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Centro Universitário Planalto do Distrito Federal. HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL Camila Girão de Morais Matéria: TFG Professora: Carol Menzl Celaschi CAMILA GIRÃO DE MORAIS Habitação de Interesse Social Orientadora: Carolina Menzl Celaschi BRASÍLIA 2012 Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Planalto do Distrito Federal – UNIPLAN, como requisito para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista. CENTRO UNIVERSITÁRIO PLANALTO DO DISTRITO FEDERAL CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO CAMILA GIRÃO DE MORAIS HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL Trabalho apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIPLAN, como requisito para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista, sob a orientação da professora Carolina Menzl Celaschi. BANCA EXAMINADORA Arquiteta Orientadora Carolina Menzl Celaschi Arquiteto Avaliador Ricardo Bitencourt Arquiteta Avaliadora Cecília Milanes Graziano 2012 Dedico este trabalho aos melhores pais do mundo, Maria Hildeci e Raimundo, por toda paciência e dedicação. Sem vocês eu não seria nada. Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus, que iluminou meu caminho ao longo de todos esses anos. A minha família que sempre me apoiou e me incentivou nos momentos mais difíceis. Mãe, Pai, Juliana e Marcus, muito obrigado pela dedicação incansável e por sempre acreditarem em mim, na minha capacidade e por estarem sempre presentes na minha vida nos momentos em que mais precisei. Ao Thiago, meu namorado, melhor amigo e companheiro de todas as horas pelo carinho, compreensão e por me ensinar a utilizar o photoshop. Aos meus amigos que sempre me compreenderam e estiveram ao meu lado ao longo desse processo acompanhando meus esforços, dificuldades e conquistas: Kátia, Alexandra, Marcelli, Mayra, Lucas, Fátima, Camila e Edward. Aos meus amigos, colegas, companheiros de faculdade: Alê, Cristiano, Élbora, Júnior, Eduardo, Tadeu, Mayco, Nirceu, Carolina, Lenniza, Alexander, e Beatriz por serem minha segunda família durante esses cinco anos de faculdade, e por partilharem comigo momentos maravilhosos. Agradeço minha orientadora, Carol Menzl, pela paciência em responder meus e- mails desesperados, pela dedicação em me orientar no desenvolvimento desse trabalho e por toda a base fornecida que tornou possível a conclusão dessa monografia. Ao coordenador e aos professores do curso, pelo apoio, compreensão e dedicação ao longo de todos esses anos, que tiveram fundamental importância na minha vida acadêmica. E finalmente agradeço a todos aqueles que de alguma forma estiveram e estão próximos de mim e que me auxiliaram nessa caminhada. “Agradeço as dificuldades que enfrentei; não fosse por elas, eu não teria saído do lugar. As Facilidades nos impedem de caminhar. Mesmo as críticas nos auxiliam muito.” Chico Xavier “A arquitetura pode mudar o mundo” Carol Menzl “Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.” Clarisse Lispector Sumário Página 1. Introdução ........................................................................................................ 08 2. Objeto de Estudo ............................................................................................. 09 3. Referencial Teórico.......................................................................................... 11 3.1 Origens da Habitação Social no Brasil........................................................11 3.2 Políticas Sociais......................................................................................... 12 3.3 Surgimento das Favelas............................................................................ 13 3.4 Habitação Social Modernista – Exemplos................................................. 14 3.5 Conclusão.................................................................................................. 26 4. História do DF.................................................................................................. 27 4.1 População ................................................................................................. 31 4.2 Clima e Relevo........................................................................................... 32 4.3 Limites....................................................................................................... 34 4.4 Ocupação Territorial e sua relação com as invasões................................ 35 5. História da Cidade Estrutural........................................................................... 39 6. Análise Socioeconômica da Cidade Estrutural................................................ 42 6.1 Características da População Urbana....................................................... 42 6.2 Infraestrutura Domiciliar............................................................................. 46 6.3 Característica dos Domicílios..................................................................... 48 6.4 Considerações Finais................................................................................. 51 7. Análise Urbana................................................................................................. 52 7.1 Localização e Acessos............................................................................... 52 7.2 Topografia e Vegetação............................................................................. 53 7.3 Macrozoneamento...................................................................................... 54 7.4 Leis e Normas............................................................................................. 56 7.5 Infraestrutura da Cidade Estrutural............................................................. 56 7.5.1 Sistema Viário................................................................................. 56 7.5.1.1 Hierarquia das Vias.................................................................... 57 7.5.1.2 Transporte Público.................................................................... 58 7.5.1.3 Mobilidade Urbana..................................................................... 59 7.5.2 Saneamento Básico........................................................................ 61 7.5.2.1 Água e Esgoto............................................................................ 61 7.5.2.2 Águas Pluviais........................................................................... 61 7.5.2.3 Energia Elétrica......................................................................... 63 8. Diagnóstico........................................................................................................ 64 9. Diretrizes............................................................................................................ 65 9.1 Viárias.......................................................................................................... 65 9.2 Residencial e Comercial.............................................................................. 72 9.3 Mobilidade Urbana...................................................................................... 75 9.4 Mobiliário Urbano........................................................................................78 9.5 Segurança................................................................................................... 79 9.6 Sanitária...................................................................................................... 79 9.7 Educação.................................................................................................... 80 9.8 Sociais........................................................................................................ 81 10. Estudo de Caso – Vilas Olímpicas: Sua importância para a habitação social................................................................................................................. 82 10.1 Origens das Vilas Olímpicas................................................................. 82 10.2 Importância das Vilas Olímpicas na Habitação Social.......................... 83 10.3 Como as Olimpíadas Revitalizaram Áreas Degradadas....................... 84 10.4 Vila Olímpica de Barcelona: Estudo de Caso....................................... 85 10.5 Conclusão............................................................................................. 88 11. Análise do Local Escolhido............................................................................... 90 11.1 Sistema Viário Local.............................................................................. 92 11.2 Mobilidade Local.................................................................................... 92 11.3 Transporte Público................................................................................. 92 11.4 Equipamentos Urbanos......................................................................... 95 11.5 Infraestrutura Local................................................................................ 95 11.6 Topografia Local.................................................................................... 95 11.7 Leis e Normas........................................................................................ 98 11.7.1 Usos Permitidos.............................................................................. 