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DIREITO PENAL IV - CADERNO PROVA 1 - THAÍS BANDEIRA

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Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
Teoria geral da parte especial 
Classificação dos crimes 
Quanto ao número de agentes 
• Concurso de pessoas 
• Há os crimes unissubjetivos, que podem ser praticados por um só agente 
(concurso eventual), e os crimes plurisubjetivos, que só podem ser 
praticados com mais de um agente (concurso necessário). 
Quanto ao sujeito ativo 
• Crimes comuns = qualquer pessoa pode praticar (furto, roubo, etc). 
• Crimes próprios = exige uma qualidade especial do sujeito ativo (peculato) 
• Crime de mão própria = além de exigir qualidade especial, só pode ser 
praticado por uma única pessoa sem coautoria (autoaborto, exige que seja 
mulher, grávida e pratique sozinha). 
Quanto ao momento consumativo 
• Crime instantâneo = produz o seu resultado imediatamente após a 
execução 
• Crime permanente = tem sua consumação prolongada ao longo do tempo, 
podendo o agente cessar os seus efeitos a qualquer momento 
• Crime instantâneo de efeitos permanentes = consuma de maneira imediata 
após execução, mas seus efeitos são irreversíveis 
• Crime habitual = precisa de reiteração de condutas para provocar a sua 
consumação. A conduta isolada se configura em um fato atípico. 
Quanto iter criminis 
• Crimes unissubsistentes = aqueles que não se pode fracionar o iter 
criminis. Não se admite a forma tentada, pois não se fraciona execução e 
consumação. 
• Crimes plurisubsistentes = se fraciona o iter criminis, admitindo a 
tentativa. 
Quanto ao resultado 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
• Crimes materiais = deixa vestígios; produz o resultado no mundo exterior 
(real). Provoca um resultado naturalístico 
• Crimes formais = possui dois momentos descritos pelo legislador, mas a 
sua consumação é antecipada, bastando a prática da primeira conduta 
• Crimes de mera conduta = se consuma com a simples prática do núcleo do 
crime, não havendo produção de resultado exterior (resultado jurídico) 
Conceitos de teoria da pena 
Qualificadora e privilégio = novas penas cominadas, dentro do mesmo tipo penal, 
maiores (qualificadora) ou menores (privilégio) do que a forma simples 
Exemplo 1: Artigo 121, matar alguém. Pena: 6 a 20 anos. Parágrafo segundo: por 
motivo torpe = 12 a 30 anos. Houve aí uma qualificadora, tendo outro mínimo e máximo 
dentro do mesmo tipo penal. 
Exemplo 2: Artigo 317, corrupção passiva (ex: receber para deixar de praticar atos 
de ofício). Pena: 2 a 12 anos. Parágrafo segundo: atender a pedido de deixar de praticar 
atos de ofício. Pena = 3 meses a 1 ano. Houve aí um privilégio, tendo outro mínimo e 
máximo dentro do mesmo tipo penal. 
OBS: Não se pode confundir com atenuante e agravante. 
Causas de diminuição e aumento de pena 
Circunstância que aumentam ou diminuem a pena de maneira tarifada pelo 
legislador. Estão tanto na parte geral quanto na especial. 
OBS: A causa de aumento e diminuição pode ter pena aquém do mínimo e além 
do máximo. 
Atenuantes x agravantes 
Circunstâncias que aumentam ou diminuem a pena sem tarifação dada pelo 
legislador. Estão previstas só na parte geral (art. 61 a 66). 
Crimes contra a vida 
Todos os crimes dolosos contra a vida são julgados no tribunal do júri. São quatro: 
art. 121, homicídio; art. 122, induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio; art. 123, 
infanticídio; arts.124 a 128, aborto. 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
OBS: O único desses que admite a forma culposa é o homicídio. O homicídio 
culposo não vai para o júri. 
Erro de tipo essência 
Sujeito erra sobre um elemento constitutivo do crime. Está excluído o dolo, 
permitindo a culpa a depender do caso. Poderá excluir a tipicidade, sendo um fato atípico. 
Exemplo: caçador ver uma moita se mexendo e atira achando ser animal, quando 
na verdade era outro caçador camuflado. 
Erro provocado por terceiro 
Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. 
Exemplo: trocar bala de arma em gravação de filme por bala de verdade. 
Eutanásia 
Há quatro espécies: 
• Distanásia = obstinação terapêutica. Aplicação de tratamentos que 
prolonguem o tempo da morte, mas através de tratamentos ineficazes. 
• Mistanásia = morte do paciente por falta de recursos na área de saúde; 
miséria social. 
• Ortotanásia = morte ao seu tempo certo. Instalado o quadro irreversível, o 
paciente deixa de realizar tratamentos meramente paliativos 
OBS: Há países com a possibilidade de fazer o testamento vital, que é uma diretriz 
antecipada de vontade. 
• Suicídio assistido = realizado através de um acompanhamento de equipe 
multidisciplinar, passando por psicológicos e assistentes sociais para que 
se firme a vontade do suicídio, terminando com a equipe médica que vai 
auxiliar o sujeito na realização do suicídio de forma indolor. 
OBS: No Brasil, a ortotanásia = homicídio com relevante valor moral e suicídio 
assistido = auxílio ao suicídio (art. 122) 
Artigo 121 - Homicídio 
• Caput = homicídio simples 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
• §1º = homicídio privilegiado 
• §2º = homicídio qualificado 
• §2-A = feminicídio 
• §3º = homicídio culposo 
• §4º = causas de aumento de pena 
• §5º = perdão judicial 
• §6º = homicídio praticado pelas milícias privadas 
• §7º = aumento de pena para crime de feminicídio 
Objeto material e bem juridicamente protegido 
O objeto material do delito é a pessoa contra a qual recai a conduta praticada pelo 
agente. O bem juridicamente protegido é a vida. A proteção da vida, por intermédio do 
art. 121 do CP, começa a partir do início do parto, encerrando-se com a morte da vítima. 
Exame de corpo de delito 
Tratando-se de crime material, infração penal que deixa vestígios, o homicídio, 
para que possa ser atribuído a alguém, exige a confecção do indispensável exame de corpo 
de delito, direto ou indireto. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem 
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta. 
OBS: Mesmo havendo a confissão do acusado, será obrigatório a realização do 
exame de corpo de delito. 
Homicídio simples 
Matar alguém sem a presença de nenhuma circunstância. Ou seja, quando não 
estão presentes as demais circunstâncias presentes no tipo penal. É um conceito feito por 
exclusão. 
• É um crime comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa. 
• Unissubjetivo, pois pode ser praticado por um único agente 
• Crime material, pois deixa vestígios 
• Crime instantâneo de efeitos permanentes; 
• Crime plurissubsistente, pois fraciona o iter criminis e, portanto, é 
admissível a tentativa 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
O homicídio simples, previsto no caput do art. 121, CP, possui a redação mais 
compacta de todos os tipos penais incriminadores, que diz: matar alguém. Somente o ser 
humano vivo pode ser vítima do delito de homicídio. Assim, o ato de matar alguém tem 
o sentido de ocisão da vida de um homem por outro homem. 
Homicídio privilegiado (§1º) 
O homicídio privilegiado nada mais é do que uma causa especial de redução de 
pena, tendo influência no terceiro momento da sua aplicação. 
• Natureza jurídica = causa de diminuição de pena, mas a doutrina 
consagrou o termo homicídio privilegiado, por conta da motivação 
envolvida. 
• Não precisa respeitar os limites da pena cominada 
Três situações que torna privilegiado: 
1. Crime cometido sob o domínio (completamente tomado com a violenta 
emoção) de violenta emoção, logo em seguida injusta provocação da 
vítima. O “logo em seguida”não significa que não permita qualquer 
espaço de tempo. Isso busca evitar que o agente fique “ruminando” a sua 
vingança. Contudo, não elimina a hipótese daquele que, injustamente 
provocado, vai até a sua casa em busca do instrumento do crime, para com 
ele produzir o homicídio. 
