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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/319911137 Metacontingencia - comportamento, cultura e sociedade. Book · January 2005 CITATIONS 15 READS 109 3 authors: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Avaliação de habilidades pré-aritméticas View project History of Behavior Analysis in Brazil View project Joao CLAUDIO Todorov University of Brasília 153 PUBLICATIONS 1,010 CITATIONS SEE PROFILE Ricardo Correa Martone 7 PUBLICATIONS 49 CITATIONS SEE PROFILE Marcio Borges Moreira Centro Universitário de Brasília 32 PUBLICATIONS 95 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Joao CLAUDIO Todorov on 19 September 2017. The user has requested enhancement of the downloaded file. www.facebook.com/groups/livrosparadownload www.jspsi.blogspot.com Metacontingências: comportamento, cultura e sociedade CapyfightS cfcisffl oetsáa- L S E le c b d lio te s A sso cia d o s. Sitnlp Ajii:< f. 20W>. tOdC-% l» Ctfe*túS HKofVjnxj* Todorov: Joào Cláudio, et al Metacontingências: comportamento, cultura o sodedade - Org. J.C. Todorov. R. C. Martone, M B. Moreira. 1-ed Santo André. SP: ESETec Editores Associados. 2005. 171 p. 14 x21 cm l Psicologia do Comportamento e Cognição 2. Análise do Comportamento CDD155 2 CDU 159.9.019.4 ISBN 85 - 88303 -61 -2 ESETec Editores Associados Solicitação de exemplares. comorcial@esetec com. br wyvw.esetec.com.br Tel/fax: (11)4438-6866 Metacontingências: comportamento, cultura e sociedade João Cláudio Todorov Ricardo Corrêa Martone Márcio Borges Moreira Organizadores ESETec Christian Vichi Fundação Universidade Federal do Valo do São Francisco Gisele Carneiro Campos Pereira Universidade de Brasilia João Cláudio Todorov Instituto de Educação Superior de Brasilia Universidade Católica de Goiás Maisa Moreira Universidade de Brasília Mara Regina A. Prudéncio Universidade de Brasília Márcio Borges M oieira Instituto de Educação Superior de Brasilia Maria Amalia Pie Abib Andery Pontifícia Universidade Católica do São Paulo Agradecim entos ASguAs cnpttuk» oeste livro foram originalmente pwVicudos cm outros veículos do divulgação cientifica. Estamos graxjs aos veiculas c fc a d o s a lx iix o o ^ g e rtil autorização para a publicação <io3 segut^e» o rtç r» Capitulo 02: Glenn, S.S (15)86) M citoontingcntim in Waltfon Two Pohimtyai Angtya/s antf Soc/a( Action, 5 ,2-fl PiibíincJo ccen a autorcaçüo do fks'.#vk\rifís for Social Responsibility. C apítulo. 03: Todorov J. C . {1087). A Constituição como M ot&cont.-<j*icla. Pstcofoçta: C & nc i£» 9 Profissão, 7 9 - 13 C apitu lo 04: Todorov. J. C. e V o re ra . M . (200-1). A^Alse expdf.mentól oo comoofiamemo e sociedade: um novo foco c * estudo. P&cotogta: R efíexáo e Crítica. 1 7 .25-2« C apftu lo 05: foCoroV, J. C .. Moreira. M . Prudênao M R. A. &. Pereira, G. C . C. <2CC4) O E*tatuto da Scianvj o do Adolescente como motacroilingôocia l r M 7. S BrsndttO, F- C. S Cor.ln. F. S. Brandão. Y. K. irgbM m an. V I M Silva A S. M. Oliani (fids.) Sobre comportamento o cognição contingências 0 m oincoringèncías. contextos sócio-VWbais 9 0 com podamootodo terapeuta. Siinto Andié' fcSETea C apitu lo 00; Todorov. J C . Moreira. M 8 & M orara. M (20IMJ. M otaconl'igonoes <neilock*>: a id unrelated conlhtjencios In T. C. C. Gra&si (Org J. Contemporary chaUenyes m ttto ben auow i approach Santo A rdré . -SET&c. C a p itu lo 09; Glonn, S .S & M alott, M . {2 0 0 4 ) Complexity and Selection lmpllcullo>i3 foi O rganizational Change Bvrm viut and S o d a i issues. 13. 8 5 -106 Puhllcudo corn a autorfcaçSo 0 0 8etiavforists- for SotíaJ ReaponslbMiy. C apitu lo 10: P.lartone, R.C , & Todorov J.C. (2005) Sobr« ■Compltfxidmfoe ftnloçflo iaiplicaçícR »ara inudnnçii o rg an izac io n a l' oe G lenn e M alo l! Rttvísia BratW aira do Tntnpin Camfxxlanientuf t: CttgrJtivx C a p itu lo ll: Andnry, M A . Mirh<*l«3lo, N , &S6 ro . T M (2005) A noálise do íonftmuno» sociais- eso nçív ido um a proposto paro a idontlficaçÃo do corn ingércín» «r.tm taçDdas e •netacortigénda-s Rev<ste Bras.'>era be Anáitee do Comportamento (no piolo) C apttulo1 2 : Ancery M A . & Séoo. T.M ( l í '9 7 ) O conceito 0 0 m otacontirrtf-rci#*. J-.tlnal a veina conongônciace retorçamento e Hftrtlcfente? R B arreo , (Cry i Sot«« com coitarr^ilo e C0 9 .11Ç&0 . Santo Andnô. ARBytea-' ESETec (pp. 108-116) |r>o prelo) Maria E. Maltot Mafíot & Associates Nilza Micheletto Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Ricardo Corrôa Martone Instituto de F.tíucação Superior de Brasília Universidade de Brasilia Roberto Alves Banaco Pontifícia Universidade Catótica de São Pauto Sigrid S. Glenn University of North Texas Tereza M aria de A ze v e d o P ires Sério Pontifícia Universidade Católica de São Pauto II.SB - Inxiitulo dc rdurH<2u Sii|Kito> tfr lii jtiliu Ti|Wi <lí Document»: DaU: Livro 04AHV200? A<| iiiklçAo rrocedéncm ' Curto: Píívolo^ a l.iKalwuçio: *iul Preçn: RS 25.50 Sumário Prefácio.....................................................................................................7 Capítulo 1 Os fins e os meios de uma Ciência do C om portam ento............ 9 Márcio Borges Moreira, Ricardo Corrêa Martorie, Joào Cláudio Todorov Capitulo 2 Metacontingéncias em W alden D ois ................................................. 13 Sigrid Glenn Capitulo 3 A Constituição como Metaconlingência.......................................... 29 João Cláudio Todorov Capitulo 4 A n á lise E x p e rim e n ta l do C o m p o rta m e n to e S ociedade: um novo foco de e s tu d o ....................................................................... 37 João Cláudio Todorov, Maísa Moreira Capitulo 5 Um estudo de Contingências e Metacontingéncias no Estatuto da Criança e do A dolescente..................................................................... 45 Joào Cláudio Todorov. Maisa Moreira, Mara Regina A Prudêncio. Gisele Carneiro Campos Pereira Capitulo 6 Contingências Entrelaçadas e Contingências Não-Relacionadas 55 João Cláudio Todorov, Márcio Borges Moreira. Maísa Moreira Capitulo 7 Comportamento Social: A Imprensa como agência e ferramenta de controle s o c ia l....................................................................................61 Ricardo Corrêa Martone, Roberto Alves Banaco Capitulo 8 Igualdade ou Desigualdade: Manipulando um análogo experimental de prática cultural em laboratório.......................................................81 Christian Vichi Capítulo 9 Complexidade e Seleção: Implicações para a mudança organizacional...101 Sigrid S. Glenn, Maria E. Mallot Capitulo 10 Comentários sobre ‘Complexidade e seleção: implicações para mudança organizacional' de Glenn e Malott (2004)......................................... 121 Ricardo Corrêa Martone, João Cláudio Todorov Capitulo 11 A a n á lis e d e fe n ô m e n o s so c ia is : e s b o ç a n d o u m a p ro p o s ta p ara a id e n tific a ç ã o d e c o n tin g ê n c ia s e n tre la ç a d a s e m eta- c o n tig ê n c ia s .............................................................................................129 Maria Amalia P. A. Andery. Nilza Michetetto, Teresa M. dc Azevedo Pires Sério Capitulo 12 O co nce ito d e m etacon tlng ô n c ias : a fina l, a ve lha co n tin g ên c ia de re fo rçam ento é in s u fic ie n te ? ................................................... 149 Maria Amalia P. A. Andery, Teresa M. do Azevedo Pires Sério Capitulo 13 Introdução ao estudo de MetacontingénciasMárcio Borges Moreira 161 Prefácio Já há algum tempo queríamos publicar um livro com artigos exclusi vamente sobre metacontingèncias e questões sociais uma vez que os as pectos sociais e culturais do ser humano vèm ganhando, desde a década de 80. um relativo espaço nas publicações em Análise do Comportamento. Não como un> novo foco de estudo, mas como uma retomada do projeto original de B.F. Skinner, explicitado na terceira parte de Ciência e Compor tamento Humano e em tantas outras obras de sua autoria. No presente livro o leitor encontrará uma compilação de alguns tra balhos de autores brasileiros sobre o assunto, trazendo alguns trabalhos já publicados em outros veiculos de divulgação e outros inéditos. Além das publicações de autores brasileiros o livro também apresen ta traduções de dois outros importantes artigos de autores norte-america nos: Metacontingèncias em Walden Dois, publicado em 1986 e do autoria de Sigrid Glenn. considerado o artigo seminal sobre Metacontingèncias: e Com plexidade e Seleção: Implicações para a Mudança Organizacional, de auto ria de Sigrid Glenn e Maria Mallot. O primeiro destaca-se por sua importância histórica e pelo mérito de retomar o interesse, de forma explicita, pelos as pectos sociais do comportamento humano O segundo dostaca-se pela atu alidade e pelas vividas discussões geradas recentemente ao ser publicado no periódico Behavior and Social Issu&s {2004, vol.13). Os trabalhos apresentados neste livro versam, de forma geral, so bre a pertinência, relevância e definição do que tem sido discutido sob a alcunha de Metacontingència em Análise do Comportamento. Diversos aspectos do assunto são abordados com maior ou menor ênfase em cada texto (e.g. metodologia, definição, aplicabilidade, interpretações de acon tecimentos recentes, como os "atentados terroristas" de 11 de setembro, á luz do concoito, dentre outros). O presente trabalho surge, também, em um momento muito oportu no. pois seu lançamento ocorre concomitantemente á realização de um evento que. certamente, constituir-se-á em um marco histórico nos estu dos sobro Metacontingèncias: Think Tank on M etacon lfngenc ics and C u ltu ra l Ana lys ls , que ocorrerá em agosto de 2005, em Campinas, e con tará com a participação de 16 importantes nomes da Análise do Comporta mento brasileira o mundial com o intuito de abordar quatro questões funda mentais: 1 Quais são as opções que temos para caminharmos em d i r e to a estu dos observacionais ou ao menos podermos empreender modestos tra balhos experimentais, a partir de um trabalho que tem se caracterizado pela interpretação? 2. Quais são os caminhos para uma ação efetiva em direção à mudança cultural? 3. Como o instrumental teórico da análise do comportamento pode auxiliar na compreensão dos fenômenos sócio-culturais? 4. Quais são os caminhos para que possamos estabelecer interface com outras áreas do conhecimento? Recomendamos ao leitor que entra em contato com este assunto pela primeira vez, através desse livro, que comece sua leitura pelo Capitulo 13. Este capítulo é uma introdução ao conceito de metacontingência elabo rado em forma de instrução programada, uma tecnologia de ensino bastan te utilizada em décadas passadas, sobretudo por analistas do comporta mento, para aumentar ou refinar o repertório verbal de seus alunos. João Cláudio Todorov Ricardo Corrêa Martone Márcio Borges Moreira Agosto/2005 Os fins e os meios de uma Ciência do Comportamento Márcio Borges Moreira Ricardo Corrêa Martone João Cláudio Todorov O comportamento social pode ser definido como o comportnmento de duas ou mais pessoas em relação a uma outra ou em conjunto em relação ao ambiente comum. Com frequência se argumenta que é diferente do comportamento individual e que há situações sociais' e ‘forças sociais ' que não podem ser descritas na linguagem da ciência natural. Diz-se que requer uma disciplina especial denominada 'ciên cia social' por causa dessa aparente ruptura na continuidade da na tureza. Há, é claro, muitos fatos referentes a governos, guerras, mi grações. condições econômicas, procedimentos culturais, etc. - que nunca se prestariam a estudo se as pessoas não se juntassem e se comportassem em grupos, mas ainda assim continua a questão de se saber se os dados básicos são fundamentalmente diferentes. Aqui nos interessamos (>elos métodos das ciências naturais como os vi mos funcionando na Fistca, na Química, na Biologia, e com os ter mos aplicados ao campo do comportamento. Até onde nos levaráo no estudo do comportamento de grupos?" (Skinner. 1953/2000. p. 325). É desta forma que Skinner inicia a quarta seção de Ciência e Com portamento Humano (C&Chf), seção esta intitulada: "O Comportamento das pessoas em grupo". C&CH. que foi escrito em 1953 e é considerado por muitos a 'bíblia" da Análise do Comportamento, é, sem dúvida uma obra de reíorència fundamental. Esta quarta seção é composta pelos capítulos ‘ Com portamento social”, "Controle pessoal* e "Controle pelo grupo*. A quinta seçáo se intitula "Agências controladoras", fazendo referência em capítu os distintos a 'Governo e lei’ , "Religião", 'Psicoterapia", “Controlo econômico", e “Educação". Por fim, a ultima seção. Intitulada “O controle do comporta mento humano", versa sobre "Cultura e controle”, "Planejamento de uma cultura" e *0 problema do controle". Praticamente um terço de Ciência o Comportamento Humano é dedicado ao comportamento do indivíduo inse rido em um contexto sóao-cultural. 10 M a r a o B o rg o n fA ifattti, R ic u td o C a rrA c M a r u n * . J o i » O a j c J ' j T g o o io v Ainda antes da publicação de C&CH, em 1948. Skinner publica Walden Two, uma obra definida, pelo próprio Skinner. desta forma: "Minha novela utopista... publicada há quarenta anos foi uma anteci pação ficc io n a l daquilo que veto a se r cham ado análise comportamental aplicada Ela descreve uma comunidade em que instituições governamentais, religiosas e capitalistas sào substituí das por controle face a face. Os novos membros começam seguindo regras simples, com o auxilio de instruções e aconselhamento, e seu comportamento é logo posto sob o controle de contingências soci ais cuidadosamente planejadas .. Como todas as utopias, Walden Two tenta resolver os problemas da cultura, todos de uma vez e não um a um. Ê provável que não consigamos nos direcionar para esse lipo de mundo melhor, mas, penso eu, é valioso té-lo como um modelo.'(Skinner, 1989/1991, p. 115, grifo nosso). Vemos claramente neste trecho a preocupação de Skinner em forjar uma ciência do comportamento cujo objetivo maior seria o planejamento cultural.Ao longo de sua produtiva carreira Skinner publicou várias obras, como Frvedom and the control o fm en (1955), The design ofcultures {1961), The design o f experimental communities (1968), 8eyond freedom anddignity (1971) e Reflections on behaviorism and socie ty (1978) Upon Furlher Refíection (1987) que expressavam sua preocupação com o planejamento cultural e exploravam idéias acerca de "como a ciência pode ajudar?’ . Mesmo tendo sido o planejamento cultural, norteado por uma ciência do comportamento, tantas e tantas vezes ressaltado por Skinner. este aspecto do comportamento humano parece ter sido relegado a um segundo plano den tro da própria Análise Experimental do Comportamento. Como ressaltado pelo próprio Skinner. “é o indivíduo que se comporta. O problema apresentado pelo grupo maior ó explicar por que os indivíduos se comportam juntos." (Skinner. 1953/2000, p. 340). Mesmo olhando para o grupo, o foco principal sempre será o indivíduo, mas será que existe algo mais a ser considerado quando o ambi ente do individuo é um grupo social? A resposta a esta pergunta ainda é con troversa. mas. graças a SigridGlenn (1986) esta pergunta tem. pelo menos, sido feita por alguns analistas do comportamento. Sigrid Glenn (1986) trouxe o assunto à tona com o conceito do m etacontingênc ia , de fin ida por e la com o con tingênc ias ind iv idua is entrelaçadas {bterlocking em inglês, no original), em que todas elas juntas produzem um mesmo resultado a longo prazo. Metacontingèncias envol vem contingências socialmente determinadas. O elo de comportamentos individuais em uma metacontingência é a conseqüência a longo prazo que afeta toda a sociedade (ou grupo de pessoas). É verdade que ainda há muito o que aprender sobre o comportamen to do individuo. ainda temos muito o que aprender sobre o comportamento dos nossos tão conhecidos sujeitos experimentais náo-humanos (ratos e pombos) e, de importância fundamental, temos que aprender ainda muito mais sobro comportamento verbal. No entanto, não é verdade que o conhe cimento produzido até o momento em Análise Experimental do Comporta mento não seja suficiente para que haja, entre os analistas do comportamen to. tentativas de a lçar vôos maiores, mesmo que inicialmente apenas camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight W nt»»ci«tlirí)êf*sM *: o ^ n p o ta iru M rio . c l <Ij t a « v j i in d m j« 11 especulativos - no bom sentido da palavra - no intuito de analisar e compre ender fenômenos culturais (o terceiro nível de seleção pelas consequências). Questões de amplo interesse social, e que resgatam a responsabili dade social proposta por Skinner desde os primórdios de sua carreira, têm sido abordadas recentemente por vérios analistas do comportamento. Siste mas sócio-econômicos (Kunkel, 1991; Lama!. 1991; Rakos. 1991; Rakos. 1989), política (Goldstein & Pennypacker, 1998; Lamal & Groenspoon, 1992: Todorov, 1987). educação (Greenspoon, 1991), políticas públicas (Hovell, Wahlgren & Russos, 1997; Mattaini & Magnabosco, 1997), sistemas peniten ciários {Ellis. 1991), e o controle do comportamento por intermédio da infor mação (Guerin. 1992; Martone, 2003; Rakos. 1993) são alguns dos temas estudados por alguns (ainda muito poucos!) analistas do comportamento. Vale ressaltar também o brilhante esforço de alguns autores que vôm desen volvendo teoricamente o conceito, discutindo sua pertinência, suas implica ções metodológicas e a necessidade de construir parâmetros para que se possa de lato caminhar rumo à sua aplicabilidade (Andery & Sério, 1999; Glenn. 1991; Todorov. Moreira & Moreira, 2004). Desenvolver ainda mais os temas apontados acima e tantos outros que podem e devem ser alcançados por uma ciência do comportamento é de importância fundamental no mundo atual, sobretudo quando deparamo- nos com problemas que á primeira vista nos parece não existir qualquer solução a médio prazo. O recrudesci mento do terrorismo em muitas partes do mundo e a extrema pobreza observada em muilos paises são alguns dos problemas que não dependem somente de 'vontade política*. Necessi tamos cada vez mais de mudanças, mudanças estas que de fato produzam efeitos duradouros e que beneficiem o maior número de pessoas possível. Temos ainda um longo caminho! Referências Bibliográficas Andery. í/i.A,, & Sério. T.M (1999). O conceito de metacontingôndas: afinal, a velha contingência de reforçamento é suficiente? Em R A. Baraço (org) Sobre Comportamento e Cogniçào: aspectos teóricos, metodológicoa e de formação cm análise do comportamento e terapia cognttivista. (2a. edição) Santo André: ESETec. pp 106-116 Ellis, J. (1991). Conlingencies and Metacontingenc«es in Correctional Settinga. Em P Lamal (org.) Behavior Anatysis o f Socleties and Cultural Practices. New York. Hemisphere Publishing Corporation, pp. 201-217. Glenn. S. S. (1986) Metaconlingencles in Walden Two Behavior Anatysis and Sociai Actíon, 5. 2-8. Glenn, S.S. (1991). Contirxjencies and Motacontingencles. Relattons among Behavioral, Cultural, and Biotogical Evolution. Em P A Lamal (org ) Bohavioral Anatysis of Societies and Cultural Practices. New York: Hemispíiero PuWishing Corporation, pp. 39-73. camila paiffer Highlight 12 Mârdo Buck's Mirara. 'Ucfttfc Cor*» Matona. .-Jtko ClÓUiftO Todiyov Goldstein, M , & Pennypacker. H. (1998). Front Candidate to Crimina!: The Contingencies of Corruption In Elected Public Office. Behavior and Social Issues. 8, 1-8. Greenspoon. J. (1991). Behavior Analysis In Higher Education. Em P. Lamal (org.) Behavior Analysis o f Societies and Cultural Practices. New York: Hemisphere Publishing Corporation, pp. 141-164. Guerin B. (1992) Behavior Analysis and the Social Construction of Knowledge. American Psychologist. 47. 1423-1432 Hovell, M.F., Wahlgren. D.. & Russos, S. (1997). Preventive Medicine and Cultural Contingencies: A Natural Experiment Em P.Lamal (org.) Cultural Contingencies Behavior Analytic Perspectives on Cultural Practices. Westport Praeger Publishers/Greenwood Publishing, pp. 1-30. Kunkel. J (1991). Apathy and Irresponsibility In Social Systems. Em P. Lamal (org.) Behavior Analysis of Societies and Cultural Practices New York Hemisphere Publishing Corporation, pp. 219-240. Lamal. P. (1991) Three Metacontmgencies in the Pro-Perestroika Soviet Union. Behavior and Social Issues, 1. 75-90. Lamal. P., & Greenspoon, J. (1992) Congressional Metacontingencies. Behavior and Social Issues, 2. 71 -81 Martone, R (2003) Traçando Práticas Culturais: A Imprensa como agência o forrarnenta de controle social. Dissertação nào publicada apresentada ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental Análise do Comportamento, PUC-SP Mattaini, W.. & Magnabosco, J. (1997). Reworking Welfare: Untangling the Web. Em PLamal (org.) Cuilural Contingencies: Bohavior Analytic Perspectives on Cultural Practices. Westport: Praeger Publishers/Greenwood Publishing, pp 151-184. Rakos. R. (1989) Socialism. Behavioral Theory, and Egalitarian Society. Behavior Analysis and Social Action, 7. 23-29 Rakos, R. (1991) Perestroika. Glasnost. and International Cooperation: A Behavior Analysis. Behavior and Social Issues, 1, 91-100. Rakos. R. (1993). Propaganda as Stimulus Control: The Case of the Iraqi Invasion of Kuwait. Behavior and Social Issues. 3, 35-62. Skinner, B F. (1946). Walden Two New York Macmillan. Skinner, B. F. (1953/2000). Ciência e comportamento humano. Sâo Paulo: Martins Fontes. Skinner. B. F. (1955). Freedom and the control of men. American Scholar, 25, 47- 65. Skinner. B. F. (1961). The design of cultures Daedalus, 90. 534-546. Skinner, B F. (1968). The design of experimental communities. Em International encyclopedia of the socialscionces (vol 16. pp 271-275). New York: Macmillan Skinner, B. F. (1971). Beyond freedom and dignity. New York: Alfred A. Knopf Skinner, B. F. (1978). Reflections on behaviorism and society Englewood Cliffs. NJ: Prentice-Hall. Skinner, B.F (1987). Upon further reflection Englewood Cliffs, NJ. Prentice-Hall Skinner, B F (1991). Questões rocontos na análise comportamental Tradução de A. L. Neri. São Paulo: Papirus. (trabalho originalmente publicado em 1989) Metacontingências em Walden Dois1 Sigrid Glenn Li pela primeira vez a novela utópica Walden Dois, de B.F.Skinner, por voita de 1972 g estive a ponto de fazer minhas malas: seguramente alguem foz algo para que isso pudesse acontecer. Desde aquela época tenho ouvido sobre comunidades planejadas nos moldes da utopia de Skinner - especialmente Twin Oaks e Los Horcones. Entretanto, eu quero uma utopia com o re tra tada no liv ro - v inda d ire tam ente da escrita skinneriana. Talvez, assim como Estragon e Vladimir na peça de Samuel Becket. eu esteja esperando por um GorJot que trará a Terra Prometida até mim. Ao menos aguardo por um Frazler, o planejador fictício de Walden Dois, o qual saberá o que fazer e como fazer. Provavelmente,uma solução que nos leve a um mundo melhor deve embasar-se no planejamento de melhores contingências em nosso ambien te atual para que alcancemos esse objetivo. Além disso, devemos começar agora e a partir do ponto em que estamos. Ir a algum lugar qualquer a espera de um sábio planejador cultural, provavelmente, não tomará nosso inicio mais fácil. Nossa tarefa implica em encontrar um caminho através da selva que se encontra entre nós e a Terra Prometida, planejando e construindo os veícu los necessários, que nos levaráo até lá. Em suma, nós devemos criar uma tecnologia que envolva mais do que “aplicaralguns poucos princípios gorais” (Skinner. 1969, p.97). Com esse objetivo, tenho gastado algum tempo buscando compre ender as diferenças fundamentais entre Walden Dois e nossa própria cultu ra. Tentei para mim mesma clarificar algumas discriminações de Skinner e, quando necessário, utilizei inslghls de outros pensadores radicais perten centes ou não ao campo da análise do comportamento. Estou aqui para contar meu progresso - pelo menos acho ter sido um progresso - enquan to ou caminho através da selva. Contingência e Metacontingências Alguns anos atrás, ao tentar descrever alguns elementos que nos apro ximavam de Walden Dois no Center for Behavioral Sludies, trabalhei no senti do de distinguir entre dois tipos de contingências que pareciam estar em ope- 1 T iaduçd o d e Gfonn. S .S . (1 9 8 6 ) M olacontlrydncius I r W aldon Two. 8eh av lu ra l A ra lys i» ;»nd Social A c to n , 5. 2 -8 , puW kada c o t i a autorização do B^avx>rí;,ts for S o d af Rosponslbility. Este penôdico tm nslo im ou-sa r o Üehavior and Scx.iol Issues cujo cor*teí»do podit $<*• aces-satío em liCp .'''/Av'>v b fe .o rg . Tradução realizada por Ricar<ío C crrèa M ar.ono e Diogo Seoo C e rq u e Ryrw ira 14 S g r i d G lo tv i raçâo lá: 1) relações de conbngênda entre uma dasse de respostas e uma conseqüência comum - contingências de reforçamento - e 2) relações de contingência entre uma classe de operantes e uma conseqüência cultural co mum. A esse segundo tipo de relações de contingência dei o nome de metacontingêndas. Algum tompo depois oompreendi que eu estava traduzin do em eventos cotidianos, ou talvez esclarecendo para mim mesma, a diferen ciação entre a seleção do comportamento operante em indivíduos e a seleção de práticas culturais em sociedades feita por Skinner. Parece-me que a dife rença crucial entre o nosso mundo e Walden Dois está nas metaoontíngèncias. Antes de prosseguir, permitam-me esclarecer a diferença entre contingêndas e metacontingêndas. Um operante ê um grupo de respostas de topografias variadas que foram aglutinadas em uma classe funcional por terem produzido unia conse qüência comum A contingência de reforçamento é a unidade de análise que descreve as relações funcionais entre o comportamento operante e o ambi ente com o qual o organismo que se comporta interage. A contingência de reforçamento envolvo um processo de seleção no nível comportamental que mantém um paralelo com o processo filogenético chamado seleção natural, devendo sua existência a ele. Embora muitas das relações que surgem entre o comportamento operante e o ambiente se configuram como o resultado de uma história individual - a maioria das relações estabelecidas entre seres humanos e o ambiente assim se caracteriza - o processo õ diretamente mediado pela biologia do organismo. Bater á porta, chamar, girar a maçaneta e empurrar a porta, inserir a chave na fechadura e girá-la, entre outros, são exemplos freqüentemente citados de respostas que conduziram historicamente à porta aberta, cons tituindo assim uma classe operante. A conseqüência re fo rça d o r ê imedia ta e, como Michael (1984) apontou, temos que procurar por outras explica ções para o fortalecimento dos comportamentos que estão amplamente separados no tempo de suas conseqüências. A metacontingência é a unidade de análise que descreve a relação funcional entre uma classe de operantes, cada operante possuindo sua pró pria conseqüência imediata e única, e uma conseqüência a longo prazo co mum a todos os op o ra n te s que pe rtencem à m e ta co n tin g ê n c ia . Metacontingêndas devem ser mediadas por contingências de reforçamento socialmente organizadas. Tomemos como exemplo os vários comportamen tos envolvidos na conseqüênda a longo prazo ’ redução da poluição do ar*. Engenheiros devem se engajar em vários operantes necessários na elabora ção de catalisadores para escapamentos de automóveis: os trabalhadores da linha de montagem devem aprender a construi-los e encaixá-los correta mente; os consumidores precisam comprar esses automóveis assim como abastecê-los com gasolina sem chumbo; as refinarias devem desenvolver técnicas para retirar o chumbo da gasolina. A probabilidade de todos esses operantes ocorrerem sem contingências mediadas socialmente parece ser pequena. As contingências de mediação são planejadas e implementadas em virtude de sua relação com o efeito a longo prazo como. por exemplo, reduzir a poluição do ar. camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight M W K iy t t ln g f t r c t M ' r n T p c r t a T u i t t a c U tu ra • »co «> .1nOi* 15 O comportamento verbal ô uma ligação fundamental entre contingên cias e metacontingèncias, ao menos de dois modos. Primeiro, o comporta mento verbal em forma de regras preenche o vácuo existente entre o com portamento e a conseqüência a longo prazo. Isto é, o comportamento verbal possibilita que um ato único, a dedaração de uma regra, ocorra em resposta a eventos amplamente dispersos no tempo Como um estimulo discriminativo a regra deve então fazer parte da contingência de reforçamento que gera e mantém comportamento o qual não ocorreria na sua ausência. Por exemplo, a regra: "abraçar o meu filho quando ele se aproxima de mim com um sorriso resulta em mais sorrisos"è comportamento verbal sob controle de estimulos de eventos não relacionados temporalmente. Uma vez sondo bem formula da a regra pode ser usada para trazer outros comportamentos sob o controle de estímulos dessa relação. O segundo modo como o comportamento verbal participa das metacontingèncias é quando o reforçamento social fomeco as conseqüências que mantém o comportamento sob cont/ole das regras até o momento em que as conseqüências a longo prazo possam ser distinguidas. Todos aqueles que buscam ensinar clientes ou estudantes a reforçarem com portamento desejável de outras pessoas, sabom quo as mudanças almeja das no comportamento ocorrem tão vagarosamente, tão distribuídas ao lon go do tempo e tão cindidas do comportamento do agente de mudança para funcionar como reforçamento sem a mediação social'(a.gr.. gráficos de de sempenho, elogios etc.) Muitas das contingências de reforçamento em Waiden Dois são simi lares ás de nossas próprias vidas. Quando apertamos o botão do interru|X>r de luz, a luz se acende; quando dizemos ‘ bom dia”, as pessoas respondem com uma saudação. No entanto, quando nos referimos às metacontingèncias as coisas são bem diferentes. Assim, o comportamento verbal que interliga as duas é necessariamente diferente. Desde o instante em que o que dize mos sobre o mundo cria nossos conceitos a respeito da realidade, as metacontingèncias parecem ser o rabo que balança o cachorro^ Desde que Skinner apresentou Waiden Dois como uma utopia, pode- se perguntar se as metacontingèncias dispostas na comunidade utópica pos sivelm ente são mais prováveis de prom over sobrevivência do que as metacontingèncias dispostas em nossa própria cultura. Como toda ficção, V/akien Dois nos apresenta um retrato e deixa que abstraiamos as regras. Mas Skinner nos dá uma pista, a qual me levou à presente análise oas metacontingèncias em WaidenDois e suas relações com sou caráter utópico. Processos Culturais Tecnológico e Cerimonial Logo nas primeiras páginas de Waiden Dois. Skinner retere-se ao livro Teoria da Classe Ociosa, de Thorstein Veblen. Nesse livro Veblen distinguiu entre dois processos culturais opostos os quais acreditava operarem em nos sa sociedade assim como om outras - processo tecnológico e processo ceri monial. Embora Veblen deva ter considerado essas forças imutáveis, como •' N .T : A autora utÜtea o ditado apare*’ tem erve aludindo ao fato do aer Indlscarnlvol so o nx jrd o c íií i nossa percepção d e realidade ou o contráno. camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight 16 SISJIC G(«'in Yin e Yang, bem e mal, ou como a força da vida e a força da morte, Walden Dois parece representar a hipótese de Skinner de que essas forças na verda de não são imutáveis, mas sim, emergentes do comportamento humano - muitas das quais são funções de contingências de reforçamento, portanto mutáveis. A diferença entre Walden Dois e nossa própria cultura está no fato de Walden Dois ter eliminado os processos culturais cerimoniais e dispor de metacontingéndas que sustentam procossos tecnológicos. Em um trabalho anterior (Gtenn, 1985) analisei as contingências comportamentais subjacentes a esses processos. Um resumo dessa análise auxiliará na comproensão das metacontingéndas dispostas em Walden Dois. Contingências tecnológicas envolvem comportamentos que são manti dos por mudanças não arbitrárias no ambiente. Os reforços que participam das contingências tecnológicas derivam seu poder de sua utilidade, de seu valor, ou de sua importânda às pessoas que estão envolvidas nesses tipos de contingências, assim oomo de outras. Por outro lado, contingências cerimoni ais envolvem comportamentos mantidos por reforços sodais os quais derivam seu poder do status, da posição ou da autoridade do agente reforçador inde pendentemente de qualquer relação com as mudanças ambientais que, direta ou indiretamente, beneficiam as pessoas que se comportam. O controle cerimonial pode ser exemplificado pola expressão: 'Faça porque estou dizendo para fazê-lo" Já o controle tecnológico pode ser exemplificado, primeiro, pelo comportamento que partidpa das contingên cias naturais de reforçamento (alavancas e roldanas são utilizadas, pois permitem construir mais rapidamente) e. segundo, por contingências soci ais planejadas que medeiam as relações entre comportamento e os efeitos resultantes em motacontingencias tecnológicas (T a ça isso, pois o resulta do será melhores condições de saneamento, por conseqüência, melhores condições de saúde"). As metacontingéndas envolvidas em comportamento tecnológico aglutinam um grande número de dasses operantes (ou um grande número de indivíduos), as quais apresentam uma conseqüência a longo prazo que be n e fic ia todos os in d iv íd uo s e nvo lv idos na m e tacon tingênc ia . Metacontingéndas tecnológicas requerem a abstração de boas regras, ou seja, regras que descrevam com acurácia as relações funcionais entre o comportamento e conseqüências não arbitrárias imediatas ou conseqüênci as a longo prazo Essas metacontingéndas envolvem também a mediação do comportamento verbal do especificar regras, as conseqüências dispostas para o seguimento das rogras e o continuo monitoramento dos resultados de soguir regras. Motacontingônciao tocnológicas solicitam que façdilius uuns- tantemente a seguinte pergunta: as conseqüências ainda são aquelas inid- almente previstas? A regra ainda é boa? Metacontingências conflitantes De acordo com Clarence Ayres (1944-1962). discípulo de Veblen, pro cessos tecnológicos impulsionam os culturas adiante - utilizando nosso pró pria terminologia, processos tecnológicos aumentam o alcance e a efetividade do comportamento operante nas mudanças ambientais, aumentando a so camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight M e l n c o r t r v j « i c i * v c O T j w r t à m j i l o . c u l t u - a o » o p o d a t f o 17 brevivência e a satisfação do grupo e do indivíduo. Contingências cerimoni ais impedem a evolução do comportamento operante, em especial, daqueles operantes definidos oomo "práticas culturais". Os processos cerimoniais for çam as práticas culturais para dentro de esquemas rigidamente definidos, mantendo-os assim por intermédio de controle social derivado de status, posição ou autoridade. À medida que práticas casuais resuttam om conseqü ências a longo prazo benéficas aos membros da cultura, o controle cerimoni al não deve ser terrivelmente prejudicial. Mas o controle cerimonial não ò sensível às possibilidades de mudanças construtivas. Metacontingéncias ce rimoniais retardam e Impedem mudanças de qualquer tipo. mesmo quando as contingências atuais produzem sérios problemas. Ayres sugeriu que a rápida evolução cultural ocorre em culturas no m om ento em que os processos cerim onia is desfalecem e processos tecnológicos pressionam de forma incontrolável. produzindo massivas mu danças em curtos espaços de tempo. Tais mudanças, claro, possibilitam a oportunidade para o surgimento de novo controle cerimonial, pois um novo grupo poderoso passa a ter o controle através da autoridade e do status ganhos em decorrência do seu papel no desenvolvimento de tecnologias avançadas. Os vários grupos cujo comportamento tecnológico produziu as mudanças revolucionárias, agora, adquiriram status e tendem a estacionar a evolução cultural e manter o controle pela autoridade Controle cerimonial mantém-se por si só, controle tecnológico assegura mudança Como apontado por Skinner em Ciência e Comportamento Humano (1953), o desenvolvimento tecnológico ocorreu rapidamente em domínios sobre os quais se empregou o método científico. A discrepância entre o pro gresso tecnológico nas ciências física e biológica e o progresso tecnológico das ciências comportamental e social levou a um perigoso desequilíbrio em nosso poder de lidar efetivamente com o ambiente fisico e com o comporta mento de grupos e indivíduos na cultura. Já que nós não estamos propensos a virar as costas às tecnologias que melhoraram a vida dos seres humanos de forma significativa, Skinner sugeriu que nos movimentemos adiante para desenvolvermos as tecnologias comportamentais necessárias para reparar esse desequilíbrio Em Além da Liberdade e Dignidade (1971) Skinner sugeriu que a nossa falha continua em corrigir o desequilíbrio do progresso tecnológico nas duas arenas é o resultado de nossa tenacidade om apegar-nos a uma visão da realidade produzida por progressos tecnológicos antigos. Essa visào esta sendo mantida por controle cehmonial e continua a impedir o desenvolvimento de tecnologias comportamentais necessárias para a so brevivência de nossa cultura Um recente exemplo de um impedimento cerimonial a um progresso tecnológico em práticas culturais, pode ser encontrado na recusa generali zada em im plem entar ou incentivar o desenvolvim ento da poderosa tecnologia educacional denominada Instrução Direta. Como podemos nos responsabilizar pela profunda indiferença de nosso sistema educacional e pelo financiamento a uma tecnologia que demonstrou ser capaz de produ- 18 S ig rid G iw v i zir competência em habilidades académicas básicas om populações previ amente condenadas ao fracasso? A decisão irracional do promover proje tos que falham em produzir tais resultados e negar verbas para aqueles que apresentam sucesso (Carnine, 1984) sugere que a efetividade e o re sultado não foram os critérios a partir dos quais a decisão foi tomada. Ao considerarmos a necessidade critica presente em nossa cultura, de uma população capacitada para participar das atividades técnicas e socialmen te complexas atualmente exigidas, rião seriam necessárias muitas deci sões para assegurar nossaprópria extinção cultural. Por outro lado, Waiden Dois é apresentada por Skinner (1985) como tendo realizado uma comple ta reversão em suas práticas educacionais entre 1948 e 1984. Processos Tecnológico e Cerimonial em Waiden Dois Drásticas transformações nas práticas educacionais de Waiden Dois foram completamente previsíveis dadas as metacontingènrias sob as quais a comunidade é retratada om seu funcionamento. As metacontingéncias fo ram especificamente planejadas a permitir tais mudanças. Waiden Dois é uma comunidade experimental Isso não quer dizer que a comunidade é um experimento, mas sim que a comunidade experimenta. Em Waiden Dois o valor de qualquer comportamento é explicitamente julgado em termos de suaS conseqüências práticas para os seus membros. Essas conseqüências beneficiam diretamente a comunidade e a todos os seus componentes? Waiden Dois foi planejada de modo que as conseqüências benéficas tenham precedência no desenvolvimento de suas práticas culturais. Quais características de planejamento foram incorporadas por Frazier para asse gurar tais resultados? Eu acredito existirem ao menos duas características que se relacionam uma à outra. A primeira é a abolição de instituições mantidas por controle cerimonial; a segunda é a relação clara entre as contingências e as metacontingéncias em Waiden Dois. Ausência de Controle Cerimonial Vamos examinar, primeiramente, as evidências da abolição do con trole cerimonial em Waiden Dois e seus efeitos sobre as práticas culturais. Três instituições que têm exercido controle cerimonial em virtualmente to das as culturas são a familia, a igreja e o estado. Desde que o controle cerimonial deriva seu poder da autoridade ou status independente de con siderações pragmáticas (resultados), processos cerimoniais freqüentemente contam maciçamente com controle aversivo. Entre as três instituições, a familia é a que provavelmente mais combine contingências cerimoniais e tecnológicas diretamente reforçadas. A família, tradicionalmente, tem apre sentado duas funções - fornecer segurança económica e interpessoal a seus membros e também treiná-los a aceitar o poder cerimonial arbitrário da autoridade. camila paiffer Highlight M w la c o i* fiu é ncia * . c o it f > c f U iT « ii io . o iN is a a c o s w d iis o 19 Em WêkJen Dois, a familia como uma unidade funcional não existe. Suas características desejáveis, prover segurança interpessoal e econômica, foram assumidas pela comunidade como um todo: seu poder cerimonial desa pareceu uma vez que o grupo familiar não obtém o controle de quaisquer reforçadores que não possam ser obtidos pelos membros individuais indepen dentemente. Todos os reforçadores em Walden Dois estão disponíveis a todos os membros durante todo o tempo, contingentes somente aos comportamen tos requeridos para produzi-los. O critério fundamental para a abolição do con trole cerimonial é a igualdade econômica. Com a ausência de controle cerimo nial cada membro da comunidade está livre para desenvolver o que pode ser chamado de "relações interpessoais honestas". Reforçadores interpessoais são completamente ooritingentes a comportamento interpessoal. Em W alden D ois os ind iv íduos são m ais independentes e interdependentes que em nossa própria cultura. Os recursos (condições que fazem o com portam ento possível) e os reforçadores (conseqüências oomportarTientais) não são contingentes à obediência cerimonial. No entanto, para manter suas autonomias sociais relativas, os membros devem compor- tar-so do manoira que beneficie o grupo. Isso não se torna tão oneroso, pois qualquer benefício ao grupo automaticamente beneficia o indivíduo. Se reforçadores sociais medeiam comportamento tecnológico, sua importância é igual ao resultado tecnológico. A não ser que reforçadores sociais plar.ejados façam a mediação entre contingências tecnológicas e metacontingéncias. os reforçadores interpessoais participam somente om contingências interpessoais. Há tempos a importância de tais relações vem sendo reconhecida. Parafraseando a descrição de Pascal (1961) sobre a tirania - quando a beleza demanda crença, força demanda arnor e aprendizagem demanda medo: "Nós devemos diferentes obediências a diferentes qualidades; am or é a resposta adequada ao charme, medo ò força e crença à aprendiza gem". Marx (1963) colocou isso de maneira um pouco mais áspera "então, am or só pode ser trocado po r amor, confíança p o r confiança... se você oe- seja influenciar as pessoas, você deve ser uma pessoa que tenha um efe 'to estimulante e encorajador sobre os outros.. Se você ama sem incitar amor de volta, se você nào é capaz em fazer de você mesma uma pessoa ama da. então, seu arnor é impotente” *, Skinner afirma isso de modo mais útil á ação do que todos: “Em um mundo de igualdade econômica total, você obtém e mantém as afeições que você merece. Vocè não pode comprar am or com presentes ou favores, você não pode manter am or criando uma criança inadequada e você não pode te r segurança no am or servindo como uma boa empregada ou um bom p rovedo r'{ 1948, p 147). Quanto á autoridade religiosa, ela não é necessária em Walden Dois, pois a relação entre contingências e metacontingéncias é claramente especificada. Tradicionalmente, o papel da autoridade religiosa tem sido o de manter contingências que promovam a sobrevivência do grupo Isso tem sido feito estabelecendo regras que são usualmente abstraídas de con- ' As cllaçôes a Pascal e Marx foram sugeridas a mim por Willinm A Luker, Professor d* Eooromia camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight 20 SlarkJ G le n o tingéncias atuais (isto é. boas regras) mantendo-as por intermédio de con trole cerimonial, mesmo que elas se tornem mal cspeciticadas como o re sultado de contingências em mudança. Um protótipo desse caso pode ser encontrado no Êxodo Moisés conduziu seu povo para fora do Egito onde viviam em circunstancias relativamente suntuosas, mas sob controlo ceri monial de seus senhores egípcios. Os frutos do comportamento tecnológico do povo de Moisés pertencem aos egípcios, beneficiando-o somente se seguir ás solicitações cerimoniais. Todavia, dentro de um ambiente relati vamente caótico. Moisés tem de conseguir levar seu povo suficientemente longe dos reforçadores do Egito antes que ele possa ter a chance de oferecê- los a escolha de prosseguir ate a Terra Prometida. Nesse momento o povo de Moisés entra em um pacto que o amarra conjuntamente na busca por um objetivo comum. O interessante desse pacto é que ele não é travado um com o outro, mas sim com Deus. Para que o povo sobreviva como uma cultura algumas diretrizes foram necessárias para proteger a