98 11.7.2 Afastamentos Mínimos Obrigatórios............................................... 98 11.7.3 Coeficiente de Aproveitamento....................................................... 99 11.7.4 Pavimentos..................................................................................... 99 11.7.5 Taxa de Permeabilidade................................................................. 99 12. Programa de Necessidades............................................................................ 100 13. Organograma.................................................................................................. 101 14. Fluxograma..................................................................................................... 102 15. Implantação.................................................................................................... 102 16. Memorial Descritivo........................................................................................ 105 16.1 Partido Arquitetônico........................................................................... 105 16.2 Orientação das Fachadas, Iluminação e Ventilação Natural.............. 105 16.2.1 Habitação Vertical........................................................................ 105 16.2.2 Habitação Horizontal..................................................................... 106 16.3 Tecnologias Construtivas Utilizadas.................................................... 106 16.4 Paisagismo.......................................................................................... 110 17. O Projeto......................................................................................................... 114 17.1 Implantação Geral............................................................................... 114 17.2 Implantação Habitação Vertical.......................................................... 115 17.2.1 Plantas Baixas Habitação Vertical............................................... 116 17.2.2 Cortes Habitação Vertical............................................................ 123 17.2.3 Fachadas Habitação Vertical....................................................... 126 17.2.4 Layout Apartamentos .................................................................. 129 17.2.5 Perspectivas................................................................................ 130 17.3 Implantação Habitação Horizontal..................................................... 131 17.3.1 Planta Baixa (2 Quartos)............................................................. 132 17.3.2 Cortes (2 Quartos)...................................................................... 133 17.3.3 Fachadas (2 Quartos)................................................................. 134 17.3.4 Layout (2 Quartos)...................................................................... 135 17.3.5 Implantação e Cobertura (2 Quartos)......................................... 136 17.3.6 Planta Baixa (3 Quartos)............................................................. 137 17.3.7 Cortes (3 Quartos)...................................................................... 138 17.3.8 Fachadas (3 Quartos)................................................................. 139 17.3.9 Layout (3 Quartos)...................................................................... 140 17.3.10 Implantação e Cobertura (3 Quartos).................................... 141 17.3.11 Perspectivas.......................................................................... 142 18. Considerações Finais................................................................................... 143 19. Referências.................................................................................................... 144 Lista de Imagens Imagem 1 – Déficit Habitacional Total Segundo Unidades da Federação................... 09 Imagem 2 – Casa Dominó............................................................................................ 15 Imagem 3 – Casa Dominó............................................................................................ 15 Imagem 4 – Casa Loucher........................................................................................... 16 Imagem 5 – Rio de Janeiro com destaque para a Zona Portuária.............................. 17 Imagem 6 – Zona Portuária......................................................................................... 18 Imagem 7 – Vila Gamboa na época da construção.................................................... 18 Imagem 8 – Vila Gamboa atualmente......................................................................... 18 Imagem 9 – Conjunto Residencial Pedregulho........................................................... 20 Imagem 10 – Implantação do Conjunto Residencial Pedregulho............................... 21 Imagem 11 – Planta das Unidades Duplex e Simplex................................................ 22 Imagem 12 – Corte do bloco A................................................................................... 22 Imagem 13 – Bloco B................................................................................................. 23 Imagem 14 – Complexo Residencial Pruitt-Igoe........................................................ 23 Imagem 15 – Pruitt-Igoe e a imagem do abandono................................................... 24 Imagem 16 – Demolição do Pruitt-Igoe...................................................................... 25 Imagem 17 – Rota do sonho de Dom Bosco.............................................................. 27 Imagem 18 –Traço Inicial do Plano Piloto de Brasília............................................... 28 Imagem 19 – Plano Piloto de Brasília........................................................................ 29 Imagem 20 – Escala Monumental de Brasília............................................................ 30 Imagem 21 – Escala Residencial............................................................................... 30 Imagem 22 – Superquadra de Brasília....................................................................... 30 Imagem 23 – Escala Bucólica de Brasília.................................................................. 31 Imagem 24 – Foto do Início da Construção de Brasília............................................. 31 Imagem 25 – Foto do Início da Construção de Brasília............................................. 31 Imagem 26 – Gráfico de Temperaturas (mínima e máxima)..................................... 33 Imagem 27 – Gráfico de Temperaturas (média)....................................................... 33 Imagem 28 – Ventos de Brasília............................................................................... 33 Imagem 29 – Limites do DF...................................................................................... 34 Imagem 30 – Regiões Administrativas do Distrito Federal....................................... 35 Imagem 31 – Mapa com as Principais Vias de Brasília............................................ 37 Imagem 32 – Regiões Administrativas..................................................................... 39 Imagem 33 – Mapa da Cidade Estrutural................................................................. 41 Imagem 34 – Localização da Vila Estrutural............................................................. 52 Imagem 35 – Topografia da Estrutural...................................................................... 53 Imagem 36 – Praça da Estrutural.............................................................................. 54 Imagem 37 – Via Principal........................................................................................ 58 Imagem 38 – Via Local............................................................................................. 58 Imagem 39 – Transporte Público Deficiente............................................................ 60 Imagem 40 – Face da Mobilidade Urbana............................................................... 60 Imagem 41 – Infraestrutura Urbana......................................................................... 65 Imagem 42 – Perspectiva da Parada de ônibus...................................................... 67 Imagem 43 – Planta Baixa da Parada de ônibus.................................................... 67 Imagem 44 – Vista da Via Local.............................................................................. 69 Imagem 45 – Planta Baixa da Via Local.................................................................... 69 Imagem 46 – Vista das Vias Coletoras..................................................................... 70 Imagem 47 – Planta Baixa das Vias Coletoras......................................................... 70 Imagem 48 – Vista das Vias Principais..................................................................... 71 Imagem 49 – Planta Baixa das Vias Principais......................................................... 71 Imagem 50 – Vista do Edifício Modelo...................................................................... 73 Imagem 51 – Perspectiva do Edifício Modelo........................................................... 74 Imagem 52 – Blocos intertravados da Via Local....................................................... 