OBS: Tem que ser os dois juntos (violenta emoção + injusta provocação da 
vítima). 
OBS: Não confundir a causa de diminuição do §1º com a atenuante do artigo 65, 
III, c, que fala sobre INFLUÊNCIA de violenta emoção. Influência = parcialmente 
tomado. 
2. Crime praticado com relevante valor social. 
É aquele motivo que atende aos interesses da coletividade. Motivação idônea para 
o homicídio, justificada por um sentimento coletivo. 
Exemplo: Matar um ditador. 
3. Relevante valor moral 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
É considerado levando-se em conta os interesses do agente. Seria, por assim dizer, 
um motivo egoisticamente considerado. Motivação relevante para um indivíduo ou um 
grupo individualizado de pessoas. Exemplo: pai que mata o estuprador de sua filha. 
OBS: O motivo que impeliu o agente a praticar o homicídio deve ser relevante. 
Caso não seja relevante, isto é, não goze de certa importância, coletiva ou individual, 
mesmo que tenha valor social ou moral, não poderá servir como causa de diminuição de 
pena. 
Embora a lei diga que o juiz “pode” reduzir a pena, não se trata de faculdade do 
julgador, senão direito subjetivo do agente em ver diminuída sua pena, quando seu 
comportamento se amoldar a qualquer uma das três situações elencadas pelo parágrafo. 
Homicídio qualificado (§2º) 
Sai do patamar de 6 a 20 anos para 12 a 30 anos. 
Algumas qualificadoras: fútil, emboscada, veneno, tortura, cruel, turpe. Apenas 
uma é necessária para elevar o patamar da pena cominada. As outras serão utilizadas 
como agravante ou circunstância judicial. 
Lei 8072/90: crimes hediondos (tem no rol o artigo 121, §2º) 
Homicídio qualificado é considerado crime hediondo. 
O homicídio qualificado-privilegiado como crime hediondo 
Majoritariamente, a doutrina repele a natureza hedionda do homicídio 
qualificado-privilegiado, pois não se compatibiliza a essência do delito objetivamente 
qualificado, tido como hediondo, com o privilégio de natureza subjetiva. Nesse sentido, 
Guilherme de Souza Nucci doutrina que: 
“Não deixa de ser estranha a qualificação de hediondo a um delito cometido, por 
exemplo, por motivo de relevante valor moral ou social. Ainda que possa ser praticado 
com crueldade (qualificadora objetiva, que diz respeito ao modo de execução), a 
motivação nobre permite que se considere delito comum e não hediondo, afinal, acima 
de tudo, devem-se considerar os motivos (finalidade) do agente para a consecução do 
crime e não simplesmente seus atos”. 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
Assim, em suma, há situações em que pode ser um homicídio privilegiado e 
qualificado ao mesmo tempo. Exemplo: pai mata estuprador da filha com tortura. 
Contudo, a doutrina entende que a presença do §1º vai apagar a hediondez do crime. 
Qualificadoras (§2º) 
Inciso I: paga ou promessa de recompensa – o denominado crime mercenário. A 
paga é o valor ou qualquer outra vantagem, tenha ou não natureza patrimonial, recebida 
ANTECIPADAMENTE, para que o agente leve a efeito a empreitada criminosa. Já na 
promessa de recompensa, o agente NÃO RECEBE ANTECIPADAMENTE, mas, sim, 
existe uma promessa de PAGAMENTO FUTURO. Essa qualificadora é utilizada tanto 
para o mandante do crime quanto para o executor do crime. Ambos executores e 
mandantes estão sujeitos a essa qualificadora. CONTUDO, ROGÉRIO GRECO 
AFIRMA QUE O MANDANTE NÃO DEVE NECESSARIAMENTE RESPONDER 
PELO HOMICÍDIO QUALIFICADO PELO SIMPLES FATO DE TER PROMETIDO 
VANTAGEM PARA QUE ALGUÉM O PRATICASSE. ELE UTILIZA A HIPÓTESE 
DE UM PAI DE FAMÍLIA, TRABALHADOR, HONESTO, CUMPRIDOR DE SEUS 
DEVERES, EM VIRTUDE DE SUA SITUAÇÃO ECONÔMICA RUIM, TENHA DE 
RESIDIR EM UM LOCAL NO QUAL IMPERA O TRÁFICO DE DROGAS. SUA 
FILHA, DE APENAS 15 ANOS, FOI ESTUPRADA PELO TRAFICANTE QUE 
DOMINAVA AQUELA REGIÃO. QUANDO SOUBE DA NOTÍCIA, NÃO TENDO 
CORAGEM DE, POR SI MESMO, CAUSAR A MORTE DO TRAFICANTE, 
CONTRATOU UM JUSTICEIRO. O MANDANTE, NO CASO, O PAI DA MENINA 
ESTUPRADA, DEVERÁ RESPONDER PELO DELITO DE HOMICÍDIO SIMPLES, 
AINDA COM A DIMINUIÇÃO DE PENA RELATIVA AO MOTIVO DE 
RELEVANTE VALOR MORAL. JÁ O JUSTICEIRO, AUTOR DO HOMICÍDIO 
MERCENÁRIO, RESPONDERÁ PELA MODALIDADE QUALIFICADA). O CP traz 
também o motivo torpe no inciso I, que é aquele que causa repugnância para a sociedade, 
aquele que causa estranheza. É um motivo de natureza egoística. Não é necessário que 
esse motivo torpe seja ligado ao econômico, mas pode estar. O traço mais importante é o 
motivo ser egoísta, estando ligado ou não ao financeiro. 
Inciso II: motivação fútil. É um motivo desproporcional, insignificante. É um 
motivo que é irrelevante para a prática do homicídio. Normalmente quando pensamos no 
motivo fútil, pensamos em “mas a pessoa matou só por isso?”. Exemplo: dois sujeitos 
estavam dentro de um ônibus, um na janela e o outro no lado do corredor. Começou a 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
chover e o que estava ao lado da janela, fechou ela dizendo que estava molhando ele. O 
que estava ao lado do corredor pedia para que ele abrisse a janela porque estava calor 
dentro do ônibus. Eles começaram a discutir por causa dessa situação da janela do ônibus. 
Um deles pegou um canivete e matou o outro. 
A doutrina aponta, ainda, para o fato de que crime sem motivo não se configura 
motivo fútil. Assim, se o sujeito pratica o fato sem razão alguma, não incide a 
qualificadora, nada impedindo que responda por outra, como é o caso do motivo torpe. 
Inciso III: O CP encerra o inciso dizendo “outro meio”, ou seja, quer dizer que 
esse inciso traz um rol exemplificativo, o Código não esgota o rol por inteiro, apenas 
exemplifica. 
• Veneno: são substância tóxicas, mas também substância nocivas à vítima, 
que sejam de conhecimento do autor do crime. Obs: um camarão, por 
exemplo, para uma pessoa alérgica é considerado veneno. OBS: o uso do 
veneno deve ser algo desconhecido pela vítima, ou seja, a vítima não pode 
estar sabendo que está ingerindo o veneno. O veneno faz parte do rol de 
meios insidiosos, isto é, aquele meio desconhecido da vítima, aquele 
ardiloso, um meio disfarçado da vítima. Se a vítima souber que está 
ingerindo o veneno, o agente deverá responder pelo homicídio, agora 
qualificado pela fórmula genérica do meio cruel. Portanto, meio insidioso 
é o meio utilizado pelo agente sem que a vítima dele tome conhecimento; 
cruel, a seu turno, é aquele que causa um sofrimento excessivo, 
desnecessário à vítima enquanto viva. 
