que é ele o responsável pelo que é feito no interesse deles.
Alguns membros do Câmara e do Senado, que são raros, se res­
ponsabilizam por legislações que levam anos para serem aprovadas. Eles 
geralmente têm poucos votos e se engajam em temas controversos. Ape­
sar disso continuam sendo reeleitos. Mas o que os reforça é fazer um bom 
trabalho aos constituintes, o qual chega ao conhecimento dos eleitores pela 
repercussão na imprensa.
A partir desta análise Lamal e Greenspoon (1992) percebem um fe­
nômeno transcultural que serve de estrutura para a análise do comporta­
mento de sociedades e práticas culturais. Um dos fenômenos é o estabeleci­
mento e a manutenção de contingências que favorecem indivíduos ou gru-
42 JoA » C la J rt o TcrfccovMfJ» 8 M cnára
pos mas entram em conflito com o bem-estar da cultura. É o poder do 
reforçamento imediato do comportamento dos deputados e senadores que 
tem efeitos desastrosos para a sociedade a longo prazo, efeitos geralmente 
ignorados pela maioria do eleitorado.
A propaganda da campanha política rio Presidente George Bush 
(pai do atual Presidente George W. Bush) alterou para Laitinen o Rakos 
(1997), o controle da cadeia de comportamentos dos cidadãos que era con­
tro lada por re fo rçam ento negativo passando a se r con tro lada por 
reforçamento positivo. Operações estabelecedoras (Michael. 1982, 1983. 
2000) foram manipuladas para tomar o Iraque e Hussein estímulos aversivos 
e regras introduziram contingências aversivas: agressões espontâneas 
devem ser feitas contra eles para preservar a liberdade e a equidade. Isto 
estimulou uma concordância consensual "para fazer algo". Este "algo" pas­
sou para a história como a Guerra do Golfo. A solidariedade patriótica foi 
reforçada pelo reconhecimento d» que ações não militares desempenha­
vam um papel importante contra o perigo. Contudo, concorrentemente, o 
estímulo aversivo da organização e preparação de tropas para o combate 
foi introduzido muito gradativamente para evitar respostas discordantes ou 
de esquiva da população Posteriormente a organização das tropas milita­
res cresceu imensamente mas sempre acompanhada por estimulação po­
sitiva como se esta ação fosse parte de esforços diplomáticos ou de alian­
ça de vários países Quando a guerra começou, a açao m ilitar era um esti­
mulo positivo e a guerra tinha corro conseqüência reforçamento positivo e 
não negativo. Reforçamento positivo era assegurado ao não divulgar as 
conseqüências negativas da guerra e ao apresentar apenas as realizações 
tecnológicas e o sucesso das conquistas. Propaganda militar através da 
rnidia de massa transformou a Guerra do Golfo em um grande entreteni­
mento. ao qual os cidadãos respondiam com ‘entusiasmo patriótico". Os 
americanos aprenderam uma lição da experiência no Vietnam: para ganhar 
e manter o apoio ã guerra na era da comunicação em massa, o controle de 
estímulos deve ser manipulado precisamente, o reforçamento positivo deve 
ser d issem inado num grande esquema de difusão, considerando as 
metacontingôncias inter-relacionadas que operam nos conglomerados do 
mídia (Leitinen & Rakos, 1997).
Conclusão
Estes estudos sobre metacontingências fazem parte de uma peque­
na amostra do trabalho que os analistas do comportamento começam a fa- 
zor em nível sodal. Os trabalhos são importantes, mas é um campo de estu­
dos que está apenas começando. Ainda são apenas estudos descritivos, e 
só com o aperfeiçoamento destes poderemos efetivar estudos sociais rele­
vantes. aproveitando a oportunidade oferecida por verdadeiros exfjerimen- 
tos naturais em andamento. Lembrando Charles Darwin. a predição e o con­
trole não terão sucesso se o fenõrneno a ser previsto e controlado não for
M i-ViiunUngArcM * eomport»rn#nto. a j íu r a o tr.oeOe<lH 43
adequadamente descrito e para isso nosso mais novo instrumento paro o 
estudo ó a metacontingéncia. A volta do Iraque ao centro do interesse da 
politica extema dos Estados Unidos não deixa de ser uma excelente ocasião 
para conferir a análise funcional efetuada por Leitinen e Rakos (1997).
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Um estudo de Contingências e 
Metacontingências no Estatuto da 
Criança e do Adolescente
João Cláudio Todorov 
Maisa Moreira 
Mara Regina A. Prudêncio 
Gisele Carneiro Campos Pereira
'Um ponto importante no desenvolvimento de urna agência governa­
mental é a codificação de seus procedimentos controladores... Ge- 
ralmento a lei tem dois aspectos importantes Em primeiro lugar, es­
pecifica o comportamento... Em segundo lugar, uma lei especifica ou 
dá a entender certa consequência, usualmente punição. A lei è en­
tão o enunciado de uma contingência de reforço mantida por urna 
agência governamental.’' (Skinner, 1953/2000, p. 369-370).
O estudo de sociedades pea análise experimental do comportamento 
foi um tema de estudo relegado por muito tempo, apesar das contribuições 
o da ênfase de B F. Skinner soDre a análise social e cultural como um 
componente fundamenta! do behaviorismo radical (Malagodi, 1986). Mui­
tos trabalhos teóricos de Skinner (1953. 1955a, 1955b, 1956, 1957. 1961, 
1964, 1968a. 1968b. 1969, 1972 1974, 1978) têm em sua compreensão 
uma nova visão de mundo (cf. Michael, 1980; Todorov. 1982) que integra 
filosofia, ciência e princípios do comportamento dentro de uma teoriB 
epistemológica consistente e geral do comportamento humano. O maior 
e le m e n to desta v isã o de m undo es tá na e x te n sã o de p rin c íp io s 
comportamentais para a análisede processos sociais e culturais. Em ‘ Ci­
ência e Comportamento Humano" Skinner (1953) dedicou as três últimas 
s ignos para discutir oxtonRivamontn assuntos sobre a natureza, evolução, 
sobrevivência, valores e planejamento cultural.
Os novos estudos desse tema resultaram na construção da unidade 
de análise da cultura: a metacontingència (Glenn, 1986). Metacontingências 
são relações contingentes entre práticas culturais e suas conseqüências. 
São relações funcionais em nível de análise cultural, cuja existência deriva, 
mas nãoé equivalente a contingências comportamentais (Glenn, 1991). Uma 
metacontingència não é um arranjo de contingências Individuais do diferen­
tes pessoas. Ela consiste em contingências indiv iduais interligadas, 
entrelaçadas, em que todas juntas produzem um mesmo resultado a longo
camila paiffer
Highlight
JuAo CUiuiSo fo.1erov, M ooa M .r . i A PiusAmío.Otseíe C. Cantsm Pw«lia
prazo. O conceito de metacontingéncia permite efetivamente considerar o 
comporlamento de grandes grupos de indivíduos em certas situações Isso 
pode ser exemplificado pelos vários comportamentos envolvidos na redução 
da poluição do ar (Glenn, 1986).
Essa unidade de análise pode ser utilizada para o estudo de códi­
gos de leis. Em Estados dem ocráticos do d ire ito , com o o B rasil, as 
metacontingências percebidas na sociedade são deliberadas por represen­
tantes do povo eleitos para as Casas Legislativas, dai o seu caráter demo­
crático. Alguns exemplos são: a Constituição, o Código Penal, o Código 
Civil e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A Constituição do 
Brasil, por exemplo, já foi estudada a partir do conceito de metacontingéncia 
(Todorov, 1987).
O ECA pode ser considerado uma metacontingéncia, pois descreve 
comportamentos diferentes para os diversos segmentos da sociedade 
(juizes, promotores, cidadãos, conselheiros tutelares, psicólogos, pais, res­
ponsáveis, crianças, adolescentes). Esses diferentes comportamentos in­
tegram contingências semelhantes visando a um fim único: a proteção do 
crianças e adolescentes
No Brasil, a Lei Estatutária (ECA) encontra-se em vigor desde o ano 
de 1990, sendo, desde então, regulador de todos os procedimentos relati­
vos á proteção integral à criança e ao adolescente. Como exemplo da apli­
cação do ECA tem-se as diversas denúncias de abuso fisico ou sexual 
contra crianças que são feitas por cidadãos e levadas ao conhecimento do 
Conselho Tutelar ou da Vara da Infância do Município, as quais geram estu­
dos técnicos e a aplicação de medidas aos pais ou responsáveis, previstas 
no artigo 129.
O objetivo deste trabalho foi identificar as contingências tríplices 
entrelaçadas representadas nos artigos dispostos ao longo da Lei. Sua 
contribu ição fo i a geração de uma m etodolog ia para estudos sobre 
metacontingências em códigos de Lei, possibilitando pesquisas que visem 
a descrição de práticas culturais inseridas numa sociedade.
Método
O bjeto d e E stu do
O objeto de estudo da pesquisa é o Estatuto da Criança e do Adoles­
cente. Lei n° 8069, de 13 de julho de 1990, de acordo com as alterações 
dada pela Lei n° 8.242, do 12 de outubro do 1991. enquanto um conjunto de 
contingências entrelaçadas constituindo metacontingências (Glenn, 1986).
O Estatuto da Criança o do Adolescente ó composto por dois Livros 
Esses livros estão subdivididos em Títulos. Cada Titulo é subdivido em 
Capítulos Os Capítulos estão subdivididos em seções e estas últimas, em 
subseções. Resultando, portanto, em um total de 267 (duzentos e sessenta 
e sete) artigos dispostos na Lei.
camila paiffer
Highlight
M r’Jicontir«3#n < i# s concnxtanw nto. LÜtvJt» o & ;a trJ » Jo 47
In s tru m e n to de A nálise
O instrumento de análise utilizado foi a contingência tríplice, com o 
objetivo de identificar termos da contingência nos artigos o agrupar os unte- 
cedentes, comportamentos 0 conseqüentes de uma mesma contingência.
Critérios de Análise Utilizados
Antecedentes: descrevem contextos, condições e circunstâncias para ocor­
rência de comportamentos.
Comportamentos: estabelecem açâo esperada de um sujeito, a qual pode 
ser definida implícita ou explicitamente.
Conseqüentes: sáo conseqüências diretas de comportamentos definidos 
nas contingências.
Procedimento
Foram analisados os 267 artigos presentes na Lei, tendo como ob­
jetivo idontiticar os termos das contingências que representavam, por exem­
plo. se cada artigo referia-se a um antecedente, comportamento ou conse­
qüente, Localizado um artigo que descrevesse um antecedente, pesquisava- 
se a existência de artigos que apresentassem comportamentos e conse­
qüentes. contingentes ao antecedente.
O texto foi pesquisado soguindo-se a ordem numérica dos artigos, 
entretanto, na organização das contingências essa ordem foi desconsiderada, 
priorizando-se o agrupamento dos termos das contingências. Por exemplo, 
no lema Proteção à Vida e á Saúde, o antecedente da contingência é o artigo 
7 °:
Art. 7o - A criança e o adolescente tôm direito á proteção, d vida e à 
saúde, mediante a efetivação do políticas sociais públicas que penni- 
tam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condi­
ções dignas de existência.
O comportamento é representado no artigo 4L :
Art 4o - È dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e 
do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação 
dos direilos referentes à vida. à saúde, ò alimentação, à educação, 
ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, ã dignidade, ao 
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. 
Parágrafo Único - A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstânci­
as;
b) precedência do atendimento nos serviços públicos ou de relevân­
cia pública;
c) preferência na formulação e na execução cias políticas sociais públi­
cas;
48 J o ã o C d w O to T o iío fo v . M a lta í/ate.ira. M o ra H e s fn a A . P M d S r o o .é t e n in C C o m p o e P e re ira
d) destinaçôo privilegiada do recursos públicos nas áreas relaciona­
das com a proteção à infância e à juventude 
E a conseqüência encontra-se no artigo 129.
A /t 129 - São medidas aplicáveis aos pais oti responsável:
I - encaminhamento a programo oficial ou comunitário de promoção 
à família;
II - inclusão em programa oíicial ou comunitário de auxilio, orientação 
e tratamento a alcoólatras e toxicômanos:
III • encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; 
r IV - encaminhamento a cursos ou programas c!e orientação;
|, V' - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua fre-
|k qüôncia e aproveitamento escolar;
i[, VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento
especializado:
VII - advertência;
VIII - perda da guarda;
IX - destituição da tutela;
» X - suspensão ou destituição do pátrio poder.
*i| Parágrafo Único • Na aplicação das medidas previstas nos incisos IX
e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24.
Em toda a análise utilizava-se o artigo intoiro, apenas os artigos do 
T itu lo V II - D os C rim es e das In fra çõ e s A d m in is tra tiva s - fo ram 
desmembrados em parágrafos o penas, como pode ser observado abaixo:
ANTECEDENTES
Art. 7o - A criança e o adolescente têni direito à proteção, à vida e A 
saúde, mediante a efetivação de potiticas sociais públicas quo permi­
tam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso,, em condi­
ções dignas de existência.
COMPORTAMENTOS
Art. 245 - Deixar o médlço, professor ou responsável por estabeleci­
mento do atençáo à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou 
crocho, do comunicar ò autoridade compotonto os cüsos de que te­
nha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus- 
tratos contra criança ou adolescente:
CONSEQÜÊNCIAS
(ARTIGO 245) Pena - multade 3 (três) a 20(vinte) salários do roferênda, 
aplicando-se o dobro em caso de íeincidêndn.
Resultados e Discussão
M etenanttaQ A ncflB : c o m p tru m m rrto . c L l h « o * 4c c ró d m J« 49
O presente trabalho possibilitou o estudo da metacontingência en­
volvida no ECA, entendendo-se como metacontingência a unidade que des­
creve as relações funcionais entre classes de operantes, cada classe asso­
ciada a uma contingência tríplice diferente, e uma conseqüência comum a 
longo prazo, comum a todos os operantes na metacontingência. São essas 
conseqüências que ligam nossas ações do dia-a-dla e que podem ser con­
troladas pelas regras da sociedade como a Constituição e os Códigos de 
Leis (Todorov, 1987).
A metacontingência contida no ECA pode ser descrita no seu artigo 
1o: "Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.' 
Observando-se os artigos da Lei e organizando-os em contingências, per­
cebeu-se que formam dois conjuntos: contingências completas e incomple­
tas. Esses conjuntos entrelaçados procuram garantir uma conseqüência 
comum a longo prazo, a qual é descrita no artigo primeiro.
Na completa são encontrados os três termos da contingência: ante­
cedentes. comportamentos e conseqüências, como apresentado a seguir:
EXEMPLO 1:
TEMA: Saúde 
ANTECEDENTES
Art 7o - A criança e o adolescente tèm direito à proteção, à vida e à 
saúde, mediante a efetivação de políticas sociais publicas que permi­
tam o nascimento e o desenvolvimento sadio e hannonioso. em condi­
ções dignas de existência.
COMPORTAMENTOS
Ari. 228 - Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de estabele­
cimento de atenção A saúde de gestante de manter registro das ativi­
dades desenvolvidas, na forma e prazo referidos no art. 10 desta Lei. 
bem como de fornecer à partunente ou a seu responsável, por ocasião 
da alta médica, declaração de nascimento, onde constem as 
intercorrèncias do parte e do desenvolvimento do neonato:
CONSEQUÊNCIAS
(ARTIGO 228) Pena - detenção d e 6 ( seis) meses a 2 (dois) anos.
Também foi considerada contingência completa aquela que não 
apresentava antecedente especifico, ou seja. que não estabelecia a condi­
ção para a ocorrência do comportamento. A falta de um antecedente espe­
cífico não impede o entendimento da contingência, pelo contrário, permite 
maior flexibilidade na interpretação da Lei, visto que o comportamento re­
querido deve ocorrer em qualquer condição, como se segue'
EXEMPLO 2:
camila paiffer
Highlight
Joao Oáitoo TodDfiA', Mr.iCíi M jíH lld. Maru R oy lr.i A. P-u:fftncti>,ais*lfr C. C:iini>3« P*n;«.i
TEMIA: Direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer 
COMPORTAMENTOS
Art. 5 6 -O s pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus 
lilhos ou pupibs na rede regular de ensino.
CONSEQUÊNCIAS
Art. 129 - São medidos aplicáveis aos pais ou res/x>ns<s\'el:
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de promoção à 
famiüa;
II - inclusão om programa oficial ou comunitário de auxilio, orientação e 
tratamento a alcoólatras o toxicômanos;
III - encaminhamento a tratamento psicológico ou pstquiótnco:
IV - encaminhamento a cursos ou programas do orientação:
V - obrigação de matricular o filho ou [x/pilo e acompanhar sua freqüên­
cia e aproveitamento escolar;
VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento 
especializado,
VII - advertência;
VIII ■ perda da guarda;
IX - destituição da tutela;
X - suspensão ou destituição do pátrio poder.
Parágrafo Único - Na aplicação das medidas previstas nos incisos IX e
X deste artigo, i>b$er\’ar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24.
Considerou-se contingência incompleta aquela formada por um ou 
dois termos da contingência (por exemplo, um antecedente sem comporta­
mento ou conseqüência). Isso pode ser observado no Exemplo 3:
EXEMPLO 3:
TEMA: Convivência familiar e comunitária 
ANTECEDENTE
An. 20 - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por 
adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quais­
quer designações discriminatórias relativas á filiação
Este artigo dispõe sobre os direitos dos filhos havidos do casamen­
to ou por adoção. Porém, náo so encontrou no texto um comportamento 
esperado diante deste antecedente, bem como uma conseqüência.
É importante ressaltar que os artigos 1o e 6o por apresentarem uma 
descrição geral foram considerados antecedentes gerais que permeiam todo 
o texto
O agrupamento dos artigos para fomiar uma contingência não obe­
dece a uma ordem numérica, uma vez que os antecedentes, comporta-
Mn*iiconUnginci!iH' «m p o n o r if in lo . c u M r r .« s ixto dad» 51
mentos e conseqüentes não se encontram em artigos próximos. Observou- 
se que as penas se encontravam nos últimos artigos do Livro II. Os artigos 
que contõm comportamentos estão na Parte Especial, e os principais ante­
cedentes no Livro I. Tal configuração é observada no Exemplo 1.
Semelhante fragmentação das contingências no toxto pode ser 
verificada também na distribuição dos temas (especificado a seguir), ou 
seja, um tema como Flagrante de Ato Infracional surge no Livro I assim 
como no Livro I! (artigos relacionados a procedimentos). Essa disposição 
dos artigos pode representar uma dificuldade no manuseio da Lei Estatutária 
à medida que, para aplicá-la, o intérprete da Lei (juiz, promotor, advogado, 
delegado) e o cidadáo comum devem percorrer todo o livro para encontrar 
os artigos que remetam ã situação em estudo.
No ECA os artigos são divididos em temas. Na análise, alguns des­
ses temas foram agrupados resultando em 29 temas para este trabalho. 
São eles: Saúde, Liberdade, Família, Pátrio Poder, Guarda, Tutela, Ado­
ção, Educação e Esporte. Profissionalização, Prevenção, Produtos e Servi­
ços, Autorização para Viajar. Entidades de Atendimento, Medidas de Prote­
ção, Ato infracional, Garantias Processuais, Medidas Sócio-Educativas, 
Conselho Tutelar, Acesso á Justiça, Juiz, Serviços Auxiliares, Procedimen­
tos. Apuração de Infração Administrativa, Recursos, Ministério Público. 
Advogado, Proteção de Direitos. Crimes e Infrações Administrativa e Dis­
posições Finais. É interessante observar que o entrelaçamento de contin­
gências se dá na existência de contingências semelhantes presentes em 
cada tema, ou seja, todas apresentam o mesmo objetivo: garantir direitos 
da criança e do adolescente.
Na análise de contingências completas e incomplotas por tema veri­
ficou-se que o maior númoro do contingências completas se encontra nos 
temas Prevenção e Saúde. O conteúdo do tema Prevenção se relera tanto 
à exposição da criança e do adolescente a produtos de entretenimento - 
como filmes, shows, espetáculos e revistas - quanto ao consumo de subs­
tâncias e objetos que possam causar danos fisicos e psicológicos - álcool. 
O tema Saúde apresenta os direitos da criança e do adolescente referentes 
ao atendimento hospitalar e tratamento médico. Essas contingências com­
pletas indicam que há conseqüências descritas para controlar os compor­
tamentos desejados e que os legisladores se preocuparam em garantir di­
reitos básicos para a criança e o adolescente, desde o acompanhamento 
pré-natal para a mãe, até a atenção que o jovem deve receber no Sistema 
Único de Saúde
Os cinco outros temas com maiores escores são: Família. Educa­
ção e Esporte. Alo Infracional. Liberdade e Guarda. Os quatros primeiros 
parecem mostrar a preocupação com os procedimentos e condições de 
aplicação da Lei com relação aos comportamentos inadequados dos ado­
lescentes (como roubo, furto e homicídio).
Esses altos escores de contingências completas nestes temas de­
monstram uma característica importante do Estatuto que é a de prevenção 
à violação do direito das crianças e adolescentes, dando pouca ênfase a 
procedimentos punitivos.
52 .!»&:> flá .in n Todrrov M rit» M -ieiM . M.ir.i R o g ii« A Poííftlclo.OanlsC . Campa» - ‘e ie irx
Os temas com menores escores de contingências completas (oram 
Pátrio Poder, Profissionalização, Medidas de Proteção, Juiz, Serviços Auxi­
liares, Procedimentos. Apuração de Infraçáo Administrativa, Recursos. M i­
nistério Público, Advogado, Proteção de Direitos. Crimes e Infrações Admi­
nistrativas e Disposições Finais.
A falta de conseqüências para os comportamentos contidos nesses 
temas (como pode ser observado no Exemplo 4, abaixo) deve-se ao fato de 
existirem leis específicas que regulam as atribuições de cada agência 
controladora, como. por exemplo, a atividade dos Juizes que é regulamen­
tada pela LOMAN - Lei Complementar n° 35/79 e a atividade dos Promoto­
res que ó regulamentada pela Lei Complementar n* 75/93. Verifica-se. a 
partir de então, a necessidade de uma análise que faça a inter-relação 
entre o ECA e as leis correlatas a ele.
EXEMPLO 4:
TEMA: Do Juiz 
ANTECEDENTES
A ri 146-A aulondade a que se refere esta Lei è o Juiz da Infância e 
da Juventude, ou o Juiz que exerce essa funçao, na forma da / ei de 
Organização Judiciária locai
Ao formar as contingências percebeu-se que há artigos que partici­
pam de várias contingências diferentes. Os dados que remetem ao número 
de repetições de artigos nas contingências mostram o quanto a Lei é aber­
ta. o quanto não define bem as contingências, pois 34 artigos, de 267 no 
total, ou seja, quase metade dos artigos se repete duas vezes ou mais para 
que as contingências sejam formadas. Esse número de repetições sugere 
possíveis dificuldades na interpretaçáo da Lei. pois esta pode parecer in­
completa. No agrupamento de artigos para formar as contingências, a re ­
petição pode suprir as lacunas da Lei fechando-a a diferentes possibilida­
des de interpretação, pois a contingência descreve as possibilidades de 
ação do sujeito e as conseqüências precisas para suas ações.
Como resultado geral desta análise do contingências, obteve-se o 
percentual de 47,22% de contingências completas e de 52,77% de contin­
gências incompletas. Dada a importância do papel do ECA na sociedade 
brasileira e o fato de que uma lei seria escrita para que comportamentos 
possam ser controlados, esses resultados revelam que estas contingências 
incompletas podem ser uma das causas de problemas encontrados em sua 
aplicação. Essa falta de clareza em especificar as contingências pode, tam­
bém. levar em um nível prático, a possíveis incertezas quanto ao papel exer­
cido por cada agente que se encontra sob as diretrizes do ECA Cabe ressal­
tar que. em uma análise qualitativa, mesmo os artigos, os quais contém com­
portamentos, são pobres em descrevê-los operacionalmente, deixando as­
Motaoorengúioíi*. oonpnruntnlo. ojri.ru e woxIaiM 53
sim, à cargo da autoridade judiciária uma ampla interpretação discricionária 
da Lei.
Um artigo incompleto abre precedente para várias interpretações, pois 
ao não esclarecer qual a conseqüência para a ação, esta pode ser manipulada 
articulando-se diferentes artigos para crimes semelhantes Isto pode ser visto 
diariamente, nos jornais, nas manipulações da lei feitas por Juizes. Quando o 
ECA enuncia que é dever da familie, da comunidade, da sociedade em geral e 
do Poder Público assegurar os direitos do saúde e alimentação (artigo 4o) e 
não especifica a conseqüência para o náo cumprimento desta ação, o resulta­
do jurídico de uma sentença para este caso pode ser distinto para famílias 
diferentes (ou níveis sociais diferentes) que incorrem no mesmo delito.
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Todorov J C. (1987). A Constituição como Metaconllngência Psicologia: Ciência e 
Profissão, 7. 9 - 13.
Contingências Entrelaçadas e 
Contingências Não-Relacionadas
João Cláudio Todorov 
Márcio Borges Moreira 
Maísa Moreira
"Quando falamos de planejamento deliberado' da cultura, queremos 
indicar a produção de uma prática cultural 'por causa da suas 
consequências" (Skinner. 1953/2000, p 465).
Os analistas do comportamento por décadas concentraram seus 
esforços no aprim oram ento conce itua i e experim enta l de questões 
concernentes ao comportamento de indivíduos. Este fato reflete positiva­
mente na quantidade e na qualidade de conhecimento produzido na área. 
No entanto, tanto esforço dedicado ao comportamento de indivíduos rele­
gou a um segundo plano estudos sobre o que Skinner (1953) chamou de 
comportamento de pessoas em grupo e o estudo de práticas culturais. A 
relevância de uma abordagem comportamental de práticas culturais, ape­
sar de ressaltada por Skinner cinco décadas atrás, permaneceu na pe­
numbra até a década de 80, quando Sigrid Glenn (1986) trouxe à tona o 
assunto com o conceito do metacontingencia. A iniciativa de Glenn não 
só retomou o assunto como também tem despertado o interesse de alguns 
analistas do comportamonto (Todorov, 1987; Andery & Sério. 1997; Lamal, 
1991; Rakos, 1991; Martone, 2003; Todorov & Moroira, 2004).
A possibilidade do lidar com comportamentos que vão muito além 
do comportamento de um único indivíduo, utilizando-se de referencial pró­
prio ô, indubitavelmente, um grande passo para a Análise do Comporta­
mento. Questões de destacada reíevància político-social têm sido aborda­
das sob a perspectiva do metacontingências: reeleição do congresso nor­
te-americano (Lamal & Greenspoon, 1992); controle da opinião pública 
amencana sobre a Guerra do Golfo (Rakos. 1993); controle corporativo da 
mídia (Laitinen & Rakos. 1997); a Constituição brasileira (Todorov, 1987), 
entre outros trabalhos.
Glenn (1986) dofine metacontingências como contingências indivi­
duais entrelaçadas (interlocking em inglês no original), em que todas elas 
juntas produzem um mesmo resultado a longo prazo. Metacontingências 
envolvem contingências socialmente determinadas. O elo de comporta­
mentos individuaisem uma metacontingência é a conseqüência a longo 
prazo que afeta toda a sociedade (ou grupo de pessoas). Este mesmo
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56 J o A o C lé u iJ o t& d cv o v . »/ . ir ;:o M n rn im . M a « a M o r e r a
conceito é apresentado em todos os estudos feitos sobre metacontingência 
ató 2004 (ex. Todorov, 1987; Rakos, 1991; Lamal 1992; Andery e Sério, 
1997, Boher, 1998; Martone, 2003; Todorov & Moreira 2004) e em publica­
ções subseqüentes da própria Glenn (1988, 1990, 1991).
É comum, nas ciências, mudanças, refinamentos, redefinições e 
aprimoramento de conceitos. Temos, como exemplo, o próprio conceito do 
operante que foi bastante modificado (Todorov, 2002) dosde sua proposi­
ção (Skinner, 1938). Não seria, portanto, estranho ou anormal que o con­
ceito de Metacontigência apresentasse alguma inconsistência ou não fos­
se exatamente descritivo dos fenômenos aos quais se aplica. É neste sen­
tido. e com a intenção de tom ar mais claro o conceito de Metacontingência. 
como proposto por Glenn, que expomos neste artigo nosso ponto de vista 
sobre o assunto.
Ao confrontarmos o conceito com os vários exemplos que são apre­
sentados nos trabalhos sobre metacontingências, bem como com exem­
plos hipotéticos, o uso de um termo especifico no conceito nos chama a 
atenção: contingências entrelaçadas.
O dicionário Michaelis (2000) define entrelaçar como enlaçar reci­
procamente. Enlaçar, por sua vez. é definido como prender, ligar, ter cone­
xão ou relação. Ao afirmar-se, portanto, que metacontingências são contin­
gências individuais entrelaçadas estamos falando (a) de algum tipo de liga­
ção ou conexão entre essas contingências individuais e (b) que esta liga­
ção, seja de que natureza for. deve ser necessariamente mútua. Quando 
conectamos um aparelho televisor a uma tomada geralmente dizemos quo 
o aparelho está ligado na tdtnada, e náo interligado. A direção da ligação é 
única (televisor tomada). No entanto, quarido queremos dizer que duas 
pessoas estão so comunicando via satélite, dizemos que elas estão interli­
gadas via satélite. A ligação se dá em dois sentidos (pessoa A U pessoa 
B). O conceito apresentado por Glenn estabelece que o elo entre compor­
tamentos individuais em uma metacontingência é a conseqüência a longo 
prazo que afeta toda a sociedade (ou um determinado grupo). Este elo 
parece-nos ser o ponto defin idor - necessário e suficiente - de uma 
metacontingência e, neste caso, as contingências individuais estariam li­
gadas a uma m esm a conseqüência a longo prazo. Não ó necessário nem 
mesmo dizer e em alguns casos não ó possível que as contingências 
individuais estão ligadas pe la conseqüência a longo prazo.
O termo contingências entrelaçadas parece-nos estar sendo utiliza­
do em dois sentidos: (a) para denotar relações entre as contingências indi­
viduais e; (b) para ressaltar que as conseqüências resultantes de contin­
gências individuais são mais que a simples soma destas contingências, 
visto que os resultados obtidos nunca seriam atingidos por uma única pes­
soa, ou por pessoas agindo independentemente (Glenn, 1991; Andery à 
Sòrio 1999). Esta relação é entendida como contingências Individuais que 
afeiam outras contingências individuais. Neste caso (b), contingências indi-
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>.ViUu.xiliny-1i* ;as : aiinportan*»nx». -uIIiim « socmuvk» 57
viduais podem ser ditas entrelaçadas, se entendermos o termo entrelaçadas 
como o proposto por Skinner, ao falar sobre esquemas de reforçamento. 
(1969, pp 120): where the behav io r o f one organism a lte rs the
conlingencies affecting another, and v ic e -v e rs a Esta relação, no entanto, 
não é necessária para que um conjunto de contingências individuais se 
constitua em uma metacontingência. O primeiro uso apontado (a) sinal-za 
apenas um certo tipo agrupamento entre coisas - neste caso contingênci­
as. que resulta em uma conseqüência que, sem este agrupamento, rã o 
seria possivel. Para ilustrar, podemos fazer uma analogia com eventos da 
Física.
Suponha que para mover um determinado objeto seja necessário 
aplicar uma força de 10N. e que você não disponha de nenhuma fonte que 
possa aplicar essa força (10N) ao objeto. No entanto, você tem três fontes 
de força (vetores 1 .2 e 3 de mesmo sentido e direção): dois vetores de 3N 
e uin de 4N. O objeto só se moverá se os três vetores forem aplicados. 
Neste caso, a conseqüência - mover o objeto - só ocorrerá devido à aplica­
ção dos três vetores ao objeto. Os físicos, neste caso, não diriam que os 
três vetores se entrelaçaram para a produção da conseqüência última (m o­
ver o objeto).