integridade do grupo. Conse qüentemente. Moisés desceu da montanha com os Dez Mandamentos que parecem ter sido derivados de uma notável e astuta análise do comporta mento necessária para manter a integridade do grupo, dada a natureza vigente de seu ambiente social e tecnológico. Muito possivelmente Moisés não estava em uma posição de explicar a base racional dos Dez Manda mentos. assim como seu valor em manter a união do grupo. Assim, os Dez Mandamentos adquiriram controle cerimonial Imediato quando apresenta dos como a contrapartida de Deus para conduzir seu povo à Terra Prome tida O primeiro mandamento estabeleceu a autoridade final de Deus e se lou o controle cerimonial. Moisés tomou-se um agente de Deus. Como esperado, logo que Moisés fez sua parte ao levar o povo até a visão da Terra Prometida, ele morreu, talvez porque tal controle centrali zado era perigoso uma vez que o objetivo já havia sido alcançado. Em seu livro Êxodo e Revolução. Michael Walzer sugere que o Êxodo é o protótipo das revoluções sociais na civilização ocidental, e que embora a Terra Pro metida nunca vivesso completamentea altura da propaganda feita, a histó ria nos tem servido bem para conduzir o progresso social. Talvez, nós sere mos capazes de conseguir uma maior aproximação com a Terra Prometida dispensando o controle cerimonial da autoridade religiosa e olhando com maior cuidado para as contingências implícitas ás regras que seguram no lugar nossas práticas sociais. De qualquer maneira, foi assim que Frazier planejou Walden Dois. A versão dos Dez Mandamentos em Walden Dois é o Código Walden. Embora Skinner não tenha sido muito especifico quanto ao conteúdo do Código, pode-se conjecturar seu conteúdo a partir do planejamento e do funcionamento da comunidade. Minha hipótese sobre o conteúdo do Código não será abordada nesse texto; o ponto importante a ser salientado é que o Código constitui-se em uma série de diretrizes que especificam as classes de operantes necessárias à sobrevivência da cultura. Para que o Código tenha um efeito que não envolva controle cerimonial, o comportamento es pec ificado deve p roduz ir conseqüências que sejam corren tem ente reforçadoras para a comunidade assim como aumentem sua sobrevivência MetacGnfli»£f>cl32: c â m p fó n n rrilo , c m um <? sociA jcde 21 a longo prazo. Desse modo, o Código seria possivelmente uma série de [Vós] Deveis ao Invós do [Vós] Não deveis. Se o comportamento especificado no Código ó para ser mantido por reforçadores sociais que derivam sua força dos efeitos a longo prazo do comportamento sobre a comunidade, o valor dos itens no Código devem ser avaliados em termos de sua utilidade. Presumivelmente, o Código se transformará gradualmente à medida que a cultura Wafden evolua. Assim, as metacontingências que mantém o compor tam ento de acordo com o C ódigo estão em basadas em processos tecnológicos. A autoridade cerimonial da religião é substituída pelo pragmá tico. Desde que o que nós chamamos de aspectos espirituais da religião possam ser conceptualizados como fenômeno comportamental (Shimoff, 1984), eles náo oferecem nenhum problema em Watden Dois, Também o Estado é dispensado em Watden Dois. Isso é possível por que todos os membros da comunidade são diretamente responsáveis uns pelos outros, a comunidade é pequena o bastante para proporcionar a cada membro o contato direto com todos os outros. Como Marx enxergou há mais de um século, também é preciso haver igualdade económica. Walden Dois ê capaz de funcionar sem o Estado somente porque suas metacontingências reque rem que os resultados beneficiem a todos os membros. A funçáo primária do Estado é impingir metacontingências cerimoniais e regular a competição por recursos. O Estado totalitário nâo oferece contracontrole adequado ao que é regulado, resultando invariavelmente em extremos de controle aversivo e ceri monial por parte do governante. Também, utiliza-se facilmente o Estado demo- crático sem igualdade econômica para manter o controle cerimonial sobre os recursos. Mesmo desfrutando de igualdade econômica, os Estados democrá ticos dependem da opinião pública que pode não ostar bem informada - com portamento verbal sob controle de variáveis irrelevantes ou mesmo prejudicial á sobrevivência da cultura. Como Walden Dois pode funcionar sem o Estado será discutido na próxima sessão. A ausência de controle institucional cerimonialmente mantido em Wafden Dois ê provavelmente a característica que assusta muitos leitores que persistem em enxergar o espectro do controle autoritário quando, de fato. não há evidência de tal controle. Visto que a maioria dos leitores terá experenciado controle cerimonial por pade da família, da igreja e do esta do. e!es parecem ter dificuldades em imaginar uma comunidade onde o controle cerimonial esteja ausente. Eles devem assumir que isso é tão oia- bolicamente obscuro o ponto de não ser visível especialmente como o Complexo de Édipo. sobre o qual dizem que Anna Freud não encontrou evidências, concluindo através disso, que a possibilidade de náo haver con trole cerimonial deve ter tamanha força para ser tão bem reprimido. Contingências e Metacontingências em Walden Dois O comportamento operante dos membros de qualquer cultura deve ser classificado em termos dos tipos de conseqüências que o comportamen to tem para os indivíduos que se comportam e para a cultura. Historicamen te, nós temos distinguido, com algum grau de intuição, entre: trabalhar, ativi dades de diversão e comportamento interpessoal. Trabalhar pode ser espe camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight 22 S ig n e G rtr in cificado como um comportamento que é essencial para a sobrovivônda da cultura, e por essa razão, participa de metacontingências tecnológicas. Nós distinguimos entre trabalho e ocupação1’ pelas discrepâncias nos efeitos tecnológicos de cada uma. Ocupar-se não leva a nada e é cerimonialmente mantido. Atividades de diversão envolvem tipos de comportamentos que pro duzem reforçadores não arbitrários, não apresentando uma influência direta sobre a sobrevivência da cultura. Entretanto, a oportunidade de engajar-se em comportamentos que produzam esses reforçadores é uma importante característica de uma cultura com valor de sobrevivência. Comportamento interpessoal, stríctu sensus, é aquele comportamento voltado a outras pes soas que ê mantido pelas respostas dessas outras pessoas. Em Walden Dois as metacontingências são planejadas de maneira que os reforços a esses comportamentos não sejam confundidos ou mes mo igualados. Reforçadores interpessoais não compram nada, oxceto o comportamento interpessoal de outras pessoas. As relações interpessoais em uma comunidade sem controle cerimonial, possivelmente, seriam exa tamente parecidas com a forma como Skinner as retratou - simples, since ras e inteiramente honestas. Não há razão para que sejam de outra forma. Trabalhar não produz reforçadores interpessoais diretamente, nem oportu nidades diferenciadas de engajar-se em diversão e os reforçadores que as acompanham. O trabalho que envolve comportamento cooperativo ou interativo deve ser intrinsecamente interessante para algumas pessoas, entretanto, esse trabalho como qualquer outro é mantido pelas suas conse qüências tecnológicas. Atividades de diversão não resultam em quaisquer outros reforçadores que não sejam aqueles derivados das conseqüências do engajar-se em diversão por si só, incluindo oportunidades de interagir com outras pessoas. Como Walden Dois toi planejada de forma a assegu rar que a tirania, como descrita por Pascal, não atrapalhe? Primeiro, vamos olhar para o trabalho em Walden Dois. Somente as atividades essenciais à sobrevivência da comunidade sáo designadas como “trabalho", e por isso. administradas pelo sistema de Crédito de Trabalho. Exis tem três tipos de trabalho em Walden Dois - trabalho manual, organização e administração, o legislar e avaliar. Trabalho manual e administração são tipos de trabalho que produzem conseqüências daramente relacionadas ao com portamento operante. Remove-se o legislar para o mais distante possivel de suas conseqüências, talvez uma razão seja porque legislar não deva receber todos os créditos de trabalho referentes a essa atividade. Os planejadores devem ganhar um crédito de trabalho por dia para fazer o trabalho manual. Uma razão muito importante para o engajamento dos planejadores em algum trabalho deve ser porque isso os coloca em contato com as mesmas contin gências experimentadas pelos outros membros da comunidade. Ademais, essa estratégia evita que os planejadores façam parte de uma "classe" diferenciada, o que possivelmente instigaria controle cerimonial. O trabalho de organizar e administrar, que também leva a privilégios cerimoniais em nossa própria cultura, não produz privilégios parecidos em Walden Dois. Um gigantesco segmento da população aspira a tal 'posição"MelK»rrW;jôrc3»s: oomaortíitnnivKj, c u llu '* e uiciccaOo 23 pelo fato de tais comportamentos em nossa própria cultura freqüentemente assegurarem uma melhor posição econômica, assim como controle ceri monial Freqüentemente, essas posições são agarradas por pessoas oue as obtiveram por caminhos cerimoniais e não aprosentam os repertór os comportamentais de Interesse para executar as responsabilidades do tra balho de forma adequada. Em Walden Dois, não há nenhuma vantagem, mas ató algumas desvantagens (longas horas de trabalho), ás pessoas que se engajam em tal trabalho. As contingências quase asseguram que as pessoas que tomarem parte em organizar e administrar a comunidade, assim o farão porque o trabalho é agradável a elas. e porque os resultacos de suas atividades beneficiam o grupo e a elas próprias O trabalho manual é distribuído entre os membros da oomunidade de modo que ninguém necessite trabalhar mais do que quatro horas por dia. e aqueles que fazem um trabalho menos desejável o faz somente por duas horas e meia ao dia. Toma-se cuidado para que o trabalho náo seja separa do de suas conseqüências naturais; as pessoas têm muitas oportunidades para mudar de atividade quando desejarem, todo trabalho em Watden Dois obtém o mesmo respeito. Tal respeito existe pelo fato de todos os membros terem acesso igual a todos os recursos, e não obterem nenhum crédito pes soal para atividades bem feitas. Ao arranjar as contingências do ambiente de trabalho como descrito acima, Frazier montou as seguintes metacontingências. Primeira, para qual quer um em Walden Dois ê vantajoso conservar os recursos, porque o nível de vida. demonstrado pela pouca quantidade de tempo gasto no trabalho, está diretamente relacionado à reduçào da quantidade do trabalho neces sária para garantir a sobrevivência em um ambiente confortável, se não luxuoso. As metacontingências dispostas em nossa cultura são completa mente distintas, pois os indivíduos competem pela disponibilidade de re cursos. fazem um uso maior dos recursos para competir efetivamente por intermédio da produção, reduzindo, em decorrência disso, sua quantidade disponível (ou o aumento do custo para utilizá-los) em nome de uma efetiva competição. Segunda, dão-se créditos somente para atividades importan tes ã sobrevivência do grupo e para seu bem estar físico, entrando todas elas no sistema de Crédito de Trabalho. Define-se o valor do crédito do uma determinada atividade pela sua preferência - o trabalho de maior pre ferência recebe menos cróditos. Isso é eminentemente racional, pois o tra balho que é mais valorizado em detrimento de outro tem um valor reforçador excessivamente maior. Em Walden Dois, o valor comum é explicitamente a sobrevivência e o bem estar do grupo. O trabalho menos reforçador possui valor somente em decorrência de sua contribuição á comunidade - possibi litando ao trabalhador uma quantidade de tempo máxima para se engajar em outras atividades intrinsecamente mais reforçadoras. Vamos agora às atividades caracterizadas como divertimento em Walden Dois. Tradicionalmente, imaginamos as atividades de diversão como: arte em todas as suas formas, jogos e recreação, e ciência, ao menos en quanto pesquisa básica. Embora essas atividades sejam diferentes, asse melham-se em dois aspectos cruciais: são atividades em que as pessoas se camila paiffer Highlight 24 Signd G i«m engajam pelo o que elas mesmas têm a oferecer; e não são essenciais para a sobrevivência ootídiana. Períodos da história conhecidos por essas ativida des são conhecidos como Idades Douradas. Presumivelmente são denomi nadas assim pelo fato de terem produzido muitos artefatos que viriam a ter um grande valor reforçador em épocas posteriores - literatura, história, arte. música e sistemas conceituais que ordenam e fornecem um sentido ao uni verso. Tais conseqüências exigem que muitas pessoas tenham o ócio neces sário para poderem se dedicar a esta peculiar busca humana. Ao longo da história humana, pouquíssimas pessoas obtiveram tem po livre suficiente para essas atividades. Muitos daqueles quo as buscaram assim o fizeram às custas de privações cruéis. Atualmente, pouquíssimos indivíduos estão aptos a comprar a oportunidade de se dedicarem a tais comportamentos negociando seus produtos nos mais elevados preços. As metacontingências em Walden Dois estabelecem a oportunidade para que todos seus membros possam se empenhar em tais comportamentos. Os produtos desses comportamentos sáo disponíveis a todos os membros da comunidade. Frazíer (quem. enquanto protagonista, freqüentemente dá voz aos pensamentos de Skinner) prediz uma Idade Dourada em Walden Dois sem paralelo. As pessoas não estarão exaustas em decorrência do trabalho; estarão livres para desenvolverem seus próprios interesses; tempo e recur sos materiais estarão disponíveis; todos viverão desde o nascimento entre pessoas interessadas em tais atividades; e a ausência de contingências com petitivas deveria indlnar os membros a encorajar e apoiar o empenho de todos. As metacontingências em Waiden Dois são planejadas para fornecer amplas oportunidades e apoiar todos os membros a explorarem arte. literatu ra, música etc. O comportamento que atualmente evolui será modelado e mantido pelas conseqüências intrínsecas. Talvez o efeito mais radical notado pela ausência de controle ceri monial em Walden Dois seja provavelmente na esfera interpessoal. O uso de reforçadores interpessoais que comandam o controle cerimonial prova velmente tem levado a muitos dos problemas que importunam a humanida de ao longo da história. A concentração de controle cerimonial nas mãos de uma minoria em uma cultura deve ter exigido que as mais fracos inclu am controle interpessoal em contingências que não têm relação direta com comportamento interpessoal. Esse padrão parece ter sido sistematicamen te desempenhado nas relações entre homens e mulheres nas culturas oci dentais. Os homens têm assegurado controle cerimonial sobre a maioria dos recursos naturais e culturais mesmo se produzidos pelo comportamen to tecnológico das mulheres. As mulheres têm, talvez em conseqüência ou talvez antecipadamente, ganho acesso aos reforçadores tecnológicos fa zendo com que reforçadores pessoais sejam contingentes ao acesso. Ho mens com menos contro le cerim onial tam bém têm utilizado controlo interpessoal para obter acosso aos reforçadores não disponíveis através de comportamento mais relevante. O desequilíbrio parece ter levado a uma profunda desconfiança entre os indivíduos, especialmente entre os que possuem poder cerimonial, mas camila paiffer Highlight MtfacomtnjAqclaK cjytiparliynerilo, cuKure » uix:<Kt(Klu 25 não apresenlarn reforçadores interpessoais: e os que possuem poder interpessoal, mas não têm acesso aos reforçadores cerimoniais (status. po sição etc.). Metacontingéncias culturais que sustentam controle cerimonial garantem uma guerra fria permanente entre as partes. Talvez pior ainda, até mesmo a possibilidade de tal troca não reciproca de reforçadores podo ter retraído afeto genuíno onde era possível e comportamento tecnológico ge nuíno onde ele poderia ter feito a diferença. Sansão e Dalila sáo bons mode los. Na medida em que alguns acoitam perder seus poderes ao serem sedu zidos por reforçadores interpessoais e alguns têm aperias reforçadores interpessoais para ter acesso a recursos controlados cerimonialmente, pes soas com controle cerimonial nunca estarão confiantes de que são amadas ‘ pelo que sáo" e aqueles a quem foi cerimonialmente negado acesso a re cursos tecnológicos nunca saberão se eles tinham realmente “algo a ofere cer* além deles mesmos (ou, mais apropriadamente, seu comportamento interpessoal). Governo em Walden Dois Talvez, a característica mais difícil de entendermos em Walden Dois é seu governo.Provavelmente, a dificuldade está no fato do governo quase sempre se caracterizar como um agente de controle cerimonial. Em Walden DoiSr o governo não se caracteriza assim. Nele, as pessoas que realizam o trabalho chamado de 'governar' em Walden Dois estão trabalhando pela mesma conseqüência a longo prazo como quaisquer outras. O trabalho de todos faz parte das mesmas metacontingéncias. Além do mais. as ativida des aglutinadas no 'governar" sáo tão severamente reduzidas assim como as conseqüências que rnantém essas atividades. O governo historicamente tem se caracterizado por algumas funções, que incluem: estabelecer políticas e fazer leis, forçar a obediência às mes mas. proteger a comunidade de grupos externos ou renegar membros dentro da comunidade, ooletar taxas e gastar o dinheiro. O governo om Walden Dois não tem nenhuma dessas incumbências, com exceção da primeira - estabelecer políticas e regras. As outras funções do governo têm sido distri buídas entro os outros trabalhadores em Walden Dois, muitas delas de ma neira igualitária por toda a comunidade. Parece haver pouquíssima necessi dade de leis em Walden Dois porque existe pouquíssima necessidade de se regular as relações entre indivíduos ou grupos. Walden Dois funciona como um organismo, cada componente em conjunção com os outros, todos por um e um por todos. Não se oxige motivação altruística uma vez que as metacontingéncias garantem que o que é bom para um é bom para todos. De maneira geral, o papel do governo tem sido o de garantir a con centração de controle cerimonial a um pequeno número de pessoas, inclu indo os que participam do governo. Em oposição ao desequilíbrio, a ten dência tem sido geralmente distribuir esse controlo entre um maior número de pessoas. Em nonhum outro lugar pode-se observar mais claramente o camila paiffer Highlight 26 Cterri resultado dessa tendência do que no comportamento de burocratas meno res. Não importa se as circunstâncias de uma determinada situação se igualem ás contingências que fundamentam uma regra. A regra controlará seu comportamento porque o burocrata garantirá que ela assim o faz - frequentemente pelo puro prazer de estar no comando. Aqui não há nenhu ma conseqüènda do trabalho de uma pessoa além da manipulação e con trole do comportamento de outras pessoas - para seu próprio bem. O foco nesse processo tem sido sempre em pessoas e suas posi ções em consideração um com os outros. Na tentativa de reparar o desequilíbrio, os seres humanos primeiramente enxergariam no problema uma oportunidade para dispensar o líder ruim e trocá-lo por um bom. Entre tanto, encontrar outro líder melhor não era assim tão fácil. Primeiro, contin gências casuais teriam que produzir, em algum lugar, um Indivíduo que tivesse o repertório comportamental que o caracterizasse como um "bom líder". Segundo, esse indivíduo teria de sor cerimonialmente acessível - isto é, ter nascido dos pais corretos etc. Terceiro, o indivíduo teria que ser reconhecido como possuidor do negócio certo; e quarto; para instalar o indivíduo como um lider, a competição teria que ser aplacada ou arrasada. A tendência, decorridas algumas centenas de anos, de distribuir poder cerimonial entre muitas pessoas, mesmo através de diferentes ramifica ções governamentais, tem sido bastante efetiva em estabelecer algum contracontrole praticável entre indivíduos e grupos. Mas o processo embasa- se em uma discriminação fundamental a qual tem demonstrado ser inade quada na solução do problema A discriminação tem sido entre governantes ruins e governantes bons, e entre pessoas ruins e pessoas boas. As mu danças baseadas nessa discrim inação têm envolvido uma procura por modos de garantir que as pessoas ruins não possam conseguir ou susten tar controle cerimonial. Se o foco fosse comportamentos desejáveis e indesejáveis seriamos levados a contingências desejáveis e indesejáveis. O que a cultura oddental tem se ocupado em distribuir é controle cerimonial. Quanto maior o número de pessoas que apresentarem um pouco de controle cerimonial, melhor será o equilíbrio de poder, e melhor será a estabilidade da cultura. Existem dois problemas com isso. O primeiro é político. Para que o controle cerimonial tenha algum valor, deve haver acesso direto desproporcional a reforçadores e a oportunidades de comportar-se de modo a gerar reforçadores tecnológicos. Assim , deve haver alguóm com desproporc iona l fa lta de acesso. A redistribuição do poder cerimonial tem sido forçada sobre a minoria que de tém esse poder pela maiooa que tem força quantitativa. Mas na medida em que a distribuição atinja o meio do caminho, será a minoria que estará caren te. deixando-a sem poderes políticos om número para contrabalanoear o controle cerimonial dos recursos. O acesso a armas poderosas, entretanto, não pode ser evitado indefinidamente. Assim, a esperança que poderíamos ter de que o poder cerimonial ficaria tão igualitariamente distribuído que se anularia ó provavelmente infundada. O segundo problema é mais prático. Ao darmos ênfase á distribui ção do poder cerimonial, negligenciamos a origem de todo poder real para M o ta to n li> ]A n r.i8 h r x > T p o r la r m í o , a i f t r a *» soseJ<*do 27 mudança positiva: o comportamento oporante que produz conseqüências não arbitrárias. Assim, nossa tendência em focar as diferenças entre pes soas boas e pessoas ruins, faz com que negligenciemos as possíbilidacos inerentes em discriminar comportamento útil de inútil. Em Walden Dois, as metacontingéncias sustentam comportamento útil para a comunidade e todo membro que participa dela. O papel do governo é simplesmente assegurar que essas metacontingéncias sejam mantidas. Esse governo deve assim fazer sem beneficiar poder cerimonial. A s pessoas que compõem o governo em Walden Dois são chama das de Planejadores. Existem somente poucos deles e seu trabalho é man tido somente por contingências tecnológicas, assim como o trabalho de qualquer outra pessoa. Reforçadores cerimoriialmente derivados não es tão disponíveis aos Planejadores. O trabalho deles não é considerado um privilégio, merecedor de reconhecimento especial, ou mais valorizado do que qualquer outro. Eles conseguem exatamente as mesmas coisas de seu trabalho como qualquer outia pessoa consegue - satisfação em reali zar o trabalho por si só e os resultados do trabalho para a comunidade, incluindo para eles próprios. O governo em Walden Dois, como qualquer outra atividade, é visto como comportamento operante. Ê julgado petas suas conseqüências - Ime diata ou a longo prazo. O foco total da comunidade sobre as conseqüências do comportamento para a própria comunidade é o que toma o controlo ceri monial dispensável. As metaoontingências igualitárias só são possíveis devi do à ausência de controle cerimonial. À medida que Walden Dois permanece uma comunidade experimental, ela se gerenciará sozinha Do Egito à Terra Prometida5 Para aqueles de nós que enxergam Walden Dois como a Terra P ro metida e onde encontramos o Egito, ó importante lembrar que um território vasto e ormo situa-se entre ambos. A tendência em sair e começar do zero. em um novo lugar, onde possamos começar uma nova sociedade nunca terá êxito porque levamos nosso velho comportamento conosco, e ele for nece as contingências para o comportamento dos outros em nosso novo ambiente. Então, nós poderíamos da mesma forma começar bem aqui, no Egito, e lidar com a menor área possível, aquela com a qual temos contato direto e contínuo - nosso ambiente doméstico, nosso ambiente de trabalho e nossas atividades de lazer. Para nos ajudar a caminhar através desse território eu sugiro que, primeiro, olhemos atentamente para o nosso próprio comportamento. Pode mos separar os reforçadores tecnológicos dos reforçadores cerimoniais vi randoas costas a esses últimos? O que podemos fazer para fornecer um ambiente de trabalho para outras pessoas que as coloque em contato com reforçadores tecnológicos e diminua o efeito do contingências cerimoniais? Agi nüoçoao professor Lukor por rtroduzw-m a a o Iwfo W atzer e por sugw ir qi*o vivam os r o E tflo . camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight 28 _ ü < j r d õ t a n r t Teremos coragem de dar afeto gratuitamonto sem utilizá-lo como moeda de troca por acesso a controle cerimonial? Existe alguma maneira que possa mos arranjar, mesmo em um pequeno sistema, para que o comportamento de todos seja igualmente valorizado? Que todos contribuam para o bom es tar do grupo e partilhem igualmente os produtos dos esforços grupais? Ten do sucesso ao fazer essas atividades, poderemos progredir através desse território ermo. Os poucos de nós. felizardos, náo estarao juntos nessa jornada, mas em tempos e lugares separados. Mas em decorrência da moderna tecnologia de comunicação podemos provavelmente nos beneficiar do que os outros estejam aprendendo à medida que façam a jornada. Talvez, nós poderemos usar nosso tempo quando nossos cominhos se encontrarem para relembrar uns aos outros para que estamos trabalhando E nós preci samos começar. O tempo é curto. Referências Bibliográficas Ayres. C E (1944/1962). Tha thoory o f economic progress. New York; Schochen Books. Camine, D. (1984). The federal commitment of excellence Do as I say. not as I do. Educational Excellence, Letters. April. 87 88 Glenn. S. S. (1985). Some reciprocal roles between behavior analysis and institutional economics in post-Darwinian science. The Behavior Analyst, S. 15-27. Marx. K. (1963). Economic and philosophical manuscripts. In T.B. Buttomore (Ed.) Early Writings Michael, J. (1984). Behavior Analysis: A radical perspective In B.L. Hammonds & C.J. Scheirer (Eds) Master loctura series. Volume 4: Psychology of learning Washington, D.C.: American Psychological Association Pascal. B. (1961). The Pense'cs (No. 244) Translated by J.M. Cohen. Shimoff. E. (1984) Religion: A behavioral analysis. Paper delivered at Association for Behavior Analysis Convention. Nashville. Skinner. B F (1948). Walden two New York- Macmillan. Skinnor. B F (1953). Science and Human Behavior New York: Macmillan. Skinner, B. F. (1969), Contingencies ot roinforcomont A theoretical analysis. New York: Appleton-Century-Crofls. Skinner, B F. (1971) Beyond Freedom and Dignity New York: Alfred A Knopf. Skinner. B. F (1985) News from nowhere. 1984. The Behavior Analyst. 0, 5-14. Veblen. T. (1899/1934) The theory o f (he loisuro class: An economic study of Institutions. New York: The Modem Library. Walzer. M. (19B4). Exodus and Revolution New York: Basic Books camila paiffer Highlight A Constituição como Metacontingência João Cláudio Todorov “Demonstrando corno os procedimentos governamentais modelam o comportamento dos governos, a ciônda pode nos lavar mais rapida mente ao planejamento de um governo, no sentido mais amplo pos sível, que necessariamente promova o bem estar daqueles que são governados. " (Skinner, 1953/2000, p 482) As metacontingências do processo cultural tecnológico aumentam o âmbito de ação e a eficácia do comportamento que altera o ambiente no sentido de garantir a sobrevivência e a satisfação do indivíduo e da socie dade (são exemplos a redução da poluição ambiental e a proteção aos direitos humanos). Por outro lado, as metacontingências cerimoniais impe dem o surgimento de novos comportamentos, mantêm o controle social como está, e são nocivas a longo prazo quando a sobrevivência de todos depende da ocorrência de mudanças. Metaconbngências cerimoniais já existem na sociedade e as regras das quais dependem estão formuladas tácrta ou explicitamente no processo de socialização da criança. Quando há conflito ontre metacontingências tecnológicas e cerimoniais, a vanta gem inicial está toda com as metacontingências cerimoniais. Vista a Constituição como a lei fundamental ou coleção de leis regen do a natureza e as funções do Estado, e o conjunto dos direitos e deveres do povo, vejamos como retomar a ela depois de passar por vários conceitos que pertencem ao discurso da análise do comportamento enquanto abordagem psicológica. Uma lei que se prezo sempre prescreve alguma conseqüência para algum tipo de comportamento Com maior freqüência, as leis estabele cem conseqüências punitivas e visam controlar o comportamento a ser puni do O Código Penal autoriza certos agontes a aplicar a punição, especifican do os parâmetros do processo. Algumas leis visam incent-var comportamen tos desejáveis, do ponto de vista de quem redige a lei, e prescrevem conse qüências positivas para tais comportamentos (geralmente dinheiro, que sai do bolso de todos nós). Em outros casos é a ausência do certos comporta mentos que é punida ou recompensada, como a omissão de socorro e a poupança voluntária, respectivamente. Em todos esses exemplos configura- se uma relaçáo que ó fundamental para o trabalho de análise do comporta mento: a contingência de dois termos. 30 jo tto Clflufllo Todnruv Contingência, como usamos o termo, é uma relação condicional entre uma classe de respostas, ou tipo de comportamento, o conseqüências que advêm da ocorrência desse comportamento. Os exemplos são infinitos e banais, mas gostamos de começar pelas coisas aparentemente simples para chegar a um entendimento mais firme dos casos complexos. Que a simplicidade é aparente veremos logo a seguir, com um exemplo do tipo: “Quem tropeça pode cair'’ . A frase pode ser vista como uma contingência de dois termos, uma relação condicional entre um comportamento, trope çar, e uma conseqüência desse comportamento, cair Não é necessário muito pensar para concluir que cair depois de tropeçar depende também de diversos outros fatores: afinal, "nem tudo que balança cai". Tentando continuar com um exemplo simples, imaginemos uma escada com corri mões onde quem sobe com as mãos apoiadas, tropeçando não cai; quem sobe com as mãos abanando, tropeçando sempre cai Temos agora o mes mo exemplo em dois cenários diferentes, e isso é bastante para o que que remos explicar. Não há sentido na pretensão de se entender o comporta mento de tropeçar sem se levar em conta o cenário e a conseqüência. Escolhemos de propósito começar com um exemplo que envolve a interação do homem com seu ambiente fisico. As contingências são as mesmas em todo o mundo conhecido, independem de regras, leis ou con venções sociais. Mesmo assim, a unidade básica de análise envolve uma relação condicional de três termos, ou contingência tríplice: situação, com portamento e conseqüência. Nas relações sociais, no comportamento de pessoas interagindo com outras pessoas, a contingôncia tríplice sorve ape nas como um instrumento de partida. Possibilita o estudo do que chama mos de controle discriminativo do comportamento, e é extremamente útil em áreas como alfabetização e no tratamento de deficiências graves de repertório social, mas a não ser para os que se preocupam com os altos índices de repetência no primeiro ano do primeiro grau ou para os sócios da APAE, estudos que imitam a análise da contingência tríplice aborrecem os intelectuais ocupados com os mistérios da vida e da morte. Como dizíamos, nos assuntos humanos a complexidade é maior. Mas é ao analisar essa complexidade que percebemos as sutilezas do con trole discriminativo. A contingência tríplice pode ser colocada sob o contro le de diferentes cenários. Se. na presença do Sr. X (cenário 1) afirmo "O senhor ó um ladrão*, a conseqüência do meu comportamento vai depender de outras condições do ambiente. Se estamos sós. se não há testemu nhas, o Sr. X pode reagir Irado e mo agredir fisicamente, mesmo sendo um político experiente.Se, na presença do Sr. X (cenário 1), o das câmeras de televisão (cenário 2). faço a mesma afirmação, a conseqüência de meu comportamento pode ser uma resposta em termos elevados e inteligentes, como o Sr X tentando convencer o eleitorado de que. polo contrário, o ladrão ó o outro candidato. Quando temos uma contingência triplice colocada sob o controle discriminativo de outros aspectos do ambiente, temos uma contingôncia de quatro termos, também condicional, com dois termos que se referem a situ Motacontíngflnci*»: nciirrourlaiiMiito t;u tu m t> SMtoíCKto 31 ações ambientais, um ao tipo de comportamento, e um às conseqüências desse comportamento. D irem os, então, que a contingência de três termos, que especifica o controle discrim nativo, está sob um controle condicional na contingência quádrupla. Estímulos condicionais (ou contextuais) não controlam o comportamento diretamente, mas determinam o controle oue outros estímulos exercem sobre o comportamento. Políticos bem-sucedidos e pessoas nomiais nâo oostumarn se preocu par muito com exemplos do contincôncias quádruplas - afinal, a classe média riasce sabendo como comportar-se a mesa. O assunto tem. entretanto, inte ressado aos estudiosos dos aspectos não-lingüísücos da linguagem, aos que se preocupam com as condições da formação de relaçõos de equivalência entre conceitos, aos que ganham a vida como psicoterapeutas, e aos Que tentam explicar o fracasso eleitoral de certos políticos bem conheodos. Contingências quádruplas tambôm podem estar sob o controle de outras condições do ambiente. Caracterizando contingências quíntuplas e controle condicional de segunda ordem (Sidman, 1986). Usando o conceito de contingência quintupla como ferramenta, podemos começar a falar de conceitos mais abstratos, mas não convém agora abusar da paciência do leitor interessado em saber o que metacontingéncia tem a ver com Consti tuição. A intenção foi fixar o conc3ito de contingência e deixar bem claro que não se aplica apenas a situações do tipo ‘ se correr o bicho pega’ . A contingência é, pois, a unidade de análise que descreve as relações funci onais entre o comportamento e o ambiente no qual a pessoa interage. A metacontingéncia é a unidade de énálise que descreve as relações funcio nais entre uma classe de comportamentos, cada comportamento como parto de uma contingência específica, e uma conseqüência que ccorre a lor.go prazo e que é comum a todos cs comportamentos inseridos em uma metacontingéncia. Metacontingéncia» envolvem essencialmente contingên cias socialmente determinadas. Vejamos um exemplo arriscadíssimo. A mudança de um governo predom inantem ente m ilitar para um governo predominantemente civil, abreviadamente, a passagem do controle do PDS para o PMDB. pode ser vista sobre o prisma do conceito de metacontingéncia. A conseqüência a longo prazo ora a saida dos militeres e dos políticos a eles diretamente ligados e a passagem do poder a uri partido predominantemente civil. Des cartada a hipótese de um Exército substituir a outro, a transição ocorreu como resultante de um movimento social que envolveu milhões de pessoas e m ilhares de entidades responsáveis pela organ ização do que se convencionou chamar de sociedade civil. Abandonado o uso abusivo da força para impor a lei ilegítima (desde Geisel), mudavam as contingências que envolviam o comportamento político A desobediência civil, era possivel. Novas contingências que afe tam o comportamento de indivíduos se estabeleceram e foram organizadas em metacontingências pelo discurso politico unificado de amplos setores, do centro à esquerda. O objetivo a fongo prazo coordenou diferentes com portamentos submetidos a conseqüSncías imediatas que, separadamente, 32 Ju 5o C ttu dto Tb o w o v pouco teriam a ver com a redemocratização do pais. O que pode uma rebe lião do professores contra o autoritarismo de dirigentes de uma escola ter a ver, quando vista isoladamente, com a transição da ditadura para a dem o cracia? Os exemplos de comportamentos específicos de diferentes pesso as e grupos do pessoas, todos submetidos a diferentes conseqüências ime diatas. são inumeráveis. O elo de união desses comportamentos individu ais em uma metacontingência ô a conseqüência a longo prazo que afeta a toda a sociedade, e o que liga essa conseqüência a longo prazo às nossas ações do dia-a-dia é o discurso político, visto aqui sob a ótica da análise do comportamento, enquanto comportamento verbal. Esse discurso político rege as interações entre as pessoas organizadas em grupos e assim man tém seu comportamento enquanto a conseqüência a longo prazo não che ga Metacontingências tecnológicas e cerimoniais Metacontingências não envolvem necessariamente mudanças soci ais. Ao contrário, seria mais fácil exemplificar metacontingências de manu tenção do status quo. Skinner (1967) retira da Teoria da Classe Ociosa" de Thornstein Veblen (1965) os conceitos de dois processos culturais distin tos. um tecnológico, outro cerimonial. Sigrid Glenn (1986). analisando os trabalhos de Skinner, propõe o conceito de metacontingência e mostra quo Skinner, ao contrário de Veblen. não vê os dois processos como imutáveis, mas sim como produtos do homem, e como tais. possíveis de alteração (Avros. 1962). Contingências ligadas ao processo cultural tecnológico en volvam comportamentos mantidos por conseqüências não arbitrárias. Es sas conseqüências têm poder sobre a manutenção do comportamento por que são úteis, de valor ou são importantes para a pessoa que se comporta assim como para as demais pessoas. As contingências associadas ao pro cesso cultural cerimonial, por outro lado. envolvem comportamentos manti dos por conseqüências sociais que derivam seu poder do status, da posi ção ou da autoridade do agente que maneja as conseqüências, indepen dentemente de alterações no ambiente que beneficiem direta ou indireta mente a pessoa que se comporta. Sigrid Glenn oforece dois exemplos sim ples dos controles cerimonial e tecnológico: “Faça isso porque eu estou mandando’ raramente envolve comportamentos que beneficiam a pessoa que recebe a ordem: "Faça isso porque teremos então melhores condições sanitárias, o que levará à melhoria nas condições de saúde de todos” espe cifica conseqüências positivas para a pessoa que se comporta e para a coletividade como um todo. A redução da poluiçào ambiental, por exemplo, depende do processo cultural tecnológico, por meio de metacontingências que reunam os comportamentos de milhões de pessoas, diferentes com portamentos em diferentes situações, todos, porém, levando a uma conse qüência comum a longo prazo que beneficiara a cada uma daquelas pes soas. assim como a todos que convivem na sociedade. Da mesma forma, podemos pensar em metacontingências associadas ã proteção dos direi M tfa c o M O n jta c U ie irc m p o r le m fn io , c u r .u a o *c< te d ed e 33 tos humanos, à melhoria da distribuição de renda, ao uso social e produtivo da terra etc. As metacontingências do processo cultural tecnológico aumentam o âmbito de ação e a eficácia do comportamento que altera o ambiente na direção de garantir a sobrevivência e a satisfação do indivíduo e da socieda de. Por outro lado, as contingências cerimoniais impedem o surgimento de novos comportamentos, mantêm o controle social como está, e são nocivas a longo prazo quando a sobrevivência de todos depende da ocorrência de mudanças. Quando há conflito entre metacontingências tecnológicas e ceri moniais.. a vantagem inicial está toda com as metacontingências cerimoniais. Como afirmamos acima, a lacuna entre o objetivo a longo prazo e o compor tamento que deve ocorrer hoje é preenchida pelo comportamento verbal, especificamente por regras de conduta a serom seguidas. Quando r.o pro cesso cultural tecnológico se propõemmudanças que envolvem o estabele cimento de uma metacontingência, há a seguir todo um trabalho de detennl- naçáo de regras específicas, de providenciar conseqüências imodiatas para a observância dessas regras, e de avaliação dessas regras e das conseqü ências. Bons exemplos disso podem ser encontrados nos anais das Confe rencias Nacionais do Saúde ou nos debates sobre a Reforma Agrária no Brasil. A avaliação critica é necessária a todo momento. E as divergências sobre as avaliações às vezes levam a polêmicas acirradas e a disputas iriterpartidárias. O processo é trabalhoso, mas esse é o preço pago pela democracia para livrar-se de um Grande Planejador. Metacontingências cerimoniais, por sua vez já existem ria sociedade e as regras das quais dependem estão formuladas tácita ou explicitamente no processo de socialização da criança, no qual atuam em grande sintonia as três instituições mantenedoras do status quo: Família. Igreja e Estado Esse con trole cerimonial não é necessariamente nocivo ao indivíduo e a sociedade, mas não é sensível às possibilidades de inovação e de mudanças sociais cons trutivas. Para garantir a estabilidade social, as agências que atuam no proces so de socialização valorizam mais a obediência às regras que o pensamento critioo. a repetição do saber que seu questionamento, a verbalização de solu ções que a formulação de problemas. Sigrid Glenn mostra como até este ponto os trabalhos de Skinner devem muito a Clarence Avres, discípulo de Veblen (Skinner, 1972). Para Avres, ti possib ilidade de evolução cultural rápida ocorre quando há crise no processo cultural cerimonial e o processo cultural se desenvolve por algum tempo sem oposição. Mas as mudanças produzidas levam a um novo tipo do controlo cerimonial mantido pela autoridade de um novo grupo que assume o poder Assim o mesmo grupo que produz mudanças revolucionárias mantém as novas práticas culturais através do processo cultural cerimonial cercean do nova evolução cultural e mantendo o controle através do uso da autorida de. Skinnor vai além dos trabalhos de Avres e de Veblen ao ocupar-se das contingências específicas que compõem o controle cerimonial e ao cnticar o controle social atual mostrando, através de uma utopia, como poder-a ser uma sociedade sem instituições mantidas pelo controle cerimonial onde as 34 J o i o O M q T s i is ío v relações entre as contingências ligadas ao comportamento do cada pessoa e as metacontingôncias são claramente formuladas. Constituição: as metacontingências que queremos Este não ó um trabalho sobre metacontingências e utopias, entre tanto. Aos interessados, os trabalhos de Skinner disponíveis no Brasil po dem ser facilmente encontrados em qualquer livraria. Esperando ter escla recido o que sâo metacontingências, vejamos agora a Constituição como metacontingência. A constituição escrita de qualquer pais traz, bem ou mal formuladas, metacontingências, algumas cerimoniais, outras tecnológicas. A constituição outorgada pela Junta M ilitar em 1969 tem metacontingências relacionadas principalmente ao processo cultural cerimonial, algumas já tradicionais em Constituições anteriores, como a que define a Republica como Federação de Estados, a que especifica o âmbito de ação das For ças Armadas, etc. Mas mesmo a Constituição de 1969 prevê a possibilida de de metacontingências relacionadas ao processo cultural tecnológico, ao prever emendas desde que aprovadas por dois terços do Congresso. Neste momento histórico em que nós, como nação, temos a oportuni dade de rever a Constituição, redigir claramente as regras do jogo, convém refletir um pouco sobre quais são as metacontingências cerimoniais que que remos e quais são as mudanças de que necessitamos a serem especificadas em metacontingências tecnológicas. Como deve organizar-se o Estado para evitarmos o abuso do controle cerimonial? Uma vez especificadas as metacontingências, como garantir a especificação das novas regras a serem aprendidas por todos, pois que afetarão o comportamento de cada um? Es sas regras estarão contidas em leis, decretos, portarias, atos. resoluções etc.? Como orientar as diversas autoridades que assinarão essas regras? Respostas a essas questões são cruciais, pois de nada adiantara uma Cons tituição com objetivos nacionais bem formulados, consensualrnente aceitos pela nação, sem que a lacuna entre esses objetivos gerais e o comporta mento individual de cada cidadão não seja preenchida por um sistema de regras de relações sociais e interpessoais que privilegie o trabalho em detri mento da escamoteação, a produção e não a especulação, a saúde de todos por ser um direito de cada um. a educação crítica porque a nação precisa de cidadãos pensantes, e assim por diante. A oportunidade de redigir uma nova constituição e também a oportu nidade que o pais tem de conscientizar o cidadão sobre a importância des sas questões e o papel de cada um no fornecimento de respostas. E. nesse ponto, a campanha eleitoral que resultou na composição do Congresso Cons tituinte pouco esclareceu o eleitorado. O papel a ser reservado as Forças Armadas, por exemplo, foi assunto de discussões nas antecâmaras do poder e recebeu alguma atenção da imprensa no primeiro semestre do 1986. A discussão parou porém, após 25 de agosto, com o pronunciamento firme do Ministro do exérdto: a questão certamente não foi tema de campanha eleito ral. Sobre a reforma agrária, outro exemplo, não foram esclarecidas ques- MiKüCoabngAnci»»: coro^rta/uurito, cu r.u ia e «eo edadi» 35 Iões como onde. quando, como por quê? Outro exemplo. qual o papel a ser reservado à iniciativa privada nas áreas de educação, saúde, transportes? Diferentes caminhos em cada uma dessas encruzilhadas levam a contingên cias incompatíveis e ao estabelecimento de metacontingéndas que englo bam objetivos a longo prazo muito diferentes. Perdidas as oportunidades oferecidas pela campanha eleitoral, resta a sociedade civil que de fato ele geu Tancredo e Sarney acompanhar os trabalhos do Congresso Constituinte reavivando a memória de nossos representantes. A nova Constituição poderá ser sintética, a moda americana, ou detalhista, como o projeto da Comissão Afonso Arinos. Em uma Constituição de poucos artigos, os objetivos colocados são necessariamente gerais e abstratamente formulados. O projeto Arinos. por outro lado. exemplifica uma redação que pode especificar melhor esses objetivos. Os dois exemplos, é claro, representam apenas casos extremos. Para o que nos interessa neste artigo, uma Constituição, muito sintótica tem a desvantagem do ser tão abs trata que não possibilita a explicitação das metacontingéndas que abriga. Já uma Constituição quilométrica certamente descerá ao nível de especificas contingências que seriam mais propriamente matéria de lei ordinária. Num caso ou no outro, as metacontingéndas poderão ser predomi nantemente cerimoniais, e estaremos frustrando as expectativas da popula ção e esfacelando o amplo acordo político que sustenta a transição para a democracia. Ou serão predominantemente tecnológicas, definindo as trans formações sociais possíveis sem a ruptura de vida social organizada Neste segundo caso, do uma Constituição que especifique metacontingéndas tecnológicas, convém que a redaçáo não se faça em termos puramente abs tratos. do tipo *a educação é um direito de todos e um dever do Estado'. Por mais amplo que seja o consenso sobre um objetivo tão geral e exatamente por ser tão geral que. se ficarmos nesse nível de abstração, não estaremos apontando os caminhos para a educação brasileira. A tarefa dos constituintes será das mais difíceis. Se não houver ou tro esforço nacional dirigido para garantir a democracia, definindo objetivos e os caminhos para atingir, correremos o risco de termos uma Constituição que resultará das-pressõesdos diferentes "lobbies" já articulados. Teremos então uma colcha de retalhos, certamente de curta duração. Referências Bibliográficas Sidman. M (1986). Fundional Analvsis or emergenl verbal classes. In T Thompson e N. C. Zeller (Eds). Analvsis and integration ol benavional units (pp. 213- 245). Hlllsdale. NJ: Lawrence Erlbaum Associates Skinnor, B. F (1967). Ciência e Comporiamônlo Humano. Brasília: Editora Universidade de Brasília Veblen, T. (1899/1965). A Teoria da Cfassc Ociosa. São Pauto: Pioneira. Glenn, S. S. (1986). Metaconlingencies In Walden Two. Benavior Analvsis ang Social Action. 