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SOCIEDADE EDUCACIONAL LEONARDO DA VINCI FACULDADE METROPOLITANA DE RIO DO SUL CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO Mateus Rocha Duarte HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL CANOAS: DESENHO INCREMENTAL E SUSTENTABILIDADE URBANA Rio do Sul 2020 Mateus Rocha Duarte HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL CANOAS: DESENHO INCREMENTAL E SUSTENTABILIDADE URBANA Artigo apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Graduado em Bacharel, pelo Curso de Arquitetura e Urbanismo da Sociedade Educacional Leonardo da Vinci – UNIASSELVI/FAMESUL Orientadora: Carolina Bini Rio do Sul 2020 (...) a relação entre arquiteto e a natureza é de amor-ódio. A sustentabilidade consiste em construir pensando no futuro, não só tendo em conta a resistência física de um edifício, mas pensando também em sua resistência estilística, em seus usos no futuro e na resistência do próprio planeta e seus recursos energéticos." Arquitectura Sostenible, Renzo Piano (1998) RESUMO A problemática da habitação social ainda permanece contemporânea, e talvez hoje mais que nunca, e reconhecida como peça chave no desenvolvimento das sociedades. A necessidade de um crescimento populacional inédito coloca em desafio nossos arquitetos e gestores urbanos a estabelecer um quadro de desenvolvimento sustentável em meio a tamanhos desafios, de ordem econômica e ideológica. A constante mutação e evolução das necessidades humanas referente aos espaços, coloca em xeque a qualidade das plantas rígidas que vem sendo produzidas em serie, estereotipando a produção de unidade habitação de menor custo. Mais que nuca é necessário entender a habitação como um organismo vivo, aberto a mudanças e adaptações ao tempo e necessidade. Almejando um conceito de Arquitetura Mista, Incremental, e de alta densidade, este trabalho preconizou instaurar diretrizes para o projeto de conjuntos habitacionais incrementais, servindo como uma resumida base conceitual sobre desenho urbano sustentável e desenho de habitações incrementais. A proposta é simples, antever erros grosseiros através de uma união entre proposições e parâmetros axiomáticos de eficiência já reconhecida, que asseguram bases conceituais, como a densidade, a vitalidade urbana, a flexibilidade tipológica e a agenda sustentável. Dados estes que serão apresentados nesta monografia que antecede ao projeto modelo, intitulado de Habitação Incremental Mista Canoas, um projeto de conjunto flexível desenvolvido na área central da cidade de Rio do Sul. Palavras-chave: Habitação 1. Sustentável 2. Incrementalidade 3. ABSTRACT The problem of social housing still remains contemporary, and perhaps today more than ever, and recognized as a key element in the development of societies. The need for unprecedented population growth challenges our architects and urban managers to establish a framework for sustainable development in the midst of these economic and ideological challenges. The constant mutation and evolution of human needs in relation to spaces puts in check the quality of rigid plants produced in series, stereotyping the production of a lower cost housing unit. More than ever, it is necessary to understand housing as a living organism, open to changes and adaptations to time and needs. Aiming at a concept of Mixed, Incremental and High Density Architecture, this work recommended the establishment of guidelines for the design of incremental residential projects, serving as a brief conceptual basis on sustainable urban design and the design of incremental housing. The proposal is simple, to predict gross errors through a union between proposals and axiomatic parameters of already recognized efficiency, which guarantee conceptual bases, such as density, urban vitality, typological flexibility and sustainable agenda. These data will be presented in this monograph that precedes the model project, entitled Incremental Housing Mixed Canoas, a flexible project developed in the central area of the city of Rio do Sul. Keywords: Housing 1. Sustainable 2. Incrementality 3. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Progreção do déficit habitacional ............................................................. 17 Figura 2: Conjunto Habitacional Lo Barnechea (Studio Elemental) ........................... 21 Figura 3 - Condomínio Residencial Luiz Demarchi ................................................... 21 Figura 4 - Estudo WRI BRASIL ................................................................................ 22 Figura 5 - Produtividade do tempo em deslocamento ............................................... 23 Figura 6 - Quinta Monry............................................................................................. 26 Figura 7: ½ Casa Boa ≠ 1 Casa Pequena ................................................................. 27 Figura 8 - Equação da Habitação Social Incremental ............................................... 27 Figura 9 - Perspectiva edifício paralelo ..................................................................... 28 Figura 10 - Planta da Habitação Monterrey .............................................................. 29 Figura 11 -Conjunto Habitacional Elemental Monterrey. ........................................... 30 Figura 12 - Princípios de planejamento de cidades ................................................... 32 Figura 13 - Quanto mais bicicletas mais seguros os ciclistas ................................... 33 Figura 14 - Fachada Principal Rue De Meaux ........................................................... 34 Figura 15 - Implantação do conjunto Rue de Meaux Paris ....................................... 