Em uma metacontingência (definindo esta pela conseqüência a lon­
go prazo que ocorre em função de uma série de contingências individuais) 
podemos ter contingências individuais que afetam outras contingências in­
dividuais, bem como contingências que. simplesmente, ocorrem com uma 
relativa simultaneidade.
Tomemos com o exem plo, para ilus tra r nossos argum entos, a 
metacontingência da despoluição ambiental - para efeito de simplificação, a 
despoluição de um río. Suponhamos que um agricultor - que planta milho - 
more sozinho às margens desse rio. Ele houve dizer que há na cidade próxi­
ma uma nova semente de milho, e que este milho (um transgènico) não 
necessita do uso de defensivos agrícolas - defensivos estes que poluem o 
rio. Apesar da semente nova ser um pouco mais cara que a convencional o 
agricultor faz as contas e descobre que terá um aumento de 30% nos lucros 
se usá-la, já que economizará ao não utilizar pesticidas, além de obter um 
pequeno aumento na produtividade. O agricultor então planta a semente 
transgênica. Ao assim fazer o inadvertido agricultor já está fazendo parte de 
nossa metacontingência de despoluição do rio.
Cinco quilômetros á frente da pequena propriedade deste agricultor, 
também às margens do rio, encontra-se um curtume. Este curtume, apesar 
de pequeno, despeja diariamente centenas de quilos de subprodutos resul­
tantes do beneficiamento de couro - outra fonte de poluição do nosso rio. O 
dono deste curtume, pesquisando na Internet, descobre que se ele deposi­
tar os dejetos que lança diariamente no rio em um recipiente devidamente 
fechado, ele poderá obter, devido à fermentação dos dejetos, um pequeno 
estoque de butano (gás combustível), que poderá utilizar como fonte alter­
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58 J o f io C lá u n lo \c*iuv/, M A ru o B u p a s M i r a r a . M u i » r .U f g r a
nativa de energ;a em seu curtume. Ele assim o faz, e reduz em 50% a 
quantidade de dejetos que joga diariamente no rio. Mais uma contingência 
individual passa a fazer parte de nossa metacontingéncia.
Em uma pequena cidade, pela qual o rio passa, o prefeito, que vem 
aumentando sua fortuna possoal rapidamente, deseja superfaturar mais 
uma obra. Como a cidade já possui um ginásio de esportes, um pequeno 
centro de vendas para ambulantes e duas pontes, o prefeito opta por cons­
truir uma estaçào de tratamento de esgoto, que depois de pronta reduzirá 
em 25% a quantidade de esgoto não-tratado jogado diariamente no rio, 
constituindo, até o momento, a terceira contingência individual em nossa 
metacontingéncia.
O exemplo acima, apesar de caricato, ilustra bem nosso ponto de 
vista sobre o entrelaçamento de contingências individuais. Nenhuma das 
contingências apresentadas tem qualquer relação com as demais, no en­
tanto a ocorrência das três produzirá, a longo prazo, uma conseqüência 
para aquela comunidade, que é a despoluição do no que os abastece de 
água, e continuará abastecendo por um tempo ainda maior.
Contingências individuais, no entanto, podem estar de alguma for­
ma relacionadas dentro de uma metacontingéncia, sobretudo no que se 
refere à ‘ expansão“ destametacontingéncia, e a i sim temos oportunidade 
para utilizar o sofisticado termo: entrelaçamento de contingências.
Continuando o exemplo de despoluição do rio, suponhamos que há 
naquela pequena cidade uma ONG que sai de porta em porta dando escla­
recimentos sobre a importância de se preservar recursos naturais e infor­
mando aos moradores da cidade como contribuir para esta preservação. 
Neste caso os comportamentos individuais dos membros da ONG se entre­
laçam aos comportamentos individuais dos moradores, tendo, portanto, o 
duplo papel de ação e ambiente comportamental para ação de outros (Glenn,
1991).
Outro aspecto importante a ser considerado é que as contingências 
individuais dentro da metacontingéncia não são mantidas necessariamen­
te pela conseqüência a longo prazo comum a todas as contingências, mas 
também pelas conseqüências diretas de cada contingência individual. Como 
vimos no exemplo anterior o comportamento dos três primeiros agentes na 
metacontingéncia nào estava sob o controle da despoluição, mas sob o 
controle de obter lucros individuais. Dessa forma, contingências individuais 
podem se perpetuar indefinidamente mantidas apenas por suas conseqü­
ências próximas (o nosso esperto agricultor pode continuar usando a se­
mente de milho transgênico enquanto for lucrativo, sem jamais se preocu­
par com a qualidade da água do rio).
O que tentamos expor, portanto, é que uma Metacontingéncia pode 
ser definida por um conjunto de contingências individuais que. a longo pra­
zo, resultam em uma conseqüência comum, diferente das conseqüências 
das contingências individuais, para um determinado grupo de indivíduos.
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»/ c U w o rt n p e n o B S c o r a o r t a in n iv a , a u lliiv i *i aor.iBon&i 59
Se contingências individuais so entrelaçam, ou se a conseqüência comum 
ao grupo passa a controlar o comportamento de indivíduos são pontos que 
pertencem á análise de uma metacontingéncia em particular, não á sua 
definição.
Referências Bibliográficas
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Porto Alegre
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Comportamento Social: 
A Imprensa como agência e 
ferramenta de controle social1
Ricardo Corrêa Martone 
Roberto Alves Banaco
'O grupo exerce um controle ótico sobre cada um de seus membros 
através, principalmente, de seu poder de reforçar ou punir. O (xxler 
deriva do número e da importância de outras pessoas na vida de 
cada membro. Geralmente o grupo não é bem organizado, nem seus 
procedimentos sáo consistentemente mantidos. Dentro do grupo, en­
tretanto. cortas agências de controle manipulam conjuntos particula­
res de variáveis. Essas agências são geralmente mais bem organi­
zadas que o grupo como um todo, e frequentemente operam com 
maior sucesso." (Skinner, 1953/2000, p. 363).
A análise do comportamento estabelece como seu objeto de estudo 
a relaçáo do organismo com o ambiente ã sua volta, e enfatiza a importân­
cia das variáveis ambientais e do organismo na determinação do compor­
tamento. Grande parte das descobertas dos princípios comportamentais 
ocorreu a partir de pesquisas experimentais com sujeitos não humanos e 
apresentavam, como objetivo principal, a descrição das relações entre o 
organismo e o ambiente. A principal descoberta que marcou a análise do 
comportamento e a diferenciou de outras abordagens ccmportamentais foi 
o comportamento operante, caracterizado pela ação do indivíduo sobre o 
ambiento, modificando-o e, por sua vez sendo modificado pelas conseqü­
ências de sua ação (Skinner. 1957/1978).
O comportamento pode ocorrer tanto em ambientes não sociais como 
om ambientes sociais. Numa situação não social o organismo opera direta­
mente sobre o ambiente, o qual estabelece as condições nas quais uma 
resposta emitida pelo organismo será reforçada. Por exemplo, num procedi­
mento de discriminação simples um rato responde pressionando uma banra 
colocada à esquerda da caixa experimental na presença da luz verde; já na 
presença da luz vermelha ele pressiona uma barra colocada á direita da 
caixa, recebendo uma pelota de alimento apôs as respostas. Por outro lado,
1 O profcent» irabalho é uhvj voreão abrev iada d a d íssarlação do m estrodo do oiiriw lro autor 
apffisonbitla. em 2003 . a o Program a d e EaUidOS Pós-G raduados em Psicologia Experim ental; 
ArAlfBé do Coffiportam nnto d » PU C -S P , sob orientação do segundo autor
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62 fticcrdo Cor1'!'» Maojoa, KitiMtf> N w t Barmcn
existem situações nas quais a presença de outros organismos pode alterar a 
relação com o ambiente. Nesses casos, a complexidade aumenta, pois há 
uma interação entre pelo menos dois repertórios comportamentais. Skinner 
(1953/1994) descreveu um experimento que estabelecia uma situação coo­
perativa entre dois pombos:
"...dois pombos foram colocados em gaiolas adjacentes separadas 
por uma placa de vidro. Junto ao vidro, lado a lado. havia duas colu 
nas verticais de Irês botões cada. uma coluna ao alcance de cada 
pombo. O aparelho foi montado para reforçar ambos os pombos com 
comida, mas apenas quando bicavam botões correspondentes, si­
multaneamente. Apenas um par de botões funcionava em um mes­
mo momento. A situação requeria uma cooperação ainda mais com­
plicada. Os pombos deveriam explorar os três pares para descobrir 
qual o eficaz,e deviam bicar os dois botões em cada par ao mesmo 
tempo. Essas contingências devem ser divididas. Um pombo - o ti- 
der - explora os botões, bicando-os em uma ordem característica ou 
mais ou menos ao acaso. O outro - o liderado - bica o botão oposto, 
seja qual for o botào bicado pelo líder. O comportamento do liderado 
é quase exdusivamente controlado pelo íider, cujo comportamento 
por sou turno é controlado pelo aparelho que atribui ao acaso os 
reforços entre os três pares de botões. Dois liderados ou dois lideres 
colocados juntos só casualmente resolvem o problema A função do 
líder pode mudar de um pássaro para outro em um periodo de tem­
po, e pode se originar uma condição temporária na qual os dois são 
liderados“ (p. 293).
Na situação experimental do discriminação simples descrita anterior­
mente a ação do sujeito se deu diretamente sobre o ambiente, sem a articu­
lação com outro organismo e sem sua mediação. Portanto, trata-se de res­
postas emitidas num ambiente não social. O experimento dos pombos, en­
tretanto, demonstra o envolvimento entre o repertório comportamental de 
dois organismos que compartilham o mesmo ambiente. Neste caso pode-se 
falar que os pombos se comportam em um ambiente social.
Grande parte do comportamento humano ocorre em ambientes so­
ciais que se caracterizam principalmente pela importância de uma outra 
pessoa como integrante fundamental desses ambientes. Essa outra pes­
soa apresenta uma peculiaridade: pode ser um “falante' ou um “ouvinte', 
ou seja. possui a capacidade, selecionada filogenéticamente de emitir e 
ouvir sons, aliada à capacidade, selecionada ontogenetica e culturalmente, 
de se comunicar por meio de signos linguísticos. O fato de o homem poder 
sor um “falante" e um ‘ ouvinte’ apresenta, de imediato, uma implicação: a 
ação sobro o ambiente pode ser indireta, pela mediação de outras pesso­
as. Por essa razão o comportamento verbal é comportamento social. Skinner 
(1953/1994) definiu comportamento social como *o comportamento de duas 
ou mais pessoas uma em relação à outra ou em conjunto em relação ao 
ambiente comum" (p.285).
MevuTMtfirrçOncjftii m irocrtan ien io . cu tura » scowJaJt» 63
Podem ser retomados agora os seguintes aspectos tão importantes 
para a compreensão do que Skinner chama de ambiente social e comporta­
mento social. O comportamento social, como o próprio nome diz, ocorre em 
ambientes sociais. O comportamento social caracteriza-se pela ação conjun­
ta de dois ou mais organismos em relação, um com o outro, ou conjuntamen­
te em relação a um ambiente comum e. no caso de humanos, apresenta a 
vantagom de agir indiretamente sobre o ambiente por meio do comporta­
mento verbal. O ambiente social, por sua vez, apresenta todos os aspectos 
de um ambiente nào social, como. por exemplo, estímulos antecedentes e 
conseqüências, com a peculiaridade desses aspectos poderem ser estabe­
lecidos por outras pessoas. Como afirmou Skinner (1953/1994):
“Muitos reforços requerem a presença de outras pessoas. Em alyuns 
desses (reforços] como em certas formas de comportamento sexual 
ou pugilistico, a outra pessoa meramente participa como um mero ob­
jeto. Nào se pode descrever o reforço sem referência ao outro orga­
nismo. Mas o reforço social geralmente é uma questão de mediação 
pessoal. Quando a màe alimenta a criança, o alimento, como um refor­
ço primário, nào ó social, mas o comportamento da mão ao apresenta- 
lo é... O comportamento verbal sempre acarreta reforço social e deriva 
suas propriedades características desse fato. A resposta ‘um copo 
dágua por favor' nào tem efeito no ambiente mecânico, mas em um 
ambiente verbal apropriado pode levar ao reforço primário. No campo 
do comportamento social dá-se imporlància especial ao reforço com 
atenção, aprovação, afeição e submissão" (Skinner, 1953/1994. p.286).
A definição de comportamento social apresentada por Skinner (1953/ 
1994) o distancia de outras áreas do conhecimento que abordam os fenóme­
nos sociais em termos de "leis sodais". "forças sociais" e 'situações socia s", 
que não levam em consideração que os fenômenos sociais são. a partir da 
perspectiva de Skinner, determinados e constituídos por comportamentos do 
indivíduos em interação. Uma antiga lei da Economia chamada Lei de 
Gresham, diz Skinner, afirma que ‘ a moeda má tira de circulação a moeda 
boa". Entretanto, diz ele. ossa lei pode ser explicada em termos do contin­
gências de reforço: "se o indivíduo quo possui dois tipos de moeda, uma boa 
e outra má. tende a gastar a má e guardar a boa (...) e se é válido para um 
grande número de pessoas, surge o fenómeno descrito pela lei de Gresham. 
O comportamento do indivíduo explica o fenómeno do grupo" (p 286).
Skinner apontou ainda uma questão metodológica importante no 
momento em que afirma que sua preocupação é com a extensão dos prin­
cípios comportamentais utilizados para a análise do comportamento do in­
divíduo para análise dos fenômenos de grupo. Sua postura podo sor cons­
tatada a seguir:
‘ Aplicar nossa análise aos fenômenos do grupo é um modo excelen­
te de testar sua adequação, o se formos capazes de explicar o com­
portamento de pessoas em grupos sem usar nenhum termo novo ou
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64 líctirdo Ccoéa RobflisoAlvee Bar«*»
sem p(t)ssu{Xir nenhum novo processo ou princípio, teremos demons­
trado uma promissora simplicidade nos dados ' (Skinnor, 1953/1994. 
p. 286).
Alguns analistas do comportamento, interessados em análises de 
fenômenos sociais e que vêm contribuindo com proposições e discussões 
teóricas que possam fornecer e auxiliar o desenvolvimento de instrumentos 
de anàfise para lidar com fenómenos sociais, apontam, a partir das propo­
sições de Skinner que:
1} analisar fenómenos sociais não e a mesma coisa quo analisar a soma 
das contingências individuais dos participantes do grupo, dado que os 
efeitos da ação em conjunto não podem ser alcançados somente com a 
participação de um único indivíduo ou sem a participação dos outros 
(Glenn, 1986, 1988, 1991; Malagodi. 1986; Pierce, 1991);
2) os princípios quo rogulam o comportamento social são os mesmos quo 
regulam o comportamento não social (Pierce. 1991; Skinner, 1953/1994)
A partir dos parâmetros teóricos e metodológicos estabelecidos por 
Skinner em 1953 e em outros trabalhos (1948/1978, 1971/1983, 1978). al­
guns analistas do comportamento vêm demonstrando um crescente inte­
resse pelo estudo de fenômenos sociais de larga escala, pela busca por 
soluções de problemas sociais e pelo planejamento de práticas culturais 
(Biglan, 1995; Glenn, 1986, 1988,1991; Guerin. 1992,1994; Holland, 1978; 
Kunkel. 1970; Malagodi, 1986; Malagodi & Jackson, 1989; Mattaini & Thyer, 
1996: Pennypackor, 1986). Algumas razões para o interesse no estudo de 
fenômenos sociais de larga escala são:
1) a necessidade de dar continuidade às tentativas de Skinner em incluir 
análises sociais como componentes fundamentais do behaviorismo ra­
dical ampliando assim o campo de atuação do analista do comporta­
mento (Malagodi, 1986);
2) o estudo dos problemas do indivíduo conduz a determinantes que estão 
no vasto mundo social (Kunkel & Lamal, 1991):
3) o desenvolvimento de novas ferramentas teóricas que capacitam o ana­
lista do comportamento a ir além do indivíduo único e de pequenos 
grupos. Entre essas ferramentas estão: o comportamento governado 
por regras e metacontingências. que vêm sendo considerados como 
conceitos legitimos e apropriados para análise de fenômenos de gran­
de escala (Kunkel & Lamal, 1991).
Metacontingências e a análise de fenôm enos sociais de 
grande escala
Alguns autores que vêm se dedicando ao estudo de práticas culturais 
(Andery & Sério. 1999; Glenn. 1986, 1988, 1991; Kunkel. 1991; Kunkel & 
Lamal, 1991; Lamal & Greenspoon. 1992; Malagodi & Jackson, 1989; Rakos 
1991; Todorov, 1987) em questões referentesa: organizações, sistemas po-
»/«taBcntlnpSntf«»: ajmoortainBrta cultura « eoo&oaoí 65
lítico-económicos, sistemas penitenciários, sistemas de saúde, educação, 
influência da mídia2 no mundo oonternporàneo, movimento feminista (Martone. 
2000), salientam a importância do conceito de metacontingências como for­
ma de se analisar fenómenos de grande escala.
Metacontingências doscrevem relações funcionais em um nível dis­
tinto do comportamento individual- elas descrevem a relação entre práticas 
culturais e seus produtos (Andnry & Sério, 1999). Práticas culturais são 
compostas de muitas contingências comportamentais entrelaçadas. São 
as contingências comportamentais entrelaçadas que permitem aos seres 
humanos agirem no ambiente em conjunto, possibilitando uma série de 
conseqüências que não seriam possíveis de serem produzidas somente 
pela da ação de um único indivíduo.
Essas contingências sao de fundamental importância para a com­
preensão do comportamento humano dentro da cultura e das formas pelas 
quais novos indivíduos são inseridos para dentro dela. Quando um novo 
indivíduo vem ao mundo, a cultura necessariamente precisa ntroduzi-lo 
dentro de suas vastas redes de relações O excessivo cuidado que o bebê 
humano necessita para sobreviver demonstra a necessidade de uma pro- 
paração para sua inserção cultura!. O ambiente encontrado por ele já está 
pronto e algumas partes fundamentais (do ambiente) devem adquirir, para 
a sobrevivência do novo indivíduo, alguma função comporta mental. A co­
mida. o olhar dos outros, a voz humana, o toque materno são alguns dos 
materiais brutos sob os quais o repertório comportamental do bebê irá se 
constituir (Glenn, 1991). O comportamento verbal é um dos grandes res­
ponsáveis pela transmissão de padrões comportamentais através das ge­
rações (Glenn, 1991).
Uma prática cultural ó definida por Glenn (1988) como: "...um 
subconjunto de contingências entrelaçadas de reforçamento..." (p. 167). 
Isto implica no entendimento da complexidade da cultura humana, na qual 
pessoas se engajam em atividades determinadas para conjuntamente pro­
duzirem coisas comuns a todos os seus integrantes. No entanto, a autora 
deixa muito claro que indivíduos, ao se engajarem em atividades conjun­
tas. são reforçados pelas contingências únicas e características de sua 
história ontogenética, e também pelos produtos agregados á prática, üu 
seja, para que se posso analisar o fenômeno cultural, deve-se estar atento 
para a descrição do mesmo comportamento a partir de duas perspectivas: 
o individual (ontogenético) e o cultural, ou, como Glenn nomeia, contingên­
cias comportamentais. em um nivel, e metacontingônc.ias; em outro.
■ O termos mídia o Imprensa serào inrarcambiávois neste trabalho por terom sido <bef»nldoa trn 
Houai&s [2001) da seguinte maneia;
Imprensa: 4 qualquer me .d ut-ltzado nn difusão do informações Jornal isticai; conjunto doa proces­
sos dfi voiculaçâodo informações prnaiisticas por veículos impto&sos ou aMrònicos Ip.1ü84) 
Mídia: 1. todo o suporte de dltesàode informação quecorstitu o rrélo intermediário de oxpres3éo 
espaz do transmitir mensagens (p.1919)
Esto decisão fci tomada para mamor ;i nomenclatura origina) de cada oolcrdtado.
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66 HlcorUo Com&a Martofie, Roberto Av m aitriaco
Todorov (1987) fomeceu-nos um exemplo da aplicação do conceito 
de motacontingéndas em fenômenos sociais de grande escala. O autor ana­
lisou o movimento pela redemocratização do Brasil que possibilitou a mu­
dança de um governo militar para um governo civil nos anos 80. A conseqü­
ência a longo prazo (produto cultural) ora a saída dos militares e dos políticos 
diretamente ligados a eles do govemo e a passagem do poder a um partido 
civil. A transição ocorreu como resultado de movimentos sociais (práticas 
culturais) que envolveram milhões de pessoas e milhares de entidades res­
ponsáveis pela organização da sociedade civil. Com a abertura política, inici­
ada pelo govemo do General Geisel, abandonou-se paulatinamente o uso da 
torça que impunha governos sem legitimidade popular. Todorov sugeriu que 
as contingências que envolviam o comportamento político começaram a 
mudar, tornando possíveis grandes manifestações como o movimento pelas 
eleições diretas, conhecido como "Diretas já", quo mobilizou milhões de pes­
soas em todo país - políticos, artistas, cantores e outros cidadãos - e amplos 
setores da sociedade civil organizada - entidades de defesa dos direitos 
humanos, sindicatos e entidades representantes de classes profissionais. 
Em outros tempos esse movimento teria sido considerado desobediência 
civil o reprimido violentamente. Como apontou Todorov (1987).
"Novas contingências, que afetam o comportamento de indivíduos, 
se estabeleceram e foram organizadas em melacontingèncias pelo 
discurso unificado de amplos se/ores. do centro à esquerda O obje­
tivo o longo prazo (salda dos militares e a passagem do poder a um 
partido civilj coordenou diferentes comportamentos submetidos o 
conseqüências imediatas que, separadamente, pouco teriam a ver 
com a redemocratização do pais “ (p. 11).
O autor afirma que são muitos os exemplos de comportamentos 
específicos de diferentes pessoas e grupos submetidos a diferentes conse­
qüências que comporiam uma metacontingênda. Por exemplo, o que teria 
a ver uma rebelião de professores contra o autoritarismo de dirigentes de 
uma escola, se vista isoladamente, com a redemocratização? O próprio 
autor esclarece:
“O efo desses comportamentos individuais em uma melaconttngênda è a 
conseqüènda a longo prazo que afeta toda a sociedade, o o que liga essa 
cotiseqüêruja a longo prazo às nossas ações do dia-a-dia, è o discurso 
político, visto aqui, sob a ótica da análise do comportamento, enquanto 
comportamento verbal. Esse discurso poli tico rvge as interações entre as 
pessoas organizadas em grupos e assim mantém seu comportamento 
enquanto a conseqüência a longo prazo não chega" (Todorov. 1997. p
11).
A Imprensa enquanto uma agência controladora
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f/o L K K irm y ftro a v oomacrisiniunto, cuNuM *i 67
Skinner (1953/1994) afirmou que o grupo social exerce um controle 
sobre seus membros por intermédio do poder de reforçar ou punir. O grupo, 
segundo Skinner. geralmente não é bem organizado e por <sso, na tentat va 
de o rg a n iza r a co n v ivê nc ia e n tre ind iv íduos tem criado agênc ias 
controladoras. Essas agências manipulam um conjunto particular de variá­
veis, sendo mais bem organizadas do que o grupo como um todo, poderdo 
assim operar com maior sucesso. As agências descritas por Skinner foram 
o Governo, a Religião, a Psicotorapia, a Eoonomia e a Educação.
Cada uma dessas agências deriva seu poder da capacidade de con­
trolar o comportamento dos indivíduos no grupo social. Assim, as agênc as 
podem controlar o comportamento das pessoas avaliando e liberando con­
seqüências para o comportamento de algumas maneiras: bom/mal, leçal/ 
ilegal (sistema de avaliação mais comumente aplicado pelo Governo); bem/ 
mal. pecado/virtude (sistema de avaliação da Religião); “bens" matéria s. 
ganhos/pe rdas (s is tem a da E conom ia): ce rto /e rra d o (E ducação e 
Psicoterapia) e estabelecendo contingências especificas òe acordo com 
seu âmbito de atuação.
Além das agências citadas por Skinner é possível encontrar algu­
mas outras que podem participar no controle social do comportamento cos 
Indivíduos. A rigor, algumas áreas do conhecimento (medicina, publicida­
de, farmacologia, por exemplo) ou outros grupos detentores de reforçadores 
específicos poderiam ser tomados como agências controladoras.
Um desses grupos, de especial importância paraeste artigo ó a mídia 
que detém o reforçador “ informação".
Esta agência tem o poder de controlar comportamento divulgardo 
informações sobre a 'realidade', e produzindo o que Guerin (1992) descre­
veu como conhecimento socialmente produzido. Os controlados, nesse caso 
os consumidores de informação, ficam sob controle de uma realidade 
construída, sem contato direto com o ambiente, possibilitando assim a 
manipulação do que é relatado sobre esse ambiente por alguns membros 
da comunidade.
Vivo-se hoje em dia no que chamamos de “aldeia global", repleta de 
instrumentos cada vez mais sofisticados e eficientes que permitem a trans­
missão da informação em segundos de uma parte à outra do planeta. O 
avanço da tecnologia, assim como a grande oferta de aparelhos que rece­
bem e transmitem informação, vem permitindo a um número cada vez mai­
or de pessoas o acesso a uma rede de comunicação sem precedentes na 
história da humanidade. A Internet pode ser considerada um exemplo claro 
da agilidade e da rapidez ao acesso de uma infinidade de informações. Ela 
vem desempenhando um papel crucial no que alguns autores denominam 
idade da Revolução da Informação. Uma conseqüência fundamental dessa 
mudança é o lugar de destaque que toda a indústria da midia de massa 
vem dando ã Internet. Segundo Dizard (2000) todas as grandes firmas de 
midia. e grande parte das menores, estão adaptando suas operações para 
a realidade da Internet, levando-as a uma competição pelos usuários A
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68 R b d r t ú C i v i & i M a n o n t» í í r t ic r t o A ,v n » íV ar^C O
América on Une (AOL), o maior provedor de acesso á Internet do mundo, 
durante os anos 90, passou a expandir seus serviços para além da informa­
ção impressa na rede, incluindo recursos multimídia de voz e vídeo para os 
mais de 20 milhões do assinantes. Ao longo desse período a rnédia de uso 
do AOL aumentou para 45 minutos por dia em 1998. quando dois anos 
antes era de apenas 19 minutos. Dizard (2000) descreveu uma pesquisa 
que apontou os sorviços mais utilizados da Internet. Em 1997. o serviço de 
informações e notícias aparecia em primeiro lugar sendo utilizado por 87.8% 
dos usuários, seguido pelo correio eletrônico, utilizado por 83.2%. Os da­
dos demonstram a expansão dos serviços disponibilizados na rede e a busca 
cada vez maior por novos usuários. Mais do que isso, apontam o quanto a 
informação é importante para grande parte das pessoas.
Uma tendência na indústria da mídia ó a fusão de empresas e a 
formação de grandes conglomerados que abrangem um grande número de 
modalidades de meios de comunicação. A maior fusão da história, em ja­
neiro de 2000, entre a AOL e a Time Warner, gigante da comunicação e 
entretenimento, possibilitou a formação de um dos maiores conglomerados 
de niidia e comunicação (Arbex, 2001; Dizard. 2000). Paralelamente ao 
desenvolvimento tecnológico e a expansão do número de usuários de veí­
culos de comunicação, ocorreu um processo de concentração de poder 
nas mãos de um pequeno número de corporações da mídia (Arbex, 2001; 
Dizard, 2000; Laitinen & Rakos, 1997; Rakos, 1992). Dizard (2000) argu­
mentou que estratégias de sinergia atualmente dominam a nova mídia, 
podendo ser uma ferramenta perigosa, pois concentra o poder e a riqueza 
nas mãos de um pequeno número de grandes empresas, que controlariam 
a produção da informação sem possibilidade de confronto.
Os grandes conglomerados de midia e comunicação mantêm es­
treitos vínculos com o poder do Estado, mesmo que tais vínculos não se­
jam tão simples e diretos aos olhos do grande público (grupo de controla­
dos) (Arbex, 2001).
O poder alcançado pela mídia na sociedade contemporânea tem 
levado autores de diferentes áreas do conhecimento a refletir sobre possí­
veis implicações políticas, econômicas e sociais (Arbex, 2001; Conti, 1999; 
Dizard. 2000; Mamou. 1992; Rakos, 1993) Arbex (2001) chega mesmo a 
questionar: "até que ponto os meios de comunicação de massa são uma 
força determinante nos rumos dos fatos históricos (isto é. da história públi­
ca, do evento político)?" (p. 38).
A eleição de Fernando Collor à presidência do Brasil, em 1989, foi 
um exemplo das relações estabelecidas entre grande parte da Imprensa 
brasileira e o Palácio do Planalto. Conti (1999) descreveu com riqueza de 
detalhes as relações entre os proprietários da grande Imprensa, jornalistas 
do destaque e aliados do ainda candidato Fernando Collor, no sentido de 
promovê-lo como um novo e jovem talento da política nacional con» o título 
de “caçador de marajás” Ao outro candidato. Luís Inácio Lula da Silva, 
restou a imagem do perigo, do radical, de alguém que iria libertar a classe
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yeic«iir.'ioéw:3V oonpn-tnnmlo, euf.cn» n tacosacm 69
trabaihadora da opressão expropriando a classe dominante Entre os exem­
plos de manipulações da Imprensa brasileira, nesse episódio, fornecidos 
pelo autor e que foi de fundamental importância no rumo da eleição. está a 
divulgação, no Jornal Nacional da TV Globo, do último debate ocorrido en- 
ire Lula e Collor antes das eleições. No dia seguinte ao debate, o Jornal 
Nacional veiculou uma reportagem com o resumo dos principais momen­
tos, dando muito mais ênfase às participações de Collor e dedicando um 
tempo maior da reportagem a ele. O Jornal Nacional naquela época tinha 
um público fiel de 60 milhões de pessoas e era o programa de maior audi­
ência da televisão brasileira. Collor ganhou a eleição3.
Um exemplo clássico das relações estabelecidas entre Estado e Im­
prensa, no jornalismo internacional, foi o observado durante Guerra do Golfo 
em 1991 De acordo com Mamou (1992) a Guerra do Golfo obrigou toda a 
Im prensa a se questiona r quan to ao seu papel, sua função e sua 
instrumentalização, levando ao surgimento de uma série de reflexões sobre 
a cobertura do episódio. Durante seis meses, entre agosto de 1990 e janeiro 
de 1991, antes da intervenção bélica norte americana, houve o que Art>ex 
(2001) chamou de "construção de uma metáfora interpretativa" polarizada 
entre o Bem o o Mal De um lado difundiu-se a idéia de um pais {Estados 
Unidos) com valores democráticos, cristãos e pluralistas; de outro a idéia de 
um Iraque islâmico e intolerante, abrigo de terroristas fanáticos e que não 
reconhecia qualquer direito das mulheres. Essas idéias foram transmitidas 
numa operação tecida entre o Estado norte americano e a mídia por intermé­
dio de filmes, fotos e reportagens especiais que mostravam a "humanidade" 
dos soldados norte americanos indo para guerra, despedindo-se de suas 
mulheres e dos seus filhos; enquanto que os iraquianos eram vistos como 
fanáticos religiosos com imagens que mostravam um oriente exótico (estra­
nho, hostil), mulheres cobertas por véus e crianças armadas com metralha­
doras. Construiu-se uma metáfora aterradora dos islâmicos, apresentado-os 
sempre como vilões e exóticos, restando aos norte-americanos a tarefa 
messiânica de libertar o mundo do tenor, quando na verdade os interesses 
norte americanos estavam nas reservas do petróleo ocupadas por Saddam 
Hussein no Kuwait (Arbex, 2001).
