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61123852 EXAME ComoPreverFalenciaEmpresa Kanitz

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COMO PREVER FALÊNCIAS DE EMPRESAS - Stephen Charles Kanitz 
REVISTA NEGÓCIOS EM EXAME – Dezembro 1974 – Páginas 95 a 102 
 
 
95 
Os sintomas de que uma empresa está a caminho da falência ou concordata podem ser 
notados muito antes que ocorra o desenlace Quem garante é Stephen Charles Kanitz1, 
professor de Análise de Demonstrativos Financeiros da Faculdade de Economia e 
Administração da Universidade de São Paulo, que apresenta aqui um novo método para prever 
falências. 
 
Como prever falências 
de empresas 
 
 
 
Em 1971, um banco paulista recebia uma solicitação de financiamento de uma revendedora de 
automóveis. Os balanços da empresa, assim como outros dados indicativos de sua performance, 
foram exaustivamente analisados. Embora os balanços apresentassem alguns pontos negativos, a 
empresa foi considerada boa e, no conjunto, o parecer dos analistas do banco foi plenamente 
favorável. Seis meses mais tarde, a concessionária entrava com um pedido de concordata. 
 
1
 Stephen Charles Kanitz, 28 anos, é doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade de Economia e 
Administração da Universidade de São Paulo, onde é professor de Análise de Demonstrativos Financeiros. 
Além disso, é Master em administração de empresas pela Harvard Business School e chefiou a equipe técnica 
que processou os dados da edição "Os Maiores e os Melhores”; de EXAME, setembro de 1974. Como 
consultor de empresas, presta assessoria na área de análise de investimentos. 
 
COMO PREVER FALÊNCIAS DE EMPRESAS - Stephen Charles Kanitz 
REVISTA NEGÓCIOS EM EXAME – Dezembro 1974 – Páginas 95 a 102 
 
 
96 
Em abril de 1972, depois de um ano de trabalho, uma conceituada empresa internacional de 
auditoria, com escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo, entregava a uma empresa-cliente um 
parecer de auditoria dando como satisfatório o balanço da empresa auditada. Do ponto de vista 
financeiro, o balanço era impecável, exceto por um ou outro detalhe de menor importância: Onze dias 
apos a entrega do parecer, a empresa falia. 
No dia 26 de novembro de 1973, uma fábrica recebia um pedido milionário de fornecimento para 
uma cadeia nacional de supermercados. O supermercado se comprometia a comprar 40% da 
produção da fábrica e o pedido foi prontamente aceito. Quatro meses mais tarde a cadeia de 
supermercados pedia concordata Exatamente um mês depois, a fábrica que vendia 40% de sua 
produção ao supermercado ia à falência. 
 
Os primeiros sintomas de uma insolvência 
surgem muito antes que ela se concretize
 