• Fogo e explosivo: para serem utilizados como qualificadora, devem ser 
utilizados para a prática do homicídio. Se eles forem usados para ocultar o 
cadáver, eles serão agravantes do artigo 211, ou seja, a pessoa responde 
por dois tipos penais, pelo homicídio e pela ocultação de cadáver. 
• Asfixia: pode ser realizada de várias formas. A asfixia mecânica é quando 
alguém segura você, impede a sua respiração e funcionamento das suas 
vias aéreas (segurar o pescoço de alguém, tampar o rosto da pessoa com 
um travesseiro). A asfixia física é quando o diafragma não consegue 
realizar os movimentos para a respiração, os movimentos de expansão dos 
pulmões não conseguem ser realizados (pessoa soterrada – mesmo se tiver 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
com a cabeça pra fora -, crucificada). A asfixia químicaé quando se respira 
um gás tóxico (campos de concentração). 
• Tortura: entra como um meio cruel para a prática do homicídio. Existe um 
crime autônomo de tortura (Lei 9455/97), que é diferente do homicídio 
com tortura. O dolo do agente que diferencia os dois. No homicídio com 
tortura temos o “animus necandi”, ou seja, o dolo de matar, a intenção de 
matar (a tortura é utilizada para prolongar excessivamente o sofrimento da 
vítima, mesmo querendo matar a pessoa). A tortura, em seu crime 
autônomo, tem diversos tipos de dolo (dolos específicos), inclusive, pode 
chegar a matar, mas não é o dolo da tortura; a morte, aqui, não é a intenção 
do agente. Ou seja, a diferença reside no fato de que a tortura, no art. 121, 
é tão somente um meio com o fim de causar a morte da vítima. Já na Lei 
mencionada, a tortura é um fim em si mesmo. Se vier a ocorrer a morte, 
este somente poderá qualificar a tortura a título de culpa. Isso significa que 
a tortura qualificada pelo resultado morte é um delito eminentemente 
preterdoloso. 
Inciso IV: várias qualificadoras, todas exemplificativas, sendo encerrado com 
uma norma de fechamento com “outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa 
da vítima”. 
• Crime praticado mediante traição: traição significa quebra de uma relação 
de confiança. A relação de confiança existe entre colegas, amigos, etc. 
Para que essa qualificadora seja colocada no processo, é necessário 
comprovar a relação de confiança, mesmo que essa relação seja mínima. 
• Crime praticado mediante emboscada: a questão da emboscada é o 
elemento surpresa. Exemplo: num estacionamento, você vai se 
aproximando do seu carro e tem uma pessoa escondida com um revólver 
para te matar. 
• Dissimulação: o agente se aproxima da vítima, escondendo sua real 
intenção. Exemplo: entram na sala fingindo que vão da um aviso, mas, na 
realidade, matam um aluno. 
Inciso V: relaciona o homicídio com outro crime. O homicídio aparece como 
forma de permitir a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime. 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
Exemplo: matar o segurança de uma pessoa para sequestrá-la depois e extorquir sua 
família (o homicídio aqui é utilizado como meio para permitir a execução de um outro 
crime). 
Inciso VI: feminicídio – foi inserido pela Lei 13104/15. Femicídio não se 
confunde com o feminicídio. Femicídio é a morte de uma mulher, crime de feminicídio é 
a morte de uma mulher por violência de gênero. 
O Código optou pelo uso do “sexo feminino” ao invés de “gênero feminino”, pois 
o sexo feminino está atrelado ao aspecto biológico ou transsexual já operado. Quando se 
fala em “gênero feminino”, leva ao aspecto social, àquelas pessoas que socialmente se 
apresentam como mulheres, mesmo sendo biologicamente do sexo masculino. Contudo, 
nada impede que a jurisprudência interprete o conceito de mulher, colocando a mulher 
trans sem ser operada. 
Foi inserido o § 2º-A, que diz que “considera-se que há razões de condição de 
sexo feminino quando o crime envolve: I – violência doméstica e familiar; II – 
menosprezo ou discriminação à condição de mulher”. 
O primeiro inciso se comunica com o ciclo “Lua de mel, tensão, explosão, lua de 
mel”, em que, na primeira fase, o casal está em harmonia, depois vêm as brigas excessivas 
do casal, o qual a mulher acha normal, pois qualquer casal tem brigas, e depois vem a 
explosão, que é onde há a agressão. Após isso, o homem se desculpa de todas as formas, 
o que faz com que a mulher, por amor, volte para ele, ocorrendo todo o ciclo novamente. 
Natureza das circunstâncias 
Há uma discussão se a natureza das circunstâncias é objetiva (forma) ou subjetiva 
(sujeito). Nesse sentido, tem jurisprudência para os dois lados. O primeiro caso no Brasil 
julgou natureza objetiva. A segunda corrente fala que os dois incisos têm natureza 
subjetiva, ou seja, relacionados a condições pessoais entre autor e vítima. Aí veio uma 
terceira corrente que diz que o primeiro inciso tem natureza objetiva, enquanto o segundo 
inciso tem natureza subjetiva, pois tem a ver com a motivação do crime. 
Se se entender que as causas do feminicídio têm caráter subjetivo, elas se aplicam 
apenas para o agente. Se se entender que elas têm caráter subjetivo, elas se aplicam a 
todos os codelinquentes. 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
EXEMPLO: Ex-marido chama um amigo para matar a ex-mulher. Se o 
entendimento for que as causas do feminicídio (os incisos I e II) tenham natureza 
subjetiva, o amigo não responderá pelo crime de feminicídio. Contudo, se for entendido 
que tem caráter objetivo, o amigo será, também, acusado de feminicídio. 
Causas de aumento de pena (1/3 a ½) 
I – Durante gestação ou 3 meses pós-parto (o agente precisa saber dessa condição); 
II – Menor de 14, maior de 60, portadora de deficiência ou com alguma doença 
degenerativa que acarrete vulnerabilidade física ou mental; 
III – Presença física ou virtual de ascendente ou descendente da vítima; 
IV – Em descumprimento das medidas protetivas da Lei Maria da Penha. 
Inciso VII: inserido pela Lei 13142/15. É a qualificadora referente à morte de 
autoridade ou agente descritos nos arts. 142 e 144, CF/88. Esses dois artigos descrevem 
as polícias (PF, PM, etc), ou seja, esse inciso é sobre a morte de autoridade ou agente 
policial. Além dessas pessoas dos arts. 142 e 144, esse inciso também trata das 
autoridades e agentes do sistema prisional, e dos agentes da Força Nacional de Segurança 
Pública (polícia do palácio do planalto, por exemplo). Eles precisam estar no exercício da 
função ou estar sendo morto em razão da função. Além disso, essa lei trouxe a 
qualificadora para quando há a morte do cônjuge ou companheiro e parente consanguíneo 
até o 3º grau desses agentes. 
Competência para julgamento do homicídio doloso 
O Tribunal do Júri é o competente para julgar os crimes dolosos contra a vida, 
destacando-se, dentre eles, o homicídio, em todas as suas modalidades – simples, 
privilegiado e qualificado. 
Vale dizer que o latrocínio não é julgado pelo Tribunal do Júri, mesmo que a morte 
da vítima seja dolosa. Isso ocorre, pois o crime de latrocínio encontra-se no Título 
correspondente aos crimes contra o patrimônio, sendo que o Tribunal do Júri, de acordo 
com a competência que lhe é atribuída pela Constituição Federal, julga os crimes dolosos 
CONTRA A VIDA. Nessa linha de raciocínio, segue entendimento do STF, pela Súmula 
nº 603, “a competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e 
não do Tribunal do Júri”. 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
OBS: A Constituição Federal não impediu que outras infrações penais fossem 
submetidas a julgamento pelo Tribunal do Júri, mas tão somente garantiu que os crimes 
dolosos contra a vida fizessem, sempre, parte desse rol, podendo o legislador 
infraconstitucional agregar-lhe outros delitos, ampliando-se, portanto, sua competência. 