Uma outra questão abordada por Arbex (2001) é quando a metáfora 
se transforma em convicção pessoal. Muitos acreditam que nâo houve 
mortes no conflito do Golfo, pois as imagens transmitidas pela televisão 
mostravam uma guerra ‘ cirúrgica", que atingia com impressionante preci­
são os alvos em Bagdá, todos eles "inanimados". Aparentemente apenas
A inda q ue nSo se posso fazer um paralelo direto e^ tre o comportanvcnto da m ídta neste caso 
(fnvorec.anco o desem penho <Je Collor) e o com portam ento da população d u ra r ia a s etoiçQes 
(esoolhGodo-o oom o prosiconle), duvu-se terr brar que íi m o$m a m ldio (ainda q ue aliadaa vártoe 
grupos ecopòrrscos. financeiros e do governo) tem sido apontada, tam bém . oDtno a responsável 
pela dep os 'çâo d o própno Collor, incerU vando um m ovim ento popular M ia sua d e p c s lj ío 
(Im p ea crm e n t). N ào é ‘am bém despercebido o pape* d a m íd ia na última oloiçíio do prôprw l uls 
liiacio Luia d a Stfva. num a dem onstração clara d e controlo mútuo entr*j açôocsas oe controle e 
controlado«
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70 H t ta id o C c rtf c i M o l o - ie . R o t o r ia A lv o » Q a ia o o
edifícios vazios e equipamentos haviam sido atingidos. Na verdado, foram 
despojadas 88.500 toneladas de bomba sobre a cidade. Morreram 100.000 
pessoas em quarenta dias d© guerra. Como relata Arbex (2001) os noticiá­
rios da época mostravam apenas o número de soldados amoncanos mor­
tos e a quantidade de armas iraquianas destruídas, não mencionando o 
número de iraquianos mortos. Os interesses do Estado norte americano 
foram bem defendidos pela mídia nosse episódio, ainda mais quando se 
cooptou o consentimento de grande parte da opinião pública mundial a 
favor da intervenção norte americana sobre o Iraque.
‘Mosmo a divulgação do uma cifra espantosa como a Guerra do Golfo 
- 100.000 mortes em apenas quarenta dias não produz efeitos 
nem sequer longinquamente comparáveis aos que seriam criados 
caso fossem transmitidas as imagens de corpos sendo estraçalhados 
por rajadas de metralhadoras. A mldia conquistou, de fato. a capaci­
dade política e tecnológica de ocultar até genocídios de grandes pro­
porções. Esse dado ooloca, com urgência, as indagações sobro o 
futuro dessa perigosa articulação de interesses entre as grandes 
corporações da mídia e o Estado' (Arbex. 2001, p. 121).
Analisando práticas culturais: a informação como com­
ponente fundamental da análise
O papol da midia no mundo contomporáneo. assim como o poder 
de influenciar e produzir fatos, têm sido muito discutidos em diferentes áre­
as do conhecimento (por exemplo, Arbex, 2001; Chomsky, 1988; Conti, 1999; 
Dizard, 2000, Eco, 1984; Mamou, 1992). A análise do comportamento tam­
bém vem contribuindo, de forma ainda muito modesta, com essa discus­
são. Essa ciência dispõe de instrumental teórico capaz de abordar ques­
tões referentos à cultura. Entretanto, grande parte dos trabalhos de analis­
tas do comportamento interessados pela cuttura, ainda se caracteriza mais 
pela descrição e análise de algum fenômeno social do que pelo desenvol­
vimento de tecnologias de intervenção (Lamal, 1991).
O estudo da mídia e de sua influência sobre práticas culturais inse­
re-se na lista de temas abordados por analistas do comportamento interes­
sados em questões culturais. Rakos (1992), por exemplo, salientou a natu­
reza informacional da sociedade contemporânea, ressaltando que analis­
tas do comportamento Interessados em analisar a cultura devem necessa­
riamente abordar questões referentes à influência da mídia no controle do 
comportamento. O autor afirmou ainda que a construção do um ambiente 
altamente tecnológico acabou por definir a informação e não mais o capital 
como mercadoria mais valiosa. Segundo ele, os sistemas sócio-politicos 
basoados na propriedade do capital são menos importantes que aqueles 
baseados na propriedade da informação, pois a informação agora produz 
riqueza. Não é por acaso que os Estados Unidos são considerados o banco 
de informações do mundo e abrigam os maiores conglomerados de midia
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MeuuwiinjiAtiCírèt: a»ir<port.iinan»: CU(ut6 o ssciodiuch} 71
do planeta, dispondo do uma enorme rede de informações aliada a uma 
sofisticada tecnologia4 (Dizard, 2000).
Fundamental para analistas do comportamento interessados no rela­
tar pela Imprensa, sâo as duas grandes categorias de infonnação identificadas 
por Rakos (1992) observadas no mundo contemporâneo. A primeira catego­
ria inclui todas as informações que são impossíveis de ser controladas.
"Por causa da intensa tecnologia de transferência de informação a.je 
ó independente de fronteiras artificiais, políticas, sociais e culturais - 
através da educação, de viagens, telecomunicações e da Imprensa 
e da midia eletrônica - as pessoas em todo mundo são expostas a 
eslimulos que rapidamente adquirem propriedades reforçadores con­
dicionadas. Esto processo de condicionamento 6 estendido para um 
número continuamente maior de eslimulos à medida que a lecnotogia 
expande a amplitude de bens potencialmente desejáveis - bens ma­
teriais em geral, incluindo aqueles que produzem mais informação e 
conhecimento' (Rakos. 1992. p. 1503).
A informação, por intermédio de uma tecnologia que gera meios de 
comunicação cada vez mais rápidos e eficientes, é disseminada introduzin­
do estímulos que muitas vezes podem estabelecer condições que resultam 
no consumo de bens materiais específicos e que podem adquirir proprieda­
des reforçadoras. Um problema apontado por Rakos (1992). decorrente da 
transmissão de informação impossível de se controlar, é de extrema impor­
tância para analistas do comportamento a falta de controle dos indivíduos 
sobre o ambiente. As propriedades reforçadoras das tecnologias alardeadas 
pelos meios de comunicação podem ser tão poderosas que tornam qual­
quer contracontrole impossível. De acordo com Rakos (1992) o problema 
da incontrolabilidade tendo a se intensificar com o desenvolvimento conti­
nuo das tecnologias de transmissão de informação.
A segunda categoria de informação identificada por Rakos (1992) 
inclui as que são rigidamente controladas, não possibilitando ás pessoas a 
discriminação das contingências em operação, assim como o contracontrole. 
Durante a Guerra do Golfo a mídia norte-americana agiu de forma articula­
da com o Estado. Rakos (1993) demonstrou as formas pelas quais a opi­
nião pública norte-americana foi induzida a apoiar um conflito armado con­
tra o Iraque. Foram utilizadas duas formas de manipulação: a dissemina­
ção de noticias falsas sobre ações do exército iraquiano quando invadiu o 
Kuwait, e a censura de notícias. As variáveis do controle do comportamen­
to da midia om relatar os fatos referentes á Guerra do Golfo permaneceram 
totalmente não cognoscíveis para a opinião pública que tinha acesso aos 
fatos somente por intermédio da Imprensa. Os fatos relatados pela midia 
foram tomados por grande parte da opinião pública como cabais. Náo hou-
• O domínio rtorte am oricnno sobto a fnformaçôo podo sor nrritxildo tam bém outras práticas 
cultum iè com o. u>or exe m p o : dustinaçao do enorm es verbas para pescjulsns u desenvolvimento 
ter.ro loçK .oom vátias á re a s do conhecim ento, Incluída ai, a mldla.
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72 Ricardo Cctrèa l/arkxie. RcCj* * o A ve« 0an#co
ve a possibilidade, para grande parte da opinião pública, da discriminação 
de contingências de controle manejadas pela mídia o pelo Estado. Grande 
parte dos norte americanos apoiou a guerra.
A informação está centralizada e concentrada em estruturas gover­
namentais e estruturas corporativas. O grande número de informação so­
bre as pessoas armazenadas em computadores do governo o de empre­
sas permite a previsão e o controle do comportamento por essas agências, 
criando demandas e produzindo comportamentos desejáveis para os seus 
próprios interesses, mantendo assim as hierarquias de poder atuais (Rakos,
1992).
Algum as propostas de análise sobre o relatar da Impren­
sa do ponto de vista da análise do comportamento
Os trabalhos de dois autores têm sido utilizados corno referências por 
analistas do comportamento interessados pela análise do relatar pela Im­
prensa. O primeiro deles analisou as condições nas quais o conhecimento õ 
socialmente produzido (Guerin, 1992). O segundo estudo, já citado anterior­
mente, faz uma análise da propaganda como controlede estímulos no episó­
dio que ficou conhecido como a Guerra do Golfo (Rakos, 1993).
Guerin (1992) descreveu duas condições cruciais para a determina­
ção do conhecimento socialmente produzido. A primeira condição refere- 
se ás respostas verbais descritas por Skinner (1957/1978) como tatos e 
intraverbais, que estariam envolvidas na construção social do conhecimen­
to.
A segunda condição referir-se-ia à identificação de que muitas das 
respostas verbais que descrevem aspectos do ambiente, topograficamente 
sem elhantes às respostas de tatear, seriam , na verdade, respostas 
intraverbais emitidas sob controle discriminativo das respostas de outros 
membros da comunidade verbal. Entretanto, quando as conseqüências que 
mantêm o tatear são controladas por uma parcela especifica da comunida­
de verbal, as respostas de tato estariam sujeitas a viéses determinados 
pelas condições daqueles que obtêm os reforçadores. Skinner (1957/1978) 
classificou essas respostas como tatos distorcidos, aludindo ao fato da cor­
respondência entre eventos e relatos verbais não ser reforçada e sim, seria 
reforçada uma dada definição de relato correto estabelecida por um grupo 
que controla e libera os reforçadores.
A análise de Gueriri (1992) traz algumas implicações importantes 
para analistas do comportamento interessados em compreender e revelar 
os controles exercidos pela midia na divulgação de relatos, tomados por 
muitos como descrições fiéis, objetivas e verdadeiras da realidade. A midia 
è uma grande formadora de opinião, ditando padrões comportamentais. 
regras éticas, criando candidatos e influenciando fatos políticos e históricos 
que são descritos como conhecimento socialmente construído. Muitas opi­
niões e atitudes compartilhadas pelos membros da comunidade verbal frente
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M K a c o n tf tg & n s â B : c c n p o .T s m e n lo , c u r .t r a e b o ^-m ü s iio 73
ao relato de algum evento da realidade, devem ser entendidas como res­
postas verbais sob controle de tatos emitidos por um pequeno grupo dentro 
da comunidade verbal como, por exemplo, membros da mídia. A mídia como 
controladora do comportamentos e denominada 'form adora de opinião" 
passa a produzir cadeias intraverbaís nos indivíduos de sua comunidade 
verbal, colocando-os sob controle de respostas verbais do tipo intraverbal 
Deste ponto de v is ta , ela poderia ser encarada como uma agência 
controladora.
Uma outra questão crucial também presente na análise de Guerin 
(1992) é o contato cada vez menor das pessoas, no mundo contemporâ­
neo. com o ambiente mecânico. Tem-se acesso â realidade, cada vez mais, 
por intermédio do rolato de certos segmentos da comunidade verbal. A 
produção de cadeias intraverbaís por intermédio da mídia propicia a cria­
ção de um conhecimento virtual, que pode representar os interossos de 
uma pequena parcela da comunidade verbal. Durante a Guerra do Golfo a 
Imprensa norte-americana teria produzido uma série de relatos que foram 
tomados como descnções fiéis da realidade. A construção pela mídia de 
um Iraque atrasado, usurpador dos valores democráticos, abrigo de terro­
ristas capazes das maiores barbáries e que não reconhecia os direitos da 
mulher estarreceu o mundo e p/oduziu ações contrárias à “rea lidade ' 
iraquiana na opinião pública norte americana. A construção desse conheci­
mento. que não descrevia ‘ objetivamente" a realidade, serviu aos interes­
ses do Estado norte-americano, resultando em comportamentos de apoio 
da população quando a guerra contra o Iraque teve inicio.
A análise de Guerin (1992) serve também como um alerta para os 
controles exercidos por pequenas parcelas da comunidade verbal. Segun­
do o autor, se o controle social do la tear estiver nas máos de um grupo que 
não reforça necessariamente a correspondência entre as propriedades do 
am biente e o relato, mas s im uma dada definição de relato "correto" 
estabelecida a priori por esse grupo, se estará diante de ficçòes criadas 
para atender alguns interesses.
Rakos (1993) sugeriu uma segunda possibilidade de analisar os rela­
tos apresentados pela Imprensa. O autor apresentou uma descrição de pro­
cessos comportamentais envolvidos na propaganda efetivada pelo Estado norle- 
omericano com o objetivo conseguir o consenso da opinião pública da neces­
sidade de uma resposta bélica ao Iraque, logo após este invadir o Kuwait.
Rakos (1993) definiu propaganda como um conjunto de estímulos 
antecedentes que teriam a funçào de induzir a emissão de comportamen­
tos nas pessoas. No caso da Guerra do Golfo, o governo norte-americano 
não tinha o respaldo da opiriiáo pública e do Congresso para uma possível 
invasão do Iraque, necessitando realizar uma campanha para conquistá- 
los. Segundo o autor, o governo precisava vender duas imagens para a 
Imprensa que rapidamente as aceitou: Saddam Hussein é uma ameaça, o 
o Kuwait é uma naçâo amiga. Obtendo a cumplicidade da Imprensa, o go­
verno poderia levar a cabo sua tarefa de obter apoio público para a guom.« 
por meio de duas estratégias de publicidade: restringir InformaçÔen sobro
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74 R c a rd o Corrêa Martono, Rclx-rir, Alvoe, U w i0 <»
os acontecimentos no Oriente Médio (censura). e disseminar informações 
falsas sobre as ações militares do Iraque.
Rakos (1993) analisou o conteúdo sobre o conflito (notícias da re­
gião do conflito, discursos políticos do funcionários do governo norte-ame­
ricano. análises de comentaristas) de todas as publicações do The New 
York Times a partir de 1° de agosto de 1990 até 17 de janeiro de 1991, 
agrupando e identificando essa conteúdo em quatro operações de controle 
de estímulos: estímulos discriminativos, operações estabelecudoras, regras 
e equivalência de estímulos; e a relação temporal entre as notícias veicula­
das pela Imprensa e as respostas dos cidadãos (medidas através de pes­
quisas de opinião sobre a aprovação ou não de uma intervenção bélica 
norte-americana).
Rakos (1993) concluiu que no primeiro mès após a invasão do Kuwait 
pelo Iraque, a possibilidade de uma intervenção militar dos Estados Unidos 
era aversiva para a opinião pública norte-americana. O Iraque era visto 
como uma nação aliada, devido á guerra desse país com o Irã, pois os 
americanos haviam apoiado os iraquianos. O Kuwait, por outro lado, era 
visto como uma nação antidemocrática, inimiga e preconceituosa em rela­
ção ás mulheres. Entretanto, após os cinco meses seguintes á invasão do 
Kuwait pelo Iraque, a campanha de propaganda efetivada pelo Estado em 
articulação com a Imprensa, alterou a opinião da maioria da população 
norte-americana que passou a apoiar a intervenção bélica norte americana 
no Iraque. Por meio de operações estabelecedoras identificadas por Rakos 
nas notícias, criadas por relações transitivas de equivalência que equipara- 
vam Hussein (A) a Hitler (B) e um mal indescritível (C), transformaram o 
Iraque e Saddam Hussein em estímulos aversivos. e as regras introduzi­
ram contingências aversivas: "agressões não provocadas deveriam ser 
contidas para preservar a liberdade e o direito’ . Esses estímulos induziram 
declarações verbais na opinião pública do tipo "algo precisa ser feito '. Es­
sas declarações verbais (da opinião pública) eram reforçadas pelos relatos 
de esforços diplomáticos, de restrições econômicas impostas ao Iraque e 
de relatos que descreviam a ação da Organização das Nações Unidas 
(ONU). A hipótese de deslocamento de tropas norte-americanas para a 
região do conflito, e uma possível guerra eram ainda vistos, pela opinião 
pública, como estímulos aversivos. Foram introduzidas, paulatinamente, 
noticias que defendiam um conflito armado.
Essas noticias foram apresentadas, com o passar do tempo, de fo r­
ma mais intensa, e sempre acompanhadas por declarações que interessa­vam à opinião pública (sanções económicas, ações da ONU. uso da diplo­
macia). O público habituou-se com a intensificação de relatos que defendi­
am uma ação militar norte-americana contra o Iraque (inicialmente aversiva). 
Quando a guerra começou, a ação militar tornou-so um estimulo positivo 
para a opinião pública quo passou a apoiar a guerra. O reforçamento posi­
tivo foi assegurado, pois as conseqüências negativas da guerra foram afas­
tadas (foram omitidas imagens de pessoas sendo metralhadas, corpos 
mutilados) permanecendo somente a demonstração da alta tecnologia uti­
P /ok xicfr.inpíirrcos: o o m u o rta m o n w . c u llu 'a « KH,ic<Í4tla 75
lizada e o sucesso das conquistas por intermédio do uma guerra cirúrgica, 
que atingia precisamente os alvos aparentemente não povoados. A popu­
laridade e o apoio à adm inistração norte americana atingiram Índices 
altíssimos de aprovação.
Uma primoira tentativa do analisar relatos verbais produzidos pela 
Imprensa escrita brasileira sobre acontecimentos violentos, tendo por base 
a análise do controle avorsivo do Sidman, foi efetivada por Andery & Sério 
(1996). A análise foi feita a partir de manchetes de jornais brasileiros que 
relatavam três episódios que se caracterizaram pelo excesso de violência: 
o assassinato de 8 meninos do rua por policiais em frente ã Igreja da 
Candelária no Rio de Janeiro, em julho de 1993: a invasão, pela policia 
m ilitar em novembro do 1992, do Pavilhão 9 da Casa do Detenção do Esta­
do de São Paulo, que terminou com a morte de 111 presos; e a invasão da 
favola Vigáno Geral, no Rio de Janeiro, por homens armados e oncapuzados, 
que terminou com o assassinato de 21 pessoas.
As autoras analisaram os seguintes aspectos: 1) a distribuição tem ­
poral dos relatos sobre esses eventos durante um ano quo se seguiu a 
cada episódio. 2) aspectos do episódio destacados nas manchetes pela 
Imprensa e 3) as conseqüências do controle avorsivo idontificadas através 
dos relatos. Dentre os signrficantes resultados obtidos pelas autoras, o nú­
mero de vezes que um episódio era manchete do jornal, é um dos que mais 
chama a atenção, pois poderia sugerir que houve alguma ação do veículo 
de comunicação no sentido de restringir a informação para produzir ou evi­
tar alguns efeitos sobro a opinião pública. Por exemplo, os episódios de 
Vigário Geral e da invasáo da Casa de Detenção foram manchetes 48 ve­
zes durante o periodo de um ano após suas ocorrências. Já o episódio da 
Candelária foi manchete 29 vezes durante um ano após o ocorrido
Os dados obtidos pelas autoras mostraram que rios três episódios, 
o maior número de relatos concentrou-se nos dois primeiros meses após 
os acontecimentos. No caso da Candelária e de Vigário Geral a maioria dos 
relatos apareceu no primeiro mês após os episódios. Andery & Sério (1996) 
sugeriram que o menor número de relatos referentes à invasáo da Casa de 
Detenção de Sâo Paulo no primeiro mês. pode ser uma conseqüência do 
episódio ter ocorrido em uma instituição fechada, na qual poderia haver 
alguma açáo no sentido de restringir informações.
Um segundo trabalho conduzido por Andery & Sério (1999a) traz 
uma análise, também embasada na concepção de controlo aversivo do 
Sidman, sobre o fenómeno da violência. As autoras selecionaram algumas 
noticias dos jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo dos anos 
1993 e 1995 que relatavam episódios violentos. As noticias selecionadas 
foram colocadas em algumas categorias que permitiam verificar as efeitos 
do controle aversivo. As autoras puderam demonstrar a presença constan­
te e disseminada do conlrole aversivo na vida das pessoas através da alta 
freqüência de relatos sobre eventos violentos veiculados pela Imprensa 
escrita.
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76 ííicürtto Corròd M urtow , How ioo A vus ãan acu
Uma análise sobro o rolato da violência por um meio d© comunicação 
de massa também foi sugerida por Namo (2001). O autor analisou todas as 
noticias publicadas pelo jornal Folha de São Paulo duranto o ano de 1999 
que traziam o relato de eventos violentos ocorridos no Brasil o no ostado e 
dados sobre os índices de violência da Secretaria de Segurança Pública do 
Estado de São Paulo. As notícias foram analisadas quanto ao tipo de violên­
cia relatada, vítimas e agentes da violência e efeitos da violência. Entre as 
análises realizadas pelo autor, uma delas é muito significativa. Foram com­
parados os dados obtidos na Secretaria de Segurança Pública sobre os tipos 
de violência com os dados obtidos nas noticias veiculadas pela Folha de São 
Paulo. Namo (2001) constatou, por exemplo, que o tipo de violência mais 
comum retratado pelo jornal foi o homicídio, enquanto que os dados oficiais 
da Secretária de Segurança pública apontavam lesão corporal como o tipo 
mais comum de violência no estado. Tomando-se os dados da Secretaria de 
Segurança Pública oomo representativos da incidência dos tipos de violên­
cia no estado, segundo o autor, o jornal Folha de São Paulo estaria dando 
uma ênfase maior a eventos violentos (homicídios) que, na verdade, não 
seriam os de maior Incidência. Segundo o autor, a discrepância entre os 
dados da Secretária e as noticias da Folha de São Paulo seria um indicativo 
de que o jomal privilegiaria certos tipos de noticias para causar algum impac­
to sobre o leitor, visando interesses mercadológicos como. por exemplo, ven­
der mais exemplares do jornal.
Partindo das análises anteriormente citadas sobre o relato da Im­
prensa e as formas pelas quais esse mesmo relato pode controlar compor­
tamento, Martone (2003) realizou uma análise sobre o relato da Imprensa 
enquanto agência controladora sobre um conjunto de práticas culturais pro­
duzidas por uma cultura imediatamente após o episódio que ficou conheci­
do como os ‘ ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 ' contra os 
Estados Unidos. O autor coletou, via site eletrônico, notícias produzidas 
pela Cable News Network (CNN). Foram analisadas noticias veiculadas 
durante três dias subseqüentes aos episódios de 11 de setembro de 2001, 
utilizando-se a classificação empregada pela própria agência controladora 
na divulgação dos relatos. Estas notícias também foram categorizadas o 
organizadas de forma a encadear os eventos relatados em uma seqüência 
causal. Os resultados indicaram que o relato da Imprensa foi parcial, não 
fornecendo qualquer dado sobre a motivação envolvida no ‘ ataque“, e pri­
vilegiou as ações da agêncta governamental e econômica.
Oe trabalhoe quo analisam o relato da Impronsa, acima doKcritos. 
demonstram as formas pelas quais a Imprensa escrita relata eventos da 
realidade privilegiando mais a publicação de alguns assuntos em detrimen­
to de outros. Os trabalhos demonstram também a pertinência e utilidade da 
análise do comportamento na análise do relato da Imprensa, pois como foi 
apontado por alguns autores (Andery & Sério. 1996, 1999a; Guerin, 1992; 
Namo. 2001; Rakos, 1993) esta ciência possui um instrumental teórico ca­
paz de lidar com as questões envolvidas neste tipo de análise.
O conhecimento socialmente construído através da produção de ca­
deias intraverbais pela mídia (Guerin, 1992); a descrição de processos
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W«íl&:xaiiing«nr.ta»: oom pofltritn to . ajhur.i a 6o:-«-Jitdô 77
comportamentais subjacentes á veiculação da noticia e seu possive! efeito 
sobre o leitor (Andery à Sério, 1996. Rakos. 1993), assim como os possíveis 
controles exercidos sobre o relatar da Imprensa (Guerin. 1992, Namo. 2001; 
Rakos, 1993) são questões analisadas em trabalhos de analistas do compor­
tamento e que apontam caminhos promissores para este tipo de análise.
Pode-se observar que, apesar dos aspectos ressaltados sobro a 
possibilidade da Imprensa distorcer os relatos sobre os eventos ocomdos,tais relatos têm a função de controlar os comportamentos de um grupo 
social. Seja ela (a Imprensa) associada ou não a uma outra agência de 
controle, os trabalhos apresentados demonstraram claramente que o com­
portamento de relatar tem um efeito sobre o comportamento dos "controla­
dos socialmente".
Tais efeitos têm sido descritos pela literatura e poderiam ser dividi­
dos em dois grandes conjuntos: o primeiro, mais diretamente observado 
pelos controlados, poderia ter a função de tato, e daria a “veracidade" para 
o relato como um todo. O segundo conjunto, ao qual o controlado não teiia 
acesso direto, poderia ser mais facilmente manipulado por meio de distorção 
e/ou seleção de algum aspecto (censura) tornando mais prováveis algu­
mas respostas dos controlados.
Conclusão
Alguns analistas do comportamento vêm utilizando o instrumental te­
órico disponível em sua ciência para identificar os controles exercidos sobre 
o relatar da Imprensa, demonstrando assim que o que é relatado e como é 
relatado riáo pode ser considerado "neutro’', livre de qualquer influência.
Uma questão que surge a partir dos trabalhos descritos nesse artigo 
diz respeito á pretensa neutralidade dos veículos de comunicação ao rela­
tar os fatos. Ouvem-se jargões do tipo "testemunha ocular dos fatos", "jor­
nalismo objetivo que leva os fatos até você", ‘‘a verdade dos fatos, doa a 
quem d o e r e ‘jornalismo imparcial e objetivo’ (Arbex. 2001). Estas frases 
revelam a idéia de que a atividade jomalistica deve ser encarada como um 
meio pelo qual os fatos possam ser espelhados como imagens fiéis da 
realidade, livre de influências que possam alterar a percepção e o relato 
dos acontecimentos. Entretanto, a literatura vem apontando que algumas 
variáveis desempenham um papei crucial no relato da realidade pela Im­
prensa. Influenciando-a e determinando em muitos casos a forma pela q ja l 
o fato deve ser divulgado, ou até mesmo o que pode e o que não podo ser 
publicado.
A afirmação de que o relato da imprensa deve ser ‘ neutro" ou um 
"espelho da realidade" é o reflexo de uma concepção que desvincula as ações 
hum anas de suas determ inações históricas e socia is, propiciando o 
ocultamento de variáveis importantes de controle e uma completa alienação 
do que ou quem está no controle. Acredita-se que o comportamento hurrono
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78 Ricardo CorAu M anor*. Robortu AJv o í Bjikico
seja multidetermiriadu e não ocorra desvinculado de seu contexto ambiental. 
Acredita-se também que a função do pesquisador seja identificar as variá­
veis ambientais que determinam o comportamento, ainda quo estejam elas 
em ambientes altamente complexos e de dificil detecção, como no caso das 
variáveis que estariam envolvidas no fenómeno aqui estudado.
O behaviorismo radical fornece uma compreensão do comportamento 
humano que vai de encontro às concepções mais tradicionais da cultura, 
instrumentalizando o pesquisador com conceitos que permitem uma análi­
se que considere os controles exercidos sobre o comportamento.
"Se vamos usar os métodos da ciência no campo dos assuntos hu­
manos. devemos pressupor que o comportamento é ordenado e de­
terminado. Devemos esperar desoobrir que o que o homem faz é o 
resultado de condições que podem ser especificadas e que. uma vez 
determinadas, poderemos antecipar e até certo ponto detenuinar as 
açóes. Esta possibilidade desagrada a muitas pessoas por se opor a 
uma tradição de longo tempo, que encara o homem como um agente 
livre, cujo comportamento é o produto, não de condições anleceden- 
tes específicas, mas de mudanças anteriores espontâneas' (Skinner, 
1953/1994. p. 20).
A utilização do conceito de contingência como instrumento de análi­
se permite a identificação de relações especificas entre indivíduo e ambi­
ente, assim como as mudanças produzidas por estas relações no ambiente 
e no sujeito.
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Igualdade ou Desigualdade: 
Manipulando um análogo 
experimental de prática cultural 
em laboratório. 1' 2
Christian Vichi
"O ambiente social de qualquer grupo de pessoas ó o produto de 
uma série complexa de eventos no qual o acidente algumas vezes 
desempenha um papel proeminente... Um procedimento cultural não 
é menos eficiente por suas origens acidentais, ao determinar o com­
portamento característico de um grupo Mas uma vez observado o 
efeito sobre o comportamento, a origem da prática pode ser exami­
nada mais de perto Certas questões vêm a ser colocadas. Por que o 
planejamento de uma cultura deve ser deixado tanto ao acaso? Não 
será possivel mudar o ambiente social deliberadamente de forma a 
que o produto humano esteja mais de acordo com especificações 
aceitáveis?" (Skinner, 1953/2000, p. 463-464).
Através de seu modelo de seleção pelas conseqüências, Skinner 
(1993/1953; 1974, 1981) propõe a existência de irés niveis distintos de vari­
ação e seleção: o nivel filogenótico, o ontogenático e o cultural. No primeiro 
destes três niveis o ambiente seleciona a estrutura fisiológica e anatómica, 
assim como algurnas respostas de importância vital para a sobrevivência, 
popularmente chamadas de reflexos. O segundo nível responde pela produ­
ção de seleção nas respostas que sâo adquiridas e mantidas, ou modifica­
das ao longo do periodo de vida do organismo. E o terceiro nível explicaria a 
estruturação e origem das práticas culturais de determinadas sociedades. 
Cada um destes niveis deve ser abordado pela ciência responsável por tais 
objetos de estudo, respectivamente: Fisiologia/biologia/etologia. análise ex­
perimental do comportamento e antropologia.
O homem sendo um ser social e capaz de emitir um tipo especifico 
de comportamento, chamado de “comportamento verbal" (Skinner, 1978/ 
1957), vive sob controle de contingências muito mais complexas do que
' Eete trabalho foi oacrito u partir d a d issenaçflo d e m ostm do defendida peto autor em 2 0 0 4 no 
Program a d e E&tudos Pôs-graduados e m Psicotogia Experim ental: A n â lü o c o Com poitam onto 
d a P U C -S P sob (x to n ta çào d o Prol*. O r* M nria Am álln Ple Abib A rd e ry e foi parcialm ente financi­
ado por um a bo^sa C A P E S ..
* O autor tam bóm ag rad ece a co laboração do Prol W. D avid P íeroe e as augestóes dn Prol“ 
S*Qiid S. G te rn duianto a fase d e e*«bo raçào do projeto.
82 ChnsOd-i V k l»
organismos não verbais, ou mesmo não sociais. Pois através do comporta­
mento verbal um indivíduo é possível intermediar as conseqüências do com­
portamento de outro indivíduo, criando assim uma espécie de conseqüên­
cia arbitrária para uma resposta que “naturalmente" não produziria o mes­
mo efeito; aqui talvez um exemplo se faça útil. para tanto empregamos o 
clássico exemplo da água: Se uma pessoa disser “Por favor, me dê um 
copo de água" (uma resposta que num ambiente não social não produziria 
a apresentação do estímulo copo de água), poderá e provavelmente terá 
sua resposta reforçada pela apresentação do estimulo reforçador: um copo 
de água dado a ela por uma outra pessoa presente no momento da emis­
são do pedido e que tenha sido treinada pela mesma comunidade verbal.
Sendo o comportamento humano produto das relações estabelecidas 
eritre organismo e ambiente e considerando que uma parto muito significa­
tiva deste ambiente é composta por outros seres humanos (Skinner. 1993/ 
1953; 1974), as contingências de natureza social são responsáveis por boa 
parte de nosso repertório comportamental. Essa análise pode ficar ainda 
mais complexa se considerarmos que as pessoas podem, ainda, formar 
grupos com certo grau de organização e cu jas “(...) conseqüências 
relorçadoras geradas pelo grupo exGSÚamJlaçtiinGíÊe Q àM aiS das Qüime-.
quêndãs vue uadcriam. ser Lvnseaiúüâs joslosmeíabíps. scjia isssni seafl- 
fjdúm entc . Q efeito . íQfwçãúsirjQ tdA.GãQrwQimintQ jçrescióQ '' (Skinner. 