 
Nesses três casos, os demonstrativos financeiros das empresas foram exaustivamente 
analisados. No primeiro, os balanços da revendedora de automóveis foram dissecados pelo 
departamento técnico do banco que emprega quinze economistas para este tipo de tarefa. Para cada 
balanço, foram elaborados aproximadamente dezesseis índices, o que consumia dois dias de 
trabalho de um analista financeiro. 
Diante de fatos aparentemente absurdos como esses, a primeira indagação é: de que vale uma 
análise profunda do balanço, se não for capaz de revelar os sintomas de uma insolvência iminente? 
Ou, quem sabe a culpa não é dos analistas, que não sabem localizar nos demonstrativo os sinais da 
insolvência? Afinal, existem vários estudos mostrando que as empresas insolventes começam a 
acusar sinais de dificuldades bem antes de chegarem ao ponto crítico de uma falência ou concordata. 
É intuitivamente compreensível que á insolvência, sendo um processo que tem começo, meio e fim, 
se inicia muito antes de se concretizar. Portanto, deve existir nos balanços publicados antes da 
tragédia final alguns indícios do que está para acontecer. Basta saber localizá-los. 
Mas qual o caminho a ser seguido se, a rigor, qualquer empresa tem probabilidade de falir? 
TaIvez seja impossível prever uma falência com 100% de certeza, mas é perfeitamente possível 
identificar aquelas empresas que têm maiores possibilidades de falir em futuro não muito distante. 
Aliás, o objetivo desse trabalho é justamente mostrar que é possível avaliar o grau de solvência de 
qualquer empresa. Ou seja: descobrir com antecedência e um razoável grau de segurança, qual a 
situação financeira de uma empresa. Para tanto, como veremos adiante, é preciso, primeiro, 
determinar o que chamamos de fator de insolvência. E, depois, verificar sé o valor obtido coloca a 
empresa numa faixa perigosa ou não, em termos de solvência (para facilitar essa verificação 
elaboramos um termômetro de insolvência que indica a maior ou menor probabilidade de falência). 
Antes, porém é preciso se lembrar de que nem toda empresa vai obrigatoriamente à falência por 
estar enfrentando dificuldades em determinado momento. Afinal, qualquer empresa bem administrada 
pode se recuperar de uma situação difícil. Portanto, o fator de insolvência é um indicador daquilo que 
pode acontecer em futuro próximo, caso a empresa não corrija os rumos que está seguindo. É 
importante, ainda, ressaltar que o fator de insolvência não é apenas um desagradável prenúncio de 
concordatas e falências. Uma aplicação menos pessimista surge quando nos concentramos do outro 
lado da cerca, isto é, do lado da solvência. Por exemplo: como o gerente de um banco deve decidir 
sobre pedidos de empréstimos ou financiamento de duas empresas, quando os recursos disponíveis, 
no momento, permitem atender a um pedido apenas? Uma das formulas para, sair do impasse seria 
escolher a empresa que tivesse o melhor índice de solvência – e, conseqüentemente, melhor 
situação financeira. 
Em resumo, a análise do índice de solvência permite: 
1) descobrir empresas em estado de pré-insolvência; 
2) hierarquizar as empresas numa escala de solvência/insolvência, a fim de selecionar clientes 
prioritários; e 
3) determinar previsões para a conta "devedores duvidosos", segundo á probabilidade de 
insolvência de cada cliente. 
COMO PREVER FALÊNCIAS DE EMPRESAS - Stephen Charles Kanitz 
REVISTA NEGÓCIOS EM EXAME – Dezembro 1974 – Páginas 95 a 102 
 
 
97 
Para mostrar como se aplica, na prática, o índice de solvência, analisamos uma centena de 
balanços de empresas que posteriormente, vieram a falir ou a pedir concordata. Concentramo-nos, 
então, num único exemplo para facilitar a análise. Os balanços da S.A. Comércio de Veículos (nome 
fictício que demos a uma empresa real, que entrou em concordata em 1973) servirão de base para 
comprovar a tese de que os primeiros sintomas de falência ou concordata surgem muito antes de que 
ela ocorra efetivamente. O quadro abaixo mostra a evolução dos dados do balanço da S.A. Comércio 
de Veículos, tanto para o exercício imediatamente anterior ao pedido de concordata quanto para o 
próprio exercício em que se deu a concordata (através de projeções que indicam a provável situação 
do balanço, caso a concordata não se tivesse concretizado). 
Que lições se podem tirar da análise desses balanços? Quais os indicadores que, permitem, 
realmente, avaliar a situação da empresa e quais os que não levam a conclusões definitivas? 
De imediato, notamos que a S.A. Comércio de Veículos é uma empresa pequena (patrimônio 
líquido de 1,5 milhão de cruzeiros). É a triste realidade de sempre: são as pequenas e médias 
empresas que estão mais expostas à insolvência.
 
A seguir, notamos que os índices de liquidez – normalmente os mais usados pelos analistas 
financeiros para determinar a situação de uma empresa – estão bem próximos de 1. O que não quer 
dizer muita coisa, porque inúmeras empresas estão na mesma situação e, nem por isso, á beira de 
uma falência. Portanto, ao contrário do que se costuma pensar, os índices de liquidez não são 
um indicador seguro do estado de solvência das empresas. 
 