35 Figura 16 - Análise da tipologia ................................................................................. 36 Figura 17 – Circulação Horizontal x Vertical .............................................................. 37 Figura 18 - Plana Baixa das unidades tipo, Rue De Meaux ...................................... 37 Figura 19 - Fachada Rue de Meaux Paris ................................................................. 38 Figura 20 - Casas Lo Barnechea ............................................................................... 39 Figura 21 - Implantação do Conjunto Habitacional Lo Barnechea ............................ 40 Figura 22 - Imagem Aérea Conjunto Habitacional Lo Barnechea ............................. 40 Figura 23 - Planta Baixa Lo Barnecheia ................................................................... 41 Figura 24 – Corte LO BARNECHEA ......................................................................... 42 Figura 25 - Localização do município de Rio do Sul ................................................. 43 Figura 26 - Cidade de Rio do Sul, Bairro Canoas e entorno ..................................... 43 Figura 27 - Densidade demográfica dos municípios do Cluster – 2016 .................... 44 Figura 28 - Densidade demográfica da área objeto do trabalho. ............................... 44 Figura 29 - Áreas alagáveis ....................................................................................... 45 Figura 30 - Mapa de Uso e Ocupação de Solo ......................................................... 46 Figura 31 - Equipamentos de Interesse Público ........................................................ 47 Figura 32 - Mapa Viário ............................................................................................. 48 Figura 33 - Mapa Ambiental ...................................................................................... 48 Figura 34 - Terreno da Proposta............................................................................... 49 Figura 35 – Vista Frontal do Terreno ......................................................................... 50 Figura 36 - Entorno terreno da proposta ................................................................... 50 Figura 37 – Conceito do Projeto ................................................................................ 52 Figura 38 – Fluxograma Preliminar ........................................................................... 55 Figura 39 - Proposta de Implantação do Projeto ....................................................... 56 Figura 40 - Modelo ainda preliminar da edificação vista da Rua Princesa Isabel ...... 57 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Rue De Meaux Paris ................................................................................ 34 Tabela 2 - Elemental Lo Barnechea .......................................................................... 39 Tabela 3 - Diretrizes Urbanísticas ............................................................................. 51 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BNH Banco Nacional de Habitação IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística MCMV Minha Casa Minha Vida ONU Organização das Nações Unidas HIS Habitação de Interesse Social HIM Habitação Incremental Mista SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 15 1.1 OBJETIVOS ............................................................................................. 16 1.1.1 Objetivo Geral ......................................................................................... 16 1.1.2 Objetivos Específicos ............................................................................ 16 1.2 JUSTIFICATIVA ....................................................................................... 16 2 HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL .................................................. 18 2.1 O CONCEITO DE HABITAÇÃO SOCIAL ................................................. 18 2.2 O SURGIMENTO DA HABITAÇÃO SOCIAL ............................................ 19 2.3 DESENVOLVENDO NOVAS DIRETRIZES PARA O PROJETO DE habitação social ......................................................................................................... 20 2.3.1 Construir perto dos centros urbanos é sinônimo economia .............. 22 3 MÉTRICAS E CONCEITOS: INCREMENTALIDADE E SUSTENTABILIDADE URBANA .............................................................................. 24 3.1 DESENHO INCREMENTAL ..................................................................... 24 3.1.1 Conceituação primaria ........................................................................... 25 3.1.2 O princípio de Incrementalidade aplicado pelo conceito de “meia- casa” pela Elemental............................................................................................... 25 3.1.3 Edifício Paralelo ...................................................................................... 28 3.2 SUSTENTABILIDADE URBANA .............................................................. 30 3.2.1 Multifuncionalidade, e Vitalidade Urbana ............................................. 31 3.2.2 Mobilidade Urbana ................................................................................. 33 4 ESTUDOS DE CASO ............................................................................... 34 4.1 RUE DE MEAUX PARIS........................................................................... 34 4.1.1 Forma e Implantação urbana ................................................................. 35 4.1.2 Tipologia e Planta Baixa ........................................................................ 