5. 2-8 36 uo io C l io a io ToiJofov Avres. C. E (1944/1962), Tho Theory of Economic Progross. New York: Secocnen Books. Skinner. B. F. (1972). Walden II. Lima Sociedade do Futoro. SSo Paulo: HercJer. Análise Experimental do Comportamento e Sociedade: um novo foco de estudo João Cláudio Todorov Maísa Moreira ’Assim como as características genéticas que surgem como muta ções são selecionadas ov rejeiladas por suas consequências, tam bém as novas formas do comportamento são selecionadas ou rejet- ladas pelo reforço. Há ainda uma lerceira espécie de seleção que se aplica às práticas culturars.' (Skinner. 1953/2000. p. 467-468). Tragédias como a ocorrida em 11 de setembro do 2001, nos Estados Unidos, que resultou na morte de mais de 3000 pessoas e em posteror ata que dos Estados Unidos ao Afeganistão (entre milhares de outras tragédias que ocorrem todos os dias em nossos paises, incluindo a atual invasão do Iraque) nos lembram que várias das nossas práticas culturais trazem preiui- zos às vidas de todos. Apesar dos grandes progressos técnicos e científicos, nâo há suficiente preocupação sobre o gasto dos recursos naturais ou com a excessiva poluição das águas e do ar, e menos ainda mecanismos de contro le do uso da violência, seja por pessoas, por organizações ou por paises. Estas preocupações tém sido temas das ciências sociais, e com poucas ex ceções. a análise do comportamento não as tem abordado, apesar de ter considerável potencial para servir à nossa cultura no aumento das chances de sobrevivência, ou ao menos tornar mais compreensível os processos o as variáveis que determinam as direções atuais. Este potencial, porém, tem sido pouco utilizado. Esta escassa ex ploração do potencial da análise do comportamento, no estudo social acon tece apesar das contribuições de B. F. Skinner sobre a análise social e cultura l com o um com ponente fundam enta l do behaviorism o radical (Malagodi. 1986). Muitos trabalhos teóricos de Skinner (1953 ,1955a, 1955b, 1956. 1957, 1961. 1964. 1968a. 1968b, 1969, 1972, 1974, 1978) têm em sua compreensão uma nova visão de mundo (Michael, 1980; Todorov, 1982) que integra filosofia, ciência e princípios do comportamento dentro de uma teoria opistemológica consistente e geral do comportamento humano. O maior componente desta visão d e mundo está na extensão de princípios comportamentais para a análise do processos sociais e culturais. Em “Ci ência e Comportamento Humano“ Skinner (1953) dedicou as três últimas 38 Jofio C líud io TodOTOV. M biüu Muiotia seções para discutir extensivamente assuntos sobre a natureza, evolução, sobrevivência, valores o planejamento cultural. Nesse sentido, a visão de mundo do Skinner implica uma ciência do comportamento que estuda regras que descrevem as relações de controle entre contingências ambientais e comportamentos. Quando os membros atu antes da sociedade entram em contato com essas regras e as soguem, re pertórios de solução de problemas sâo solecionados e mantidos por contin gências de reforçamento existentes na cultura. Apesar deste tema ser impor tante para muitos, houve poucos estudos nos últimos 20 anos. A ciência do comportamento tem se dedicado a resolver problemas principalmente de in divíduos ainda que em organizações ou instituições, muitas vezes vitimas de um mau planojamento cultural, mas sem um instrumental teórico explicito que se aplicasse ao comportamento de grupos sociais. Glenn considerou importante esta interdisdplinaridade á medida que estudar sociedades e práticas culturais tendo como instrumento a contingên cia tríplice (Skinner. 1953; Souza, 1999. Todorov, 1985) pode não significar êxito total pois corremos o risco de reduzir a análise a um ponto que nào mostra como se deu a evolução e a manutenção da prática em estudo. O nivel comportamental da análise científica considera o organismo a base a partir da qual as relações funcionais entre o comportamento e os eventos ambientais são experimentalmente examinados (Glenn, 1988). Já na análise cultural o comportamento do indivíduo ê a base a partir da qual práticas cul turais emergem e o estudo das relações funcionais ocorre em outro nivel. Seleção em nivel comportamental e seleção em nivel cultural po dem ser facilmente confundidos poisos dois envolvem relações entre even tos com porta menta is e resultam em mudanças no ambiente. Conseqüênci as culturais, no entanto, nâo selecionam comportamentos individuais, sele cionam relações entre contingências comportamentais, compreendendo as práticas culturais. O comportamento de um indivíduo especifico tem pouco efeito nas conseqüências culturais. Metacontingências Para estudos do oomportamenlo humano em nível social, uma impor tante unidade de análise usada é a metacontingència. Esta ê uma unidade que descreve as relações funcionais entre classes de operantes. cada classe as sociada a uma contingência tríplice diferente, e uma conseqüência comum a longo prazo, comum a todos os operantes na metacontingència Os comporta mentos operantes dos membros do grupo formam um conjunto de ações coor denadas. geralmente chamado de prática cultural, que se relaciona a um am biente comum aos membros. Práticas culturais envolvem o comportamento operante de grupos de pessoas que compõem a sociedade. Metacontingências são relações contingentes entre práticas cultu rais o suas conseqüências. Sáo relações funcionais om nivel de análise cultural, cuja existência deriva mas não ê equivalente a contingências comportamentais (Glenn, 1991). Uma metacontingència não é um arranjo M ftíic o n b n g to c tflft c O T p í i la r a o n t o . O J lh r a o R o c to i.a t» 39 de contingências individuais de diferentes pessoas. Ela consiste em contin gências individuais interligadas, entrelaçadas, em que todas elas juntas p roduzem um m esm o re su lta d o a longo p razo . O co n ce ito de metacontingência nos permite efetivamente considerar o comportamento de grandes grupos de indivíduos em certas situações. Isso pode ser exemplificado pelos vários comportamentos envolvidos na redução da po luição do ar (Glenn, 1986). Meta contingências envolvem essencialmente contingências social mente determinadas. O elo de união de comportamentos individuais em uma metacontingência é a conseqüência a longo prazo que afeta toda a socieda de. São essas conseqüências que ligam as ações do dia-a-dia de diferentes pessoas e que podem ser controladas pelas regras da sociedade como. por exemplo, a Constituição (Todorov, 1987). Uma motacontingência existo se o objeto de análise for uma prática cultural de um grupo do indivíduos, se as conseqüências desta praüca, para o grupo, e se seus antecedentes puderem ser identificados (Glenn. 1986). No estudo das contingências sociais usarido a unidade de análise metacontingência, há uma distinção entre contingênci as de reforçamento (relações de contingências entre uma classe de respos tas e uma consequência comum) e metacontingências (relações de contin gência entre uma classe do operantes e uma conseqüência cultural e co mum a longo prazo). No processo cultura l existem m etacontingências cerim onia is e tecnológicas, segundo Glenn (1986), aproveitando conceitosde Veblen(1899/ 1965). A Família, a Igreja o o Estado usam as metacontingências cerimoniais paia garantir a manutenção do status quo da sociedade. Este oontroio ceri monial não é necessariamente nocivo ao indivíduo e à sociedade, mas ô insensivel às possibilidades de inovações de mudanças sociais construtivas (Todorov, 1987), O controle cerimonial pode ser exemplificado pela afirmati va: "Faça isso porque eu disse!” (Glenn, 1986). Este controle, apesar de garantir a ordem pela Família, Igreja e Estado, não incentiva a experimenta ção e adaptação dessos comportamentos às mudanças sociais. As metacontingências tecnológicas propõem um trabalho de determi nação de regras especificas, de providenciar conseqüências imediatas para a observância dessas regras, e de avaliação dessas regras e das conseqü ências (Todorov, 1987). O controle tecnológico pode ser exemplificado pela afirmativa: Faça isso porque resuftará numa melhoria das condições sanitá rias e conseqüentemente na melhoria da saúde (Glenn, 1986). Porém, mes mo as metacontingências tecnológicas após mudanças culturais podem pos teriormente se tornar metacontingências cerimoniais cerceando nova evolu ção cultural, Por isso a avaliação das regras sociais deve ser um processo contínuo. Sociedades se comportam governadas por metacontingências. Estas metacontingências podem ser definidas nos códigos e leis dos paises. Em Estados democráticos de direito, como o Brasil, as metacontingências que controlam a sociedade são deliberadas democraticamente por um Congres so eleito pela maioria da população. Alguns exemplos são: a Constituição, o 40 Jo ã o CttM Jk» Toúorttv. Mais* M o rétn Código Penal, o Código Civil e o Estatuto da Criança e do Adolescente. To dos estes códigos de comportamento possuem metacontingências cerimoni ais © tecnológicas. E pelos seus resultados no controle do comportamento podemos predizer que sua grande maioria é cerimonial. A idéia de planejamento cultural (Skinnor. 1953) vai ao encontro das metacontingências tecnológicas, no sentido de procurar sempre estabele cer situações sociais deliberadas e que sigam também uma evolução cul tural. acompanhando as mudanças que o ambiente sofre. As práticas cultu rais devem sofrer uma seleção natural para que continuem funcionais. A disfuncionalidade das práticas culturais, devido à Inobservância das mes mas, pode ser constatada atualmente na questão das regras e da estrutura da família A estrutura não é mais a mesma, pois o ambiente mudou. Nao há mais lugar para a família patriarcal nesses dias em que o capitalismo demanda o poder aquisitivo e impulsiona os indivíduos ao consumismo. A família teve que se adequar a esta necessidade criada, transformando seus membros em força de trabalho ativa. Concluindo, entendemos que o conceito de metacontingôncia am plia o campo de estudo da análise do comportamento. Ele resgata a preo cupação de Skinner sobre planejamento cultural, já muito discutida em ’ Ci ência e Comportamento Humano’ . O desenvolvimento do conceito de metacontingência mostra a importância da realização da pesquisa básica, mas enfatiza o valor dos resultados desta pesquisa no estudo social Estudos sobre Metacontingências Todorov analisou a Constituição do Brasil sob o ponto de vista do conceito de metacontingência (Todorov, 1987). A Constituição de qualquer pa is traz. bem ou mal form uladas, m etacontingências cerim onia is e tecnológicas. A Constituição outorgada pela Junta Militar em 1969 tem metacontingências relacionadas principalmente ao processo cultural ceri monial. Mas mesmo a Constituição de 1969 prevê a possibilidade de metacontingências relacionadas ao processo cultural tecnologico. ao pre ver emendas desde que aprovadas por dois terços do congresso. Todorov (1987) se preocupou com o momento de revisão da Consti tuição de 1988 e considerou várias reflexões sobre as metacontingências cerimoniais o tecnológicas da Constituição. Dentre estes pontos de refle xão estão as perguntas: uma vez especificada a metacontingência, como garantir a especificação das novas regras a serem apreendidas por todos e que afetará o comportamento de cada um? Todorov argumenta que na re visão da Constituição (o trabalho foi escrito e publicado durante a Constitu inte. antes da aprovação da Constituição de 1988) os constituintes deveri am se preocupar em não escrever uma Constituição extremamente ceri monial, frustrando as expectativas da população e esfacelando o amplo acordo politico que sustentou a transição para a democracia, e nem extre mamente tecnológica, com termos puramente abstratos como "a educação Mal.i^.:n ‘,ino0i 03; OdPttiytartXul». cultum esociedndo 41 é um direito de iodos e um dever do Estado’ , que não apontam os cami nhos para a efetivação da idéia. Lamal e Greenspoon {1992) descrevem uma rftetacontingència que controla a maioria dos comportamentos dos membros do Congresso cos EUA: a metacontingência da reeleição. Há um paradoxo entre os deputa dos e senadores: apesar de serem consistentemente reeleitos as pescui- sas mostram que os eleitores que os elegem têm pouca estima por eles. Os padrões de votação dos membros do congresso podem, em muitas vez-ss, ser acuradamente previstos porque o seu comportamento de votar ó posi tivamente e negativamente reforçado por grupos organizados (com interes ses especiais) que pagam, dão apoio financeiro para que votem em causas que são benéficas a esses grupos. Assim, não é surpreendente que o com portamento de votar as leis seja consistente com o ponto de v;sta de grupos organizados. O controle de grupos organizados sobre o voto dos deputados e se nadores é relacionado em grande parte ao financiamento das campanhas eleitorais. Este controle tem crescido cada vez mais nos últimos 15 anos. A emergência e proliferação dos comitês politicos de ação tem um profundo efeito na contribuição das campanhas. Aqueles que votam nos candidatos (pela boa propaganda eleitoral) e os grupos organizados sáo sem dúvidas fontes de reforçamento deles. Algumas vezes os comités políticos funcionam como operações estabelecedoras (Michael, 1982. 2000). Semelhantes aos comitês de ação política são os lobistas. Nos EUA lobistas tèm adquirido considerável controle sobre deputados e senadores porque têm comando sobre a distribuição do dinheiro, especialmente ern fundos de campanha, e porque estão freqüentemente relacionados aos comités de ação política. Um estudioso do Congresso americano descreveu três categorias de comportamento verbal dos congressistas, deputados e senadores: fazem propaganda, pedem verbas e tomam posições. Fazer propaganda envolve em sua grande parte tornar reconhecido popularmente seu nome. sendo a mídia, especialmente a televisão, uma importante fonte de controle em mas sa dos congressistas. A categoria de tomar posição significa fazer uma de claração em público que interesse aos constituintes e aos grupos organiza dos. A categoria de pedir verba consiste em fazer com que o governo provi dencie reforçadores aos constituintes, ou ao menos convencer os constituin tes que é ele o responsável pelo que é feito no interesse deles. Alguns membros do Câmara e do Senado, que são raros, se res ponsabilizam por legislações que levam anos para serem aprovadas. Eles geralmente têm poucos votos e se engajam em temas controversos. Ape sar disso continuam sendo reeleitos. Mas o que os reforça é fazer um bom trabalho aos constituintes, o qual chega ao conhecimento dos eleitores pela repercussão na imprensa. A partir desta análise Lamal e Greenspoon (1992) percebem um fe nômeno transcultural que serve de estrutura para a análise do comporta mento de sociedades e práticas culturais. Um dos fenômenos é o estabeleci mento e a manutenção de contingências que favorecem indivíduos ou gru- 42 JoA » C la J rt o TcrfccovMfJ» 8 M cnára pos mas entram em conflito com o bem-estar da cultura. É o poder do reforçamento imediato do comportamento dos deputados e senadores que tem efeitos desastrosos para a sociedade a longo prazo, efeitos geralmente ignorados pela maioria do eleitorado. A propaganda da campanha política rio Presidente George Bush (pai do atual Presidente George W. Bush) alterou para Laitinen o Rakos (1997), o controle da cadeia de comportamentos dos cidadãos que era con tro lada por re fo rçam ento negativo passando a se r con tro lada por reforçamento positivo. Operações estabelecedoras (Michael. 1982, 1983. 2000) foram manipuladas para tomar o Iraque e Hussein estímulos aversivos e regras introduziram contingências aversivas: agressões espontâneas devem ser feitas contra eles para preservar a liberdade e a equidade. Isto estimulou uma concordância consensual "para fazer algo". Este "algo" pas sou para a história como a Guerra do Golfo. A solidariedade patriótica foi reforçada pelo reconhecimento d» que ações não militares desempenha vam um papel importante contra o perigo. Contudo, concorrentemente, o estímulo aversivo da organização e preparação de tropas para o combate foi introduzido muito gradativamente para evitar respostas discordantes ou de esquiva da população Posteriormente a organização das tropas milita res cresceu imensamente mas sempre acompanhada por estimulação po sitiva como se esta ação fosse parte de esforços diplomáticos ou de alian ça de vários países Quando a guerra começou, a açao m ilitar era um esti mulo positivo e a guerra tinha corro conseqüência reforçamento positivo e não negativo. Reforçamento positivo era assegurado ao não divulgar as conseqüências negativas da guerra e ao apresentar apenas as realizações tecnológicas e o sucesso das conquistas. Propaganda militar através da rnidia de massa transformou a Guerra do Golfo em um grande entreteni mento. ao qual os cidadãos respondiam com ‘entusiasmo patriótico". Os americanos aprenderam uma lição da experiência no Vietnam: para ganhar e manter o apoio ã guerra na era da comunicação em massa, o controle de estímulos deve ser manipulado precisamente, o reforçamento positivo deve ser d issem inado num grande esquema de difusão, considerando as metacontingôncias inter-relacionadas que operam nos conglomerados do mídia (Leitinen & Rakos, 1997). Conclusão Estes estudos sobre metacontingências fazem parte de uma peque na amostra do trabalho que os analistas do comportamento começam a fa- zor em nível sodal. Os trabalhos são importantes, mas é um campo de estu dos que está apenas começando. Ainda são apenas estudos descritivos, e só com o aperfeiçoamento destes poderemos efetivar estudos sociais rele vantes. aproveitando a oportunidade oferecida por verdadeiros exfjerimen- tos naturais em andamento. Lembrando Charles Darwin. a predição e o con trole não terão sucesso se o fenõrneno a ser previsto e controlado não for M i-ViiunUngArcM * eomport»rn#nto. a j íu r a o tr.oeOe<lH 43 adequadamente descrito e para isso nosso mais novo instrumento paro o estudo ó a metacontingéncia. A volta do Iraque ao centro do interesse da politica extema dos Estados Unidos não deixa de ser uma excelente ocasião para conferir a análise funcional efetuada por Leitinen e Rakos (1997). Referências Bibliográficas Glenn, S. S (1986). Metacontingencies in Walden Two Bohavior Analysis and Social Action, 5. 2-8. Glenn, S S. (1988). Contingencies and metacontingencies Toward a synthesis of behavior analysis and cultural materialism. The Behavior Analyst, 11 161- 179. Glenn. S S. 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Prudêncio Gisele Carneiro Campos Pereira 'Um ponto importante no desenvolvimento de urna agência governa mental é a codificação de seus procedimentos controladores... Ge- ralmento a lei tem dois aspectos importantes Em primeiro lugar, es pecifica o comportamento... Em segundo lugar, uma lei especifica ou dá a entender certa consequência, usualmente punição. A lei è en tão o enunciado de uma contingência de reforço mantida por urna agência governamental.’' (Skinner, 1953/2000, p. 369-370). O estudo de sociedades pea análise experimental do comportamento foi um tema de estudo relegado por muito tempo, apesar das contribuições o da ênfase de B F. Skinner soDre a análise social e cultural como um componente fundamenta! do behaviorismo radical (Malagodi, 1986). Mui tos trabalhos teóricos de Skinner (1953. 1955a, 1955b, 1956, 1957. 1961, 1964, 1968a. 1968b. 1969, 1972 1974, 1978) têm em sua compreensão uma nova visão de mundo (cf. Michael, 1980; Todorov. 1982) que integra filosofia, ciência e princípios do comportamento dentro de uma teoriB epistemológica consistente e geral do comportamento humano. O maior e le m e n to desta v isã o de m undo es tá na e x te n sã o de p rin c íp io s comportamentais para a análisede processos sociais e culturais. Em ‘ Ci ência e Comportamento Humano" Skinner (1953) dedicou as três últimas s ignos para discutir oxtonRivamontn assuntos sobre a natureza, evolução, sobrevivência, valores e planejamento cultural. Os novos estudos desse tema resultaram na construção da unidade de análise da cultura: a metacontingència (Glenn, 1986). Metacontingências são relações contingentes entre práticas culturais e suas conseqüências. São relações funcionais em nível de análise cultural, cuja existência deriva, mas nãoé equivalente a contingências comportamentais (Glenn, 1991). Uma metacontingència não é um arranjo de contingências Individuais do diferen tes pessoas. Ela consiste em contingências indiv iduais interligadas, entrelaçadas, em que todas juntas produzem um mesmo resultado a longo camila paiffer Highlight JuAo CUiuiSo fo.1erov, M ooa M .r . i A PiusAmío.Otseíe C. Cantsm Pw«lia prazo. O conceito de metacontingéncia permite efetivamente considerar o comporlamento de grandes grupos de indivíduos em certas situações Isso pode ser exemplificado pelos vários comportamentos envolvidos na redução da poluição do ar (Glenn, 1986). Essa unidade de análise pode ser utilizada para o estudo de códi gos de leis. Em Estados dem ocráticos do d ire ito , com o o B rasil, as metacontingências percebidas na sociedade são deliberadas por represen tantes do povo eleitos para as Casas Legislativas, dai o seu caráter demo crático. Alguns exemplos são: a Constituição, o Código Penal, o Código Civil e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A Constituição do Brasil, por exemplo, já foi estudada a partir do conceito de metacontingéncia (Todorov, 1987). O ECA pode ser considerado uma metacontingéncia, pois descreve comportamentos diferentes para os diversos segmentos da sociedade (juizes, promotores, cidadãos, conselheiros tutelares, psicólogos, pais, res ponsáveis, crianças, adolescentes). Esses diferentes comportamentos in tegram contingências semelhantes visando a um fim único: a proteção do crianças e adolescentes No Brasil, a Lei Estatutária (ECA) encontra-se em vigor desde o ano de 1990, sendo, desde então, regulador de todos os procedimentos relati vos á proteção integral à criança e ao adolescente. Como exemplo da apli cação do ECA tem-se as diversas denúncias de abuso fisico ou sexual contra crianças que são feitas por cidadãos e levadas ao conhecimento do Conselho Tutelar ou da Vara da Infância do Município, as quais geram estu dos técnicos e a aplicação de medidas aos pais ou responsáveis, previstas no artigo 129. O objetivo deste trabalho foi identificar as contingências tríplices entrelaçadas representadas nos artigos dispostos ao longo da Lei. Sua contribu ição fo i a geração de uma m etodolog ia para estudos sobre metacontingências em códigos de Lei, possibilitando pesquisas que visem a descrição de práticas culturais inseridas numa sociedade. Método O bjeto d e E stu do O objeto de estudo da pesquisa é o Estatuto da Criança e do Adoles cente. Lei n° 8069, de 13 de julho de 1990, de acordo com as alterações dada pela Lei n° 8.242, do 12 de outubro do 1991. enquanto um conjunto de contingências entrelaçadas constituindo metacontingências (Glenn, 1986). O Estatuto da Criança o do Adolescente ó composto por dois Livros Esses livros estão subdivididos em Títulos. Cada Titulo é subdivido em Capítulos Os Capítulos estão subdivididos em seções e estas últimas, em subseções. Resultando, portanto, em um total de 267 (duzentos e sessenta e sete) artigos dispostos na Lei. camila paiffer Highlight M r’Jicontir«3#n < i# s concnxtanw nto. LÜtvJt» o & ;a trJ » Jo 47 In s tru m e n to de A nálise O instrumento de análise utilizado foi a contingência tríplice, com o objetivo de identificar termos da contingência nos artigos o agrupar os unte- cedentes, comportamentos 0 conseqüentes de uma mesma contingência. Critérios de Análise Utilizados Antecedentes: descrevem contextos, condições e circunstâncias para ocor rência de comportamentos. Comportamentos: estabelecem açâo esperada de um sujeito, a qual pode ser definida implícita ou explicitamente. Conseqüentes: sáo conseqüências diretas de comportamentos definidos nas contingências. Procedimento Foram analisados os 267 artigos presentes na Lei, tendo como ob jetivo idontiticar os termos das contingências que representavam, por exem plo. se cada artigo referia-se a um antecedente, comportamento ou conse qüente, Localizado um artigo que descrevesse um antecedente, pesquisava- se a existência de artigos que apresentassem comportamentos e conse qüentes. contingentes ao antecedente. O texto foi pesquisado soguindo-se a ordem numérica dos artigos, entretanto, na organização das contingências essa ordem foi desconsiderada, priorizando-se o agrupamento dos termos das contingências. Por exemplo, no lema Proteção à Vida e á Saúde, o antecedente da contingência é o artigo 7 °: Art. 7o - A criança e o adolescente tôm direito á proteção, d vida e à saúde, mediante a efetivação do políticas sociais públicas que penni- tam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condi ções dignas de existência. O comportamento é representado no artigo 4L : Art 4o - È dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direilos referentes à vida. à saúde, ò alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, ã dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo Único - A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstânci as; b) precedência do atendimento nos serviços públicos ou de relevân cia pública; c) preferência na formulação e na execução cias políticas sociais públi cas; 48 J o ã o C d w O to T o iío fo v . M a lta í/ate.ira. M o ra H e s fn a A . P M d S r o o .é t e n in C C o m p o e P e re ira d) destinaçôo privilegiada do recursos públicos nas áreas relaciona das com a proteção à infância e à juventude E a conseqüência encontra-se no artigo 129. A /t 129 - São medidas aplicáveis aos pais oti responsável: I - encaminhamento a programo oficial ou comunitário de promoção à família; II - inclusão em programa oíicial ou comunitário de auxilio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos: III • encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; r IV - encaminhamento a cursos ou programas c!e orientação; |, V' - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua fre- |k qüôncia e aproveitamento escolar; i[, VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado: VII - advertência; VIII - perda da guarda; IX - destituição da tutela; » X - suspensão ou destituição do pátrio poder. *i| Parágrafo Único • Na aplicação das medidas previstas nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24. Em toda a análise utilizava-se o artigo intoiro, apenas os artigos do T itu lo V II - D os C rim es e das In fra çõ e s A d m in is tra tiva s - fo ram desmembrados em parágrafos o penas, como pode ser observado abaixo: ANTECEDENTES Art. 7o - A criança e o adolescente têni direito à proteção, à vida e A saúde, mediante a efetivação de potiticas sociais públicas quo permi tam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso,, em condi ções dignas de existência. COMPORTAMENTOS Art. 245 - Deixar o médlço, professor ou responsável por estabeleci mento do atençáo à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou crocho, do comunicar ò autoridade compotonto os cüsos de que te nha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de maus- tratos contra criança ou adolescente: CONSEQÜÊNCIAS (ARTIGO 245) Pena - multade 3 (três) a 20(vinte) salários do roferênda, aplicando-se o dobro em caso de íeincidêndn. Resultados e Discussão M etenanttaQ A ncflB : c o m p tru m m rrto . c L l h « o * 4c c ró d m J« 49 O presente trabalho possibilitou o estudo da metacontingência en volvida no ECA, entendendo-se como metacontingência a unidade que des creve as relações funcionais entre classes de operantes, cada classe asso ciada a uma contingência tríplice diferente, e uma conseqüência comum a longo prazo, comum a todos os operantes na metacontingência. São essas conseqüências que ligam nossas ações do dia-a-dla e que podem ser con troladas pelas regras da sociedade como a Constituição e os Códigos de Leis (Todorov, 1987). A metacontingência contida no ECA pode ser descrita no seu artigo 1o: "Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.' Observando-se os artigos da Lei e organizando-os em contingências, per cebeu-se que formam dois conjuntos: contingências completas e incomple tas. Esses conjuntos entrelaçados procuram garantir uma conseqüência comum a longo prazo, a qual é descrita no artigo primeiro. Na completa são encontrados os três termos da contingência: ante cedentes. comportamentos e conseqüências, como apresentado a seguir: EXEMPLO 1: TEMA: Saúde ANTECEDENTES Art 7o - A criança e o adolescente tèm direito à proteção, à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais publicas que permi tam o nascimento e o desenvolvimento sadio e hannonioso. em condi ções dignas de existência. COMPORTAMENTOS Ari. 228 - Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de estabele cimento de atenção A saúde de gestante de manter registro das ativi dades desenvolvidas, na forma e prazo referidos no art. 10 desta Lei. bem como de fornecer à partunente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica, declaração de nascimento, onde constem as intercorrèncias do parte e do desenvolvimento do neonato: CONSEQUÊNCIAS (ARTIGO 228) Pena - detenção d e 6 ( seis) meses a 2 (dois) anos. Também foi considerada contingência completa aquela que não apresentava antecedente especifico, ou seja. que não estabelecia a condi ção para a ocorrência do comportamento. A falta de um antecedente espe cífico não impede o entendimento da contingência, pelo contrário, permite maior flexibilidade na interpretação da Lei, visto que o comportamento re querido deve ocorrer em qualquer condição, como se segue' EXEMPLO 2: camila paiffer Highlight Joao Oáitoo TodDfiA', Mr.iCíi M jíH lld. Maru R oy lr.i A. P-u:fftncti>,ais*lfr C. C:iini>3« P*n;«.i TEMIA: Direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer COMPORTAMENTOS Art. 5 6 -O s pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus lilhos ou pupibs na rede regular de ensino. CONSEQUÊNCIAS Art. 129 - São medidos aplicáveis aos pais ou res/x>ns<s\'el: I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de promoção à famiüa; II - inclusão om programa oficial ou comunitário de auxilio, orientação e tratamento a alcoólatras o toxicômanos; III - encaminhamento a tratamento psicológico ou pstquiótnco: IV - encaminhamento a cursos ou programas do orientação: V - obrigação de matricular o filho ou [x/pilo e acompanhar sua freqüên cia e aproveitamento escolar; VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado, VII - advertência; VIII ■ perda da guarda; IX - destituição da tutela; X - suspensão ou destituição do pátrio poder. Parágrafo Único - Na aplicação das medidas previstas nos incisos IX e X deste artigo, i>b$er\’ar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24. Considerou-se contingência incompleta aquela formada por um ou dois termos da contingência (por exemplo, um antecedente sem comporta mento ou conseqüência). Isso pode ser observado no Exemplo 3: EXEMPLO 3: TEMA: Convivência familiar e comunitária ANTECEDENTE An. 20 - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quais quer designações discriminatórias relativas á filiação Este artigo dispõe sobre os direitos dos filhos havidos do casamen to ou por adoção. Porém, náo so encontrou no texto um comportamento esperado diante deste antecedente, bem como uma conseqüência. É importante ressaltar que os artigos 1o e 6o por apresentarem uma descrição geral foram considerados antecedentes gerais que permeiam todo o texto O agrupamento dos artigos para fomiar uma contingência não obe dece a uma ordem numérica, uma vez que os antecedentes, comporta- Mn*iiconUnginci!iH' «m p o n o r if in lo . c u M r r .« s ixto dad» 51 mentos e conseqüentes não se encontram em artigos próximos. Observou- se que as penas se encontravam nos últimos artigos do Livro II. Os artigos que contõm comportamentos estão na Parte Especial, e os principais ante cedentes no Livro I. Tal configuração é observada no Exemplo 1. Semelhante fragmentação das contingências no toxto pode ser verificada também na distribuição dos temas (especificado a seguir), ou seja, um tema como Flagrante de Ato Infracional surge no Livro I assim como no Livro I! (artigos relacionados a procedimentos). Essa disposição dos artigos pode representar uma dificuldade no manuseio da Lei Estatutária à medida que, para aplicá-la, o intérprete da Lei (juiz, promotor, advogado, delegado) e o cidadáo comum devem percorrer todo o livro para encontrar os artigos que remetam ã situação em estudo. No ECA os artigos são divididos em temas. Na análise, alguns des ses temas foram agrupados resultando em 29 temas para este trabalho. São eles: Saúde, Liberdade, Família, Pátrio Poder, Guarda, Tutela, Ado ção, Educação e Esporte. Profissionalização, Prevenção, Produtos e Servi ços, Autorização para Viajar. Entidades de Atendimento, Medidas de Prote ção, Ato infracional, Garantias Processuais, Medidas Sócio-Educativas, Conselho Tutelar, Acesso á Justiça, Juiz, Serviços Auxiliares, Procedimen tos. Apuração de Infração Administrativa, Recursos, Ministério Público. Advogado, Proteção de Direitos. Crimes e Infrações Administrativa e Dis posições Finais. É interessante observar que o entrelaçamento de contin gências se dá na existência de contingências semelhantes presentes em cada tema, ou seja, todas apresentam o mesmo objetivo: garantir direitos da criança e do adolescente. Na análise de contingências completas e incomplotas por tema veri ficou-se que o maior númoro do contingências completas se encontra nos temas Prevenção e Saúde. O conteúdo do tema Prevenção se relera tanto à exposição da criança e do adolescente a produtos de entretenimento - como filmes, shows, espetáculos e revistas - quanto ao consumo de subs tâncias e objetos que possam causar danos fisicos e psicológicos - álcool. O tema Saúde apresenta os direitos da criança e do adolescente referentes ao atendimento hospitalar e tratamento médico. Essas contingências com pletas indicam que há conseqüências descritas para controlar os compor tamentos desejados e que os legisladores se preocuparam em garantir di reitos básicos para a criança e o adolescente, desde o acompanhamento pré-natal para a mãe, até a atenção que o jovem deve receber no Sistema Único de Saúde Os cinco outros temas com maiores escores são: Família. Educa ção e Esporte. Alo Infracional. Liberdade e Guarda. Os quatros primeiros parecem mostrar a preocupação com os procedimentos e condições de aplicação da Lei com relação aos comportamentos inadequados dos ado lescentes (como roubo, furto e homicídio). Esses altos escores de contingências completas nestes temas de monstram uma característica importante do Estatuto que é a de prevenção à violação do direito das crianças e adolescentes, dando pouca ênfase a procedimentos punitivos. 52 .!»&:> flá .in n Todrrov M rit» M -ieiM . M.ir.i R o g ii« A Poííftlclo.OanlsC . Campa» - ‘e ie irx Os temas com menores escores de contingências completas (oram Pátrio Poder, Profissionalização, Medidas de Proteção, Juiz, Serviços Auxi liares, Procedimentos. Apuração de Infraçáo Administrativa, Recursos. M i nistério Público, Advogado, Proteção de Direitos. Crimes e Infrações Admi nistrativas e Disposições Finais. A falta de conseqüências para os comportamentos contidos nesses temas (como pode ser observado no Exemplo 4, abaixo) deve-se ao fato de existirem leis específicas que regulam as atribuições de cada agência controladora, como. por exemplo, a atividade dos Juizes que é regulamen tada pela LOMAN - Lei Complementar n° 35/79 e a atividade dos Promoto res que ó regulamentada pela Lei Complementar n* 75/93. Verifica-se. a partir de então, a necessidade de uma análise que faça a inter-relação entre o ECA e as leis correlatas a ele. EXEMPLO 4: TEMA: Do Juiz ANTECEDENTES A ri 146-A aulondade a que se refere esta Lei è o Juiz da Infância e da Juventude, ou o Juiz que exerce essa funçao, na forma da / ei de Organização Judiciária locai Ao formar as contingências percebeu-se que há artigos que partici pam de várias contingências diferentes. Os dados que remetem ao número de repetições de artigos nas contingências mostram o quanto a Lei é aber ta. o quanto não define bem as contingências, pois 34 artigos, de 267 no total, ou seja, quase metade dos artigos se repete duas vezes ou mais para que as contingências sejam formadas. Esse número de repetições sugere possíveis dificuldades na interpretaçáo da Lei. pois esta pode parecer in completa. No agrupamento de artigos para formar as contingências, a re petição pode suprir as lacunas da Lei fechando-a a diferentes possibilida des de interpretação, pois a contingência descreve as possibilidades de ação do sujeito e as conseqüências precisas para suas ações. Como resultado geral desta análise do contingências, obteve-se o percentual de 47,22% de contingências completas e de 52,77% de contin gências incompletas. Dada a importância do papel do ECA na sociedade brasileira e o fato de que uma lei seria escrita para que comportamentos possam ser controlados, esses resultados revelam que estas contingências incompletas podem ser uma das causas de problemas encontrados em sua aplicação. Essa falta de clareza em especificar as contingências pode, tam bém. levar em um nível prático, a possíveis incertezas quanto ao papel exer cido por cada agente que se encontra sob as diretrizes do ECA Cabe ressal tar que. em uma análise qualitativa, mesmo os artigos, os quais contém com portamentos, são pobres em descrevê-los operacionalmente, deixando as Motaoorengúioíi*. oonpnruntnlo. ojri.ru e woxIaiM 53 sim, à cargo da autoridade judiciária uma ampla interpretação discricionária da Lei. Um artigo incompleto abre precedente para várias interpretações, pois ao não esclarecer qual a conseqüência para a ação, esta pode ser manipulada articulando-se diferentes artigos para crimes semelhantes Isto pode ser visto diariamente, nos jornais, nas manipulações da lei feitas por Juizes. Quando o ECA enuncia que é dever da familie, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar os direitos do saúde e alimentação (artigo 4o) e não especifica a conseqüência para o náo cumprimento desta ação, o resulta do jurídico de uma sentença para este caso pode ser distinto para famílias diferentes (ou níveis sociais diferentes) que incorrem no mesmo delito. Referências Bibliográficas Fraley, L. E. (1998) New flthics and Racticos for Death and Dying from an Analiuls of lho sociocultural metacontingsncies. Behavior and social issues. 8, 9-39 Cambridge Center for Behavioral studies Glenn, S. S. (1986). 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Contingências Entrelaçadas e Contingências Não-Relacionadas João Cláudio Todorov Márcio Borges Moreira Maísa Moreira "Quando falamos de planejamento deliberado' da cultura, queremos indicar a produção de uma prática cultural 'por causa da suas consequências" (Skinner. 1953/2000, p 465). Os analistas do comportamento por décadas concentraram seus esforços no aprim oram ento conce itua i e experim enta l de questões concernentes ao comportamento de indivíduos. Este fato reflete positiva mente na quantidade e na qualidade de conhecimento produzido na área. No entanto, tanto esforço dedicado ao comportamento de indivíduos rele gou a um segundo plano estudos sobre o que Skinner (1953) chamou de comportamento de pessoas em grupo e o estudo de práticas culturais. A relevância de uma abordagem comportamental de práticas culturais, ape sar de ressaltada por Skinner cinco décadas atrás, permaneceu na pe numbra até a década de 80, quando Sigrid Glenn (1986) trouxe à tona o assunto com o conceito do metacontingencia. A iniciativa de Glenn não só retomou o assunto como também tem despertado o interesse de alguns analistas do comportamonto (Todorov, 1987; Andery & Sério. 1997; Lamal, 1991; Rakos, 1991; Martone, 2003; Todorov & Moroira, 2004). A possibilidade do lidar com comportamentos que vão muito além do comportamento de um único indivíduo, utilizando-se de referencial pró prio ô, indubitavelmente, um grande passo para a Análise do Comporta mento. Questões de destacada reíevància político-social têm sido aborda das sob a perspectiva do metacontingências: reeleição do congresso nor te-americano (Lamal & Greenspoon, 1992); controle da opinião pública amencana sobre a Guerra do Golfo (Rakos. 1993); controle corporativo da mídia (Laitinen & Rakos. 