S.A. Comércio de Veículos 
(em Cr$ milhões)
 
 1972 Variação 72/71 Projeção para 1973 
PatrimônioLíquido 2,6 -32,8% 1,3 
Exigível a Curto Prazo 24,6 81,2% 35,6 
Exigível a Longo Prazo 1,8 -82,7% 5,9 
Ativo Circulante 24,7 40,7% 38,9 
Realizável a Longo Prazo 0,0 -99,2% 0,0 
Capital de Giro Próprio -0,0 -97,7% -3,2 
Capital não Imobilizado -1,7 -118,4% -2,6 
Ativo Fixo 4,3 -7,6% 4,0 
Lucro Líquido -5,1 -277,9% -7,7 
Índice de Liquidez Corrente 1,0 -22,3 1,0 
Índice de Liquidez Geral 0,9 -3,3 0,9 
Índice de Liquidez Seca 0,8 -5,4 1,0 
Grau de Endividamento 90,8% 0,8 96,8% 
Capital de Terceiros sobre Patrimônio Líquido 997,2% 5,6 3.060,4% 
Capitalização do Patrimônio 41,0% 491,0 81,2% 
Exigível a Longo Prazo sobre Patrimônio Líquido 69,7% -43,7 434,1% 
Patrimônio Líquido sobre Exigível Total 10,0% -74,3 3,2% 
Rentabilidade do Patrimônio Líquido 193,8% 462,5 -572,2% 
Rentabilidade do Ativo Total 17,6% 266,9 -18,1% 
Rentabilidade do Ativo Fixo 117,6% 309,3 -193,7% 
Grau de Alavancagem 10,9 -88,8 31,5 
Ativo Fixo sobre Patrimônio Líquido 164,8% 37,4 295,3% 
Exigível a Longo Prazo sobre Ativo Fixo 42,3% -81,3 147,0% 
Ativo Circulante sobre Ativo Fixo 564,7% 52,4 969,8% 
Exigível a Longo Prazo sobre Capital de Giro 2.055,5% 660,1 181,6% 
Capital de Giro sobre Ativo Total 0,3% -97,7 7,5% 
Capital de Giro sobre Ativo Circulante 0,3% -98,3 8,3% 
Capital de Giro sobre Ativo Fixo 2,0% -97,5 80,9% 
 
Quais são, então, os indicadores que devem merecer maior atenção na análise? A seguir, 
desatacamos os mais importantes: 
1) capital de giro próprio: As empresas financeiramente sólidas em geral dispõem de recursos 
próprios suficientes para financiar pelo menos uma parcela de seus investimentos em ativo fixo 
(máquinas, equipamentos, imóveis etc.) e, ainda, parte de seu capital de giro. É o que chamamos de 
capital de giro próprio. As empresas insolventes, porém, tendem a trabalhar exclusivamente com 
COMO PREVER FALÊNCIAS DE EMPRESAS - Stephen Charles Kanitz 
REVISTA NEGÓCIOS EM EXAME – Dezembro 1974 – Páginas 95 a 102 
 
 
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capital de terceiros, como ocorre no caso dá S.A. Comércio de Veículos, em que o capital de giro 
próprio é negativo. Ou seja: na tentativa de superar dificuldades financeiras, elas aumentam suas 
dívidas sem que, no entanto, tenham condições de pagá-as. A ausência de capital de giro próprio 
é, portanto, um passo importante no caminho da insolvência. 
2) grau de endividamento:
 Esse indicador serve para caracterizar um ciclo vicioso. Por não 
disporem de recursos próprios, as empresas insolventes apresentam invariavelmente um elevado 
grau de endividamento, pelo menos um ou dois anos antes da falência ou concordata. Na verdade, 
ela está contraindo dívidas para pagar dívidas, ao contrario de uma empresa sadia que busca no 
endividamento o indispensável complemento dos recursos próprios para realizar investimentos 
produtivos (ampliar as instalações, comprar novas máquinas etc.). Neste caso, a empresa insolvente 
se assemelha à pessoa que, não tendo condições de saldar suas dívidas, recorre a empréstimos 
bancários sucessivos. Quando vence um empréstimo num determinado banco, ela recorre a outro 
para pagar o primeiro e assim sucessivamente, até que um dia ela esgotou a sua capacidade de 
conseguir empréstimos, e a corrida chega ao fim (a não ser, é lógico, que sua situação financeira 
tenha melhorado sensivelmente nesse período e ela possa saldar os empréstimos com recursos 
próprios). No caso da S.A. Comércio de Veículos, verifica-se que seu grau de endividamento era de 
90,8% no balanço anterior ao pedido de concordata. Em 1973, segundo a edição "Os Melhores e os 
Maiores", de EXAME, a média de endividamento de todos os setores analisados foi de 39,8%. 
3) rentabilidade do patrimônio líquido:
 Nas empresas insolventes, este índice geralmente é baixo. 
Entretanto, uma empresa bem administrada pode agüentar prejuízos durante algum tempo e, ainda 
assim, se recuperar. No último balanço da S.A. Comércio de Veículos a rentabilidade do patrimônio 
líquido era de menos 193%. No balanço projetado para o ano seguinte ao pedido de concordata, a 
rentabilidade cairia para menos 572%, mostrando o agravamento da situação (que a levou, inclusive, 
a entrar com um pedido de concordata, antes de chegar à falência). 
Mas a análise do balanço de outras empresas mostra que até mesmo firmas com boa rentabilidade 
sobre o patrimônio (em outras palavras, com um bom lucro líquido) também podem falir. Nesse caso, 
não basta analisar os indicadores mencionados anteriormente. É preciso ficar de olho em outros dois 
índices: 
4) ativo fixo sobre patrimônio liquido:
 Este índice revela se a empresa não está investindo acima 
de suas possibilidades. Geralmente, isto ocorre com empresas que já têm boa parte do seu capital 
imobilizado em instalações antigas e, ao mesmo tempo, estão investindo em novos equipamentos e 
na ampliação das instalações atuais. Quando o ativo fixo for 100% maior que o patrimônio líquido (o 
da S.A. Comércio de Veículos era 164,8% maior no balanço anterior à concordata), a empresa estará 
se descapitalizando perigosamente e abrindo caminho para a insolvência, mesmo que tenha lucros 
elevados. Portanto, é aconselhável acompanhar atentamente o crescimento do ativo fixo, sobretudo 
das pequenas e médias empresas que conseguem bons resultados no final de um exercício e, por 
isso, se sentem fortes para crescer rapidamente. Andar mais rápido que as pernas pode levar a 
tropeções. 
Fluxo de fundos 
(S/A COMÉRCIO DE VEÍCULOS) 
 