36 4.1.3 Fachada, Materiais e Estrutura...................................................................... 38 4.2 ELEMENTAL LO BARNECHEA ............................................................... 39 4.2.1 Forma e Implantação urbana ................................................................. 40 4.2.2 Tipologia e Planta Baixa ........................................................................ 41 4.2.3 Fachada, Materiais e Estrutura .............................................................. 42 5 ANÁLISE DA ÁREA DE INSERÇÃO DO PROJETO .............................. 43 5.1 ANÁLISE DA INSERÇÃO REGIONAL ..................................................... 43 5.2 ANÁLISE DO ENTORNO ......................................................................... 45 5.3 ANALISE DO TERRENO.......................................................................... 49 6 DIRETRIZES PRELIMINARES DE PROJETO ........................................ 51 6.1 DIRETRIZES URBANÍSTICAS ................................................................. 51 6.1.1 PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO .......................................................... 51 6.2 CONCEITO............................................................................................... 52 6.3 DIRETRIZES DE PROJETO .................................................................... 53 6.3.1 Métricas Urbanísticas ............................................................................ 53 6.3.2 Métricas Arquitetônica ........................................................................... 53 6.4 PROPOSTA PRELIMINAR DE PROJETO ............................................... 54 6.4.1 ANÁLISE DE POTÊNCIAL CONSTRUTIVO ........................................... 54 6.4.2 Programa de Necessidades e pré-dimensionamento.......................... 54 6.4.3 Fluxograma ............................................................................................. 55 6.4.4 Proposta de Implantação do Projeto .................................................... 56 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 58 REFERÊNCIAS ........................................................................................ 59 15 1 INTRODUÇÃO A discussão sobre habitação de interesse social (HIS), passa hoje longe de ser destinada apenas a grupos vulneráveis dentro do tecido social, visto o quão amplo são os segmentos da sociedade que tem dificuldade no acesso à habitação e necessitam hoje de financiamentos subsidiados, ditos como programas sociais, como o Minha Casa Minha Vida. Esses programas por sua vez se associam a uma oferta imobiliária que oferece um modelo habitacional padronizado, rígido a alterações. Segundo LUCINI (2003) pequenas foram as soluções aplicadas hoje em dia para reverter esses quadros. “A resposta a esses problemas repete-se hoje alternativas conhecidas desde a década de 70: casinhas ou prédios enxugados das mínimas condições qualitativas, localizados em periferias, e infinitas distâncias do trabalho”. Nos últimos anos o desenho incremental atrelado a habitações social voltou a ganhar evidência com o arquiteto Chileno Alejandro Aravena, sendo laureado com o prêmio Pritzker em 2016. Objeto muito da contribuição do seu trabalho em soluções de arquitetura social de baixa renda, o prêmio traz à tona a importância da flexibilidade na personalização das unidades habitacionais produzidas em massa com a aplicação do Princípio de Incrementalidade. Partindo do preceito de SCHUMACHER (2019) em que a performatividade social da arquitetura depende da riqueza de informações e capacidade comunicativa de seus produtos. O presente trabalho buscou compreender o desenvolvimento de habitações incrementais e como a evolucionabilidade da habitação social pode ser resolvida ainda na fase de projeto, a fim de que as futuras ampliações não comprometam a qualidade e integridade das habitações e do espaço urbano onde a mesma se insere. Comoparte dos resultados da pesquisa foi necessária também inserir o assunto de sustentabilidade urbana, buscando uma visão mais integrada de conjunto e cidade, visto que segundo ABIKO (1995) os principais problemas encontrados nas áreas com população de baixa renda são de natureza urbana. A produção do projeto se concentra: (1) na análise e classificação do entorno do conjunto habitacional, (2) no projeto urbanístico bem como a implantação do conjunto habitacional, (3) e projeto de habitação social incremental de uso misto. 16 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo Geral Sintetizar métricas de projeto de projetos habitação de interesse social de alta densidade flexíveis, embasadas no desenho incremental. 1.1.2 Objetivos Específicos • Realizar uma breve analise dos problemática habitacional. • Formular uma base teórica relacionada a temática do desenho Incremental e sustentabilidade urbana. • Desenvolver uma proposta Urbana visando a vitalidade urbana do entorno, a segurança e sustentabilidade do conjunto habitacional. • Projetar habitações incrementais flexíveis, para perfis variados núcleos familiares desenvolvendo um sentido de pertencimento do usuário ao espaço. 1.2 JUSTIFICATIVA De acordo com um estudo de 2012 do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) atualmente, uma em cada três famílias na América Latina e no Caribe - um total de 59 milhões de pessoas - vive em uma habitação inadequada ou construída com materiais precários ou sem serviços básicos. Segundo ARAVENA (2016) o mundo passa por uma crise habitacional, dos 3 bilhões de pessoas vivendo em cidades hoje em dia, 1 bilhão de pessoas vive abaixo da linha da pobreza. E por volta de 2030 das 5 bilhões de pessoas morando nas cidades, 2 bilhões irão viver abaixo da linha de pobreza. Isso significa que nós teríamos que construir cidades com 1 milhão de pessoas por semana, com $10.000 dólares por família. 