Forma culposa (§3º) 
A pena do homicídio culposo é de 1 a 3 anos. Dentro desse homicídio culposo, 
conseguimos imaginar tanto a culpa consciente quanto a culpa inconsciente e, dentro da 
culpa inconsciente, as modalidades de negligência, imprudência e imperícia. 
Além do trabalho de adequação a ser realizado pelo julgador, que deverá aferir se, 
no caso concreto, o agente deixou de observar o dever objetivo de cuidado que lhe 
competia, para que se possa configurar o delito culposo há a necessidade inafastável de 
verificar se a conduta do agente produziu algum resultado. Por mais que o agente tenha 
deixado de observar seu dever de cuidado, se dessa inobservâncianão advier qualquer 
resultado lesivo, o fato não se amoldará à figura do delito culposo. 
Crimes de trânsito 
Para crimes de trânsito, existe uma legislação específica, o Código de Trânsito 
Brasileiro. Ou seja, o homicídio no trânsito é uma outra situação. A sua pena é de 2 a 4 
anos. No trânsito, a gente tem uma situação diferenciada. No Código de Trânsito, temos 
apenas a modalidade de homicídio culposo. Se o homicídio no trânsito for doloso, 
voltamos ao caso de homicídio doloso, regido pelo Código Penal. 
Causas de aumento de pena (§4º) 
Traz um aumento de 1/3 de pena quando o homicídio é culposo e também de 1/3 
de pena quando o homicídio é doloso. 
Para o homicídio culposo, os aumentos de pena são: 
1. Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício (imperícia não é a 
mesma coisa de inobservância. Esta é quando se tem a técnica, mas não a 
empregou no caso concreto; aquela, é a falta de técnica para praticar o ato); 
2. Sujeito que não presta imediato socorro à vítima e não tenta minorar os efeitos 
de sua conduta (se outras pessoas já estiverem efetuado o socorro à vítima, 
não poderá ser aplicado o aumento de pena ao agente, visto que o que se 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
pretende com a majorante é fazer com que a vítima não fique ao desamparo. 
Se outras pessoas prestavam o socorro, seria inimaginável que o agente tivesse 
de com elas brigar para que, ele próprio, pudesse socorrer a vítima. Se não 
houve recusa de sua parte em levar a efeito o socorro que fora realizado por 
terceiros, nenhuma justificativa existe para o aumento de pena. Da mesma 
forma, não se fala em omissão de socorro quando a vítima tiver, por exemplo, 
morte instantânea); 
3. Sujeito que foge para evitar flagrante delito. 
Para o homicídio doloso, os aumentos de pena são: 
1. Se a vítima for menor de 14 anos; 
2. Se a vítima for maior de 60 anos. O agente precisa saber que a vítima é menor 
de 14 ou maior de 60 anos. Se o agente não souber a idade da vítima ou não 
tem como identificar visivelmente, não é aplicado esse aumento de pena. 
Perdão judicial (§5º) 
Toda vez que encontrarmos a expressão “o juiz pode deixar de aplicar a pena”, 
estamos diante de um perdão judicial. O perdão judicial não se dirige a toda e qualquer 
infração penal, mas sim àquelas previamente determinadas pela lei. 
Perdão judicial consiste numa causa de extinção de punibilidade. Aconteceu o 
crime como fato típico, ilícito e culpável, mas o Estado abre mão de punir o sujeito. O 
art. 121, § 5º, do CP, fala que “na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de 
aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão 
grave que a sanção penal se torne desnecessária”. Nesse sentido, esta decisão só tem 
cabimento para homicídio culposo e quando a dor da perda é tão significativa para o 
agente que a sanção é desnecessária. Exemplo: mãe que atropela seu filho sem querer. 
Se tiver algum indício de dolo, mesmo que seja dolo eventual, nem se pensa em 
perdão judicial. Deve ser, necessariamente, homicídio culposo. 
Vale dizer que, segundo entendimento do STJ, pela Súmula nº 18, “a sentença 
concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção de punibilidade, não subsistindo 
qualquer efeito condenatório”. 
Homicídio praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de 
serviço de segurança, ou por grupo de extermínio 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
A Lei nº 12.720/12 acrescentou o § 6º do art. 121 do Código Penal, prevendo mais 
uma causa especial de aumento de pena, dizendo “a pena é aumentada de 1/3 até a metade 
se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de 
segurança, ou por grupo de extermínio. 
Embora de difícil tradução, mas para efeitos de aplicação da causa especial de 
aumento de pena prevista no § 6º do art. 121 do Código Penal, podemos, inicialmente, 
subdividir as milícias em públicas, isto é, pertencentes, oficialmente, ao Poder Público, e 
privadas, vale dizer, criadas às margens do aludido Poder. 
Dessa forma, as milícias podem ser consideradas, ainda, militares ou 
paramilitares. Militares são as forças policiais pertencentes à Administração Pública, que 
envolvem não somente as Forças Armadas, como também as forças policiais, que tenham 
uma função específica, determinada legalmente pelas autoridades competentes. 
Paramilitares são associações não oficiais, cujos membros atuam ilegalmente, com o 
emprego de armas, com estrutura semelhante à militar. Nesse sentido, o § 6º, ao se referir 
à milícia privada, está dizendo respeito àquela de natureza paramilitar, isto é, a uma 
organização não estatal, que atua ilegalmente, mediante o emprego da força, com a 
utilização de armas, impondo seu regime de terror em determinada localidade. 
Assim, por exemplo, imagine que um integrante da milícia, agindo de acordo com 
a ordem emanada do grupo, mate alguém porque se atribuía à vítima a prática frequente 
de crimes contra o patrimônio naquela região. Nesses casos, todos aqueles que compõe a 
milícia devem responder pelo delito de homicídio, com a pena especialmente agravada, 
uma vez que seus integrantes atuam em concurso de pessoas, e a execução do crime 
praticada por um deles é considerada uma simples divisão de tarefas, de acordo com a 
teoria do domínio funcional sobre o fato. 
Art. 122 – Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio 
Não se pune aquele que tentou contra a própria vida e escapou da morte, mas tão 
somente aquele que o induziu, instigou ou auxiliou materialmente para esse fim. 
Este crime só é admitido na forma dolosa, seja o dolo direto ou eventual. Sendo 
assim, não existe previsão legal para a responsabilidade penal do agente que, 
culposamente, contribui para o suicídio praticado pela vítima. Assim, imagine-se a 
hipótese daquele que, sabendo das intenções suicidas da vítima, negligentemente, 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
esquece-se de guardar sua arma em local seguro, permitindo que esta a utilize na prática 
do autoextermínio. Nesse caso, o fato praticado pelo agente seria atípico, tendo em vista 
a ausência de previsão legal para a modalidade culposa do delito em exame. É de natureza 
material, pois exige um resultado naturalístico; e de natureza unissubjetiva, pois pode ser 
praticado por um único agente. 
Condutas 
As condutas de induzir, instigar e auxiliar geralmente estão associadas á figura do 
partícipe, a uma figura acessória. Porém, como a conduta principal do suicídio não é 
punida no Brasil, aquilo que seria meramente acessório, torna-se a conduta principal. 
O suicida 
O suicídio frustrado não é punido no Brasil, pela humanidade das penas. Contudo, 
os meios ilegais para o suicídio frustrado podem ser punidos. 
O Brasil, em regra, não pune a autolesão, exceto se for uma fraude para 
recebimento de seguros (art. 171, §2º, V – estelionato). 