 
Fontes de Recursos Financeiros 
 
Patrimônio Liquido.............................................................. 0 
Exigível a Longo Prazo....................................................... 0 
Exigível a Curto Prazo ....................................................... 63% 
Ativo Fixo ........................................................................... 2% 
Realizável a Longo Prazo .................................................. 35% 
TOTAL................................................................................
 
100% 
 
Aplicação de Recursos Financeiros
 
 
Ativo Fixo .......................................................................... 0 
Realizável a Longo Prazo .................................................. 0 
Ativo Circulante ....................................................... 51% 
Patrimônio Liquido ............................................................. 7% 
Exigível a Longo Prazo ...................................................... 42% 
TOTAL................................................................................ 100% 
COMO PREVER FALÊNCIAS DE EMPRESAS - Stephen Charles Kanitz 
REVISTA NEGÓCIOS EM EXAME – Dezembro 1974 – Páginas 95 a 102 
 
 
99 
Finalmente, é bom não perder de vista, também, um outro índice: 
5) ativo circulante sobre ativo fixo:
 Quando este índice é alto (5,64 no caso da , S.A. Comércio de 
Veículos), a empresa está financiando demais as suas vendas. E, conseqüentemente, se expondo 
demais aos problemas de seus clientes. É a velha história do castelo de cartas: caindo a primeira, 
caem todas. Da mesma forma, a falência de um cliente pode levar o fornecedor pelo mesmo 
caminho, se ele estiver financiando demais esse cliente ou mesmo, como no terceiro exemplo citado 
no início deste artigo, quando uma parcela importante de suas vendas estiver comprometida com 
esse cliente. Neste último caso, recomenda-se a saudável política de diversificar produtos, mercados 
e clientes para diminuir os riscos inerentes ao negócio. 
Empréstimos a curto prazo são a última 
tentativa para escapar à falência
 