17 Figura 1 – Progreção do déficit habitacional (ARAVENA,2016) E o grande problema é o volume e velocidade do processo de urbanização. Fator este que não se encontra resolução somente respostas econômicas, mas sim organizacionais, produzir respostas rápidas e qualificadas mediante ao crescimento exponencial do problema. Nesse senário primitivo da produção da moradia muitas vezes o arquiteto é o que menos opina sobre o processo de planejamento urbano e desenho das unidades. O falso pensamento de que a simplificação entre as exigências do mercado evolução, principalmente quando o produto é destinado a classes mais baixas. Na cidade onde será proposto o projeto modelo deste trabalho, apresenta todos os seus grandes conjuntos habitacionais afastados do núcleo central urbano. Alguns deles em áreas suscetíveis a enchentes semestrais, como o Conjunto Habitacional COHAB do bairro Bela Aliança, que é atingido pelo Rio Itajai açu na cota 7,5 m. Ou o exemplo Condomínio Residencial Luiz Demarchi, situado na divisa Rio do Sul Agronômica, um condomínio de iniciativa municipal que não contem Infraestrutura, lazer ou qualquer tipo de saneamento Básico. Sendo assim o projeto modelo vem como proposta de ruptura com a lógica reducionista, para a proposição de princípios evolucionistas, onde construir em centros urbanos é sinônimo economia e sustentabilidade social. (WRI BRASIL, 2018) Sendo assim faz se necessário a proposição de um projeto de habitação de interesse social de uso misto, pautado no desenho incremental, que serviria de modelo de inserção para novos programas habitacionais em Rio do Sul-SC. Sendo que o mesmo contando com 100 unidades, reduziria em grande parte déficit habitacional local e desincentivaria a expansão horizontal desordenada que a cidade vem vivendo, fruto de uma especulação imobiliária no mínimo não criativa. 18 2 HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL 2.1 O CONCEITO DE HABITAÇÃO SOCIAL Habitação social ou habitação de interesse social, ou até mesmo moradia social, é um tipo de habitação destinada à população cujo nível de renda dificulta ou impede o acesso à moradia (CAPERA, Richer). Pode-se entender a habitação Social como uma ferramenta de promoção de Equidade Social, Saneamento Básico e Sustentabilidade Urbana. Sendo de iniciativa geralmente pública e tendo, como objetivo, reduzir o déficit da oferta de imóveis residenciais de baixo custo, com garantias mínimas de qualidade. O termo Habitação de Interesse Social (HIS) é objeto de definição de uma série de soluções de moradia voltada à população de baixa renda, utilizado muitas vezes genericamente. Constantemente vinculado a nos estudos sobre gestão habitacional, o termo vem sendo utilizado por várias instituições e agências, como base no conceito atribuído pelo instinto BNH¹, sendo assim (ABIKO, 1995) propôs categorizar os termos equivalentes, como apresentado abaixo: a) Habitação Subnormal: é aquela que não atende condições mínimas de habilidade, como salubridade, dimensionamento e durabilidade. b) Habitação de Baixo Custo (low-cost housing): termo utilizado para designar habitação barata sem que isto signifique necessariamente habitação para população de baixa renda; c) Habitação para população de baixa renda (housing for low-income people): é um termo mais adequado que o anterior, tendo a mesma conotação que habitação social; estes termos trazem, no entanto, a necessidade de se definir a renda máxima das famílias e indivíduos situados nesta faixa de atendimento social. d) Habitação de Interesse Social (HIS): O termo engloba habitações dentro de programas habitacionais endereçados a população de baixa renda. 19 Segundo ABIKO (1995) a habitação popular consiste em um processo: “A habitação popular não deve ser entendida meramente como um produto e sim como um processo, com uma dimensão física, mas também como resultado de um processo complexo de produção com determinantes políticos, sociais, econômicos, jurídicos, ecológicos, tecnológicos. “ 2.2 O SURGIMENTO DA HABITAÇÃO SOCIAL Conceitualmente falando o pensamento sobre a promoção de habitação social se desenvolve inicialmente juntos as alterações do planeamento urbano oriundas das transformações políticas, sociais e ideológicas proporcionadas pela Revolução Francesa no século XVIII. Cujas principais reivindicações foram o fim do absolutismo, a ascensão da Burguesia ao poder político e, sobretudo, a instauração da igualdade civil (AROUCA, 2018). No Brasil avanços da medicina de caráter social, pelo final do século XVII, trouxeram uma inflexão decisiva nesse processo de governamentalização da habitação. A partir daí os médicos higienistas voltaram suas atenções para o interior da casa, diferente do que acontecia até então, onde a intervenção governamental focava apenas na fachada. O foco principal foi o interior dos cortiços em particular. Já no século XIX deu lugar a um recrudescimento do intervencionismo público e privado no campo da habitação, pautado por dois objetivos distintos, embora complementares: por um lado, a normatização das construções, de acordo com os preceitos da higiene, da beleza e da comodidade; por outro, a erradicação dos cortiços. (CORTADO, 2018) No século XX o segundo congresso Internacional da Arquitetura Moderna, o CIAM II: Realizado em Frankfurt, em 1929, e dirigido pelo arquiteto Ernst May14, abordou o tema da vivenda mínima, em Dimensões do Apartamento para o Mínimo de Subsistência (Die Wohnung für Existenzminimum). Cujo o objeto em análise era a atividade humana e no seu habitat, de modo a otimizar o desenho dos espaços. Em resumo o tema habitação social foi essencial na arquitetura do século XX, tendo todos os grandes mestres do movimento modernista, analisando e propondo soluções apropriadas do ponto de vista técnico a estético. Ambos buscando a receita da célula 20habitacional mínima ideal como solução a crescente população urbana desassistida de habitação (BENETTI,2012). 