1993/1953 - pp. 31 - grifos meus). E de um modo semelhante as pessoas 
podem, ainda, foonar grupos muito organizados e eficazes em controlar o 
comportamento humano, por vezes chamados de agências controladoras.
Descrever as relações entre os integrantes deste grupo, em termos 
do contingências de reforço, pode explicar os comportamentos individuais de 
seus membros, no entanto, muitas destas contingências mantenedoras são 
artificialmente criadas e aqueles que aplicam as conseqüências, na maioria 
dos casos, também estão sob controle de outras contingências de natureza 
social. Para explicar de que modo estas relações passam a existir e de que 
modo os comportamentos dentro do um grupo se conectam ao ambiente 
natural (não social), devemos atentar a um nível mais amplo de explicação, 
que Skinner (1993/1953; 1974: 1981) chamou de seleção das práticas cultu­
rais.
Os analistas do comportamento vèm, cada vez com maior freqüên­
cia, demonstrando interesse por questões sociais (Skinner. 1977/1948; 
Burgess & Bushell Jr., 1969; Kunkel. 1970; Rakos. 1991: Lamal, 1991) essa 
retomada pelo interesse nas variáveis sociais, importantes na determinação 
do comportamento humano, têm se tomado mais e mais incisiva na literatura 
(Holland, 1978; Malagodi,1986) ao longo do tempo.
Uma contribuição bastante significativa à análise do comportamento, 
instrumentalizando o pesquisador no estudo das práticas culturais, foi o con­
ceito de metacontingéncia (Glenn, 1986; 1988; Andery e Sério, 1999) por pos­
sibilitar a relação entre a redo do contingências que mantêm os comportamon- 
tos individuais dos integrantes de uma prática cuftural e os produtos agregados 
desta prática Nas palavras de Glenn (1988) a metacontingéncia é:
\< 8l8C o rífv ,iÔ M i:iav c o r f w r l ív r * » H o . c u H ir a o c o s e d o g o 83
“(...) a unidade de análise que descreve as relações funcionais entro 
urna classe de operantes, cada operante tendo sua própria conseqü­
ência, imediata e única, e uma conseqüência em longo prazo, co­
mum a todos os operantes na metacontingèncía".
Apesar do interesse cada vez maior no estudo de tais práticas, es­
tes estudos ainda são. em sua maioria, do natureza teórica e ou interpretativa 
(por ex.: Todorov, 1987; Malott, 1988; Rakos. 1991). quase-experimental 
(por ex.: Kunkel, 1985; Rakos, 1993) ou mesmo aplicada (Biglan, 1995), 
poucos estudos aoordam a questão especifica da seleção e manutenção 
das práticas cu ltu ra is num a perspectiva experim enta l, de fa to uma 
metodologia para isso é difícil de encontrar dentro da análise do comporta­
mento. No entanto, dentro da sociologia americana é comum encontrar 
sociólogos, denominados sociólogos experimentais, cuja preocupação é 
testar experimentalmente diferentes tipos de relações sociais tais como 
preconceito, hierarquia, poder e distribuição do ganhos. Estes temas são, 
freqüentemente, considerados amostras de práticas culturais, portanto existia 
a possibilidade de que. talvez, estes sociólogos tivessem uma abordagem 
interessante do assunto em questão.
Segundo Wlggins (1969) esta área de pesquisa está subdividida em 
dois pólos
1) Efeitos de eventos antecedentes sobre os comportamentos dos inte­
grantes de um grupo (área chamada de controle de estímulos dentro da 
análise do comportamento)
2) Efeitos dos eventos conseqüentes sobre os comportamentos dos inte­
grantes do um grupo (relações resposta-consoquôncia).
a. Efeitos das conseqüências que retroagem individualmente sobre o com­
portamento do sujeito.
b. Efeito das oonseqüénaas que retroagem sobre o grupo como um todo.
Devido aos limites deste trabalho não foi possível ater-se às pesqui­
sas descritas no grupo (1) por Wiggins, porém será descrito a seguir um 
breve levantamento sobre os experimentos que atentam para os efeitos das 
conseqüências sobre o indivíduo e sobre o grupo de maneira geral (2)
a) Efeitos das conseqüências que retroagem individualmente sobro o 
comportamento do sujeito.
Conhecendo a importância das conseqüências sobre o comporta­
mento individual e a importância do comportamento social e verbal, Bavelas. 
Hastoff, Gross e Kite (1965) ao investigar o fenômeno conhecido popular­
mente como "liderança", em pequenos grupos de quatro pessoas, notaram 
uma relação entre a quantidade de emissões de respostas vGrbais e a clas­
sificação hierárquica de liderança realizada pelos próprios integrantes des­
tes grupos. Os autores puderam perceber que os participantes mais silen­
ciosos, ou menos falantes, em geral, eram classificados como estando num 
nível hierárquico (de liderança) mais baixo, enquanto que os participantes
84 O i r . K a o Vkcli
mais falantes eram classificados como possuidores de posições hierarqui­
camente mais elevadas. Durante o experimento os pesquisadoros apre­
sentaram diferentes conseqüências tentando aumentar o número de res­
postas verbais dos integrantes em nivel hierárquico mais baixo e diminuir o 
número de respostas verbais dos integrantes em nível hierárquico mais 
elevado. Os resultados oncontrados indicaram que pode-se modificar a 
avaliação hierárquica que os integrantes de um grupo fazem, uns dos ou­
tros. a partir da alteração de uma simples classe de respostas individuais, 
no caso o tempo de fala de um individuo alvo.
Pierce (1975) realiza um experimento semelhante ao de Bavelas et 
al. (1965), com a diferença básica de empregar o delineamento de sujeito 
único e de atentar para a possibilidade de que se um dado participante, ao 
interagir, fosse capaz de produzir reforçadores para os demais membros 
do grupo (ou seja, conseguisse maximizar a produção de reforçadores) 
este poderia ter seu indice sodomótrico ampliado a um status mais eleva­
do A fim de testar essa possibilidade ele aplica em dois grupos, de quatro 
pessoas, contingências chamadas de RCI3 e RMG4. A contingência RCI 
era a mesma empregada por Bavelas et al (1965), porém na contingência 
RMG o grupo partilhava os reforçadores; de modo que sempre que a pes­
soa designada a recebor reforçadores por falar o que fazia, os demais par­
ticipantes também seriam reforçados, em tese isso faria com que o próprio 
grupo passasse a tentar ‘ estimular" a pessoa alvo a emitir maior número de 
respostas verbais.
Outro experimento, muito semelhante a esto, foi realizado posterior­
mente (Pierce. 1977), agora, porém com três grupos distintos onde se veri­
ficou que outra variável relevante, para a possibilidade de se alterar a or­
dem hierárquica de um grupo, era o tempo do interação deste na linha de 
base. Observou-se que quanto mais tempo de interação os participantes 
tiverem uns com os outros, maior será o grau do que Pierce chamou de 
“consenso"5 e conseqüentemente maior a dificuldade de alterar a posição 
dos participantes na ordem hierárquica.
b) Efeito das conseqüências que retroagem sobre o grupo como um todo.
Para o presente artigo, o experimento mais relevante foi o Wiggins 
(1969), pois seu procedimento permitiu demonstrar como uma determinada 
prática de um grupo de pessoas pode ser selecionada, a partir da conseqüên­
cia desta prática para o grupo como um todo'. Neste experimento dez grupos 
de três participantes tomavam parte num jogo com duração de cerca de uma 
hora por dia (ou trinta jogadas), durante doze dias. Cada participante tinha um
3 R ofofçam enlo centrado r o Indivíduo 
c Reforçam anto nw diado pato grupo
'E m b o ro Pierce (1975; 1977) r à o afirm e isso. aparentom onta o c o rs e c s o ô produzido pe la fyim u- 
laçáo e seguim ento rugras acerca das posições do cada ^ teg ran te . Corno sabem os regras são 
tx>m m onos so n sfv ea ao s efeitos d33 cortin géncias o lo rx in m a retarda* seu oforto.
' O s resultados para o fl-upu com o um todo podem , tam bém , serom cham ados d e 'esultados 
agregados.
M etlUXH* n g A r o a * : o a n * i w t i ' r « i n j u u ltu i» • s t f t i « l # ü « 85
papel, um deles era designado como líder e tinha poder de decisão final om 
caso de falta de consenso, outro participante era designado como secretáric e 
tinha algumas informações privilegiadas sobre o jogo, podendo compartilhá- 
las ou não oom os demais e o terceiro era denominado tesoureiro e somente 
recebia e investia o dinheiro conforme a decisão do grupo. O experime-to 
consistia de um jogo de apostas e ganhos ou perdas e o líder era sempre 
obrigado a investir mais (em função das regras do jogo).
Os participantes eram informados que a pesquisa tratava-se um estu­
do sobre resolução de problemas em um pequeno grupo. Era dito que sua 
tarefa seria a seguinte: o experimentador primeiro escolheria uma coluna 
numa matriz de sete colunas por sete fileiras com uma quantidade aleatória 
de sinais + e - o em soguida, sem conhecer a decisão do experimentador, o 
grupo deveria escolher uma fileira e apostar suas fichas. Esta escolha (fileira 
e coluna) Indicaria uma célula de intercessão, quo poderia ser positiva ou 
negativa, e determinaria um saldo para o grupo. Cada sinal positivo daria 
direito a 30 centavos, pagos ao final de cada tentativa. Se a célula indicasse 
um sinal negativo, os participantes perderiam o investimentoe nada ganha­
riam. O dinheiro era. em seguida, colocado em uma caixa, chamada de "player 
pool", e os participantes deveriam então dividir algum dinheiro do “player 
pool” entre si. do modo como estes decidissem. Basicamente eles poderiam 
fazer uma distribuição eoüitativa (proporcional ao investimento de cada par­
ticipante) ou igualitária (os recursos são dislribuidos..em.parles.ifluaisJnde: 
pendentemente do quanto cada unr invostiu ou colaborou, para a. iMQ.dtic.ãfl 
do resultado)7. Cada participante deveria investir seu próprio dinneiro na jo­
gada e ao final da sessão o grupo deveria devolver o dinheiro usado do 
"player pool", deixando-o com a mesma quantidade do inicio.
A decisão do experimentador por uma coluna, na verdade, não ora 
aleatória ela dependia do modo como os participantes haviam dividido seus 
ganhos na tentativa imediatamente anterior, ou seja, o exper.mentador po­
deria fazer com que o grupo ganhasse ou perdesse. Os participantes Cos 
cinco grupos submetidos à condição experimental 1 somente ganhariam 
na jogada seguinte se distribuíssem igualmente seus ganhos e nos últirros 
cinco dias recebiam o tratamento inverso. Os participantes dos outros cin­
co grupos inversamente iniciavam o experimento na condição experimental 
2 e ao final passavam para a condição 1.
Os resultados do Wiggins indicaram que os grupos tendem a se ade­
quar à contingência vigente", pois ela ó mais vantajosa para todos (em termos 
de densidade de reforçadores ao longo do tempo), mesmo nos casos em que 
era forçada uma divisão igual do dinheiro ganho, e que o líder tendia a ganhar
' N a literatura de estas palavras aparecem com um a term tro logia técnica usada para designar 
diferentes m odos de alucar os reforçadores no grupo: U m a distribuição Igualitária ou Equality 
ie fere ao m odo de dtstrlbu.r os reforçadores igualm ente entre todos os Indtviduos. Independente 
d a sua contribuição para a produção do resultado do grupo. Equidade ou Equrty o um m odo cte 
distribuir os reforçadores a partir da COrlrítxiiçSo Co cad a sujeito r « geração do produto f ira l co 
g rupa
'■ N este texto tem -se em pregado um a term iro logia fam iliar aos analistas do com portam ento, po­
rém o » autores nem som pre em pregam t,j.s íormos. om bora este jam rofonndo-se a e ;«s
86 C t u is U ín V c it l
relativamente menos a cada jogada, por conta da regra que o obrigava a apos­
tar mais. Soll & Martin (1989) investigando as chamadas "regras o alocação de 
recursos" também notaram esse efeito, os grupos tendiam a desrespeitar as 
regras de distribuição impostas pelo exparimentador se uma regra alternativa 
e sem conseqüências aversivas para os integrantes fosse proposta.
A semelhança destes resultados com Lei da Igualação (Herrstein, 
1970) levou alguns pesquisadores a proporem a chamada Lei Social da 
Igualação (Grifflth & Gray, 1978; Gray, Griffrth, Von Broemsen & Sullivan, 1982), 
pois aparentemente, a mesma fórmula usada no nivel ontogenético poderia 
prever as relações entre práticas e resultados agregados do grupo no nivel 
social. Usando sua Lei Social da Igualação Griffith & Gray (1978) investiga­
ram o efeito da probabilidade do chamado "reforço externo"" sobre o modo 
como os participantes dividiam os ganhos e relataram que grupos com altas 
probabilidades de receberem conseqüências positivas tendiam a igualdade 
e grupos com baixas probabilidades tendiam a equidade.
Restringindo-so os grupos ainda mais Judson & Gray (1990) investi­
garam a distribuição de autoridade em duplas de desconhecidos como fun­
ção da manipulação do resultado que esta dupla era capaz de produzir (re­
sultados agregados) e posteriormento foi-se investigado o efeito deste tipo 
de contingônda sobre duplas que se conheciam há tempos (Gray, Judson & 
Duran-Aydintug, 1993), com alto grau de consenso, como diria Pierce (1977). 
Ambos os estudos corroboraram a tese de Wiggins (1969), ou seja, as du­
plas tendem a se adequar à contingência vigente, mesmo que isso implique 
numa inversão das relações internas já previamente estabelecidas.
Portanto, coloca-se aqui novamente a questão: É possível modificar 
os comportamentos dos integrantes de um pequeno grupo, sem manipular 
diretamente as respostas individuais de cada participante, e ao invés disso 
manipular somente os resultados agregados? Como esta contingência afe­
taria as respostas verbais dos participantes? Eles teriam “consciência °" do 
"por que" se comportam de tal modo?
Método
Partic ipantes
Foram recrutados oito participantes (voluntários) entre estudantes 
do primeiro ao terceiro ano do curso de psicologia da Universidade São 
Francisco” (Itatiba, SP). Destes participantes sete eram do sexo feminino e 
um do sexo masculino, com idades variando de 18 a 22 anos e foram divi­
didos em dois grupos respectivamente chamados de Grupo 1 e Grupo 212.
* Ter/no uWceado por este grupo d e pesquisadores para so rofonrem a o s resultados aQrogados 
produzidos poto grupo.
10 Consc-éncia é aqui e rio n d id a com o a descrição verta ) de con lirgéncliib « a p o n s á v e a por deto-- 
m inadas resposUu (Skinner, 1977).
' O autor ô especia lm ente grato ao s alunos o professores du6 ta un.vorsldadc por sua valiosa 
colaboração.
Mi-'-iirai'üir>3ÍKiria» cr*Tpcflarf:*-ilo, cultura o ko_ «dac« 87
Todos assinaram um termo do consentimento tomando ciência de: 1) seu 
compromisso com a pesquisa (receberam uma agenda com os 12 dias dos 
encontros); 2) que todas as suas sessões seriam filmadas, mas que seu 
anonimato estava assegurado; 3) que receberiam uma pequena gratifica­
ção financeira a cada sessão e ao final do experimento.
Foram também recrutados quatro alunos como assistentes de pes­
quisa para que realizassem o registro manual dos dados durante a sessão.
Para realizar a pesquisa os participantes se comprometeram a compa­
recer a um máximo de doze encontros com cerca de uma hora de duração 
cada (tompo médio que levava para concluir uma sessão de 30 jogadas).
Setting
Os dados foram coletados numa sala de aula adaptada para se tor­
nar um laboratório de pesquisa do pequenos grupos. As carteiras eram 
afastadas para o fundo da sala nos dias de coleta e o experimentador dis­
punha quatro cadeiras em torno de uma mesa (onde os participantes se 
sentavam); ao lado as duas cadeiras dos assistentes: no lado oposto uma 
filmadora: no centro da mesa a "caixa dos jogadores" (será descrita adian­
te) e em frente a matriz de oito colunas por oito fileiras com sinais +■ e - 
aleatoriamente distribuídos a cada célula de intersecção (Figura 1).
Figura 1: Matriz da 8x6 colunas e fileiras com sinais + e - 
randomlcamente distribuídos entre as células de intersecção
Proced im ento
O experimento, em linhas gorais, tratava-se de um jogo colotivo de 
pequenas apostos e ganhos. Cada participante recebia do pesquisador, ao
: A o lego do tox'.o o s giupos podo/ào ser refeildws com o G 1 e G 2.
88 C W stte n i
início de cada sessão, 110 fichas para o jogo (cada uma das fichas valia R$ 
0.01) e ao final de cada sessão os participantes poderiam trocar suas fi­
chas por dinheiro, do modo que quanto mais fichas acumulassem maior 
seria o valor que levariam para casa a cada dia de coleta.
A sessão iniciava-se com o experimentador instruindo o grupo que a 
cada jogada ale (e experimentador) escolheria uma coluna (que eram co­
loridas, conforme visto na Figura 1) e que baseava sua escolha num “com­
plexo sistema'' pré-definido. porém, nada mais podia dizer aos participan­
tes sobre este sistema. Também foi dito ao grupo que se, de algum modo, 
conseguissem descobri-lo poderiam ganhar muitas vezes sucessivamente 
prevendo as escolhas do experimentador.
O pesquisador, então, anunciava que tinha feito sua escolha por 
uma coluna no início de cada jogada o que os participantes teriam meio 
minuto pararealizarem suas apostas (decididas individualmente e que jun­
tas compunham a aposta coletiva do qruooï. cada um deveriam apostar 
uma quantidade mínima de 3 fichas e máxima de 10 pot jogada, as quais 
eram coletadas tão logo fosse decidido o valor a ser apostado. Uma vez 
tendo sido realizadas as apostas, os integrantes tinham um minuto e meio 
para debater as jogadas, escolher uma fileira (que eram numeradas de 1 a 
8) e em seguida anunciá-la ao pesquisador.
Em seguida o pesquisador anunciava qual coluna havia sido esco­
lhida e a céluta de intersecção entre a coluna (do experimentador) e a fileira 
(dos participantes) determinava os ganhos ou perdas do grupo. Se a célula 
possuísse um sinal + o grupo ganharia o dobro das fichas apostadas, mas 
se na célula houvesse um sinal - então o grupo somente receberia metade 
das fichas apostadas, quo eram imediatamente pagas. Embora os partici­
pantes não soubessem, a escolha do experimentador, exatamente como 
no experimento de Wiggins (1969). era na verdade determinada pelo modo 
como o grupo tinha feito a divisão das fichas na tentativa imediatamente 
anterior; por exemplo: se o pesquisador quisesse induzir o grupo a dividir 
as fichas sempre de modo igual bastava que ele escolhesse qualquer colu­
na cuja célula de intersecção com a fileira escolhida tivesse o sinal + sem­
pre que o grupo tivesse feito uma divisão igual dos ganhos na jogada ante­
cedente, o que possivelmente levaria a um aumento na freqüência deste 
tipo de distribuição.
Os participantes receberiam, então, um montante de fichas que per­
tenciam ao gmoo ,e deveriam_ser_jlMdidas. seaundQ_cjiíòáQS_DrQDriQS. A 
escolha sobre como dividir as fichas era livre, basicamente eles poderiam 
escolher um critério de divisão igualitário (a mesma quantia para todos) ou 
desigual (um ou rnais participantes recebiam mais fichas), eram, no entan­
to obrigados a investirem algum valor, qualquer que fosse, num pote de 
vidro chamado de “caixa dos jogadores" antes de iniciarem a divisão das 
fichas entre si, eventualmente o experimentador era quem determinava 
quantas fichas seriam colocadas na caixa.
Uma vez colocadas as fichas na "caixa dos jogadores", elas deveriam 
permanecer lá dentro até o ultimo dia de coleta, quando a caixa seria aberta
f/ ^ tiK o n tm g & n o e s : o o tn D o rts n w e o , e u liu -a o eocieiAiia> 89
Q os participantos dividiriam as fichas acumuladas do modo que achassem 
melhor (de modo igual ou desigual) A caixa tinha uma dupla e importante 
função no experimento, pois servia como uma contingência útil para evitar 
desistências (quem desistisse não estaria presente na abertura dela) e para 
produzir uma necessária variabilidade com porta mental, pois uma certa práti­
ca de distribuir os ganhos só podoria ser selecionado pelas suas conseqüên­
cias se chegasse a ser emitida, a caixa permitia ao experimentador tomar 
mais prováveis certos tipos de divisão. Sempre que o grupo passava cerca 
de cinco lances com erros sucessivos o experimentador fazia uma ou duas 
intervenções nos depósitos da caixa deixando para os participantes um nú­
mero de fichas que fosso impossivol do sor dividido por quatro (por ox.:qualquer 
número ímpar maior que três), caso quisesse forçar uma divisão desigual ou 
um número de fichas que fosse muito fácil de ser dividido igualmente ontre 
os quatro (por ex.: exatamente quatro fichas).
D elin eam en to E xperim en ta l
Cada participante integrou um do dois grupos (G1 e G2) que foram 
expostos às mesmas condições experimentais em ordem inversa. O G1 foi 
exposto á condição experimental A-B-A-B e o G2 foi exposto à condição B- 
A-B. Embora a pesquisa estivesse originalmente planejada para que o Gru­
po 1 passasse apenas pelas condições A-B-A. eles conseguiram mudar de 
condições experimentais rápido o suficiente para que o pesquisador tives­
se oportunidade de aplicar novamente a condição B. o que foi feito. 
Condição Experimental A Quando esta condição vigorava o grupo so­
mente obteria um resultado positivo se tivesse distribuído as fichas de for­
ma igual na jogada imediatamente anterior.
Condição Experimental B - Quando esta condição vigorava o grupo so­
mente obteria um resultado positivo se tivesse distribuído as fichas de for­
ma desigual na jogada imediatamente anterior.
O critério para a mudança de condição experimental teve como base 
a estabilidade do grupo em determinada contingência. Portanto, se o grupo 
passasse dez jogadas consecutivas obtendo sucessivos acertos era su­
posto que haviam se adequado à contingência em vigor e o dado esperado 
te rdo sido obtido permitiam a mudança de condição experimental.
O experimentador também disponibilizou cadernos, lápis, borrachas 
o apontadores para cada indivíduo dos grupos a fim de verificar que tipo de 
registros eles poderiam fazer (caso desejassem) e se estes registros possi­
bilitariam uma eventual descrição verbal da contingência e a formulação de 
uma regra, qu© por sua vez poderia passar a controlar o comportamento 
dos participantes levando-os á proficiência na tarefa. Para confirmar se os 
integrantes dos grupos foram capazes de descrover as contingências vi­
gentes. produzindo a tão conhecida “consciência", o experimentador ao 
final da última sessão de coleta aplicou as seguintes queslóes, de modo 
individual, aos participantes:
90 C h rtiO e n V ís n l
1: Qual é o sistema de escolha de colunas utilizado pelo experimentador? 
2: Como vocês descrevem o seu desempenho? Ganharam mais ou perde­
ram mais?
3: Como vocês se sentiram durante o jogo?
4: Vocês são capazes de fazer uma descrição sessão a sessão sobre como 
as coisas aconteceram?
Resultados
Como podo ser observado na Figura 2, o procedimento mostrou-se 
eficaz para estabelecer uma determinada prática de divisão dos grupos (no 
caso do presente experimento, uma divisão igual ou desigual).
A Figura 2 também ilustra como o Grupo 1 adequou-se rapidamente 
a condição experimental vigente e, sem que fosse necessária nenhuma in­
tervenção do experimentador, atingiram o critério de estabilidade definido 
para a mudança de condição experimental (dez acertos11' consecutivos) já na 
jogada dezenove da primeira sossão e errando apenas duas jogadas ató 
então. A causa deste resultado, possivelmente, tenha se devido ao relacio­
namento pró-experimental dos participantes (todos colegas de classe), isso 
somado ao valor baixo dos reforçadores: alguns centavos por jogada, que 
para estudantes de classe média-alta, tendem a exercer menos controle so- 
bre o comportamento do que manter boas relações com um colega, facilitan­
do assim a possibilidade de uma divisão igual dos ganhos.
Um indicativo extra desta propensão dos participantes a se adequa­
rem facilmente a um modo de distribuição igual ô encontrado quando estes 
entram na condição experimental B e que só acerlavam quando fizessem 
uma divisão desigual na tentativa anterior Na verdade, nem poderia ser con­
siderado um indicativo muito fidedigno, pois os participantes já haviam pas­
sado por uma condição que os faziam dividir os ganhos de modo igual, o 
assunto vottará a ser discutido ao serem analisados os dados do Grupo 2. 
Pôde-se observar que eles erraram durante muitas jogadas (praticamente só 
acertaram com a intervenção do experimentador; que por sinal, foi muito 
freqüente.) passando parte da sessão um e da sessão cinco, além de todas 
as sessões dois, três e quatro, na condição experimental B. Somente conse­
guiram mudar de condição na jogada cento e trinta de dois durante a sessão 
cinco, quando novamente voltaram a errar seguidamente.
O que se observou a seguir, quando o Grupo 1 retornou ã condição 
A. é que passaram a ocorrer variações espontâneas no modo de distribui­
ção (no sentido de que o experimentador precisou intervir com menos fre­
qüência) e foram necessárias somente duas intervenções na “caixa dos 
jogadores’, durante todo o periodo em que a condição experimental A vol­
tou a vigorar para que o grupo atingisse o critério de estabilidade.
' D um rlt» lodo o t«xlo as oxpressôes ’acerto* e-«rrt>' irtfo « ife rli-so , fttepúcbviim onte, a produzir 
o dobro de flclias na jogada ou perder m etade das fichas no jogada.
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Figura 2: Acertos acumulados ao lonqo das nove sessões realizadas para o 
Grupo 1 e 2. Os pontos brancos no gráfico indicam os momentos em que o 
experimentador fazia uma Intervenção nos depósitos da “ caixa dos 
jogadoros” . A rotícula do fundo sinaliza a condição experimental vigente a
cada momento.
Os participantes permaneceram nesta condição experimental (A) 
durante pouco mais da metade da sessão cinco, durante toda e sessão 
seis e na maior parte da sessão sete, encerrando-a na joçjada duzentos e 
três, durante sessão sete. e entrando novamente na condição B, na qual 
permaneceram durante todo o resto da coleta de dados. A condição B en- 
corrou-se na jogada duzentos e cinqüenta e três (sessão nove) e deman­
dou apenas três intervenções do experimentador na caixa.
O Grupo 2, contrariamente ao Grupo 1. iniciou o experimento pela con­
dição B (portanto, somente acertariam caso dividissem os ganhos de modo 
desigual), como foi anterioimente indicado os dados parecem apontar para
92 O f< * U a n V c t i-
maior dificuldade dos participantes em dividirem seus ganhos de modo desi­
gual (possivelmente por conta da relação pró-experimental entre os participan­
tes. anteriormente discutido). Pode-se ver na Figura 2 que os integrantes do 
Grupo 2 erraram com grande freqüência durante quase todo o periodo em que 
vigorou a condição B, de fato, a maior parte de seus acertos foram causados 
quase exdusivamente pela intervenção do experimentador na "caixa dos joga­
dores". Os participantes passaram todas as seis primeiras sessões nesta con­
dição e parte da sétima até que durante a sexta sessão começaram a esboçar 
alguma variabilidade espontânea (nâo forçada) e passaram, ontâo. a ficar sob 
controle da contingência vigente atingindo assim o critério de dez acertos, ne­
cessários ã mudança de condição experimental.
O grupo então passa para a condição experimental A (agora só acer­
taria se houvesse dividido seus ganhos de modo igual na jogada antece­
dente) e permaneceu mais da metade da sessão sete. toda a sessão oito e 
uma pequena parte da sessão nove nesta condição, até quo novamente 
retornou à condição experimental 8, na jogada duzentos e quarenta e qua­
tro da sessão nove O grupo permaneceu nesta condição apenas durante 
pouco mais de meia sessão, até novamente atingir o critério de estabilida­
de e encerrar o experimento.
Com relação aos ganhos individuais de cada participante, póde-se 
observar pela Figura 3 que cada um dos grupos produziram diferentes prá­
ticas (intragrupo) de divisão dos ganhos, o Grupo 2 foi mais eficaz em pro­
duzir fichas para seus integrantes (pois todos ganharam aproximadamente 
tanto quanto apostaram) e também conseguiu ser mais igualitário pois ao 
final das nove sessões as diferenças de ganhos entre os inlegrantes deste 
grupo foi desprezível. O Grupo 1 aparentemente não conseguiu desenvol­
ver práticas “económicas' tão eficazes como o G2 (observe que todos apos­
taram mais do que ganharam), de modo quo ao final do experimento existia 
uma considerável diferença entre os ganhos acumulados dos integrantes. 
Além disso, mesmo o participante que obteve maiores ganhos no Grupo 1 
(participante 1 com um acumulo de 695 fichas) ainda não conseguiu acu­
mular tantas fichas como cada um dos quatro integrantes do Grupo 2 (em 
que o participante 3, com menor acumulo de fichas, até nona sessão, obte­
ve um total de 1033) Estas diferenças entre os ganhos acumulados com­
parativos dos participantes do Grupo 1 X Grupo 2 podem, também, terem 
se relacionado ao fato do Grupo 2 não ter sido prejudicado com nenhuma 
ausência, o que possibilitou apostas maiores e ganhos maiores, ou mesmo 
ao fato do Grupo 2 ter se submetido a apenas três condições experimentais 
enquanto o Grupo 1 passou por quatro. No entanto, vale a pena ressaltar o 
fato de que o tanto o Grupo 1 como o Grupo 2 terminaram a coleta do 
dados na condição experimental B (deveriam produzir diferenças) e mes­
mo assim curiosamente nota-se que. para todos os participantes do Grupo 
2, as linhas de apostas e ganhos começa a se unir. sinal de que mesmo 
dividindo os recursos de modo diferenciado ainda produziam igualdade entre 
os membros.
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SasaÒM
Figura 3: Ganhos e apostas acumulados por cada um dos quaUo participantes 
dos Grupos 1 e 2 Os pontos brancos e a descontinuidade da linha Indicam as 
sessões em que houve ausénda de algum dos participantes. As linhas brancas 
e escuras Indicam fichas apostadas e ganhas, conforme legenda.
Os dados coletados indicaram que os grupos estavam empregando 
estratégias bastante distintas no modo de apostar o de distribuir as fichas 
ganhas. Como descrito anteriormente as apostas eram individuais e cada 
participante colocava o quanto achasse melhor (embora observações du­
rante a coleta indiquem que os integrantes dos grupos tendiam a discutir o 
sugerir apostas uns aos outros), porém a divisão dos ganhos era decidida 
coletivamente, sendo assim cada integrante podia apostar mais e recebor
; 
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J
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s
94 Ctnohai vielu
menos, apostar menos e recebor mais. receber tanto quanto apostava, e 
assim por diante, permitindo várias combinações livres.
Uma amostra dos padrões de apostas e divisões, retirada da sessáo 
cinco do Grupo 1 (Figura 4). indicou que o participante três tendia a apostar 
sucessivamente mais fichas e receber mais na hora da divisão, o participan­
te quatro, por outro lado. recebia quase sempre um número menor de fichas 
(e nesta sessão, eventualmente em alguns lances, não recebia ficha algu­
ma). apesar de apostar tanto quanto os outros participantes. Enquanto isso, 
freqüentemente, o participante 2 apostava mais fichas e recebia mais. o que 
deve ter gerado a ele um considerável acumulo ao longo da sessão.