1997); a Constituição brasileira (Todorov, 1987), entre outros trabalhos. Glenn (1986) dofine metacontingências como contingências indivi duais entrelaçadas (interlocking em inglês no original), em que todas elas juntas produzem um mesmo resultado a longo prazo. Metacontingências envolvem contingências socialmente determinadas. O elo de comporta mentos individuaisem uma metacontingência é a conseqüência a longo prazo que afeta toda a sociedade (ou grupo de pessoas). Este mesmo camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight 56 J o A o C lé u iJ o t& d cv o v . »/ . ir ;:o M n rn im . M a « a M o r e r a conceito é apresentado em todos os estudos feitos sobre metacontingência ató 2004 (ex. Todorov, 1987; Rakos, 1991; Lamal 1992; Andery e Sério, 1997, Boher, 1998; Martone, 2003; Todorov & Moreira 2004) e em publica ções subseqüentes da própria Glenn (1988, 1990, 1991). É comum, nas ciências, mudanças, refinamentos, redefinições e aprimoramento de conceitos. Temos, como exemplo, o próprio conceito do operante que foi bastante modificado (Todorov, 2002) dosde sua proposi ção (Skinner, 1938). Não seria, portanto, estranho ou anormal que o con ceito de Metacontigência apresentasse alguma inconsistência ou não fos se exatamente descritivo dos fenômenos aos quais se aplica. É neste sen tido. e com a intenção de tom ar mais claro o conceito de Metacontingência. como proposto por Glenn, que expomos neste artigo nosso ponto de vista sobre o assunto. Ao confrontarmos o conceito com os vários exemplos que são apre sentados nos trabalhos sobre metacontingências, bem como com exem plos hipotéticos, o uso de um termo especifico no conceito nos chama a atenção: contingências entrelaçadas. O dicionário Michaelis (2000) define entrelaçar como enlaçar reci procamente. Enlaçar, por sua vez. é definido como prender, ligar, ter cone xão ou relação. Ao afirmar-se, portanto, que metacontingências são contin gências individuais entrelaçadas estamos falando (a) de algum tipo de liga ção ou conexão entre essas contingências individuais e (b) que esta liga ção, seja de que natureza for. deve ser necessariamente mútua. Quando conectamos um aparelho televisor a uma tomada geralmente dizemos quo o aparelho está ligado na tdtnada, e náo interligado. A direção da ligação é única (televisor tomada). No entanto, quarido queremos dizer que duas pessoas estão so comunicando via satélite, dizemos que elas estão interli gadas via satélite. A ligação se dá em dois sentidos (pessoa A U pessoa B). O conceito apresentado por Glenn estabelece que o elo entre compor tamentos individuais em uma metacontingência é a conseqüência a longo prazo que afeta toda a sociedade (ou um determinado grupo). Este elo parece-nos ser o ponto defin idor - necessário e suficiente - de uma metacontingência e, neste caso, as contingências individuais estariam li gadas a uma m esm a conseqüência a longo prazo. Não ó necessário nem mesmo dizer e em alguns casos não ó possível que as contingências individuais estão ligadas pe la conseqüência a longo prazo. O termo contingências entrelaçadas parece-nos estar sendo utiliza do em dois sentidos: (a) para denotar relações entre as contingências indi viduais e; (b) para ressaltar que as conseqüências resultantes de contin gências individuais são mais que a simples soma destas contingências, visto que os resultados obtidos nunca seriam atingidos por uma única pes soa, ou por pessoas agindo independentemente (Glenn, 1991; Andery à Sòrio 1999). Esta relação é entendida como contingências Individuais que afeiam outras contingências individuais. Neste caso (b), contingências indi- camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight >.ViUu.xiliny-1i* ;as : aiinportan*»nx». -uIIiim « socmuvk» 57 viduais podem ser ditas entrelaçadas, se entendermos o termo entrelaçadas como o proposto por Skinner, ao falar sobre esquemas de reforçamento. (1969, pp 120): where the behav io r o f one organism a lte rs the conlingencies affecting another, and v ic e -v e rs a Esta relação, no entanto, não é necessária para que um conjunto de contingências individuais se constitua em uma metacontingência. O primeiro uso apontado (a) sinal-za apenas um certo tipo agrupamento entre coisas - neste caso contingênci as. que resulta em uma conseqüência que, sem este agrupamento, rã o seria possivel. Para ilustrar, podemos fazer uma analogia com eventos da Física. Suponha que para mover um determinado objeto seja necessário aplicar uma força de 10N. e que você não disponha de nenhuma fonte que possa aplicar essa força (10N) ao objeto. No entanto, você tem três fontes de força (vetores 1 .2 e 3 de mesmo sentido e direção): dois vetores de 3N e uin de 4N. O objeto só se moverá se os três vetores forem aplicados. Neste caso, a conseqüência - mover o objeto - só ocorrerá devido à aplica ção dos três vetores ao objeto. Os físicos, neste caso, não diriam que os três vetores se entrelaçaram para a produção da conseqüência última (m o ver o objeto). Em uma metacontingência (definindo esta pela conseqüência a lon go prazo que ocorre em função de uma série de contingências individuais) podemos ter contingências individuais que afetam outras contingências in dividuais, bem como contingências que. simplesmente, ocorrem com uma relativa simultaneidade. Tomemos com o exem plo, para ilus tra r nossos argum entos, a metacontingência da despoluição ambiental - para efeito de simplificação, a despoluição de um río. Suponhamos que um agricultor - que planta milho - more sozinho às margens desse rio. Ele houve dizer que há na cidade próxi ma uma nova semente de milho, e que este milho (um transgènico) não necessita do uso de defensivos agrícolas - defensivos estes que poluem o rio. Apesar da semente nova ser um pouco mais cara que a convencional o agricultor faz as contas e descobre que terá um aumento de 30% nos lucros se usá-la, já que economizará ao não utilizar pesticidas, além de obter um pequeno aumento na produtividade. O agricultor então planta a semente transgênica. Ao assim fazer o inadvertido agricultor já está fazendo parte de nossa metacontingência de despoluição do rio. Cinco quilômetros á frente da pequena propriedade deste agricultor, também às margens do rio, encontra-se um curtume. Este curtume, apesar de pequeno, despeja diariamente centenas de quilos de subprodutos resul tantes do beneficiamento de couro - outra fonte de poluição do nosso rio. O dono deste curtume, pesquisando na Internet, descobre que se ele deposi tar os dejetos que lança diariamente no rio em um recipiente devidamente fechado, ele poderá obter, devido à fermentação dos dejetos, um pequeno estoque de butano (gás combustível), que poderá utilizar como fonte alter camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight 58 J o f io C lá u n lo \c*iuv/, M A ru o B u p a s M i r a r a . M u i » r .U f g r a nativa de energ;a em seu curtume. Ele assim o faz, e reduz em 50% a quantidade de dejetos que joga diariamente no rio. Mais uma contingência individual passa a fazer parte de nossa metacontingéncia. Em uma pequena cidade, pela qual o rio passa, o prefeito, que vem aumentando sua fortuna possoal rapidamente, deseja superfaturar mais uma obra. Como a cidade já possui um ginásio de esportes, um pequeno centro de vendas para ambulantes e duas pontes, o prefeito opta por cons truir uma estaçào de tratamento de esgoto, que depois de pronta reduzirá em 25% a quantidade de esgoto não-tratado jogado diariamente no rio, constituindo, até o momento, a terceira contingência individual em nossa metacontingéncia. O exemplo acima, apesar de caricato, ilustra bem nosso ponto de vista sobre o entrelaçamento de contingências individuais. Nenhuma das contingências apresentadas tem qualquer relação com as demais, no en tanto a ocorrência das três produzirá, a longo prazo, uma conseqüência para aquela comunidade, que é a despoluição do no que os abastece de água, e continuará abastecendo por um tempo ainda maior. Contingências individuais, no entanto, podem estar de alguma for ma relacionadas dentro de uma metacontingéncia, sobretudo no que se refere à ‘ expansão“ destametacontingéncia, e a i sim temos oportunidade para utilizar o sofisticado termo: entrelaçamento de contingências. Continuando o exemplo de despoluição do rio, suponhamos que há naquela pequena cidade uma ONG que sai de porta em porta dando escla recimentos sobre a importância de se preservar recursos naturais e infor mando aos moradores da cidade como contribuir para esta preservação. Neste caso os comportamentos individuais dos membros da ONG se entre laçam aos comportamentos individuais dos moradores, tendo, portanto, o duplo papel de ação e ambiente comportamental para ação de outros (Glenn, 1991). Outro aspecto importante a ser considerado é que as contingências individuais dentro da metacontingéncia não são mantidas necessariamen te pela conseqüência a longo prazo comum a todas as contingências, mas também pelas conseqüências diretas de cada contingência individual. Como vimos no exemplo anterior o comportamento dos três primeiros agentes na metacontingéncia nào estava sob o controle da despoluição, mas sob o controle de obter lucros individuais. Dessa forma, contingências individuais podem se perpetuar indefinidamente mantidas apenas por suas conseqü ências próximas (o nosso esperto agricultor pode continuar usando a se mente de milho transgênico enquanto for lucrativo, sem jamais se preocu par com a qualidade da água do rio). O que tentamos expor, portanto, é que uma Metacontingéncia pode ser definida por um conjunto de contingências individuais que. a longo pra zo, resultam em uma conseqüência comum, diferente das conseqüências das contingências individuais, para um determinado grupo de indivíduos. camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight »/ c U w o rt n p e n o B S c o r a o r t a in n iv a , a u lliiv i *i aor.iBon&i 59 Se contingências individuais so entrelaçam, ou se a conseqüência comum ao grupo passa a controlar o comportamento de indivíduos são pontos que pertencem á análise de uma metacontingéncia em particular, não á sua definição. Referências Bibliográficas Andery, W. A. P. A.. & Sério. T M. A P (1997). O conceito de meUicontingôncias: afinal, a velha contingência do refoiçamerto è insuficiento? In R. 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(Skinner, 1953/2000, p. 363). A análise do comportamento estabelece como seu objeto de estudo a relaçáo do organismo com o ambiente ã sua volta, e enfatiza a importân cia das variáveis ambientais e do organismo na determinação do compor tamento. Grande parte das descobertas dos princípios comportamentais ocorreu a partir de pesquisas experimentais com sujeitos não humanos e apresentavam, como objetivo principal, a descrição das relações entre o organismo e o ambiente. A principal descoberta que marcou a análise do comportamento e a diferenciou de outras abordagens ccmportamentais foi o comportamento operante, caracterizado pela ação do indivíduo sobre o ambiento, modificando-o e, por sua vez sendo modificado pelas conseqü ências de sua ação (Skinner. 1957/1978). O comportamento pode ocorrer tanto em ambientes não sociais como om ambientes sociais. Numa situação não social o organismo opera direta mente sobre o ambiente, o qual estabelece as condições nas quais uma resposta emitida pelo organismo será reforçada. Por exemplo, num procedi mento de discriminação simples um rato responde pressionando uma banra colocada à esquerda da caixa experimental na presença da luz verde; já na presença da luz vermelha ele pressiona uma barra colocada á direita da caixa, recebendo uma pelota de alimento apôs as respostas. Por outro lado, 1 O profcent» irabalho é uhvj voreão abrev iada d a d íssarlação do m estrodo do oiiriw lro autor apffisonbitla. em 2003 . a o Program a d e EaUidOS Pós-G raduados em Psicologia Experim ental; ArAlfBé do Coffiportam nnto d » PU C -S P , sob orientação do segundo autor camila paiffer Highlight 62 fticcrdo Cor1'!'» Maojoa, KitiMtf> N w t Barmcn existem situações nas quais a presença de outros organismos pode alterar a relação com o ambiente. Nesses casos, a complexidade aumenta, pois há uma interação entre pelo menos dois repertórios comportamentais. Skinner (1953/1994) descreveu um experimento que estabelecia uma situação coo perativa entre dois pombos: "...dois pombos foram colocados em gaiolas adjacentes separadas por uma placa de vidro. Junto ao vidro, lado a lado. havia duas colu nas verticais de Irês botões cada. uma coluna ao alcance de cada pombo. O aparelho foi montado para reforçar ambos os pombos com comida, mas apenas quando bicavam botões correspondentes, si multaneamente. Apenas um par de botões funcionava em um mes mo momento. A situação requeria uma cooperação ainda mais com plicada. Os pombos deveriam explorar os três pares para descobrir qual o eficaz,e deviam bicar os dois botões em cada par ao mesmo tempo. Essas contingências devem ser divididas. Um pombo - o ti- der - explora os botões, bicando-os em uma ordem característica ou mais ou menos ao acaso. O outro - o liderado - bica o botão oposto, seja qual for o botào bicado pelo líder. O comportamento do liderado é quase exdusivamente controlado pelo íider, cujo comportamento por sou turno é controlado pelo aparelho que atribui ao acaso os reforços entre os três pares de botões. Dois liderados ou dois lideres colocados juntos só casualmente resolvem o problema A função do líder pode mudar de um pássaro para outro em um periodo de tem po, e pode se originar uma condição temporária na qual os dois são liderados“ (p. 293). Na situação experimental do discriminação simples descrita anterior mente a ação do sujeito se deu diretamente sobre o ambiente, sem a articu lação com outro organismo e sem sua mediação. Portanto, trata-se de res postas emitidas num ambiente não social. O experimento dos pombos, en tretanto, demonstra o envolvimento entre o repertório comportamental de dois organismos que compartilham o mesmo ambiente. Neste caso pode-se falar que os pombos se comportam em um ambiente social. Grande parte do comportamento humano ocorre em ambientes so ciais que se caracterizam principalmente pela importância de uma outra pessoa como integrante fundamental desses ambientes. Essa outra pes soa apresenta uma peculiaridade: pode ser um “falante' ou um “ouvinte', ou seja. possui a capacidade, selecionada filogenéticamente de emitir e ouvir sons, aliada à capacidade, selecionada ontogenetica e culturalmente, de se comunicar por meio de signos linguísticos. O fato de o homem poder sor um “falante" e um ‘ ouvinte’ apresenta, de imediato, uma implicação: a ação sobro o ambiente pode ser indireta, pela mediação de outras pesso as. Por essa razão o comportamento verbal é comportamento social. Skinner (1953/1994) definiu comportamento social como *o comportamento de duas ou mais pessoas uma em relação à outra ou em conjunto em relação ao ambiente comum" (p.285). MevuTMtfirrçOncjftii m irocrtan ien io . cu tura » scowJaJt» 63 Podem ser retomados agora os seguintes aspectos tão importantes para a compreensão do que Skinner chama de ambiente social e comporta mento social. O comportamento social, como o próprio nome diz, ocorre em ambientes sociais. O comportamento social caracteriza-se pela ação conjun ta de dois ou mais organismos em relação, um com o outro, ou conjuntamen te em relação a um ambiente comum e. no caso de humanos, apresenta a vantagom de agir indiretamente sobre o ambiente por meio do comporta mento verbal. O ambiente social, por sua vez, apresenta todos os aspectos de um ambiente nào social, como. por exemplo, estímulos antecedentes e conseqüências, com a peculiaridade desses aspectos poderem ser estabe lecidos por outras pessoas. Como afirmou Skinner (1953/1994): “Muitos reforços requerem a presença de outras pessoas. Em alyuns desses (reforços] como em certas formas de comportamento sexual ou pugilistico, a outra pessoa meramente participa como um mero ob jeto. Nào se pode descrever o reforço sem referência ao outro orga nismo. Mas o reforço social geralmente é uma questão de mediação pessoal. Quando a màe alimenta a criança, o alimento, como um refor ço primário, nào ó social, mas o comportamento da mão ao apresenta- lo é... O comportamento verbal sempre acarreta reforço social e deriva suas propriedades características desse fato. A resposta ‘um copo dágua por favor' nào tem efeito no ambiente mecânico, mas em um ambiente verbal apropriado pode levar ao reforço primário. No campo do comportamento social dá-se imporlància especial ao reforço com atenção, aprovação, afeição e submissão" (Skinner, 1953/1994. p.286). A definição de comportamento social apresentada por Skinner (1953/ 1994) o distancia de outras áreas do conhecimento que abordam os fenóme nos sociais em termos de "leis sodais". "forças sociais" e 'situações socia s", que não levam em consideração que os fenômenos sociais são. a partir da perspectiva de Skinner, determinados e constituídos por comportamentos do indivíduos em interação. Uma antiga lei da Economia chamada Lei de Gresham, diz Skinner, afirma que ‘ a moeda má tira de circulação a moeda boa". Entretanto, diz ele. ossa lei pode ser explicada em termos do contin gências de reforço: "se o indivíduo quo possui dois tipos de moeda, uma boa e outra má. tende a gastar a má e guardar a boa (...) e se é válido para um grande número de pessoas, surge o fenómeno descrito pela lei de Gresham. O comportamento do indivíduo explica o fenómeno do grupo" (p 286). Skinner apontou ainda uma questão metodológica importante no momento em que afirma que sua preocupação é com a extensão dos prin cípios comportamentais utilizados para a análise do comportamento do in divíduo para análise dos fenômenos de grupo. Sua postura podo sor cons tatada a seguir: ‘ Aplicar nossa análise aos fenômenos do grupo é um modo excelen te de testar sua adequação, o se formos capazes de explicar o com portamento de pessoas em grupos sem usar nenhum termo novo ou camila paiffer Highlight 64 líctirdo Ccoéa RobflisoAlvee Bar«*» sem p(t)ssu{Xir nenhum novo processo ou princípio, teremos demons trado uma promissora simplicidade nos dados ' (Skinnor, 1953/1994. p. 286). Alguns analistas do comportamento, interessados em análises de fenômenos sociais e que vêm contribuindo com proposições e discussões teóricas que possam fornecer e auxiliar o desenvolvimento de instrumentos de anàfise para lidar com fenómenos sociais, apontam, a partir das propo sições de Skinner que: 1} analisar fenómenos sociais não e a mesma coisa quo analisar a soma das contingências individuais dos participantes do grupo, dado que os efeitos da ação em conjunto não podem ser alcançados somente com a participação de um único indivíduo ou sem a participação dos outros (Glenn, 1986, 1988, 1991; Malagodi. 1986; Pierce, 1991); 2) os princípios quo rogulam o comportamento social são os mesmos quo regulam o comportamento não social (Pierce. 1991; Skinner, 1953/1994) A partir dos parâmetros teóricos e metodológicos estabelecidos por Skinner em 1953 e em outros trabalhos (1948/1978, 1971/1983, 1978). al guns analistas do comportamento vêm demonstrando um crescente inte resse pelo estudo de fenômenos sociais de larga escala, pela busca por soluções de problemas sociais e pelo planejamento de práticas culturais (Biglan, 1995; Glenn, 1986, 1988,1991; Guerin. 1992,1994; Holland, 1978; Kunkel. 1970; Malagodi, 1986; Malagodi & Jackson, 1989; Mattaini & Thyer, 1996: Pennypackor, 1986). Algumas razões para o interesse no estudo de fenômenos sociais de larga escala são: 1) a necessidade de dar continuidade às tentativas de Skinner em incluir análises sociais como componentes fundamentais do behaviorismo ra dical ampliando assim o campo de atuação do analista do comporta mento (Malagodi, 1986); 2) o estudo dos problemas do indivíduo conduz a determinantes que estão no vasto mundo social (Kunkel & Lamal, 1991): 3) o desenvolvimento de novas ferramentas teóricas que capacitam o ana lista do comportamento a ir além do indivíduo único e de pequenos grupos. Entre essas ferramentas estão: o comportamento governado por regras e metacontingências. que vêm sendo considerados como conceitos legitimos e apropriados para análise de fenômenos de gran de escala (Kunkel & Lamal, 1991). Metacontingências e a análise de fenôm enos sociais de grande escala Alguns autores que vêm se dedicando ao estudo de práticas culturais (Andery & Sério. 1999; Glenn. 1986, 1988, 1991; Kunkel. 1991; Kunkel & Lamal, 1991; Lamal & Greenspoon. 1992; Malagodi & Jackson, 1989; Rakos 1991; Todorov, 1987) em questões referentesa: organizações, sistemas po- »/«taBcntlnpSntf«»: ajmoortainBrta cultura « eoo&oaoí 65 lítico-económicos, sistemas penitenciários, sistemas de saúde, educação, influência da mídia2 no mundo oonternporàneo, movimento feminista (Martone. 2000), salientam a importância do conceito de metacontingências como for ma de se analisar fenómenos de grande escala. Metacontingências doscrevem relações funcionais em um nível dis tinto do comportamento individual- elas descrevem a relação entre práticas culturais e seus produtos (Andnry & Sério, 1999). Práticas culturais são compostas de muitas contingências comportamentais entrelaçadas. São as contingências comportamentais entrelaçadas que permitem aos seres humanos agirem no ambiente em conjunto, possibilitando uma série de conseqüências que não seriam possíveis de serem produzidas somente pela da ação de um único indivíduo. Essas contingências sao de fundamental importância para a com preensão do comportamento humano dentro da cultura e das formas pelas quais novos indivíduos são inseridos para dentro dela. Quando um novo indivíduo vem ao mundo, a cultura necessariamente precisa ntroduzi-lo dentro de suas vastas redes de relações O excessivo cuidado que o bebê humano necessita para sobreviver demonstra a necessidade de uma pro- paração para sua inserção cultura!. O ambiente encontrado por ele já está pronto e algumas partes fundamentais (do ambiente) devem adquirir, para a sobrevivência do novo indivíduo, alguma função comporta mental. A co mida. o olhar dos outros, a voz humana, o toque materno são alguns dos materiais brutos sob os quais o repertório comportamental do bebê irá se constituir (Glenn, 1991). O comportamento verbal é um dos grandes res ponsáveis pela transmissão de padrões comportamentais através das ge rações (Glenn, 1991). Uma prática cultural ó definida por Glenn (1988) como: "...um subconjunto de contingências entrelaçadas de reforçamento..." (p. 167). Isto implica no entendimento da complexidade da cultura humana, na qual pessoas se engajam em atividades determinadas para conjuntamente pro duzirem coisas comuns a todos os seus integrantes. No entanto, a autora deixa muito claro que indivíduos, ao se engajarem em atividades conjun tas. são reforçados pelas contingências únicas e características de sua história ontogenética, e também pelos produtos agregados á prática, üu seja, para que se posso analisar o fenômeno cultural, deve-se estar atento para a descrição do mesmo comportamento a partir de duas perspectivas: o individual (ontogenético) e o cultural, ou, como Glenn nomeia, contingên cias comportamentais. em um nivel, e metacontingônc.ias; em outro. ■ O termos mídia o Imprensa serào inrarcambiávois neste trabalho por terom sido <bef»nldoa trn Houai&s [2001) da seguinte maneia; Imprensa: 4 qualquer me .d ut-ltzado nn difusão do informações Jornal isticai; conjunto doa proces sos dfi voiculaçâodo informações prnaiisticas por veículos impto&sos ou aMrònicos Ip.1ü84) Mídia: 1. todo o suporte de dltesàode informação quecorstitu o rrélo intermediário de oxpres3éo espaz do transmitir mensagens (p.1919) Esto decisão fci tomada para mamor ;i nomenclatura origina) de cada oolcrdtado. camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight 66 HlcorUo Com&a Martofie, Roberto Av m aitriaco Todorov (1987) fomeceu-nos um exemplo da aplicação do conceito de motacontingéndas em fenômenos sociais de grande escala. O autor ana lisou o movimento pela redemocratização do Brasil que possibilitou a mu dança de um governo militar para um governo civil nos anos 80. A conseqü ência a longo prazo (produto cultural) ora a saída dos militares e dos políticos diretamente ligados a eles do govemo e a passagem do poder a um partido civil. A transição ocorreu como resultado de movimentos sociais (práticas culturais) que envolveram milhões de pessoas e milhares de entidades res ponsáveis pela organização da sociedade civil. Com a abertura política, inici ada pelo govemo do General Geisel, abandonou-se paulatinamente o uso da torça que impunha governos sem legitimidade popular. Todorov sugeriu que as contingências que envolviam o comportamento político começaram a mudar, tornando possíveis grandes manifestações como o movimento pelas eleições diretas, conhecido como "Diretas já", quo mobilizou milhões de pes soas em todo país - políticos, artistas, cantores e outros cidadãos - e amplos setores da sociedade civil organizada - entidades de defesa dos direitos humanos, sindicatos e entidades representantes de classes profissionais. Em outros tempos esse movimento teria sido considerado desobediência civil o reprimido violentamente. Como apontou Todorov (1987). "Novas contingências, que afetam o comportamento de indivíduos, se estabeleceram e foram organizadas em melacontingèncias pelo discurso unificado de amplos se/ores. do centro à esquerda O obje tivo o longo prazo (salda dos militares e a passagem do poder a um partido civilj coordenou diferentes comportamentos submetidos o conseqüências imediatas que, separadamente, pouco teriam a ver com a redemocratização do pais “ (p. 11). O autor afirma que são muitos os exemplos de comportamentos específicos de diferentes pessoas e grupos submetidos a diferentes conse qüências que comporiam uma metacontingênda. Por exemplo, o que teria a ver uma rebelião de professores contra o autoritarismo de dirigentes de uma escola, se vista isoladamente, com a redemocratização? O próprio autor esclarece: “O efo desses comportamentos individuais em uma melaconttngênda è a conseqüènda a longo prazo que afeta toda a sociedade, o o que liga essa cotiseqüêruja a longo prazo às nossas ações do dia-a-dia, è o discurso político, visto aqui, sob a ótica da análise do comportamento, enquanto comportamento verbal. Esse discurso poli tico rvge as interações entre as pessoas organizadas em grupos e assim mantém seu comportamento enquanto a conseqüência a longo prazo não chega" (Todorov. 1997. p 11). A Imprensa enquanto uma agência controladora camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight f/o L K K irm y ftro a v oomacrisiniunto, cuNuM *i 67 Skinner (1953/1994) afirmou que o grupo social exerce um controle sobre seus membros por intermédio do poder de reforçar ou punir. O grupo, segundo Skinner. geralmente não é bem organizado e por <sso, na tentat va de o rg a n iza r a co n v ivê nc ia e n tre ind iv íduos tem criado agênc ias controladoras. Essas agências manipulam um conjunto particular de variá veis, sendo mais bem organizadas do que o grupo como um todo, poderdo assim operar com maior sucesso. As agências descritas por Skinner foram o Governo, a Religião, a Psicotorapia, a Eoonomia e a Educação. Cada uma dessas agências deriva seu poder da capacidade de con trolar o comportamento dos indivíduos no grupo social. Assim, as agênc as podem controlar o comportamento das pessoas avaliando e liberando con seqüências para o comportamento de algumas maneiras: bom/mal, leçal/ ilegal (sistema de avaliação mais comumente aplicado pelo Governo); bem/ mal. pecado/virtude (sistema de avaliação da Religião); “bens" matéria s. ganhos/pe rdas (s is tem a da E conom ia): ce rto /e rra d o (E ducação e Psicoterapia) e estabelecendo contingências especificas òe acordo com seu âmbito de atuação. Além das agências citadas por Skinner é possível encontrar algu mas outras que podem participar no controle social do comportamento cos Indivíduos. A rigor, algumas áreas do conhecimento (medicina, publicida de, farmacologia, por exemplo) ou outros grupos detentores de reforçadores específicos poderiam ser tomados como agências controladoras. Um desses grupos, de especial importância paraeste artigo ó a mídia que detém o reforçador “ informação". Esta agência tem o poder de controlar comportamento divulgardo informações sobre a 'realidade', e produzindo o que Guerin (1992) descre veu como conhecimento socialmente produzido. Os controlados, nesse caso os consumidores de informação, ficam sob controle de uma realidade construída, sem contato direto com o ambiente, possibilitando assim a manipulação do que é relatado sobre esse ambiente por alguns membros da comunidade. Vivo-se hoje em dia no que chamamos de “aldeia global", repleta de instrumentos cada vez mais sofisticados e eficientes que permitem a trans missão da informação em segundos de uma parte à outra do planeta. O avanço da tecnologia, assim como a grande oferta de aparelhos que rece bem e transmitem informação, vem permitindo a um número cada vez mai or de pessoas o acesso a uma rede de comunicação sem precedentes na história da humanidade. A Internet pode ser considerada um exemplo claro da agilidade e da rapidez ao acesso de uma infinidade de informações. Ela vem desempenhando um papel crucial no que alguns autores denominam idade da Revolução da Informação. Uma conseqüência fundamental dessa mudança é o lugar de destaque que toda a indústria da midia de massa vem dando ã Internet. Segundo Dizard (2000) todas as grandes firmas de midia. e grande parte das menores, estão adaptando suas operações para a realidade da Internet, levando-as a uma competição pelos usuários A camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight 68 R b d r t ú C i v i & i M a n o n t» í í r t ic r t o A ,v n » íV ar^C O América on Une (AOL), o maior provedor de acesso á Internet do mundo, durante os anos 90, passou a expandir seus serviços para além da informa ção impressa na rede, incluindo recursos multimídia de voz e vídeo para os mais de 20 milhões do assinantes. Ao longo desse período a rnédia de uso do AOL aumentou para 45 minutos por dia em 1998. quando dois anos antes era de apenas 19 minutos. Dizard (2000) descreveu uma pesquisa que apontou os sorviços mais utilizados da Internet. Em 1997. o serviço de informações e notícias aparecia em primeiro lugar sendo utilizado por 87.8% dos usuários, seguido pelo correio eletrônico, utilizado por 83.2%. Os da dos demonstram a expansão dos serviços disponibilizados na rede e a busca cada vez maior por novos usuários. Mais do que isso, apontam o quanto a informação é importante para grande parte das pessoas. Uma tendência na indústria da mídia ó a fusão de empresas e a formação de grandes conglomerados que abrangem um grande número de modalidades de meios de comunicação. A maior fusão da história, em ja neiro de 2000, entre a AOL e a Time Warner, gigante da comunicação e entretenimento, possibilitou a formação de um dos maiores conglomerados de niidia e comunicação (Arbex, 2001; Dizard. 2000). Paralelamente ao desenvolvimento tecnológico e a expansão do número de usuários de veí culos de comunicação, ocorreu um processo de concentração de poder nas mãos de um pequeno número de corporações da mídia (Arbex, 2001; Dizard, 2000; Laitinen & Rakos, 1997; Rakos, 1992). Dizard (2000) argu mentou que estratégias de sinergia atualmente dominam a nova mídia, podendo ser uma ferramenta perigosa, pois concentra o poder e a riqueza nas mãos de um pequeno número de grandes empresas, que controlariam a produção da informação sem possibilidade de confronto. Os grandes conglomerados de midia e comunicação mantêm es treitos vínculos com o poder do Estado, mesmo que tais vínculos não se jam tão simples e diretos aos olhos do grande público (grupo de controla dos) (Arbex, 2001). O poder alcançado pela mídia na sociedade contemporânea tem levado autores de diferentes áreas do conhecimento a refletir sobre possí veis implicações políticas, econômicas e sociais (Arbex, 2001; Conti, 1999; Dizard. 2000; Mamou. 1992; Rakos, 1993) Arbex (2001) chega mesmo a questionar: "até que ponto os meios de comunicação de massa são uma força determinante nos rumos dos fatos históricos (isto é. da história públi ca, do evento político)?" (p. 38). A eleição de Fernando Collor à presidência do Brasil, em 1989, foi um exemplo das relações estabelecidas entre grande parte da Imprensa brasileira e o Palácio do Planalto. Conti (1999) descreveu com riqueza de detalhes as relações entre os proprietários da grande Imprensa, jornalistas do destaque e aliados do ainda candidato Fernando Collor, no sentido de promovê-lo como um novo e jovem talento da política nacional con» o título de “caçador de marajás” Ao outro candidato. Luís Inácio Lula da Silva, restou a imagem do perigo, do radical, de alguém que iria libertar a classe camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight yeic«iir.'ioéw:3V oonpn-tnnmlo, euf.cn» n tacosacm 69 trabaihadora da opressão expropriando a classe dominante Entre os exem plos de manipulações da Imprensa brasileira, nesse episódio, fornecidos pelo autor e que foi de fundamental importância no rumo da eleição. está a divulgação, no Jornal Nacional da TV Globo, do último debate ocorrido en- ire Lula e Collor antes das eleições. No dia seguinte ao debate, o Jornal Nacional veiculou uma reportagem com o resumo dos principais momen tos, dando muito mais ênfase às participações de Collor e dedicando um tempo maior da reportagem a ele. O Jornal Nacional naquela época tinha um público fiel de 60 milhões de pessoas e era o programa de maior audi ência da televisão brasileira. Collor ganhou a eleição3. Um exemplo clássico das relações estabelecidas entre Estado e Im prensa, no jornalismo internacional, foi o observado durante Guerra do Golfo em 1991 De acordo com Mamou (1992) a Guerra do Golfo obrigou toda a Im prensa a se questiona r quan to ao seu papel, sua função e sua instrumentalização, levando ao surgimento de uma série de reflexões sobre a cobertura do episódio. Durante seis meses, entre agosto de 1990 e janeiro de 1991, antes da intervenção bélica norte americana, houve o que Art>ex (2001) chamou de "construção de uma metáfora interpretativa" polarizada entre o Bem o o Mal De um lado difundiu-se a idéia de um pais {Estados Unidos) com valores democráticos, cristãos e pluralistas; de outro a idéia de um Iraque islâmico e intolerante, abrigo de terroristas fanáticos e que não reconhecia qualquer direito das mulheres. Essas idéias foram transmitidas numa operação tecida entre o Estado norte americano e a mídia por intermé dio de filmes, fotos e reportagens especiais que mostravam a "humanidade" dos soldados norte americanos indo para guerra, despedindo-se de suas mulheres e dos seus filhos; enquanto que os iraquianos eram vistos como fanáticos religiosos com imagens que mostravam um oriente exótico (estra nho, hostil), mulheres cobertas por véus e crianças armadas com metralha doras. Construiu-se uma metáfora aterradora dos islâmicos, apresentado-os sempre como vilões e exóticos, restando aos norte-americanos a tarefa messiânica de libertar o mundo do tenor, quando na verdade os interesses norte americanos estavam nas reservas do petróleo ocupadas por Saddam Hussein no Kuwait (Arbex, 2001). Uma outra questão abordada por Arbex (2001) é quando a metáfora se transforma em convicção pessoal. Muitos acreditam que nâo houve mortes no conflito do Golfo, pois as imagens transmitidas pela televisão mostravam uma guerra ‘ cirúrgica", que atingia com impressionante preci são os alvos em Bagdá, todos eles "inanimados". Aparentemente apenas A inda q ue nSo se posso fazer um paralelo direto e^ tre o comportanvcnto da m ídta neste caso (fnvorec.anco o desem penho <Je Collor) e o com portam ento da população d u ra r ia a s etoiçQes (esoolhGodo-o oom o prosiconle), duvu-se terr brar que íi m o$m a m ldio (ainda q ue aliadaa vártoe grupos ecopòrrscos. financeiros e do governo) tem sido apontada, tam bém . oDtno a responsável pela dep os 'çâo d o própno Collor, incerU vando um m ovim ento popular M ia sua d e p c s lj ío (Im p ea crm e n t). N ào é ‘am bém despercebido o pape* d a m íd ia na última oloiçíio do prôprw l uls liiacio Luia d a Stfva. num a dem onstração clara d e controlo mútuo entr*j açôocsas oe controle e controlado« camila paiffer Highlight 70 H t ta id o C c rtf c i M o l o - ie . R o t o r ia A lv o » Q a ia o o edifícios vazios e equipamentos haviam sido atingidos. Na verdado, foram despojadas 88.500 toneladas de bomba sobre a cidade. Morreram 100.000 pessoas em quarenta dias d© guerra. Como relata Arbex (2001) os noticiá rios da época mostravam apenas o número de soldados amoncanos mor tos e a quantidade de armas iraquianas destruídas, não mencionando o número de iraquianos mortos. Os interesses do Estado norte americano foram bem defendidos pela mídia nosse episódio, ainda mais quando se cooptou o consentimento de grande parte da opinião pública mundial a favor da intervenção norte americana sobre o Iraque. ‘Mosmo a divulgação do uma cifra espantosa como a Guerra do Golfo - 100.000 mortes em apenas quarenta dias não produz efeitos nem sequer longinquamente comparáveis aos que seriam criados caso fossem transmitidas as imagens de corpos sendo estraçalhados por rajadas de metralhadoras. A mldia conquistou, de fato. a capaci dade política e tecnológica de ocultar até genocídios de grandes pro porções. Esse dado ooloca, com urgência, as indagações sobro o futuro dessa perigosa articulação de interesses entre as grandes corporações da mídia e o Estado' (Arbex. 2001, p. 121). Analisando práticas culturais: a informação como com ponente fundamental da análise O papol da midia no mundo contomporáneo. assim como o poder de influenciar e produzir fatos, têm sido muito discutidos em diferentes áre as do conhecimento (por exemplo, Arbex, 2001; Chomsky, 1988; Conti, 1999; Dizard, 2000, Eco, 1984; Mamou, 1992). A análise do comportamento tam bém vem contribuindo, de forma ainda muito modesta, com essa discus são. Essa ciência dispõe de instrumental teórico capaz de abordar ques tões referentos à cultura. Entretanto, grande parte dos trabalhos de analis tas do comportamento interessados pela cuttura, ainda se caracteriza mais pela descrição e análise de algum fenômeno social do que pelo desenvol vimento de tecnologias de intervenção (Lamal, 1991). O estudo da mídia e de sua influência sobre práticas culturais inse re-se na lista de temas abordados por analistas do comportamento interes sados em questões culturais. Rakos (1992), por exemplo, salientou a natu reza informacional da sociedade contemporânea, ressaltando que analis tas do comportamento Interessados em analisar a cultura devem necessa riamente abordar questões referentes à influência da mídia no controle do comportamento. O autor afirmou ainda que a construção do um ambiente altamente tecnológico acabou por definir a informação e não mais o capital como mercadoria mais valiosa. Segundo ele, os sistemas sócio-politicos basoados na propriedade do capital são menos importantes que aqueles baseados na propriedade da informação, pois a informação agora produz riqueza. Não é por acaso que os Estados Unidos são considerados o banco de informações do mundo e abrigam os maiores conglomerados de midia camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight MeuuwiinjiAtiCírèt: a»ir<port.iinan»: CU(ut6 o ssciodiuch} 71 do planeta, dispondo do uma enorme rede de informações aliada a uma sofisticada tecnologia4 (Dizard, 2000). Fundamental para analistas do comportamento interessados no rela tar pela Imprensa, sâo as duas grandes categorias de infonnação identificadas por Rakos (1992) observadas no mundo contemporâneo. A primeira catego ria inclui todas as informações que são impossíveis de ser controladas. "Por causa da intensa tecnologia de transferência de informação a.je ó independente de fronteiras artificiais, políticas, sociais e culturais - através da educação, de viagens, telecomunicações e da Imprensa e da midia eletrônica - as pessoas em todo mundo são expostas a eslimulos que rapidamente adquirem propriedades reforçadores con dicionadas. Esto processo de condicionamento 6 estendido para um número continuamente maior de eslimulos à medida que a lecnotogia expande a amplitude de bens potencialmente desejáveis - bens ma teriais em geral, incluindo aqueles que produzem mais informação e conhecimento' (Rakos. 1992. p. 1503). A informação, por intermédio de uma tecnologia que gera meios de comunicação cada vez mais rápidos e eficientes, é disseminada introduzin do estímulos que muitas vezes podem estabelecer condições que resultam no consumo de bens materiais específicos e que podem adquirir proprieda des reforçadoras. Um problema apontado por Rakos (1992). decorrente da transmissão de informação impossível de se controlar, é de extrema impor tância para analistas do comportamento a falta de controle dos indivíduos sobre o ambiente. As propriedades reforçadoras das tecnologias alardeadas pelos meios de comunicação podem ser tão poderosas que tornam qual quer contracontrole impossível. De acordo com Rakos (1992) o problema da incontrolabilidade tendo a se intensificar com o desenvolvimento conti nuo das tecnologias de transmissão de informação. A segunda categoria de informação identificada por Rakos (1992) inclui as que são rigidamente controladas, não possibilitando ás pessoas a discriminação das contingências em operação, assim como o contracontrole. Durante a Guerra do Golfo a mídia norte-americana agiu de forma articula da com o Estado. Rakos (1993) demonstrou as formas pelas quais a opi nião pública norte-americana foi induzida a apoiar um conflito armado con tra o Iraque. Foram utilizadas duas formas de manipulação: a dissemina ção de noticias falsas sobre ações do exército iraquiano quando invadiu o Kuwait, e a censura de notícias. As variáveis do controle do comportamen to da midia om relatar os fatos referentes á Guerra do Golfo permaneceram totalmente não cognoscíveis para a opinião pública que tinha acesso aos fatos somente por intermédio da Imprensa. Os fatos relatados pela midia foram tomados por grande parte da opinião pública como cabais. Náo hou- • O domínio rtorte am oricnno sobto a fnformaçôo podo sor nrritxildo tam bém outras práticas cultum iè com o. u>or exe m p o : dustinaçao do enorm es verbas para pescjulsns u desenvolvimento ter.ro loçK .oom vátias á re a s do conhecim ento, Incluída ai, a mldla. camila paiffer Highlight 72 Ricardo Cctrèa l/arkxie. RcCj* * o A ve« 0an#co ve a possibilidade, para grande parte da opinião pública, da discriminação de contingências de controle manejadas pela mídia o pelo Estado. Grande parte dos norte americanos apoiou a guerra. A informação está centralizada e concentrada em estruturas gover namentais e estruturas corporativas. O grande número de informação so bre as pessoas armazenadas em computadores do governo o de empre sas permite a previsão e o controle do comportamento por essas agências, criando demandas e produzindo comportamentos desejáveis para os seus próprios interesses, mantendo assim as hierarquias de poder atuais (Rakos, 1992). Algum as propostas de análise sobre o relatar da Impren sa do ponto de vista da análise do comportamento Os trabalhos de dois autores têm sido utilizados corno referências por analistas do comportamento interessados pela análise do relatar pela Im prensa. O primeiro deles analisou as condições nas quais o conhecimento õ socialmente produzido (Guerin, 1992). O segundo estudo, já citado anterior mente, faz uma análise da propaganda como controlede estímulos no episó dio que ficou conhecido como a Guerra do Golfo (Rakos, 1993). Guerin (1992) descreveu duas condições cruciais para a determina ção do conhecimento socialmente produzido. A primeira condição refere- se ás respostas verbais descritas por Skinner (1957/1978) como tatos e intraverbais, que estariam envolvidas na construção social do conhecimen to. A segunda condição referir-se-ia à identificação de que muitas das respostas verbais que descrevem aspectos do ambiente, topograficamente sem elhantes às respostas de tatear, seriam , na verdade, respostas intraverbais emitidas sob controle discriminativo das respostas de outros membros da comunidade verbal. Entretanto, quando as conseqüências que mantêm o tatear são controladas por uma parcela especifica da comunida de verbal, as respostas de tato estariam sujeitas a viéses determinados pelas condições daqueles que obtêm os reforçadores. Skinner (1957/1978) classificou essas respostas como tatos distorcidos, aludindo ao fato da cor respondência entre eventos e relatos verbais não ser reforçada e sim, seria reforçada uma dada definição de relato correto estabelecida por um grupo que controla e libera os reforçadores. A análise de Gueriri (1992) traz algumas implicações importantes para analistas do comportamento interessados em compreender e revelar os controles exercidos pela midia na divulgação de relatos, tomados por muitos como descrições fiéis, objetivas e verdadeiras da realidade. A midia è uma grande formadora de opinião, ditando padrões comportamentais. regras éticas, criando candidatos e influenciando fatos políticos e históricos que são descritos como conhecimento socialmente construído. Muitas opi niões e atitudes compartilhadas pelos membros da comunidade verbal frente camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight M K a c o n tf tg & n s â B : c c n p o .T s m e n lo , c u r .t r a e b o ^-m ü s iio 73 ao relato de algum evento da realidade, devem ser entendidas como res postas verbais sob controle de tatos emitidos por um pequeno grupo dentro da comunidade verbal como, por exemplo, membros da mídia. A mídia como controladora do comportamentos e denominada 'form adora de opinião" passa a produzir cadeias intraverbaís nos indivíduos de sua comunidade verbal, colocando-os sob controle de respostas verbais do tipo intraverbal Deste ponto de v is ta , ela poderia ser encarada como uma agência controladora. Uma outra questão crucial também presente na análise de Guerin (1992) é o contato cada vez menor das pessoas, no mundo contemporâ neo. com o ambiente mecânico. Tem-se acesso â realidade, cada vez mais, por intermédio do rolato de certos segmentos da comunidade verbal. A produção de cadeias intraverbaís por intermédio da mídia propicia a cria ção de um conhecimento virtual, que pode representar os interossos de uma pequena parcela da comunidade verbal. Durante a Guerra do Golfo a Imprensa norte-americana teria produzido uma série de relatos que foram tomados como descnções fiéis da realidade. A construção pela mídia de um Iraque atrasado, usurpador dos valores democráticos, abrigo de terro ristas capazes das maiores barbáries e que não reconhecia os direitos da mulher estarreceu o mundo e p/oduziu ações contrárias à “rea lidade ' iraquiana na opinião pública norte americana. A construção desse conheci mento. que não descrevia ‘ objetivamente" a realidade, serviu aos interes ses do Estado norte-americano, resultando em comportamentos de apoio da população quando a guerra contra o Iraque teve inicio. A análise de Guerin (1992) serve também como um alerta para os controles exercidos por pequenas parcelas da comunidade verbal. Segun do o autor, se o controle social do la tear estiver nas máos de um grupo que não reforça necessariamente a correspondência entre as propriedades do am biente e o relato, mas s im uma dada definição de relato "correto" estabelecida a priori por esse grupo, se estará diante de ficçòes criadas para atender alguns interesses. Rakos (1993) sugeriu uma segunda possibilidade de analisar os rela tos apresentados pela Imprensa. O autor apresentou uma descrição de pro cessos comportamentais envolvidos na propaganda efetivada pelo Estado norle- omericano com o objetivo conseguir o consenso da opinião pública da neces sidade de uma resposta bélica ao Iraque, logo após este invadir o Kuwait. Rakos (1993) definiu propaganda como um conjunto de estímulos antecedentes que teriam a funçào de induzir a emissão de comportamen tos nas pessoas. No caso da Guerra do Golfo, o governo norte-americano não tinha o respaldo da opiriiáo pública e do Congresso para uma possível invasão do Iraque, necessitando realizar uma campanha para conquistá- los. Segundo o autor, o governo precisava vender duas imagens para a Imprensa que rapidamente as aceitou: Saddam Hussein é uma ameaça, o o Kuwait é uma naçâo amiga. Obtendo a cumplicidade da Imprensa, o go verno poderia levar a cabo sua tarefa de obter apoio público para a guom.