Núcleos do tipo 
• Induzir: criar a ideia suicida 
• Instigar: reforçar uma ideia já existente 
• Auxiliar: criar meios, fornecer instrumentos (é o mesmo que suicídio 
assistido, que no Brasil é caracterizado como auxílio ao suicídio). 
Crime condicionado ao resultado 
Se houver morte, aquele que induziu, instituo ou auxiliou terá uma pena de 2 a 6 
anos. Se o suicida sofrer lesão corporal grave, apena será de 1 a 3 anos. Nesse sentido, o 
Código Penal condicionou a punição a esses dois resultados: ou morte, ou lesão grave. 
Portanto, se o resultado for uma lesão leve, o fato é considerado atípico. 
Sujeitos do crime 
Pode ser praticado por qualquer pessoa, uma vez que o tipopenal não especifica 
o sujeito ativo. O sujeito passivo, ou seja, a vítima, da mesma forma, poderá ser qualquer 
pessoa, desde que tenha capacidade de discernimento e de autodeterminação, isto é, ter: 
• Sanidade mental 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
• Idade mínima de 14 anos (de acordo com o Código Penal) ou 12 anos (de 
acordo com o ECA). 
OBS: Abaixo dessas idades, ou não tendo sanidade mental, as vítimas seriam 
vítimas de homicídio e não de instigação, induzimento ou auxílio ao suicídio. Ou seja, 
aquele que induz, instiga ou auxilia materialmente alguém que não possua 
capacidade de discernimento deve ser considerado autor mediato do delito de 
homicídio. A vítima, na verdade, deve ser encarada como um instrumento contra si 
própria, em face da ausência da possibilidade de conhecimento da gravidade de seu 
comportamento. Exemplo: portador de doença mental, alguém sob efeito de 
hipnose, etc. 
Participação moral e material 
Como já dito, quem induz, instiga ou auxilia a vítima a dar cabo da própria vida é 
considerado verdadeiramente autor, e não partícipe. Nesse sentido, o comportamento do 
agente é subdividido em participação moral e participação material. Ocorre a participação 
moral nas hipóteses de induzimento ou instigação ao suicídio. Já na participação material, 
o agente auxilia materialmente a vítima a conseguir o seu intento, fornecendo, por 
exemplo, o instrumento que será utilizado na execução do suicídio, ou mesmo 
simplesmente esclarecendo como usá-lo. 
Causas de aumento de pena (art. 122, §único) 
As penas são aplicadas no dobro se: 
• O crime for praticado por motivo egoístico (torpe); Por motivo egoístico 
entende-se o motivo mesquinho, torpe, que cause certa repugnância, a 
exemplo do agente que induz seu irmão a cometer o suicídio a fim de 
herdar, sozinho, o patrimônio deixado pelos seus pais. 
• Se a vítima for menor (lembrando que tem que ser de 14 até 18 
incompletos, de acordo com o CP e de 12 até 18 incompletos, de acordo 
com o ECA, na medida em que se for abaixo disso, é considerado 
homicídio, art. 121) ou com capacidade de resistência diminuída 
(exemplo: efeito de álcool, drogas, depressão, mesmo que maior de 18 
anos). Vale ressaltar que a lei fala em DIMINUIÇÃO DA CAPACIDADE 
e não em ELIMINAÇÃO DA CAPACIDADE. Se a vítima tem eliminada 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
a capacidade de resistir, o delito será de homicídio; se a sua capacidade 
está diminuída, o crime será o do art. 122 do Código Penal, tendo o agente 
a pena duplicada. 
É importante salientar que o parágrafo único contém causas especiais de aumento 
de pena, e não qualificadoras. Assim, somente no terceiro momento do critério trifásico 
de aplicação da pena é que será considerada a majorante, duplicando-se a pena que tiver 
sido encontrada até aquela fase. 
Pena, ação penal e suspensão condicional do processo 
Como já dito, se o suicídio se consuma, a pena é de reclusão de 2 a 6 anos. Se da 
tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave, apena é de reclusão de 1 a 
3 anos. Em ambas as hipóteses a ação penal é de iniciativa pública incondicionada. 
Ocorrendo lesão corporal de natureza grave, permite-se, presentes os requisitos 
contidos no art. 89 da Lei 9.099/95, seja levada a efeito proposta de suspensão condicional 
do processo pelo MP, ficando afastada tal possibilidade na hipótese em que o crime for 
cometido por motivo egoístico, bem como quando a vítima é menor ou tem diminuída, 
por qualquer causa, a capacidade de resistência, uma vez que, nesses casos, a pena será 
duplicada. 
Art. 123 – Infanticídio 
Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou 
lago após. Pena: detenção, de 2 a 6 anos. 
Portanto, seus traços inafastáveis são: 
• Que o delito seja cometido sob a influência do estado puerperal; 
• Que tenha como objeto o próprio filho da parturiente; 
• Que seja cometido durante o parto ou, pelo menos, logo após. 
É um crime material, pois vai exigir um resultado naturalístico; é 
plurissubsistente, pois fraciona o iter criminis, admitindo a tentativa; unissubjetivo, pois 
pode ser praticado por um só agente; é bipróprio, pois exige qualidade especial do sujeito 
ativo e passivo; omissivo impróprio, na medida em que o sujeito ativa goza do status de 
garantidor; e instantâneo de efeitos permanentes. 
Sob influência do estado puerperal 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
O estado puerperal é o conjunto de alterações física e psíquicas pelos quais passa 
a mulher no período de pós-parto, parto e sobreparto. 
Há três níveis do estado puerperal: 
• A chamada depressão pós-parto: embora em estado puerperal, considerado 
de grau mínimo, a parturiente vier causar a morte de seu filho, durante ou 
logo após o parto, deverá responder pelo delito de homicídio. 
• O estado puerperal propriamente dito: é o que caracteriza, efetivamente, o 
delito de infanticídio. 
• O grau máximo, chamado de psicose puerperal: se a parturiente, 
completamente perturbada psicologicamente, dada a intensidade do seu 
estado puerperal, provocar a morte de seu filho durante o parto ou logo 
após, deverá ser tratada como inimputável, afastando-se a sua 
culpabilidade e, consequentemente, a infração penal. 
Sujeito ativo e sujeito passivo 
O infanticídio é um delito próprio, uma vez que o tipo penal do art. 123 do Código 
Penal indicou tanto o seu sujeito ativo como o sujeito passivo. Assim, somente a mãe 
pode ser sujeito ativo e somente o próprio filho poderá ser sujeito passivo. 
Limite temporal 
O Código Penal determina que esse comportamento seja levado a efeito durante o 
parto ou logo após. 
Uma vez iniciado o parto, não mais se poderá raciocinar em termos de delito de 
aborto, passando a infração penal a se configurar em homicídio ou em infanticídio, 
presentes todos os seus elementos. 
Elemento subjetivo 
Não tendo sido prevista a modalidade culposa no art. 123 do Código Penal, o 
crime de infanticídio somente pode ser cometido dolosamente, seja o dolo direto ou 
eventual. Assim, se a morte do nascente decorrer da inobservância do dever de cuidado, 
deverá ser responsabilizada pelo delito de homicídio culposo. 
Modalidades comissiva e omissiva 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
O delito de infanticídio pode ser praticado comissiva ou omissivamente. Embora 
não prevista expressamente a modalidade omissiva, a parturiente, na qualidade de 
garantidor, pode também, influenciada pelo estado puerperal, causar a morte do próprio 
filho, deixando de fazer o que é necessário á sobrevivência dele, por exemplo, não lhe 
oferecendo o alimento indispensável. 
