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Resenha Resumo Livro - O Espirito Militar

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Projeto Mário Travassos
Resenha Resumo
Livro: O ESPÍRITO MILITAR
Autor: Celso Castro
Aluno MARCOS FELIPE VIANA SILVA
2018
 
A nova edição de "O Espírito Militar", escrito em 1990, veio a calhar para quem teve seu interesse despertado pelas obras sobre a ditadura de 1964-1984. O antropólogo e historiador Celso Castro estudou os cadetes da Academia Militar de Agulhas Negras (AMAN) e mostrou como esses jovens veem a si mesmos e ao País e como absorvem e elaboram a doutrina militar, tanto pelo ensino e treinamento formais quanto pela pressão dos colegas que impõe os valores do Exército e de sua “arma” (Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia etc.) a partir do “trote”, cujo papel é crucial.
O método antropológico mostrou-se adequado. Os cadetes civis não circulam por lugares variados, relacionando-se com diferentes colegas e autoridades, como membros de uma sociedade civil moderna, nem são simplesmente internados e controlados por uma “instituição total” como uma prisão ou manicômio. Saltam à vista os pontos de contato com a vida em comunidades tribais nas quais os ritos são parte importante da vida e a guerra é parte importante da identidade masculina.
Trata-se, porém, de uma instituição na história e a visão da antropologia tradicional exige o complemento da dimensão diacrônica, ou seja, das mudanças registradas na cultura e das relações sociais da Academia Militar. Castro somou ao estudo de campo uma breve história da instituição e um apanhado dos dados sociológicos disponíveis sobre a origem social dos cadetes em diferentes períodos.
A AMAN considera 23 de abril de 1811 como a data de sua fundação, mas a Real Academia Militar criada nessa data era essencialmente uma faculdade de engenharia, aberta a civis e militares. Sua transformação em uma verdadeira academia militar começou após a Guerra do Paraguai e só se completou em 1932, quando a internação tornou-se obrigatória e foi acompanhada de uma minuciosa regulamentação de tempo, espaço e gestos.
Desde então, houve poucas mudanças substanciais no regimento e organização. Mudou, porém, a origem social dos cadetes. Os dados disponíveis são poucos, mas bastam para evidenciar uma forte mudança no perfil de seu recrutamento. Nos anos 40, 78,8% saíam da sociedade civil – principalmente da pequena burguesia, mas com importante participação da elite (19,8% vinham da “classe alta tradicional”). 
Nos anos 60, porém, esse componente havia caído para 6%, enquanto aumentava de 4% para 9% a participação dos proletários e de 21% para 35% a dos filhos de militares – que nos anos 80 chegaram a ser 52% – e dentre estes, aumentava a proporção dos filhos de oficiais com patente de capitão ou mais alta. A partir dos anos 80, os oficiais militares caminham para se tornar quase uma casta fechada: praticamente a metade dos cadetes era de origem militar e, numa proporção crescente, filhos de oficiais superiores (de major para cima). Os de origem civil eram recrutados, cada vez mais, nos meios proletários.
Celso Castro constatou como, nos anos 90, os jovens militares se sentiram esnobados, desprestigiados e hostilizados pela sociedade civil, experiência que contrasta com a dos cadetes dos anos 40 e 50, disputados pelas jovens casadouras e bem aceitos nos meios mais refinados. 
Somam-se a má imagem legada pela ditadura, a queda do status da carreira e o abismo crescente entre os costumes militares, inalterados desde os anos 30 e o dinamismo da sociedade civil. Conciliar a vida de oficial com um casamento com uma mulher independente, por exemplo, é problemático. Cada vez mais cadetes buscam mais aberturas para o meio civil – estudar em faculdades, buscar funções administrativas – ainda que isso seja mal visto por colegas e superiores rígidos.
A inflada autoimagem dos militares do período anterior e sua identificação com a elite custaram caro ao País e à própria instituição, mas o ressentimento e a sensação de marginalização da instituição também não parecem saudáveis. Superá-los, porém, exige uma revisão de métodos, percepções e valores à qual o tradicionalismo da instituição continua a resistir.