74 Imagem 53 – Distância entre paradas de ônibus...................................................... 75 Imagem 54 – Distância entre paradas de ônibus...................................................... 75 Imagem 55 – Distância entre paradas de ônibus...................................................... 76 Imagem 56 – Faixa de Pedestre elevada.................................................................. 76 Imagem 57 – Perspectiva da Faixa de Pedestre elevada......................................... 77 Imagem 58 – Vista da Ciclovia.................................................................................. 77 Imagem 59 – Modelo de Parada de Ônibus.............................................................. 78 Imagem 60 – Modelo de Totem................................................................................ 78 Imagem 61 – Vista Geral do Estádio de Los Angeles............................................... 82 Imagem 62 – Melhorias Realizadas pelos Jogos Olímpicos em Barcelona............. 86 Imagem 63 – Entorno do Parque Urbano................................................................. 90 Imagem 64 – Entorno do Parque Urbano................................................................. 90 Imagem 65 – Entorno do Parque Urbano................................................................. 90 Imagem 66 – Entorno do Parque Urbano................................................................. 90 Imagem 67 – Via Local............................................................................................. 92 Imagem 68 – Via Coletora........................................................................................ 92 Imagem 69 – Equipamentos Urbanos...................................................................... 95 Imagem 70 – Equipamentos Urbanos...................................................................... 95 Imagem 71 – Perfil do Terreno................................................................................ 97 Imagem 72 – Afastamentos Mínimos Obrigatórios................................................. 98 Imagem 73 – Três funções da Casa...................................................................... 101 Imagem 74 – Vista da Parede Verde..................................................................... 107 Imagem 75 – Corte da Parede Verde.................................................................... 107 Imagem 76 – Detalhes do Teto Jardim.................................................................. 108 Imagem 77 – Detalhes do Teto Jardim.................................................................. 108 Imagem 78 – Detalhamento dos Brises Horizontais.............................................. 109 Imagem 79 – Iluminação Zenital........................................................................... 109 Imagem 80 – Pátio Interno.................................................................................... 110 Imagem 81 – Grama Amendoim........................................................................... 110 Imagem 82 – Mal me Quer.................................................................................... 111 Imagem 83 – Pitangueira...................................................................................... 111 Imagem 84 – Ipê Branco....................................................................................... 112 Imagem 85 – Pau Ferro........................................................................................ 112 Imagem 86 – Ipê Amarelo..................................................................................... 113 Lista de Tabelas Tabela 1 – Lista das RA’s do DF............................................................................... 36 Tabela 2 – População Segundo Nível de Escolaridade............................................. 43 Tabela 3 – População Segundo Condição de Estudo................................................ 43 Tabela 4 – População Segundo a Situaçãode Atividade.......................................... 44 Tabela 5 – População Ocupada Segundo a Posição na Ocupação.......................... 44 Tabela 6 – Responsáveis pelo Domicilio segundo o Sexo........................................ 45 Tabela 7 – Responsáveis pelo Domicílio Ocupado Segundo a Atividade................. 46 Tabela 8 – Domicílios Ocupados Segundo o Abastecimento de Água...................... 46 Tabela 9 – Domicílios Ocupados Segundo o Esgotamento Sanitário........................ 47 Tabela 10 – Domicílios Ocupados Segundo a Existência de Coleta de Lixo............. 47 Tabela 11 – Domicílios Ocupados Segundo Infraestrutura da Rua........................... 47 Tabela 12 – Domicílios Ocupados Segundo Espécie................................................ 48 Tabela 13 – Domicílios Ocupados Segundo Tipo...................................................... 48 Tabela 14 – Domicílios Ocupados Segundo Condição.............................................. 49 Tabela 15 – Domicílios Ocupados Segundo a Fonte de Recursos da Compra......... 49 Tabela 16 – Domicílios Segundo o Material das Paredes Externas.......................... 49 Tabela 17 – Domicílios Segundo o Material das Paredes Internas........................... 50 Tabela 18 – Domicílios Ocupados Segundo o Total de Dormitórios......................... 50 Tabela 19 – Domicílios Ocupados Segundo o Total de Banheiros........................... 51 Tabela 20 – Domicílios Ocupados Segundo a Área Construída............................... 51 Tabela 21 – Tipologias Residenciais....................................................................... 100 Lista de Gráficos Gráfico 1 – Déficit Habitacional Urbano por Faixa de Renda Média Familiar........... 10 Gráfico 2 – População Total SCIA............................................................................. 42 Gráfico 3 – População Total DFxSCIA...................................................................... 42 Gráfico 4 – Domicílios Segundo Classe de Renda Domiciliar.................................. 45 Lista de Mapas Mapa 1 – Vila Velha e Vila Nova.............................................................................. 40 Mapa 2 – Zoneamento.............................................................................................. 55 Mapa 3 – Principais Vias da Cidade Estrutural......................................................... 57 Mapa 4 – Vias de Trânsito de Ônibus....................................................................... 59 Mapa 5 – Caimento das Bacias................................................................................ 62 Mapa 6 – Previsão do Terminal Rodoviário.............................................................. 66 Mapa 7 – Previsão de Estacionamento.................................................................... 68 Mapa 8 – Novo Zoneamento Proposto..................................................................... 72 Mapa 9 – Novos Postos Policiais.............................................................................. 79 Mapa 10 – Estação de Tratamento de Esgoto.......................................................... 80 Mapa 11 – Novas Escolas........................................................................................ 80 Mapa 12 – Área Definida.......................................................................................... 91 Mapa 13 – Vias Locais e Coletoras.......................................................................... 93 Mapa 14 – Pontos de Ônibus................................................................................... 94 Mapa 15 – Curvas de Nível...................................................................................... 96 Mapa 16 – Zoneamento......................................................................................... 103 Mapa 17 – Implantação......................................................................................... 104 8 1. Introdução A função primordial da habitação é o abrigo, e mesmo com a evolução tecnológica e o uso de novos materiais que tornaram o abrigo mais elaborado, sua função permaneceu a mesma que é proteger o homem de intempéries e de intrusos (LARCHER, 2005 apud ABIKO,1995). Segundo LARCHER (2005) apud Fernandes (2003), a habitação desempenha função social, ambiental e econômica. Sua função social é a de abrigar a família, acomodando tarefas primárias de alimentação, atividades fisiológicas, descanso e convívio social. Sua função ambiental é fundamental para que sejam assegurados infraestrutura, saúde, educação, lazer trabalho e etc., além de determinar o impacto dessas estruturas sobre os recursos naturais disponíveis, já sua função econômica é facilmente visualizada, pois movimenta vários setores da economia local, gerando renda e empregos para a população, sendo a construção um dos setores que mais são influenciados pela habitação social (LARCHER, 2005). Segundo o Ministério das Cidades (s. d.), o programa minha casa minha vida do governo federal foi criado com o intuito de incentivar a construção e a aquisição de unidades habitacionais para famílias com renda mensal de até 3 salários mínimos, abrangendo também famílias com renda de até 10 salários mínimos, e é a atual política habitacional do país. Dessa forma, a função do presente trabalho é analisar e propor soluções para a habitação de interesse social no Distrito Federal, tendo como área de estudo a Cidade Estrutural, cidade que apesar das atuais melhorias ainda carece de infraestrutura urbana e habitacional. 