 
Os cinco índices analisados anteriormente são importantes para determinar a possível 
insolvência de uma empresa. Porém não basta analisa-los num determinado momento para afirmar 
que a empresa vai - ou não – falir. Como dissemos no início, uma empresa bem administrada pode 
se recuperar de uma situaçãodifícil. Da mesma forma, uma empresa que apresenta um balanço em 
boas condições num determinado ano pode eventualmente falir no ano seguinte. Por isso é 
indispensável verificar, depois que se constataram índices desfavoráveis no balanço de uma 
empresa, se tais índices, melhoraram ou pioraram em relação ao ano anterior. Se melhoraram, é 
possível que a empresa esteja saindo de uma situação difícil. Se pioraram, está provavelmente mais 
perto da falência ou concordata. 
A S.A. Comércio de Veículos apresenta duas tendências comuns à maioria das empresas 
insolventes: 
1) redução do patrimônio líquido, provocada por prejuízos constantes e crescentes; e 
2) diminuição do capital de giro próprio. 
O balanço de 1972 da S.A. Comércio de Veículos mostra, em relação ao de 1971 (ver quadro) 
que o patrimônio líquido sofreu uma queda de 32,8%. O capital de giro próprio, outra queda de 
97,7%. Uma tendência também comum às empresas insolventes é o aumento do grau de 
endividamento – a última tentativa para escapar à falência. No caso da S.A. Comércio de Veículos 
esse aumento não foi expressivo (0,8% em relação a 1971), provavelmente, porque, como a pessoa 
que recorre a empréstimos bancários sucessivos para pagar empréstimos anteriores, ela chegou ao 
fim da linha, isto é, a um ponto em que não mais conseguiu obter empréstimos. De qualquer forma, 
nunca é demais lembrar que os empréstimos podem retardar a falência mas não conseguirão 
evitá-la. 
Com relação aos índices de liquidez, é interessante notar que eles se deterioram de 1971 para 
1972, mas apresentam uma estranha melhora no balanço projetado de 1973, ano em que a S.A. 
Comércio de Veículos pedia concordata. Essa tendência é comum à maioria das empresas 
insolventes e acreditamos que isso decorra, pelo menos em parte de artifícios contábeis para 
"embelezar" esses índices.Afinal, os índices de liquidez são a bíblia segundo a qual os bancos 
costumam conceder empréstimos. O último recurso das empresas que estão à beira da falência é 
tentar obter novos empréstimos, pelo menos para retardar a falência ou concordata. Mais uma vez se 
comprova que tais índices são pouco úteis, para determinar se uma empresa está em boa ou má 
situação financeira. 
Além da análise comparativa dos dados de balanço, existe uma outra, a meu ver mais eficiente, 
que serviria para confirmar o diagnóstico da empresa. Trata-se da análise do demonstrativo do fluxo 
de fundos. Inicialmente, esta análise mostra o que a diretoria fez durante o exercício fiscal: onde 
obteve os recursos e como os aplicou. Uma empresa financeiramente sólida tem como fontes de 
recursos: 
1) Patrimônio líquido: lançamento de novas ações, lucros acumulados de exercícios 
anteriores. 
2) Exigível a curto prazo: crédito de fornecedores, desconto de duplicatas. 
3) Exigível a longo prazo: empréstimos de bancos de investimento, Resolução 63. 
COMO PREVER FALÊNCIAS DE EMPRESAS - Stephen Charles Kanitz 
REVISTA NEGÓCIOS EM EXAME – Dezembro 1974 – Páginas 95 a 102 
 
 
100 
Ao aplicar esses recursos, uma empresa bem administrada e saudável investe em: 
1) Ativo fixo: novas instalações, máquinas e equipamentos. 
2) Realizável a longo prazo: financiamento das vendas, compra de Obrigações 
Reajustáveis do Tesouro Nacional. 
3) Ativo circulante: estoques, reforço do encaixe monetário, saldo bancário, Letras do 
Tesouro. 
Vejamos, agora, como se comportou a S.A. Comércio de Veículos. Pela analise do seu 
demonstrativo de fluxo de fundos (ver página 98), verificamos que ela teve como principal fonte de 
recursos exigível a curto prazo (63%) e o realizável a longo prazo (35%). O que nos leva a duas 
conclusões imediatas: 
1) Ter o exigível a curto prazo como principal fonte de recursos significa que a empresa foi 
obrigada a recorrer a empréstimos a curto prazo para tentar sobreviver; 
2) A presença de vultosos recursos originários do realizável a longo prazo indica que a S.A. 
Comércio de Veículos suspendeu, ou pelo menos diminuiu, o financiamento a seus 
clientes: 
Além disso, o patrimônio líquido - normalmente a melhor e mais barata fonte de recursos para 
uma empresa - não contribuiu para esses recursos, o que revela que a empresa não tinha mais 
condições de lançar ações e que não conseguiu acumular lucros no exercício. 
Vejamos agora como a S.A. Comércio de Veículos aplicou seus recursos: 
1) Ativo circulante:
 recebeu 51% dos recursos, o que foi uma aplicação correta. 
2) Exigível a longo prazo: 42% dos recursos foram aplicados em exigível a longo prazo, o que, 
normalmente, deveria ser uma fonte de recursos financeiros e não objeto de aplicações. Isto significa 
que a empresa teve que saldar compromissos de longo prazo. Provavelmente, porque algum banco, 
tomando conhecimento da situação de insolvência da S.A. Comércio de Veículos se recusou a 
renovar financiamentos ou empréstimos de longo prazo. 
A análise mostra, ainda, que a empresa não aplicou em ativo fixo e realizável a longo prazo, 
comprometendo sua saúde futura. Pior ainda: o demonstrativo revela que a S.A. Comércio de 
Veículos foi obrigada a vender equipamentos e máquinas para obter recursos. Evidentemente, é o 
começo do fim. Analisando o balanço projetado, caso a empresa não tivesse pedido concordata, 
veremos o que teria ocorrido: 
1) Ativo fixo sobre patrimônio líquido: aumentou de 164% para 295%. Ou seja, a empresa 
investiu em ativo fixo apesar de não haver recursos a longo prazo. Para os contabilistas, isso 
quer dizer que o ativo fixo estava "a descoberto"; 2) Capital de terceiros sobre patrimônio 
liquido:
 no balanço de 1972, este índice era de 997%, em 1973 seria de 3.060%, mostrando que 
para cada cruzeiro próprio, a empresa deveria, 30 cruzeiros para terceiros. 
O que diferencia as empresas sólidas das que estão à beira da falência 
 