« por meio de duas estratégias de publicidade: restringir InformaçÔen sobro camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight 74 R c a rd o Corrêa Martono, Rclx-rir, Alvoe, U w i0 <» os acontecimentos no Oriente Médio (censura). e disseminar informações falsas sobre as ações militares do Iraque. Rakos (1993) analisou o conteúdo sobre o conflito (notícias da re gião do conflito, discursos políticos do funcionários do governo norte-ame ricano. análises de comentaristas) de todas as publicações do The New York Times a partir de 1° de agosto de 1990 até 17 de janeiro de 1991, agrupando e identificando essa conteúdo em quatro operações de controle de estímulos: estímulos discriminativos, operações estabelecudoras, regras e equivalência de estímulos; e a relação temporal entre as notícias veicula das pela Imprensa e as respostas dos cidadãos (medidas através de pes quisas de opinião sobre a aprovação ou não de uma intervenção bélica norte-americana). Rakos (1993) concluiu que no primeiro mès após a invasão do Kuwait pelo Iraque, a possibilidade de uma intervenção militar dos Estados Unidos era aversiva para a opinião pública norte-americana. O Iraque era visto como uma nação aliada, devido á guerra desse país com o Irã, pois os americanos haviam apoiado os iraquianos. O Kuwait, por outro lado, era visto como uma nação antidemocrática, inimiga e preconceituosa em rela ção ás mulheres. Entretanto, após os cinco meses seguintes á invasão do Kuwait pelo Iraque, a campanha de propaganda efetivada pelo Estado em articulação com a Imprensa, alterou a opinião da maioria da população norte-americana que passou a apoiar a intervenção bélica norte americana no Iraque. Por meio de operações estabelecedoras identificadas por Rakos nas notícias, criadas por relações transitivas de equivalência que equipara- vam Hussein (A) a Hitler (B) e um mal indescritível (C), transformaram o Iraque e Saddam Hussein em estímulos aversivos. e as regras introduzi ram contingências aversivas: "agressões não provocadas deveriam ser contidas para preservar a liberdade e o direito’ . Esses estímulos induziram declarações verbais na opinião pública do tipo "algo precisa ser feito '. Es sas declarações verbais (da opinião pública) eram reforçadas pelos relatos de esforços diplomáticos, de restrições econômicas impostas ao Iraque e de relatos que descreviam a ação da Organização das Nações Unidas (ONU). A hipótese de deslocamento de tropas norte-americanas para a região do conflito, e uma possível guerra eram ainda vistos, pela opinião pública, como estímulos aversivos. Foram introduzidas, paulatinamente, noticias que defendiam um conflito armado. Essas noticias foram apresentadas, com o passar do tempo, de fo r ma mais intensa, e sempre acompanhadas por declarações que interessavam à opinião pública (sanções económicas, ações da ONU. uso da diplo macia). O público habituou-se com a intensificação de relatos que defendi am uma ação militar norte-americana contra o Iraque (inicialmente aversiva). Quando a guerra começou, a ação militar tornou-so um estimulo positivo para a opinião pública quo passou a apoiar a guerra. O reforçamento posi tivo foi assegurado, pois as conseqüências negativas da guerra foram afas tadas (foram omitidas imagens de pessoas sendo metralhadas, corpos mutilados) permanecendo somente a demonstração da alta tecnologia uti P /ok xicfr.inpíirrcos: o o m u o rta m o n w . c u llu 'a « KH,ic<Í4tla 75 lizada e o sucesso das conquistas por intermédio do uma guerra cirúrgica, que atingia precisamente os alvos aparentemente não povoados. A popu laridade e o apoio à adm inistração norte americana atingiram Índices altíssimos de aprovação. Uma primoira tentativa do analisar relatos verbais produzidos pela Imprensa escrita brasileira sobre acontecimentos violentos, tendo por base a análise do controle avorsivo do Sidman, foi efetivada por Andery & Sério (1996). A análise foi feita a partir de manchetes de jornais brasileiros que relatavam três episódios que se caracterizaram pelo excesso de violência: o assassinato de 8 meninos do rua por policiais em frente ã Igreja da Candelária no Rio de Janeiro, em julho de 1993: a invasão, pela policia m ilitar em novembro do 1992, do Pavilhão 9 da Casa do Detenção do Esta do de São Paulo, que terminou com a morte de 111 presos; e a invasão da favola Vigáno Geral, no Rio de Janeiro, por homens armados e oncapuzados, que terminou com o assassinato de 21 pessoas. As autoras analisaram os seguintes aspectos: 1) a distribuição tem poral dos relatos sobre esses eventos durante um ano quo se seguiu a cada episódio. 2) aspectos do episódio destacados nas manchetes pela Imprensa e 3) as conseqüências do controle avorsivo idontificadas através dos relatos. Dentre os signrficantes resultados obtidos pelas autoras, o nú mero de vezes que um episódio era manchete do jornal, é um dos que mais chama a atenção, pois poderia sugerir que houve alguma ação do veículo de comunicação no sentido de restringir a informação para produzir ou evi tar alguns efeitos sobro a opinião pública. Por exemplo, os episódios de Vigário Geral e da invasáo da Casa de Detenção foram manchetes 48 ve zes durante o periodo de um ano após suas ocorrências. Já o episódio da Candelária foi manchete 29 vezes durante um ano após o ocorrido Os dados obtidos pelas autoras mostraram que rios três episódios, o maior número de relatos concentrou-se nos dois primeiros meses após os acontecimentos. No caso da Candelária e de Vigário Geral a maioria dos relatos apareceu no primeiro mês após os episódios. Andery & Sério (1996) sugeriram que o menor número de relatos referentes à invasáo da Casa de Detenção de Sâo Paulo no primeiro mês. pode ser uma conseqüência do episódio ter ocorrido em uma instituição fechada, na qual poderia haver alguma açáo no sentido de restringir informações. Um segundo trabalho conduzido por Andery & Sério (1999a) traz uma análise, também embasada na concepção de controlo aversivo do Sidman, sobre o fenómeno da violência. As autoras selecionaram algumas noticias dos jornais Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo dos anos 1993 e 1995 que relatavam episódios violentos. As noticias selecionadas foram colocadas em algumas categorias que permitiam verificar as efeitos do controle aversivo. As autoras puderam demonstrar a presença constan te e disseminada do conlrole aversivo na vida das pessoas através da alta freqüência de relatos sobre eventos violentos veiculados pela Imprensa escrita. camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight 76 ííicürtto Corròd M urtow , How ioo A vus ãan acu Uma análise sobro o rolato da violência por um meio d© comunicação de massa também foi sugerida por Namo (2001). O autor analisou todas as noticias publicadas pelo jornal Folha de São Paulo duranto o ano de 1999 que traziam o relato de eventos violentos ocorridos no Brasil o no ostado e dados sobre os índices de violência da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. As notícias foram analisadas quanto ao tipo de violên cia relatada, vítimas e agentes da violência e efeitos da violência. Entre as análises realizadas pelo autor, uma delas é muito significativa. Foram com parados os dados obtidos na Secretaria de Segurança Pública sobre os tipos de violência com os dados obtidos nas noticias veiculadas pela Folha de São Paulo. Namo (2001) constatou, por exemplo, que o tipo de violência mais comum retratado pelo jornal foi o homicídio, enquanto que os dados oficiais da Secretária de Segurança pública apontavam lesão corporal como o tipo mais comum de violência no estado. Tomando-se os dados da Secretaria de Segurança Pública oomo representativos da incidência dos tipos de violên cia no estado, segundo o autor, o jornal Folha de São Paulo estaria dando uma ênfase maior a eventos violentos (homicídios) que, na verdade, não seriam os de maior Incidência. Segundo o autor, a discrepância entre os dados da Secretária e as noticias da Folha de São Paulo seria um indicativo de que o jomal privilegiaria certos tipos de noticias para causar algum impac to sobre o leitor, visando interesses mercadológicos como. por exemplo, ven der mais exemplares do jornal. Partindo das análises anteriormente citadas sobre o relato da Im prensa e as formas pelas quais esse mesmo relato pode controlar compor tamento, Martone (2003) realizou uma análise sobre o relato da Imprensa enquanto agência controladora sobre um conjunto de práticas culturais pro duzidas por uma cultura imediatamente após o episódio que ficou conheci do como os ‘ ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 ' contra os Estados Unidos. O autor coletou, via site eletrônico, notícias produzidas pela Cable News Network (CNN). Foram analisadas noticias veiculadas durante três dias subseqüentes aos episódios de 11 de setembro de 2001, utilizando-se a classificação empregada pela própria agência controladora na divulgação dos relatos. Estas notícias também foram categorizadas o organizadas de forma a encadear os eventos relatados em uma seqüência causal. Os resultados indicaram que o relato da Imprensa foi parcial, não fornecendo qualquer dado sobre a motivação envolvida no ‘ ataque“, e pri vilegiou as ações da agêncta governamental e econômica. Oe trabalhoe quo analisam o relato da Impronsa, acima doKcritos. demonstram as formas pelas quais a Imprensa escrita relata eventos da realidade privilegiando mais a publicação de alguns assuntos em detrimen to de outros. Os trabalhos demonstram também a pertinência e utilidade da análise do comportamento na análise do relato da Imprensa, pois como foi apontado por alguns autores (Andery & Sério. 1996, 1999a; Guerin, 1992; Namo. 2001; Rakos, 1993) esta ciência possui um instrumental teórico ca paz de lidar com as questões envolvidas neste tipo de análise. O conhecimento socialmente construído através da produção de ca deias intraverbais pela mídia (Guerin, 1992); a descrição de processos camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight W«íl&:xaiiing«nr.ta»: oom pofltritn to . ajhur.i a 6o:-«-Jitdô 77 comportamentais subjacentes á veiculação da noticia e seu possive! efeito sobre o leitor (Andery à Sério, 1996. Rakos. 1993), assim como os possíveis controles exercidos sobre o relatar da Imprensa (Guerin. 1992, Namo. 2001; Rakos, 1993) são questões analisadas em trabalhos de analistas do compor tamento e que apontam caminhos promissores para este tipo de análise. Pode-se observar que, apesar dos aspectos ressaltados sobro a possibilidade da Imprensa distorcer os relatos sobre os eventos ocomdos,tais relatos têm a função de controlar os comportamentos de um grupo social. Seja ela (a Imprensa) associada ou não a uma outra agência de controle, os trabalhos apresentados demonstraram claramente que o com portamento de relatar tem um efeito sobre o comportamento dos "controla dos socialmente". Tais efeitos têm sido descritos pela literatura e poderiam ser dividi dos em dois grandes conjuntos: o primeiro, mais diretamente observado pelos controlados, poderia ter a função de tato, e daria a “veracidade" para o relato como um todo. O segundo conjunto, ao qual o controlado não teiia acesso direto, poderia ser mais facilmente manipulado por meio de distorção e/ou seleção de algum aspecto (censura) tornando mais prováveis algu mas respostas dos controlados. Conclusão Alguns analistas do comportamento vêm utilizando o instrumental te órico disponível em sua ciência para identificar os controles exercidos sobre o relatar da Imprensa, demonstrando assim que o que é relatado e como é relatado riáo pode ser considerado "neutro’', livre de qualquer influência. Uma questão que surge a partir dos trabalhos descritos nesse artigo diz respeito á pretensa neutralidade dos veículos de comunicação ao rela tar os fatos. Ouvem-se jargões do tipo "testemunha ocular dos fatos", "jor nalismo objetivo que leva os fatos até você", ‘‘a verdade dos fatos, doa a quem d o e r e ‘jornalismo imparcial e objetivo’ (Arbex. 2001). Estas frases revelam a idéia de que a atividade jomalistica deve ser encarada como um meio pelo qual os fatos possam ser espelhados como imagens fiéis da realidade, livre de influências que possam alterar a percepção e o relato dos acontecimentos. Entretanto, a literatura vem apontando que algumas variáveis desempenham um papei crucial no relato da realidade pela Im prensa. Influenciando-a e determinando em muitos casos a forma pela q ja l o fato deve ser divulgado, ou até mesmo o que pode e o que não podo ser publicado. A afirmação de que o relato da imprensa deve ser ‘ neutro" ou um "espelho da realidade" é o reflexo de uma concepção que desvincula as ações hum anas de suas determ inações históricas e socia is, propiciando o ocultamento de variáveis importantes de controle e uma completa alienação do que ou quem está no controle. Acredita-se que o comportamento hurrono camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight 78 Ricardo CorAu M anor*. Robortu AJv o í Bjikico seja multidetermiriadu e não ocorra desvinculado de seu contexto ambiental. Acredita-se também que a função do pesquisador seja identificar as variá veis ambientais que determinam o comportamento, ainda quo estejam elas em ambientes altamente complexos e de dificil detecção, como no caso das variáveis que estariam envolvidas no fenómeno aqui estudado. O behaviorismo radical fornece uma compreensão do comportamento humano que vai de encontro às concepções mais tradicionais da cultura, instrumentalizando o pesquisador com conceitos que permitem uma análi se que considere os controles exercidos sobre o comportamento. "Se vamos usar os métodos da ciência no campo dos assuntos hu manos. devemos pressupor que o comportamento é ordenado e de terminado. Devemos esperar desoobrir que o que o homem faz é o resultado de condições que podem ser especificadas e que. uma vez determinadas, poderemos antecipar e até certo ponto detenuinar as açóes. Esta possibilidade desagrada a muitas pessoas por se opor a uma tradição de longo tempo, que encara o homem como um agente livre, cujo comportamento é o produto, não de condições anleceden- tes específicas, mas de mudanças anteriores espontâneas' (Skinner, 1953/1994. p. 20). A utilização do conceito de contingência como instrumento de análi se permite a identificação de relações especificas entre indivíduo e ambi ente, assim como as mudanças produzidas por estas relações no ambiente e no sujeito. Referências Bibliográficas Andery. M A., & Sório. TM (1996) Violent episodes as reported in Brazilian newspapers: a tentative analysis based on Sidman's Coercion and It's Fallout Pôster apresuntúdo na XX// Convenção Anual da Association for Behavior Analysis Convention. San Francisco. Andery, M.A. & Sório, T.M. (1999). O conceito de metacontingências: afinal, a velha contingência de reforçamento 6 suficiente? Em Banaco, R.A. (org.) 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Não será possivel mudar o ambiente social deliberadamente de forma a que o produto humano esteja mais de acordo com especificações aceitáveis?" (Skinner, 1953/2000, p. 463-464). Através de seu modelo de seleção pelas conseqüências, Skinner (1993/1953; 1974, 1981) propõe a existência de irés niveis distintos de vari ação e seleção: o nivel filogenótico, o ontogenático e o cultural. No primeiro destes três niveis o ambiente seleciona a estrutura fisiológica e anatómica, assim como algurnas respostas de importância vital para a sobrevivência, popularmente chamadas de reflexos. O segundo nível responde pela produ ção de seleção nas respostas que sâo adquiridas e mantidas, ou modifica das ao longo do periodo de vida do organismo. E o terceiro nível explicaria a estruturação e origem das práticas culturais de determinadas sociedades. Cada um destes niveis deve ser abordado pela ciência responsável por tais objetos de estudo, respectivamente: Fisiologia/biologia/etologia. análise ex perimental do comportamento e antropologia. O homem sendo um ser social e capaz de emitir um tipo especifico de comportamento, chamado de “comportamento verbal" (Skinner, 1978/ 1957), vive sob controle de contingências muito mais complexas do que ' Eete trabalho foi oacrito u partir d a d issenaçflo d e m ostm do defendida peto autor em 2 0 0 4 no Program a d e E&tudos Pôs-graduados e m Psicotogia Experim ental: A n â lü o c o Com poitam onto d a P U C -S P sob (x to n ta çào d o Prol*. O r* M nria Am álln Ple Abib A rd e ry e foi parcialm ente financi ado por um a bo^sa C A P E S .. * O autor tam bóm ag rad ece a co laboração do Prol W. D avid P íeroe e as augestóes dn Prol“ S*Qiid S. G te rn duianto a fase d e e*«bo raçào do projeto. 82 ChnsOd-i V k l» organismos não verbais, ou mesmo não sociais. Pois através do comporta mento verbal um indivíduo é possível intermediar as conseqüências do com portamento de outro indivíduo, criando assim uma espécie de conseqüên cia arbitrária para uma resposta que “naturalmente" não produziria o mes mo efeito; aqui talvez um exemplo se faça útil. para tanto empregamos o clássico exemplo da água: Se uma pessoa disser “Por favor, me dê um copo de água" (uma resposta que num ambiente não social não produziria a apresentação do estímulo copo de água), poderá e provavelmente terá sua resposta reforçada pela apresentação do estimulo reforçador: um copo de água dado a ela por uma outra pessoa presente no momento da emis são do pedido e que tenha sido treinada pela mesma comunidade verbal. Sendo o comportamento humano produto das relações estabelecidas eritre organismo e ambiente e considerando que uma parto muito significa tiva deste ambiente é composta por outros seres humanos (Skinner. 1993/ 1953; 1974), as contingências de natureza social são responsáveis por boa parte de nosso repertório comportamental. Essa análise pode ficar ainda mais complexa se considerarmos que as pessoas podem, ainda, formar grupos com certo grau de organização e cu jas “(...) conseqüências relorçadoras geradas pelo grupo exGSÚamJlaçtiinGíÊe Q àM aiS das Qüime-. quêndãs vue uadcriam. ser Lvnseaiúüâs joslosmeíabíps. scjia isssni seafl- fjdúm entc . Q efeito . íQfwçãúsirjQ tdA.GãQrwQimintQ jçrescióQ '' (Skinner. 1993/1953 - pp. 31 - grifos meus). E de um modo semelhante as pessoas podem, ainda, foonar grupos muito organizados e eficazes em controlar o comportamento humano, por vezes chamados de agências controladoras. Descrever as relações entre os integrantes deste grupo, em termos do contingências de reforço, pode explicar os comportamentos individuais de seus membros, no entanto, muitas destas contingências mantenedoras são artificialmente criadas e aqueles que aplicam as conseqüências, na maioria dos casos, também estão sob controle de outras contingências de natureza social. Para explicar de que modo estas relações passam a existir e de que modo os comportamentos dentro do um grupo se conectam ao ambiente natural (não social), devemos atentar a um nível mais amplo de explicação, que Skinner (1993/1953; 1974: 1981) chamou de seleção das práticas cultu rais. Os analistas do comportamento vèm, cada vez com maior freqüên cia, demonstrando interesse por questões sociais (Skinner. 1977/1948; Burgess & Bushell Jr., 1969; Kunkel. 1970; Rakos. 1991: Lamal, 1991) essa retomada pelo interesse nas variáveis sociais, importantes na determinação do comportamento humano, têm se tomado mais e mais incisiva na literatura (Holland, 1978; Malagodi,1986) ao longo do tempo. Uma contribuição bastante significativa à análise do comportamento, instrumentalizando o pesquisador no estudo das práticas culturais, foi o con ceito de metacontingéncia (Glenn, 1986; 1988; Andery e Sério, 1999) por pos sibilitar a relação entre a redo do contingências que mantêm os comportamon- tos individuais dos integrantes de uma prática cuftural e os produtos agregados desta prática Nas palavras de Glenn (1988) a metacontingéncia é: \< 8l8C o rífv ,iÔ M i:iav c o r f w r l ív r * » H o . c u H ir a o c o s e d o g o 83 “(...) a unidade de análise que descreve as relações funcionais entro urna classe de operantes, cada operante tendo sua própria conseqü ência, imediata e única, e uma conseqüência em longo prazo, co mum a todos os operantes na metacontingèncía". Apesar do interesse cada vez maior no estudo de tais práticas, es tes estudos ainda são. em sua maioria, do natureza teórica e ou interpretativa (por ex.: Todorov, 1987; Malott, 1988; Rakos. 1991). quase-experimental (por ex.: Kunkel, 1985; Rakos, 1993) ou mesmo aplicada (Biglan, 1995), poucos estudos aoordam a questão especifica da seleção e manutenção das práticas cu ltu ra is num a perspectiva experim enta l, de fa to uma metodologia para isso é difícil de encontrar dentro da análise do comporta mento. No entanto, dentro da sociologia americana é comum encontrar sociólogos, denominados sociólogos experimentais, cuja preocupação é testar experimentalmente diferentes tipos de relações sociais tais como preconceito, hierarquia, poder e distribuição do ganhos. Estes temas são, freqüentemente, considerados amostras de práticas culturais, portanto existia a possibilidade de que. talvez, estes sociólogos tivessem uma abordagem interessante do assunto em questão. Segundo Wlggins (1969) esta área de pesquisa está subdividida em dois pólos 1) Efeitos de eventos antecedentes sobre os comportamentos dos inte grantes de um grupo (área chamada de controle de estímulos dentro da análise do comportamento) 2) Efeitos dos eventos conseqüentes sobre os comportamentos dos inte grantes do um grupo (relações resposta-consoquôncia). a. Efeitos das conseqüências que retroagem individualmente sobre o com portamento do sujeito. b. Efeito das oonseqüénaas que retroagem sobre o grupo como um todo. Devido aos limites deste trabalho não foi possível ater-se às pesqui sas descritas no grupo (1) por Wiggins, porém será descrito a seguir um breve levantamento sobre os experimentos que atentam para os efeitos das conseqüências sobre o indivíduo e sobre o grupo de maneira geral (2) a) Efeitos das conseqüências que retroagem individualmente sobro o comportamento do sujeito. Conhecendo a importância das conseqüências sobre o comporta mento individual e a importância do comportamento social e verbal, Bavelas. Hastoff, Gross e Kite (1965) ao investigar o fenômeno conhecido popular mente como "liderança", em pequenos grupos de quatro pessoas, notaram uma relação entre a quantidade de emissões de respostas vGrbais e a clas sificação hierárquica de liderança realizada pelos próprios integrantes des tes grupos. Os autores puderam perceber que os participantes mais silen ciosos, ou menos falantes, em geral, eram classificados como estando num nível hierárquico (de liderança) mais baixo, enquanto que os participantes 84 O i r . K a o Vkcli mais falantes eram classificados como possuidores de posições hierarqui camente mais elevadas. Durante o experimento os pesquisadoros apre sentaram diferentes conseqüências tentando aumentar o número de res postas verbais dos integrantes em nivel hierárquico mais baixo e diminuir o número de respostas verbais dos integrantes em nível hierárquico mais elevado. Os resultados oncontrados indicaram que pode-se modificar a avaliação hierárquica que os integrantes de um grupo fazem, uns dos ou tros. a partir da alteração de uma simples classe de respostas individuais, no caso o tempo de fala de um individuo alvo. Pierce (1975) realiza um experimento semelhante ao de Bavelas et al. (1965), com a diferença básica de empregar o delineamento de sujeito único e de atentar para a possibilidade de que se um dado participante, ao interagir, fosse capaz de produzir reforçadores para os demais membros do grupo (ou seja, conseguisse maximizar a produção de reforçadores) este poderia ter seu indice sodomótrico ampliado a um status mais eleva do A fim de testar essa possibilidade ele aplica em dois grupos, de quatro pessoas, contingências chamadas de RCI3 e RMG4. A contingência RCI era a mesma empregada por Bavelas et al (1965), porém na contingência RMG o grupo partilhava os reforçadores; de modo que sempre que a pes soa designada a recebor reforçadores por falar o que fazia, os demais par ticipantes também seriam reforçados, em tese isso faria com que o próprio grupo passasse a tentar ‘ estimular" a pessoa alvo a emitir maior número de respostas verbais. Outro experimento, muito semelhante a esto, foi realizado posterior mente (Pierce. 1977), agora, porém com três grupos distintos onde se veri ficou que outra variável relevante, para a possibilidade de se alterar a or dem hierárquica de um grupo, era o tempo do interação deste na linha de base. Observou-se que quanto mais tempo de interação os participantes tiverem uns com os outros, maior será o grau do que Pierce chamou de “consenso"5 e conseqüentemente maior a dificuldade de alterar a posição dos participantes na ordem hierárquica. b) Efeito das conseqüências que retroagem sobre o grupo como um todo. Para o presente artigo, o experimento mais relevante foi o Wiggins (1969), pois seu procedimento permitiu demonstrar como uma determinada prática de um grupo de pessoas pode ser selecionada, a partir da conseqüên cia desta prática para o grupo como um todo'. Neste experimento dez grupos de três participantes tomavam parte num jogo com duração de cerca de uma hora por dia (ou trinta jogadas), durante doze dias. Cada participante tinha um 3 R ofofçam enlo centrado r o Indivíduo c Reforçam anto nw diado pato grupo 'E m b o ro Pierce (1975; 1977) r à o afirm e isso. aparentom onta o c o rs e c s o ô produzido pe la fyim u- laçáo e seguim ento rugras acerca das posições do cada ^ teg ran te . Corno sabem os regras são tx>m m onos so n sfv ea ao s efeitos d33 cortin géncias o lo rx in m a retarda* seu oforto. ' O s resultados para o fl-upu com o um todo podem , tam bém , serom cham ados d e 'esultados agregados. M etlUXH* n g A r o a * : o a n * i w t i ' r « i n j u u ltu i» • s t f t i « l # ü « 85 papel, um deles era designado como líder e tinha poder de decisão final om caso de falta de consenso, outro participante era designado como secretáric e tinha algumas informações privilegiadas sobre o jogo, podendo compartilhá- las ou não oom os demais e o terceiro era denominado tesoureiro e somente recebia e investia o dinheiro conforme a decisão do grupo. O experime-to consistia de um jogo de apostas e ganhos ou perdas e o líder era sempre obrigado a investir mais (em função das regras do jogo). Os participantes eram informados que a pesquisa tratava-se um estu do sobre resolução de problemas em um pequeno grupo. Era dito que sua tarefa seria a seguinte: o experimentador primeiro escolheria uma coluna numa matriz de sete colunas por sete fileiras com uma quantidade aleatória de sinais + e - o em soguida, sem conhecer a decisão do experimentador, o grupo deveria escolher uma fileira e apostar suas fichas. Esta escolha (fileira e coluna) Indicaria uma célula de intercessão, quo poderia ser positiva ou negativa, e determinaria um saldo para o grupo. Cada sinal positivo daria direito a 30 centavos, pagos ao final de cada tentativa. Se a célula indicasse um sinal negativo, os participantes perderiam o investimentoe nada ganha riam. O dinheiro era. em seguida, colocado em uma caixa, chamada de "player pool", e os participantes deveriam então dividir algum dinheiro do “player pool” entre si. do modo como estes decidissem. Basicamente eles poderiam fazer uma distribuição eoüitativa (proporcional ao investimento de cada par ticipante) ou igualitária (os recursos são dislribuidos..em.parles.ifluaisJnde: pendentemente do quanto cada unr invostiu ou colaborou, para a. iMQ.dtic.ãfl do resultado)7. Cada participante deveria investir seu próprio dinneiro na jo gada e ao final da sessão o grupo deveria devolver o dinheiro usado do "player pool", deixando-o com a mesma quantidade do inicio. A decisão do experimentador por uma coluna, na verdade, não ora aleatória ela dependia do modo como os participantes haviam dividido seus ganhos na tentativa imediatamente anterior, ou seja, o exper.mentador po deria fazer com que o grupo ganhasse ou perdesse. Os participantes Cos cinco grupos submetidos à condição experimental 1 somente ganhariam na jogada seguinte se distribuíssem igualmente seus ganhos e nos últirros cinco dias recebiam o tratamento inverso. Os participantes dos outros cin co grupos inversamente iniciavam o experimento na condição experimental 2 e ao final passavam para a condição 1. Os resultados do Wiggins indicaram que os grupos tendem a se ade quar à contingência vigente", pois ela ó mais vantajosa para todos (em termos de densidade de reforçadores ao longo do tempo), mesmo nos casos em que era forçada uma divisão igual do dinheiro ganho, e que o líder tendia a ganhar ' N a literatura de estas palavras aparecem com um a term tro logia técnica usada para designar diferentes m odos de alucar os reforçadores no grupo: U m a distribuição Igualitária ou Equality ie fere ao m odo de dtstrlbu.r os reforçadores igualm ente entre todos os Indtviduos. Independente d a sua contribuição para a produção do resultado do grupo. Equidade ou Equrty o um m odo cte distribuir os reforçadores a partir da COrlrítxiiçSo Co cad a sujeito r « geração do produto f ira l co g rupa '■ N este texto tem -se em pregado um a term iro logia fam iliar aos analistas do com portam ento, po rém o » autores nem som pre em pregam t,j.s íormos. om bora este jam rofonndo-se a e ;«s 86 C t u is U ín V c it l relativamente menos a cada jogada, por conta da regra que o obrigava a apos tar mais. Soll & Martin (1989) investigando as chamadas "regras o alocação de recursos" também notaram esse efeito, os grupos tendiam a desrespeitar as regras de distribuição impostas pelo exparimentador se uma regra alternativa e sem conseqüências aversivas para os integrantes fosse proposta. A semelhança destes resultados com Lei da Igualação (Herrstein, 1970) levou alguns pesquisadores a proporem a chamada Lei Social da Igualação (Grifflth & Gray, 1978; Gray, Griffrth, Von Broemsen & Sullivan, 1982), pois aparentemente, a mesma fórmula usada no nivel ontogenético poderia prever as relações entre práticas e resultados agregados do grupo no nivel social. Usando sua Lei Social da Igualação Griffith & Gray (1978) investiga ram o efeito da probabilidade do chamado "reforço externo"" sobre o modo como os participantes dividiam os ganhos e relataram que grupos com altas probabilidades de receberem conseqüências positivas tendiam a igualdade e grupos com baixas probabilidades tendiam a equidade. Restringindo-so os grupos ainda mais Judson & Gray (1990) investi garam a distribuição de autoridade em duplas de desconhecidos como fun ção da manipulação do resultado que esta dupla era capaz de produzir (re sultados agregados) e posteriormento foi-se investigado o efeito deste tipo de contingônda sobre duplas que se conheciam há tempos (Gray, Judson & Duran-Aydintug, 1993), com alto grau de consenso, como diria Pierce (1977). Ambos os estudos corroboraram a tese de Wiggins (1969), ou seja, as du plas tendem a se adequar à contingência vigente, mesmo que isso implique numa inversão das relações internas já previamente estabelecidas. Portanto, coloca-se aqui novamente a questão: É possível modificar os comportamentos dos integrantes de um pequeno grupo, sem manipular diretamente as respostas individuais de cada participante, e ao invés disso manipular somente os resultados agregados? Como esta contingência afe taria as respostas verbais dos participantes? Eles teriam “consciência °" do "por que" se comportam de tal modo? Método Partic ipantes Foram recrutados oito participantes (voluntários) entre estudantes do primeiro ao terceiro ano do curso de psicologia da Universidade São Francisco” (Itatiba, SP). Destes participantes sete eram do sexo feminino e um do sexo masculino, com idades variando de 18 a 22 anos e foram divi didos em dois grupos respectivamente chamados de Grupo 1 e Grupo 212. * Ter/no uWceado por este grupo d e pesquisadores para so rofonrem a o s resultados aQrogados produzidos poto grupo. 10 Consc-éncia é aqui e rio n d id a com o a descrição verta ) de con lirgéncliib « a p o n s á v e a por deto-- m inadas resposUu (Skinner, 1977). ' O autor ô especia lm ente grato ao s alunos o professores du6 ta un.vorsldadc por sua valiosa colaboração. Mi-'-iirai'üir>3ÍKiria» cr*Tpcflarf:*-ilo, cultura o ko_ «dac« 87 Todos assinaram um termo do consentimento tomando ciência de: 1) seu compromisso com a pesquisa (receberam uma agenda com os 12 dias dos encontros); 2) que todas as suas sessões seriam filmadas, mas que seu anonimato estava assegurado; 3) que receberiam uma pequena gratifica ção financeira a cada sessão e ao final do experimento. Foram também recrutados quatro alunos como assistentes de pes quisa para que realizassem o registro manual dos dados durante a sessão. Para realizar a pesquisa os participantes se comprometeram a compa recer a um máximo de doze encontros com cerca de uma hora de duração cada (tompo médio que levava para concluir uma sessão de 30 jogadas). Setting Os dados foram coletados numa sala de aula adaptada para se tor nar um laboratório de pesquisa do pequenos grupos. As carteiras eram afastadas para o fundo da sala nos dias de coleta e o experimentador dis punha quatro cadeiras em torno de uma mesa (onde os participantes se sentavam); ao lado as duas cadeiras dos assistentes: no lado oposto uma filmadora: no centro da mesa a "caixa dos jogadores" (será descrita adian te) e em frente a matriz de oito colunas por oito fileiras com sinais +■ e - aleatoriamente distribuídos a cada célula de intersecção (Figura 1). Figura 1: Matriz da 8x6 colunas e fileiras com sinais + e - randomlcamente distribuídos entre as células de intersecção Proced im ento O experimento, em linhas gorais, tratava-se de um jogo colotivo de pequenas apostos e ganhos. Cada participante recebia do pesquisador, ao : A o lego do tox'.o o s giupos podo/ào ser refeildws com o G 1 e G 2. 88 C W stte n i início de cada sessão, 110 fichas para o jogo (cada uma das fichas valia R$ 0.01) e ao final de cada sessão os participantes poderiam trocar suas fi chas por dinheiro, do modo que quanto mais fichas acumulassem maior seria o valor que levariam para casa a cada dia de coleta. A sessão iniciava-se com o experimentador instruindo o grupo que a cada jogada ale (e experimentador) escolheria uma coluna (que eram co loridas, conforme visto na Figura 1) e que baseava sua escolha num “com plexo sistema'' pré-definido. porém, nada mais podia dizer aos participan tes sobre este sistema. Também foi dito ao grupo que se, de algum modo, conseguissem descobri-lo poderiam ganhar muitas vezes sucessivamente prevendo as escolhas do experimentador. O pesquisador, então, anunciava que tinha feito sua escolha por uma coluna no início de cada jogada o que os participantes teriam meio minuto pararealizarem suas apostas (decididas individualmente e que jun tas compunham a aposta coletiva do qruooï. cada um deveriam apostar uma quantidade mínima de 3 fichas e máxima de 10 pot jogada, as quais eram coletadas tão logo fosse decidido o valor a ser apostado. Uma vez tendo sido realizadas as apostas, os integrantes tinham um minuto e meio para debater as jogadas, escolher uma fileira (que eram numeradas de 1 a 8) e em seguida anunciá-la ao pesquisador. Em seguida o pesquisador anunciava qual coluna havia sido esco lhida e a céluta de intersecção entre a coluna (do experimentador) e a fileira (dos participantes) determinava os ganhos ou perdas do grupo. Se a célula possuísse um sinal + o grupo ganharia o dobro das fichas apostadas, mas se na célula houvesse um sinal - então o grupo somente receberia metade das fichas apostadas, quo eram imediatamente pagas. Embora os partici pantes não soubessem, a escolha do experimentador, exatamente como no experimento de Wiggins (1969). era na verdade determinada pelo modo como o grupo tinha feito a divisão das fichas na tentativa imediatamente anterior; por exemplo: se o pesquisador quisesse induzir o grupo a dividir as fichas sempre de modo igual bastava que ele escolhesse qualquer colu na cuja célula de intersecção com a fileira escolhida tivesse o sinal + sem pre que o grupo tivesse feito uma divisão igual dos ganhos na jogada ante cedente, o que possivelmente levaria a um aumento na freqüência deste tipo de distribuição. Os participantes receberiam, então, um montante de fichas que per tenciam ao gmoo ,e deveriam_ser_jlMdidas. seaundQ_cjiíòáQS_DrQDriQS. A escolha sobre como dividir as fichas era livre, basicamente eles poderiam escolher um critério de divisão igualitário (a mesma quantia para todos) ou desigual (um ou rnais participantes recebiam mais fichas), eram, no entan to obrigados a investirem algum valor, qualquer que fosse, num pote de vidro chamado de “caixa dos jogadores" antes de iniciarem a divisão das fichas entre si, eventualmente o experimentador era quem determinava quantas fichas seriam colocadas na caixa. Uma vez colocadas as fichas na "caixa dos jogadores", elas deveriam permanecer lá dentro até o ultimo dia de coleta, quando a caixa seria aberta f/ ^ tiK o n tm g & n o e s : o o tn D o rts n w e o , e u liu -a o eocieiAiia> 89 Q os participantos dividiriam as fichas acumuladas do modo que achassem melhor (de modo igual ou desigual) A caixa tinha uma dupla e importante função no experimento, pois servia como uma contingência útil para evitar desistências (quem desistisse não estaria presente na abertura dela) e para produzir uma necessária variabilidade com porta mental, pois uma certa práti ca de distribuir os ganhos só podoria ser selecionado pelas suas conseqüên cias se chegasse a ser emitida, a caixa permitia ao experimentador tomar mais prováveis certos tipos de divisão. Sempre que o grupo passava cerca de cinco lances com erros sucessivos o experimentador fazia uma ou duas intervenções nos depósitos da caixa deixando para os participantes um nú mero de fichas que fosso impossivol do sor dividido por quatro (por ox.:qualquer número ímpar maior que três), caso quisesse forçar uma divisão desigual ou um número de fichas que fosse muito fácil de ser dividido igualmente ontre os quatro (por ex.: exatamente quatro fichas). D elin eam en to E xperim en ta l Cada participante integrou um do dois grupos (G1 e G2) que foram expostos às mesmas condições experimentais em ordem inversa. O G1 foi exposto á condição experimental A-B-A-B e o G2 foi exposto à condição B- A-B. Embora a pesquisa estivesse originalmente planejada para que o Gru po 1 passasse apenas pelas condições A-B-A. eles conseguiram mudar de condições experimentais rápido o suficiente para que o pesquisador tives se oportunidade de aplicar novamente a condição B. o que foi feito. Condição Experimental A Quando esta condição vigorava o grupo so mente obteria um resultado positivo se tivesse distribuído as fichas de for ma igual na jogada imediatamente anterior. Condição Experimental B - Quando esta condição vigorava o grupo so mente obteria um resultado positivo se tivesse distribuído as fichas de for ma desigual na jogada imediatamente anterior. O critério para a mudança de condição experimental teve como base a estabilidade do grupo em determinada contingência. Portanto, se o grupo passasse dez jogadas consecutivas obtendo sucessivos acertos era su posto que haviam se adequado à contingência em vigor e o dado esperado te rdo sido obtido permitiam a mudança de condição experimental. O experimentador também disponibilizou cadernos, lápis, borrachas o apontadores para cada indivíduo dos grupos a fim de verificar que tipo de registros eles poderiam fazer (caso desejassem) e se estes registros possi bilitariam uma eventual descrição verbal da contingência e a formulação de uma regra, qu© por sua vez poderia passar a controlar o comportamento dos participantes levando-os á proficiência na tarefa. Para confirmar se os integrantes dos grupos foram capazes de descrover as contingências vi gentes. produzindo a tão conhecida “consciência", o experimentador ao final da última sessão de coleta aplicou as seguintes queslóes, de modo individual, aos participantes: 90 C h rtiO e n V ís n l 1: Qual é o sistema de escolha de colunas utilizado pelo experimentador? 2: Como vocês descrevem o seu desempenho? Ganharam mais ou perde ram mais? 3: Como vocês se sentiram durante o jogo? 4: Vocês são capazes de fazer uma descrição sessão a sessão sobre como as coisas aconteceram? Resultados Como podo ser observado na Figura 2, o procedimento mostrou-se eficaz para estabelecer uma determinada prática de divisão dos grupos (no caso do presente experimento, uma divisão igual ou desigual). A Figura 2 também ilustra como o Grupo 1 adequou-se rapidamente a condição experimental vigente e, sem que fosse necessária nenhuma in tervenção do experimentador, atingiram o critério de estabilidade definido para a mudança de condição experimental (dez acertos11' consecutivos) já na jogada dezenove da primeira sossão e errando apenas duas jogadas ató então. A causa deste resultado, possivelmente, tenha se devido ao relacio namento pró-experimental dos participantes (todos colegas de classe), isso somado ao valor baixo dos reforçadores: alguns centavos por jogada, que para estudantes de classe média-alta, tendem a exercer menos controle so- bre o comportamento do que manter boas relações com um colega, facilitan do assim a possibilidade de uma divisão igual dos ganhos. Um indicativo extra desta propensão dos participantes a se adequa rem facilmente a um modo de distribuição igual ô encontrado quando estes entram na condição experimental B e que só acerlavam quando fizessem uma divisão desigual na tentativa anterior Na verdade, nem poderia ser con siderado um indicativo muito fidedigno, pois os participantes já haviam pas sado por uma condição que os faziam dividir os ganhos de modo igual, o assunto vottará a ser discutido ao serem analisados os dados do Grupo 2. Pôde-se observar que eles erraram durante muitas jogadas (praticamente só acertaram com a intervenção do experimentador; que por sinal, foi muito freqüente.) passando parte da sessão um e da sessão cinco, além de todas as sessões dois, três e quatro, na condição experimental B. Somente conse guiram mudar de condição na jogada cento e trinta de dois durante a sessão cinco, quando novamente voltaram a errar seguidamente. O que se observou a seguir, quando o Grupo 1 retornou ã condição A. é que passaram a ocorrer variações espontâneas no modo de distribui ção (no sentido de que o experimentador precisou intervir com menos fre qüência) e foram necessárias somente duas intervenções na “caixa dos jogadores’, durante todo o periodo em que a condição experimental A vol tou a vigorar para que o grupo atingisse o critério de estabilidade. ' D um rlt» lodo o t«xlo as oxpressôes ’acerto* e-«rrt>' irtfo « ife rli-so , fttepúcbviim onte, a produzir o dobro de flclias na jogada ou perder m etade das fichas no jogada. MAtftforcnfitnciftft cotrpofiÉrn i^to. cultura » ao; «lado 91 4» <3 ••-■. .