Se. por outro lado, observarmos uma amostra das táticas de divisão 
dos ganhos no Grupo 2. ilustrada pela Figura 5, poder-se-á perceber que 
este grupo empregou uma prática divergente, usando uma espécie do “ro­
d íz io ' de apostas, de modo que a cada jogada um participante diferente 
tendia a apostar mais e receber mais na divisão, depois outro e assim por 
diante, mesmo que de modo não tão sistemático. Esta prática “econômica" 
fez com que os integrantes deste grupo, mesmo nos momentos onde deve­
riam dividir as fichas de modo diferente (condição 8), conseguissem man­
teros ganhos de todos aproximadamente eqüalizados.
Figura 4: Fichas apostadas e 
ganhas durante cada jogada da 
sessão 5 para cada um dos 
participantes (P1. P2. P3 e P4) 
do Grupo 1
».•'«iMyuYitgtrK:*« ooMfon»ne*iU>. cur.uo o coc«:M ân 95
Figura 5: Fichas apostadaü e 
ganhas durante cada jogada da 
sessão 9 (até seu encerramento 
na jogada 22) para cada um dos 
participantes (P1. P2. P3a P4) do 
Grupo 2.
Ao final da coleta da dados, conformo foi descrito no método, a “cai­
xa dos jogadores foi aberta e os participantes puderam dividir seu conteú­
do do modo como quisessem, vale a pena lembrar que ambos os grupos 
encerraram o experimento na condição experimental B (que produz desi­
gualdade). Observou-se que o G rupo 1 dividiu as fichas do modo bastante 
desigual, pois P1. P2 e P3 receberam 258 fichas enquanto P4 recebeu 123 
(cerca de metade dos demais), possivelmente por ter faltado a última ses­
são e náo estar presente para fazer maiores reivindicações. O Grupo 2, no 
entanto, dividiu tudo do modo m ais igualitário possível, pois P1. P2 e P4 
receberam 192 fichas enquanto P2 recebeu 191 (isso somente ocorreu 
pois o total do fichas na caixa não era múltiplo de quatro).
Por meio dos cadernos fornecidos aos participantes e pela análise 
dos registros textuais feitos por eles, foi possível evidenciar que inicialmen­
te os participantes registraram muitas variáveis (tais como: o quanto cada 
um apostou: o quanto cada um ganhou; se erraram; se acertaram, depósi­
tos na caixa; colunas escolhidas pelo experimentador; etc.). porém tende­
ram a registrar cada vez um menor número destas variáveis ou mosmo
96 Chm linn V rtd
deixar de fazer registros (dos oito participantes, somente três mantiveram- 
se registrando até a última sessão, os demais desistiram). Uma possível 
explicação para isso é o fato da descrição não ter se mostrado útil em aju­
dar os grupos a acertarem com maior freqüência as jogadas, o que levou a 
extinção deste tipo de resposta, ao mesmo tempo cm que, devido às mani­
pulações na caixa, os grupos se tornavam mais sensíveis à contingência 
vigente o acumulavam cada vez um maior número de acertos, reforçando 
assim a interrupção dos registros.
Um dos dados mais interessantes foi obtido ao final do experimento 
quando, ao coletar as respostas dos participantes ao questionário final ve­
rificou-se que, embora evidentemente a contingência tenha exercido con­
trole sobre as práticas de divisão dos recursos obtidos, nenhum dos partici­
pantes foi capaz de realizar uma descrição verbal das contingências que 
estiveram operando durante as sessões. Na melhor das hipóteses os parti­
cipantes conseguiram descrever que, em determinados momentos, passa­
vam por seqüências de acertos e depois por seqüências de erros.
Discussão
Apesar das diferenças metodológicas e do emprego de um estudo 
de sujeito único, os dados encontrados corroboraram os relatados por 
Wiggins (196g). assim como os de outras pesquisas, um pouco mais restri­
tas com pequenos grupos e abordando diferentes tipos de comportamen­
tos (Grifïith e Gray, 1978; Judson e Gray, 1990; Gray, Judson e Duran- 
Aydintug, 1993). No presente trabalho, também, a forma de distribuição 
dos ganhos entre os partie pantes (de ambos os grupos) mudou na direção 
prevista pela contingência em vigor (igual - A ou desigual - B).
De um modo geral os dados apontaram para uma maior facilidade 
em fazer com que um determinado grupo faça uma divisão igual do quo 
uma divisão diferente do seus ganhos, pelo menos nestas condições rela­
tadas. Isso, como mencionado na apresentação dos resultados, pode ter 
se relacionado ao fato dos participantes serem colegas de classe, que se 
encontravam freqüentemente, o que os tornava provavelmente mais sensí­
veis a eventuais discordàncias e às suas conseqüências sociais, ainda que 
amenas. Este diferiu do relato de Wiggins (1969), pois em seu estudo foi 
mais fácil estabelecer entre os participantes uma divisão desgual dos gan­
hos, temos que lembrar é claro, que em seu experimento os participantes 
eram desconhecidos entre si e um integrante do grupo era obrigado a apostar 
mais fichas sistematicamente.
O procedimento aqui empregado indica que os “valores" dos partici­
pantes dos grupos, ou sua "crença” numa “filosofia igualitária" e especial­
mente sua prática de alocação e distribuição de recursos (que poderiam 
ser chamados popularmente de sua organização social) podem ser muda­
dos por uma manipulação nas variáveis relevantes, assim corno indicam 
também os dados de Wiggins (1969) e mesmo de outros pesquisadores
M e l o o o iv r t g ^ ^ Q * ' « i i p w t a T e n o , ô j l l i r a e e o c ío d s â â 97
(Pierce. 1975, 1977; Gray, Judson © Duran-Aydintug, 1993). No caso do 
presente estudo mostrou-se inclusive que esta prática pode não apenas 
ser mudada uma vez. mas revertida também: neste sentido, este estudo 
pode ser tomado como uma demonstração de que as conseqüências de 
uma dada prática social (neste caso de alocação e distribuição de recur­
sos) sfilíKÍQüSü]QyaCÍa2QS5 nesta prática, fortalecendo-as de maneira a torná- 
las uma nova prática. Deste ponto de vista, os resultados podem ser toma­
dos como indicação de que práticas sociais são sim constituídas como con­
juntos de contingências sociais sob controle de suas conseqüências Indivi­
duais e para o grupo (Skinner, 1993/1953; 1981).
Numa linha semelhante de interpretação, o presente estudo pode 
ser tomado, ainda, como demonstração de como estas práticas (no caso, 
uma forma de distribuição) podem em certo sentido, serem definidas por um 
produto agregado (produção de fichas) produzidos (em longo prazo) por com­
portamentos individuais, eles mesmos mudados por este produto agregado. 
Os resultados deste experimento mostraram que o produto agregado (ganho 
ou perda de fichas) selecionou desempenhos individuais distintos em cada 
grupo, demonstrados nas apostas e nas divisões dos ganhos. Assim, foi pos­
sível notar que num grupo (Grupo 2) os participantes apostaram aproximada­
mente a mesma quantia de fichas que ganharam ao longo das sessões e. ao 
final, todos os participantes tiveram ganhos reais muito semelhantes; en­
quanto que. no outro grupo (Grupo 1) os participantes apostaram mais do 
que ganharam e que o ganho (ou a menor perda) entre os participantes foi 
porceptivelmonte diferente entre os integrantes.
Sabemos que os grupos, para se adequarem á contingência em vigor 
deveriam dividir as fichas de modo gual ou diferente (a depender da condi­
ção experimental no momento). Porém não havia contingências que estabe­
lecessem como deveriam apostar, ou quem deveria ganhar mais, ou quanto 
mais este alguém deveria ganhar, ou se certos comportamentos deveriam 
tor certos padrões (como a chamada escolha consensual de uma fileira). 
Enfim, não havia conseqüências programadas para estes e outros compor­
tamentos que no seu conjunto (formariam uma dada forma de distribuição de 
recursos) produziriam o produto (maior ou menor ganho de fichas) delimita­
do pela contingência em vigor (sucesso ou fracasso nas apostas feitas) O 
que os resultados mostraram ó que para cada um dos grupos, diferentes 
operantes entrelaçados (Skinner, 1993/1953. Glenn 1988,1991) foram sele­
cionados em cada grupo. Em ambos os casos estes operantes (padrões de 
comportamento individual, mantidos por suas conseqüências) fortaleceram- 
se e produziram o resultado agregado especificado; mas, em cada caso. 
diferentes operantes foram selecionados e as conseqüências específicas que 
os mantiveram foram distintas. Mais ainda, em cada caso (ou melhor em 
cada grupo) estes padrões de comportamento distintos e as distinta» conse­
qüências mantenedoras promoveram resultados mais ou menos satisfatórios, 
se pensarmos em termos de ganhos e perdas individuais, ou seja. eram es­
tratégias distintas, porém funcionais. Isso poderia até mesmo nosleva' a 
considerá-las uma ‘ classe" de práticas semelhantes.
98 CMslian visni
Assim, muitos comportamentos (como apostar, propor a distribuição, 
colocar na caixa dos jogadores, contribuir para a decisão de escolha da filei­
ra entre outros) poderiam ser (de fato, foram) selecionados pelas conseqü­
ências e estes comportamentos eram "livres", no sentido de que diferentes 
variações individuais poderiam promover o sucesso da aposta, por isso em 
cada grupo há diferentes padrões individuais. No entanto, estes padrões tam­
bém poderiam se mostrar mais ou menos produtivos no sentido de produzi­
rem "maiores lucros" individuais (e possivelmente relações sociais distintas, 
e ainda, maior ou menor adesão ao grupo). Sendo assim, nâo é de se surpre­
ender que diferentes padrões caracterizaram ambos os grupos.
Portanto, há indícios de que contingências sociais entrelaçadas 
(Skinner, 1978/1957, Glenn 1988, 1991) muito particulares estavam ope­
rando om cada grupo e estas contingências parecem ter determinado um 
maior ou menor na produção de fichas. Por exemplo, um grupo rapidamen­
te parecia apostar num ritmo muito acelerado (muitas fichas por jogada) ao 
discriminar que entraria numa seqüência de ganhos (Grupo 2), enquanto o 
outro grupo parecia ir testando a contingência de forma mais lenta (Grupo 
1) e portanto ao longo do tempo esta “forma de jogar" acabaria por se mos­
trar menos produtiva no sentido de que, uma vez ganhando seguidamente, 
o interessante para os participantes seria apostar o máximo e obter o maior 
número de fichas possível, pois quanlo menos fichas apostadas menores 
eram também os ganhos. Outro fato interessante o ser considerado é que 
os participantes do Grupo 2 acabaram desenvolvendo um sistema de rodí­
zio (ilustrado na Figura 5). do modo que cada membro do grupo aposlava 
alternadamente mais que seus colegas na condição B e aquele que apos­
tava mais também recebia proporcionalmente mais na divisão dois ganhos 
implicando assim numa forma de divisão igualitária dos ganhos quase sem­
pre.
Foi demonstrada uma relação de probabilidade entre os produtos 
agregados e certo modo de distribuição e para produzir tal resultado (um 
determinado montante de fichas) cada participante deveria investir, discu­
tir, dividir, escolher e muitas vezes aplicar uma conseqüência sobre o com ­
portamento dos outros (somente aqui existiria uma enorme variedade de 
Interações verbais envolvidas) do divorsas formas diferentes de modo que 
cada comportamento era selecionado por suas conseqüências imediatas 
(por exemplo, investir determinado montante de fichas, sugerir um modo de 
divisão dos ganhos ou propor uma formo de escolha de fileiras a cada joga­
da dô modo que poderia ou não ser acoita pelos colegas) e o conjunto 
destas interações (que teoricamente formaria uma prática cultural como 
distribuir os recursos de modo igual ou diferente) era responsável pela maior 
ou menor habilidade de cada um dos grupos em produzir fichas (o resulta­
do agregado), que seria uma conseqüência mais atrasada e que manteria 
toda esta rede de relações de uma forma análoga a determinação de práti­
cas no nível cultural. Possivelmente esta relação seria, também, análoga a 
relação descrita pelo conceito de metacontingência (Glenn, 1988; 1991: 
Andery e Sério, 1999), porém seria interessante uma tentativa de especifi­
car melhor os operantes entrelaçados em experimentos futuros.
Mbiacoqüoj&hiIbis coTporiammto, oitlura ** rixhkIoU» 99
Embora não tenham sido capazes de descrever verbalmente as con­
tingências. alguns participantes se mantiveram fazendo registros nos cader­
nos fornecidos pelo experimentador, até o final da coleta de dados, porém 
observou-se que o comportamento de fazer registros escritos foi se tornando 
menos freqüente, uma vez que registrar não tornava mais provável o suces­
so no jogo e eventualmente algum participante poderia passar por uma se­
qüência de acertos sem que fizesse qualquer típo de registro. No presente 
estudo, assim como no de Wiggins (1969). nenhum dos participantes foi ca­
paz de 'tomar consciência" do real motivo" do sucesso ou fracasso do grupo 
nas jogadas, ou seja, os participantes não puderam fazer uma descrição 
verbal precisa das contingências em vigor, muito embora seja evidente que 
todos os participantes dos grupos estivessem sob controle delas, um indicio 
extra de que o controle por parte de uma contingência independe de sua 
descrição verbal, como já foi apontado por Skinner (1974).
Em estudos futuros seria interessante a elaboração de experimen­
tos capazes de verificar o efeito destas conseqüências seletivas sobre gru­
pos numa situação de competição, onde se um grupo ganha o outro perde, 
pois sabemos que no mundo real grupos distintos competem por recursos 
limitados e eventualmente se uma prática se mostrar efetiva poderá ser 
transmitida a outro grupo. Embora de execução complexa, seria também 
interessante fazer uma análise detalhada das interações verbais decorren­
tes de experimentos semelhantes a este (Wiggins. 1969; Sell e Martin, 1989; 
Pierce. 1975; 1977), uma vez que o comportamento verbal é essencial para 
a interação social e como se indicou aqui, tem papel relevante na determi­
nação dos padrões de comportamento individual e nos produtos agrega­
dos que são conseqüências das inierações sociais.
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Complexidade e Seleção: 
implicações para a mudança 
organizacional
Sigrid S. Glenn 
Maria E. Mallot
Organizações são entidades complexas em constante mudança. O 
que sâo organizações? O que significa mudança organizacional? Quais são 
as causas da mudança? Neste artigo examinamos a natureza das organiza­
ções, enquanto entidades culturais que se transformam, sendo esta transfor­
mação o resultado de dois tipos distintos de seleção: comportamental e cuí- 
tural. Sugerimos que todas as organizações são entidades culturais, mas 
nem todas as entidades culturais são organizações. Isto é similar a dizer que, 
assim como entendemos ser todo comportamento verbal comportamento 
operante, nem todo comportamento operante é comportamento verbal. Mais 
ainda, embora o comportamento verbal seja operante e organizações sejam 
©ntidades culturais, não há razão para afirmar que comportamento verbal e 
organizações não possam (ou devam) apresentar, cada um deles, caracte­
rísticas peculiares que transcendam suas inclusões nas categorias gerais de 
comportamento operante e entidades culturais.
Neste artigo tratamos de duas características significativas da mu­
dança organizacional: complexidade e seleção. Na primeira seção faze­
mos uma revisão da natureza dos sistemas organizacionais, discutimos os 
limites organizacionais e sugerimos uma taxonomia de alguns tipos de com­
plexidade que são característicos de muitas organizações. Na segunda 
seção tentamos explicar mudança organizacional como uma função de 
contingências culturais e comportamentos. Ao longo deste artigo, utiliza­
mos exemplos reais, muitos dos quais pertencentes a organizações com 
fins lucrativos. Estamos confiantes que organizações com fins lucrativos, 
assim como outras organizações humanas, estão para nossa análise as­
sim como jogar futebol e ler estão para a análise operante.
' Tradução do G lo rn , S S . A M alo tt, M (2 0 0 4 ). Com piox ily and Solection: Implicallons or 
OrganlZflltonal C h ange B e h a v b ra n d S o ci.ih ssucs 1 3 .8 9 -1 0 6 Publicado c o n a autorlzaçfio do 
Botravionsis (ur Satfal Rvsponsibtòty. S e h jv w and Soo«M£Su».s pode seracessado em hltp ! 
.''www.bfsr.orfl. Tradução realizada por Maria Silvia Ribeiro Todorov
camila paiffer
Highlight
102 S i y i c G lo -u t. M a n a M J u i i
Complexidade Organizacional
A maioria das tentativas de mudança organizacional é exaustiva, pois 
uma organização pode se transformar de diversas maneiras. Para lidar com 
a complexidade organizacional, constituímos grupos, passamos inúmeras 
horas em reuniões o, com demasiada freqüência, tomamos decisões que 
não têm efeito algum a longo prazo. Um exemplo: em um esforço para redu­
zir filas nos caixas, uma organização de vendas a varejo tentou implementar 
a “regra do próximo na fila ' em lojas que atendem até 2000 fregueses em um 
dado momento e têm até 40 caixas registradoras. A regra era que nenhuma 
fila deveria ter mais que um freguês esperando enquanto um outro estivesse 
sendo atendido no caixa. Em diferentes lojas da rede, tentou-se reduzir ou 
eliminar longas filas nos caixas sem sucesso porque muitas variáveis que 
afetam a eficiência do atendimento r>o caixa não foram consideradas - o 
volume do tráfego em momentos específicos do dia, as condições climáticas 
e seus efeitos nos padrões de compra, número de empregados necessários 
para lidar com um volume variável de fregueses, demandas de serviço em 
outras partes da loja. e assim por diante.
Muitas variáveis dinâmicas afetam as organizações e nosso trabalho 
nelas. Acreditamos que compreender a natureza da complexidade organizaci­
onal é essencial, mas não suficiente, se esperamos realizar uma mudança 
significativa e evitar sermos submergidos por detalhes. Nas próximas seções 
examinamos a natureza dos sistemas organizacionais, definimos as fronteiras 
das organizações e distinguimos vários tipos de complexidade.
A Natureza dos Sistemas Organizacionais
A n a lis ta s do co m p o rta m e n to , que traba lham no cam po de 
gerenciamento organizacional do comportamento, devem ir além das ativi­
dades tradicionais dos analistas do comportamento porque seu objeto de 
estudo é o comportamento organizacional. “Comportamento organizacional" 
significa tanto o comportamento de indivíduos em organizações quanto o 
comportamento de organizações como entidades funcionais. O que deve 
ser gerenciado é a relação entre o comportamento de indivíduos em uma 
organização e o comportamento da organização como um todo.
Organizações consistem da interação dinâmica entre o comportamento 
de seres humanos e seus produtos. O comportamento de todos os emprega­
dos. como o comportamento no laboratório experimental, e o resultado de 
contingências de seleção comportamental, ou, resumindo, de contingências 
comportamentais. As unidades de análise que compõe o comportamento 
consistem de relações entre antecedentes, repostas emitidas pelos organis­
mos o conseqüências. Algumas contingências comportamentais tornam mais 
prováveis que um comportamento do mesmo tipo volte a ocorrer. Por exem­
plo. om uma fábrica de produtos do plástico, um esquema de produção (an­
tecedente) contém Instruções para o trabalhador montar o molde (resposta)
M a t H r w it ir t if l it ó U » n o m jw r t w n e ilo , a iM t f á « B o rw e -ttV i 103
para poças plásticas Um moldo finalizado ó o produto do comportamento 
desse operário. O operário localiza o molde, coloca-o em uma empilhadeira, 
leva-o para a prensa e o coloca na prensa. Se o molde ê fixado niveladamente 
entre as portas da prensa, a tarefa BStá completa (consequência). So o mol­
do não está nivelado, o operário deve manipulá-lo até que se ajuste do modo 
adequado. A relação entre suas ações e a prensa adequadamente carrega­
da (contingência) afeta a maneira como a fixação do molde será feita da 
próxima ve /. Variantes do comportamento na colocação adequada dos mol­
des se tomam cada vez mais freqüentes. Repetições desse comportamento 
na colocação de moldes constituem uma linhagem comporta mental, A colo­
cação de molde está passando por uma seleção por reforçamento - um pro­
cesso pelo qual a relação entre resposta e suas conseqüências aumenta a 
probabilidadefutura desse comportamento. A colocação do molde é com­
portamento operante porque atua sobre seu meio ambiente. Uma linhagem 
operante consiste de uma seqüência de instâncias do operante que mudam 
com o passar do tem po com o resu ltado de contingências de seleção 
comportamentais.
Algumas vezes o comportamento da pessoa A. ou o produto desse 
comportamento, é a ocasião para a pessoa B fazer algo. O comportamento 
de B, ou seu produto, pode por sua vez estabolecer a ocasião para a pessoa 
C fazer algo. As contingências comportamentais de A, B e C são interligadas. 
O mesmo evento ou objeto (e g o produto de A) é uma conseqüência do 
comportamento de A e estabelece a ocasião para o comportamento de B. 
Por exemplo, na manufatura de peças de plástico, o operário A pega o molde 
de uma estante de ferramentas e o coloca na prensa. O operário B ajusta o 
mostrador da pronsa do acordo com especificações técnicas. O operário C 
molda as peças. O comportamento de cada pessoa torna-se parte do ambi­
ente passando a integrar contingências comportamentais para outras pesso­
as. Chamamos esses tipos de relações entre os comportamentos de duas ou 
mais pessoas de contingências comportamentais entrelaçadas. Elas são os 
fundamentos da complexidade cultural.
O comportamento de A : B e C podo ser parte de um conjunto maior 
de contingências comportamentais entrelaçadas que. juntas resultam em 
um produto agregado: peças p lásticas moldadas. Essas contingências 
entrelaçadas são repetidas com cada solicitação de moldagem; e as repe­
tições constituem-se em uma linhagem de contingências entrelaçadas. 
Variações nos elementos das contingências entrelaçadas podem resultar 
em variações na quantidade ou qualidade das peças plásticas. As contin­
gências entrelaçadas determinam as características dos produtos; e as ca­
racterísticas dos produtos determ inam a aceitação do produto pelo consu­
midor. A aceitação do consumidor é o ambiente externo contingente ao 
produto das contingências comportamentais entrelaçadas.
Em organizações, estamos interessados nos produtos do comporta­
mento entrelaçado do múltiplos indivíduos; portanto, o comportamento de 
indivíduos permanece sendo o componente fundamental das organizações.
camila paiffer
Highlight
camila paiffer
Highlight
camila paiffer
Highlight
104 & y n d 6 < in n , M a n a M a o li
A evolução do uma organização como um lodo depende não somente dos 
comportamentos individuais, mas também, do modo como esses comporta* 
mentos so combinam e formam unidades de seleção que evoluem. Dada a 
complexidade inerente às organizações, o comportamento de qualquer indi­
víduo raramente pode ser isolado e administrado sem se levar em conta 
suas interações com o comportamento de outros indivíduos.
Fro n te iras organizacionais
Podemos começar nossa análise organizacional estabelecendo as 
fronteiras da entidade que queremos estudar. O que constitui uma organi­
zação? Em seu sentido mais amplo, uma organização é constituída por um 
grupo que desempenha tarefas que resultam em um produto particular. Uma 
organização é definida polo que produz. A fábrica XYZ, por exemplo, con- 
siste.de todos os empregados cujo trabalho integrado resulta na fabricação 
do produto manufaturado por esta fábrica. Se um departamento interno 
fornece sorviços de viagem aos empregados da XYZ, sua existência ne­
cessariamente dependeria dos produtos manufaturados da XYZ. Inversa­
mente, uma agência de viagens, contratada pela XYZ para fornecer seus 
serviços aos empregado da companhia, é uma organização diferente da 
XYZ porque a existência da agência necessariamente não depende dos 
produtos manufaturados pela fábrica.
As organizações frequentemente compreendem diversos sistomas que 
contribuem para que elas atinjam seus objetivos. O termo sistema é usado 
para uma variedade de relações entre muitos tipos de elementos isolados, 
combinados em um todo para alcançar um resultado. XYZ necessita de vários 
sistemas para fabricar produtos, tais como sistema de compras, de vendas, de 
produção o de expedição. Cada sistema gera um produto que está relacionado 
às operações de um ou mais dos outros sistemas e, desse modo, contribui 
para o produto agregado da XYZ. Por exemplo, os produtos dos sistemas de 
XYZ incluem ordens de compra, artigos comprados, produtos manufaturados 
e prontos para entrega. Cada sistema é composto de subsistemas. O sistema 
de produção poderia incluir os subsistemas de moldagem, acabamento, e 
empacotamento, cada um produzindo um componente crítico - componentes 
moldados, acabados e empacotados. Um subsistema pode ter seus próprios 
subsistemas. Por exemplo, moldagem inclui preparação do plástico, instala­
ção da prensa e injeção do plástico, e esses sistemas produzem plástico ade­
quado, instalação apropriada e moldes injetados. O sistema cultural menos 
complexo em uma organização é aquele formado por uma contingência 
comportamental entrelaçada na qual dois indivíduos executam, cada um ao 
menos, um comportamento repetidamente.
Organizações não são entidados estáticas; são compostas por todos 
os seus sistemas dinâmicos, sempre passando por mudanças. Alterações 
nos sistemas internos resultam em mudanças na organização como um todo. 
Por exemplo, o comportamento entrelaçado de uma equipe de produção 
poderia ser afetado não só pela equipe de engenharia diretamente envolvida 
na produção, mas também pelo processo de compra, o do expedição, e por
camila paiffer
Highlight
camila paiffer
Highlight
MbVjuPtlInQAicla»: ccoipoi'.en6olo. cu*urn e wxtedCKte 105
outros processos na organização. Além das dinâmicas internas de qualquer 
processo, este também é afetado por alterações no ambiente externo à orga­
nização, tais corno mudanças nas organizações de clientes e de fornecedo­
res. A mvasâo de partes de um sistema nas operações de outros sistemas 
revela a permeabilidade de suas fronteiras. As interações dinâmicas entre os 
elementos dos sistemas e a permeabilidade de suas fronteiras criam uma 
complexidade difícil de se analisar. Devido ã permeabilidade, as fronteiras de 
qualquer sistema são arbitrárias, entretanto, delinear fronteiras auxilia-nos a 
simplificar uma complexidade esmagadora.
Identificar fronteiras arbitrárias não significa que podemos ignorar o 
grande número de interações que ocorrem entre entidades internas e ex­
ternas. Somente significa que deixamos de lado as influências mais remo­
tas e focalizamos as dinâmicas mais diretas. Análises de sistemas, inde­
pendentemente de seu tamanho, requereriam, minimamente, o estudo oas 
interações dinâmicas entre seus componentes internos, suas relações com 
sistemas criticos da organização, sua relação com o desempenho da orga­
nização como um todo, o sua rolaçâo com a demanda dos clientes. {Para 
um relato de análises de sistema em mudanças organizacionais, ver Gilbert, 
1996; Malott, 2001-b; R um m lere Brache, 1995.)
Por exemplo, o comportamento da equipe de vendas de uma com­
panhia farmacêutica está integralmente relacionado a outros sistemas da 
organização. Seria limitado estudar somente o comportamento do pessoal 
de vendas e tentar planejar novas contingências de reforçamento para au­
mentar as vendas. Não poderíamos saber se nossas mudanças teriam um 
efeito dosejado em outros processos e, portanto, na organização como um 
todo. Assim, a análise do comportamento da equipe de vendas exigiria não 
somente o estudo do comportamento do pessoal de vendas, mas também 
a inter-relação entre as equipes de venda em territórios, distritos e regiões; 
a influência da propaganda, do desenvolvimento de produtos, dos proces­
sos de produção: as tendências de compras dos clientes; e o impacto das 
regulamentações de drogas no desempenho das vendas.
Taxonomia da Complexidade Organizacional
Organizações são como ecossistemas, formadas por inúmeras 
interdependências.A ecologia oferece uma visão ordenada da natureza 
que simplifica o estudo das relações entre organismos e seus ambientes 
físicos, incluindo outros organismos. Como os ecologistas, os analistas do 
comportamento que trabalham em organizações precisam de um caminho 
para o rd ena r as com p lexas in te rdependênc ias e n tre os s is tem as 
organizacionais e suas contingências entrelaçadas.
P ensam os se r ú til c o n s id e ra r trê s tip o s de com p le x id a d e 
organizacional: ambiental, de componentes e hierárquica. Nesta seção '9- 
vomos osses três tipos de complexidade e suas implicações para a eficácia 
organizacional.
camila paiffer
Highlight
106 & g i d G ltw in , M a rta M atan
Complexidade ambiental
Para escolher qualquer área a ser mudada, por menor que ela seja. 
devemos compreender a organização como um todo. O número de variá­
veis externas à organização que afetam seu desempenho determina a com­
plexidade ambiental. O ambiente oxterior à organização está mudando cons­
tantemente de maneiras que afetam a organização interna. Algumas das 
maneiras como o ambiente externo pode mudar são. por exemplo, desen­
volvimento de produtos e serviços dentro de uma indústria, regulamenta­
ções governamentais, fusões, consolidações, falências o estado de guerra. 
Outras variáveis externas, como mudanças na concorrência, fornecedores 
e condições climáticas também podem afetar as organizações. A Figura 1 
ilustra a complexidade ambiental.
Desenvolvimento de produto. Milhões de novos produtos e serviços 
se tornam acessíveis no mercado todo ano, o que requer mudanças em muitos 
sistemas internos das organizações, tais como, produção, controle de quali­
dade, treinamento e tecnologia da informação. Fracasso em melhorar a qua­
lidade dos produtos, nivelar-se aos padrões da concorrência e até mesmo 
não obter êxito na tentativa de superá-la, pode reduzir as vendas e a fatia do 
marcado ameaçando a estabilidade de longo prazo da organização.
Regulamentações governamentais. Regulamentações também impõem 
tremendas mudanças em processos internos. Por exemplo, consideremos o 
impacto das regulamentações de rótulos em alimentos de 1994 concebidas 
para ajudar os consumidores a fazer escolhas saudáveis. O United States Food 
and Drug Administration e o Departamento de Agricultura exigiram que todos 
os alimentos empacotados tivessem um rótulo padronizado indicando as quan­
tidades de calorias, vitaminas, proteína, gordura e fibra por porção. Estas regu­
lamentações impuseram mudanças nos processos de fabricação de alimen­
tos, controle de qualidade, empacotamento, e outros.
Fusões, consolidações e falências. Fusões e consolidações, frequen­
temente, revitalizam empreendimentos debilitados, diminuem a competi­
ção, ou diversificam linhas de produtos, alterando assim o quadro ambiental 
e criando nova demanda. Uma fusáo é realizada quando a companhia com­
CfQtnltaçAte Cortfçe«
Cthtffoa
Figura 1 Comploxidade ambiental
MtrtacsnUiyjônsiíi»: ccMpOítafwittO. cuRur« e scaed ede 107
pra a propriedade de outras firmas, absorvondo-as em uma estrutura 
corporativa que mantém sua identidade original. Uma consolidação ó efeti­
vada quando duas ou mais companhias se dissolvem para formar uma com­
panhia inteiramente nova. Falências podem resultar no desaparecimento 
de concorrentes, vendedores ou clientes.
Flutuações na economia. Flutuações na economia têrn um impacto 
significativo no ambiente de uma organização. Em períodos de prosperida­
de. produção, emprego, salários, e lucros aumentam; mais investimentos 
expandem a produção. No entanto, enquanto se mantém essa tendência 
ascendente os custos do produção aumentam; falta de matérias primas pede 
dificultar a produção; taxas de juros se elevam; preços sobem; e os consu­
midores reagem aos preços maiores comprando menos. À medida que o 
consumo começa a não acompanhar a produção, acumulam-se os estoques, 
causando uma queda nos preços. Os fabricantes fazem cortes, o investi­
mento diminui, a produção diminui, e o desemprego cresce. Ciclos de pros­
peridade e depressão afetam a maioria das organizações.
Estado de guerra. O estado de guerra também tem um impacto sig­
nificativo nos ambientes organizacionais. A guerra afeta a economia, a 
infra-estrutura dos países envolvidos, o desenvolvimento de sistemas mili­
tares e de inteligência, e assim por diante.