 
Capital de 
Terceiros sobre 
patrimônio líquido 
Lucro líquido 
sobre patrimônio 
líquido 
Índice de 
liquidez geral 
Índice de 
liquidez 
corrente 
Índice de 
liquidez seca 
Média das 
empresas que 
faliram 
791% 12% 1,04 1,12 0,55 
Média das 
empresas que 
continuam 
operando 
130% 4% 1,16 1,25 0,71 
 
Diferença 508% 300% 12% 12% 29% 
 
 
A análise do balanço e do demonstrativo de fluxo de fundos da S.A. Comércio de Veículos foi 
apenas um exemplo. Um bom exemplo, porque real. Mais interessante, porém, é comparar os índices 
financeiros médios de um grupo de quinze empresas que faliram menos de um ano depois da 
publicação do balanço com os de outro grupo de quinze empresas que continuam operando 
normalmente até hoje (ver tabela na página anterior). Observando-se essa tabela veremos que: 
COMO PREVER FALÊNCIAS DE EMPRESAS - Stephen Charles Kanitz 
REVISTA NEGÓCIOS EM EXAME – Dezembro 1974 – Páginas 95 a 102 
 
 
101 
1) o capital de terceiros sobre o patrimônio é, em média, cinco vezes maior nas empresas 
que faliram do que nas empresas que continuaram operando até hoje; e
 
2) o lucro líquido sobre o patrimônio líquido é três vezes maior nas empresas solventes 
que nas insolventes.
 
Por fim, é hora de jogar a última pá de cal nos “famosos” índices de liquidez. A comparação 
revela que eles não são substancialmente diferentes nos dois casos: o índice médio de liquidez geral, 
por exemplo, foi de 1,04 – no grupo das empresas que faliram – e de 1,16 – no grupo das empresas 
saudáveis. É bom não se esquecer, porém, de que os índices de liquidez podem ser úteis para 
confirmar uma tendência apontada por índices mais seguros, como os dois primeiros. 
Para calcular o ”fator de insolvência” (ver formulário abaixo), que mencionamos no início, usamos 
uma combinação de índices, ponderados estatisticamente, inclusive de liquidez. Quais são eles? 
1) lucro líquido sobre patrimônio líquido (rentabilidade do patrimônio); 
2) ativo circulante mais realizável a longoprazo dividido pela soma do exigível a curto e longo 
prazo (ou seja, o índice de liquidez geral); 
3) ativo circulante menos estoques sobre exigível a curto prazo (índice de liquidez seca); 
4) ativo circulante sobre exigível curto prazo (índice de liquidez corrente); e, finalmente; 
5) exigível a curto prazo mais exigível a longo prazo sobre patrimônio líquido (ou seja, o grau de 
endividamento). 
Como calcular o fator de insolvência 
 
 
 
 
 
Lucro Líquido 
 
 
X1= Patrimônio Líquido = X 0,05 
 
 
(1) 
 
 
 