Concurso de pessoas 
Todos aqueles que, juntamente com a parturiente, praticarem atos de execução 
tendentes a produzir a morte do recém-nascido, se conhecerem o fato de que aquela atua 
influenciada pelo estado puerperal, deverão ser beneficiados com o reconhecimento do 
infanticídio. Quando é a própria parturiente que, sozinha, causa a morte do recém-
nascido, mas com a participação de terceiro que, por exemplo, a auxilia materialmente, 
fornecendo-lhe o instrumento do crime, ou orientando-a como utilizá-lo, ambos, da 
mesma forma, responderão pelo infanticídio, já que a parturiente atuava influenciada pelo 
estado puerperal e o terceiro que a auxiliou conhecia essa particular condição, 
concorrendo, portanto, para o sucesso do infanticídio. 
Art. 124, 125, 126, 127 e 128 – Aborto 
Antes de falar dos abortos criminosos, vale fazer uma breve introdução aos três 
tipos de abortos quenão se encaixam no crime de aborto. 
Aborto espontâneo 
Relacionado a uma má formação do feto ou uma inadaptação do corpo feminino 
à gestação (não é considerado aborto criminoso). 
Aborto traumático 
Decorrente de quedas, choques, colisões que, se não forem dolosas, não são 
consideradas crimes. 
Aborto culposo 
Não são considerados crimes. Ex: mulher grávida faz cirúrgia plástica sem saber 
que está grávida. SÓ EXISTE ABORTO NA FORMA DOLOSA. 
Início e término da proteção pelo tipo penal do aborto 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
Para fins de proteção por intermédio da lei penal, a vida só terá relevância após a 
nidação, que diz respeito à implantação do óvulo já fecundado no útero materno, o que 
ocorre 14 dias após a fecundação. Assim, enquanto não houver a nidação, não haverá 
possibilidade de proteção a ser realizada por meio da lei penal. 
OBS: Não é incomum ouvirmos falar na chamada “gravidez tubária”, em que o 
ovo se desenvolve nas trompas de Falópio. Nesse caso, realizando-se a retirada do óvulo 
já fecundado, estaríamos diante do delito de aborto? Não, uma vez que, juridicamente, 
somente nas hipóteses de gravidez intrauterina é que se pode configurar o delito de aborto. 
Se a vida, para fins de proteção pelo tipo penal que prevê o delito de aborto, tem 
início a partir da nidação, o termo ad quem para essa específica proteção se encerra com 
o início do parto. Portanto, o início do parto faz com que seja encerrada a possibilidade 
de realização do aborto, passando a morte do nascente a ser considerada homicídio ou 
infanticídio, dependendo do caso concreto. 
Classificação doutrinária 
Crime de mão própria, como já mencionado; considera-se próprio quanto ao 
sujeito passivo, pois somente o feto e a mulher grávida podem figurar nessa condição; 
pode ser comissivo ou omissivo (desde que a omissão seja imprópria); doloso; de dano; 
material; instantâneo de efeitos permanentes (caso ocorra a morte do feto, consumando o 
aborto); não transeunte; monossubjetivo; plurissubsistente; de forma livre. 
Elemento subjetivo 
Os crimes de autoaborto, aborto provocado por terceiro sem o consentimento da 
gestante e aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante somente 
podem ser praticados a título de dolo, seja ele direto ou eventual, isto é, ou o agente dirige 
finalisticamente sua conduta no sentido de causar a morte do óvulo, embrião ou feto, ou, 
embora não realizando um comportamento diretamente a este fim, atua não se importando 
com a ocorrência do resultado. 
OBS: O aborto pode vir na forma culposa, quando há um preterdolo. Ou seja, 
quando o autor provoca uma lesão corporal em uma mulher gestante, que ele sabe que 
está grávida, de forma dolosa, e o resultado, além da lesão, for o aborto, o autor terá que 
ser responsabilizado pela lesão corporal qualificada pelo resultado do aborto (art. 129, § 
2º, V, do CP). Ou seja, o tipo penal não é o aborto, mas ele pode vir na forma culposa 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
como qualificadora de um crime. Mas aí terá que analisar o elemento subjetivo, pois a 
depender do caso, poderá ser considerado dolo eventual, que caracterizará o tipo penal 
aborto. Isto é, é necessário saber se ele não tinha nenhuma intenção de, ao agredi-la, fazer 
com que ela perdesse o bebê, ou se, ao agredir, não se importou que a agressão viesse a 
abortar. Nessa segunda hipótese, o agressor deverá responder pelas lesões corporais 
produzidas na gestante em concurso formal impróprio com o delito de aborto, pois agia 
com desígnios autônomos, aplicando-lhe, no caso, a regra do cúmulo material de penas. 
Consumação e tentativa 
Na qualidade de crime material, podendo-se fracionar o iter criminis, é 
perfeitamente admissível a tentativa de aborto. Se o agente já tiver dado início aos atos 
de execução e, por circunstâncias alheias à sua vontade, a exemplo de ter sido 
surpreendido por policiais dentro da sala cirúrgica, não conseguir consumar a infração 
penal, deverá ser responsabilizado pelo aborto tentado, como também na hipótese daquele 
que, executando todas as manobras necessárias à expulsão do feto, este, mesmo tendo 
sido efetivamente expulso, consegue sobreviver. 
Modalidades comissiva e omissiva 
As normas existentes nos tipos penais dos arts. 124, 125 e 126 são de natureza 
proibitiva, ou seja, proíbe-se o comportamento previsto naquelas figuras típicas. As 
condutas previstas expressamente são, portanto, comissivas. 
Contudo, também há a possibilidade de haver um aborto por omissão, desde que 
o agente goze de status de garantidor. Nesse sentido, se, por exemplo, a gestante perceba 
um sangramento e, almejando o aborto, não se dirija ao hospital, e acaba perdendo o bebê, 
ela deverá responder pelo crime de aborto, dada sua particular condição de garante. 
Causas de aumento de pena 
O art. 127, embora mencionado que é uma qualificadora, se apresenta como uma 
causa de aumento, quando diz que “as penas cominadas nos dois artigos anteriores são 
aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para 
provoca-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por 
qualquer dessas causas lhe sobrevém a morte”. 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
Nesse sentido, somente no terceiro momento do critério trifásico de aplicação da 
pena é que o julgador, verificadas as lesões corporais graves ou a morte da gestante, fará 
incidir o aumento de um terço, ou mesmo duplicar a pena provisória. 
OBS: Os resultados apontados no art. 127 somente podem ter sido produzidos 
culposamente tratando-se de crime preterdoloso, ou seja, o dolo do agente era o de 
produzir tão somente o aborto e, culposamente, produziu ou a lesão corporal grave ou a 
morte. Caso os crimes forem praticados autonomamente, ou seja, o agente queira produzir 
o aborto e a morte ou o aborto e a lesão corporal grave, ele responderá pelos dois tipos 
penais de maneira autônoma, de acordo com a regra do cúmulo material de penas. 
Autoaborto (art. 124) 
Trata de duas condutas exclusivas da gestante: 
1. Praticar aborto em si mesma: considerado crime de mão própria, ou seja, não 
se admite coautoria. Pena: 1 a 3 anos. 
2. Consentir que outrem lhe o provoque: O “outrem” responde pelo artigo 126, 
que é a figura do terceiro que pratica o aborto com o consentimento da 
gestante. Pena: 1 a 4 anos. Vale lembrar que essa segunda conduta é uma 
exceção à Teoria Monista, pois não vai ser todo mundo julgado pelo mesmo 
tipo penal. 
Aborto provocado por terceiro sem consentimento da gestante (art.125) 
 Responde pelo art. 125, com pena de 3 a 10 anos. Essa pena é mais grave, pois 
atinge dois bens jurídicos: a vida intrauterina e a “liberdade” reprodutiva da mulher. 
OBS: Há hipóteses que tem o consentimento, mas o consentimento é inválido (art. 
126, parágrafo único). Assim, o agente responderá, também, pelo art. 125. Exemplo: 
menor de 14 anos; alienada ou portadora de alguma debilidade mental; consentimento 
obtido mediante fraude, mediante grave ameaça ou mediante violência física. 