^s vyiyy.j ■ '«»K*V ' ix M •íw ííw«* » * r. ü a» «MOTO « » Ot » IK ' .w » y . \ , »tfcvV « W jl f r i ' m'm i » = * •& '• í í - S & v t f v v '.v ^ v ^ i X.v.';; * . Ü ttS sv.- .v . • y.y , / . ^ V : . • . . .• T • ’ .* •: à* << B C fU iP O 3 J * 9 n ■>; s» r>5 XXMCM» Figura 2: Acertos acumulados ao lonqo das nove sessões realizadas para o Grupo 1 e 2. Os pontos brancos no gráfico indicam os momentos em que o experimentador fazia uma Intervenção nos depósitos da “ caixa dos jogadoros” . A rotícula do fundo sinaliza a condição experimental vigente a cada momento. Os participantes permaneceram nesta condição experimental (A) durante pouco mais da metade da sessão cinco, durante toda e sessão seis e na maior parte da sessão sete, encerrando-a na joçjada duzentos e três, durante sessão sete. e entrando novamente na condição B, na qual permaneceram durante todo o resto da coleta de dados. A condição B en- corrou-se na jogada duzentos e cinqüenta e três (sessão nove) e deman dou apenas três intervenções do experimentador na caixa. O Grupo 2, contrariamente ao Grupo 1. iniciou o experimento pela con dição B (portanto, somente acertariam caso dividissem os ganhos de modo desigual), como foi anterioimente indicado os dados parecem apontar para 92 O f< * U a n V c t i- maior dificuldade dos participantes em dividirem seus ganhos de modo desi gual (possivelmente por conta da relação pró-experimental entre os participan tes. anteriormente discutido). Pode-se ver na Figura 2 que os integrantes do Grupo 2 erraram com grande freqüência durante quase todo o periodo em que vigorou a condição B, de fato, a maior parte de seus acertos foram causados quase exdusivamente pela intervenção do experimentador na "caixa dos joga dores". Os participantes passaram todas as seis primeiras sessões nesta con dição e parte da sétima até que durante a sexta sessão começaram a esboçar alguma variabilidade espontânea (nâo forçada) e passaram, ontâo. a ficar sob controle da contingência vigente atingindo assim o critério de dez acertos, ne cessários ã mudança de condição experimental. O grupo então passa para a condição experimental A (agora só acer taria se houvesse dividido seus ganhos de modo igual na jogada antece dente) e permaneceu mais da metade da sessão sete. toda a sessão oito e uma pequena parte da sessão nove nesta condição, até quo novamente retornou à condição experimental 8, na jogada duzentos e quarenta e qua tro da sessão nove O grupo permaneceu nesta condição apenas durante pouco mais de meia sessão, até novamente atingir o critério de estabilida de e encerrar o experimento. Com relação aos ganhos individuais de cada participante, póde-se observar pela Figura 3 que cada um dos grupos produziram diferentes prá ticas (intragrupo) de divisão dos ganhos, o Grupo 2 foi mais eficaz em pro duzir fichas para seus integrantes (pois todos ganharam aproximadamente tanto quanto apostaram) e também conseguiu ser mais igualitário pois ao final das nove sessões as diferenças de ganhos entre os inlegrantes deste grupo foi desprezível. O Grupo 1 aparentemente não conseguiu desenvol ver práticas “económicas' tão eficazes como o G2 (observe que todos apos taram mais do que ganharam), de modo quo ao final do experimento existia uma considerável diferença entre os ganhos acumulados dos integrantes. Além disso, mesmo o participante que obteve maiores ganhos no Grupo 1 (participante 1 com um acumulo de 695 fichas) ainda não conseguiu acu mular tantas fichas como cada um dos quatro integrantes do Grupo 2 (em que o participante 3, com menor acumulo de fichas, até nona sessão, obte ve um total de 1033) Estas diferenças entre os ganhos acumulados com parativos dos participantes do Grupo 1 X Grupo 2 podem, também, terem se relacionado ao fato do Grupo 2 não ter sido prejudicado com nenhuma ausência, o que possibilitou apostas maiores e ganhos maiores, ou mesmo ao fato do Grupo 2 ter se submetido a apenas três condições experimentais enquanto o Grupo 1 passou por quatro. No entanto, vale a pena ressaltar o fato de que o tanto o Grupo 1 como o Grupo 2 terminaram a coleta do dados na condição experimental B (deveriam produzir diferenças) e mes mo assim curiosamente nota-se que. para todos os participantes do Grupo 2, as linhas de apostas e ganhos começa a se unir. sinal de que mesmo dividindo os recursos de modo diferenciado ainda produziam igualdade entre os membros. G R U P O 1 W W A » ! *■?$ 0 . • . fvVMài-iOte 1 ■■■'' : &5Í 0 1 » * ■se t »:c j A;>S£f'J»;:: *:A fv*Y/íj " ‘ .iv. - ; ~ i f â $ 0 L r r ( • • j. y* • ‘ :'i ■ » : # r fÇR« w» 5f*| •' •>» çr£: w Í í v i M» :y.V| •« $>* ** ii» ■éi ítyrffajJSOte ■> .**#:• rV-J. -ff ... ’v.'.'*- ■ i 9£m>NP$CIAS GRUPO 2 l 3 ^ *» KC *CC lOC CM ito A m w 1H»! two* w» ;i- * r a » > 3SP.tfÍKJtMVXO f ;. ■; y - ■X*9 jfVtv- ip.vxe > ; y \ 00* ' * VA *í»w;-Sá>?v: ■ - ’ . .• i ' J»... . v >/0 . ^ ; i . . ^ " »..* n#o r toco í ’ MC Y »75 fc- TOO fc MO i i an F'*fíKip*nt* -i tfcO MA } > v m wo , * * r vfc» Sh Í rVííí-f- »«09 h>:o Pwtic&anfrt <1 O/fcWOX . ; •. Aí-íivrv: J '•:• :-: m u ik m i SasaÒM Figura 3: Ganhos e apostas acumulados por cada um dos quaUo participantes dos Grupos 1 e 2 Os pontos brancos e a descontinuidade da linha Indicam as sessões em que houve ausénda de algum dos participantes. As linhas brancas e escuras Indicam fichas apostadas e ganhas, conforme legenda. Os dados coletados indicaram que os grupos estavam empregando estratégias bastante distintas no modo de apostar o de distribuir as fichas ganhas. Como descrito anteriormente as apostas eram individuais e cada participante colocava o quanto achasse melhor (embora observações du rante a coleta indiquem que os integrantes dos grupos tendiam a discutir o sugerir apostas uns aos outros), porém a divisão dos ganhos era decidida coletivamente, sendo assim cada integrante podia apostar mais e recebor ; ;> J u s 94 Ctnohai vielu menos, apostar menos e recebor mais. receber tanto quanto apostava, e assim por diante, permitindo várias combinações livres. Uma amostra dos padrões de apostas e divisões, retirada da sessáo cinco do Grupo 1 (Figura 4). indicou que o participante três tendia a apostar sucessivamente mais fichas e receber mais na hora da divisão, o participan te quatro, por outro lado. recebia quase sempre um número menor de fichas (e nesta sessão, eventualmente em alguns lances, não recebia ficha algu ma). apesar de apostar tanto quanto os outros participantes. Enquanto isso, freqüentemente, o participante 2 apostava mais fichas e recebia mais. o que deve ter gerado a ele um considerável acumulo ao longo da sessão. Se. por outro lado, observarmos uma amostra das táticas de divisão dos ganhos no Grupo 2. ilustrada pela Figura 5, poder-se-á perceber que este grupo empregou uma prática divergente, usando uma espécie do “ro d íz io ' de apostas, de modo que a cada jogada um participante diferente tendia a apostar mais e receber mais na divisão, depois outro e assim por diante, mesmo que de modo não tão sistemático. Esta prática “econômica" fez com que os integrantes deste grupo, mesmo nos momentos onde deve riam dividir as fichas de modo diferente (condição 8), conseguissem man teros ganhos de todos aproximadamente eqüalizados. Figura 4: Fichas apostadas e ganhas durante cada jogada da sessão 5 para cada um dos participantes (P1. P2. P3 e P4) do Grupo 1 ».•'«iMyuYitgtrK:*« ooMfon»ne*iU>. cur.uo o coc«:M ân 95 Figura 5: Fichas apostadaü e ganhas durante cada jogada da sessão 9 (até seu encerramento na jogada 22) para cada um dos participantes (P1. P2. P3a P4) do Grupo 2. Ao final da coleta da dados, conformo foi descrito no método, a “cai xa dos jogadores foi aberta e os participantes puderam dividir seu conteú do do modo como quisessem, vale a pena lembrar que ambos os grupos encerraram o experimento na condição experimental B (que produz desi gualdade). Observou-se que o G rupo 1 dividiu as fichas do modo bastante desigual, pois P1. P2 e P3 receberam 258 fichas enquanto P4 recebeu 123 (cerca de metade dos demais), possivelmente por ter faltado a última ses são e náo estar presente para fazer maiores reivindicações. O Grupo 2, no entanto, dividiu tudo do modo m ais igualitário possível, pois P1. P2 e P4 receberam 192 fichas enquanto P2 recebeu 191 (isso somente ocorreu pois o total do fichas na caixa não era múltiplo de quatro). Por meio dos cadernos fornecidos aos participantes e pela análise dos registros textuais feitos por eles, foi possível evidenciar que inicialmen te os participantes registraram muitas variáveis (tais como: o quanto cada um apostou: o quanto cada um ganhou; se erraram; se acertaram, depósi tos na caixa; colunas escolhidas pelo experimentador; etc.). porém tende ram a registrar cada vez um menor número destas variáveis ou mosmo 96 Chm linn V rtd deixar de fazer registros (dos oito participantes, somente três mantiveram- se registrando até a última sessão, os demais desistiram). Uma possível explicação para isso é o fato da descrição não ter se mostrado útil em aju dar os grupos a acertarem com maior freqüência as jogadas, o que levou a extinção deste tipo de resposta, ao mesmo tempo cm que, devido às mani pulações na caixa, os grupos se tornavam mais sensíveis à contingência vigente o acumulavam cada vez um maior número de acertos, reforçando assim a interrupção dos registros. Um dos dados mais interessantes foi obtido ao final do experimento quando, ao coletar as respostas dos participantes ao questionário final ve rificou-se que, embora evidentemente a contingência tenha exercido con trole sobre as práticas de divisão dos recursos obtidos, nenhum dos partici pantes foi capaz de realizar uma descrição verbal das contingências que estiveram operando durante as sessões. Na melhor das hipóteses os parti cipantes conseguiram descrever que, em determinados momentos, passa vam por seqüências de acertos e depois por seqüências de erros. Discussão Apesar das diferenças metodológicas e do emprego de um estudo de sujeito único, os dados encontrados corroboraram os relatados por Wiggins (196g). assim como os de outras pesquisas, um pouco mais restri tas com pequenos grupos e abordando diferentes tipos de comportamen tos (Grifïith e Gray, 1978; Judson e Gray, 1990; Gray, Judson e Duran- Aydintug, 1993). No presente trabalho, também, a forma de distribuição dos ganhos entre os partie pantes (de ambos os grupos) mudou na direção prevista pela contingência em vigor (igual - A ou desigual - B). De um modo geral os dados apontaram para uma maior facilidade em fazer com que um determinado grupo faça uma divisão igual do quo uma divisão diferente do seus ganhos, pelo menos nestas condições rela tadas. Isso, como mencionado na apresentação dos resultados, pode ter se relacionado ao fato dos participantes serem colegas de classe, que se encontravam freqüentemente, o que os tornava provavelmente mais sensí veis a eventuais discordàncias e às suas conseqüências sociais, ainda que amenas. Este diferiu do relato de Wiggins (1969), pois em seu estudo foi mais fácil estabelecer entre os participantes uma divisão desgual dos gan hos, temos que lembrar é claro, que em seu experimento os participantes eram desconhecidos entre si e um integrante do grupo era obrigado a apostar mais fichas sistematicamente. O procedimento aqui empregado indica que os “valores" dos partici pantes dos grupos, ou sua "crença” numa “filosofia igualitária" e especial mente sua prática de alocação e distribuição de recursos (que poderiam ser chamados popularmente de sua organização social) podem ser muda dos por uma manipulação nas variáveis relevantes, assim corno indicam também os dados de Wiggins (1969) e mesmo de outros pesquisadores M e l o o o iv r t g ^ ^ Q * ' « i i p w t a T e n o , ô j l l i r a e e o c ío d s â â 97 (Pierce. 1975, 1977; Gray, Judson © Duran-Aydintug, 1993). No caso do presente estudo mostrou-se inclusive que esta prática pode não apenas ser mudada uma vez. mas revertida também: neste sentido, este estudo pode ser tomado como uma demonstração de que as conseqüências de uma dada prática social (neste caso de alocação e distribuição de recur sos) sfilíKÍQüSü]QyaCÍa2QS5 nesta prática, fortalecendo-as de maneira a torná- las uma nova prática. Deste ponto de vista, os resultados podem ser toma dos como indicação de que práticas sociais são sim constituídas como con juntos de contingências sociais sob controle de suas conseqüências Indivi duais e para o grupo (Skinner, 1993/1953; 1981). Numa linha semelhante de interpretação, o presente estudo pode ser tomado, ainda, como demonstração de como estas práticas (no caso, uma forma de distribuição) podem em certo sentido, serem definidas por um produto agregado (produção de fichas) produzidos (em longo prazo) por com portamentos individuais, eles mesmos mudados por este produto agregado. Os resultados deste experimento mostraram que o produto agregado (ganho ou perda de fichas) selecionou desempenhos individuais distintos em cada grupo, demonstrados nas apostas e nas divisões dos ganhos. Assim, foi pos sível notar que num grupo (Grupo 2) os participantes apostaram aproximada mente a mesma quantia de fichas que ganharam ao longo das sessões e. ao final, todos os participantes tiveram ganhos reais muito semelhantes; en quanto que. no outro grupo (Grupo 1) os participantes apostaram mais do que ganharam e que o ganho (ou a menor perda) entre os participantes foi porceptivelmonte diferente entre os integrantes. Sabemos que os grupos, para se adequarem á contingência em vigor deveriam dividir as fichas de modo gual ou diferente (a depender da condi ção experimental no momento). Porém não havia contingências que estabe lecessem como deveriam apostar, ou quem deveria ganhar mais, ou quanto mais este alguém deveria ganhar, ou se certos comportamentos deveriam tor certos padrões (como a chamada escolha consensual de uma fileira). Enfim, não havia conseqüências programadas para estes e outros compor tamentos que no seu conjunto (formariam uma dada forma de distribuição de recursos) produziriam o produto (maior ou menor ganho de fichas) delimita do pela contingência em vigor (sucesso ou fracasso nas apostas feitas) O que os resultados mostraram ó que para cada um dos grupos, diferentes operantes entrelaçados (Skinner, 1993/1953. Glenn 1988,1991) foram sele cionados em cada grupo. Em ambos os casos estes operantes (padrões de comportamento individual, mantidos por suas conseqüências) fortaleceram- se e produziram o resultado agregado especificado; mas, em cada caso. diferentes operantes foram selecionados e as conseqüências específicas que os mantiveram foram distintas. Mais ainda, em cada caso (ou melhor em cada grupo) estes padrões de comportamento distintos e as distinta» conse qüências mantenedoras promoveram resultados mais ou menos satisfatórios, se pensarmos em termos de ganhos e perdas individuais, ou seja. eram es tratégias distintas, porém funcionais. Isso poderia até mesmo nosleva' a considerá-las uma ‘ classe" de práticas semelhantes. 98 CMslian visni Assim, muitos comportamentos (como apostar, propor a distribuição, colocar na caixa dos jogadores, contribuir para a decisão de escolha da filei ra entre outros) poderiam ser (de fato, foram) selecionados pelas conseqü ências e estes comportamentos eram "livres", no sentido de que diferentes variações individuais poderiam promover o sucesso da aposta, por isso em cada grupo há diferentes padrões individuais. No entanto, estes padrões tam bém poderiam se mostrar mais ou menos produtivos no sentido de produzi rem "maiores lucros" individuais (e possivelmente relações sociais distintas, e ainda, maior ou menor adesão ao grupo). Sendo assim, nâo é de se surpre ender que diferentes padrões caracterizaram ambos os grupos. Portanto, há indícios de que contingências sociais entrelaçadas (Skinner, 1978/1957, Glenn 1988, 1991) muito particulares estavam ope rando om cada grupo e estas contingências parecem ter determinado um maior ou menor na produção de fichas. Por exemplo, um grupo rapidamen te parecia apostar num ritmo muito acelerado (muitas fichas por jogada) ao discriminar que entraria numa seqüência de ganhos (Grupo 2), enquanto o outro grupo parecia ir testando a contingência de forma mais lenta (Grupo 1) e portanto ao longo do tempo esta “forma de jogar" acabaria por se mos trar menos produtiva no sentido de que, uma vez ganhando seguidamente, o interessante para os participantes seria apostar o máximo e obter o maior número de fichas possível, pois quanlo menos fichas apostadas menores eram também os ganhos. Outro fato interessante o ser considerado é que os participantes do Grupo 2 acabaram desenvolvendo um sistema de rodí zio (ilustrado na Figura 5). do modo que cada membro do grupo aposlava alternadamente mais que seus colegas na condição B e aquele que apos tava mais também recebia proporcionalmente mais na divisão dois ganhos implicando assim numa forma de divisão igualitária dos ganhos quase sem pre. Foi demonstrada uma relação de probabilidade entre os produtos agregados e certo modo de distribuição e para produzir tal resultado (um determinado montante de fichas) cada participante deveria investir, discu tir, dividir, escolher e muitas vezes aplicar uma conseqüência sobre o com portamento dos outros (somente aqui existiria uma enorme variedade de Interações verbais envolvidas) do divorsas formas diferentes de modo que cada comportamento era selecionado por suas conseqüências imediatas (por exemplo, investir determinado montante de fichas, sugerir um modo de divisão dos ganhos ou propor uma formo de escolha de fileiras a cada joga da dô modo que poderia ou não ser acoita pelos colegas) e o conjunto destas interações (que teoricamente formaria uma prática cultural como distribuir os recursos de modo igual ou diferente) era responsável pela maior ou menor habilidade de cada um dos grupos em produzir fichas (o resulta do agregado), que seria uma conseqüência mais atrasada e que manteria toda esta rede de relações de uma forma análoga a determinação de práti cas no nível cultural. Possivelmente esta relação seria, também, análoga a relação descrita pelo conceito de metacontingência (Glenn, 1988; 1991: Andery e Sério, 1999), porém seria interessante uma tentativa de especifi car melhor os operantes entrelaçados em experimentos futuros. Mbiacoqüoj&hiIbis coTporiammto, oitlura ** rixhkIoU» 99 Embora não tenham sido capazes de descrever verbalmente as con tingências. alguns participantes se mantiveram fazendo registros nos cader nos fornecidos pelo experimentador, até o final da coleta de dados, porém observou-se que o comportamento de fazer registros escritos foi se tornando menos freqüente, uma vez que registrar não tornava mais provável o suces so no jogo e eventualmente algum participante poderia passar por uma se qüência de acertos sem que fizesse qualquer típo de registro. No presente estudo, assim como no de Wiggins (1969). nenhum dos participantes foi ca paz de 'tomar consciência" do real motivo" do sucesso ou fracasso do grupo nas jogadas, ou seja, os participantes não puderam fazer uma descrição verbal precisa das contingências em vigor, muito embora seja evidente que todos os participantes dos grupos estivessem sob controle delas, um indicio extra de que o controle por parte de uma contingência independe de sua descrição verbal, como já foi apontado por Skinner (1974). Em estudos futuros seria interessante a elaboração de experimen tos capazes de verificar o efeito destas conseqüências seletivas sobre gru pos numa situação de competição, onde se um grupo ganha o outro perde, pois sabemos que no mundo real grupos distintos competem por recursos limitados e eventualmente se uma prática se mostrar efetiva poderá ser transmitida a outro grupo. Embora de execução complexa, seria também interessante fazer uma análise detalhada das interações verbais decorren tes de experimentos semelhantes a este (Wiggins. 1969; Sell e Martin, 1989; Pierce. 1975; 1977), uma vez que o comportamento verbal é essencial para a interação social e como se indicou aqui, tem papel relevante na determi nação dos padrões de comportamento individual e nos produtos agrega dos que são conseqüências das inierações sociais. Referências Bibliográficas Andery, M A P A & Sério. M. A P (1999) O conceito de melacontngència Afinal a velha contingência de reforço ó suficiente? Em R. A Banaco. Sobre comportamento e cognição Aspectos teóricos, metodológicos e de formação om anàliso do comportamonto o terapia cogmtMsla. Vol. 1. Santo André Arbytes. Bavolas. A.. Hastorf. A. H.. Gross, A. E & Kite, W. R. (1965). Expenmenta on the alteration of group siructure. Journal o! Expenmental Sodal Psychoíogy, 1, 55- 70. Biglan A (1995). 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Neste artigo examinamos a natureza das organiza ções, enquanto entidades culturais que se transformam, sendo esta transfor mação o resultado de dois tipos distintos de seleção: comportamental e cuí- tural. Sugerimos que todas as organizações são entidades culturais, mas nem todas as entidades culturais são organizações. Isto é similar a dizer que, assim como entendemos ser todo comportamento verbal comportamento operante, nem todo comportamento operante é comportamento verbal. Mais ainda, embora o comportamento verbal seja operante e organizações sejam ©ntidades culturais, não há razão para afirmar que comportamento verbal e organizações não possam (ou devam) apresentar, cada um deles, caracte rísticas peculiares que transcendam suas inclusões nas categorias gerais de comportamento operante e entidades culturais. Neste artigo tratamos de duas características significativas da mu dança organizacional: complexidade e seleção. Na primeira seção faze mos uma revisão da natureza dos sistemas organizacionais, discutimos os limites organizacionais e sugerimos uma taxonomia de alguns tipos de com plexidade que são característicos de muitas organizações. Na segunda seção tentamos explicar mudança organizacional como uma função de contingências culturais e comportamentos. Ao longo deste artigo, utiliza mos exemplos reais, muitos dos quais pertencentes a organizações com fins lucrativos. Estamos confiantes que organizações com fins lucrativos, assim como outras organizações humanas, estão para nossa análise as sim como jogar futebol e ler estão para a análise operante. ' Tradução do G lo rn , S S . A M alo tt, M (2 0 0 4 ). Com piox ily and Solection: Implicallons or OrganlZflltonal C h ange B e h a v b ra n d S o ci.ih ssucs 1 3 .8 9 -1 0 6 Publicado c o n a autorlzaçfio do Botravionsis (ur Satfal Rvsponsibtòty. S e h jv w and Soo«M£Su».s pode seracessado em hltp ! .''www.bfsr.orfl. Tradução realizada por Maria Silvia Ribeiro Todorov camila paiffer Highlight 102 S i y i c G lo -u t. M a n a M J u i i Complexidade Organizacional A maioria das tentativas de mudança organizacional é exaustiva, pois uma organização pode se transformar de diversas maneiras. Para lidar com a complexidade organizacional, constituímos grupos, passamos inúmeras horas em reuniões o, com demasiada freqüência, tomamos decisões que não têm efeito algum a longo prazo. Um exemplo: em um esforço para redu zir filas nos caixas, uma organização de vendas a varejo tentou implementar a “regra do próximo na fila ' em lojas que atendem até 2000 fregueses em um dado momento e têm até 40 caixas registradoras. A regra era que nenhuma fila deveria ter mais que um freguês esperando enquanto um outro estivesse sendo atendido no caixa. Em diferentes lojas da rede, tentou-se reduzir ou eliminar longas filas nos caixas sem sucesso porque muitas variáveis que afetam a eficiência do atendimento r>o caixa não foram consideradas - o volume do tráfego em momentos específicos do dia, as condições climáticas e seus efeitos nos padrões de compra, número de empregados necessários para lidar com um volume variável de fregueses, demandas de serviço em outras partes da loja. e assim por diante. Muitas variáveis dinâmicas afetam as organizações e nosso trabalho nelas. Acreditamos que compreender a natureza da complexidade organizaci onal é essencial, mas não suficiente, se esperamos realizar uma mudança significativa e evitar sermos submergidos por detalhes. Nas próximas seções examinamos a natureza dos sistemas organizacionais, definimos as fronteiras das organizações e distinguimos vários tipos de complexidade. A Natureza dos Sistemas Organizacionais A n a lis ta s do co m p o rta m e n to , que traba lham no cam po de gerenciamento organizacional do comportamento, devem ir além das ativi dades tradicionais dos analistas do comportamento porque seu objeto de estudo é o comportamento organizacional. “Comportamento organizacional" significa tanto o comportamento de indivíduos em organizações quanto o comportamento de organizações como entidades funcionais. O que deve ser gerenciado é a relação entre o comportamento de indivíduos em uma organização e o comportamento da organização como um todo. Organizações consistem da interação dinâmica entre o comportamento de seres humanos e seus produtos. O comportamento de todos os emprega dos. como o comportamento no laboratório experimental, e o resultado de contingências de seleção comportamental, ou, resumindo, de contingências comportamentais. As unidades de análise que compõe o comportamento consistem de relações entre antecedentes, repostas emitidas pelos organis mos o conseqüências. Algumas contingências comportamentais tornam mais prováveis que um comportamento do mesmo tipo volte a ocorrer. Por exem plo. om uma fábrica de produtos do plástico, um esquema de produção (an tecedente) contém Instruções para o trabalhador montar o molde (resposta) M a t H r w it ir t if l it ó U » n o m jw r t w n e ilo , a iM t f á « B o rw e -ttV i 103 para poças plásticas Um moldo finalizado ó o produto do comportamento desse operário. O operário localiza o molde, coloca-o em uma empilhadeira, leva-o para a prensa e o coloca na prensa. Se o molde ê fixado niveladamente entre as portas da prensa, a tarefa BStá completa (consequência). So o mol do não está nivelado, o operário deve manipulá-lo até que se ajuste do modo adequado. A relação entre suas ações e a prensa adequadamente carrega da (contingência) afeta a maneira como a fixação do molde será feita da próxima ve /. Variantes do comportamento na colocação adequada dos mol des se tomam cada vez mais freqüentes. Repetições desse comportamento na colocação de moldes constituem uma linhagem comporta mental, A colo cação de molde está passando por uma seleção por reforçamento - um pro cesso pelo qual a relação entre resposta e suas conseqüências aumenta a probabilidadefutura desse comportamento. A colocação do molde é com portamento operante porque atua sobre seu meio ambiente. Uma linhagem operante consiste de uma seqüência de instâncias do operante que mudam com o passar do tem po com o resu ltado de contingências de seleção comportamentais. Algumas vezes o comportamento da pessoa A. ou o produto desse comportamento, é a ocasião para a pessoa B fazer algo. O comportamento de B, ou seu produto, pode por sua vez estabolecer a ocasião para a pessoa C fazer algo. As contingências comportamentais de A, B e C são interligadas. O mesmo evento ou objeto (e g o produto de A) é uma conseqüência do comportamento de A e estabelece a ocasião para o comportamento de B. Por exemplo, na manufatura de peças de plástico, o operário A pega o molde de uma estante de ferramentas e o coloca na prensa. O operário B ajusta o mostrador da pronsa do acordo com especificações técnicas. O operário C molda as peças. O comportamento de cada pessoa torna-se parte do ambi ente passando a integrar contingências comportamentais para outras pesso as. Chamamos esses tipos de relações entre os comportamentos de duas ou mais pessoas de contingências comportamentais entrelaçadas. Elas são os fundamentos da complexidade cultural. O comportamento de A : B e C podo ser parte de um conjunto maior de contingências comportamentais entrelaçadas que. juntas resultam em um produto agregado: peças p lásticas moldadas. Essas contingências entrelaçadas são repetidas com cada solicitação de moldagem; e as repe tições constituem-se em uma linhagem de contingências entrelaçadas. Variações nos elementos das contingências entrelaçadas podem resultar em variações na quantidade ou qualidade das peças plásticas. As contin gências entrelaçadas determinam as características dos produtos; e as ca racterísticas dos produtos determ inam a aceitação do produto pelo consu midor. A aceitação do consumidor é o ambiente externo contingente ao produto das contingências comportamentais entrelaçadas. Em organizações, estamos interessados nos produtos do comporta mento entrelaçado do múltiplos indivíduos; portanto, o comportamento de indivíduos permanece sendo o componente fundamental das organizações. camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight 104 & y n d 6 < in n , M a n a M a o li A evolução do uma organização como um lodo depende não somente dos comportamentos individuais, mas também, do modo como esses comporta* mentos so combinam e formam unidades de seleção que evoluem. Dada a complexidade inerente às organizações, o comportamento de qualquer indi víduo raramente pode ser isolado e administrado sem se levar em conta suas interações com o comportamento de outros indivíduos. Fro n te iras organizacionais Podemos começar nossa análise organizacional estabelecendo as fronteiras da entidade que queremos estudar. O que constitui uma organi zação? Em seu sentido mais amplo, uma organização é constituída por um grupo que desempenha tarefas que resultam em um produto particular. Uma organização é definida polo que produz. A fábrica XYZ, por exemplo, con- siste.de todos os empregados cujo trabalho integrado resulta na fabricação do produto manufaturado por esta fábrica. Se um departamento interno fornece sorviços de viagem aos empregados da XYZ, sua existência ne cessariamente dependeria dos produtos manufaturados da XYZ. Inversa mente, uma agência de viagens, contratada pela XYZ para fornecer seus serviços aos empregado da companhia, é uma organização diferente da XYZ porque a existência da agência necessariamente não depende dos produtos manufaturados pela fábrica. As organizações frequentemente compreendem diversos sistomas que contribuem para que elas atinjam seus objetivos. O termo sistema é usado para uma variedade de relações entre muitos tipos de elementos isolados, combinados em um todo para alcançar um resultado. XYZ necessita de vários sistemas para fabricar produtos, tais como sistema de compras, de vendas, de produção o de expedição. Cada sistema gera um produto que está relacionado às operações de um ou mais dos outros sistemas e, desse modo, contribui para o produto agregado da XYZ. Por exemplo, os produtos dos sistemas de XYZ incluem ordens de compra, artigos comprados, produtos manufaturados e prontos para entrega. Cada sistema é composto de subsistemas. O sistema de produção poderia incluir os subsistemas de moldagem, acabamento, e empacotamento, cada um produzindo um componente crítico - componentes moldados, acabados e empacotados. Um subsistema pode ter seus próprios subsistemas. Por exemplo, moldagem inclui preparação do plástico, instala ção da prensa e injeção do plástico, e esses sistemas produzem plástico ade quado, instalação apropriada e moldes injetados. O sistema cultural menos complexo em uma organização é aquele formado por uma contingência comportamental entrelaçada na qual dois indivíduos executam, cada um ao menos, um comportamento repetidamente. Organizações não são entidados estáticas; são compostas por todos os seus sistemas dinâmicos, sempre passando por mudanças. Alterações nos sistemas internos resultam em mudanças na organização como um todo. Por exemplo, o comportamento entrelaçado de uma equipe de produção poderia ser afetado não só pela equipe de engenharia diretamente envolvida na produção, mas também pelo processo de compra, o do expedição, e por camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight MbVjuPtlInQAicla»: ccoipoi'.en6olo. cu*urn e wxtedCKte 105 outros processos na organização. Além das dinâmicas internas de qualquer processo, este também é afetado por alterações no ambiente externo à orga nização, tais corno mudanças nas organizações de clientes e de fornecedo res. A mvasâo de partes de um sistema nas operações de outros sistemas revela a permeabilidade de suas fronteiras. As interações dinâmicas entre os elementos dos sistemas e a permeabilidade de suas fronteiras criam uma complexidade difícil de se analisar. Devido ã permeabilidade, as fronteiras de qualquer sistema são arbitrárias, entretanto, delinear fronteiras auxilia-nos a simplificar uma complexidade esmagadora. Identificar fronteiras arbitrárias não significa que podemos ignorar o grande número de interações que ocorrem entre entidades internas e ex ternas. Somente significa que deixamos de lado as influências mais remo tas e focalizamos as dinâmicas mais diretas. Análises de sistemas, inde pendentemente de seu tamanho, requereriam, minimamente, o estudo oas interações dinâmicas entre seus componentes internos, suas relações com sistemas criticos da organização, sua relação com o desempenho da orga nização como um todo, o sua rolaçâo com a demanda dos clientes. {Para um relato de análises de sistema em mudanças organizacionais, ver Gilbert, 1996; Malott, 2001-b; R um m lere Brache, 1995.) Por exemplo, o comportamento da equipe de vendas de uma com panhia farmacêutica está integralmente relacionado a outros sistemas da organização. Seria limitado estudar somente o comportamento do pessoal de vendas e tentar planejar novas contingências de reforçamento para au mentar as vendas. Não poderíamos saber se nossas mudanças teriam um efeito dosejado em outros processos e, portanto, na organização como um todo. Assim, a análise do comportamento da equipe de vendas exigiria não somente o estudo do comportamento do pessoal de vendas, mas também a inter-relação entre as equipes de venda em territórios, distritos e regiões; a influência da propaganda, do desenvolvimento de produtos, dos proces sos de produção: as tendências de compras dos clientes; e o impacto das regulamentações de drogas no desempenho das vendas. Taxonomia da Complexidade Organizacional Organizações são como ecossistemas, formadas por inúmeras interdependências.A ecologia oferece uma visão ordenada da natureza que simplifica o estudo das relações entre organismos e seus ambientes físicos, incluindo outros organismos. Como os ecologistas, os analistas do comportamento que trabalham em organizações precisam de um caminho para o rd ena r as com p lexas in te rdependênc ias e n tre os s is tem as organizacionais e suas contingências entrelaçadas. P ensam os se r ú til c o n s id e ra r trê s tip o s de com p le x id a d e organizacional: ambiental, de componentes e hierárquica. Nesta seção '9- vomos osses três tipos de complexidade e suas implicações para a eficácia organizacional. camila paiffer Highlight 106 & g i d G ltw in , M a rta M atan Complexidade ambiental Para escolher qualquer área a ser mudada, por menor que ela seja. devemos compreender a organização como um todo. O número de variá veis externas à organização que afetam seu desempenho determina a com plexidade ambiental. O ambiente oxterior à organização está mudando cons tantemente de maneiras que afetam a organização interna. Algumas das maneiras como o ambiente externo pode mudar são. por exemplo, desen volvimento de produtos e serviços dentro de uma indústria, regulamenta ções governamentais, fusões, consolidações, falências o estado de guerra. Outras variáveis externas, como mudanças na concorrência, fornecedores e condições climáticas também podem afetar as organizações. A Figura 1 ilustra a complexidade ambiental. Desenvolvimento de produto. Milhões de novos produtos e serviços se tornam acessíveis no mercado todo ano, o que requer mudanças em muitos sistemas internos das organizações, tais como, produção, controle de quali dade, treinamento e tecnologia da informação. Fracasso em melhorar a qua lidade dos produtos, nivelar-se aos padrões da concorrência e até mesmo não obter êxito na tentativa de superá-la, pode reduzir as vendas e a fatia do marcado ameaçando a estabilidade de longo prazo da organização. Regulamentações governamentais. Regulamentações também impõem tremendas mudanças em processos internos. Por exemplo, consideremos o impacto das regulamentações de rótulos em alimentos de 1994 concebidas para ajudar os consumidores a fazer escolhas saudáveis. O United States Food and Drug Administration e o Departamento de Agricultura exigiram que todos os alimentos empacotados tivessem um rótulo padronizado indicando as quan tidades de calorias, vitaminas, proteína, gordura e fibra por porção. Estas regu lamentações impuseram mudanças nos processos de fabricação de alimen tos, controle de qualidade, empacotamento, e outros. Fusões, consolidações e falências. Fusões e consolidações, frequen temente, revitalizam empreendimentos debilitados, diminuem a competi ção, ou diversificam linhas de produtos, alterando assim o quadro ambiental e criando nova demanda. Uma fusáo é realizada quando a companhia com CfQtnltaçAte Cortfçe« Cthtffoa Figura 1 Comploxidade ambiental MtrtacsnUiyjônsiíi»: ccMpOítafwittO. cuRur« e scaed ede 107 pra a propriedade de outras firmas, absorvondo-as em uma estrutura corporativa que mantém sua identidade original. Uma consolidação ó efeti vada quando duas ou mais companhias se dissolvem para formar uma com panhia inteiramente nova. Falências podem resultar no desaparecimento de concorrentes, vendedores ou clientes. Flutuações na economia. Flutuações na economia têrn um impacto significativo no ambiente de uma organização. Em períodos de prosperida de. produção, emprego, salários, e lucros aumentam; mais investimentos expandem a produção. No entanto, enquanto se mantém essa tendência ascendente os custos do produção aumentam; falta de matérias primas pede dificultar a produção; taxas de juros se elevam; preços sobem; e os consu midores reagem aos preços maiores comprando menos. À medida que o consumo começa a não acompanhar a produção, acumulam-se os estoques, causando uma queda nos preços. Os fabricantes fazem cortes, o investi mento diminui, a produção diminui, e o desemprego cresce. Ciclos de pros peridade e depressão afetam a maioria das organizações. Estado de guerra. O estado de guerra também tem um impacto sig nificativo nos ambientes organizacionais. A guerra afeta a economia, a infra-estrutura dos países envolvidos, o desenvolvimento de sistemas mili tares e de inteligência, e assim por diante. A ocorrência de mudanças ambientais não significa que as organiza ções tèm que se tomar, necessariamente, mais complexas. Algumas vezes, mudanças no ambiente externo forçam as organizações a simplificar seus sistemas. Por exemplo, demanda por entrega mais rápida de pedidos pode exigir de uma organização que simplifique seus processos de modo que uma maior quantidade de volumes seja entregue em menos tempo. Mudanças no ambiente externo provocam alterações dentro da or ganização, mas mudanças dentro das organizações também afetam o ambiente. Por exemplo, consideremos o Impacto na economia de uma Oni- ca grande fusão, ou de resíduos perigosos gerados por uma empresa, ou de um ato terrorista. A complexidade ambiental não pode ser ignorada. As organizações que não se adaptam ãs mudanças em seus ambientes exter nos tomam a sua sobrevivência improvável. C o m p lex id ad e de co m p on en tes O número de elementos que compõem uma organização determina a complexidade de componentes. Os elementos podem se relacionar uns com os outros como iguais ou podem estar localizados em diferentes niveis de uma hierarquia. As menores unidades organizacionais de interesse sno con tingências comportarrientais entrelaçadas que geram produtos crilicos. Organizações tendem a ser mais complexas quanto maior for o nú mero de pessoas que participam ern seus processos. Pequenas empresas com poucos empregados são geralmente menos complexas do que grandes empresas com milhares de empregados. A complexidade de componentes 108 S g r id G io m , M ara M doll também depende do número de processos que cada sistoma compreende. Por exemplo, em uma companhia industrial o processo de produção pode ser mais complexo do que o processo de publicidade. Isso pode ocorrer por que a produção tem mais subsistemas e/ou maior número de contingências comportamentals entrelaçadas. O processo industrial pode conter todas as contingências entrelaçadas envolvidas na recepção de matéria prima, na pre paração do equipamento, no planejamento, na produção e na administração de estoquo. Uma maneira simples de se visualizar a complexidade de com ponentes é olhar mapas de processos. Pensemos em um mapa de processo como uma descrição gráfica, em que cada caixa no mapa representa com portamento entrelaçado que gera um produto. Um mapa de processo pode englobar o comportamento de milhares de pessoas (Malott, 2001-b). Proces sos com mais caixas no quadro organizacional são mais complexos do que aqueles que têm menos caixas. A Figura 2 mostra o processo parcial de seleção de itens de varejo a serem anunciados. ( 2 } 0 A f Ü « < « < d» V ^ C c r « i f *4rjt M o um» tro -c a p H r p»'a 0 • V j l i . j d» Profo^a-da s itre i da luta U fcetiuC i- AlTUrtn» •> luta da r n K i d» Cwrçradfr f 3 o-tR-j.i na n » « A? d» 0 f t a l fU dt dl rranife wn i r-n* è .V * ' > J U n «•rnlnmfi,» e itfià >U In a 0 A»i<it»nU AHi nUlraln' i j t l » f lunr.avfa um <t t i r a d i <omp4w«r qut ■ t M W p J J *• l<*Jl <s>ft 0 . '« i i ln a « Frspaginda ‘ ai otpb <!a Ir t» ó* pi!d jcoc • dã a pòçi» paa 9 f t f sl«Na <\Jrnnutrai*ti COMPORT AM ITT0 111 j I j 1 u . _ tilonra^otranxrnM da ( “> 0 Otnif.» M Ikp a .a-ifiiilu H141 r i ' a íksu d* p » ijtv t « a Ib ia l n i p v i M > Figura 2 Complexidade de componentes. Estudar a complexidade de componentes tem importância decisiva. Sem um esforço sistemático,as organizações tendem a crescer em com plexidade de componentes e se tornam redundantes e ineficientes. Uma complexidade de componentes desnecessária pode ser contraproducente para os objetivos últimos da organização. MaeacoiüngtnciK' comfwriwno-itn. cuWlt« « *or«d«o<* 109 C o m p lex id ad e h ie rárqu ica Organizações são feitas de sistemas que contém subsistemas que. por sua vez. podem conter mais subsistemas, e assim em diante. A ccm - plexhJade hierárquica è determinada pelo número de níveis de sistemas existentes na organização, ou o número de relações parte-todo que consti tuem uma organização Os niveis de direçáo em uma organização são. geralmente, um bom índice de complexidade hierárquica. Uma organização cresce em complexidade hierárquico à medida que cria mais camadas de componentes. Portanto, a complexidade de com ponentes geralmente afeta a complexidade hierárquica. Por exemplo, uma organização que precisa aumentar a produção podo adquirir mais fábricas; a supervisão do funcionamento de diversas fábricas requer outro nível de gerenciamento. Quando o número de fábricas cresce consideravelmerte, as organizações necessitam de diretores regionais para administrar áreas geográficas especificas. À medida que a companhia expande, os diretores regionais precisam de mais ajuda para administrar seus territórios, de medo que podem criar uma nova camada de direção - diretores distritais. A Figu ra 3 ilustra a complexidade hierárquica em uma companhia farmacêutica. — C igaras: Figura 3 Complexidade hierárquica camila paiffer Highlight 110 Sgr.d G w iri, Mana MefoU As estruturas organizacionais frequentemente refletem o modo como reúnem seus componentes em hierarquias. Os conjuntos podem ser defini dos funcionalmente (marketing-vendas), geograficamente (regiões-distritos), por conteúdo (psicologia, história, fisica). pela forma (carros e caminhões), pefa expectativa de vida (pereciveis-não pereciveis/secos-molhados) e pela sazonalidado (sazonal-não sazonal). As organizações podem ter tipos diferentes de níveis hierárquicos - companhias farmacêuticas que algumas vezes organizam suas equipes de venda por territórios, distritos e regiões podem também apresentar cama das de direção agrupadas por tipos de produto. Assim, possuem especia listas em produtos para tipos espoclficos de doenças, por exemplo, doen ças do sistema nervoso central Uma consequência importante de complexidade hierárquica é que, à medida quo os níveis de gerenciamento aumentam, o comportamento da queles nos niveis mais elevados se torna cada vez mais desconectado a componentes essenciais das contingências entrelaçadas dos niveis mais baixos. Infelizmente, á medida que os níveis de gerenciamento crescem em uma organização, essas rupturas entre n ive is am eaçam o sucesso organizacional. O desempenho do nível mais baixo, em última análise, deter mina o sucesso, o fracasso e a sobrevivência da organização. Mas o que acontece no nivel mais baixo depende do comportamento de gerentes nos niveis mais altos - principalmente comportamento de tomada de decisões. Decisões nos niveis mais altos são frequentemente tomadas som que se tenha consciência das consequências para os sistemas de niveis Tabela 1. Tipos de complexidade Tipo Ambtontal d» Componentes Peftnlçfto Õ s fator©* externos A orgu-it/açâo quo Hf elam o desoinptmho organizadora* Número da Owtes quo oofstit(.