9 2. Objeto de Estudo O objeto desse trabalho é a criação de um conjunto habitacional de interesse social, e, portanto será realizado primeiramente um estudo sobre o local de sua implantação, que será a Cidade Estrutural. A Cidade Estrutural, segunda cidade mais carente do Distrito Federal, foi escolhida para a implantação desse projeto porque é uma antiga invasão do DF, que atualmente está sendo regularizada e precisa ser reabilitada, sendo necessário propor a construção de habitações de interesse social nessa área para melhor acomodar a população local. A inadequação das políticas habitacionais do Brasil gera um alto déficit habitacional, que é a diferença entre as moradias existentes e quantas seriam necessárias para abrigar toda a população. Em 2006 o déficit era de 7.935 milhões de domicílios em todo o Brasil e no DF esse déficit era de 128.671mil domicílios. Já em 2008 o déficit estimado era de 5.546 milhões no país e de 103.896 mil no DF, conforme podemos observar na imagem 1 (Ministério das Cidades, 2006 e 2008). Imagem 1: Déficit Habitacional Total, segundo unidades da Federação – Brasil – 2008 Fonte:http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNH/ArquivosPDF/DHB_2008_Final_2011.p df 10 Outro fator de destaque é que o déficit habitacional atinge com mais intensidade as famílias com renda de até três salários mínimos, conforme podemos observar no gráfico 1, mostrando assim a ineficiência da atual política habitacional do país (Ministério das Cidades, 2008). Gráfico 1: Déficit Habitacional Urbano por Faixa de Renda Média Familiar Mensal por Salários Mínimos – Brasil – 2008 Fonte:http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNH/ArquivosPDF/DHB_2008_Final_2011.p df A habitação social é um problema recente que está longe de ser resolvido no Brasil, um país ainda em desenvolvimento (TONON, 2009). Será analisado então tanto o contexto histórico da habitação popular no Brasil para sua implantação no DF através de análise urbanae estudos de casos, assim como o local que será implantado o projeto desse estudo. 11 3. Referencial Teórico 3.1 Origens da Habitação Social no Brasil A sociedade vitoriana era basicamente constituída pela classe média afluente e as grandes empresas cresciam aceleradamente, criando assim um novo tipo de aglomeração urbana. Nesse contexto, surgiram as primeiras habitações sociais do século XIX, na Inglaterra, que não tardaram a se espalhar mundo afora, inclusive no Brasil (ALIANE, s.d.). A partir de 1930, o estado começa a interferir, tanto nos processos de aluguel, como nos processos de produção de habitações de interesse social no Brasil, abandonando a postura de deixar esses assuntos livres às forças do mercado. Essa postura do estado passou a vigorar no governo Vargas, e fortaleceu o desenvolvimento de uma sociedade urbano- industrial, a partir de uma forte intervenção estatal nos âmbitos da atividade econômica (OLIVEIRA, 1971 apud BONDUKI, 1994). Esse incentivo à modernização do país gerou uma melhora na vida do assalariado urbano, porém esse incentivo teve como consequência o aumento do fluxo migratório da massa rural em busca de emprego na economia industrial emergente. As atividades industriais e as políticas públicas dessa época estavam voltadas para o assalariado urbano, enquanto a agricultura foi empobrecendo, juntamente com seus trabalhadores. O governo então deu início a uma série de incentivos à produção intelectual em instituições públicas e privadas, buscando uma solução para o déficit de moradias, baseando-se principalmente na racionalização de processos produtivos (NASCIMENTO, 2009). A ação do estado na modernização da construção de habitações sociais foi decisiva, tanto no desenvolvimento de uma infraestrutura urbana moderna, quanto no apoio à industrialização, voltada para o mercado interno. Durante o Congresso de Habitação de 1931, técnicos ressaltaram a importância da construção em série para as moradias econômicas (GITAHY, 2002). Foram criados também mecanismos para potencializar esse desenvolvimento, como a Lei do Inquilinato, criada em 1942, que passou a regulamentar as relações entre locadores e inquilinos. Esta medida reduziu a rentabilidade das locações, desestimulando assim o setor privado a investir em habitações, tornando a promoção habitacional um serviço de responsabilidade do estado. Os IAP’s (Institutos de Aposentadorias e Pensões) e a Fundação da Casa Popular passaram a ter destaque na produção habitacional. Na prática, a Lei do Inquilinato não funcionou, gerando, então, uma grande crise habitacional, onde as pessoas despejadas não encontravam moradias para aluguel (GUGLIELMI, s.d.). 12 Surgem, assim, várias soluções habitacionais, buscando economizar terreno e materiais por meio da geminação e da ausência de recuos. Essas soluções vão dos cortiços, sequência de pequenas moradias, ou cômodos insalubres, sem instalações hidráulicas, às casas padronizadas e produzidas em série para uma classe média que enriquecia, passando por soluções mais simples, porém decentes de casas geminadas em vilas ou ruas particulares (BONDUKI, 1994). 3.2 Políticas Sociais O Banco Nacional de Habitação (BNH) (Lei 4.320, de 21/08/1964) foi criado com o intuito de estimular a construção de habitações de interesse social e o financiamento de casas, especialmente para a população de baixa renda. Esse investimento financeiro do BNH veio acompanhado de incentivos dados às empresas privadas, para que estas auxiliassem na execução do plano habitacional. O BHN impôs a construção com elementos pré-fabricados em série e a em larga escala, porém logo nos primeiros anos sofreu pesadas críticas, impedindo que outros aspectos fossem incorporados (NASCIMENTO, 2009). Apesar das críticas feitas ao Banco Nacional de Habitação, sua importância é indiscutível, pois o período entre 64 e 86 foi o único em que o país teve uma política nacional de habitação. Em vinte e dois anos de funcionamento do BNH, o Sistema Financeiro da Habitação financiou a construção de 4,3 milhões de novas unidades, dentre as quais 2,4 milhões com recursos do FGTS para o setor popular, e 1,9 milhões com o auxílio do SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) para a classe média (BONDUKI, 2008). A implementação do BNH beneficiou a construção civil, mas contribuiu pouco para a população de mais baixa renda, pois o sistema excluiu grande parte dessa população no atendimento da política habitacional. É preciso enfatizar também o desastre das intervenções realizadas, o que tornou a habitação popular sinônimo do que havia de mais deplorável em termos de arquitetura e urbanismo (NASCIMENTO, 2009). Em 1986, o BNH foi extinto sem maiores resistências, e entre sua extinção e a criação do Ministério das Cidades, em 2003, a responsabilidade pela gestão da política habitacional do Brasil esteve subordinada a sete ministérios distintos. Durante o primeiro mandado do presidente Fernando Henrique Cardoso, ele criou diversos programas habitacionais, tais como a Carta de Crédito, que continuou existindo até o primeiro ano do governo Lula. Além desse programa, FHC criou também o Pró-Moradia (programa focado na urbanização de 13 áreas precárias) e o PAR, Programa de Arrendamento Residencial. A implementação desses programas, porém não tiveram o resultado esperado, pois, de maneira geral, a classe média teve um atendimento mais privilegiado (BONDUKI, 2008). O atual programa habitacional do governo, Minha Casa, Minha Vida, prevê a implementação do Plano Nacional de Habitação a partir da construção de um milhão de casas para famílias com renda de até dez salários mínimos. Para as famílias que ganham até três salários mínimos, o Governo Federal prevê o investimento de capital pela União, com subsídio integral e o valor da prestação de, no mínimo R$ 50,00, com o comprometimento de até 10% da renda familiar. Cabe ressaltar que a tarefa de apresentar os projetos é repassada às construtoras. Além disso, a análise de projetos e a contratação de obras ficam a cargo da Caixa Econômica Federal. É preciso, no entanto, evitar as bases dos antigos programas habitacionais, para que não sejam cometidos os mesmos erros do passado (NASCIMENTO, 2009). O programa Minha Casa, Minha Vida subsidia apenas a construção de moradias e só libera o financiamento para locais com infraestrutura urbana implantada (energia elétrica, esgoto, pavimentação e abastecimento de água). Então, para que o programa construa moradias adequadas e bem localizadas é essencial a participação dos municípios, mobilizando instrumentos e disponibilizando bons terrenos para o programa, especialmente para famílias com renda de até 6 salários mínimos (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2010). 