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1. Existência das Cidades Brueckner (2011, cap.1) Estrutura 1.1 Introdução 1.2 Economias de Escala e a Existência das Cidades 1.3 Economias de Aglomeração e a Existência das Cidades 1.3.1 Economias de Aglomeração Pecuniárias 1.3.2 Economias de Aglomeração Tecnológicas 1.4 Um trade-off fundamental: a interação entre custos de transportes e economias de escala 2 1.1 Introdução Regularidade em todos os países do mundo: distribuição das pessoas no espaço físico é bastante desigual, com a maior parte das pessoas residindo em pequenas áreas, as cidades Nos EUA, cidades representam apenas 2% da área do país, por exemplo (Brueckner, 2011) No Brasil, as 10 Regiões Metropolitanas do pais ocupam 0,7% do território Brasileiro, mas nelas encontra-se 30,2% da população do país (PNAD, 2011) Contudo, também há evidências bastante contundentes a respeito da relação positiva entre tamanho dos aglomerados urbanos e situações que afetam negativamente o bem-estar (sejam tais situações refletidas direta ou indiretamente nos preços urbanos) 3 1.1 Introdução Para cidades brasileiras, por exemplo, as seguintes relações podem ser observadas (fonte: PNAD, 2009): 1.1 Introdução Enfoque econômico Tais situações (custo de vida ou de produção mais elevado e amenidades negativas) devem ser compensadas com benefícios para produtores e ou consumidores Por que firmas desejam se localizar nas grandes cidades? Por que indivíduos qualificados não migram para menores centros onde são recursos escassos e a violência e o custo de vida são menores? Perspectiva econômica: entendimento dos fundamentos que explicam a localização das ocupações Concentração das ocupações no espaço físico, dados os custos relativos à mobilidade (acessibilidade), explicaria concentração das residências e, assim, a existência das cidades 1.1 Introdução Forças econômicas identificadas no enfoque para explicar concentração das ocupações Economias de Escala Ganhos associados a maior nível de produção das firmas Economias de Aglomeração Redução dos custos dos insumos ou fatores Ganhos de produtividade Interação entre Custos de Transportes e Economias de Escala 1.2 Economias de escala e existência das cidades Ganhos de escala dizem respeito a ganhos de produtividade associados ao nível de produção da firma, ou seja, internos à firma (não associados ao ambiente econômico ou ao número de firmas no espaço) Formalmente, tal situação pode ser representada, por exemplo, por: Para o caso de um único fator ou de abundância dos demais, 1.2 Economias de escala e existência das cidades Graficamente, Ao nível de produção “a” a produtividade do trabalho é menor que ao nível da produção “b”: 1.2 Economias de escala e existência das cidades Do ponto de vista microeconômico, tal situação indica que a produtividade marginal do trabalho será sempre maior que a produtividade média, ou seja: Para 1.2 Economias de escala e existência das cidades Tais situações quanto à tecnologia derivam da maior divisão do trabalho e, assim, especialização permitidas pelo nível maior de produção De maior interesse aqui, há uma implicação importante associada à escolha da firma quanto à centralização (produção a partir de única unidade fabril) ou distribuição da produção entre várias plantas: como a produtividade é maior com a produção mais elevada, haverá a preferência por única grande fábrica Dado o custo de mobilidade, a localidade que receberá a unidade atrairá trabalhadores e prestadores de serviços e fornecedores associados ao produto e, assim, haverá expansão de residências na localidade, transformando-a numa cidade 1.2 Economias de escala e existência das cidades Tal argumento explica a constituição de algumas cidades (“factory town” ou “company town”), mas de limitados tamanhos (em torno de 25.000 habitantes) Nos EUA, New Haven (Connecticut, fabrica de mosquetes) No Brasil, origem das cidades do ABC paulista (Santo André, São Bernardo) e Betim (MG) Contudo, o que caracteriza os grandes centros urbanos é a presença de firmas e serviços de diferentes setores, situação para a qual as economias de escala, por si, não conseguem prover suficiente suporte teórico. Aqui, outros ganhos para indivíduos devem estar presentes 1.3 Economias de Aglomeração e existência das cidades Tipos de Economia de Aglomeração Pecuniárias Redução nos custos/preços sem afetar a produtividade Produtos e serviços mais baratos nas grandes cidades Tecnológicas Aumento de produtividade sem afetar custos Insumos ou fatores mais produtivos nas