A ocorrência de mudanças ambientais não significa que as organiza­
ções tèm que se tomar, necessariamente, mais complexas. Algumas vezes, 
mudanças no ambiente externo forçam as organizações a simplificar seus 
sistemas. Por exemplo, demanda por entrega mais rápida de pedidos pode 
exigir de uma organização que simplifique seus processos de modo que uma 
maior quantidade de volumes seja entregue em menos tempo.
Mudanças no ambiente externo provocam alterações dentro da or­
ganização, mas mudanças dentro das organizações também afetam o 
ambiente. Por exemplo, consideremos o Impacto na economia de uma Oni- 
ca grande fusão, ou de resíduos perigosos gerados por uma empresa, ou 
de um ato terrorista. A complexidade ambiental não pode ser ignorada. As 
organizações que não se adaptam ãs mudanças em seus ambientes exter­
nos tomam a sua sobrevivência improvável.
C o m p lex id ad e de co m p on en tes
O número de elementos que compõem uma organização determina a 
complexidade de componentes. Os elementos podem se relacionar uns com 
os outros como iguais ou podem estar localizados em diferentes niveis de 
uma hierarquia. As menores unidades organizacionais de interesse sno con­
tingências comportarrientais entrelaçadas que geram produtos crilicos.
Organizações tendem a ser mais complexas quanto maior for o nú­
mero de pessoas que participam ern seus processos. Pequenas empresas 
com poucos empregados são geralmente menos complexas do que grandes 
empresas com milhares de empregados. A complexidade de componentes
108 S g r id G io m , M ara M doll
também depende do número de processos que cada sistoma compreende. 
Por exemplo, em uma companhia industrial o processo de produção pode 
ser mais complexo do que o processo de publicidade. Isso pode ocorrer por­
que a produção tem mais subsistemas e/ou maior número de contingências 
comportamentals entrelaçadas. O processo industrial pode conter todas as 
contingências entrelaçadas envolvidas na recepção de matéria prima, na pre­
paração do equipamento, no planejamento, na produção e na administração 
de estoquo. Uma maneira simples de se visualizar a complexidade de com­
ponentes é olhar mapas de processos. Pensemos em um mapa de processo 
como uma descrição gráfica, em que cada caixa no mapa representa com­
portamento entrelaçado que gera um produto. Um mapa de processo pode 
englobar o comportamento de milhares de pessoas (Malott, 2001-b). Proces­
sos com mais caixas no quadro organizacional são mais complexos do que 
aqueles que têm menos caixas. A Figura 2 mostra o processo parcial de 
seleção de itens de varejo a serem anunciados.
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Figura 2 Complexidade de componentes.
Estudar a complexidade de componentes tem importância decisiva. 
Sem um esforço sistemático,as organizações tendem a crescer em com­
plexidade de componentes e se tornam redundantes e ineficientes. Uma 
complexidade de componentes desnecessária pode ser contraproducente 
para os objetivos últimos da organização.
MaeacoiüngtnciK' comfwriwno-itn. cuWlt« « *or«d«o<* 109
C o m p lex id ad e h ie rárqu ica
Organizações são feitas de sistemas que contém subsistemas que. 
por sua vez. podem conter mais subsistemas, e assim em diante. A ccm - 
plexhJade hierárquica è determinada pelo número de níveis de sistemas 
existentes na organização, ou o número de relações parte-todo que consti­
tuem uma organização Os niveis de direçáo em uma organização são. 
geralmente, um bom índice de complexidade hierárquica.
Uma organização cresce em complexidade hierárquico à medida 
que cria mais camadas de componentes. Portanto, a complexidade de com­
ponentes geralmente afeta a complexidade hierárquica. Por exemplo, uma 
organização que precisa aumentar a produção podo adquirir mais fábricas; 
a supervisão do funcionamento de diversas fábricas requer outro nível de 
gerenciamento. Quando o número de fábricas cresce consideravelmerte, 
as organizações necessitam de diretores regionais para administrar áreas 
geográficas especificas. À medida que a companhia expande, os diretores 
regionais precisam de mais ajuda para administrar seus territórios, de medo 
que podem criar uma nova camada de direção - diretores distritais. A Figu­
ra 3 ilustra a complexidade hierárquica em uma companhia farmacêutica.
— C
igaras:
Figura 3 Complexidade hierárquica
camila paiffer
Highlight
110 Sgr.d G w iri, Mana MefoU
As estruturas organizacionais frequentemente refletem o modo como 
reúnem seus componentes em hierarquias. Os conjuntos podem ser defini­
dos funcionalmente (marketing-vendas), geograficamente (regiões-distritos), 
por conteúdo (psicologia, história, fisica). pela forma (carros e caminhões), 
pefa expectativa de vida (pereciveis-não pereciveis/secos-molhados) e pela 
sazonalidado (sazonal-não sazonal).
As organizações podem ter tipos diferentes de níveis hierárquicos - 
companhias farmacêuticas que algumas vezes organizam suas equipes de 
venda por territórios, distritos e regiões podem também apresentar cama­
das de direção agrupadas por tipos de produto. Assim, possuem especia­
listas em produtos para tipos espoclficos de doenças, por exemplo, doen­
ças do sistema nervoso central
Uma consequência importante de complexidade hierárquica é que, à 
medida quo os níveis de gerenciamento aumentam, o comportamento da­
queles nos niveis mais elevados se torna cada vez mais desconectado a 
componentes essenciais das contingências entrelaçadas dos niveis mais 
baixos. Infelizmente, á medida que os níveis de gerenciamento crescem em 
uma organização, essas rupturas entre n ive is am eaçam o sucesso 
organizacional. O desempenho do nível mais baixo, em última análise, deter­
mina o sucesso, o fracasso e a sobrevivência da organização. Mas o que 
acontece no nivel mais baixo depende do comportamento de gerentes nos 
niveis mais altos - principalmente comportamento de tomada de decisões.
Decisões nos niveis mais altos são frequentemente tomadas som 
que se tenha consciência das consequências para os sistemas de niveis
Tabela 1. Tipos de complexidade
Tipo
Ambtontal
d»
Componentes
Peftnlçfto 
Õ s fator©* 
externos A 
orgu-it/açâo quo 
Hf elam o 
desoinptmho 
organizadora*
Número da 
Owtes quo 
oofstit(.«rí o 
(oso
(represeiiiaili 
«*m mapas c-o 
PHXMMOV 
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ivvôis do 
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{ropreseotado 
pornfv«9de 
odn.nislraçáo)
Exem plos 
OttMonvnlvimunto 
d& produtos e 
serviço», fuso«» 
e consd«.-içò<x> 
ftjluaçúe* 
flcopímlcas. 
estado de guerra 
MoUaqern incHi 
acionar a 
piorsc, verificar 
o oldsíioo o 
sacar o plástico
Crxri[i(i!birr.r>-to 
da ven d a*é 
parte CO Brno d« 
veiKa»; time do 
vandaa ô corts 
do territoito; 
tomtork) ô parle 
do distrito; 
o stntu « parto 
_oajea&.
t ffa to __________
Amoaçam a ou 
coritrítuam para 
a aotimvívércia 
da orgailzaçôo
EflcMocta dos 
ptocossoe.
AtwMntotraoflo
A Ín to r a
«rganUaçAo
interro ao
ambiente
ttxforno
Otimiza» oa 
componni'to6 
•liminantJo 
rodurca - ia .«
C fici4naa doe 
p iu o iw s
Simplifica os 
niveis o« 
cdministraçãu 
para «liminar 
deecu-iexòes e 
promover a 
oonsütórjcla 
ontre as 
camadas
MrtlBOortrigAnofts: cotrpofurnonto, cultura « »ir.iwlodo 111
mais baixos da organização. Tomar decisões toma monos tempo do que 
implementá-las. E tomar decisões com pouca reflexão toma muito menos 
tempo do que implementá-las - mesmo que pobremente implementadas. 
Administradores geralmente solicitam mais iniciativas de mudança do oue 
pode ser realisticamente implementado. A Tabela 1 mostra os trés tipos de 
complexidade discutidos.
Nesta seçáo tentamos introduzir organizações como ecossistemas e 
descrever interdependências apontando très tipos distintos de complexidade - 
ambiental, de componentes, e hierárquica. A próxima seçáo trata de como 
organizações evoluem por intermédio da seleção comportamental e cultural
Seleção em Organizações em Evolução
As características biológicas dos organismos, o comportamento 
aprendido dos organismos individuais e as contingências comportamentais 
entrelaçadas om organizações são tipos de coisas muito diferentes, mas 
todos eles mudam ao longo do tempo como resultado de seleção. Seleçáo 
na tu ra l responde po r ca ra c te rís tica s do m undo o rgân ico ; se leção 
comportamental por características do comportamento individual; e sele­
ção cultural por características de organizações. Embora a seleção natua l 
não pareça desempenhar um papel corrente na mudança organizacional, o 
processo de seleçáo natural é bom compreendido. Assim, introduzimos o 
conceito de seleção descrevendo seu papol na evolução biológica e seu 
papel na evolução comportamental.
Charles Darwin (1958) foi o primeiro a apresentar a seleção natural 
como um processo que causa preservação diferencial de características her­
dadas (genéticas) em uma linhagem de organismos reprodutores. Caracterís­
ticas de um organismo/gene que melhor se adaptam ao meio em que esse 
organismo existe ocorrem com mais frequência do que outras características 
em sua linhagem Por exemplo, organismos do uma espécie particular que 
vivem em um ambiente muito frio podem variar quanto a suas propensões 
herdadas a desenvolver pelo denso. Aqueles com maior probabilidade de de­
senvolver pelo denso têm, em média, maiof probabilidade de sobreviver e re­
produzir do que aquoles com menos propensão herdada para pelagem densa. 
Portanto, a quantidade módia de pelagem densa dos organtsmos destas es­
pécies aumenta em sucessivas gerações ou ciclos reprodutivos. A pelagem 
densa média da Geração #5000 será consideravelmente diferente da pelagem 
densa média da Geração #20000. mas a mudança entre duas gerações con­
secutivas quaisquer dadas não soria detectável. Neste exemp!o. a relação entre 
a pelagem densa de um organismo e as temperaturas ambientais afeta a pro­
babilidade de pelagem densa em gerações futuras. Similarmente, a relação 
entre a pressào á barra do um rato e a apresentação de comida, afeta a proba­
bilidade de futuras pressões á barra. Em suma, as relações entre as caracte­
rísticas dos organismos ou comportamento e seu ambientes determinam 
frequências futuras dessas características. Essas relações têm sido chama­
das de ‘contingências de seleção" (Skinner, 1981). As contingências de sele­
ção podem também evolver relações entre organizações e seus ambientes.
112 S ig rid G lw in . M s t a M s li» !
Nas seções abaixo, buscamos fornecer uma abordagem selecionista para a 
evolução de organizações, na qual a seleção cultural e comportamental são 
diretamente relevantes
Seleção Cultural em Organizações
Organizaçõessáo entidades culturais que mudam em períodos pro­
longados de tempo mantendo sua "mesma'' identidade enquanto organiza­
ção. Nesse sentido, uma organização é como uma linhagem biológica. É 
composta de repetidas gerações de eventos, tendo características que se 
transformam ao longo do tempo como um resultado do modo pelo qual vari­
ações na geração em cureo são “recebidas" por seu meio ambiente. Por 
exemplo, desde 1990 muitas organizações se adaptaram a um ambiente 
comercial que inclui comórcio eletrônico (e-commerce). Antes de 1990 o 
ambiente de organizações com produtos para vender caracterizava-se pela 
troca e pelo transporte de bens de um lugar a outro. No final dos anos 90, o 
avanço da tecnologia de redes de computador gerou um crescimento explo­
sivo do G-commarcc. Esto pormitiu a troca de bons e serviços na World Wide 
Web (internet}, aumentando a eficiôncia e a precisão nas transações comer­
ciais. Na América do Norte as transações business-to-consumer o-commerce 
(transações empresa-consumidor via Internet) cresceram de US $11.5 bi­
lhões em 1998 para USS 44.5 bilhões em 2000. Organizações que foram 
montadas para transaçõos e-commerce conseguiram os negócios de outras 
organizações melhorando agressivamente os tempos de entrega. Em pou­
cos anos, bilhetes de passagens aéreas, reservas em hotéis, e todos os tipos 
do bens e serviços estavam disponíveis via web. Essa rápida mudança no 
ambiente externo selecionou organ-zações com processos tecnológicos mais 
capazes de responder ás demandas dos consumidores.
M etacon ting ên c ias
Metacontingências sáo relações entre contingências comportamentais 
entrelaçadas o seus ambientes selecionadores (Glenn, 1989). Junto com 
contingências comportamontais, metacontingências respondem pela sele­
ção cultural e pela mudança evolucionária em organizações. Em organiza­
ções, metacontingências aprosentam três componentes: contingências 
comportamentais entrelaçadas, seu produto agregado e um sistema de re­
cepção. O sistema de recepção é o recpiente do produto agregado e assim 
funciona como o ambiente selecionador de contingências comportamentais 
entrelaçadas (cf. Brethower. 2000). Contingências entrelaçadas não mais se 
repetirão caso não haja mais demanda por seus produtos A Figura 4 ilustra 
o conceito de metacontingência.
camila paiffer
Highlight
Mo'.*co'i()i>36'>r.tiib c o T p O ftim m lo . a utura « 113
De modo análogo ao reforço operante no comportamento individual, 
os a m b ien tes ex te rnos de o rg a n izações d isp õ em co n sequênc ias 
selecionadoras. Clientes "compram” {ou não compram) os produtos da or­
ganização. os acionistas compram ou vendem suas cotas, agências de 
fomento concedem verbas ou não, agências governamentais concedem 
isenções ou penalidades tributárias, e assim por diante. A maioria dessas 
conseqüências são reiacionadas. mesmo que de forma imperfeita, aos pro­
dutos das contingências comportamentais entrelaçadas.
Considere um restaurante como uma organização. O produto agrega­
do das contingências comportamentais entrelaçadas do restaurante é a comi­
da servida, e o sistema receptor são os consumidores. O restaurante sobrevi­
verá somente se sua comida e suas características físicas (ambiente) satsfl- 
zerem às exigências do ambiente selecionador {consumidores que comem 
nesse restaurante). A comida o o ambiente podem mudar á medida que o 
ambiente extemo (preferência dos consumidores ou concorrência) se transfor­
ma. Os sistemas que contribuem para o produto do restaurante incluem o de 
compras, o de preparação da comida, o de servir a comida, o gerenciamento 
financeiro o a manutenção das instalações. Cada processo envolve uma ou 
mais metacontingências. Servir refeições representa um conjunto de contin­
gências comportamentais entrelaçadas envolvendo o comportamento de di­
versas pessoas: o atendimento realizado pelos garçons, o chefe de cozinha 
fornecendo rnstruções, o cozinheiro preparando a comida e colocando-a onde 
o garçom possa pegà-la. O comportamento de cada indivíduo está relaciona­
do ao dos outros nas contingências entrelaçadas. O produto agregado dessas 
contingências entrelaçadas são as refeições disponíveis para serem servidas. 
Se as refeições preparadas são bem adaptadas á demanda dos consumido­
res, os consumrdores provavelmente continuarão a freqüentar o restaurante.
Outras metacontingências que têm produtos agregados diferentes 
também afetam a demanda do consumidor. Por exemplo, o comportamento 
entrelaçado dos atendentes afeta a prontidão e a qualidade do serviço. Por­
tanto. inúmeras metacontingências existem dentro das fronteiras do restau­
rante. O comportamento do qualquer indivíduo, assim como as característi­
camila paiffer
Highlight
camila paiffer
Highlight
114 & 9 " G G ln i n , M»*1h MBfcXt
cas de qualquer uma das contingências comportamentais entrelaçadas, pode 
contribuir para a adequação dos produtos às demandas do ambiente.
Uma organização como um todo pode evoluir, ou mudar, enquanto 
repetições de suas metacontlngências Internas Interrelacionadas ocorrem 
ao longo do tempo. Os produtos agregados gerados pelas contingências 
entrelaçadas variam ao longo do tempo, e os ambientas em que existem 
selecionam difercncialmente essas variações. A Figura 5 é um diagrama 
de uma linhagem cu ltura l e apresenta três repetições das mesmas 
motacontíngências ao longo do tempo. Os participantes na metacontingència 
mudam através das repetições (o que ó ilustrado pelo diferente sombreado 
das figuras humanas).
C ons ide re um a m etacon tingènc ia na qua l as con tingênc ias 
comportamentais entrelaçadas produzem a especialidade mais popular de 
um restaurante. Variações sistemáticas no produto podem resultar de dife­
renças insignificantes nas contingências entrelaçadas que ocorrem no a l­
moço e no jantar. Em conseqüência disso, pedidos no almoço podem dimi­
nuir enquanto pedidos no jantar podem aumentar, ou permanecer numero­
sos. Se essas variações nas contingências entrelaçadas têm efeitos simila­
res em outros pratos, um gerente perspicaz tentará analisar as diferenças 
nas contingências comportamentais entrelaçadas e organizará as contin­
gências de outro modo para o tumo do almoço.
Figura 5. Linhagem cultural
»/ e lK x tf i iptrfeas: o o irv x x tjiw n w , cultura a socMOada 115
As parles mais importantes de um ecossistema são seus sistemas 
nucleares. Na ecologia de uma organização, o produto (output) de um 
sistema afeta diretamente o funcionamento de outros sistemas. Em organi­
zações, sistemas nucleares são partes essenciais, diretamente responsá­
veis pela geração do produto agregado. Por exemplo, a preparação de 
comida ostá no ámago do sucesso de um restaurante. Se a comida for 
ruim, não importa quão bom seja o serviço, o restaurante, provavelmente, 
fracassará a longo prazo. Produção ê um sistema nuclear de uma compa­
nhia industrial: merchandising ó um sistema nuclear em uma companhia de 
varejo; vendas é um sistema nuclear em uma companhia de marketing 
(Malott, 1999)
As relações entre os sistemas e seus subsistemas em uma organi­
zação constituem a rede de metacontingências entrelaçadas. Se a organi­
zação como um todo satisfaz as exigências do ambiente externo depende 
quase in te iram en te das ca rac te rís ticas dessas m etacon tingênc ias 
entrelaçadas. Quanto maior a complexidade de componentes de qualquer 
subsistema, mais metacontingências entrelaçadas provavelmente existirão. 
A com p lex idade h ie rá rqu ica aum enta com o núm ero de n íve is de 
subsistemas. Nessa rede do metacontingências entrelaçadas, qualquer 
desacordo signíficante entre a geração de produto em um sistema (ou 
subsistema) e os requisitos ambientais de um sistema relacionado (ou 
subsistema) será, provavelmente, prejudicial para ambos os sistemas.
Se os sistemas de uma organização resultam emprodutos que es­
tão pobremente relacionados com seus ambientes externos, ou o ambiente 
ou o(s) sistema(s) tem que mudar para que a organização se mantenha por 
um tempo prolongado. O ambiente de um subsistema pode mudar do modo 
que seus produtos apóiem melhor a organização, pois o ambiente dos 
subsistemas de uma organização é controlado internamente
Considere, por exemplo, uma indústria que produz componentes 
plásticos para indústrias automotivas e de telecomunicações. Para preen­
cher uma demanda de produto na indústria da saúde, a companhia come­
çou a manufatura de conectores plásticos usados em transplantes cardía­
cos em crianças. O cliente tinha especificações extremamente precisas para 
o produto, que requeria um ambiente de fabricação livre de poluição, im­
pondo mudanças significativas no processo de produção. Uma área espe­
cial foi montada para moldagem livre de poluição, equipamento de segu­
rança especial foi incorporado nos sistema, as regras de vestuário dos ope­
rários foi alterada, e novas especificações de produção foram adicionadas 
ao processo de informação de fabricação. Devido ao fato de um produto de 
má qualidade poder custar a vida de uma criança, outros processos inter­
nos foram ajustados, por exemplo, os acordos legais com os clientes, e os 
requisitos para o envio do produto foram modificados
As m e ta co n tin g ê n c ia s en tre la ça d a s em um ecoss is tem a 
organizacional, om última instância, determinam o curso da evolução conti­
nuada do uma organização Se. ao longo do tempo, os produtos de um fabri­
cante não são comprados em quantidade suficiente para sustentar a produ-
camila paiffer
Highlight
camila paiffer
Highlight
116 Stptn 01 win. Mario Malar.
ção e para o investimento adequado para o futuro, então a organização se 
toma progressivamente menos viável em um ambiente relativamente está­
vel. Uma mudança no ambiente externo (e .g . o desaparecimento de um con­
corrente ou a redução do custo das matérias primas) representa uma mu­
dança nas metacontingências que podem afastar a possibilidade de extinção 
e tornar a recuperação possível (ao menos temporariamente).
Uma mudança fortuita no ambiente externo podo resultar em uma 
combinação adequada entre os sistemas de uma organização e seu ambi­
entes selecionadores. Um resultado do tipo “salvo pelo gongo’ náo é típico 
e as organizações não contam com tais mudanças afortunadas em seus 
ambientes externos selecionadorcs. Em vez disso, focalizam nas mudan­
ças de seus ambientes internos. Quanto mais complexos são esses ambi­
entes internos, mais dificil ó reagir rapidamente a mudanças no ambiente 
externo. O curso de ação mais seguro é monitorar continuamente o ajuste 
entre os produtos da organização e o ambiente externo, identificar requisi­
tos correntes (e futuro previsível) para a adaptação continuada e então pla­
nejar e reajustar metacontingências internas.
S is tem as nu c le a re s em uma re d e de m e ta co n tin g ê n c ia s 
organizacionais devem oo-evoluir para a organizaçáo prosperar, porque os 
sistemas no ecossistema organizacional continuamente afetam um ao outro. 
Co-evolução é a evolução conjunta de dois sistemas que apresentam um 
relacionamento ecológico estreito. Na co-evolução, a mudança em cada sis­
tema é seguida por mudança no outro, de modo que os dois sistemas evolu­
am de forma combinada. Tomemos, por exemplo, o uso das caixas registra­
doras contemporâneas em estabelecimentos de venda a varejo. Hoje as cai­
xas registradoras calculam o total da venda quando um freguês compra di­
versos artigos; mantém um registro de cada venda e a seção em que foi feita; 
registram se a compra foi feita a dinheiro ou crédito; Imprimem os detalhes 
da venda no comprovante de vendas, que serve como um recibo para o 
freguês; e registram o Imposto a ser recolhido. Essa tecnologia náo poderia 
ser implementada adequadamente sem que se alterassem diversos outros 
subsistemas, inclusive o gerenciamento de estoque.
Se contingências de compotiçáo existem entre sistemas nucloaros, 
um sistema nuclear sofrerá ás custas de outro. Por definição, todos os sis­
temas nucleares são essenciais à sobrevivência da organização, do modo 
que quando se planeja metacontingências. nas quais os sistemas relacio­
nados participam, deve-se tomar cuidado para assegurar co-evolução em 
vez de competição entre sistemas essenciais para a capacidade da organi­
zaçáo em atender às exigências do ambiente selecionador. Infelizmente, 
muitos dos sistemas nucleares competem com outros sistemas por recur­
sos; e sistemas nucleares freqüentemente desenvolvem redundâncias com 
outros sistemas da organizaçáo para realizar seu trabalho. Por exemplo, 
departamentos de tecnologia da informação, tipicamente, não atendem aos 
sistomas nucleares da organizaçáo porque, freqüentemente, estão sobre­
carregados com infra-estrutura tecnológica intricada e fracionada. Como 
resultado, sistemas nucleares, como produção em uma empresa industrial.
MtfftttMIlnçAnciRa r o T p z r t n r a n w , cjttira 0 «<K*dã3* 117
Ireqüentemente. contraiam especialistas em computação para facilitar o 
processo de produção. Departamentos de treinamento são, do mesmo modo. 
redundantes em muitos casos porque o pessoal é muito pouco familiariza­
do com aspectos criticos dos sistemas nucleares para treinar os emprega­
dos adequadamente (Mallot. 1999).
Metacontingôncias são as unidades de análise em ecossistemas 
organizacionais, e suas contingências comportamentais entrelaçadas cons­
tituem entidades culturais que evoluem via seleção. Entretanto, suas con­
tingências comportamentais constituintes podem ser analisadas como uni­
dades de análise no nível com porta mental. Qualquer intervenção planeja­
da no sentido de melhor adaptar uma organização às mudanças no ambi­
ente externo requer mudanças nas metacontingôncias entrelaçadas. E in­
tervenções nas metacontingôncias entrelaçadas exigem mudar as contin­
gências comportamentais para os Indivíduos envolvidos.
Seleção Comportamental em Organizações
Nenhuma organização poderia existir sem comportamento operante. 
Como dito anteriormente, comportamento operante é comportamento que 
opera, ou tem um efeito sobre seu ambiente. Tal comportamento é adquiri­
do ao longo da vida dos indivíduos. Sua freqüência, forma, llming, exatidão 
ou duração ae alteram quando contingências comportamentais mudam. 
Embora as contingências de seleção comportamental expliquem o com­
portamento das pessoas essas contingências ocorrem no contexto das 
contingências entrelaçadas exigidas pelo ambiente externo ao sistema. A 
complexidade das organizações torna difícil identificar onde a mudança 
comportamental pode melhor beneficiar uma organização ou onde mudan­
ças não percebidas em padrões comportamentais podem prejudicá-la. En­
tretanto, as contingências de seleção que explicam o comportamento dos 
indivíduos não podem ser ignoradas porque todo o ecossistema depende 
delas.
Nem todo comportamento que ocorre dentro dos limites de uma orga­
nização faz parte dos sistemas que definem e sustentam a existência daque­
la organização. De fato, as organizações mudam, algumas vezes do modos 
aparentemente caóticos. Tomemos, por exemplo, um departamento de con­
tabilidade que produz relatórios que ninguém compreende. Embora os rela­
tórios não tenham nenhuma função com relação a qualquer outro comporta­
mento na organização, um supervisor continua a solicitá-los. Comporamen- 
tos como esses podem permanecer não detectáveis por períodos indefini­
dos. sobrevivendo porque o sistema receptor (supervisor) mantém as contin­
gências entrelaçadas que resultam no produto (o relatório). Organizações 
podom fazer melhoras significativas e reduzir os custos por meio de análise 
constante da relevância dos produtos de comportamento individual e de con­
tingências entrelaçadas para o desempenho global daorganização.
Comportamentos que prejudiquem seriamente os sistemas criticos 
para a sobrevivência da organização são mais do que mero desperdício.
camila paiffer
Highlight
118 Ü I0-1U ( J l n i n , M w l s M Alot!
Um exemplo é o produtor de leite cujos empregados nào lavam as mãos 
antes do tirar leite das vacas ou que adicionam água ao leite de modo a 
obter mais volume e pagamento maior. Os resultados de tais comporta­
mentos resultam em contaminação do leite ou leite de baixa qualidade. Se 
tais comportamentos são generalizados entre empregados, a organização 
pode fracassar. Todos esses tipos de comportamento mencionados são 
mantidos por contingências da seleção compcrtarnental, mesmo aqueles 
comportamentos que têm um efeito danoso para a organização. Mais leite 
resulta em maior remuneração para o indivíduo, independentemente da 
qualidade do leite. Somente mudanças nas contingências comportamentais 
podem mitigar problemas como esse.
Embora nem todo comportamento considerado um "problema" seja 
uma ameaça a uma organização, todos os problemas organizacionais en­
volvem comportamento. No processo de resolução de “ problemas de com­
portamento" devemos considerar seus impactos nos produtos para os quais 
contribuem. Nossa primeira prioridade deveria ser os problemas de com­
portamento que afetam sistemas nucleares, os quais, por sua vez, afetam o 
desempenho da organização
Resumo das Implicações para a Mudança 
Organizacional
Organizações são conglomerados de sistemas dinâmicos que mu­
dam constantemente. As fronteiras organizacionais assim como os limites 
de seus sistemas internos são perrnoàveis. Organizações são também com­
plexas de muitas maneiras diversas. Nós identificamos três tipos de com­
plexidade: ambiental (variações no ambiente fora da organização), de com­
ponentes (número de componentes organizacionais e suas relações) e hi­
erárquica (número de níveis e suas relações).
Quais são as implicações da complexidade para o gerenciamento 
da mudança organizacional? Embora não possamos eliminar a complexi­
dade, podemos adm in istrá-la . Podemos adm in istra r a com plexidade 
ambiental alinhando os sistemas internos às demandas ambientas. Pode­
mos administrar a complexidade de componentes analisando os conjuntos 
de contingências entrelaçadas e seus produtos, e eliminando redundânci­
as e desconexões. Podemos ainda administrar a complexidade hierárquica 
tentando simplificar os níveis de gerenciamento, ou reduzir as desconexões 
entre níveis.
Mudança organizacional significa alterações de metacontingências 
e contingências comportamentais. Metacontingências são relações entre a 
dem anda por produtos agregados e contingências com portam entais 
entrelaçadas que os produzem. Contingências comportamentais são rela­
ções entre consequências ambientais e comportamento operante de indivi-
camila paiffer
Highlight
f .V -lu c c íilin g é rn ta s ; e c c i ix x u m w r t o C U Iu n » t i -c K v im J e 119
duos. As causas da mudança organizacional são contingências de seloção 
culturais e comportamentais.
Quais são as implicações da seleção ambiental para a administra­
ção de organizações? Primeira, qualquer análise de uma organização é 
meramente um recorte de metacontingências interrelacionadas em um dado 
momento, porque organizações evoluem no transcorrer do tempo. Análises 
repetidas nos permitem entender o curso da evolução de uma organização. 
Segunda, alteramos metacontingências em todos os níveis relevantes des­
sa organização, e programamos uma administração de contingências de 
comportamentos críticos à sobrevivência da organização.
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« . V
Comentários sobre ‘Complexidade 
e seleção: implicações para mu­
dança organizacional’1 de Glenn e 
Malott (2004).
Ricardo Corrêa Martone 
João Cláudio Todorov
'Uma linha de produção que so move com uma dada velocidade tor­
na a contingência entro velocidade de trabalho e estimulação aversiva 
mais evidente Esta cadência' do comportamento não é de modo 
algum um efeito dos tempos modernos. ’ (Skinner, 1953/2000. p. 423).
A partir de 1938 com o surgimento de The Behavior o f Organisms, de 
B.F.Skinner, o universo psicológico passou a testemunhar o desenvolvimen­
to de princípios comportamentais que iriam contribuir (com a psicanálise de 
Froud e eventos posteriores) para transformar radicalmente a concepção de 
um ser humano "livre", desprovido de qualquer controle, e que iriam também 
(esses mesmos princípios) abalar definitivamente a dicotomia cartesiana entre 
mundo mental e mundo físico. Os avanços teóricos conquistados pela Análi­
se Experimental do Comportamento o as tecnologias de intervenção desen­
volvidas pela Análise Aplicada do Comportamento estão intrinsecamente ata­
dos às pesquisas com animais realizadas nas décadas de 40 e 50 do século 
passado (cf.. Honig, 1966; Honig & Staddon, 1977). Tais pesquisas apresen­
tavam como objetivo principal a elucidação dos princípios que regem o com­
portamento operante. A partir de então uma ênfase crescente passou a ser 
dada aos experimentos que envolviam seres humanos {cf.. Catania, 1996; 
Baum. 1999). primordialmente em ambientes sobre os quais os pesquisado­
res podiam exercer considerável controle, como hospitais psiquiátricos e sa­
las de aula, uma vez que se deparavam com poucos problemas referentes à 
mensuração e ao controle do comportamento nesses settfngs (cf.. Ayllon & 
Azrin, 1968; Axelrod.1977) Entretanto, a Análise do Comportamento Huma­
no vem demonstrando que a seleção do comportamento pelas suas conse­
qüências vai além, é um mecanismo causal válido e vigoroso, capaz de expli-
' E s te tex to d urn c u m u r .in o a o a tt^ o ’Com plexity and Selection: Im p liu ib ons for O rg a riza tn n a l 
C liarige ’ , d e S<grid Gkrnn n M aria M alo tt<2004), puM cad o noperiodlooEJeliavioi srec Social issues, 
volum e 13 no 2 A giodccom os a geotftaza das au ’.oras por en v la r-ro s o rctforidc amigo para co- 
meoidnos
122 «lavifu Corrf-w Marurw, Oodo ClàuClo Toditfov
car uma infinidade de atividades humanas, desde unia simples interação 
verbal entre duas pessoas até o planejamento de políticas públicas nacio­
nais, muito além dos estudos em ambientes controlados pelo experimentador.