3.3 Surgimento das Favelas Com a mecanização das atividades agrícolas, no século XIX, a população rural é atraída para a cidade como consequência da falta de emprego no campo, ocorrendo assim um contínuo crescimento urbano, decorrente do êxodo rural. Surgem, então, transformações sociais e espaciais nas cidades, devido à revolução industrial. Com o fim da escravidão, surgem novos problemas, pois os negros, apesar de livres, foram proibidos por lei de ter propriedades rurais ou ocupar cargos públicos e também não tinham acesso à educação. Excluídos da sociedade, os negros buscavam abrigo em zonas marginais, nas áreas que não eram reconhecidas pelo Estado, os morros (BONACI, 2007 apud CAMPOS, 2005). As favelas existem no Brasil, desde o século XIX, e ficaram registradas como áreas de habitações irregulares construídas sem arruamentos, sem plano urbano, sem esgoto, água e luz. Essa precariedade urbanaé fruto da pobreza de seus habitantes e do descaso do poder público, e gera a imagem de lugar carente e perigoso, que deve ser erradicado, 14 servindo como bode expiatório para os problemas da cidade (ZALUAR, 2004, e ALVITO, 2004). A necessidade de moradia de baixo custo, os elevados preços dos alugueis e o elevado déficit habitacional contribuiu para a multiplicação de moradias coletivas irregulares e insalubres com o passar dos tempos. Desde o império, os cortiços abrigavam a classes menos favorecidas no Brasil, porém, com o crescimento das cidades, a questão da moradia ganhou maiores proporções (SIQUEIRA, 2008). A falta de estratégias, a descontinuidade para combater a problemática da habitação social no Brasil e o acelerado processo de urbanização são os principais responsáveis pelo crescimento da população urbana e, consequentemente, das “cidades informais” nas grandes metrópoles (NASCIMENTO, 2009 e PAIVA, 2007). A ação do estado tem como alvo as favelas, principalmente aquelas localizadas em áreas privilegiadas da cidade. No Brasil, o objetivo inicial dessas ações era a erradicação desses locais, transferindo a população local para áreas urbanizadas ou não, que fossem mais adequadas para aquela classe (PAIVA, 2007). Segundo GUGLIELMI (s.d.), nesse contexto, cabe levantar a seguinte questão: a favela é problema ou solução. Vista por fora ela degrada a região, sendo associada a problemas de insalubridade e insegurança. Porém, para seus moradores, ela é uma solução viável de habitação. De acordo com o Estatuto da Cidade, regulamentado pela lei 10.257 de 10 de julho de 2001, a propriedade urbana e a cidade devem cumprir seus papeis sociais. Portanto, embora as invasões e favelas sejam irregulares, elas cumprem a finalidade de moradia para sua população, justificando assim seu papel social. É necessário, porém requalificar essas áreas urbanas a partir dos princípios do estatuto, incorporando nelas a infraestrutura e os serviços urbanos necessários para o desenvolvimento local, melhorando assim a qualidade de vida de sua população. 3.4 Habitação Social Modernista - Exemplos O período entre 20 e 30 foi uma época de grande importância para a habitação mínima coletiva, pois os debates sobre habitação ganharam vulto, principalmente, nos Congressos de Arquitetura Moderna, CIAM’s. Normas foram criadas para proporcionar melhores 15 condições de salubridade e segurança, juntamente com a necessidade da construção em massa, devido ao déficit habitacional (FOLZ, 2005). A casa pequena isolada no lote passa a ser discriminada e os conjuntos habitacionais passam a ser mais adequados para a sociedade e integrados a esses complexos são incluídos equipamentos públicos. Em Frankfurt, Ernst May assume o posto de arquiteto chefe da administração municipal e passa a basear seus projetos no acesso de todas as unidades ao sol e a ventilação. Os elementos construtivos passam a ser pré-fabricados a partir de normas específicas (SILVA, 2006). “A área mínima por pessoa variava de 12,5m2 a 14m2, principalmente nos projetos de Ernst May dos conjuntos habitacionais de Frankfurt. Le Corbusier chegou a um valor de 14m2 por pessoa, a que chamou de “unidade biológica” ou “célula”” (FOLZ, 2005). Imagens 2 e 3: Casa Dominó – Le Corbusier Fonte: http://www.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20070514090943.pdf Uma das primeiras propostas de Le Corbusier foi a Casa Dominó (imagens 2 e 3), de 1915, que apresentava elementos padronizados, como pisos, esquadrias e escadas. A partir desses elementos, era formada uma planta livre, que permitia diversas configurações internas e externas, pois seu interior seria composto por divisórias e portas embutidas produzidas em série, que definiriam a configuração da casa. Mais tarde ele desenvolveria a casa Loucher (imagem 4) para satisfazer as condições da Lei Loucher, que tinha o objetivo de incentivar a construção de habitações econômicas e salubres, com 45m2 abrigando uma família com quatro filhos. Os dois dormitórios dos filhos poderiam ser abertos para formar uma grande sala, no meio da célula estaria o sanitário e a cama dos pais e a cozinha 16 poderiam ser escondidas por painéis deslizantes. Os armários ficavam embutidos e algumas camas basculavam na posição vertical, durante o dia, para liberar mais espaço (FOLZ, 2005). A casa Loucher era transportada em vagões, juntamente com todo o seu equipamento interno acompanhado pela equipe de montagem. Em apenas alguns dias ela podia ser montada no seu local definitivo. Posteriormente, foi incluída uma parede de alvenaria entre duas casas para viabilizar a construção de um conjunto de casas pré-moldadas (FOLZ, 2005). Imagem 4: Casa Loucher – Le Corbusier Fonte: http://www.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20070514090943.pdf “Os CIAM afirmaram, de modo explícito, que a arquitetura estava inevitavelmente sujeita às necessidades mais amplas da política e da economia, e que, longe de estar distante das realidades do mundo industrializado, teria que depender, em termos de seu nível geral de qualidade, não do trabalho artesanal, mas da doação universal de métodos racionais de produção” (KOPP, 1990 apud CERÁVOLO, 2007). A contribuição dos CIAM foi de fundamental importância para o desenvolvimento da produção arquitetônica mundial, sustentando a ideia de que a arquitetura deveria estar de 17 acordo com as condições econômicas e sociais da época, e por essa razão rejeitava as formas de produção artesanal, buscando tornar mais eficiente e lucrativa a indústria da construção civil. Os CIAM’s estão divididos em três fases, e o que tratava sobre a habitação mínima faz parte da primeira fase desse congresso, preocupando-se com o ordenamento racional do espaço da moradia mínima. A escolha dos temas de cada CIAM reflete o desenvolvimento do movimento moderno, e no décimo encontro ocorrido em 1959 os CIAM’s foram extintos, quando a tarefa de discutir e consolidar as ideias do movimento moderno foi considerada terminada (MAYUMI, s. d.). No Brasil, a Vila Operária Gamboa foi a primeira edificação de interesse social moderna. Localizada na Rua Barão da Gamboa, no Rio de Janeiro, como pode ser observado na imagem 5, tem como uso original a habitação multifamiliar de interesse social e foi tombada, a partir do decreto número 6057, de agosto de 1986 (MUCHINELLI, 2008). Imagem 5: Rio de Janeiro com destaque para a Zona Portuária Fonte: http://www.docomomo.org.br/seminario%208%20pdfs/094.pdf Em 1930, o empresário Fábio Carneiro de Mendonça chamou Lucio Costa e Gregori Warchavichik com a intenção de implantar na área, que podemos visualizar na imagem 6, a Vila Operária Gamboa, sendo ela executada em 1933. Sendo Costa e Warchavichik arquitetos modernistas, a Vila incorporou elementos discutidos no Congresso Internacional de Arquitetura Moderna de 1929, o CIAM, sobre a habitação mínima (MUCHINELLI, 2008 e LINO, 2005). 18 Imagem 6: Zona Portuária Fonte: http://www.docomomo.org.br/seminario%208%20pdfs/094.pdf O conjunto foi construído de forma tradicional, com alvenaria estrutural, laje plana impermeabilizada recoberta por telhas de amianto e as janelas de esquadria metálica com vidro. Cada unidade possui 30m2 de área, sendo garantido o mínimo de conforto e salubridade de acordo com as resoluções do 2º CIAM. Pode ser observado, nesse projeto, que sua forma curva foi uma solução associada ao terreno, e que rompeu a rigidez dos blocos quadrados (LINO, 2005). Imagens 7 e 8: Fotos da Vila na época da construção e atualmente Fonte: http://www.docomomo.org.br/seminario%208%20pdfs/094.pdf19 O tombamento dessa obra de grande importância para a arquitetura moderna brasileira assegurou a permanência de seu uso, porém não gerou subsídios para sua manutenção, que ficou a cargo exclusivamente de seus moradores. A Vila não possui acompanhamento das entidades responsáveis pelo seu tombamento e está descaracterizada, pois sofreu diversas modificações realizadas pelos próprios moradores. Nas imagens 7 e 8 é possível observar as alterações realizadas. Essas modificações foram insuficientes para o bem estar de seus habitantes devido à necessidade atual de maior segurança (MUCHINELLI, 2008). Segundo o documento de Operação Consorciada da Região do Porto Maravilha, a Vila se enquadra na proposta de revitalização do local e de acordo com essa proposta será protegida. É esperado, portanto que seja garantida a conservação e a manutenção dessa edificação. Segundo os seus moradores, a Vila conta com poucos equipamentos educacionais públicos, apesar de haver na região dois hospitais, eles não comportam a demanda, e o único posto de saúde existente atende a todos os bairros da região. A área é bem servida de transporte público, possuindo até um excessivo tráfego de ônibus. Em relação ao lazer, as únicas opções disponíveis são as poucas praças existentes na região, não havendo nenhum outro tipo de entretenimento na área como, por exemplo, centros comerciais, lanchonetes, cinemas e etc., causando grande descontentamento para os moradores que precisam se deslocar para outras localidades (MUCHINELLI, 2008). O conjunto residencial Mendes de Moraes (imagem 9), mais conhecido como Pedregulho foi construído em 1947, pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy para abrigar funcionários públicos do Distrito Federal. Localizado num terreno de 50.000m2 de topografia irregular no bairro São Cristovão, Rio de Janeiro, foi implantado por Reidy o famoso prédio ondulado, denominado bloco A, ao longo de um talude, seguindo o desenho natural do terreno, e, ao longo desse grande bloco, as demais edificações foram distribuídas (FRACALOSSI, 2011 e SILVA, 2005). Com a mudança da Capital Federal para Brasília, todo o conjunto ficou abandonado até 1978, quando a Companhia Estadual de Habitação do Rio de Janeiro (CEHAB) assumiu os imóveis residenciais. Atualmente, seu estado geral de conservação é grave, sendo necessária a realização de diversas obras, para isso é necessário a criação de um conselho gestor e a implantação de um modelo de gestão participativa para que sejam solucionados os problemas que afligem o conjunto (NAZARETH, Osvaldo, 2008). 