grandes cidades 1.3.1 Economias de Aglomeração Pecuniárias Matching , Sharing e Custos de Transportes Matching (“casamento“ entre oferta e demanda) Grandes cidades apresentam maior concentração de ocupações e trabalhadores, ou seja, mercados de trabalho e de insumos maiores, o que traz vantagens econômicas Menores custos de pesquisa e treinamento de trabalhadores e insumos especializados para as firmas, além de possibilidade de melhor ajuste a flutuações cíclicas Ex. programador de software, especialista em mercado financeiro Para trabalhadores, mercados maiores aumentam chances de encontrar ocupações adequadas a suas habilidades e podem reduzir chance de ficar desempregado Ex. mulheres casadas qualificadas, professor universitário 13 1.3.1 Economias de Aglomeração Pecuniárias Sharing (possibilidade de compartilhamento) Maiores aglomerados urbanos também permitem mais barato acesso a bens e serviços cujas produções apresentam significativos ganhos de escala ou nível de especialização e são utilizados por demais agentes do Centro Urbano Maior nível de utilização diminui preço do serviço, o que implica redução de custos Competição entre maior numero de ofertantes também reduz preços Exs. Escritório de advocacia, serviços de segurança. 1.3.1 Economias de Aglomeração Pecuniárias Custos de Transportes Grandes cidades apresentam maior numero de famílias (consumidores) e firmas (fornecedores), o que, dada a necessidade de transporte de produto final e insumo pelas firmas, melhora o ambiente para a localização Proximidade dos mercados diminui nível de contratação de serviços de transporte Aqui, economias de aglomeração derivam de menor utilização, não necessariamente menor preço 1.3.1 Economias de Aglomeração Pecuniárias Custos de Transportes Note-se que o argumento anterior não é necessariamente válido nos casos em que os mercados de produto final e insumos estão separados (localidades diferentes) Nestas situações, a decisão quanto à localização da firma pode ou não reforçar a aglomeração, sendo o resultado dependente do tipo de produto da firma Weight loosing , fornecimento de insumos maior que tecnologicamente necessário (perda até manufatura) Weight gain, produto final manufaturado com diferentes insumos (localidades) 1.3.1 Economias de Aglomeração Pecuniárias Custos de Transportes Situação do tipo “weight loosing” M --------------------------------------------------------------------------------- I Distância, D M: mercado consumidor I: localidade de produção do insumo Hipóteses: - “Weight loosing”: custo com insumo para produzir unidade do produto é maior que aquele tecnologicamente necessário (parte é perdida no processo produtivo; ex. cana-de açúcar) - Economias com distância na tecnologia de transporte O que significa que o custo de transporte da unidade do produto ou insumo diminui com distância percorrida 1.3.1 Economias de Aglomeração Pecuniárias Custos de Transportes Situação do tipo “weight loosing” As hipóteses implicam diminuição do custo de transporte por unidade do produto ou insumo por unidade de distância com aumento da distância (2ª) e maior custo de transporte dos insumos (1ª) 1.3.1 Economias de Aglomeração Pecuniárias Custos de TransportesSituação do tipo “weight loosing” Nesta situação, onde a firma do produto final deve se localizar? M --------------------------------------------------------------------------------- I Distância, D Do ponto de vista econômico, deve-se escolher a localidade de menor custo de transporte total. Neste sentido, cabe, por um lado, aproveitar economias da distância no transporte e, por outro, transportar aquilo que for mais em conta. 1.3.1 Economias de Aglomeração Pecuniárias Custos de Transportes Situação do tipo “weight loosing” Graficamente, o problema pode ter a seguinte representação: 1.3.1 Economias de Aglomeração Pecuniárias Custos de Transportes Situação do tipo “weight loosing” O resultado da análise é que, no caso do produto do tipo weight loosing, a localização da fábrica será nas proximidades da localidade fornecedora de insumos (ex. produção de açúcar e fornecimento da cana) Questão (exercício para casa): explicar o caso do produto final “weight gain” (ex. fábrica de refrigerantes). 