2.3 DESENVOLVENDO NOVAS DIRETRIZES PARA O PROJETO DE HABITAÇÃO SOCIAL O projeto de habitação social é um dos mais complexos na razão que qualquer gesto pressupõe uma racionalização muito grande de custos, e está racionalização extrema na maioria das vezes se traduz-se numa pobreza de propostas muita grave. Trabalhar a habitação como uma inversão do quadro de pobreza e não só como um gasto social é uma obrigação para o desenvolvimento de uma sociedade mais equitativa, disposta a vivencia em plenitude a vida em sociedade. (BENETTI, 2012). Todos nós quando compramos uma casa, esperamos que ele aumente seu valor com o tempo. Por isso a habitação quase por si é o mais comum investimento de uma família, porem a maioria das vezes na habitação social isso não ocorre. Como comenta ARAVENA (2016), muitas vezes a habitação social se parece mais com comprar um automóvel do que uma casa, pois cada dia que passa seu valor diminui. Isso expõe o fracasso da maioria dos conjuntos habitacionais visto que o subsidio da habitação é a ajuda mais importante que a família recebe na sua vida (e uma única vez) pela parte do estado. A habitação então poderia ser usada como uma ferramenta para pedir crédito, que permita a família começas um pequeno negócio, ascender a uma melhor educação ou simplesmente entrar no mercado de mobilidade habitacional. Se isso ocorresse e a habitação se comportasse como uma inversão, mais que com gasto social, então estaríamos falando de uma ferramenta para enfrentar a pobreza e não só um meio de o proteger das intempéries. (ARAVENA,2016) 21 Figura 2: Conjunto Habitacional Lo Barnechea (Studio Elemental) Disponível em: https://emilyaxtman.wordpress.com/2016/08/05/lo-barnechea-i-ii/ Tanto os órgãos públicos, quanto o mercado privado tem desenvolvido estratégias para enfrentar a escassez de recurso habitacional. É fato que quando não há dinheiro suficiente, as habitações tendem a serem construídas aonde o solo custa pouco, em periferias carentes de serviços, longe da onde as oportunidades da cidade se encontram. Frente a necessidade de tamanho, as famílias reagem ampliando as suas habitações como podem, com estruturas de organização primitivas, materiais inadequados e riscos estruturais eminentes. Frente a este ciclo de afastamento, propiciado pelos agentes de mercado não há muito que as famílias podem fazer (ARAVENA,2013) Figura 3 - Condomínio Residencial Luiz Demarchi Fonte: Acervo de Autor 22 2.3.1 Construir perto dos centros urbanos é sinônimo economia Até 2018 o programa MCMV já avia apoiado a construção de 4,5 milhões de habitação, um número significativo, no entanto costumam instalar seus empreendimentos em zonas distantes dos núcleos centrais das cidades, ou seja aonde os terrenos são mais “baratos”. Porém segundo o levantamento da WRI BRASIL, 2018 esse barato pode custar muito caro. Buscando embasar este conceito a WRI BRASIL, 2018 realizou um estudo para calcular os custos com infraestrutura de transporte e equipamentos públicos nos empreendimentos do MCMV em três cenários hipotéticos: A) dentro do perímetro urbano, próximo ao centro, com 500 unidades habitacionais B) no limite do perímetro urbano, com 1.500 unidades C) ainda mais afastados, nos limites de divisa do município, com 3.000 unidades. Figura 4 - Estudo WRI BRASIL Adaptado pelo autor de: https://wribrasil.org.br/pt/blog/2018/03/minha-casa-minha-vida- construir-perto-do-centro-%C3%A9-sin%C3%B4nimo-de-economia-e-qualidade-de 23 O resultado é que segundo o levantamento, construir conjuntos do MCMV em áreas centrais pode representar uma economia de até R$ 10 mil por unidade habitacional, apenas na promoção de serviços básicos de infraestrutura. Considerando os três cenários analisados, uma pessoa residente em um empreendimento MCMV localizado dentro do perímetro urbano pode percorrer até 3 mil km a menos por ano do que um morador de um empreendimento mais afastado. Essa diferença pode implicar uma economia significativa, uma vez que as famílias brasileiras gastam, em média, 15,8% da sua renda com transporte. (WRI BRASIL, 2018) Promover uma via com infraestrutura acessível e garantir transporte coletivo aos empreendimentos mais distantes (cenário C) poderia implicar em um custo anual de R$ 13 milhões, o que necessitaria um aumento da extensão e frequência de itinerários (construção de infraestrutura R$ 6,83 milhões, no pior cenário; custo anual de operação do transporte coletivo, R$ 6,27 milhões/ano). Outro fator importante é produtividade do tempo em deslocamento, quanto o indivíduo deixa de produzir conduzindo-se em viagens diárias. (WRI BRASIL, 2018) Figura 5 - Produtividade do tempo em deslocamento Adaptado pelo autor de: https://wribrasil.org.br/pt/blog/2018/03/minha-casa-minha-vida- construir-perto-do-centro-%C3%A9-sin%C3%B4nimo-de-economia-e-qualidade-de 24 3 MÉTRICAS E CONCEITOS: INCREMENTALIDADE E SUSTENTABILIDADE URBANA 3.1 DESENHO INCREMENTAL A noção de flexibilidade das edificações estão presentes dês dos burgos medievais. Comércio, focinhas, pequenas fábricas e serviços se localizaram nos andares térreos, enquanto os andares superiores serviam de habitação. Nos andares térreos, semi-enterrados e mezaninos, a estrutura era consolidada com cúpulas e abóbadas sobre pilares e paredes portantes (LUCINI, 1996) O conceito de habitação flexível, no que diz respeito à capacidade da habitação se adaptar facilmente às mudanças sociais, é uma ideia antiga. A génese