20 Imagem 9: Conjunto Residencial Pedregulho Fonte:http://www.archdaily.com.br/12832/classicos-da-arquitetura-conjunto-residencial-prefeito- mendes-de-moraes-pedregulho-affonso-eduardo-reidy/ O projeto desse conjunto residencial oferece uma estrutura completa que possui além das habitações, escola primária, creche, lavanderia, centro esportivo com vestiário, centro de saúde e cooperativa, como pode ser observado em sua implantação na imagem 10. O bloco A, prédio ondulado, possui unidades duplex e simplex (imagem 11), sendo possível variar o número de quartos por residência, e seu acesso acontece no terceiro nível da edificação, num pavimento intermediário (imagem 12), que possui, em alguns trechos, equipamentos sociais. O bloco B contém apenas unidades duplex que também podem variar o número de quartos (imagem 13) e o pilotis vazado. Embora tenham sido projetadas 478 unidades habitacionais, apenas 328 foram edificadas com plantas dos mais variados tamanhos (DREBES, 2002). As soluções plásticas e funcionais do Pedregulho tiveram como fundamento pensamentos da arquitetura e do urbanismo moderno, que levantou questões como a solução dos problemas habitacionais por meio de bairros autônomos. Teve como clara influência a arquitetura de Le Corbusier que se apoiava na simplificação e na produção em série. É indiscutível também a influencia dos CIAM na concepção da habitação mínima e das unidades de vizinhança (SILVA, 2006). 21 Imagem 10: Implantação do Conjunto Residencial Pedregulho Fonte: http://www.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20070514090931.pdf O projeto mostra a preocupação com o homem, propondo a integração da moradia com o espaço externo, por meio da instalação de serviços complementares. O paisagismo de Burle Marx e os painéis de Candido Portinari, Burle Marx e Anísio Medeiros reforçaram a importância desse conjunto habitacional na história da arquitetura brasileira (NAZARETH, Osvaldo, 2008). 22 Imagem 11: Planta das Unidades Duplex e Simplex do Pedregulho Fonte: http://theurbanearth.wordpress.com/2009/08/26/arquitetura-moderna-no-brasil-pedregulho-de- affonso-eduardo-reidy/ Imagem 12: Corte bloco A Fonte: http://theurbanearth.wordpress.com/2009/08/26/arquitetura-moderna-no-brasil-pedregulho-de- affonso-eduardo-reidy/ 23 Primeiro Pavimento Segundo Pavimento Imagem 13: Bloco B Fonte: http://pt.scribd.com/doc/76908238/Dissertacao O conjunto habitacional Pruitt-Igoe, 1954-55 (imagem 14) foi projetado pelo arquiteto Minoru Yamasaki, em St. Louis, Missouri, nos Estados Unidos (HELM, 2012). Imagem 14: Complexo Residencial Pruitt Igoe Fonte: http://www.archdaily.com.br/21785/cinema-e-arquitetura-filme-the-pruitt-igoe-myth-an- urban-history/ 24 Sua construção deu-se a partir da Lei de Habitação, de 1949, dos Estados Unidos, que gerou fundos para a construção de diversos conjuntos habitacionais e visava acabar com a expansão das favelas nas áreas centrais da cidade. Como muitas cidades do pós- guerra, St. Louis estava enfrentando uma grande mudança da população de classe média branca para os subúrbios, enquanto que a população negra mais carente estava migrando para as favelas do centro da cidade (BRISTOL,1991). Alguns anos mais tarde, Pruitt-Igoe estava tomado pelo abandono, crime e vandalismo, conforme ilustra a imagem 15. As galerias recreativas e todas as tecnologias arquitetônicas tornaram-se zonas de perigo. O grande número de apartamentos desocupados indicava que mesmo as pessoas mais pobres preferiam morar em qualquer outro lugar, ao invés de em Pruitt-Igoe. Em 1972, depois de serem gastos mais de 5 milhões de dólares numa tentativa de recuperar o conjunto habitacional, o departamento de habitação demoliu três edifícios (imagem 16). No ano seguinte, Pruitt-Igoe foi considerado irrecuperável e os edifícios restantes foram demolidos (VON HOFFMAN, s.d.). Figura 15: Pruitt-Igoe e a imagem do abandono Fonte: http://www.umsl.edu/~keelr/010/pruitt-igoe.htm 25 Imagem 16: Demolição de Pruitt-Igoe Fonte: http://www.umsl.edu/~keelr/010/pruitt-igoe.htm A construção de Pruitt-Igoe foi uma atitude desesperada dos governantes de St. Louis que, após a segunda guerra, estavam perdendo sua população. Em 1947, a comissão de planejamento criou um plano para atrair essa população de volta à cidade e assim acabar com as favelas. O plano propôs a limpeza da área e a construção de edifícios com dois ou três apartamentos por andar e um grande parque público. Mas, a eleição de Joseph Darst, como prefeito, em 1949, mudou esses planos, influenciando a construção de grandes arranha céus modernistas para a habitação popular. Pruitt-Igoe foi um desses projetos, e quando foi concluído contava com 2.870 unidades em 33 edifícios de onze andares. O projeto final designouIgoe para os brancos e Pruitt para os negros, mas os brancos não estavam dispostos a se mudar, portanto todo Pruitt-Igoe foi habitado por negros. Por fim, o dispendioso esforço que produziu Pruitt-Igoe não foi o suficiente para deter o declínio da cidade (VON HOFFMAN, s.d. e BRISTOL,1991). As unidades residenciais apresentadas seguem o mesmo padrão funcionalista, sendo o ambiente em que esses conjuntos residenciais estão inseridos, o grande diferencial entre os que permanecem até hoje e os que não deram certo. Enquanto o projeto do Pruitt-Igoe tem como foco apenas as unidades residenciais isoladas, os conjuntos habitacionais brasileiros Pedregulhos e Gamboa estão integrados com o seu entorno imediato, e apesar de ser necessária a realização de obras para recuperar essas edificações, elas sobrevivem até hoje, devido a essa integração com o entorno. No caso de Gamboa, o entorno é a própria cidade, enquanto que, em Pedregulhos, esse entorno foi pensado em conjunto, formando assim um complexo onde os serviços complementares estão dispostos em edificações que se relacionam, potencializando, dessa forma, os espaços não edificados. 26 3.5 Conclusão A partir dos exemplos de habitação social, apresentados no texto, pode-se perceber que a principal falha do pensamento modernista é não integrar a habitação com os serviços necessários para as pessoas que habitam esse padrão mínimo de residência. Atualmente, essa mesma falha está sendo repetida pela política de habitação social do Brasil, Minha Casa, Minha Vida, que subsidia apenas a construção da moradia sem se preocupar com a infraestrutura do entorno, por isso é necessário repensar esse tipo de política para que futuramente não sejam construídas novas habitações marginalizadas e sem identidade como o Pruitt-Igoe. Quando as pessoas dizem que não se sentem seguras nas cidades, elas na verdade querem dizer que não se sentem seguras nas calçadas dessa cidade. É preciso entender que a segurança das ruas não é mantida apenas pela polícia, apesar desta ser de grande importância. A segurança é alcançada a partir de inúmeros fatores, sendo uma rua movimentada capaz de garantir mais segurança que uma rua deserta. Essa rua deve também estar munida da infraestrutura necessária (iluminação, calçadas acessíveis e etc.), havendo também no local um comércio variado que leve as pessoas a circularem ininterruptamente nesse local (JACOBS, 2009). Desde a modernidade até hoje, os conjuntos habitacionais de interesse social passaram por diversas etapas e estão em constante desenvolvimento, sendo necessária a adequação desses conjuntos para as necessidades atuais de seus moradores a partir de projetos de reabilitação dessas áreas. Isso significa que é preciso torná-los mais seguros a partir da construção de espaços públicos vivos e movimentados, com comércio local, parques públicos e áreas de esporte e lazer integrados, próximos ao passeio das pessoas. É preciso reurbanizar para proporcionar uma melhor qualidade de vida para a população que habita a localidade a partir de obras de infraestrutura e da implantação de serviços urbanos. A implantação de comércio, ou até mesmo vendas e feiras de rua nas redondezas de qualquer área residencial é de suma importância para tornar a região mais segura. Portanto, segundo Jacobs (2009), os espaços públicos e privados não devem se misturar, como geralmente ocorre nos subúrbios, porém é necessário também que existam moradores nessa rua, para que estes estejam sempre vigiando o comércio local e vice- versa. 