Ação penal e suspensão condicional do processo 
Tanto no delito de autoaborto (ou mesmo quando a agente consente que nela seja 
realizado o aborto por terceiro) como no de aborto provocado por terceiro, com o 
consentimento da gestante, em virtude da pena mínima cominada a essas duas infrações 
penais, será permitida a proposta de suspensão condicional do processo, presentes seus 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
requisitos legais. Entretanto, no delito de aborto provocado por terceiro,com o 
consentimento da gestante, a proposta será inviabilizada se houver a produção de lesões 
corporais grave ou a morte da gestante, pois serão aplicadas as majorantes previstas no 
art. 127, ultrapassando, assim, o limite de 1 ano previsto para a pena mínima cominada à 
infração penal. 
A ação penal, em todas as modalidades de aborto, é de iniciativa pública 
incondicionada. 
Art. 129 – Lesão corporal 
O bem jurídico protegido é a integridade física das pessoas. O Código Penal fala 
da proteção da integridade física ou a saúde. Por conta disso, a doutrina moderna fala da 
proteção à integridade física e psíquica (saúde mental) das pessoas. 
Da mesma forma, entende-se como delito de lesão corporal não somente aquelas 
situações de ofensa à integridade corporal ou à saúde da vítima criadas originalmente pelo 
agente, como também a agravação de uma situação já existente. 
Vale lembrar que a vítima deste crime só poderá ser pessoa humana. Jamais 
animais, coisas inanimadas ou cadáveres. 
Exame de corpo de delito 
Sendo um crime que deixa vestígios, há necessidade de ser produzida prova 
pericial, comprovando-se a natureza das lesões, isto é, se leve, grave ou gravíssima. Nesse 
sentido, a ausência do exame de corpo de delito, nos crimes que deixam vestígios, 
configura-se caso de nulidade, conforme determina a alínea b do inciso III do art. 564 do 
Código de Processo Penal, que ressalva o fato de que, não sendo possível a sua realização, 
por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta, 
conforme preconiza o art. 167 do Código de Processo Penal. 
Gradação das lesões 
Dolosa: lesão leve (caput), lesão grave (§ 1º), lesão gravíssima (§ 2º). Vale 
ressaltar que essa gradação das lesões só ocorre em casos de lesões dolosas, ou seja, a 
lesão culposa é uma só, independentemente da consequência, portanto NÃO HÁ 
GRADAÇÃO NAS LESÕES CULPOSAS. 
Lesões leves (caput) 
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Pena: 3 meses a 1 ano de detenção. 
Todo crime com pena máxima de até 2 anos, se configura em crime de menor 
potencial ofensivo. Assim, a competência de julgamento desses crimes passa a ser dos 
juizados especiais criminais (Lei 9099/90). Esta lei tem uma série de institutos 
despenalizadores, como, por exemplo, a possibilidade de composição civil dos danos e a 
transação penal. A transação penal um procedimento feito caso não haja um acordo entre 
a vítima e o autor do crime, que consiste em um acordo feito com o Ministério Público 
para que o sujeito não responda a uma ação penal. Caso feita a transação penal, o sujeito 
fica impedido, por cinco anos, de fazer outra transação penal. 
A regra geral das ações penais é pública incondicionada. Contudo, a ação penal 
na LESÃO LEVE e CULPOSA é pública e CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO. 
Ou seja, a vítima tem que demonstrar interesse na persecução penal, interesse de que o 
crime seja realmente investigado. 
Vale lembrar que as lesões são consideradas leves por um critério extintivo, ou 
seja, quando a ação não se enquadra nem no § 1º ou no § 2ª, ela é considerada uma lesão 
leve. 
Classificação doutrinária 
➢ Lesão corporal é crime material, no caso das lesões físicas. A perícia indica 
o grau da lesão. 
➢ É um crime instantâneo, podendo ser instantâneo com efeitos 
permanentes, em algumas modalidades da lesão grave ou gravíssima. 
➢ EM REGRA, é um tipo comum, ou seja, qualquer pessoa pode praticar ou 
ser vítima. Em regra, pois há casos em que há violência doméstica, 
existindo, portanto, relação entre autor e vítima. 
➢ É um crime unissubjetivo 
➢ É plurisubsistente, na medida em que há o fracionamento do iter criminis 
e, portanto, admite-se a tentativa. 
Lesões graves (§ 1º) 
Pena: 1 a 5 anos de reclusão. 
Este parágrafo representa uma qualificadora, na medida em que modificam a pena 
mínima e máxima do tipo penal. 
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As hipóteses para as lesões graves são TAXATIVAS. 
➢ Inciso I: Gera a incapacidade para ocupações habituais por mais de 30 
dias. Essas atividades são aquelas que fazem parte da rotina da vítima, não 
necessariamente ligadas a atividades remuneradas, podendo ser, por 
exemplo, não poder levar a filha para a escola ou não poder praticar suas 
atividades esportivas. Há aqui uma discussão, diferenciando as atividades 
ilícitas das atividades imorais, na qual aquelas não estariam abrangidas por 
este artigo, mas as imorais sim. Nesse sentido, por exemplo, uma mulher 
que tenha ficado impedida de se prostituir por mais de 30 dias, embora 
reprovado moralmente pela sociedade, a atividade não é ilícita, podendo, 
assim, incidir a qualificadora. Como prova que a incapacidade 
ultrapassou os 30 dias? Através do LAUDO COMPLEMENTAR, ou 
seja, é necessário fazer uma nova perícia para demonstrar que no 31º dia, 
a vítima ainda estava com a incapacidade. Isto é, não se pode haver um 
prognóstico (provável resultado futuro) antevendo aquilo que com ela 
acontecerá no futuro; deverá, portanto, realizar um diagnóstico. Para que 
os peritos possam atestar que as lesões corporais sofridas pela vítima a 
incapacitaram para suas ocupações por mais de 30 dias, deverão 
determinar o seu retorno, para fins de submissão a um novo exame pericial, 
decorrido o período de 30 dias, sem o qual se torna inviável a aplicação da 
qualificadora. 
OBS: Somente não sendo possível a realização do exame complementar é que 
este poderá ser substituído pela prova testemunhal, de acordo com o art. 168, § 3º, do 
CPP. Assim, somente em casos justificáveis (ausência de perito que possa realizar o 
exame, impossibilidade da vítima de se locomover para que possa ser submetida à perícia 
complementar, etc.), é que se permite que a falta do exame complementar seja suprida 
pela prova testemunhal. Caso contrário, não deverá ser aplicada a qualificadora. 
Contagem de prazos 
Penal: É computado o dia de início. Logo, a lesão corporal conta do dia em que 
ocorreu a lesão. Então, se foi em 18 de março de 2019, os 30 dias se completarão 
no dia 17 de abril de 2019. Assim, no dia 18 de abril de 2019, se a vítima ainda 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
apresentar a incapacidade, se configurará uma lesão corporal de natureza grave, 
com base neste primeiro inciso. 
Processual penal: É contado a partir do primeiro dia útil subsequente. 
OBS: O resultado que conduz à qualificação das lesões corporais pretendidas 
inicialmente pelo agente pode ter sido produzido a título de dolo, ou mesmo 
culposamente. Essa modalidade de crime qualificado pelo resultado permite as 
duas formas de raciocínio. Ou seja, se era a finalidade do agente fazer com que a 
vítima ficasse impossibilitada de exercer suas ocupações habituais por mais de 30 
dias, ou se esse resultado adveio culposamente, isso NÃO INTERFERE NA 
DEFINIÇÃO DA MENCIONADA FIGURA TÍPICA. 
➢ Inciso II: Resulta em perigo de vida. O que separa esse inciso da tentativa 
de homicídio é o dolo do agente. Assim, o agente, aqui, tem o dolo de 
lesionar (ANIMUS LAEDENDI) e, culposamente, põe em perigo a vítima. 