deste conceito remonta às origens da habitação, onde está era idealizada e construída pelos próprios residentes, permitindo uma construção personalizada, evolutiva e adaptável. Como retrata a própria pesquisa de SANTOS, 2012 dês dos séculos VII no Japão a tradição construtiva se desenvolve no conceito de adaptabilidade, onde a maioria das divisões são polivalentes. Onde este conceito de adaptabilidade é retratado na casa tradicional, nos palácios japoneses, nas casas de chá, entre outros. “A adaptabilidade é conseguida através da relação entre os elementos fixos (estrutura e cobertura) e os elementos móveis (paredes deslizantes, móveis, etc.). O sistema construtivo das habitações japonesas tem como base uma grelha onde a estrutura reticulada assenta.” (SANTOS, 2012) 25 3.1.1 Conceituação primaria Já em 1972, HABRAKEN já desenvolvia em seu trabalho o conceito de uma habitação incremental, baseado no conceito que ele chamava de suporte e o recheio. Nesse conceito ele dividia a habitação em duas estruturas principais, onde, as duas compõem fases de decisões tomadas por agentes diferentes, em fases diferentes: O Suporte, estrutura principal da habitação, responde às necessidades coletivas, sendo executado pelo projetista e construtor; e o recheio, que responde a dinamicidade individual que cada família vive, é de responsabilidade do próprio usuário e se desenvolve dentro da estrutura de suporte, que ampara as decisões do morador (1972, HABRAKEN). Esse processo de vantagens da habitação incremental reside na capacidade de aproveitamento de autogestão, que o morador pode se apropriar. Basicamente uma resposta a incapacidade do Estado em prover unidades que não responder as demandas unitárias, visto que as instituições centrais são incapazes de compreender e atender a complexidade de necessidades tão diversificadas. Para Robert Schmidt III, Toru Eguchi, Simon Austin e Alistair Gibb, autores do artigo “Adaptable Futures: A 21st Century Challenge”, definem a adaptabilidade como a “capacidade de mudar o ambiente construído da habitação, para ajustar-se e dar resposta às demandas dos seus usuários, maximizando o seu valor aolongo do seu ciclo de vida” . 3.1.2 O princípio de Incrementalidade aplicado pelo conceito de “meia-casa” pela Elemental “Substituir uma lógica reducionista por um princípio de síntese”, foi assim que ARAVENA, (2013) descreveu a lógica que ele incorpora em seus projetos de habitação social no escritório chileno ELEMENTAL, a habitação incremental. A noção de mutabilidade hoje exposta expõe como a arquitetura moderna produziu um pensamento utópico onde o morador não é entendido como o de produtor do espaço, mas sim espera- se dele que apenas adaptasse o seu corpo e sua 26 performance àquilo que foi previamente pensado. Ou seja, uma visão retrograda dos modelos embrionários industriais. Do ponto de vista incremental a autoconstrução se configura como uma solução ao problema da padronização em série, que gera ambientes rígidos, e um modelo de ocupação monótono, sem a noção de pertencimento – com apenas parte da casa construída, e estruturada para a ampliação o morador pode adequar a sua habitação a sua maneira de vida (ARAVENA, 2013). Figura 6 - Quinta Monry Disponível em (https://epoca.globo.com/ideias/noticia/2016/01/puxadinhos-rendem-o-pritzker-ao- arquiteto-alejandro-aravena.html) Em vez de se construir uma completa, mas casa pequena, com o capital de financiamento, é mais inteligente que se construa meia casa boa. Assim ele se apropria da visão incremental e introduz o conceito de “meia casa” na maioria dos projetos de habitação social. O conceito oportuniza a possibilidade de ampliação sustentável pré-programada da edificação, ao mesmo tempo que o conjunto mante uma gramatica de forma, o que impede a deterioração da linguagem visual de bairro. (ARAVENA, 2013). Assim ao Baratear a construção de novas unidades habitacionais mantendo um nível adequado de qualidade, permiti a construção de conjuntos habitacionais em áreas mais centrais da cidade, ao o terreno custa mais. https://epoca.globo.com/ideias/noticia/2016/01/puxadinhos-rendem-o-pritzker-ao-arquiteto-alejandro-aravena.html https://epoca.globo.com/ideias/noticia/2016/01/puxadinhos-rendem-o-pritzker-ao-arquiteto-alejandro-aravena.html 27 Figura 7: ½ Casa Boa ≠ 1 Casa Pequena Fonte: adaptado pelo autor de (ARAVENA, 2016) Segundo a lógica da Elemental (ARAVENA, 2016) a equação para produzir habitações incrementais se concentra em: • Densidade suficientemente alta, para pagar solos bem localizados (solos mais caros) • Em baixa altura (eliminando espaços coletivos que não podem ser mantidos) • Sem superlotação e com possibilidade de crescimento (que permita a cada família alcançar incrementalmente um nível de classe média) • A densidade em altura não é uma alternativa; a baixa altura sem densidade tão pouco. Figura 8 - Equação da Habitação Social Incremental • Fonte: adaptado pelo autor de (ARAVENA, 2016) 28 A valorização de uma propriedade é a maneira mais direta de medir o nível de qualidade de uma habitação. Então o aumento do valor é uma redefinição da noção de qualidade, convencionalmente associada ao tamanho, a solidez e a implantação. Afastar da lógica reducionista é entender que as cidades são concentradores de oportunidades, de trabalho, educação, saúde e mobilidade. Uma concentração de modelos de superação, desafio e movimento. Ambiente necessário para a mobilidade econômica-social. (ARAVENA, 2016) 3.1.3 Edifício Paralelo A ideia de edifício paralelo da ELEMENTAL nasce não só da preocupação tipológica, mas também urbana. Trata-se do o que estamos fazendo para frear a expansão urbana horizontal desenfreada, e como aplicar o conceito de alta densidade em edificações baratas