1.3.2 Economias de Aglomeração Tecnológicas Situação: fatores de produção mais produtivos nos grandes centros Graficamente: Note-se que, na representação, existem economias de escala mas, aqui, ganhos não estão a ela relacionados, e sim associados à dimensão do ambiente urbano 1.3.2 Economias de Aglomeração Tecnológicas Fontes do ganhos associados à dimensão da cidade Learning (spillovers de conhecimento) Maior interação e troca de informações entre trabalhadores e firmas de determinados setores (Externalidades Marshallianas): maior possibilidade de inovação e aplicação de novas ideias Exs.: Serviços e produtos da tecnologia da informação (Vale do Silício, Campinas), Pesquisa Acadêmica, Produção de Confecções e Vestuário em Pequenas Firmas Maior interação e troca de informações entre trabalhadores e firmas de diferentes setores ( “Economias de Urbanização”, Jane Jacobs) Exs.: Serviços de saúde e tecnologia da informação, Indústria metalúrgica e indústria automobilística 1.3.2 Economias de Aglomeração Tecnológicas Incentivos de Mercado de Trabalho Maior facilidade de contratação pelas firmas nos grandes mercados induz a maior esforço do trabalhador (dado o risco maior de substituição e demissão), o que eleva sua produtividade Exs.: economistas de grandes bancos, prestadores de serviços em geral. Parametrização de desempenho: competição com trabalhadores de outras firmas eleva o esforço e, assim, a produtividade do trabalhador Exs.: economistas de grandes bancos, prestadores de serviços em geral, pesquisadores acadêmicos 1.4 Um trade-off fundamental: a interação entre custos de transportes e economias de escala Foi visto que a presença de economias de escala (influenciando na localização de uma grande firma) e a existência de custos de transportes associados ao acesso aos mercados de insumos e produtos (externalidades pecuniárias) podem constituir, separadamente, fontes de explicação para a existência das cidades Há, contudo, uma importante e interessante relação de tensão entre estas forças associadas à aglomeração das ocupações, formalizada pioneiramente por Krugman (1991) Decisão de concentrar produção depende da força das economias de escala e dos níveis dos Custos de Transportes Vale a pena concentrar produção quando os custos de transportes são muito elevados e há mercados consumidores nas outras cidades? 1.4 Um trade-off fundamental: a interação entre custos de transportes e economias de escala Nestas situações, existe uma clara tensão (dilema) entre estas decisões Concentração, relembre-se, permite elevação da produtividade física (redução do custo médio) Mas, custo de transporte elevado pode impedir elevação da receita derivada do acesso a mais mercados O seguinte modelo de Brueckner (2011), baseado em Krugman (1991), ilustra e esclarece tal dilema Assuma: T como custo de transporte por unidade do produto N tamanho da população que é também o mercado consumidor (cada pessoa consome uma unidade do produto) 5 regiões, com pessoas igualmente distribuídas nas mesmas, ou seja, vivem N/5 pessoas em cada região C(Q) é o custo de produção associado à produção Q Economias de escala: C(Q)/Q diminui com Q 1.4 Um trade-off fundamental: a interação entre custos de transportes e economias de escala Neste contexto, tal cenário com 5 cidades pode, por exemplo, ser representado por: Em tal situação, dadas as economias de escala, há dois cenários mais prováveis: Firma concentra a produção (única fábrica em C3) Aproveita todas as economias de escala, mas eleva custo de transporte Firma distribui produção igualmente entre cidades e abastece mercados locais com produção local (5 fábricas) Minimizando despesa com custos de transporte mas deixando de aproveitar ganhos de escala 1.4 Um trade-off fundamental: a interação entre custos de transportes e economias de escala Cenário com distribuição da produção entre as cidades Produção em cada cidade = N/5 Custo por unidade produzida em cada fábrica = C(Q)/Q = C(N/5)/N/5 Custo de transporte = 0 Custo total = Q x C(Q)/Q + 0= N xC(N/5)/N/5 + 0 = N.+0 = N. Cenário com concentração da produção em única cidade Produção na única cidade = N Custo por unidade produzida em cada fábrica = C(Q)/Q = C(N)/N Custo de transporte: como são transportadas 4N/5 unidades do produto e o custo de transportar cada unidade é T, o custo de transporte será = 4N.T/5 Custo total =N. + 4N.T/5 1.4 Um trade-off fundamental: a interação entre custos de transportes e economias de escala Nestas situação, haverá concentração em única cidade se N. + 4N.T/5 < N. ou ( - ) > 4T/5 O que permite perceber o seguinte importante resultado: A solução com concentração deverá ocorrer quando a força das economias de aglomeração forem suficientemente fortes, o que significa uma diferença - elevada e ou os custos de transportes forem pequenos (T baixo)
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