Skinner trabalhava com um otho no laboratório e o outro no mundo, 
buscando descrever as descobertas experimentais e generalizá-las para a 
cultura. Em Science and Human Behavior (Skinner, 1953) salientou o papel 
da Análise do Comportamento no estudo de sistemas sociaise também 
propôs um programa de pesquisa para o estudo da cultura que enfatizava a 
análise de contingências sociais e a seleção do comportamento pelas suas 
conseqüências (Pierce, 1991). Enquanto houver interesse por análises cul­
turais, Science and Human Behavior permanecerá uma obra fundamental. 
Com a ampliação do escopo da Análise do Comportamento em direção a 
fenômenos sociais de grande escala, que envolvem um grande número de 
indivíduos e de práticas culturais, as seções do livro que discutem o com­
portamento social e as agências controladoras sâo atualmente mais impor­
tantes do que no século passado (Todorov. 2003).
Afirma>se freqüentemente que o potencial e a utilidade de uma teoria 
cientifica sâo mensurados pela amplitude dos fenômenos que ela abarca, ou 
seja, quanto maior a generalidade dos princípios dessa ciência maior seu 
vigor. Caminhar em direção ao estudo de práticas culturais é de importância 
fundamental para a sobrevivência da análise do comportamento enquanto 
uma ciência generalistae utilitária (Biglan, 1995; Guerin, 2004, Lamal, 1991a).
O artigo "Com plexidade e seleção: implicações para mudança 
organizacional" de Sigrid Glenn e Maria Malott é um exemplo contundente 
da extensão dos princípios comportamentals a fenómenos altamente com­
plexos e que envotvom muitas pessoas, assim como demonstra a força e a 
necessidade de compreendermos o funcionamento de organizações por 
intermédio de um enfoque selecionista.
O primeiro grande mérito desse artigo é a preocupação das autoras 
com o estabelecimento dos limitos de uma organização (Organizational 
Boundaries). É de suma importância sabermos a natureza do fenômeno que 
pretendemos ostudan as pessoas e as atividades envolvidas e os produtos 
produzidos por essas pessoas em conjunto (objetivo organizacional). Glenn 
& Malott destacam essas características e as descrevem como sistemas e 
subsistemas da organização chamando a atenção para o fato de que cada 
uma dessas ‘ peças organizacionais' gera um produto que se relaciona ás 
operações de outras peças. Tais características fornecem a amplitude (ou 
tamanho) da organização e precisam ser levadas em conta por analistas do 
comportamento que trabalham com organizações para poderem definir o al­
cance e a efetividade de suas intervenções. Para que o analista do compor­
tamento possa intervir no comportamento dos vendedores de uma compa­
nhia farmacêutica, por exemplo, não seria suficiente somente estudar seus 
comportamentos e planejar novas contingências. Ele teria que ir além para 
de fato conseguir modificar e melhorar o desempenho da companhia. Como 
ressaltam Glenn & Malott. dever-se-ia estar atento também á organização do 
pessoal de vendas em todas as regiões e distritos alcançados pelos produ-
fAtlAScniM igênci»: oomsrrtamerv,;.. cu K u n o *or,iocWi» 123
tos da empresa, aos processos de produção. á influência da propaganda e 
as tendências de compra do consumidor.
As autoras apontam também a necessidade de buscarmos ordenar 
a complexidade organizacional por intermédio do que elas denominam 
"Taxonomia da Complexidade Organizacional“ (identificar, descrever e clas­
sificar contingências complexas que desempenham um papel fundamental 
nas organizações). Três tipos de complexidades organizacionais são apon­
tadas; 1 Complexidade do Ambiente, variáveis externas que afetam o de­
sempenho da organização (regulamentações governamentais, falências de 
concorrentes, fusões e uniões de empresas: flutuações na economia); 2 - 
Complexidade dos Componentes, riúmero de elementos que compõe uma 
organização; e 3 - Complexidade da Hierarquia, niveis de hierarquia de uma 
organização. Cada uma dessas complexidades apresenta Implicações para 
a efetividade da organização.
Glenn & Malott instrumentalizam analistas do comportamento a ex­
pandirem ainda mais suas análises rumo a fenômenos mais complexos 
que envolvem a interação de um grande número de pessoas, ao traçar os 
limites de uma organizaçao (Fronteiras da Organização) e ordenarem e 
classificarem a complexidade organizacional (Taxonomia da Complexida­
de Organizacional). Tais descrições são de importância fundamental, pois 
a partir delas podemos generalizar nossas análises para outros tipos de 
organizaçao como governos, partidos politicos, sindicatos, organizações 
da sociodade civil, etc. Até então, parece não ter ainda surgido um texto do 
ponto de vista analítico comportamental que identificasse de forma tão cla­
ra tantas variáveis que influenciam o comportamento organizacional. As 
autoras, entretanto, vão além e demonstram de forma muito clara, com 
muitos exemplos, as formas pelas quais o modelo de seleção por conseqü­
ências pode explicar a evolução de padrões comportamentais dentro de 
organizações e a evolução da própha organização.
Em primeiro lugar, não seria possível analisar o comportamento da or­
ganização (lembrando que ela é composta por comportamentos de indivíduos) 
sem estabelecer as relações existentes entre as divorsas contingências 
entrelaçadas com o produto agregado à estas contingências. Estamos diante, 
neste caso, de um outro nível de análise diferente daquele que nós. como 
analistas do comportamento, estamos acostumados a lidar (Andery & Sério, 
1999). O concerto de metacontingências já demonstrou ser fundamental para 
análises de oontingéncias envolvidas em questões extremamente complexas 
como sistemas político-econômicos (Goldstein & Pennypacker. 1998; Lamal, 
1991b; Lamal, 1991c; Lamal &Greenspoon. 1992: Rakos. 1989; Rakos, 1991a; 
Rakos, 1991b;Todorov, 1987). políticas do saúde (Dams, 1997; Edwards, 1991; 
Hovell, Wahlgren & Russos, 1997; Glenn. Ellis & Hutchison, 1993; Russos, 
Fawcett, Francisco, Berkley & Lopez, 1997). políticas educacionais (Greenspojn, 
1991), influência da midia sobre o comportamento (Laitinen & Rakos, 1997) e 
organizações (Bohrer & Ellis, 1998; Mawhinney, 1992; Redmond & Agnew. 
1991; Redmond & Wilk, 1991). O artigo de Glenn & Malott insere-se dentro 
dessa literatura e auxilia ainda mais a análise do comportamento na sua escala­
124 K o a r d o C -Jffé u M e r ta m . O â j ü o T o d o w v
da rumo á compreensão das contingências envolvidas no terceiro nível de sele­
ção do comportamento. Não seria possível sem o conceito de metaccntingèncias 
estabelecer de que forma as contingências são organizadas de forma a atingir 
uma meta planejada. Dessa forma, não seria possível, apenas com o conceito 
de contingências individuais prever o comportamento organizacional. O planeja­
mento torna-se mais efetivo a partir do momento que se possa enxergar o com­
portamento dos indivíduos envolvidos nos diversos sistemas e subsistemas de 
uma organização e as conseqüências produzidas em conjunto. O conceito de 
metacontingêndas chama a atenção para a necessidade de descrevermos o 
comportamento em dois níveis distintos de análise. Para que possamos de fato 
manipular comportamento organizacional devemos estar atento ás conseqüên­
cias individuais imediatas do comportamento da pessoa que participa da prática 
cultural (incentivos financeiros, salário, benefícios trabalhistas, promoções, medo 
da perda do emprego, etc), conseqüências essas que controlam seu comporta­
mento, e ao mesmo tempo, ás conseqüências da prática cultural como um todo 
(o produto final da prática) (Glenn. 1988).
Um aspecto crucial que poderia contribuir ainda mais para a compreen­
são dos mecanismos envolvidos na sobrevivência de uma organização é a 
propaganda. Glenn & Malott reconhecem a importância do sistema publicitário 
de uma organtzação quando discutem Complexidade dos Componentes. No 
entanto, a função da publicidade na avaliação final do consumidor sobre o 
produto produzido pela organização poderia ser um pouco mais explorada. As 
autoras afirmam ao longo do texto que a sobrevivência de uma organização 
dependerá exclusivamente da avaliação do consumidor sobreo produto pro­
duzido por ela, avaliação essa expressa pelo comportamento de comprar do 
consumidor. Se a organização não se adaptar ás complexidades de seu ambi­
ente externo (competição, regulamentações, flutuações econômicas), não pro­
mover mudanças na oomp’exídade intema (contingências comportarnentais 
entrelaçadas) para atender melhor o cliente através de seu produto, não so­
breviverá. Tal engrenagem está muito clara e as autoras avançam enorme­
mente na identificação e descrição de elementos fundamentais para a com­
preensão da seleção e evolução de práticas culturais complexas. Entretanto, 
poderíamos fazer as seguintes perguntas: será que as organizações não pro­
duzem demandas ria comunidade? A publicidade não desempenharia um pa­
pel importante nesse processo? Será que todos consomem porque o produto 
ê "bom", "útil"? Rakos (1992) salientou a natureza informacional da sociedade 
contemporânea, ressaltando que analistas do comportamento interessados 
em analisar práticas culturais devem necessariamente abordar questões refe­
rentes á influência da propaganda no ooritrole do comportamento. A informa­
ção, por intermédio de uma tecnologia que gera meios de comunicação cada 
vez mais rápidos e eficientes, é disseminada introduzindo estímulos que mui­
tas vezes podem estabelecer condições que resultam no consumo de bens 
materiais específicos e que podem adquirir propriedades reforçadores Um 
exemplo fornecido por Rakos (1992) de um bem material que adquiriu proprie­
dades reforçadores foi o fomo de microondas. Preparar rapidamente alimen­
tos no microondas tomou-se reforçador Antes do desenvolvimento o da pro­
WaliKXifti-iòeritjaa: «aiviix»tJiinenlD cuXüfn >• sccitxlade 125
paganda dessa tecnologia, segundo o autor, não havia a necessidade de se 
preparar alimentos em poucos minutos. Vale lembrar que o desenvolvimento 
de produtos por organizações conta com pesquisas de mercado exaustivas 
para apurar demandas na sociedade, conta também com pesquisas que bos- 
cam identificar nichos nos quais novas demandas possam ser produzidas e, 
por último, com grandes bancos de dados armazenados com informações de 
um grande número de pessoas.
Mais uma vez o trabalho de Glenn & Malott amplia nossos horizontes 
e nos auxilia rumo á compreensão de fenômenos mais complexos e permite 
que generalizemos suas análises para outros tipos de organizações, levan­
do-se em conta também o caráter informacional contemporâneo. Na história 
republicana recente brasileira tivemos um lamentável exemplo do poder da 
propaganda na produção de um presidente eleito com o slogan "caçador de 
marajás* Organizações dos mais variados setores da sociedade (bancos, 
grandes indústrias, grupos midiáticos) se aglutinaram e promoveram o então 
candidato Fernando Collor como um novo e jovem talento no cenário político 
brasileiro (na verdade. Collor era ligado òs mais tradicionais oligarquias bra­
sileiras). A meta final, orquestrada por grande parte do poder econômico 
brasileiro, era colocá-lo na Presidência e evitar que seu adversário Luís Inácio 
Lula da Silva* visto como um radical de "esquerda" e "libertador da classe 
trabalhadora oprimida” , chegasse até Brasília. Collor ganhou as eleições gra­
ças a uma campanha publicitária vigorosa.
Conclusão
O artigo de S. Glenn e M. Malott contribui de forma exemplar para a 
afirmação da utilidade do conceito de metacontingéncias, Em primeiro lu­
gar, não seria possivol analisar o comportamento da organização (lembrando 
que ela é composta por comportamentos de indivíduos) sem estabelecer 
as relações existentes entre as diversas contingências entrelaçadas com o 
produto agregado à estas contingências. Náo seria possível também, sem 
esse conceito, estabelecer de que forma as contingências sâo organizadas 
de forma a atingir uma meta planejada. Dessa forma, não seria possível 
prever comportamento organizacional. O planejamento torna-se mais efeti­
vo a partir do momonto que se possa enxergar o comportamento dos indiví­
duos envolvidos nos diversos sistemas e subsistemas do uma organização 
e as conseqüências produzidas em conjunto. Em suma, o conceito parece 
sim dar conta de fenômenos que deveriam/poderiam ser analisados em um 
outro nível de análise.
• A ni&totiu fecem n política no B'a&-i CemonSItrou su a grand e ironlu. ou melhor, as ConíingíSncÍBS 
refletiram essa ironín. O s m oem os grupos oco nôm lcosresponsáveis pela ascer sfio de C o iò r têm 
sido apontados iam bém com o os f«spor.sãvG»s pula seu
im p eachm ert G r.in d o p a r o desses m esm os g tupos '.am som foi o respo nsável pota vitória do
Lu ia à pfesldfcnclíi em 2 0 0 2 ,
126 K i-a rc o C c iif t j M a io r* . * o ta C la u d o Tnrlcnw
A complexidade de uma organização é caracterizada pela capacida­
de que ela possui de abarcar muitos sistemas e subsistemas. Essa descri­
ção é de importância fundamental, pois a partir dela podemos generalizar 
para outros tipos de organizações como governas, partidos, organizações da 
sociedade civil, etc. Até então, parece não ter ainda surgido um texto que 
identificasse de forma tão clara muitas variáveis que influenciam o comporta­
mento de organizações do ponto de vista analitioo comportamental. assim 
como nenhum outro texto mostrou de forma clara, com muitos exemplos, as 
formas pelas quais o modelo de seleção pelas conseqüências de Skinner 
pode explicar a evolução de padrões comportamentais dentro de organiza­
ções e a evolução da própria organização (linhagem cultural).
Um problema que merece destaque é o grande número de pessoas 
que compõe uma organização. Quanto maior o número maior sua complexi­
dade, maior a dificuldade de análise. Há um distanciamento, devido a esta 
complexidade, entre as pessoas hierarquicamente superiores e inferiores. 
Quanto maior esse distanciamento maior serão os problemas envolvidos na 
sobrevivência da organização.
Uma variável importante ausente no texto é a propaganda. Uma orga- 
nrzação pode criar demandas por intermédio da publicidade de seus produtos, 
podendo também interferir na avaliação do seu produto pelo consumidor. O 
texto discute complexidade e seleção, sendo fundamental a compreensão do 
mecanismo de seleção pelas conseqüências. Se a avaliação do consumidor, 
expressa na maior ou menor procura pelo produto, for um elemento importante 
para a seleção das práticas envolvidas na fabricação de tal produto e dessa 
forma vital para a sobrevivência organizacional, como compreender a influên­
cia da publicidade sobre essa avaliação? A propaganda, realizada por um dos 
sistemas ou subsistemas que oompõe uma organização, é essencial para a 
avaliação do consumidor. O produto final agregado pode não ser tão bom ou 
eficiente, mas a publicidade o anuncia como tal criando enormes cadeias 
intraverbais na comunidade (Guerin, 1994). Compra-se muitas vezes porque 
está "na moda", porque todos possuem. As análises de Guerin (1994) e Rakos 
(1992) são do extremo valor para que possamos compreender os controles 
exercidos pela informação na sociedade contemporânea.
Enfim, Comptexity and Setection: Im pllcations fo r Organizational 
Change contribui de forma contundente para o desenvolvimento da análise 
de p rá tic a s c u ltu ra is , s a lie n ta n d o p r in c ip a lm e n te o c o n c e ito de 
metaconlingèncias como instrumento válido e poderoso de análise o inter­
venção. Com a expansão rumo à compreensão da cultura a Análise do 
Comportamento vem demonstrando cada vez mais o seu potencial como 
ciência empírica, capaz de fornecer soluções para uma infinidade de pro­
blemas humanos, pois apresenta uma unidade de análise fabulosa - a con­
tingência de reforçamento; não há nada melhor para comemorarmos o cen­
tenário de B.F. Skinner! C om plexity and S e lection : Im p lica tions fo r 
Organizational Change é uma grande contribuição. Afinal, quem foi mesmo 
que decretou o fimdo Behaviorismo Radical?
MeMcoRtrigftncte»: cotr<*ortUT<mto, cM u 'a « *ocie«Jai>j 127
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A análise de fenômenos sociais: 
esboçando uma proposta para a 
identificação de contingências 
entrelaçadas e metacontigências 1
Maria Amalia Pie Abib Andery ** 
Nilza Micheletto * 
Tereza Maria de Azevedo Pires Sério* 3
Uma simples consulta a do is dos primeiros livros sobre conceitos 
básicos em análise do comportamento (Keller e Schoenfeld, 1950, e Skinner. 
1953) seria suficiente para elim inar qualquer dúvida sobre a inclusão de 
fenómenos sociais entre os fenômenos que são vistos como legítimos ob­
jetos de estudo da análise do comportamento. Entretanto, se isto não fosse 
suficiente, há uma afirmação de Skinner (1953) bastante contundente so­
bre esta inclusão: “Propor uma mudança em uma prática cultural, íazer tal 
mudança e aceitá-la são partes de nosso objeto de estudo" (p.427).
Na verdade, a preocupação dos analistas do comportamento com o 
estudo de fenômenos sociais não só não é uma novidade (ver. por exem­
plo. Ulrich, Stachnik e Mabry, 1966, Burguess e Bushell, 1969, e Kunkel, 
1970), ela vem se expandindo de forma que já estabelecemos, hoje, uma 
literatura de referência sobre diferentes aspectos envolvidos na análise de 
tais fenômenos (por exemplo, Ishaq, 1991;Lamal. 1991,1997; Guerin, 1994; 
Màttaini e Thyer, 1996).
1. o p ro b lem a da un id ade de- an á lise
Entretanto, o reconhecimento dos fenômenos sociais como objeto 
de estudo da análise do comportamento não é suficiente para que tais fe ­
nómenos sejam adequadamente abordados dentro desta perspectiva. Te-
P U C S F
' Versões arttórôres fles te a itígo (oram apresentadas no 12 c . C o rg re s M t o A B P M C (Londrira , 
2C 03) & na 30a A 8 A Á nnualC oivvenlíon (8-ostos', 2 0 ÍK )
•' B o la ía a C N P q processo no.
' Golsista C N P q processo no. 30i5032.‘D 2 '0
130 M arla Am alia P I« A b lb A n du ry, Nll>.) M lchototio, Toresa Marta d » A / «v * d o Pitt.% S ir lo
remos de enfrentar(colocar e resolver) um conjunto de problemas4 para 
que possamos efetivamente fazer com que a análise do comportamento 
possa contribuir para a compreensão dos fenômenos sociais. Um proble­
ma do qual, com certeza, não poderemos fugir é o que se relaciona com a 
delimitação da unidade de analise com a qual devemos trabalhar ao tratar 
de fenômenos sociais. O problema da unidade de análise podena ser as­
sim formulado: a mesma unidade de análise que tem sido utilizada para a 
descrição de comportamentos operantes - a tríplice contingência - deve 
ser mantida quando se trata do estudo de fenômenos sociais?
O problema da unidade de análise se coloca aqui porque a expres­
são ‘fenômeno social' é um rótulo aplicado a um enorme número do fenô­
menos que abarcam desde aquilo que tem sido chamado de ‘comporta­
mento social’ ate aquilo que tem sido chamado de 'prática cultural'.
Comportamento social foi definido por Skinner, já em 1953, como "o 
comportamento do duas ou mais pessoas, uma em relação à outra ou, 
[dessas pessoas] em conjunto, em relação a um ambiente comum” (p. 297). 
Pierce (1991), comentando esta definição, apresenta dois exemplos que 
ilustram a abrangência dos comportamentos que seriam chamados de com­
portamento social: ‘‘comportamento sexual é social porque os parceiros 
respondem 'um em relação ao outro' e cooperação é social porque duas ou 
mais pessoas precisam coordenar suas respostas em relação a um 'ambi­
ente comum1 “ (p.14). Como destaca Guerin (1994). podemos falar ern com­
portamento social quando uma outra pessoa estiver envolvida em qualquer 
um dos três elementos de uma contingência de reforçamento (estímulos 
antecedentes, respostas, ou estímulos subseqüentes) ou, como ele prefe­
re, quando estivermos diante de contingências com “propriedades sociais", 
ou seja. diante de ‘ quaisquer contingências em que uma outra pessoa 
estiver envolvida, seja como um estimulo contextual, como um determinante 
de conseqüências, ou como parte do próprio comportamento (do grupo)’ 
(p.79).
Já uma prática cultural "envolve a repetição de comportamento operante 
análogo entre indivíduos de urna dada geração e entre gerações de indivíduos" 
(Glenn, 1991, p.60); assim, “quando relações comportamentais que definem parte 
do conteúdo do repertório de um organismo são replicadas nos repertórios de 
outras pessoas, em um sistema sociocultural, o comportamento replicado é cha­
mado de uma prática cultural." (Glenn e Malagodi. 1991, p.5).
Tal como no caso de comportamento social, a expressão 'prática 
cultural' também já é encontrada em Ciôncia e Comportamento Humano 
(1953, por exemplo, pp. 418, 419, 424, 425), quando Skinner introduz em 
sua análise os aspectos culturais; em especial quando ele aborda tópicos 
que mais tarde (1981) serão parte integrante do modelo causai de seleção 
por conseqüências:
‘ A identificação co quais süo ossos problem as *.alvez tíeva ser a b # to do discussão entro os 
analistea do comportamento; ontrolaoto, nflo 6 o ob|©tivo pflrneiro oe&ta artigo. Sobre isso pcidw 
ser ba& tanleescU ifw codoro artigo de M alagodi \ Í9GG).
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M e»conK na*ttl«& con<po(1*ni«ntD. cuki.rn o sodeJ&Jf? 131
Vimos qifó, em certos aspectos. o reforçamento operante se asse­
melha à seleção natural da teoria da evolução. Assim como caracte­
rísticas genéticas que surgem como mutações são selecionadas ou 
descartadas por suas conseqüências, também novas formas de com­
portamento são selecionadas ou descartadas pelo reforçamento. Há, 
ainda, um terceiro tspo de seleção que se aplica às práticas culturais. 
Um grupo adota uma dadi prática - um costume, um uso, um meca­
nismo de controlo - seja pmiejadamente ou por meio de algum evento 
que, no que diz respeito a seu efeito sobre o grupo, pode ser comple­
tamente acidental. Como característica do ambiente social, esta prá­
tica modifica o comportamento dos membros do grupo. (p.430)
O que chama atenção, no trecho citado, ó que. quando falamos em 
práticas culturais, as conseqüências agem sobre o grupo o não mais. como 
no caso da seleção de comportamentos operantes, sobre o operante; em 
outras palavras, não estamos mais lidando com as relações selecionadoras 
entre resposta e suas conseqüências, mas sim estamos lidando com "o efei­
to sobro o grupo", efeito este produzido pelo conjunto de comportamentos 
dos membros do grupo. Este aspecto é destacado por Skinner quando ele 
mais formalmente apresenta o modelo de seleção por conseqüências; se­
gundo Skinner (1981), o processo que descreve a evolução de culturas:
Começa, presumivelmente, no nível do indivíduo. Uma maneira me­
lhor de fazer uma ferramenta, cultivar um alimento, ou ensinar uma 
criança é reforçada por sua conseqüência - respectivamente, a fer­
ramenta, o alimento, ou o aprendiz útil. Uma cultura evolui quando 
práticas que se originam desta maneira contribuem para o sucesso 
do grupo praticante na souçâo de seus problemas. É o efeito sobre 
o grupo, não as conseqüências reforçadoras para os membros indi­
viduais. que é responsável pela evolução da cultura, (p.502)
Este aspecto também tem sido destacado por analistas do comporta­
mento que vêm so dedicando ao estudo deste terceiro nfvel de seleção do 
comportamento. Glenn e Malagodi (1991). por exemplo, afirmam que:
Uma conseqüência comportamenta) è contingente à atividade de um 
organismo singular e se leciona o comportamento daquele indivíduo 
apenas. Um produto citftvráf' é uma mudança no ambiente que re­
su lta do com portam ento agregado nas contingências 
comportamentais entrelaçadas.... As mudanças no ambiente prcxiu- 
zidas pelo comportamento agregado... podem, então, funcionar (seja 
imediatamente, seja mais tarde, soja de maneira graduai) para forta­
lecer ou enfraquecer as contingências entrelaçadas (p. 9)
Parece, assim, que estamos, no caso das práticas culturais, diante 
de um fenômeno que tem sua origem no comportamento individual, mas 
que, ao ganhar sua particularidade, não mais pode ser descrito no âmbito 
de sua origem. Como afirmam Glenn e Malagodi (1991) “fenômenos cultu­
rais são construídos por fenômenos comportanientais, o que não quer di­
zer que possam ser reduzidos aos fenômenos comportamentais (assim como
- O s autoras .' iti-o-jijzom o ro v o teim o o u tm n e trfltíuzído, oqui. com o produto ~ para d is li^ ju lr 
r.onsBqüônclus culturais - o u fo tw ies - deconseoúônclas com ponam ontais
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Marta Am àlia Plc A b ib Amtery, N i lu Mlctvclctto, Tcrena Maria do A x tv M fe P lreu Scilo
fenôm enos com portam enta is não podem ser reduz idos a eventos 
fisicoquímicos)" (p. 6)
É exatamente a possibilidade da configuração de um fenômeno que não 
se limita às contingências que descrevem comportamentos operantes (quais­
quer que sejam eles) de um individuo que coloca o problema da unidade de 
análise: aparentemente, quando lidamos com práticas culturais, a contingência 
de reforçamento não permito mais a descrição de todas as possiveis relações 
envolvidas, já que as relações que descrevem o efeito sobre o grupo náo estão 
a i contidas. Este problema se coloca quando estamos diante de práticas cultu­
rais oom um determinado nível de complexidado, ou seja. se estivermos diante 
de uma prática cultural que produz um produto agregado. Mais uma vez recor­
rendo a Glenn (1988.1991), talvez possamos imaginar práticas culturais de dife­
rentes níveis de complexidade, desde práticas que envolveriam a simples imita­
ção (e, qua, portanto, poderiam ser descritas apenas com o conceito de compor­
tamento social) até as envolvidas, por exemplo, na organização do trabalho (e 
que só seriam oompletamente descritas se pudéssemos identificar os produtos 
agregados per elas produzidos). Como sugere Glenn (1991), "a diferençacrítica 
entre as pnotocutturaR humanas e de outros primatas e as culturas humanas 
parece ser a complexidade das relações comportamentais entrelaçadas nas cul­
turas humanas" (p.60). Isto sugere que a descrição de fenómenos sociais pode 
envolver diferentes unidades de análise.
a) contingências entrelaçadas como unidade de análise.
Quando tratamos de comportamento social, o recurso á contingência 
de reforçamento como unidade de análise continua sendo possível e, talvez, 
heurístico, desde que se considere a necessidade de descrevermos, pelo 
menos, duas contingências, pois, ao lidarmos com comportamento social, 
estamos já lidando com a interação de, no mínimo, duas contingências. Em 
outras palavras, o comportamento social envolve o que chamamos de con­
tingências entrelaçadas (intertocking contíngendes) (Skinner, 1953, Glenn. 
1991, Glenn e Malagodi, 1991). Segundo Glenn (1991):
Os mesmos processos comportamentais que levam a tanlos univer­
sos comportamentais quantos são os indivíduos que se comportam, 
também resultam em vastas redes de inter-relações entre os reper­
tórios comportamentais de indivíduos humanos. Estes são os ele­
mentos de unidades culturais. Eles foram rotulados de ‘contingênci­
as entrelaçadas'para cham ara atenção para o duplo papel que o 
comportamento de cada pessoa desempenha nos processos sociais
- o papeI de ação e o papel de ambiente comporlamental para a 
ação de outros, (p. 56)
A Figura 1 é uma ten ta tiva de representa r as contingências 
entrelaçadas que devem estar envolvidas na imitação, quando as respos­
tas de um individuo (A e B) evocam respostas em outro individuo (B e C). 
ocupando o lugar de estímulos antecedentes nas contingências que des­
crevem o comportamento de B e C. Os comportamentos de B e de C po­
dem ser classificados como comportamentos sociais.(Footnotes)
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M o W íx iir iip e n c f is : O M n p w t u r iw H o . c u U t r a o «o s o d B t f e 133
Figura 1 Uma representação de contingências entrelaçadas 
quo descrevem imitação.
Na Figura 1, supusemos que o falo das respostas de urn indivíduo 
evocarem respostas em outro revelariam uma função discriminativa do es­
timulo. É importante notar, com o salienta Michael (1980), que só podemos 
fazer esta suposição se, entro outras coisas, houver uma história de 
reforçamento diferencial na qual as respostas de B e C, diante dos estímu­
los antecedentes (que, neste caso, são as respostas de A e B, respectiva­
mente), tenham sido reforçadas, enquanto que as mesmas respostas não 
foram reforçadas em outras situações de estimulo. (Este comentário vale 
para as figuras que se seguem).
Podemos imaginar outras possibilidades de entrelaçamento do con­
tingências. Podemos, por exemplo, imaginar uma situação na qual "cada 
indivíduo tem algo a oferecer de maneira a reforçar o outro e, uma vez 
estabelecido, o intercâmbio, se m antém ' (Skinnor, 1953. p.310). Podemos 
ressaltar que, neste exemplo, o entrelaçamento das contingências ocorre 
de forma tal que ele mesmo se reproduz. A Figura 2 è uma tentativa de 
representar estas contingências entrelaçadas.
entrelaçadas quo descrevem uma situaçáo de tracH 
reciproca
Podemos ainda imaginar um exemplo de contingências entrelaçadas 
no qual “o grupo pode manipular variáveis especiais para manter tendênci­
as para que os indivíduos se comportem do maneira que resultem no 
reforçamento de outros. (...) Muitos importantes sistemas entrelaçados de 
comportamento social não poderiam se manter sem estas práticas convert-
i c o n tin g ê n c ia s e n tre la ç a d a »
M a ria A m M i.t P io A b l b A i id e r y , N ilx a M íd ie lv U o . T e r » * « M i r 1« d * A x » v « d o P lm s S e rto
cionais" (Skinner. 1953, p.310) A Figura 3 é uma tentativa de ilustrar tais 
entrelaçamentos de contingências.
Figura 3. Uma representação de contingônclas entrelaçadas que 
exkjetn contingências de suporte para sua manutenção.