individualizadas e com possibilidade de crescimento. Essa foi a proposta inicial do edifício paralelo, que conceitualmente já era utilizada na construção típica latino-americana que tem um gabarito compartilhado com duas casas por lote, acessada via uma escada individual fronte ao pátio. Sendo assim a contribuição da ELEMENTAL foi desenvolver a possibilidade de ampliar as casas nos “vazio” que são dispostos na estrutura. Assim o Edifício Paralelo consiste entre um sistema de habitação coletiva porem com ocupação unifamiliar, a alta densidade de um edifício coletivo, porém com um desenho incremental. (ARAVENA, 2016) Figura 9 - Perspectiva edifício paralelo Fonte: (ARAVENA, 2016) 29 Um dos exemplos do edifício paralelo é ELEMENTAL Monterrey. Habitações que se desenvolvem em um prédio contínuo de três andares que sobrepõe uma casa (no primeiro andar) de dois módulos, a um apartamento de dois andares acima (no segundo e terceiro andares). A ampliação prevê uma casa de aproximadamente 58 m2 e um apartamento de aproximadamente 76 m2. Ambas são entregues com o conceito da “primeira metade” ou “meia casa” (de 40 m2), deixando pronto os ambientes mais complexos (banheiros, cozinha, escadas e paredes divisórias), e mantando a planta livre para um cenário de expansão. (ARAVENA, 2016) Figura 10 - Planta da Habitação Monterrey Fonte: (ARAVENA, 2016) 30 Figura 11 -Conjunto Habitacional Elemental Monterrey. Fonte: adaptado pelo autor de (ARAVENA, 2013) 3.2 SUSTENTABILIDADE URBANA O estudo do paradigma de organização e expansão das cidades se mostrou um tema essencial nestes últimos dois séculos, a falta de planejamento urbano cobrou caro daqueles que ignoram o chamado do desenvolvimento sustentável. Segundo a OMS (2015), a poluição do ar urbano tem sido associada a 3,7 milhões de mortes prematuras a cada ano no mundo, sendo 75% delas responsáveis por automóveis movidos a combustíveis fósseis, segundo a Global Fuel Economy Initiative (2016), e LIMA (2019). Segundo ROGERS (1997) no desenvolvimento das cidades tem se negligenciado a fragilidade dos ecossistemas, o nível de urbanidade e qualidade de vida, tudo isso em prol de uma falsa “modernização”, que não assimila sua complexidade. A cidade é um organismo dinâmico tão complexo quanto a própria sociedade e deve ser dinâmico tão complexo quanto a própria sociedade e deve ser suficientemente ágil para reagir rapidamente às suas mudanças. ROGERS (1997) 31 3.2.1 Multifuncionalidade, e Vitalidade Urbana A multiplicidade de funções dentro das áreas urbanas de média e alta densidade tem se configurado como um elemento de nivelação positiva das condições de vida da população. A mono-funcionalidade dos bairros estritamente residenciais para a baixa renda reduz condições de permanência do morador devido à falta de espaços onde desenvolver atividades complementares fundamentais para a subsistência, tanto de pequena (e até média) produção artesanal, industrial, oficinas, comércios e outros serviços necessários a comunidade (LUCINI,2003). Segundo JACOBS (2000) para garantir uma diversidade exuberante nas ruas, distritos e cidades, é necessário verificar 4 condições conjuntamente. a) A necessidade de usos principais combinados – o distrito deve atender a mais de uma função principal para garantir um certo número de pessoas nas ruas em todos os horários do dia (estas devem sair de casa em horários diferentes e buscar os lugares por motivos diferentes) b) A necessidade de quadras curtas – “as oportunidades de virar as esquinas deve ser frequente” c) A necessidade de prédios antigos – “O distrito deve ter uma combinação de edifícios com idades e estado de conservação variados” d) A necessidade de concentração – determinada densidade é fundamental para o florescimento da diversidade Mais importante do que a polícia, o que produz a segurança de determinada rua, ou bairro, por exemplo, é o trânsito ininterrupto de usuários, nas calçadas e nas ruas. A multiplicidade de usos com donos de padarias, mercearias, lojas, pequenos serviços, que trazem “olhos atentos”, mais eficazes doque a iluminação pública. Além da existência do que a JACOBS (2000) descreve como “proprietários naturais da rua”, pessoas que monitoram muitas vezes intuitivamente a rua. A autogestão democrática, é que garante o sucesso das ruas, e bairros que apresentam maior vitalidade e segurança. Isso significa a permanência de uma forte rede de relações, objeto essencial em conjuntos habitacionais. 32 O trabalho com a dimensão humana envolve uma série de princípios urbanos. A fim de desenvolver ambientes convidativos para as pessoas passarem mais tempo na cidade, GEHL (2013) listou 5 princípios essenciais, são eles: 1.Distribuir, cuidadosamente, as funções da cidade para garantir menores distâncias entre elas, além de uma massa crítica de pessoas e eventos. 2. Integrar várias funções nas cidades para garantir versatilidade, riqueza de experiências, sustentabilidade social e uma sensação de segurança nos diversos bairros. 3. Projetar o espaço urbano de forma a torna-lo convidativo tanto para o pedestre quanto para o ciclista. 4.Abrir os espaços de transição entre a cidade e os edifícios, para que a vida no interior das edificações e a vida nos espaços urbanos funcionem conjuntamente. 