27 4. História do Distrito Federal Mudar a localização da capital era um sonho antigo na história do Brasil. O Rio de Janeiro, que se tornou a capital da colônia em 1763, apresentava vários problemas na época, sendo facilmente suscetível a invasões e a epidemias. Todos esses motivos favoreciam a interiorização da capital brasileira. A mudança para o interior foi prevista na primeira Constituição republicana, em 1891, e no intervalo entre 1892 e 1896 a área da nova capital foi demarcada no Planalto Central (OLIVEIRA,2002). Estudos para essa interiorização foram realizados na primeira metade do século seguinte. Em agosto de 1956 o Congresso Nacional aprova a lei que prevê a transferência da capital para a nova localidade, situada no Planalto Central (SEGAWA, 2010). Juscelino Kubtschek, que foi um político visionário, e eleito presidente em 1955, criou o slogan “50 anos em 5”, estabelecendo em 1956 seu plano de metas, sendo a construção de Brasília uma das alavancas de sua gestão segundo SEGAWA, 2010. Segundo OLIVEIRA, Juscelino descreve a construção de Brasília como um acaso, pois foi levado a se comprometer com a transferência da capital, já que se tratava de um dispositivo da constituição. Mas o fato é que essa ideia da transferência já estava enraizada nos desejos da população, pois esse comprometimento de Juscelino em transferir a localidade da capital só ocorreu devido à indagação de um eleitor durante um comício realizado em Jataí (GO). Imagem 17: Rota do Sonho de Dom Bosco Fonte: www.pellegrim.art.br/10301/18101.html e portal.saude.gov.br/portal/arquivos/jpg/mapa-do- brasil.jpg 28 De acordo com JACOEL (2004), a mística de Brasília começou com a incorporação na história, do sonho de Dom Bosco, padre italiano e fundador da congregação salesiana. Ele dizia ter sonhado com uma terra prometida que nasceria entre os paralelos 15º e 20º as margens de um lago. A rota traçada a partir de seu sonho pode ser observada na imagem 17. No dia 7 de setembro de 1922 foi lançada a pedra fundamental na cidade de Planaltina. Por iniciativa de Juscelino Kubitschek, em 1956, foi criada a NOVACAP (Companhia Urbanizadora da Nova Capital), empresa pública com competência de planejar e executar a construção da nova capital (CODEPLAN, 2006). Em setembro de 1956, foi aberto um concurso público nacional contemplando somente o plano urbanístico, pois Juscelino já havia determinado que Oscar Niemeyer fosse o autor dos projetos arquitetônicos dos principais edifícios públicos (SEGAWA 2010). Alguns participantes do concurso elaboraram projetos complexos, porém Lúcio Costa, o vencedor do concurso, apresentou a proposta de um plano piloto em uma única planta, e croquis ilustrativos dos conceitos de um relatório que abrangia apenas o essencial da proposta (SEGAWA 2010). Imagem 18: Traço Inicial do Plano Piloto de Brasília Fonte: http://www.semarh.df.gov.br/semarh/site/lagoparanoa/cap02/05.htm 29 Imagem 19: Plano Piloto de Brasília Fonte: http://doc.brazilia.jor.br/plano-piloto-Brasilia/plano-Lucio-Costa.shtml Segundo SEGAWA, o desenho inicial da proposta vencedora surgiu de uma analogia ao “gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: os dois eixos cruzando- se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz” conforme se observa na imagem 18. (Costa 1991, apud SEGAWA 2010). Lucio Costa organizou a cidade segundo quatro grandes escalas: a monumental (imagem 20), a residencial (imagem 21), a gregária (imagem 22) e a bucólica (imagem 23), que estão inseridas no Plano Piloto de Brasília conforme podemos visualizar na imagem 19. O eixo monumental foi concebido para abrigar o centro cívico e administrativo, os setores comerciais, de serviço e culturais correspondendo à escala monumental. O eixo rodoviário residencial é estruturado de forma que interligue as regiões vizinhas e ao longo dessas os blocos residenciais se alinham, sendo organizados segundo o principio das superquadras: quadras cercadas por uma densa arborização, que faz parteda escala bucólica, com edifícios lineares de seis pavimentos sobre pilotis, e com uma vizinhança servida de infraestrutura comercial e de serviços para os moradores que lá habitem, sendo essa solução correspondente à escala residencial. No cruzamento desses dois eixos está 30 abrigado o terminal rodoviário, estando concentrado em seus arredores o principal centro comercial e de diversões da cidade, representando a escala gregária. O plano de Lucio Costa previu a localização dos principais edifícios públicos e a organização dos setores funcionais da cidade (SEGAWA 2010). Imagem 20: Escala Monumental de Brasília Fonte: livro Arquiteturas no Brasil 1900-1990, SEGAWA, Hugo 2010. Imagens 21 e 22: Escala Residencial / Superquadra de Brasília e Centro de Brasília agregando a escala gregária Fonte: livro Arquiteturas no Brasil 1900-1990, SEGAWA, Hugo 2010. 31 Imagem 23: Escala Bucólica de Brasília Fonte: livro Arquiteturas no Brasil 1900-1990, SEGAWA, Hugo 2010. Em 21 de abril de 1960 a estrutura básica da cidade estava edificada, conforme mostram as imagens 24 e 25, e apesar de muitos prédios ainda serem esqueletos, nasceu Brasília, chamada por André Malraux de “A Capital da Esperança”, segundo BRAGA. Imagens 24 e 25: Fotos do Início da Construção de Brasília Fonte: http://www.portalbrasil.net/brasil_cidades_brasilia.htm 4.1 População No escopo do concurso da nova capital, estava previsto a população-limite de 500 mil habitantes, e cujo horizonte de expansão chegava a 200 mil habitantes. Contrariando a ideia inicial, Brasília abrigou gente não somente para formar uma população de 32 trabalhadores administrativos, mas também os trabalhadores que migraram para a sua construção, que estavam em busca de melhores condições de vida e foram atraídos pela possibilidade de trabalho com uma melhor remuneração (SEGAWA 2010). Estes viviam em núcleos habitacionais que foram criados para abrigar os trabalhadores. A Cidade Livre, hoje chamada de Núcleo Bandeirante surgiu em 1956 com este intuito e com ela foram surgindo outras cidades satélites ao redor de Brasília. Posteriormente foram então criadas no Distrito Federal oito Regiões Administrativas pela lei 4.545/64, que possuíam a finalidade de facilitar a administração dessas localidades (CODEPLAN, 2006). A pesquisa de 2010 do IBGE aponta que a população do Distrito Federal atualmente é de 2.570.160 habitantes distribuídos de forma heterogênea. Enquanto o Plano Piloto apresenta uma população de 198.906 mil habitantes (CODEPLAN, 2006), Ceilândia, a cidade satélite mais populosa do DF segundo dados do PDAD de 2011, tem 398.374 habitantes. A pesquisa também mostra que sua taxa de crescimento populacional de 3,1% é maior do que a do Distrito Federal que é de 2,3%. 4.2 Clima e Relevo Segundo Köppen, o clima do DF é tropical, concentrando-se no verão as chuvas. O intervalo entre novembro e janeiro corresponde ao período de precipitações, e o período seco ocorre no inverno principalmente entre os meses de junho e agosto (CODEPLAN, 2006). No Distrito Federal podem ser observados os tipos climáticos tropical nas áreas localizadas nas cotas altimétricas abaixo de 1000m, onde as temperaturas são superiores a 18ºC no inverno e tropical de altitude nas áreas com cotas acima de 1000m, onde as temperaturas são inferiores a 18ºC no inverno e superiores a 22ºC no mês mais quente, como podemos observar nas imagens 26 e 27 (CODEPLAN, 2006). O mês mais seco do ano é agosto, e o mês mais frio é julho. A temperatura média é de 24ºC, raramente atingindo 30ºC de máxima e 15ºC de mínima, oscilando entre 22ºC e 28ºC. A velocidade dos ventos em Brasília atinge em média 2,3m/s, e sua direção predominante é a leste, conforme podemos observar na imagem 28. (TOSCANO). 33 Imagens 26 e 27: Temperaturas Mínima, Máxima e Média do DF Fonte: INMET Imagem 28: Ventos de Brasília Fonte: Análise da Aluna 34 Localizado em uma das mais elevadas áreas da região, o Distrito Federal situa-se no Planalto Central, que corresponde ao que restou dos aplainamentos do Centro Oeste. Estes aplainamentos caracterizam a forma de relevo mais frequente nessa área, as chapadas (CODEPLAN, 2006). A análise do clima é de grande importância para a composição do partido arquitetônico que será aplicado na área estudada, pois ela auxilia a determinar a técnica construtiva, e os materiais que serão empregados. 4.3 Limites Imagem 29: Limites do DF. Fonte: CODEPLAN O Distrito Federal possui uma área de 14.400Km², e está localizado na região Centro-Oeste tendo como limites, Planaltina de Goiás (norte), Formosa (noroeste e leste), Minas Gerais (leste), Cristalina e Luziânia (sul), Santo Antonio do Descoberto (oeste e sudoeste), Corumbá de Goiás (oeste) e Padre Bernardo (noroeste), conforme podemos observar na imagem 29. 