+ 
 
 
Ativo Circulante + realizável a longo prazo 
 
 
X2= Exigível curto + exigível longo = X 1,65 
 
 
(2) 
 
 
 
+ 
 
 
Ativo Circulante – estoque 
 
 
X3= Exigível curto prazo = X 3,55 
 
 
(3) 
 
 
 
- 
 
 
Ativo Circulante 
 
 
X4= Exigível curto prazo = X 1,06 
 
 
(4) 
 
 
 
- 
 
 
Exigível curto prazo + exigível longo prazo 
 
 
X5= Patrimônio Líquido = X 0,33 
 
 
(5) 
 
 
 
= 
 
 
 
FATOR DE INSOLVÊNCIA 
(1) + (2) + (3) – (4) –(5) 
 
 
 
 
Trata-se de uma ponderação relativamente complexa, mas que pode ser aplicada a qualquer 
empresa, utilizando-se, inclusive, informações que não constam de seus demonstrativos financeiros, 
tais como: idade média dos equipamentos e parecer dos auditores, entre outros. No Brasil, já existem 
modelos para se calcular o fator de insolvência, que combinam 25 índices diferentes, com alto grau 
de precisão. 
Depois de realizadas as operações indicadas na fórmula, obtém-se o fator de insolvência. Para 
facilitar a avaliação da situação de uma empresa com base no valor obtido, elaboramos o 
termômetro da insolvência
 (ver gráfico abaixo), que apresenta variações abaixo e acima de zero. 
COMO PREVER FALÊNCIAS DE EMPRESAS - Stephen Charles Kanitz 
REVISTA NEGÓCIOS EM EXAME – Dezembro 1974 – Páginas 95 a 102 
 
 
102 
Os valores abaixo de -3 indicam que a empresa se encontra numa situação que poderá leva-la à 
falência: Evidentemente, quanto menor esse valor, mais próxima da falência estará a empresa. 
Assim, por exemplo, se uma empresa apresentar um fator de insolvência de –18, podemos afirmar 
que ela terá 94% de possibilidade de falir no prazo de um ano. 
Da mesma forma, se uma empresa apresenta um fator de insolvência positivo (acima de zero), 
menores são as suas possibilidades de vir a falir. E essa possibilidade diminuirá à medida que o fator 
positivo for maior. A Metal Leve, por exemplo, empresa brasileira que apresentou o melhor 
desempenho em 1973, segundo "Os Melhores e os Maiores", tinha um fator de insolvência de 10. 
Quanto à área do termômetro compreendida entre 0 e –3, é o que chamamos de "penumbra" – 
ou seja, uma área em que a indicação do fator de de insolvência não é suficiente para determinar a 
situação da empresa. Entretanto, o uso de um número maior de índices para calcular o fator de 
insolvência ajuda a diminuir essa zona de penumbra no termômetro. 
O cálculo do fator de insolvência da S.A. Comércio de Veículos acusava, em 1972, o valor de 2,6, 
o que, se não indicava falência iminente, também não apontava um futuro promissor para a empresa. 
Já no balanço projetado de 1973, o fator de insolvência pulava para -7, indicando claramente que se 
a empresa não tivesse pedido concordata, a falência séria inevitável. 
Mas, como observamos no início, o fator de insolvência não é apenas um profeta de catástrofes 
empresariais. Em períodos de retração de crédito, por exemplo, ele permite ordenar empresas 
segundo o maior ou menor risco que ofereçam e, assim, conceder créditos com mais segurança. Três 
grupos financeiros já estão empregando essa técnica no Brasil, inclusive para calcular o risco de 
insolvência de pessoas físicas, como faz o Credicard. E chegaram a uma conclusão interessante: o 
número de pedidos de empréstimo e de financiamento rejeitados caiu de 25% para 2%, com o uso do 
fator de insolvência. Isso porque ele permite um grau de segurança muito maior quando se avalia a 
situação de uma empresa. . 
Outra conclusão interessante é a de que, apesar do grande número de pedidos de empréstimos e 
financiamentos rejeitados por analistas financeiros de bancos, muitas empresas que recebiam 
parecer favorável chegavam a falência menos de um ano depois, como ocorreu com os três 
exemplos citados no início. Com a adoção do fator de insolvência, o. número de empresas que faliam 
mesmo depois de receber um parecer de auditória favorável caiu de 1% para 0,4%. 
Termômetro de Insolvência 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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