Diferentemente do que ocorre nos dois primeiros casos, neste caso 
as contingências entrelaçadas são mantidas porque outras contingências 
em vigor fornecem suporte para o entrelaçamento das contingências por 
meio da manutenção do comportamento de pelo menos alguns dos partici­
pantes. A descrição deste entrelaçamento, então, já nos conduz para além 
das próprias contingências entrelaçadas, o que sugere que, se jà não 
estamos diante do uma metacontingéncia (o que exigiria a identificação de 
um produto agregado), certamente estamos diante de uma situação de tran­
sição para outro nível de analiso.
b) metacontingências como unidade de análise
Quando tratamos de práticas culturais, parte de nossa descriçáo 
poderá ter como unidade de análise a contingência de refoiçamento, já 
que, como afirma Glenn (1988), uma prática cultural ê "um conjunto de 
contingências de reforçamento entrelaçadas nas quais o comportamento e 
os produtos comportamentais de cada participante funcionam como even­
tos ambientais com os quais o comportamento de outros indivíduos interage’ 
(p.167). Entretanto, como a própria Glenn (1991) ressalta:
A maior parte das práticas culturais tem um elemento adicional: elas 
envolvem dois ou mais indivíduos cujas interações produzem conse­
qüências para cada um deles individualmente e, além disso, cujo 
comportamento conjunto produz um produto agregado que pode ou
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M »i8C0nt ng4itiâfrs: cw inoccwinunlo. t u tjrct » sccimUxlo 
----------------------------------------------- -^------- 135
não ter urn eteito comporia mental. Quando uma prática cultural en­
volve tais contingências comportameniais entrelaçadas e produtos 
agregados associados, está estabelecido o cenário para uma com­
plexidade crescente no nível de análise cultural, (p. 60)
Para dar conta deste "nivel de analise cultural', Glenn (1988.1991) 
propõe o conceito de metacontingéncias: 'metacontingência é a unidade 
de análise que engloba uma prática cultural, em todas as suas variações, e 
o produto agregado de todas as variações aluais" (Glenn, IÔ88, p. 168).
Como está indicado na Figura 4 pela flecha que retorna às contin­
gências entrelaçadas, ©starcmos diante de uma metacontingência se, de 
algum modo, o produto agregado - que é dependente destas contingênci­
as entrelaçadas - retroagir sobre elas selecionando-as. Além disso, é im­
portante salientar que o conjunto das contingências entrelaçadas, no caso 
das metacontingéncias. está delimitado, na Figura, para sugerir que estas 
contingências constituem uma unidade e que ê sobre esta unidade çue 
retroage o produto agregado. Estas características são relevantes quando 
tratamos dn metacontingéncias, uma vez que, como afirmam Mattaini e 
Thyer {1996), “Sigrid Glenn introduziu o termo metacontingência para des­
crever as dependências entre uma prática cultural e seus produlos agrega­
dos para o grupo” (p. 16).
2) carac te rís ticas e sp ec ia is d os fe n ô m en o s sociais .
A análise de fenômenos sociais não exigirá do analista do compor­
tamento um novo conjunto ou corpo de principios ou um novo modelo cau­
sal; no entanto, exigirá o reconhecimento de que estes fenômenos têm 
algumas propriedades especiais. Para Guerin (1992), ainda que a distin­
ção entre principios e propriedades possa parecer irrelevante, ela è neces­
sária para que a análise do comportamento contribua para a compreensão 
dos fenômenos sociais. Ainda que a contingência de reforçamemo seja o 
principio básico para a análise do comportamento social, trata-se de identi­
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M u r ln A m A itn P ie A W U A lw J ír y , N iU o M c h o t o n o , T a r M O M <rl.i d e A z o v o ü o P ire s S A rto
ficar, no caso da análise de fenômenossociais, as propriedades especiais 
destas contingências (Guerin, 1992).
As propriedades especiais das contingências sociais que destaca­
mos a seguir foram identificadas a partir do tratamento que Skinner deu ao 
tema, jã em 1953.
a) características especiais do ambiente social.
Identificar as características do ambiento social talvez seja uma das 
grandes contribuições que a análise do comportamento possa trazer para a 
compreensão do homem, em especial no que se refere aos determinantes 
de seu comportamento. Já em um texto dos anos 40, encontramos um desa­
fio para a realização desta contribuição, quando, referindo-se à detennina- 
ção do comportamento humano. Skinner {1947/1999) afirmou:
A constituição genética do indivíduo e sua história pessoal até o mo­
mento desempenham uma parle nesta determinação. Aióm disso, o 
controle permanece no ambiento Mais que isto. as forças mais im­
portantes estão no ambiente social que é construído pelo homem 
/mari-niadey. O comportamento humano está. portanto, em grande 
parte sob controle humano, (p. 345)
Falar do ambiente que controla comportamento humano ê, assim, 
principalmente e quase que exclusivamente falar de um ambiente social, 
ou melhor, do ostimulos sociais (sejam estes estímulos controladores ante­
cedentes ou subseqüen tes ao responder). Com o a firm am K e lle r e 
Schoenfeld (1950):
Os estímulos sociais não diferem de outros estímulos em suas dr 
mensões. Em vez disto, a diferença ó uma diferença de origem. Eles 
se originam do outros organismos, de seus comportamentos, ou dos 
produtos de seus comportamentos. Alóm disso, estímulos sociais não 
diferem dos estímulos de origem inanimada em relação às suas fun­
ções; oles agem como eliciadores, reforçadores, discnminativos e 
assim por diante. A vida social surge porque estímulos socia is pas­
sam a exercer estas funções, (p. 352- 353) 
a1) eventos que podem to ra função de reforço social.
Quando, em uma contingência, um evento tem supostamente a fun­
ção de reforço para a resposta de um indivíduo e não podemos descrevê-lo 
*sem fazer referência a outro organismo" (Skinner. 1953. p. 298), chamamos 
este estimulo reforçador do um reforçador social Como o próprio Skinner 
ressalta, em alguns casos “a outra pessoa participa meramente como obje­
to... mas usualmento o reforçamento social é uma questão de mediação pes­
soal.” (pp.298, 299) O fato de que os reforçadores sociais onvolvem, em 
grande parte, a mediação acaba trazendo como implicação três outras pro­
priedades para o processo de reforçamento. A primeira delas é que exata­
mente porque é mediado por outra pessoa, no caso do reforçamento social 
o reforço dificilmente independe da ocorrência da resposta reforçada.
MetoonnUngOioas; ocinípcrtameiMo, cultura « uxM niitln 137
A segunda característica do processo é que “o reforçamento soc ai 
varia de momento a momento, dependendo da condição do agente reforçador" 
(Skinner 1953, p. 299). Isto quer dizer que respostas de uma mesma classe 
nem sempre produzirão as mesmas alterações ambientais e que tais altera­
ções não dependem exclusivamente da emissão destas respostas, já que 
“dependem também da condiçãc do agente reforçador”. Segundo Skinner 
(1953). duas propriedades do comportamento social - sua extensão e flexibi­
lidade - seriam resultado desta característica do reforçamento social.
Uma terceira caracteristice do reforçamento social que é conseqüên­
cia dos reforçadores sociais mediados, destacada por Skinner, ô que “as 
contingências estabelecidas por meio de um sistema de reforçamento soc ai 
podem mudar lentamente’ (Skinne' 1953, p. 299). São as condições do agente 
reforçador que, mais uma vez, determinam o ritmo da mudança da contin­
gência e, mais quo isto, deve se' enfatizado que as condições do agente 
reforçador, por seu tumo. são produzidas, entre outras coisas, pelas respos­
tas que vêm sendo mantidas por tais contingências. Ou seja, è do comporta­
mento promovido pelas contingências sociais que se originam as novas con­
dições de exigência do agente reforçador, o que, por sua vez, conduz à mu­
dança. po r parte deste agente, das exigênc ias estabe lec idas para 
reforçamento.
Finalmente, a quarta carecteristica do processo do reforçamento 
mantido por reforço social, destacada por Skinner (1953), e que é intima­
mente ligada à anterior, é que o agente reforçador ajusta o esquema de 
reforçamento às características da resposta reforçada de uma forma que 
“raramente ocorre na natureza inorgânica" (Skinner, 1953. p.301).
O que marca todas estas características é o que Skinner chama de 
sensibilidade e complexidade do agente reforçador em comparação com o 
ambiente não social, isto é. o ambente social pode reagir diferencialmente, 
de maneiras mais sutis, às respcstas por ele selecionadas. Esta mesma 
característica pode acarretar problemas:
Mas, um sistetriB reforçador que è afetado desta maneiro pode conter 
defeitos inerentes que levam a comportamento instável. Isto pode ex­
plicar porque contingências reforçadores da sociedade causam com­
portamento indesejável /ra/s freqüentemente do que as contingências 
aparentemente comparáveis na natureza inanimada. (Skinner, 1953. 
p.301)
a2) estímulos antecedentes socJais
Quando em uma contingência o estímulo antecedente é social, o 
desafio que se coloca para o analsta do comportamento é um desafio de 
ordem metodológica. Como Skinner (1953) afirmou, “um estimulo social, 
como qualquer outro estimulo, torna-se importante no controle do compor­
tamento por causa das contingências de que ele participa* (Skinner, pp. 
301, 302). Deste ponto de vista, estímulos antecedentes sociais, como es­
tímulos não sociais, adquirem funções comportamentais pelos mesmos 
processos. No entanto, no caso d>s estímulos sociais, a dificuldade está 
em identificar, nestes estímulos, as dimensões e propriedades de controle
M arta A m é lia P io A b ll» A m U iry . N í t u M le íic lc lto , T c r & M M j r l » do A * * v * < lo P ire s S ftrlo
quo são relevantes, uma vez que elas não podem ser descritas pelas “ pro­
priedades físicas” destes estímulos Isto acontece porque as contingênci­
as de reforço que tomam tais estímulos comportamentalmente significati­
vos “sâo determinadas pela cultura e por uma história particular" (Skinner, 
1953, p 302). O que quer dizer que “estímulos sociais sáo importantes 
porque os reforçadores sociais com os quais estão correlacionados são 
importantes.... Estímulos sociais são importantes para aqueles para quem 
reforçamento social é importante" (Skinner, 1953, pp. 302, 303).
É dai que decorre, possivelmente, a dificuldade que temos em com­
preender como em nossa vida cotidiana não temos grandes problemas para 
identificar respostas que chamaríamos do bom-humor, simpatia, ou amiza­
de, enquanto quo como cientistas teríamos muitos problemas para definir 
tais respostas. Esta disparidade ó exatamente reflexo da origem cultural 
destes estímulos. Como afinna Skinner (1953), a respeito do nosso suces­
so na identificação, no cotidiano, destes estímulos;
Niio significa que existam aspectos do comportamento que são tão 
independentes do comportamento do observador como são as for­
mas geométricas, como os quadrados, círculos e triângulos. Ele [o 
homem comumj está observando um evento objetivo - o comporta­
mento de um organismo; não há aqui dúvida em relação ao status 
fís ico, mas apenas em re la çã o ao s ign ificado dos termos 
cíassifícatôhos. As propriedades geométricas da 'amabilidade' ou 
'agressividade' dependem da cultura, mudam com a cultura e variam 
com a experiência individual em uma dada cultura, (p. 302)
A dificuldade de descrição dos estímulos sociais (ainda que não signi­
fique que tais estímulos tenham propriedades de dimensão diferente daquela 
dos fenómenos que constituem contingências não sociais) certamente colocaum desafio para o analista do comportamento e nos obriga a descobrir proce­
dimentos que nos permitam descrever tais classes de estímulos.
Da origem social dos estímulos docorre mais um aspecto relevante 
para a compreensão de fenómenos sociais: na interação entre dois indiví­
duos, pequenas mudanças nas respostas de um dos indivíduos que mui­
tas vezes parecem triviais, simples e sutis - as quais operam como estímu­
los antecedentes para as respostas do outro podem ter efeitos significati­
vos e poderosos sobre estas respostas. Skinner (1953) recorre aos pode­
rosos efeitos que tem o contato visual para exemplificar este aspecto.
b) elementos quo constituem contingências entrelaçadas
Tendo reconhecido as peculiaridades do ambiente social, um momento 
importante da análise de um fenómeno social é a identificação dos elemen­
tos que delimitam tais contingências: ao fazer isto estaremos necessaria­
mente identificando os participantes, os elementos do ambiente social e os 
elementos do ambiente não social que participam das contingências.
Se considerarmos os exemplos dados por Skinner (1953), identifica­
mos pelo menos quatro possibilidades de entrelaçamento de contingências.
MertaotWirtdâncÍÉfti: c o rrp a íta rra n to , c s jll ira e « « « D a d o 139
Numa primeira possibilidade, ern que dois indivíduos participam, apenas uma 
das contingências envolve o que podo ser chamado de comportamento soci­
al. isto é. apenas um dos indivíduos se comporia sob controle do comporta­
mento do outro. O exemplo dado por Skinner é de um predador (B) seguindo 
uma presa (A). No caso, o comportamento da presa (A) está sob controle de 
estímulos não sociais (por exemplo, sua toca), já as respostas do predador 
(B) estão sob controle das respostas da presa (por exemplo, afastar-se do 
predador). As conseqüências selecionadoras do comportamento de B são 
individuais, ou seja. afetam apenas o comportamento de B.
Numa situação parecida, podemos estar diante de uma segunda 
possibilidade de entrelaçamento de contingências. Se o predador (B) esti­
ver perseguindo a presa e a presa (A) estiver fugindo do predador, então, 
as respostas de cada um dos participantes estarão sob controle das res­
postas do outro. Neste caso, ambos os comportamentos (de A e B) podem 
ser c lass ificados com o com portam ento socia l. E as conseqüências 
selecionadoras das respostas de A e B são aqui também peculiares e indi­
viduais. o que quer dizer que elas são específicas a cada uma das contin­
gências entrelaçadas.
Uma terceira possibilidade de contingência entrelaçada amplia os 
elementos constituintes das contingências, pois o comportamento de cada 
um dos participantes fica sob controle tanto das respostas do outro como 
de aspectos do ambiento não social. O exemplo que Skinner refere ê o de 
dois ou mais indivíduos puxando uma corda que só é movida pelo esforço 
conjunto. Neste caso. as respostas de A e B sáo coordenadas e. para tan­
to. devem estar sob controle das respostas de puxar a corda (de B e de A) 
e do deslocamento da corda. Aqui. as conseqüências que selecionam o 
comportamento de cada um dependem do comportamento conjunto dos 
indivíduos (elas não existiriam sem as conseqüências entrelaçadas) e, neste 
caso. as conseqüências selecionadoras do comportamento de cada um 
dos participantes são as mesmas (o movimento da corda)
Finalmente, uma quarta possibilidade de contingência entrelaçada 
envolve dois ou mais indivíduos que se comportam sob controle do respon­
der uns dos outros, mas as contingências que descrevem os comporta­
mentos de cada um deles são diferentes. Entre os exemplos dados por 
Skinner. destacamos o de um par dançando:
As conseqüências reforçadores - positivas e negativas - dependem 
de uma contingência dupla: (1) os dançarinos devem executar certas 
seqüências de passos, em certas direções, em relação ao espaço 
disponível e (2) o comportamento de um deve ser temporulmente 
organizado, de modo a corresponder ao comportamento do outro. 
Esta contingência dupla normalmente ó dividida entre os dançarinos. 
O tidor estabelece o padrão e responde ao espaço disponível, o se­
guidor é controlado pelos movimentos do líder e responde adequa­
damente para satisfazer a segunda contingência, (p. 305)
camila paiffer
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Marl« Amélia Pi* Abib Andary. NUu Mtetwbitto, Tereaa Marta da Axavado PUas Stulo
Note que, neste exemplo, a contingência que descreve o comporta­
mento do "líder" (A) é diferente da contingência que descreve o comporta­
mento do “seguidoi* (B): no primeiro caso, a contingência envolve, como 
estímulos antecedentes, elementos do ambiente não social (como o espa­
ço disponível) e o comportamento do ‘ seguidor"; já a contingência que des­
creve o comportamento do “seguidor'’ envolve como estímulo antecedente 
apenas as respostas do "lider*. As conseqüências selecionadoras dos com­
portamentos de A e B aqui são individuais - B segue A sem tropeços e A 
lidera B sem problemas. Além disso, podemos supor que esta interação 
produz ainda um outro efeito, que chamamos de conjunto, que pode ter 
papel selecionador sobre as respostas de A e B - ambos dançam de forma 
em harmoniosa.
O Quadro 1. apresentado a seguir, tom por objetivo sintetizar as quatro possibilida­
des aqui apresentadas.
Exemplos de 
continências
Participantes F.stimubs aniccedcoies Conseqüências
1. predador persegue A (presa) —
IndividualB (predador) Resposta* de A
2 . predador persegue 
c prc&a fuge
.A (prcsa)........
B(predador)
RcsgostBS de B 
Respostas de Ä Individual
3. homens puxam 
corda
A Rcspostus de B
Aspectos do ambiente ník> social Individual
B Respostas de A
Aspodos do ambiente nào social Conjuntu
4. par dan^n A (lider)
B (seguidor)
Respostas de B
Aspectos do ambiente não «»ciai 
Respostas de A
Individual
4-
(Jonjunta
Ao descreverm os os elem entos que constituem contingências 
entrelaçadas, uma vez que continuam os tratando de com portam ento 
operante, necessariam ente deverem os iden tificar as conseqüências 
selecionadoras do responder de cada indivíduo. Estas conseqüências po­
dem constituir a contingência que descreve o comportamento de um indiví­
duo particular envolvido na contingência entrelaçada e, neste caso, como 
indicado no Quadro 1, elas foram chamadas de individuais. Este rótulo foi 
utilizado para distinguUas de uma conseqüência que tem ao mesmo tempo 
papel selecionador sobre as respostas de cada participante, isto é, de uma 
m esm a co n se q ü ê n c ia que co n s titu i as d ife re n te s c o n tin g ê n c ia s 
entrelaçadas; caso em que foram chamadas de conseqüências conjuntas. 
Como o Quadro 1 sugere, contingências entrelaçadas apenas em alguns 
casos envolvem o que chamamos de conseqüências conjuntas. E, nestes 
casos, estas conseqüências podem ser idênticas às individuais, ou podem 
ser outras e diferentes daquelas conseqüências.
M o M C Q Q t f n g f tn c t o * . ' m i n p c c t o m n n l » c u t u r p o » s c t e O B d » 141
Como deve ter ficado claro, o termo conseqüência indica a produ­
ção de uma mudança ambiental que depende da emissão de uma dada 
resposta. No caso das conseqüências que participam de contingências 
entrelaçadas, então, as conseqüências mantêm esta característica; pode­
mos assim dizer quo elas dependem do entrelaçamento das contingências. 
Todavia, há um outro aspocto em relação às consoqüências onvolvidas em 
contingências entrelaçadas que merece destaque: o entrelaçamento das 
contingências aumenta a magnitude das conseqüências. Skinner (1953) 
ressalta este aspecto ao afirmar que:
Se 6 sempre o indivíduo que so comporta, no entanto, 6 o grupo que 
tem o maior efeito reforçador. Juntando-se a um grupo, o indivíduo 
aumenta seu poder para adquirir reforça mento... As conseqüências 
reforçador as geradas pelo grupo facilmente excedem a soma de con­
seqüênciasque poderiam ser obtidas pelos membros agindo sepa­
radamente. O efeito reforçador total ó enormemente aumentado, (p. 
312)
Ao discutirmos a questão da unidade de análise envolvida no estudo dos 
fenômenos sociais, sugerimos a possibilidade de duas diferentes unidades de 
análise: as contingências entrelaçadas e as metacontingêndas. Esta distinção 
tem implicações quando se trata de identificar as conseqüências envolvidas nas 
contingências entrelaçadas. No caso de motaoontingências. além de todas as 
conseqüências que participam de cada uma das contingências entrelaçadas, há 
ainda mais uma conseqüência, que foi chamada de produto agregado. Se o 
fenômeno sodal analisado envolver metacontingêndas, será necessário, então, 
identificar este produto agregado tendo em vista seu papel selecionador em 
relação ao entrelaçamento das contingências envolvidas.
Como no caso das contingências entrelaçadas que envolvem distin­
tos tipos de conseqüências, metacontigências parecem envolver diferentes 
tipos de produtos agregados. Como Glenn salientou já em 1988, em certos 
casos, metacontingêndas envolvem produtos agregados que são também 
as conseqüências selecionadoras dos comportamentos constitutivos das 
contingêndas entrelaçadas. Em outros casos, no entanto (e estes parecem 
ser o mais comum nas sociedades chamadas de complexas), os produtos 
agregados são diferentes das conseqüências selecionadoras dos compor­
tamentos individuais. Mais ainda, o produto agregado pode ou não afetar 
todos os participantes das contingências entrelaçadas.
Tudo isto torna muito difícil identificar tais produtos e G lenn e 
Malagodi, já em 1991, reconheciam que a tentativa de analisar fenômenos 
sociais que envolvem metacontingêndas exigiria do analista do comporta­
mento procedimentos não usuais em sua área. Neste artigo, os autores 
fazem um a d is tin çã o en tre con teúdo com portam en ta l e p rocesso 
com porta mental, afirmando: *o conteúdo do comportamento humano pede 
ser genericamente caracterizado como aquilo que as pessoas fazem e di­
zem.... Afirmações de relações sujeitas a leis podem ser consideradas descri­
camila paiffer
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Murta A m e lia Pio A b ib Ajiclery. N ilta M lc ti«l»R o , T e r » » Marta do A ie v e d o P iro » SAtto
ção do processos ... Em resumo, princípios comportamentaís descrevem 
processos e explicam conteúdos' (Glenn o Malagodi, 1991, pp. 2, 3). Esta 
distinção é estendida á análise de fenômenos sociais e segundo eles "a 
tarefa de formular princípios gerais que descrevem processos culturais pode 
ser mais difícil que no domínio comportamontal" (p.4). Estas dificuldades 
envolvem a complexidade da unidade de análise, a escala temporal do 
muitos dos fenômenos sociais e a dificuldade de estabelecer situações de 
ostudo análogas às utilizadas para o estudo do comportamento individual. 
Como conseqüência, os autores sugerem que. pelo menos de início, o es­
tudo dos fenômenos socials, com vistas à formulaçáo dos princípios que o 
governam, precisará “se basear muito mais fortemente num amplo conhe­
cimento existente sobre conteúdos culturais" (p.4). Do nosso ponto de vis­
ta. o que estes autores estáo sugerindo é a necessidade dos analistas do 
comportamento se debruçarem sobre a cultura buscando identificar o que 
os indivíduos fazem e dizem e que ó tido como característico daquela cultu­
ra Partindo desta descrição quase narrativa poderíamos hipotetizar rela­
ções de depondência entre as ações e os ambientes selecionadores. Este 
poderia ser o primeiro passo para a identificação de metacontingências.
c) com portam ento verba l re lac ionado às con tingênc ias entre laçadas
Muito freqüentemente a análise de contingências entrelaçadas, como 
indicado na Figura 3. envolverá a descrição das aqui chamadas contingên­
cias de suporte. Em um caso especial, e extremamente relevante (e bas­
tante comum), tais contingências envolvem comportamento verbal. Como 
ressalta Skinner (1981), comportamento verbal foi crucial para a emergên­
cia do terceiro nível de seleção por conseqüências - a seleção das práticas 
culturais. Assim, não deve causar espanto que a descrição de fenômenos 
sociais muito provavelmente exija a descrição de comportamento verbal 
envolvido na seleção e manutenção destas práticas. Como afirma Glenn 
(1991):
O comportamento verbal de cada pessoa serve como parte do ambi­
ente comportamontal da outra e isto claramente produz oportunida­
des para que contingências sociais complexas tragam um número 
cada vez maior de dimensões do mundo (social e não social) para os 
ambientes comportamentais dos indivíduos participantes." (p.59)
Mais que isto. ao distinguir as culturas humanas das chamadas 
protoculturas humanas (ou não), Glenn destaca o papel do comportamento 
verbal oon>o elemento chave para que tenha emergido a complexidade quo é 
típica das práticas culturais, ou melhor, das contingências entrelaçadas que 
caracterizam as culturas humanas. Nas suas palavras: “a cola que foi neces­
sária para manter tais relações entrelaçadas foi o comportamento verbal" (Glenn. 
1991, p.60).
A Figura 5 ê uma tentativa de representar a participação de contin­
gências verbais no suporte das contingências entrelaçadas. Há entre ela e 
a Figura 3 uma diferença que ê importante de ser destacada. Quando as 
contingências de suporte são verbais, as respostas verbais podem promo­
ver outras contingências por meio do que tem sido chamado de compor­
tamento governado por regras (Skinner, 1969), ou, mais recentemente, de
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VelKíoitmflpBnaâa oomptyisirm nto. c u íu ro o suaw lM fe 143
Figura 5. Representação de contingências entrelaçadas que 
exigem contingências verbais de suporte.
comportamento governado verbalmente (Catania, 1999). O que é relevante 
aqui è que o comportamento verbal pode evocar pela primeira vez a emis­
são de outro comportamento (antes mesmo que este seja consequenciado). 
Assim, contingências verbais de suporte ampliam em muito a extensão do 
controle social sobre o comportamento. E assim, também, dificilmente um 
analista do comportamento poderá estudar fenômenos sociais sem domi­
nar o conhecimento - teórico e empírico - sobre comportamento verbal.
3. os con tex tos de es tudo d os fenôm enos soc ia is
O analista do comportamento interessado no estudo dos fenôme­
nos sociais, então, tem meio caminho andado: sabe que estos são legíti­
mos como objotos de estudo de seu interesse e tem à sua disposição ferra­
mentas conceituais para iniciar o tratamento destes fenômenos. No entan­
to, este analista do comportamento precisará ainda tomar decisões a res­
peito das situações apropriadas para o estudo de tais fenômenos.
Este aspecto - o de situações adequadas para estudo dos fenôme­
nos sociais tem sido também abordado por vários analistas do comporta­
mento. Lamal (1991), por exemplo, aponta as dificuldades de medida e de 
delineamento envolvidos no estudo de fenômenos sociais, pois os analis­
tas do comportamento não desenvolveram, ainda, procedimentos para re­
alizar análises que envolvem o comportamento de muitas pessoas. Segun­
do ele, a análise do comportamento quando aplicada a tais fenômenos, 
deverá trabalhar com o que ele chama de “experimentos naturais" (p. 8) e 
não. como está até entáo habituada, com experimentos de laboratório. Dois
Mario A m é lia Pte A M b A n d a iy , Nltea MIclaeieHo, lew oM M nrla á e A ze ve d o Pire* Sério
estudos de Kunkel (1985, 1986) ilustram muito bem como tais 'experimen­
tos naturais' poderiam ser realizados. No primeiro estudo, Kunkel (1985) 
analisa um conjunto atividades que ocorreram em Veneza, entre 1650 e 
1800, com relação á educação musical de meninas órfãs; ole toma a parti­
cipação das meninas nas atividades envolvidas nesta educação e todo o 
suporte necessáriopara que estas atividades ocorressem como a variável 
manipulada e analisa os efeitos disso sobre mudanças na vida dessas 
meninas quando comparada á vida de meninas que não tinham tal oportu­
nidade. No segundo estudo. Kunkel (1986) analisa os efeitos de mudanças 
introduzidas, a partir de 1952, em uma fazenda no Peru, a fazenda Vicos, 
quando ela foi objeto de um programa de pesquisas conduzido por um 
sociólogo (Holmberg). Fica claro, nos dois casos, a necessidade de recor­
rer a tipos de dados (registros oficiais, relatos históricos, relatos de pesqui­
sa produzidos outros objetivos) com os quais o analista do comportamento 
não está habituado e. mais do que isso. a necessidade de identificar, nas 
histórias já ocorridas, situações que possam ser vistas como situações ex­
perimentais. Como ressalta Kunkel (1986). esta decisão metodológica en­
volverá uma opção:
O preço da análise experimentai do comportamento humano em am­
bientes naturais pode sor um menor grau de controle de variáveis 
[quando comparado ao da situação de laboratório/, enquanto que os 
benefícios, que se originam de um acompanhamento das varáveis 
estendido no tempo, são tarefas experimentais com significado mai­
or e manipulações mais efetivas. Esses benefícios valem a pena e 
prometem sucesso para o futuro da análise experimental do com­
portamento humano, (p. 465)
Pierce (1991) também abordou a questão das situações para o es­
tudo dos fenômenos sociais; tal como os autores já citados, ele parte da 
constatação de que os analistas do comportamento precisam ampliar os 
métodos aos quais recorrem para que este estudo seja produtivo. Indo nes­
ta direção, Pierce (1991) destaca três possibilidades:
Métodos aceitáveis incluem: (1) técnicas observacionais que des­
crevem o comportamento das pessoas organizado em termos de 
settíng ovonts, estímulos discriminativos específicos e conseqüên­
cias funcionais; (2) estudos quase-experimentais que tentam isolar 
as variáveis causais de uma prática social particular, e (3) análise 
experimental do comportamento em pequenos grupos, (p. 20)
Evidentemente, a identificação das diferentes propostas já existen­
tes e sua comparação mereceriam um estudo especial; entretanto, a leitu­
ra, ainda que assistemática, de artigos que apresentam tais propostas 
metodológicas e de artigos que analisam fenômenos sociais sugere que 
temos à nossa disposição quatro alternativas metodológicas que têm sido 
bem sucedidas no estudo de fenômenos sociais.
A primeira delas não deve ser novidade para os analistas do com­
portamento; em mais de uma oportunidade, Skinner (1957e 1974, por exem­
plo) propõe a interpretação como um caminho legitimo para a compreen­
são do comportamento. Segundo Skinner (1974):
c c n ip o i '« r iM il i> . c u I j i b « a o c le da d tf 145
Como em outras ciências, freqüentemente não temos a informação 
necessária para predição e controle e devemos nos satisfazer com a 
Interpretação, mas as nossas interpretações terão o apoio da predi­
ção e do controle que foram possíveis em outras condições (p. 176)
Temos, em várias publicações de analistas do comportamento, exem­
plos do análise de fenômenos sociais que recorreram á interpretação. po­
dem ser citados o estudo de Ellis (1991) sobre o sistema penitenciário dos 
EUA e o estudo de Laitinen e Rakos {1997) sobre a mídia e seus efeitos 
sobre o comportamento individual, destacando, como exemplo, as noticias 
sobro o Iraque, tal como divulgadas na mídia impressa e falada dos EUA. e 
seus efeitos sobre a opinião pública com rolaçõo à invasão do Iraque pelos 
EUA. em 1991.
Outra alternativa metodológica já foi aqui mencionada, sâo os cha­
mados 'experimentos naturais'. Kunkel {1986), um de seus defensores, afir­
ma:
A maioria dos estudos de longa duração foram descrições... Ainda 
assim, o progresso da psicologia depende do poder e da eficácia do 
paradigma experimental.... A melhor solução para o duplo problema 
do laboratório e do tempo é o experimento natural (pp 52. 53)
Uma terceira alternativa são os chamados experimentos de cam­
po’. Muitas das pesquisas que chamarnos de pesquisa aplicada em anáhse 
do comportamento podem ser incluídas como exemplos desta alternativa 
Um exemplo bastante significativo é encontrado no trabalho de Coheri e 
Filipczak (1971) realizado em um reformatório para jovens condenados pela 
justiça, em Washington.
Finalmente, uma alternativa que deve merecer especial atenção e 
esforço é o desenvolvimento de situações experimentais que são análogos 
a fenômenos sociais.
Uma afirmação de Skinner, feita em 1973, é reveladora da importân­
cia desta alternativa:
Quando os fenômenos estão fora do alcance no tempo ou espaço, 
ou quando eles são muito grandes ou pequenos para serem direta­
mente manipulados, precisamos falar deles com uma descrição das 
condições relevantes qtre náo é completo. O que foi aprendido em 
condições mais favoráveis é. então, de valor inestimável (p. 261)
De fato. parece que temos rr-uito a ganhar em termos de nossa com­
preensão das variáveis de controle de fenômenos sociais complexos com 
tentativas de desenvolver análogos experimentais de tais fenômenos. Um 
exemplo instigante desta estratégia ó a descrição o programa de pesqui­
sas, intitulado Projeto Columban. desenvolvido por Epstein, Carr, Lanza e 
Skinner (Epstein, 1981), no qual os autores tinham por objetivo demonstrar 
ex|)erimentalmente - com pombos - as variáveis envolvidas na constitui­
ção de fenômenos como. por exemplo, autoconsciência, comunicação
camila paiffer
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M u n a A m A iiii P io A b * b A n d o r y , N ilz a M ic »io l# tto . T e u * »» M » r ln de A je v o d a P ir e » S 4r to
simbólica, mentira e produção de pistas para o próprio responoer - tradicio­
nalmente descritos à maneira cógnitivista.
R eferên c ias B ib liog rá ficas
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