35 4.4 Ocupação Territorial e sua Relação com as Invasões Imagem 30: Distrito Federal – Regiões Administrativas Fonte: http://oversolanoverso.blogspot.com.br/ As primeiras regiões administrativas foram implantadas paralelamente a construção da nova Capital da República. Nos projetos das regiões administrativas aplicaram-se os mesmos princípios urbanísticos de Brasília ajustados as condições socioeconômicas de cada área (CODEPLAN, 2006). Inicialmente em 1964 foram criadas oito regiões administrativas. Com a evolução da ocupação territorial em 1994 já existiam 19 RA’s, e em 2004 totalizavam-se 29. Atualmente existem 30 regiões administrativas no DF (imagem 30), sendo que as dez últimas ainda não possuem seus limites físicos legalmente definidos (CODEPLAN, 2006 e SEDUMA 2010). Na tabela 1 estão especificadas as RA’s e suas respectivas leis de criação, e na imagem 31 podemos visualizar o mapa com as principais vias do DF que ligam as RA’s, com destaque 36 em vermelho para a DF-095, mais conhecida como Via Estrutural, que é o principal acesso da Cidade Estrutural. Tabela 1: Lista das RA’s do DF e suas Leis de Criação Fonte: Análise da Aluna 37 Imagem 31: Mapa com as Principais Vias de Brasília Fonte: http://www2.transportes.gov.br/bit/01-inicial/01-estadual/estados/port/df.htm 38 Segundo a Constituição Federal, o Distrito Federal é indivisível e não pode ser municipalizado (SEDUMA, 2010), dessa forma cada Região Administrativa tem um administrador regional, nomeado pelo governador, que fica responsável pela coordenação dos serviços públicos daquela região. A maioria das regiões administrativas do DF surgiu a partir de invasões, assim como o lixão Estrutural, que começou no inicio de Brasília sendo transformada na década de 90 em Vila Estrutural pertencente à Região Administrativa do Guará. Em 1989 foi criado o Setor Complementar de Indústria e Abastecimento, SCIA em frente da Vila Estrutural. Em janeiro de 2004 o SCIA foi transformado na RA XXV e a Estrutural foi integrada como sua sede urbana (CODEPLAN, 2006). Em janeiro de 2006, a lei complementar 716 criou a Zona Especial de Interesse Social – ZEIS, denominada Vila Estrutural. Com esta lei devem ser removidas as casas localizadas em áreas de risco ambiental (PDAD 2010/2011). 39 5. História da Cidade Estrutural Imagem 32: Regiões Administrativas Fonte: CODEPLAN, 2006. Segundo reportagem de FORTES (2010), em 1960 um grupo de 30 famílias, se alojou no aterrosanitário da cidade de Brasília, localizado as margens da Via Estrutural, pista que liga Taguatinga ao Plano Piloto. O número de invasores cresceu bastante desde então, e os problemas que essas pessoas enfrentam também, tendo como exemplo a falta de saneamento em diversas áreas e a violência urbana. A Cidade Estrutural, destacada na imagem 32, foi dividida em duas áreas: a Vila Velha e a Vila Nova, que se distinguem devido às diferenças de perfil socioeconômico. A Vila Velha é localizada próximo ao aterro, onde a população é mais carente e formada principalmente pelos catadores de lixo. A Vila Nova fica as margens da DF-095, com mais casas de alvenaria e um vasto comércio (mapa 1). 40 Mapa 1: Vila Velha e Vila Nova (sem escala) Fonte: Análise da Aluna 41 Em 1990, o então governador do DF, Joaquim Roriz, incentivou o crescimento da favela. Já em 1997, seu sucessor Cristovam Buarque, mandou a policia militar remover 700 novos barracos em uma tentativa de frear o crescimento desordenado da favela. Mais de 1.700 policiais entraram na Estrutural e foram repelidos a pau e pedra. A PM usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Cristovam instalou uma administração militar comandada por um major, porém mesmo com uma pequena melhora no urbanismo a invasão continuou (FORTES, 2010). Em janeiro de 2004, através da lei número 3.315 de 27 de janeiro, o SCIA foi transformado em Região Administrativa XXV, tendo a Vila Estrutural como sua sede urbana (ADMINISTRAÇÃO SCIA). Em novembro de 2011, foi aprovado pelo Conselho de Meio Ambiente do Distrito Federal (Conam), o processo de regularização da Vila Estrutural, que foi também aprovado pelo Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal (Conplan) em setembro de 2011 (SEDHAB, 2011). Na imagem 33 podemos observar o mapa da Cidade Estrutural e sua relação com o entorno. Imagem 33: Mapa Cidade Estrutural e Entorno Imediato Fonte: http://estruturinha.org.br/?page_id=10 42 6. Análise Socioeconômica da Cidade Estrutural 6.1 Características da População Urbana Nos últimos anos a população do Setor Complementar de Indústrias e Abastecimento (SCIA), Cidade Estrutural vem crescendo vertiginosamente conforme podemos observar no gráfico 2, passando de 14.497 habitantes para 25.732mil habitantes em apenas sete anos (PDAD, 2011). Gráfico 2: População Total SCIA (2004/2011) Fonte: Análise da Aluna Já no gráfico 3 podemos comparar o aumento de sua população em relação ao DF, e conseguimos visualizar o contraste que existe entre o crescimento de ambas populações, sendo o crescimento da Cidade Estrutural 8,5% maior (PDAD, 2011). Gráfico 3: População Total DF x SCIA (2004/2011) Fonte: Análise da Aluna 0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 3.000.000 2010 2011 População da Estrutural População do DF 43 A maior parte da população do SCIA - Estrutural tem o ensino fundamental incompleto (52,6%), 2,2% se declaram analfabetas, 12,5% possuem o ensino médio completo e apenas 0,5% possuem nível superior completo como pode ser observado na tabela 2. Do total da população do SCIA – Estrutural 38,7% são estudantes, sendo que a maioria frequenta a escola pública conforme dados da tabela 3 (PDAD, 2011). Tabela 2: População segundo nível de escolaridade Fonte: Codeplan – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – SCIA – Estrutural – PDAD 2011 Apenas 6,1% dos responsáveis pelos domicílios estudam, dentre os quais 5.5% estão em escolas públicas e 0,6% estão em escolas particulares (PDAD, 2011). Tabela 3: População segundo condição de estudo Fonte: Codeplan – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – SCIA – Estrutural – PDAD 2011 44 Com relação a emprego, observa-se que 35,7% da população exerce alguma atividade remunerada, 2,6% estão aposentados e 5,1% da população total encontram-se desempregadas (tabela 4). Dentre as pessoas que trabalham 23,7% trabalham no comércio, 14% na construção civil, 6,8% realizam serviços domésticos e 15,5% serviços gerais (PDAD, 2011). Tabela 4: População segundo a situação de atividade Fonte: Codeplan – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – SCIA – Estrutural – PDAD 2011 Do total de trabalhadores 56% é constituído por empregados, dentre os quais 46,7% possuem carteira assinada. Os autônomos somam um total de 39,7% e o serviço militar absorve apenas 2,6%, conforme tabela 5 (PDAD, 2011). Entre os trabalhadores residentes na Região Administrativas do SCIA – Estrutural 33,9% trabalham na própria RA. Em Brasília trabalham 22,3% da população, 9,4% trabalham no SIA e 6,8% trabalham no Guará (PDAD, 2011). Tabela 5: População ocupada segundo a posição na ocupação Fonte: Codeplan – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – SCIA – Estrutural – PDAD 2011 45 A renda domiciliar média da população da cidade estrutural é de R$ 1.259,00, correspondente a 2,3 salários mínimos. Ao analisar a distribuição de renda bruta domiciliar, podemos observar que a média entre 2 e 5 salários mínimos, concentra 38,7% dos domicílios, e que os domicílios com 1 salário mínimo correspondem a 18,3% conforme dados do gráfico 4 (PDAD, 2011). Gráfico 4: Distribuição dos domicílios segundo as classes de renda domiciliar Fonte: Análise da Aluna Em sua maioria os responsáveis pelo domicílio são homens, correspondendo a 71,4% e as mulheres são responsáveis por 28,6% dos lares, segundo a tabela 6 (PDAD, 2011). Tabela 6: Distribuição dos responsáveis pelo domicilio segundo o sexo Fonte: Codeplan – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – SCIA – Estrutural – PDAD 2011 46 Segundo a tabela 7, 77,3% dos responsáveis pelo domicilio são trabalhadores remunerados, 8% são aposentados e apenas 0,8% não tem atividade (PDAD, 2011). Tabela 7: Distribuição dos responsáveis pelo domicilio ocupados segundo a situação de atividade Fonte: Codeplan – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – SCIA – Estrutural – PDAD 2011 6.2 Infraestrutura Domiciliar Na Cidade Estrutural, atualmente 99% das casas possuem abastecimento de água, porém apenas 80,1% tem acesso à rede geral de esgotamento sanitário, sendo que 17% ainda utilizam fossa séptica. Quanto ao serviço de coleta de lixo, 98,2% dos domicílios são atendidos por esse serviço urbano, conforme podemos observar nas tabelas 8, 9 e 10 (PDAD 2011). Tabela 8: Domicílios ocupados segundo o abastecimento de água Fonte: Codeplan – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – SCIA – Estrutural – PDAD 2011 47 Tabela 9: Domicílios ocupados segundo o esgotamento sanitário Fonte: Codeplan – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – SCIA – Estrutural – PDAD 2011 Tabela 10: Domicílios ocupados segundo a existência de coleta de lixo Fonte: Codeplan – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – SCIA – Estrutural – PDAD 2011 Sistemas de drenagem estão sendo implantados na cidade, mas ainda existem muitas áreas que esperam a implantação desse sistema. Existem campanhas do GDF que apresentam a destinação de recursos para essa finalidade (Administração SCIA). No SCIA – Estrutural 81,4% dos domicílios possuem as ruas asfaltadas, 84,7% possuem meios-fios, 95,1% possuem iluminação pública e 81,4% possuem rede de água pluvial. Já as calçadas que são de responsabilidade dos proprietários, o percentual é de 76,9%, como podemos observar na tabela 11 (PDAD 2011). Tabela 11: Domicílios ocupados segundo a infraestrutura
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