Ou seja, esse resultado, necessariamente, NÃO PODE ter sido querido 
pelo agente, na medida em que essa qualificadora é de natureza culposa, 
sendo um crime eminentemente PRETERDOLOSO. 
OBS: Uma vez adotado o princípio da culpabilidade, o agente somente poderá ser 
responsabilizado pela qualificadora se, embora não querendo esse resultado, lhe fosse 
PREVISÍVEL que seu comportamento pudesse causá-lo, uma vez que o art. 19 afim que: 
“pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde ao gente queo houver 
causado ao menos culposamente”. 
➢ Inciso III: Provocação de uma debilidade permanente de membro, sentido 
ou função. Essa debilidade permanente é avaliada no ESTÁGIO ATUAL 
DA MEDICINA. Ou seja, tratamentos experimentais não excluem a 
gravidade da lesão. Colocações de prótese também não excluem a 
gravidade da lesão. Essa qualificadora poderá ser atribuída ao agente a 
título de dolo, direto ou eventual, ou mesmo culposamente, desde que tal 
resultado tenha sido previsível, em atenção ao art. 19 do Código Penal. 
Sentido: É a visão, audição, paladar, tato e olfato. 
Membro: São os membros superiores e inferiores (braços e pernas, incluindo 
mãos e pés). 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
Função: Exercida por um conjunto de órgãos (exemplo: função respiratória). 
OBS: O § 2º, inciso III fala de que se o resultado for perda ou inutilização do 
membro, sentido ou função. A diferença da inutilização para a debilidade é que, tudo 
aquilo que é exercido com dois órgãos (exemplo: olhos, pulmões), quando há a perda de 
UM deles, a lesão é considerada grave, pois, em verdade, o que existe é uma debilidade. 
OBS: Dedo não faz parte do conceito de membro, então perder dedo significa 
debilidade permanente da mão, que é um membro. Portanto, se configura em LESÃO 
GRAVE. 
OBS: Quando se exige debilidade permanente não se deve entender permanência 
no sentido de sem possibilidade de retorno à capacidade original. A melhor interpretação 
do inciso é aquela que entende a permanência no sentido de duradouro, mesmo que 
reversível após longo tempo. Então, de acordo com Aníbal Bruno, permanência é aquela 
que “não se pode determinar, previamente, mesmo por aproximação, se e quando terá 
fim”. 
➢ Inciso IV: Provocação de uma aceleração de parto. Ou seja, o bebê nasce 
com vida, o que ocorre é uma prematuridade. Nesse caso, é preciso que o 
agente conheça a circunstância da gravidez, ou seja, se causar aceleração 
de parto sem ter formas de se saber que a vítima estava grávida, o agente 
responderá apenas pela lesão que causou. O mesmo se dá no § 2º, V, se da 
lesão causar o aborto. 
OBS: Essa qualificadora só poderá ser atribuída ao agente a título de culpa, ou 
seja, uma qualificadora de natureza, necessariamente, PRETERDOLOSA. Isso porque, 
se o agente atuar no sentido de interromper a gravidez com a consequente expulsão do 
feto, o seu dolo será o de aborto, ou tentativa de aborto, caso o feto sobreviva. 
Lesões gravíssimas (§ 2º) 
O Código Penal não traz essa nomenclatura. Assim, ela é considerada na doutrina 
para diferenciar os parágrafos primeiro e segundo. 
Pena: 2 a 8 anos de reclusão. 
➢ Inciso I: Gera incapacidade permanente para o trabalho, no ATUAL 
ESTÁGIO DA MEDICINA. O trabalho, aqui, DEVE SER 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
REMUNERADO. Nesse sentido, se for, por exemplo, um trabalho 
voluntário, não se encaixará nesse inciso. 
O trabalho que a vítima exercia ou qualquer trabalho? Há duas doutrinas para esta 
pergunta: 
A doutrina do Direito Previdenciário fala que é incapacidade permanente para 
qualquer tipo de trabalho. Contudo, se fizermos uma interpretação muito elástica, 
basicamente ninguém responderia por essa modalidade de lesão corporal. Assim, há uma 
segunda doutrina dizendo que é incapacidade permanente apenas para a área do trabalho 
que a vítima exercia. Ou seja, se ela consegue se manter na área, essa lesão não é 
gravíssima. Por exemplo: Professor perde a voz, mas se ele ainda tem condições de ser 
pesquisador, escrever livro, orientar TCC, etc., não se configura em uma lesão 
permanente de trabalho. 
OBS: A incapacidade deve ser permanente, isto é, duradoura, mas não 
necessariamente perpétua. É possível que a vítima, algum tempo depois de sofrida a lesão, 
volte a se capacitar normalmente para o trabalho. O que importa aqui é que essa 
incapacidade tenha caráter duradouro, sem tempo certo para se restabelecer. 
➢ Inciso II: Gera uma enfermidade incurável, no ATUAL ESTÁGIO DA 
MEDICINA. Alguém que dolosamente transmite HIV se enquadra neste 
inciso? A maioria da doutrina diz que sim. Contudo, há mais algumas 
doutrinas: 
1. Uma fala que se enquadraria no art. 130 do Código Penal, que fala sobre o 
contágio de MOLÉSTIA VENÉREA. Contudo, o vírus não é a doença; alguém 
pode contrair o vírus e não ter a doença. 
2. Outra opção é se enquadrar no art. 131 do Código Penal, que fala sobre o perigo 
de contágio de moléstia grave. Contudo, seguindo o mesmo argumento da 
doutrina acima, vírus não é doença. 
3. Rogério Grecco fala que esse ato se enquadraria no art. 121 c/c art. 14, ou seja, 
tentativa de homicídio. 
➢ Inciso III: Perda ou inutilização de membro, sentido ou função. Como 
dito no inciso III do parágrafo anterior, a perda se configura na completa 
perda. Ou seja, diferencia-se da debilidade, pois esta se configura em uma 
Leonardo David – Direto Penal IV – Thaís Bandeira – T5AA – 2019.1 
 
limitação à função. No caso da inutilização, para que incida essa 
qualificadora, é preciso que, mesmo existindo o membro, não possua ele 
qualquer capacidade física de ser utilizado. 
➢ Inciso IV: Gera uma deformidade permanente. Aqui é relacionado ao 
aspecto físico, com marcas, cicatrizes ou mutilações consideradas 
vexatórias. Nesse sentido, há dois entendimentos: (a) tem que ser algo 
visível, aparente, perceptível socialmente; (b) que se fere a saúde mental 
da vítima, não precisa ser em local aparente. Vale ressaltar que a 
permanência também aqui não é no sentido de eterno, mas sim algo 
duradouro. Como afirmam Calderón Cerezo e Choclán Montalvo, a 
“enfermidade é apreciável penalmente ainda que sua correção posterior 
seja possível mediante tratamento cirúrgico”. 
➢ Inciso V: Gera o aborto. Aborto é a expulsão do feto SEM VIDA (por isso 
se diferencia da aceleração de parto). Assim como no inciso IV do 
parágrafo anterior, essa qualificadora só será usada se o agente conhecer 
ou tiver formas para conhecer a gravidez da vítima. Também não poderá 
ser valorada a título de dolo, de forma que isso mudaria o tipo penal. 
Assim, esse inciso é de natureza, necessariamente, PRETERDOLOSA. 
Lesão seguida de morte (§ 3º) 
Pena: 4 a 12 anos de reclusão (qualificadora). 
Está sempre relacionada ao PRETERDOLO, pois há a intenção e lesionar 
(ANIMUS LAEDENDI) e a morte aparece de maneira culposa. A diferença entre a lesão 
seguida de morte e o homicídio é, justamente, o dolo inicial do autor.

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