«rí o (oso (represeiiiaili «*m mapas c-o PHXMMOV Nume*u do ivvôis do wrtertodo {ropreseotado pornfv«9de odn.nislraçáo) Exem plos OttMonvnlvimunto d& produtos e serviço», fuso«» e consd«.-içò<x> ftjluaçúe* flcopímlcas. estado de guerra MoUaqern incHi acionar a piorsc, verificar o oldsíioo o sacar o plástico Crxri[i(i!birr.r>-to da ven d a*é parte CO Brno d« veiKa»; time do vandaa ô corts do territoito; tomtork) ô parle do distrito; o stntu « parto _oajea&. t ffa to __________ Amoaçam a ou coritrítuam para a aotimvívércia da orgailzaçôo EflcMocta dos ptocossoe. AtwMntotraoflo A Ín to r a «rganUaçAo interro ao ambiente ttxforno Otimiza» oa componni'to6 •liminantJo rodurca - ia .« C fici4naa doe p iu o iw s Simplifica os niveis o« cdministraçãu para «liminar deecu-iexòes e promover a oonsütórjcla ontre as camadas MrtlBOortrigAnofts: cotrpofurnonto, cultura « »ir.iwlodo 111 mais baixos da organização. Tomar decisões toma monos tempo do que implementá-las. E tomar decisões com pouca reflexão toma muito menos tempo do que implementá-las - mesmo que pobremente implementadas. Administradores geralmente solicitam mais iniciativas de mudança do oue pode ser realisticamente implementado. A Tabela 1 mostra os trés tipos de complexidade discutidos. Nesta seçáo tentamos introduzir organizações como ecossistemas e descrever interdependências apontando très tipos distintos de complexidade - ambiental, de componentes, e hierárquica. A próxima seçáo trata de como organizações evoluem por intermédio da seleção comportamental e cultural Seleção em Organizações em Evolução As características biológicas dos organismos, o comportamento aprendido dos organismos individuais e as contingências comportamentais entrelaçadas om organizações são tipos de coisas muito diferentes, mas todos eles mudam ao longo do tempo como resultado de seleção. Seleçáo na tu ra l responde po r ca ra c te rís tica s do m undo o rgân ico ; se leção comportamental por características do comportamento individual; e sele ção cultural por características de organizações. Embora a seleção natua l não pareça desempenhar um papel corrente na mudança organizacional, o processo de seleçáo natural é bom compreendido. Assim, introduzimos o conceito de seleção descrevendo seu papol na evolução biológica e seu papel na evolução comportamental. Charles Darwin (1958) foi o primeiro a apresentar a seleção natural como um processo que causa preservação diferencial de características her dadas (genéticas) em uma linhagem de organismos reprodutores. Caracterís ticas de um organismo/gene que melhor se adaptam ao meio em que esse organismo existe ocorrem com mais frequência do que outras características em sua linhagem Por exemplo, organismos do uma espécie particular que vivem em um ambiente muito frio podem variar quanto a suas propensões herdadas a desenvolver pelo denso. Aqueles com maior probabilidade de de senvolver pelo denso têm, em média, maiof probabilidade de sobreviver e re produzir do que aquoles com menos propensão herdada para pelagem densa. Portanto, a quantidade módia de pelagem densa dos organtsmos destas es pécies aumenta em sucessivas gerações ou ciclos reprodutivos. A pelagem densa média da Geração #5000 será consideravelmente diferente da pelagem densa média da Geração #20000. mas a mudança entre duas gerações con secutivas quaisquer dadas não soria detectável. Neste exemp!o. a relação entre a pelagem densa de um organismo e as temperaturas ambientais afeta a pro babilidade de pelagem densa em gerações futuras. Similarmente, a relação entre a pressào á barra do um rato e a apresentação de comida, afeta a proba bilidade de futuras pressões á barra. Em suma, as relações entre as caracte rísticas dos organismos ou comportamento e seu ambientes determinam frequências futuras dessas características. Essas relações têm sido chama das de ‘contingências de seleção" (Skinner, 1981). As contingências de sele ção podem também evolver relações entre organizações e seus ambientes. 112 S ig rid G lw in . M s t a M s li» ! Nas seções abaixo, buscamos fornecer uma abordagem selecionista para a evolução de organizações, na qual a seleção cultural e comportamental são diretamente relevantes Seleção Cultural em Organizações Organizaçõessáo entidades culturais que mudam em períodos pro longados de tempo mantendo sua "mesma'' identidade enquanto organiza ção. Nesse sentido, uma organização é como uma linhagem biológica. É composta de repetidas gerações de eventos, tendo características que se transformam ao longo do tempo como um resultado do modo pelo qual vari ações na geração em cureo são “recebidas" por seu meio ambiente. Por exemplo, desde 1990 muitas organizações se adaptaram a um ambiente comercial que inclui comórcio eletrônico (e-commerce). Antes de 1990 o ambiente de organizações com produtos para vender caracterizava-se pela troca e pelo transporte de bens de um lugar a outro. No final dos anos 90, o avanço da tecnologia de redes de computador gerou um crescimento explo sivo do G-commarcc. Esto pormitiu a troca de bons e serviços na World Wide Web (internet}, aumentando a eficiôncia e a precisão nas transações comer ciais. Na América do Norte as transações business-to-consumer o-commerce (transações empresa-consumidor via Internet) cresceram de US $11.5 bi lhões em 1998 para USS 44.5 bilhões em 2000. Organizações que foram montadas para transaçõos e-commerce conseguiram os negócios de outras organizações melhorando agressivamente os tempos de entrega. Em pou cos anos, bilhetes de passagens aéreas, reservas em hotéis, e todos os tipos do bens e serviços estavam disponíveis via web. Essa rápida mudança no ambiente externo selecionou organ-zações com processos tecnológicos mais capazes de responder ás demandas dos consumidores. M etacon ting ên c ias Metacontingências sáo relações entre contingências comportamentais entrelaçadas o seus ambientes selecionadores (Glenn, 1989). Junto com contingências comportamontais, metacontingências respondem pela sele ção cultural e pela mudança evolucionária em organizações. Em organiza ções, metacontingências aprosentam três componentes: contingências comportamentais entrelaçadas, seu produto agregado e um sistema de re cepção. O sistema de recepção é o recpiente do produto agregado e assim funciona como o ambiente selecionador de contingências comportamentais entrelaçadas (cf. Brethower. 2000). Contingências entrelaçadas não mais se repetirão caso não haja mais demanda por seus produtos A Figura 4 ilustra o conceito de metacontingência. camila paiffer Highlight Mo'.*co'i()i>36'>r.tiib c o T p O ftim m lo . a utura « 113 De modo análogo ao reforço operante no comportamento individual, os a m b ien tes ex te rnos de o rg a n izações d isp õ em co n sequênc ias selecionadoras. Clientes "compram” {ou não compram) os produtos da or ganização. os acionistas compram ou vendem suas cotas, agências de fomento concedem verbas ou não, agências governamentais concedem isenções ou penalidades tributárias, e assim por diante. A maioria dessas conseqüências são reiacionadas. mesmo que de forma imperfeita, aos pro dutos das contingências comportamentais entrelaçadas. Considere um restaurante como uma organização. O produto agrega do das contingências comportamentais entrelaçadas do restaurante é a comi da servida, e o sistema receptor são os consumidores. O restaurante sobrevi verá somente se sua comida e suas características físicas (ambiente) satsfl- zerem às exigências do ambiente selecionador {consumidores que comem nesse restaurante). A comida o o ambiente podem mudar á medida que o ambiente extemo (preferência dos consumidores ou concorrência) se transfor ma. Os sistemas que contribuem para o produto do restaurante incluem o de compras, o de preparação da comida, o de servir a comida, o gerenciamento financeiro o a manutenção das instalações. Cada processo envolve uma ou mais metacontingências. Servir refeições representa um conjunto de contin gências comportamentais entrelaçadas envolvendo o comportamento de di versas pessoas: o atendimento realizado pelos garçons, o chefe de cozinha fornecendo rnstruções, o cozinheiro preparando a comida e colocando-a onde o garçom possa pegà-la. O comportamento de cada indivíduo está relaciona do ao dos outros nas contingências entrelaçadas. O produto agregado dessas contingências entrelaçadas são as refeições disponíveis para serem servidas. Se as refeições preparadas são bem adaptadas á demanda dos consumido res, os consumrdores provavelmente continuarão a freqüentar o restaurante. Outras metacontingências que têm produtos agregados diferentes também afetam a demanda do consumidor. Por exemplo, o comportamento entrelaçado dos atendentes afeta a prontidão e a qualidade do serviço. Por tanto. inúmeras metacontingências existem dentro das fronteiras do restau rante. O comportamento do qualquer indivíduo, assim como as característi camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight 114 & 9 " G G ln i n , M»*1h MBfcXt cas de qualquer uma das contingências comportamentais entrelaçadas, pode contribuir para a adequação dos produtos às demandas do ambiente. Uma organização como um todo pode evoluir, ou mudar, enquanto repetições de suas metacontlngências Internas Interrelacionadas ocorrem ao longo do tempo. Os produtos agregados gerados pelas contingências entrelaçadas variam ao longo do tempo, e os ambientas em que existem selecionam difercncialmente essas variações. A Figura 5 é um diagrama de uma linhagem cu ltura l e apresenta três repetições das mesmas motacontíngências ao longo do tempo. Os participantes na metacontingència mudam através das repetições (o que ó ilustrado pelo diferente sombreado das figuras humanas). C ons ide re um a m etacon tingènc ia na qua l as con tingênc ias comportamentais entrelaçadas produzem a especialidade mais popular de um restaurante. Variações sistemáticas no produto podem resultar de dife renças insignificantes nas contingências entrelaçadas que ocorrem no a l moço e no jantar. Em conseqüência disso, pedidos no almoço podem dimi nuir enquanto pedidos no jantar podem aumentar, ou permanecer numero sos. Se essas variações nas contingências entrelaçadas têm efeitos simila res em outros pratos, um gerente perspicaz tentará analisar as diferenças nas contingências comportamentais entrelaçadas e organizará as contin gências de outro modo para o tumo do almoço. Figura 5. Linhagem cultural »/ e lK x tf i iptrfeas: o o irv x x tjiw n w , cultura a socMOada 115 As parles mais importantes de um ecossistema são seus sistemas nucleares. Na ecologia de uma organização, o produto (output) de um sistema afeta diretamente o funcionamento de outros sistemas. Em organi zações, sistemas nucleares são partes essenciais, diretamente responsá veis pela geração do produto agregado. Por exemplo, a preparação de comida ostá no ámago do sucesso de um restaurante. Se a comida for ruim, não importa quão bom seja o serviço, o restaurante, provavelmente, fracassará a longo prazo. Produção ê um sistema nuclear de uma compa nhia industrial: merchandising ó um sistema nuclear em uma companhia de varejo; vendas é um sistema nuclear em uma companhia de marketing (Malott, 1999) As relações entre os sistemas e seus subsistemas em uma organi zação constituem a rede de metacontingências entrelaçadas. Se a organi zação como um todo satisfaz as exigências do ambiente externo depende quase in te iram en te das ca rac te rís ticas dessas m etacon tingênc ias entrelaçadas. Quanto maior a complexidade de componentes de qualquer subsistema, mais metacontingências entrelaçadas provavelmente existirão. A com p lex idade h ie rá rqu ica aum enta com o núm ero de n íve is de subsistemas. Nessa rede do metacontingências entrelaçadas, qualquer desacordo signíficante entre a geração de produto em um sistema (ou subsistema) e os requisitos ambientais de um sistema relacionado (ou subsistema) será, provavelmente, prejudicial para ambos os sistemas. Se os sistemas de uma organização resultam emprodutos que es tão pobremente relacionados com seus ambientes externos, ou o ambiente ou o(s) sistema(s) tem que mudar para que a organização se mantenha por um tempo prolongado. O ambiente de um subsistema pode mudar do modo que seus produtos apóiem melhor a organização, pois o ambiente dos subsistemas de uma organização é controlado internamente Considere, por exemplo, uma indústria que produz componentes plásticos para indústrias automotivas e de telecomunicações. Para preen cher uma demanda de produto na indústria da saúde, a companhia come çou a manufatura de conectores plásticos usados em transplantes cardía cos em crianças. O cliente tinha especificações extremamente precisas para o produto, que requeria um ambiente de fabricação livre de poluição, im pondo mudanças significativas no processo de produção. Uma área espe cial foi montada para moldagem livre de poluição, equipamento de segu rança especial foi incorporado nos sistema, as regras de vestuário dos ope rários foi alterada, e novas especificações de produção foram adicionadas ao processo de informação de fabricação. Devido ao fato de um produto de má qualidade poder custar a vida de uma criança, outros processos inter nos foram ajustados, por exemplo, os acordos legais com os clientes, e os requisitos para o envio do produto foram modificados As m e ta co n tin g ê n c ia s en tre la ça d a s em um ecoss is tem a organizacional, om última instância, determinam o curso da evolução conti nuada do uma organização Se. ao longo do tempo, os produtos de um fabri cante não são comprados em quantidade suficiente para sustentar a produ- camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight 116 Stptn 01 win. Mario Malar. ção e para o investimento adequado para o futuro, então a organização se toma progressivamente menos viável em um ambiente relativamente está vel. Uma mudança no ambiente externo (e .g . o desaparecimento de um con corrente ou a redução do custo das matérias primas) representa uma mu dança nas metacontingências que podem afastar a possibilidade de extinção e tornar a recuperação possível (ao menos temporariamente). Uma mudança fortuita no ambiente externo podo resultar em uma combinação adequada entre os sistemas de uma organização e seu ambi entes selecionadores. Um resultado do tipo “salvo pelo gongo’ náo é típico e as organizações não contam com tais mudanças afortunadas em seus ambientes externos selecionadorcs. Em vez disso, focalizam nas mudan ças de seus ambientes internos. Quanto mais complexos são esses ambi entes internos, mais dificil ó reagir rapidamente a mudanças no ambiente externo. O curso de ação mais seguro é monitorar continuamente o ajuste entre os produtos da organização e o ambiente externo, identificar requisi tos correntes (e futuro previsível) para a adaptação continuada e então pla nejar e reajustar metacontingências internas. S is tem as nu c le a re s em uma re d e de m e ta co n tin g ê n c ia s organizacionais devem oo-evoluir para a organizaçáo prosperar, porque os sistemas no ecossistema organizacional continuamente afetam um ao outro. Co-evolução é a evolução conjunta de dois sistemas que apresentam um relacionamento ecológico estreito. Na co-evolução, a mudança em cada sis tema é seguida por mudança no outro, de modo que os dois sistemas evolu am de forma combinada. Tomemos, por exemplo, o uso das caixas registra doras contemporâneas em estabelecimentos de venda a varejo. Hoje as cai xas registradoras calculam o total da venda quando um freguês compra di versos artigos; mantém um registro de cada venda e a seção em que foi feita; registram se a compra foi feita a dinheiro ou crédito; Imprimem os detalhes da venda no comprovante de vendas, que serve como um recibo para o freguês; e registram o Imposto a ser recolhido. Essa tecnologia náo poderia ser implementada adequadamente sem que se alterassem diversos outros subsistemas, inclusive o gerenciamento de estoque. Se contingências de compotiçáo existem entre sistemas nucloaros, um sistema nuclear sofrerá ás custas de outro. Por definição, todos os sis temas nucleares são essenciais à sobrevivência da organização, do modo que quando se planeja metacontingências. nas quais os sistemas relacio nados participam, deve-se tomar cuidado para assegurar co-evolução em vez de competição entre sistemas essenciais para a capacidade da organi zaçáo em atender às exigências do ambiente selecionador. Infelizmente, muitos dos sistemas nucleares competem com outros sistemas por recur sos; e sistemas nucleares freqüentemente desenvolvem redundâncias com outros sistemas da organizaçáo para realizar seu trabalho. Por exemplo, departamentos de tecnologia da informação, tipicamente, não atendem aos sistomas nucleares da organizaçáo porque, freqüentemente, estão sobre carregados com infra-estrutura tecnológica intricada e fracionada. Como resultado, sistemas nucleares, como produção em uma empresa industrial. MtfftttMIlnçAnciRa r o T p z r t n r a n w , cjttira 0 «<K*dã3* 117 Ireqüentemente. contraiam especialistas em computação para facilitar o processo de produção. Departamentos de treinamento são, do mesmo modo. redundantes em muitos casos porque o pessoal é muito pouco familiariza do com aspectos criticos dos sistemas nucleares para treinar os emprega dos adequadamente (Mallot. 1999). Metacontingôncias são as unidades de análise em ecossistemas organizacionais, e suas contingências comportamentais entrelaçadas cons tituem entidades culturais que evoluem via seleção. Entretanto, suas con tingências comportamentais constituintes podem ser analisadas como uni dades de análise no nível com porta mental. Qualquer intervenção planeja da no sentido de melhor adaptar uma organização às mudanças no ambi ente externo requer mudanças nas metacontingôncias entrelaçadas. E in tervenções nas metacontingôncias entrelaçadas exigem mudar as contin gências comportamentais para os Indivíduos envolvidos. Seleção Comportamental em Organizações Nenhuma organização poderia existir sem comportamento operante. Como dito anteriormente, comportamento operante é comportamento que opera, ou tem um efeito sobre seu ambiente. Tal comportamento é adquiri do ao longo da vida dos indivíduos. Sua freqüência, forma, llming, exatidão ou duração ae alteram quando contingências comportamentais mudam. Embora as contingências de seleção comportamental expliquem o com portamento das pessoas essas contingências ocorrem no contexto das contingências entrelaçadas exigidas pelo ambiente externo ao sistema. A complexidade das organizações torna difícil identificar onde a mudança comportamental pode melhor beneficiar uma organização ou onde mudan ças não percebidas em padrões comportamentais podem prejudicá-la. En tretanto, as contingências de seleção que explicam o comportamento dos indivíduos não podem ser ignoradas porque todo o ecossistema depende delas. Nem todo comportamento que ocorre dentro dos limites de uma orga nização faz parte dos sistemas que definem e sustentam a existência daque la organização. De fato, as organizações mudam, algumas vezes do modos aparentemente caóticos. Tomemos, por exemplo, um departamento de con tabilidade que produz relatórios que ninguém compreende. Embora os rela tórios não tenham nenhuma função com relação a qualquer outro comporta mento na organização, um supervisor continua a solicitá-los. Comporamen- tos como esses podem permanecer não detectáveis por períodos indefini dos. sobrevivendo porque o sistema receptor (supervisor) mantém as contin gências entrelaçadas que resultam no produto (o relatório). Organizações podom fazer melhoras significativas e reduzir os custos por meio de análise constante da relevância dos produtos de comportamento individual e de con tingências entrelaçadas para o desempenho global daorganização. Comportamentos que prejudiquem seriamente os sistemas criticos para a sobrevivência da organização são mais do que mero desperdício. camila paiffer Highlight 118 Ü I0-1U ( J l n i n , M w l s M Alot! Um exemplo é o produtor de leite cujos empregados nào lavam as mãos antes do tirar leite das vacas ou que adicionam água ao leite de modo a obter mais volume e pagamento maior. Os resultados de tais comporta mentos resultam em contaminação do leite ou leite de baixa qualidade. Se tais comportamentos são generalizados entre empregados, a organização pode fracassar. Todos esses tipos de comportamento mencionados são mantidos por contingências da seleção compcrtarnental, mesmo aqueles comportamentos que têm um efeito danoso para a organização. Mais leite resulta em maior remuneração para o indivíduo, independentemente da qualidade do leite. Somente mudanças nas contingências comportamentais podem mitigar problemas como esse. Embora nem todo comportamento considerado um "problema" seja uma ameaça a uma organização, todos os problemas organizacionais en volvem comportamento. No processo de resolução de “ problemas de com portamento" devemos considerar seus impactos nos produtos para os quais contribuem. Nossa primeira prioridade deveria ser os problemas de com portamento que afetam sistemas nucleares, os quais, por sua vez, afetam o desempenho da organização Resumo das Implicações para a Mudança Organizacional Organizações são conglomerados de sistemas dinâmicos que mu dam constantemente. As fronteiras organizacionais assim como os limites de seus sistemas internos são perrnoàveis. Organizações são também com plexas de muitas maneiras diversas. Nós identificamos três tipos de com plexidade: ambiental (variações no ambiente fora da organização), de com ponentes (número de componentes organizacionais e suas relações) e hi erárquica (número de níveis e suas relações). Quais são as implicações da complexidade para o gerenciamento da mudança organizacional? Embora não possamos eliminar a complexi dade, podemos adm in istrá-la . Podemos adm in istra r a com plexidade ambiental alinhando os sistemas internos às demandas ambientas. Pode mos administrar a complexidade de componentes analisando os conjuntos de contingências entrelaçadas e seus produtos, e eliminando redundânci as e desconexões. Podemos ainda administrar a complexidade hierárquica tentando simplificar os níveis de gerenciamento, ou reduzir as desconexões entre níveis. Mudança organizacional significa alterações de metacontingências e contingências comportamentais. Metacontingências são relações entre a dem anda por produtos agregados e contingências com portam entais entrelaçadas que os produzem. Contingências comportamentais são rela ções entre consequências ambientais e comportamento operante de indivi- camila paiffer Highlight f .V -lu c c íilin g é rn ta s ; e c c i ix x u m w r t o C U Iu n » t i -c K v im J e 119 duos. As causas da mudança organizacional são contingências de seloção culturais e comportamentais. Quais são as implicações da seleção ambiental para a administra ção de organizações? Primeira, qualquer análise de uma organização é meramente um recorte de metacontingências interrelacionadas em um dado momento, porque organizações evoluem no transcorrer do tempo. Análises repetidas nos permitem entender o curso da evolução de uma organização. Segunda, alteramos metacontingências em todos os níveis relevantes des sa organização, e programamos uma administração de contingências de comportamentos críticos à sobrevivência da organização. Referências Bibliográficas Brothower, D M. (2000) A systemic view of enterprise; Adding value to performance. Journal of Organizational Behavior Management. 20(3/4). 165-190. Darwin. C. (1958). The origin of species New York: New American Library (First edition published in 1859). Gilbert. T. F. (1996) Human competence: Engineering ivoithy performance Amherst, MA: HRD Press. (Original work published in 1978 by McGraw-Hill). Glenn, S. S. (1989). 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Ricardo Corrêa Martone João Cláudio Todorov 'Uma linha de produção que so move com uma dada velocidade tor na a contingência entro velocidade de trabalho e estimulação aversiva mais evidente Esta cadência' do comportamento não é de modo algum um efeito dos tempos modernos. ’ (Skinner, 1953/2000. p. 423). A partir de 1938 com o surgimento de The Behavior o f Organisms, de B.F.Skinner, o universo psicológico passou a testemunhar o desenvolvimen to de princípios comportamentais que iriam contribuir (com a psicanálise de Froud e eventos posteriores) para transformar radicalmente a concepção de um ser humano "livre", desprovido de qualquer controle, e que iriam também (esses mesmos princípios) abalar definitivamente a dicotomia cartesiana entre mundo mental e mundo físico. Os avanços teóricos conquistados pela Análi se Experimental do Comportamento o as tecnologias de intervenção desen volvidas pela Análise Aplicada do Comportamento estão intrinsecamente ata dos às pesquisas com animais realizadas nas décadas de 40 e 50 do século passado (cf.. Honig, 1966; Honig & Staddon, 1977). Tais pesquisas apresen tavam como objetivo principal a elucidação dos princípios que regem o com portamento operante. A partir de então uma ênfase crescente passou a ser dada aos experimentos que envolviam seres humanos {cf.. Catania, 1996; Baum. 1999). primordialmente em ambientes sobre os quais os pesquisado res podiam exercer considerável controle, como hospitais psiquiátricos e sa las de aula, uma vez que se deparavam com poucos problemas referentes à mensuração e ao controle do comportamento nesses settfngs (cf.. Ayllon & Azrin, 1968; Axelrod.1977) Entretanto, a Análise do Comportamento Huma no vem demonstrando que a seleção do comportamento pelas suas conse qüências vai além, é um mecanismo causal válido e vigoroso, capaz de expli- ' E s te tex to d urn c u m u r .in o a o a tt^ o ’Com plexity and Selection: Im p liu ib ons for O rg a riza tn n a l C liarige ’ , d e S<grid Gkrnn n M aria M alo tt<2004), puM cad o noperiodlooEJeliavioi srec Social issues, volum e 13 no 2 A giodccom os a geotftaza das au ’.oras por en v la r-ro s o rctforidc amigo para co- meoidnos 122 «lavifu Corrf-w Marurw, Oodo ClàuClo Toditfov car uma infinidade de atividades humanas, desde unia simples interação verbal entre duas pessoas até o planejamento de políticas públicas nacio nais, muito além dos estudos em ambientes controlados pelo experimentador. Skinner trabalhava com um otho no laboratório e o outro no mundo, buscando descrever as descobertas experimentais e generalizá-las para a cultura. Em Science and Human Behavior (Skinner, 1953) salientou o papel da Análise do Comportamento no estudo de sistemas sociaise também propôs um programa de pesquisa para o estudo da cultura que enfatizava a análise de contingências sociais e a seleção do comportamento pelas suas conseqüências (Pierce, 1991). Enquanto houver interesse por análises cul turais, Science and Human Behavior permanecerá uma obra fundamental. Com a ampliação do escopo da Análise do Comportamento em direção a fenômenos sociais de grande escala, que envolvem um grande número de indivíduos e de práticas culturais, as seções do livro que discutem o com portamento social e as agências controladoras sâo atualmente mais impor tantes do que no século passado (Todorov. 2003). Afirma>se freqüentemente que o potencial e a utilidade de uma teoria cientifica sâo mensurados pela amplitude dos fenômenos que ela abarca, ou seja, quanto maior a generalidade dos princípios dessa ciência maior seu vigor. Caminhar em direção ao estudo de práticas culturais é de importância fundamental para a sobrevivência da análise do comportamento enquanto uma ciência generalistae utilitária (Biglan, 1995; Guerin, 2004, Lamal, 1991a). O artigo "Com plexidade e seleção: implicações para mudança organizacional" de Sigrid Glenn e Maria Malott é um exemplo contundente da extensão dos princípios comportamentals a fenómenos altamente com plexos e que envotvom muitas pessoas, assim como demonstra a força e a necessidade de compreendermos o funcionamento de organizações por intermédio de um enfoque selecionista. O primeiro grande mérito desse artigo é a preocupação das autoras com o estabelecimento dos limitos de uma organização (Organizational Boundaries). É de suma importância sabermos a natureza do fenômeno que pretendemos ostudan as pessoas e as atividades envolvidas e os produtos produzidos por essas pessoas em conjunto (objetivo organizacional). Glenn & Malott destacam essas características e as descrevem como sistemas e subsistemas da organização chamando a atenção para o fato de que cada uma dessas ‘ peças organizacionais' gera um produto que se relaciona ás operações de outras peças. Tais características fornecem a amplitude (ou tamanho) da organização e precisam ser levadas em conta por analistas do comportamento que trabalham com organizações para poderem definir o al cance e a efetividade de suas intervenções. Para que o analista do compor tamento possa intervir no comportamento dos vendedores de uma compa nhia farmacêutica, por exemplo, não seria suficiente somente estudar seus comportamentos e planejar novas contingências. Ele teria que ir além para de fato conseguir modificar e melhorar o desempenho da companhia. Como ressaltam Glenn & Malott. dever-se-ia estar atento também á organização do pessoal de vendas em todas as regiões e distritos alcançados pelos produ- fAtlAScniM igênci»: oomsrrtamerv,;.. cu K u n o *or,iocWi» 123 tos da empresa, aos processos de produção. á influência da propaganda e as tendências de compra do consumidor. As autoras apontam também a necessidade de buscarmos ordenar a complexidade organizacional por intermédio do que elas denominam "Taxonomia da Complexidade Organizacional“ (identificar, descrever e clas sificar contingências complexas que desempenham um papel fundamental nas organizações). Três tipos de complexidades organizacionais são apon tadas; 1 Complexidade do Ambiente, variáveis externas que afetam o de sempenho da organização (regulamentações governamentais, falências de concorrentes, fusões e uniões de empresas: flutuações na economia); 2 - Complexidade dos Componentes, riúmero de elementos que compõe uma organização; e 3 - Complexidade da Hierarquia, niveis de hierarquia de uma organização. Cada uma dessas complexidades apresenta Implicações para a efetividade da organização. Glenn & Malott instrumentalizam analistas do comportamento a ex pandirem ainda mais suas análises rumo a fenômenos mais complexos que envolvem a interação de um grande número de pessoas, ao traçar os limites de uma organizaçao (Fronteiras da Organização) e ordenarem e classificarem a complexidade organizacional (Taxonomia da Complexida de Organizacional). Tais descrições são de importância fundamental, pois a partir delas podemos generalizar nossas análises para outros tipos de organizaçao como governos, partidos politicos, sindicatos, organizações da sociodade civil, etc. Até então, parece não ter ainda surgido um texto do ponto de vista analítico comportamental que identificasse de forma tão cla ra tantas variáveis que influenciam o comportamento organizacional. As autoras, entretanto, vão além e demonstram de forma muito clara, com muitos exemplos, as formas pelas quais o modelo de seleção por conseqü ências pode explicar a evolução de padrões comportamentais dentro de organizações e a evolução da própha organização. Em primeiro lugar, não seria possível analisar o comportamento da or ganização (lembrando que ela é composta por comportamentos de indivíduos) sem estabelecer as relações existentes entre as divorsas contingências entrelaçadas com o produto agregado à estas contingências. Estamos diante, neste caso, de um outro nível de análise diferente daquele que nós. como analistas do comportamento, estamos acostumados a lidar (Andery & Sério, 1999). O concerto de metacontingências já demonstrou ser fundamental para análises de oontingéncias envolvidas em questões extremamente complexas como sistemas político-econômicos (Goldstein & Pennypacker. 1998; Lamal, 1991b; Lamal, 1991c; Lamal &Greenspoon. 1992: Rakos. 1989; Rakos, 1991a; Rakos, 1991b;Todorov, 1987). políticas do saúde (Dams, 1997; Edwards, 1991; Hovell, Wahlgren & Russos, 1997; Glenn. Ellis & Hutchison, 1993; Russos, Fawcett, Francisco, Berkley & Lopez, 1997). políticas educacionais (Greenspojn, 1991), influência da midia sobre o comportamento (Laitinen & Rakos, 1997) e organizações (Bohrer & Ellis, 1998; Mawhinney, 1992; Redmond & Agnew. 1991; Redmond & Wilk, 1991). O artigo de Glenn & Malott insere-se dentro dessa literatura e auxilia ainda mais a análise do comportamento na sua escala 124 K o a r d o C -Jffé u M e r ta m . O â j ü o T o d o w v da rumo á compreensão das contingências envolvidas no terceiro nível de sele ção do comportamento. Não seria possível sem o conceito de metaccntingèncias estabelecer de que forma as contingências são organizadas de forma a atingir uma meta planejada. Dessa forma, não seria possível, apenas com o conceito de contingências individuais prever o comportamento organizacional. O planeja mento torna-se mais efetivo a partir do momento que se possa enxergar o com portamento dos indivíduos envolvidos nos diversos sistemas e subsistemas de uma organização e as conseqüências produzidas em conjunto. O conceito de metacontingêndas chama a atenção para a necessidade de descrevermos o comportamento em dois níveis distintos de análise. Para que possamos de fato manipular comportamento organizacional devemos estar atento ás conseqüên cias individuais imediatas do comportamento da pessoa que participa da prática cultural (incentivos financeiros, salário, benefícios trabalhistas, promoções, medo da perda do emprego, etc), conseqüências essas que controlam seu comporta mento, e ao mesmo tempo, ás conseqüências da prática cultural como um todo (o produto final da prática) (Glenn. 1988). Um aspecto crucial que poderia contribuir ainda mais para a compreen são dos mecanismos envolvidos na sobrevivência de uma organização é a propaganda. Glenn & Malott reconhecem a importância do sistema publicitário de uma organtzação quando discutem Complexidade dos Componentes. No entanto, a função da publicidade na avaliação final do consumidor sobre o produto produzido pela organização poderia ser um pouco mais explorada. As autoras afirmam ao longo do texto que a sobrevivência de uma organização dependerá exclusivamente da avaliação do consumidor sobreo produto pro duzido por ela, avaliação essa expressa pelo comportamento de comprar do consumidor. Se a organização não se adaptar ás complexidades de seu ambi ente externo (competição, regulamentações, flutuações econômicas), não pro mover mudanças na oomp’exídade intema (contingências comportarnentais entrelaçadas) para atender melhor o cliente através de seu produto, não so breviverá. Tal engrenagem está muito clara e as autoras avançam enorme mente na identificação e descrição de elementos fundamentais para a com preensão da seleção e evolução de práticas culturais complexas. Entretanto, poderíamos fazer as seguintes perguntas: será que as organizações não pro duzem demandas ria comunidade? A publicidade não desempenharia um pa pel importante nesse processo? Será que todos consomem porque o produto ê "bom", "útil"? Rakos (1992) salientou a natureza informacional da sociedade contemporânea, ressaltando que analistas do comportamento interessados em analisar práticas culturais devem necessariamente abordar questões refe rentes á influência da propaganda no ooritrole do comportamento. A informa ção, por intermédio de uma tecnologia que gera meios de comunicação cada vez mais rápidos e eficientes, é disseminada introduzindo estímulos que mui tas vezes podem estabelecer condições que resultam no consumo de bens materiais específicos e que podem adquirir propriedades reforçadores Um exemplo fornecido por Rakos (1992) de um bem material que adquiriu proprie dades reforçadores foi o fomo de microondas. Preparar rapidamente alimen tos no microondas tomou-se reforçador Antes do desenvolvimento o da pro WaliKXifti-iòeritjaa: «aiviix»tJiinenlD cuXüfn >• sccitxlade 125 paganda dessa tecnologia, segundo o autor, não havia a necessidade de se preparar alimentos em poucos minutos. Vale lembrar que o desenvolvimento de produtos por organizações conta com pesquisas de mercado exaustivas para apurar demandas na sociedade, conta também com pesquisas que bos- cam identificar nichos nos quais novas demandas possam ser produzidas e, por último, com grandes bancos de dados armazenados com informações de um grande número de pessoas. Mais uma vez o trabalho de Glenn & Malott amplia nossos horizontes e nos auxilia rumo á compreensão de fenômenos mais complexos e permite que generalizemos suas análises para outros tipos de organizações, levan do-se em conta também o caráter informacional contemporâneo. Na história republicana recente brasileira tivemos um lamentável exemplo do poder da propaganda na produção de um presidente eleito com o slogan "caçador de marajás* Organizações dos mais variados setores da sociedade (bancos, grandes indústrias, grupos midiáticos) se aglutinaram e promoveram o então candidato Fernando Collor como um novo e jovem talento no cenário político brasileiro (na verdade. Collor era ligado òs mais tradicionais oligarquias bra sileiras). A meta final, orquestrada por grande parte do poder econômico brasileiro, era colocá-lo na Presidência e evitar que seu adversário Luís Inácio Lula da Silva* visto como um radical de "esquerda" e "libertador da classe trabalhadora oprimida” , chegasse até Brasília. Collor ganhou as eleições gra ças a uma campanha publicitária vigorosa. Conclusão O artigo de S. Glenn e M. Malott contribui de forma exemplar para a afirmação da utilidade do conceito de metacontingéncias, Em primeiro lu gar, não seria possivol analisar o comportamento da organização (lembrando que ela é composta por comportamentos de indivíduos) sem estabelecer as relações existentes entre as diversas contingências entrelaçadas com o produto agregado à estas contingências. Náo seria possível também, sem esse conceito, estabelecer de que forma as contingências sâo organizadas de forma a atingir uma meta planejada. Dessa forma, não seria possível prever comportamento organizacional. O planejamento torna-se mais efeti vo a partir do momonto que se possa enxergar o comportamento dos indiví duos envolvidos nos diversos sistemas e subsistemas do uma organização e as conseqüências produzidas em conjunto. Em suma, o conceito parece sim dar conta de fenômenos que deveriam/poderiam ser analisados em um outro nível de análise. • A ni&totiu fecem n política no B'a&-i CemonSItrou su a grand e ironlu. ou melhor, as ConíingíSncÍBS refletiram essa ironín. O s m oem os grupos oco nôm lcosresponsáveis pela ascer sfio de C o iò r têm sido apontados iam bém com o os f«spor.sãvG»s pula seu im p eachm ert G r.in d o p a r o desses m esm os g tupos '.am som foi o respo nsável pota vitória do Lu ia à pfesldfcnclíi em 2 0 0 2 , 126 K i-a rc o C c iif t j M a io r* . * o ta C la u d o Tnrlcnw A complexidade de uma organização é caracterizada pela capacida de que ela possui de abarcar muitos sistemas e subsistemas. Essa descri ção é de importância fundamental, pois a partir dela podemos generalizar para outros tipos de organizações como governas, partidos, organizações da sociedade civil, etc. Até então, parece não ter ainda surgido um texto que identificasse de forma tão clara muitas variáveis que influenciam o comporta mento de organizações do ponto de vista analitioo comportamental. assim como nenhum outro texto mostrou de forma clara, com muitos exemplos, as formas pelas quais o modelo de seleção pelas conseqüências de Skinner pode explicar a evolução de padrões comportamentais dentro de organiza ções e a evolução da própria organização (linhagem cultural). Um problema que merece destaque é o grande número de pessoas que compõe uma organização. Quanto maior o número maior sua complexi dade, maior a dificuldade de análise. Há um distanciamento, devido a esta complexidade, entre as pessoas hierarquicamente superiores e inferiores. Quanto maior esse distanciamento maior serão os problemas envolvidos na sobrevivência da organização. Uma variável importante ausente no texto é a propaganda. Uma orga- nrzação pode criar demandas por intermédio da publicidade de seus produtos, podendo também interferir na avaliação do seu produto pelo consumidor. O texto discute complexidade e seleção, sendo fundamental a compreensão do mecanismo de seleção pelas conseqüências. Se a avaliação do consumidor, expressa na maior ou menor procura pelo produto, for um elemento importante para a seleção das práticas envolvidas na fabricação de tal produto e dessa forma vital para a sobrevivência organizacional, como compreender a influên cia da publicidade sobre essa avaliação? A propaganda, realizada por um dos sistemas ou subsistemas que oompõe uma organização, é essencial para a avaliação do consumidor. O produto final agregado pode não ser tão bom ou eficiente, mas a publicidade o anuncia como tal criando enormes cadeias intraverbais na comunidade (Guerin, 1994). Compra-se muitas vezes porque está "na moda", porque todos possuem. As análises de Guerin (1994) e Rakos (1992) são do extremo valor para que possamos compreender os controles exercidos pela informação na sociedade contemporânea. Enfim, Comptexity and Setection: Im pllcations fo r Organizational Change contribui de forma contundente para o desenvolvimento da análise de p rá tic a s c u ltu ra is , s a lie n ta n d o p r in c ip a lm e n te o c o n c e ito de metaconlingèncias como instrumento válido e poderoso de análise o inter venção. Com a expansão rumo à compreensão da cultura a Análise do Comportamento vem demonstrando cada vez mais o seu potencial como ciência empírica, capaz de fornecer soluções para uma infinidade de pro blemas humanos, pois apresenta uma unidade de análise fabulosa - a con tingência de reforçamento; não há nada melhor para comemorarmos o cen tenário de B.F. Skinner! C om plexity and S e lection : Im p lica tions fo r Organizational Change é uma grande contribuição. Afinal, quem foi mesmo que decretou o fimdo Behaviorismo Radical? MeMcoRtrigftncte»: cotr<*ortUT<mto, cM u 'a « *ocie«Jai>j 127 Referências Bibliográficas Andery, M A , & Serio, T.M. (1999) O conceito de metacontingôncias afinal. a velha contingência de reforçamerito é suficiente? Em R A. Banaco (org.) Sobre Comportanwnto e Cognição aspoctos teóricos, metodológicos e de formação em análise do comportamento e terapia cognitivista Santo André: ESFTec, pp. 1C6- 116 Axelrod. S. 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A análise de fenômenos sociais: esboçando uma proposta para a identificação de contingências entrelaçadas e metacontigências 1 Maria Amalia Pie Abib Andery ** Nilza Micheletto * Tereza Maria de Azevedo Pires Sério* 3 Uma simples consulta a do is dos primeiros livros sobre conceitos básicos em análise do comportamento (Keller e Schoenfeld, 1950, e Skinner. 1953) seria suficiente para elim inar qualquer dúvida sobre a inclusão de fenómenos sociais entre os fenômenos que são vistos como legítimos ob jetos de estudo da análise do comportamento. Entretanto, se isto não fosse suficiente, há uma afirmação de Skinner (1953) bastante contundente so bre esta inclusão: “Propor uma mudança em uma prática cultural, íazer tal mudança e aceitá-la são partes de nosso objeto de estudo" (p.427). Na verdade, a preocupação dos analistas do comportamento com o estudo de fenômenos sociais não só não é uma novidade (ver. por exem plo. Ulrich, Stachnik e Mabry, 1966, Burguess e Bushell, 1969, e Kunkel, 1970), ela vem se expandindo de forma que já estabelecemos, hoje, uma literatura de referência sobre diferentes aspectos envolvidos na análise de tais fenômenos (por exemplo, Ishaq, 1991;Lamal. 1991,1997; Guerin, 1994; Màttaini e Thyer, 1996). 1. o p ro b lem a da un id ade de- an á lise Entretanto, o reconhecimento dos fenômenos sociais como objeto de estudo da análise do comportamento não é suficiente para que tais fe nómenos sejam adequadamente abordados dentro desta perspectiva. Te- P U C S F ' Versões arttórôres fles te a itígo (oram apresentadas no 12 c . C o rg re s M t o A B P M C (Londrira , 2C 03) & na 30a A 8 A Á nnualC oivvenlíon (8-ostos', 2 0 ÍK ) •' B o la ía a C N P q processo no. ' Golsista C N P q processo no. 30i5032.‘D 2 '0 130 M arla Am alia P I« A b lb A n du ry, Nll>.) M lchototio, Toresa Marta d » A / «v * d o Pitt.% S ir lo remos de enfrentar(colocar e resolver) um conjunto de problemas4 para que possamos efetivamente fazer com que a análise do comportamento possa contribuir para a compreensão dos fenômenos sociais. Um proble ma do qual, com certeza, não poderemos fugir é o que se relaciona com a delimitação da unidade de analise com a qual devemos trabalhar ao tratar de fenômenos sociais. O problema da unidade de análise podena ser as sim formulado: a mesma unidade de análise que tem sido utilizada para a descrição de comportamentos operantes - a tríplice contingência - deve ser mantida quando se trata do estudo de fenômenos sociais? O problema da unidade de análise se coloca aqui porque a expres são ‘fenômeno social' é um rótulo aplicado a um enorme número do fenô menos que abarcam desde aquilo que tem sido chamado de ‘comporta mento social’ ate aquilo que tem sido chamado de 'prática cultural'. Comportamento social foi definido por Skinner, já em 1953, como "o comportamento do duas ou mais pessoas, uma em relação à outra ou, [dessas pessoas] em conjunto, em relação a um ambiente comum” (p. 297). Pierce (1991), comentando esta definição, apresenta dois exemplos que ilustram a abrangência dos comportamentos que seriam chamados de com portamento social: ‘‘comportamento sexual é social porque os parceiros respondem 'um em relação ao outro' e cooperação é social porque duas ou mais pessoas precisam coordenar suas respostas em relação a um 'ambi ente comum1 “ (p.14). Como destaca Guerin (1994). podemos falar ern com portamento social quando uma outra pessoa estiver envolvida em qualquer um dos três elementos de uma contingência de reforçamento (estímulos antecedentes, respostas, ou estímulos subseqüentes) ou, como ele prefe re, quando estivermos diante de contingências com “propriedades sociais", ou seja. diante de ‘ quaisquer contingências em que uma outra pessoa estiver envolvida, seja como um estimulo contextual, como um determinante de conseqüências, ou como parte do próprio comportamento (do grupo)’ (p.79). Já uma prática cultural "envolve a repetição de comportamento operante análogo entre indivíduos de urna dada geração e entre gerações de indivíduos" (Glenn, 1991, p.60); assim, “quando relações comportamentais que definem parte do conteúdo do repertório de um organismo são replicadas nos repertórios de outras pessoas, em um sistema sociocultural, o comportamento replicado é cha mado de uma prática cultural." (Glenn e Malagodi. 1991, p.5). Tal como no caso de comportamento social, a expressão 'prática cultural' também já é encontrada em Ciôncia e Comportamento Humano (1953, por exemplo, pp. 418, 419, 424, 425), quando Skinner introduz em sua análise os aspectos culturais; em especial quando ele aborda tópicos que mais tarde (1981) serão parte integrante do modelo causai de seleção por conseqüências: ‘ A identificação co quais süo ossos problem as *.alvez tíeva ser a b # to do discussão entro os analistea do comportamento; ontrolaoto, nflo 6 o ob|©tivo pflrneiro oe&ta artigo. Sobre isso pcidw ser ba& tanleescU ifw codoro artigo de M alagodi \ Í9GG). camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight M e»conK na*ttl«& con<po(1*ni«ntD. cuki.rn o sodeJ&Jf? 131 Vimos qifó, em certos aspectos. o reforçamento operante se asse melha à seleção natural da teoria da evolução. Assim como caracte rísticas genéticas que surgem como mutações são selecionadas ou descartadas por suas conseqüências, também novas formas de com portamento são selecionadas ou descartadas pelo reforçamento. Há, ainda, um terceiro tspo de seleção que se aplica às práticas culturais. Um grupo adota uma dadi prática - um costume, um uso, um meca nismo de controlo - seja pmiejadamente ou por meio de algum evento que, no que diz respeito a seu efeito sobre o grupo, pode ser comple tamente acidental. Como característica do ambiente social, esta prá tica modifica o comportamento dos membros do grupo. (p.430) O que chama atenção, no trecho citado, ó que. quando falamos em práticas culturais, as conseqüências agem sobre o grupo o não mais. como no caso da seleção de comportamentos operantes, sobre o operante; em outras palavras, não estamos mais lidando com as relações selecionadoras entre resposta e suas conseqüências, mas sim estamos lidando com "o efei to sobro o grupo", efeito este produzido pelo conjunto de comportamentos dos membros do grupo. Este aspecto é destacado por Skinner quando ele mais formalmente apresenta o modelo de seleção por conseqüências; se gundo Skinner (1981), o processo que descreve a evolução de culturas: Começa, presumivelmente, no nível do indivíduo. Uma maneira me lhor de fazer uma ferramenta, cultivar um alimento, ou ensinar uma criança é reforçada por sua conseqüência - respectivamente, a fer ramenta, o alimento, ou o aprendiz útil. Uma cultura evolui quando práticas que se originam desta maneira contribuem para o sucesso do grupo praticante na souçâo de seus problemas. É o efeito sobre o grupo, não as conseqüências reforçadoras para os membros indi viduais. que é responsável pela evolução da cultura, (p.502) Este aspecto também tem sido destacado por analistas do comporta mento que vêm so dedicando ao estudo deste terceiro nfvel de seleção do comportamento. Glenn e Malagodi (1991). por exemplo, afirmam que: Uma conseqüência comportamenta) è contingente à atividade de um organismo singular e se leciona o comportamento daquele indivíduo apenas. Um produto citftvráf' é uma mudança no ambiente que re su lta do com portam ento agregado nas contingências comportamentais entrelaçadas.... As mudanças no ambiente prcxiu- zidas pelo comportamento agregado... podem, então, funcionar (seja imediatamente, seja mais tarde, soja de maneira graduai) para forta lecer ou enfraquecer as contingências entrelaçadas (p. 9) Parece, assim, que estamos, no caso das práticas culturais, diante de um fenômeno que tem sua origem no comportamento individual, mas que, ao ganhar sua particularidade, não mais pode ser descrito no âmbito de sua origem. Como afirmam Glenn e Malagodi (1991) “fenômenos cultu rais são construídos por fenômenos comportanientais, o que não quer di zer que possam ser reduzidos aos fenômenos comportamentais (assim como - O s autoras .' iti-o-jijzom o ro v o teim o o u tm n e trfltíuzído, oqui. com o produto ~ para d is li^ ju lr r.onsBqüônclus culturais - o u fo tw ies - deconseoúônclas com ponam ontais camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight Marta Am àlia Plc A b ib Amtery, N i lu Mlctvclctto, Tcrena Maria do A x tv M fe P lreu Scilo fenôm enos com portam enta is não podem ser reduz idos a eventos fisicoquímicos)" (p. 6) É exatamente a possibilidade da configuração de um fenômeno que não se limita às contingências que descrevem comportamentos operantes (quais quer que sejam eles) de um individuo que coloca o problema da unidade de análise: aparentemente, quando lidamos com práticas culturais, a contingência de reforçamento não permito mais a descrição de todas as possiveis relações envolvidas, já que as relações que descrevem o efeito sobre o grupo náo estão a i contidas. Este problema se coloca quando estamos diante de práticas cultu rais oom um determinado nível de complexidado, ou seja. se estivermos diante de uma prática cultural que produz um produto agregado. Mais uma vez recor rendo a Glenn (1988.1991), talvez possamos imaginar práticas culturais de dife rentes níveis de complexidade, desde práticas que envolveriam a simples imita ção (e, qua, portanto, poderiam ser descritas apenas com o conceito de compor tamento social) até as envolvidas, por exemplo, na organização do trabalho (e que só seriam oompletamente descritas se pudéssemos identificar os produtos agregados per elas produzidos). Como sugere Glenn (1991), "a diferençacrítica entre as pnotocutturaR humanas e de outros primatas e as culturas humanas parece ser a complexidade das relações comportamentais entrelaçadas nas cul turas humanas" (p.60). Isto sugere que a descrição de fenómenos sociais pode envolver diferentes unidades de análise. a) contingências entrelaçadas como unidade de análise. Quando tratamos de comportamento social, o recurso á contingência de reforçamento como unidade de análise continua sendo possível e, talvez, heurístico, desde que se considere a necessidade de descrevermos, pelo menos, duas contingências, pois, ao lidarmos com comportamento social, estamos já lidando com a interação de, no mínimo, duas contingências. Em outras palavras, o comportamento social envolve o que chamamos de con tingências entrelaçadas (intertocking contíngendes) (Skinner, 1953, Glenn. 1991, Glenn e Malagodi, 1991). Segundo Glenn (1991): Os mesmos processos comportamentais que levam a tanlos univer sos comportamentais quantos são os indivíduos que se comportam, também resultam em vastas redes de inter-relações entre os reper tórios comportamentais de indivíduos humanos. Estes são os ele mentos de unidades culturais. Eles foram rotulados de ‘contingênci as entrelaçadas'para cham ara atenção para o duplo papel que o comportamento de cada pessoa desempenha nos processos sociais - o papeI de ação e o papel de ambiente comporlamental para a ação de outros, (p. 56) A Figura 1 é uma ten ta tiva de representa r as contingências entrelaçadas que devem estar envolvidas na imitação, quando as respos tas de um individuo (A e B) evocam respostas em outro individuo (B e C). ocupando o lugar de estímulos antecedentes nas contingências que des crevem o comportamento de B e C. Os comportamentos de B e de C po dem ser classificados como comportamentos sociais.(Footnotes) camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight M o W íx iir iip e n c f is : O M n p w t u r iw H o . c u U t r a o «o s o d B t f e 133 Figura 1 Uma representação de contingências entrelaçadas quo descrevem imitação. Na Figura 1, supusemos que o falo das respostas de urn indivíduo evocarem respostas em outro revelariam uma função discriminativa do es timulo. É importante notar, com o salienta Michael (1980), que só podemos fazer esta suposição se, entro outras coisas, houver uma história de reforçamento diferencial na qual as respostas de B e C, diante dos estímu los antecedentes (que, neste caso, são as respostas de A e B, respectiva mente), tenham sido reforçadas, enquanto que as mesmas respostas não foram reforçadas em outras situações de estimulo. (Este comentário vale para as figuras que se seguem). Podemos imaginar outras possibilidades de entrelaçamento do con tingências. Podemos, por exemplo, imaginar uma situação na qual "cada indivíduo tem algo a oferecer de maneira a reforçar o outro e, uma vez estabelecido, o intercâmbio, se m antém ' (Skinnor, 1953. p.310). Podemos ressaltar que, neste exemplo, o entrelaçamento das contingências ocorre de forma tal que ele mesmo se reproduz. A Figura 2 è uma tentativa de representar estas contingências entrelaçadas. entrelaçadas quo descrevem uma situaçáo de tracH reciproca Podemos ainda imaginar um exemplo de contingências entrelaçadas no qual “o grupo pode manipular variáveis especiais para manter tendênci as para que os indivíduos se comportem do maneira que resultem no reforçamento de outros. (...) Muitos importantes sistemas entrelaçados de comportamento social não poderiam se manter sem estas práticas convert- i c o n tin g ê n c ia s e n tre la ç a d a » M a ria A m M i.t P io A b l b A i id e r y , N ilx a M íd ie lv U o . T e r » * « M i r 1« d * A x » v « d o P lm s S e rto cionais" (Skinner. 1953, p.310) A Figura 3 é uma tentativa de ilustrar tais entrelaçamentos de contingências. Figura 3. Uma representação de contingônclas entrelaçadas que exkjetn contingências de suporte para sua manutenção. Diferentemente do que ocorre nos dois primeiros casos, neste caso as contingências entrelaçadas são mantidas porque outras contingências em vigor fornecem suporte para o entrelaçamento das contingências por meio da manutenção do comportamento de pelo menos alguns dos partici pantes. A descrição deste entrelaçamento, então, já nos conduz para além das próprias contingências entrelaçadas, o que sugere que, se jà não estamos diante do uma metacontingéncia (o que exigiria a identificação de um produto agregado), certamente estamos diante de uma situação de tran sição para outro nível de analiso. b) metacontingências como unidade de análise Quando tratamos de práticas culturais, parte de nossa descriçáo poderá ter como unidade de análise a contingência de refoiçamento, já que, como afirma Glenn (1988), uma prática cultural ê "um conjunto de contingências de reforçamento entrelaçadas nas quais o comportamento e os produtos comportamentais de cada participante funcionam como even tos ambientais com os quais o comportamento de outros indivíduos interage’ (p.167). Entretanto, como a própria Glenn (1991) ressalta: A maior parte das práticas culturais tem um elemento adicional: elas envolvem dois ou mais indivíduos cujas interações produzem conse qüências para cada um deles individualmente e, além disso, cujo comportamento conjunto produz um produto agregado que pode ou camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight M »i8C0nt ng4itiâfrs: cw inoccwinunlo. t u tjrct » sccimUxlo ----------------------------------------------- -^------- 135 não ter urn eteito comporia mental. Quando uma prática cultural en volve tais contingências comportameniais entrelaçadas e produtos agregados associados, está estabelecido o cenário para uma com plexidade crescente no nível de análise cultural, (p. 60) Para dar conta deste "nivel de analise cultural', Glenn (1988.1991) propõe o conceito de metacontingéncias: 'metacontingência é a unidade de análise que engloba uma prática cultural, em todas as suas variações, e o produto agregado de todas as variações aluais" (Glenn, IÔ88, p. 168). Como está indicado na Figura 4 pela flecha que retorna às contin gências entrelaçadas, ©starcmos diante de uma metacontingência se, de algum modo, o produto agregado - que é dependente destas contingênci as entrelaçadas - retroagir sobre elas selecionando-as. Além disso, é im portante salientar que o conjunto das contingências entrelaçadas, no caso das metacontingéncias. está delimitado, na Figura, para sugerir que estas contingências constituem uma unidade e que ê sobre esta unidade çue retroage o produto agregado. Estas características são relevantes quando tratamos dn metacontingéncias, uma vez que, como afirmam Mattaini e Thyer {1996), “Sigrid Glenn introduziu o termo metacontingência para des crever as dependências entre uma prática cultural e seus produlos agrega dos para o grupo” (p. 16). 2) carac te rís ticas e sp ec ia is d os fe n ô m en o s sociais . A análise de fenômenos sociais não exigirá do analista do compor tamento um novo conjunto ou corpo de principios ou um novo modelo cau sal; no entanto, exigirá o reconhecimento de que estes fenômenos têm algumas propriedades especiais. Para Guerin (1992), ainda que a distin ção entre principios e propriedades possa parecer irrelevante, ela è neces sária para que a análise do comportamento contribua para a compreensão dos fenômenos sociais. Ainda que a contingência de reforçamemo seja o principio básico para a análise do comportamento social, trata-se de identi camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight M u r ln A m A itn P ie A W U A lw J ír y , N iU o M c h o t o n o , T a r M O M <rl.i d e A z o v o ü o P ire s S A rto ficar, no caso da análise de fenômenossociais, as propriedades especiais destas contingências (Guerin, 1992). As propriedades especiais das contingências sociais que destaca mos a seguir foram identificadas a partir do tratamento que Skinner deu ao tema, jã em 1953. a) características especiais do ambiente social. Identificar as características do ambiento social talvez seja uma das grandes contribuições que a análise do comportamento possa trazer para a compreensão do homem, em especial no que se refere aos determinantes de seu comportamento. Já em um texto dos anos 40, encontramos um desa fio para a realização desta contribuição, quando, referindo-se à detennina- ção do comportamento humano. Skinner {1947/1999) afirmou: A constituição genética do indivíduo e sua história pessoal até o mo mento desempenham uma parle nesta determinação. Aióm disso, o controle permanece no ambiento Mais que isto. as forças mais im portantes estão no ambiente social que é construído pelo homem /mari-niadey. O comportamento humano está. portanto, em grande parte sob controle humano, (p. 345) Falar do ambiente que controla comportamento humano ê, assim, principalmente e quase que exclusivamente falar de um ambiente social, ou melhor, do ostimulos sociais (sejam estes estímulos controladores ante cedentes ou subseqüen tes ao responder). Com o a firm am K e lle r e Schoenfeld (1950): Os estímulos sociais não diferem de outros estímulos em suas dr mensões. Em vez disto, a diferença ó uma diferença de origem. Eles se originam do outros organismos, de seus comportamentos, ou dos produtos de seus comportamentos. Alóm disso, estímulos sociais não diferem dos estímulos de origem inanimada em relação às suas fun ções; oles agem como eliciadores, reforçadores, discnminativos e assim por diante. A vida social surge porque estímulos socia is pas sam a exercer estas funções, (p. 352- 353) a1) eventos que podem to ra função de reforço social. Quando, em uma contingência, um evento tem supostamente a fun ção de reforço para a resposta de um indivíduo e não podemos descrevê-lo *sem fazer referência a outro organismo" (Skinner. 1953. p. 298), chamamos este estimulo reforçador do um reforçador social Como o próprio Skinner ressalta, em alguns casos “a outra pessoa participa meramente como obje to... mas usualmento o reforçamento social é uma questão de mediação pes soal.” (pp.298, 299) O fato de que os reforçadores sociais onvolvem, em grande parte, a mediação acaba trazendo como implicação três outras pro priedades para o processo de reforçamento. A primeira delas é que exata mente porque é mediado por outra pessoa, no caso do reforçamento social o reforço dificilmente independe da ocorrência da resposta reforçada. MetoonnUngOioas; ocinípcrtameiMo, cultura « uxM niitln 137 A segunda característica do processo é que “o reforçamento soc ai varia de momento a momento, dependendo da condição do agente reforçador" (Skinner 1953, p. 299). Isto quer dizer que respostas de uma mesma classe nem sempre produzirão as mesmas alterações ambientais e que tais altera ções não dependem exclusivamente da emissão destas respostas, já que “dependem também da condiçãc do agente reforçador”. Segundo Skinner (1953). duas propriedades do comportamento social - sua extensão e flexibi lidade - seriam resultado desta característica do reforçamento social. Uma terceira caracteristice do reforçamento social que é conseqüên cia dos reforçadores sociais mediados, destacada por Skinner, ô que “as contingências estabelecidas por meio de um sistema de reforçamento soc ai podem mudar lentamente’ (Skinne' 1953, p. 299). São as condições do agente reforçador que, mais uma vez, determinam o ritmo da mudança da contin gência e, mais quo isto, deve se' enfatizado que as condições do agente reforçador, por seu tumo. são produzidas, entre outras coisas, pelas respos tas que vêm sendo mantidas por tais contingências. Ou seja, è do comporta mento promovido pelas contingências sociais que se originam as novas con dições de exigência do agente reforçador, o que, por sua vez, conduz à mu dança. po r parte deste agente, das exigênc ias estabe lec idas para reforçamento. Finalmente, a quarta carecteristica do processo do reforçamento mantido por reforço social, destacada por Skinner (1953), e que é intima mente ligada à anterior, é que o agente reforçador ajusta o esquema de reforçamento às características da resposta reforçada de uma forma que “raramente ocorre na natureza inorgânica" (Skinner, 1953. p.301). O que marca todas estas características é o que Skinner chama de sensibilidade e complexidade do agente reforçador em comparação com o ambiente não social, isto é. o ambente social pode reagir diferencialmente, de maneiras mais sutis, às respcstas por ele selecionadas. Esta mesma característica pode acarretar problemas: Mas, um sistetriB reforçador que è afetado desta maneiro pode conter defeitos inerentes que levam a comportamento instável. Isto pode ex plicar porque contingências reforçadores da sociedade causam com portamento indesejável /ra/s freqüentemente do que as contingências aparentemente comparáveis na natureza inanimada. (Skinner, 1953. p.301) a2) estímulos antecedentes socJais Quando em uma contingência o estímulo antecedente é social, o desafio que se coloca para o analsta do comportamento é um desafio de ordem metodológica. Como Skinner (1953) afirmou, “um estimulo social, como qualquer outro estimulo, torna-se importante no controle do compor tamento por causa das contingências de que ele participa* (Skinner, pp. 301, 302). Deste ponto de vista, estímulos antecedentes sociais, como es tímulos não sociais, adquirem funções comportamentais pelos mesmos processos. No entanto, no caso d>s estímulos sociais, a dificuldade está em identificar, nestes estímulos, as dimensões e propriedades de controle M arta A m é lia P io A b ll» A m U iry . N í t u M le íic lc lto , T c r & M M j r l » do A * * v * < lo P ire s S ftrlo quo são relevantes, uma vez que elas não podem ser descritas pelas “ pro priedades físicas” destes estímulos Isto acontece porque as contingênci as de reforço que tomam tais estímulos comportamentalmente significati vos “sâo determinadas pela cultura e por uma história particular" (Skinner, 1953, p 302). O que quer dizer que “estímulos sociais sáo importantes porque os reforçadores sociais com os quais estão correlacionados são importantes.... Estímulos sociais são importantes para aqueles para quem reforçamento social é importante" (Skinner, 1953, pp. 302, 303). É dai que decorre, possivelmente, a dificuldade que temos em com preender como em nossa vida cotidiana não temos grandes problemas para identificar respostas que chamaríamos do bom-humor, simpatia, ou amiza de, enquanto quo como cientistas teríamos muitos problemas para definir tais respostas. Esta disparidade ó exatamente reflexo da origem cultural destes estímulos. Como afinna Skinner (1953), a respeito do nosso suces so na identificação, no cotidiano, destes estímulos; Niio significa que existam aspectos do comportamento que são tão independentes do comportamento do observador como são as for mas geométricas, como os quadrados, círculos e triângulos. Ele [o homem comumj está observando um evento objetivo - o comporta mento de um organismo; não há aqui dúvida em relação ao status fís ico, mas apenas em re la çã o ao s ign ificado dos termos cíassifícatôhos. As propriedades geométricas da 'amabilidade' ou 'agressividade' dependem da cultura, mudam com a cultura e variam com a experiência individual em uma dada cultura, (p. 302) A dificuldade de descrição dos estímulos sociais (ainda que não signi fique que tais estímulos tenham propriedades de dimensão diferente daquela dos fenómenos que constituem contingências não sociais) certamente colocaum desafio para o analista do comportamento e nos obriga a descobrir proce dimentos que nos permitam descrever tais classes de estímulos. Da origem social dos estímulos docorre mais um aspecto relevante para a compreensão de fenómenos sociais: na interação entre dois indiví duos, pequenas mudanças nas respostas de um dos indivíduos que mui tas vezes parecem triviais, simples e sutis - as quais operam como estímu los antecedentes para as respostas do outro podem ter efeitos significati vos e poderosos sobre estas respostas. Skinner (1953) recorre aos pode rosos efeitos que tem o contato visual para exemplificar este aspecto. b) elementos quo constituem contingências entrelaçadas Tendo reconhecido as peculiaridades do ambiente social, um momento importante da análise de um fenómeno social é a identificação dos elemen tos que delimitam tais contingências: ao fazer isto estaremos necessaria mente identificando os participantes, os elementos do ambiente social e os elementos do ambiente não social que participam das contingências. Se considerarmos os exemplos dados por Skinner (1953), identifica mos pelo menos quatro possibilidades de entrelaçamento de contingências. MertaotWirtdâncÍÉfti: c o rrp a íta rra n to , c s jll ira e « « « D a d o 139 Numa primeira possibilidade, ern que dois indivíduos participam, apenas uma das contingências envolve o que podo ser chamado de comportamento soci al. isto é. apenas um dos indivíduos se comporia sob controle do comporta mento do outro. O exemplo dado por Skinner é de um predador (B) seguindo uma presa (A). No caso, o comportamento da presa (A) está sob controle de estímulos não sociais (por exemplo, sua toca), já as respostas do predador (B) estão sob controle das respostas da presa (por exemplo, afastar-se do predador). As conseqüências selecionadoras do comportamento de B são individuais, ou seja. afetam apenas o comportamento de B. Numa situação parecida, podemos estar diante de uma segunda possibilidade de entrelaçamento de contingências. Se o predador (B) esti ver perseguindo a presa e a presa (A) estiver fugindo do predador, então, as respostas de cada um dos participantes estarão sob controle das res postas do outro. Neste caso, ambos os comportamentos (de A e B) podem ser c lass ificados com o com portam ento socia l. E as conseqüências selecionadoras das respostas de A e B são aqui também peculiares e indi viduais. o que quer dizer que elas são específicas a cada uma das contin gências entrelaçadas. Uma terceira possibilidade de contingência entrelaçada amplia os elementos constituintes das contingências, pois o comportamento de cada um dos participantes fica sob controle tanto das respostas do outro como de aspectos do ambiento não social. O exemplo que Skinner refere ê o de dois ou mais indivíduos puxando uma corda que só é movida pelo esforço conjunto. Neste caso. as respostas de A e B sáo coordenadas e. para tan to. devem estar sob controle das respostas de puxar a corda (de B e de A) e do deslocamento da corda. Aqui. as conseqüências que selecionam o comportamento de cada um dependem do comportamento conjunto dos indivíduos (elas não existiriam sem as conseqüências entrelaçadas) e, neste caso. as conseqüências selecionadoras do comportamento de cada um dos participantes são as mesmas (o movimento da corda) Finalmente, uma quarta possibilidade de contingência entrelaçada envolve dois ou mais indivíduos que se comportam sob controle do respon der uns dos outros, mas as contingências que descrevem os comporta mentos de cada um deles são diferentes. Entre os exemplos dados por Skinner. destacamos o de um par dançando: As conseqüências reforçadores - positivas e negativas - dependem de uma contingência dupla: (1) os dançarinos devem executar certas seqüências de passos, em certas direções, em relação ao espaço disponível e (2) o comportamento de um deve ser temporulmente organizado, de modo a corresponder ao comportamento do outro. Esta contingência dupla normalmente ó dividida entre os dançarinos. O tidor estabelece o padrão e responde ao espaço disponível, o se guidor é controlado pelos movimentos do líder e responde adequa damente para satisfazer a segunda contingência, (p. 305) camila paiffer Highlight Marl« Amélia Pi* Abib Andary. NUu Mtetwbitto, Tereaa Marta da Axavado PUas Stulo Note que, neste exemplo, a contingência que descreve o comporta mento do "líder" (A) é diferente da contingência que descreve o comporta mento do “seguidoi* (B): no primeiro caso, a contingência envolve, como estímulos antecedentes, elementos do ambiente não social (como o espa ço disponível) e o comportamento do ‘ seguidor"; já a contingência que des creve o comportamento do “seguidor'’ envolve como estímulo antecedente apenas as respostas do "lider*. As conseqüências selecionadoras dos com portamentos de A e B aqui são individuais - B segue A sem tropeços e A lidera B sem problemas. Além disso, podemos supor que esta interação produz ainda um outro efeito, que chamamos de conjunto, que pode ter papel selecionador sobre as respostas de A e B - ambos dançam de forma em harmoniosa. O Quadro 1. apresentado a seguir, tom por objetivo sintetizar as quatro possibilida des aqui apresentadas. Exemplos de continências Participantes F.stimubs aniccedcoies Conseqüências 1. predador persegue A (presa) — IndividualB (predador) Resposta* de A 2 . predador persegue c prc&a fuge .A (prcsa)........ B(predador) RcsgostBS de B Respostas de Ä Individual 3. homens puxam corda A Rcspostus de B Aspectos do ambiente ník> social Individual B Respostas de A Aspodos do ambiente nào social Conjuntu 4. par dan^n A (lider) B (seguidor) Respostas de B Aspectos do ambiente não «»ciai Respostas de A Individual 4- (Jonjunta Ao descreverm os os elem entos que constituem contingências entrelaçadas, uma vez que continuam os tratando de com portam ento operante, necessariam ente deverem os iden tificar as conseqüências selecionadoras do responder de cada indivíduo. Estas conseqüências po dem constituir a contingência que descreve o comportamento de um indiví duo particular envolvido na contingência entrelaçada e, neste caso, como indicado no Quadro 1, elas foram chamadas de individuais. Este rótulo foi utilizado para distinguUas de uma conseqüência que tem ao mesmo tempo papel selecionador sobre as respostas de cada participante, isto é, de uma m esm a co n se q ü ê n c ia que co n s titu i as d ife re n te s c o n tin g ê n c ia s entrelaçadas; caso em que foram chamadas de conseqüências conjuntas. Como o Quadro 1 sugere, contingências entrelaçadas apenas em alguns casos envolvem o que chamamos de conseqüências conjuntas. E, nestes casos, estas conseqüências podem ser idênticas às individuais, ou podem ser outras e diferentes daquelas conseqüências. M o M C Q Q t f n g f tn c t o * . ' m i n p c c t o m n n l » c u t u r p o » s c t e O B d » 141 Como deve ter ficado claro, o termo conseqüência indica a produ ção de uma mudança ambiental que depende da emissão de uma dada resposta. No caso das conseqüências que participam de contingências entrelaçadas, então, as conseqüências mantêm esta característica; pode mos assim dizer quo elas dependem do entrelaçamento das contingências. Todavia, há um outro aspocto em relação às consoqüências onvolvidas em contingências entrelaçadas que merece destaque: o entrelaçamento das contingências aumenta a magnitude das conseqüências. Skinner (1953) ressalta este aspecto ao afirmar que: Se 6 sempre o indivíduo que so comporta, no entanto, 6 o grupo que tem o maior efeito reforçador. Juntando-se a um grupo, o indivíduo aumenta seu poder para adquirir reforça mento... As conseqüências reforçador as geradas pelo grupo facilmente excedem a soma de con seqüênciasque poderiam ser obtidas pelos membros agindo sepa radamente. O efeito reforçador total ó enormemente aumentado, (p. 312) Ao discutirmos a questão da unidade de análise envolvida no estudo dos fenômenos sociais, sugerimos a possibilidade de duas diferentes unidades de análise: as contingências entrelaçadas e as metacontingêndas. Esta distinção tem implicações quando se trata de identificar as conseqüências envolvidas nas contingências entrelaçadas. No caso de motaoontingências. além de todas as conseqüências que participam de cada uma das contingências entrelaçadas, há ainda mais uma conseqüência, que foi chamada de produto agregado. Se o fenômeno sodal analisado envolver metacontingêndas, será necessário, então, identificar este produto agregado tendo em vista seu papel selecionador em relação ao entrelaçamento das contingências envolvidas. Como no caso das contingências entrelaçadas que envolvem distin tos tipos de conseqüências, metacontigências parecem envolver diferentes tipos de produtos agregados. Como Glenn salientou já em 1988, em certos casos, metacontingêndas envolvem produtos agregados que são também as conseqüências selecionadoras dos comportamentos constitutivos das contingêndas entrelaçadas. Em outros casos, no entanto (e estes parecem ser o mais comum nas sociedades chamadas de complexas), os produtos agregados são diferentes das conseqüências selecionadoras dos compor tamentos individuais. Mais ainda, o produto agregado pode ou não afetar todos os participantes das contingências entrelaçadas. Tudo isto torna muito difícil identificar tais produtos e G lenn e Malagodi, já em 1991, reconheciam que a tentativa de analisar fenômenos sociais que envolvem metacontingêndas exigiria do analista do comporta mento procedimentos não usuais em sua área. Neste artigo, os autores fazem um a d is tin çã o en tre con teúdo com portam en ta l e p rocesso com porta mental, afirmando: *o conteúdo do comportamento humano pede ser genericamente caracterizado como aquilo que as pessoas fazem e di zem.... Afirmações de relações sujeitas a leis podem ser consideradas descri camila paiffer Highlight Murta A m e lia Pio A b ib Ajiclery. N ilta M lc ti«l»R o , T e r » » Marta do A ie v e d o P iro » SAtto ção do processos ... Em resumo, princípios comportamentaís descrevem processos e explicam conteúdos' (Glenn o Malagodi, 1991, pp. 2, 3). Esta distinção é estendida á análise de fenômenos sociais e segundo eles "a tarefa de formular princípios gerais que descrevem processos culturais pode ser mais difícil que no domínio comportamontal" (p.4). Estas dificuldades envolvem a complexidade da unidade de análise, a escala temporal do muitos dos fenômenos sociais e a dificuldade de estabelecer situações de ostudo análogas às utilizadas para o estudo do comportamento individual. Como conseqüência, os autores sugerem que. pelo menos de início, o es tudo dos fenômenos socials, com vistas à formulaçáo dos princípios que o governam, precisará “se basear muito mais fortemente num amplo conhe cimento existente sobre conteúdos culturais" (p.4). Do nosso ponto de vis ta. o que estes autores estáo sugerindo é a necessidade dos analistas do comportamento se debruçarem sobre a cultura buscando identificar o que os indivíduos fazem e dizem e que ó tido como característico daquela cultu ra Partindo desta descrição quase narrativa poderíamos hipotetizar rela ções de depondência entre as ações e os ambientes selecionadores. Este poderia ser o primeiro passo para a identificação de metacontingências. c) com portam ento verba l re lac ionado às con tingênc ias entre laçadas Muito freqüentemente a análise de contingências entrelaçadas, como indicado na Figura 3. envolverá a descrição das aqui chamadas contingên cias de suporte. Em um caso especial, e extremamente relevante (e bas tante comum), tais contingências envolvem comportamento verbal. Como ressalta Skinner (1981), comportamento verbal foi crucial para a emergên cia do terceiro nível de seleção por conseqüências - a seleção das práticas culturais. Assim, não deve causar espanto que a descrição de fenômenos sociais muito provavelmente exija a descrição de comportamento verbal envolvido na seleção e manutenção destas práticas. Como afirma Glenn (1991): O comportamento verbal de cada pessoa serve como parte do ambi ente comportamontal da outra e isto claramente produz oportunida des para que contingências sociais complexas tragam um número cada vez maior de dimensões do mundo (social e não social) para os ambientes comportamentais dos indivíduos participantes." (p.59) Mais que isto. ao distinguir as culturas humanas das chamadas protoculturas humanas (ou não), Glenn destaca o papel do comportamento verbal oon>o elemento chave para que tenha emergido a complexidade quo é típica das práticas culturais, ou melhor, das contingências entrelaçadas que caracterizam as culturas humanas. Nas suas palavras: “a cola que foi neces sária para manter tais relações entrelaçadas foi o comportamento verbal" (Glenn. 1991, p.60). A Figura 5 ê uma tentativa de representar a participação de contin gências verbais no suporte das contingências entrelaçadas. Há entre ela e a Figura 3 uma diferença que ê importante de ser destacada. Quando as contingências de suporte são verbais, as respostas verbais podem promo ver outras contingências por meio do que tem sido chamado de compor tamento governado por regras (Skinner, 1969), ou, mais recentemente, de camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight camila paiffer Highlight VelKíoitmflpBnaâa oomptyisirm nto. c u íu ro o suaw lM fe 143 Figura 5. Representação de contingências entrelaçadas que exigem contingências verbais de suporte. comportamento governado verbalmente (Catania, 1999). O que é relevante aqui è que o comportamento verbal pode evocar pela primeira vez a emis são de outro comportamento (antes mesmo que este seja consequenciado). Assim, contingências verbais de suporte ampliam em muito a extensão do controle social sobre o comportamento. E assim, também, dificilmente um analista do comportamento poderá estudar fenômenos sociais sem domi nar o conhecimento - teórico e empírico - sobre comportamento verbal. 3. os con tex tos de es tudo d os fenôm enos soc ia is O analista do comportamento interessado no estudo dos fenôme nos sociais, então, tem meio caminho andado: sabe que estos são legíti mos como objotos de estudo de seu interesse e tem à sua disposição ferra mentas conceituais para iniciar o tratamento destes fenômenos. No entan to, este analista do comportamento precisará ainda tomar decisões a res peito das situações apropriadas para o estudo de tais fenômenos. Este aspecto - o de situações adequadas para estudo dos fenôme nos sociais tem sido também abordado por vários analistas do comporta mento. Lamal (1991), por exemplo, aponta as dificuldades de medida e de delineamento envolvidos no estudo de fenômenos sociais, pois os analis tas do comportamento não desenvolveram, ainda, procedimentos para re alizar análises que envolvem o comportamento de muitas pessoas. Segun do ele, a análise do comportamento quando aplicada a tais fenômenos, deverá trabalhar com o que ele chama de “experimentos naturais" (p. 8) e não. como está até entáo habituada, com experimentos de laboratório. Dois Mario A m é lia Pte A M b A n d a iy , Nltea MIclaeieHo, lew oM M nrla á e A ze ve d o Pire* Sério estudos de Kunkel (1985, 1986) ilustram muito bem como tais 'experimen tos naturais' poderiam ser realizados. No primeiro estudo, Kunkel (1985) analisa um conjunto atividades que ocorreram em Veneza, entre 1650 e 1800, com relação á educação musical de meninas órfãs; ole toma a parti cipação das meninas nas atividades envolvidas nesta educação e todo o suporte necessáriopara que estas atividades ocorressem como a variável manipulada e analisa os efeitos disso sobre mudanças na vida dessas meninas quando comparada á vida de meninas que não tinham tal oportu nidade. No segundo estudo. Kunkel (1986) analisa os efeitos de mudanças introduzidas, a partir de 1952, em uma fazenda no Peru, a fazenda Vicos, quando ela foi objeto de um programa de pesquisas conduzido por um sociólogo (Holmberg). Fica claro, nos dois casos, a necessidade de recor rer a tipos de dados (registros oficiais, relatos históricos, relatos de pesqui sa produzidos outros objetivos) com os quais o analista do comportamento não está habituado e. mais do que isso. a necessidade de identificar, nas histórias já ocorridas, situações que possam ser vistas como situações ex perimentais. Como ressalta Kunkel (1986). esta decisão metodológica en volverá uma opção: O preço da análise experimentai do comportamento humano em am bientes naturais pode sor um menor grau de controle de variáveis [quando comparado ao da situação de laboratório/, enquanto que os benefícios, que se originam de um acompanhamento das varáveis estendido no tempo, são tarefas experimentais com significado mai or e manipulações mais efetivas. Esses benefícios valem a pena e prometem sucesso para o futuro da análise experimental do com portamento humano, (p. 465) Pierce (1991) também abordou a questão das situações para o es tudo dos fenômenos sociais; tal como os autores já citados, ele parte da constatação de que os analistas do comportamento precisam ampliar os métodos aos quais recorrem para que este estudo seja produtivo. Indo nes ta direção, Pierce (1991) destaca três possibilidades: Métodos aceitáveis incluem: (1) técnicas observacionais que des crevem o comportamento das pessoas organizado em termos de settíng ovonts, estímulos discriminativos específicos e conseqüên cias funcionais; (2) estudos quase-experimentais que tentam isolar as variáveis causais de uma prática social particular, e (3) análise experimental do comportamento em pequenos grupos, (p. 20) Evidentemente, a identificação das diferentes propostas já existen tes e sua comparação mereceriam um estudo especial; entretanto, a leitu ra, ainda que assistemática, de artigos que apresentam tais propostas metodológicas e de artigos que analisam fenômenos sociais sugere que temos à nossa disposição quatro alternativas metodológicas que têm sido bem sucedidas no estudo de fenômenos sociais. A primeira delas não deve ser novidade para os analistas do com portamento; em mais de uma oportunidade, Skinner (1957e 1974, por exem plo) propõe a interpretação como um caminho legitimo para a compreen são do comportamento. Segundo Skinner (1974): c c n ip o i '« r iM il i> . c u I j i b « a o c le da d tf 145 Como em outras ciências, freqüentemente não temos a informação necessária para predição e controle e devemos nos satisfazer com a Interpretação, mas as nossas interpretações terão o apoio da predi ção e do controle que foram possíveis em outras condições (p. 176) Temos, em várias publicações de analistas do comportamento, exem plos do análise de fenômenos sociais que recorreram á interpretação. po dem ser citados o estudo de Ellis (1991) sobre o sistema penitenciário dos EUA e o estudo de Laitinen e Rakos {1997) sobre a mídia e seus efeitos sobre o comportamento individual, destacando, como exemplo, as noticias sobro o Iraque, tal como divulgadas na mídia impressa e falada dos EUA. e seus efeitos sobre a opinião pública com rolaçõo à invasão do Iraque pelos EUA. em 1991. Outra alternativa metodológica já foi aqui mencionada, sâo os cha mados 'experimentos naturais'. Kunkel {1986), um de seus defensores, afir ma: A maioria dos estudos de longa duração foram descrições... Ainda assim, o progresso da psicologia depende do poder e da eficácia do paradigma experimental.... A melhor solução para o duplo problema do laboratório e do tempo é o experimento natural (pp 52. 53) Uma terceira alternativa são os chamados experimentos de cam po’. Muitas das pesquisas que chamarnos de pesquisa aplicada em anáhse do comportamento podem ser incluídas como exemplos desta alternativa Um exemplo bastante significativo é encontrado no trabalho de Coheri e Filipczak (1971) realizado em um reformatório para jovens condenados pela justiça, em Washington. Finalmente, uma alternativa que deve merecer especial atenção e esforço é o desenvolvimento de situações experimentais que são análogos a fenômenos sociais. Uma afirmação de Skinner, feita em 1973, é reveladora da importân cia desta alternativa: Quando os fenômenos estão fora do alcance no tempo ou espaço, ou quando eles são muito grandes ou pequenos para serem direta mente manipulados, precisamos falar deles com uma descrição das condições relevantes qtre náo é completo. O que foi aprendido em condições mais favoráveis é. então, de valor inestimável (p. 261) De fato. parece que temos rr-uito a ganhar em termos de nossa com preensão das variáveis de controle de fenômenos sociais complexos com tentativas de desenvolver análogos experimentais de tais fenômenos. Um exemplo instigante desta estratégia ó a descrição o programa de pesqui sas, intitulado Projeto Columban. desenvolvido por Epstein, Carr, Lanza e Skinner (Epstein, 1981), no qual os autores tinham por objetivo demonstrar ex|)erimentalmente - com pombos - as variáveis envolvidas na constitui ção de fenômenos como. por exemplo, autoconsciência, comunicação camila paiffer Highlight M u n a A m A iiii P io A b * b A n d o r y , N ilz a M ic »io l# tto . T e u * »» M » r ln de A je v o d a P ir e » S 4r to simbólica, mentira e produção de pistas para o próprio responoer - tradicio nalmente descritos à maneira cógnitivista. R eferên c ias B ib liog rá ficas Burguess, R. L . & Bushell. D. (196lJ). Behavioral Sociology: Tho experimental analysis of social process New York. NY- Columbia University Press. Catania. A C (1999), Aprendizagem: Comportamento, linguagem o cogniçáo. Porto Alegre: ArtMed. Cohen. H L , & Flllpczak, J. (1971) A now learning enviromont San Francisco, CA: Jossey-Bass. 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