5.Reforçar os convites para permanecia mais longas no espaço público, porque algumas pessoas por muito tempo em um local proporcionam a mesma sensação de vitalidade do que muitas pessoas por pouco tempo. De todos os princípios e métodos disponíveis para reforçar a vida das cidades, o mais simples e o mais eficaz é convida as pessoas a passar mais tempo no espaço público. Figura 12 - Princípios de planejamento de cidades Fonte: adaptado pelo autor de (GEHL, 2013) 33 3.2.2 Mobilidade Urbana Segundo GEHL (2013) o custo de se trabalhar a escala humana no desenho urbano é pequeno mediante os custos de investimentos de infraestrutura viária, sendo passível de ser implementado em qualquer cidade do mundo, independentemente de seu desenvolvimento econômico. Desarticuladas com as políticas urbanas ideais do ponto de vista sustentável, as cidades vêm gesticulando para um modelo de mobilidade urbana ineficiente, com causa na intensa utilização dos veículos individuais como alternativa à baixa qualidade de outras tipologias de mobilidade urbana, resultado do desenho urbano e da gestão urbana. (FARR, 2013) A distância aceitável de caminhada é um conceito relativamente fluido e que fatores como qualidade do percurso, a superfície, a quantidade de pessoas e os obstáculos no trajeto influenciam este dado. Porém estabelece uma distância saudável de deslocamentos a pé “o tamanho dos centros das cidades confirma a distância de quinhentos metros como um objeto aproximado de uma caminhada aceitável”. Outro fator importante para a mobilidade urbana é a adesão de cada vês mais ciclistas, segundo GEHL (2013), o risco e o numero de acidentes caem drasticamente quando mais pessoas pedalam, pois os motoristas ficam mais atentos, além de produzir uma cultura urbana em torno dos modais leves sobre rodas. Figura 13 - Quanto mais bicicletas mais seguros os ciclistas Fonte: adaptado pelo autor de (GEHL, 2013) 34 4 ESTUDOS DE CASO 4.1 RUE DE MEAUX PARIS Tabela 1 - Rue De Meaux Paris Ficha Técnica Localização: Paris, França. Tipologia: Construção perimetral, com pátio privado. Nº Unidades 220 Densidade 20.000 m² /220 unidades Arquitetura Renzo Piano Data de construção 1987/1991 Localizado no 19º distrito de Paris, uma área densamente povoada ao norte do centro da cidade. O projeto foi encomendado em 1987 pela cidade, ou melhor, pela “Régie immobilière da cidade de Paris”, então gerenciada por Michel Lombardini (rpbw.com). Com objetivo de criar soluções de baixo custo, o complexo habitacional priorizou por estruturas pré-moldadas, e densa ocupação do terreno. É incrível o nível de privacidade dos usuários, mesmo com um pátio que é atravessado por uma via pública para pedestres. O parque no interior transforma a paisagem continua das fachadas, que por sinal são tão bem trabalhadas, e que pouco se assemelham a edificações baratas da época. Figura 14 - Fachada Principal Rue De Meaux Fonte: RPBW, acessado em 01.06.2020 35 4.1.1 Forma e Implantação urbana O projeto ocupa todo o perímetro do sítio, mantendo no térreo de sua fachada principal o uso comercial, assim como as edificações do entorno. Os lados curtos do retângulo são interrompidos por dois cortes verticais, que rasgam a edificação em três blocos alongados harmônicos, organizando o conjunto volumes proporcionais as edificações vizinhas, como exemplifica a figura x. O seu uso misto garante a presença de transeuntes nas calçadas, segundo a premissa do urbanismo sustentável das grandes metrópoles francesas. Figura 15 - Implantação do conjunto Rue de Meaux Paris Fonte: Adaptado pelo autor de (RPBW). O Pátio central funciona com um pequeno parque, além de abrigar uma importante área permeável, desenvolve um espaço microclima agradável. O que oferece um agradável contraste entre a rua movimentada e a serenidade do espaço, a área retangular do parque possui duas grandes áreas verdes com arbustos baixos e bétulas brancas. (rpbw.com), vide a figura x. 36 4.1.2 Tipologia e Planta Baixa A tipologia que se concentra em uma edificação perimetral, desenvolvida em 3 tipologias edilícias. Os blocos voltam para um pátio interno, que é cercado por 220 habitações, sendo todas voltadas ao jardim interior. Nos blocos centrais a tipologia é frente e fundo visando que os apartamentos tenham duas fachadas, nas testadas se utiliza de blocos. Piano aproveitou a irregularidades dos arremates do conjunto para projetar diferentes modelos e tamanhos de planta. Promovendo uma diversidade tipológica que atende uma pluralidade de núcleos familiares. Figura 16 - Análise da tipologia Fonte: Adaptado pelo autor de (RPBW, acessado em 01.06.2020) 37 Figura 17 – Circulação Horizontal x Vertical Fonte: Adaptado pelo autor de (RPBW, acessado em 01.06.2020) Analisando a distribuição dos espaços do apartamento mais comum. Fica visível como os apartamentos são mais compridos, dando vista para o jardim, projetado com a visão de planta livre, permite que sala seja voltada para dois terraços, pátio e vizinhança. As unidades são constituídas de 2 dormitórios, cozinha, sala de estar, banheiro dividido em 2 ambientes, 2 varandas. A ausência de uma área de serviço, se justifica visto a proposta de lavanderia coletiva, que funciona dentro da própria edificação (CASELLI,2007). Figura 18 - Plana Baixa das unidades tipo, Rue De Meaux Fonte: Adaptado pelo autor de (RPBW, acessado em 01.06.2020) 38 4.1.3 Fachada, Materiais e Estrutura A estrutura é extremamente racionalizada em elementos pré-fabricados em concreto. Que ao mesmo tempo que compõem o esqueleto do prédio, dão forma a linhas que compõe a estética das fachadas. A ideia da modularidade vem da aplicação da agenda sustentável, visando diminuir o número resíduos de obra, e garantir que os materiais possam ser reciclados caso se decida que o edifício precisa ser “desmontado” (RPBW,2020). Nas fachadas Piano desenvolveu esbeltas placas de argamassa armada com fibra de vidro (GRC), organizadas em módulos. Esses módulos são formados por pacas de 90x90cm, e preenchidas com pequenas peças cerâmicas de 20x40cm, formando quase que um mosaico. Cada modulo pesava em média 45 kg, e garantia uma construção limpa e modularizada, e com uma estética bastante similar a edifícios de alto padrão (CASELLI,2007). Figura 19 - Fachada Rue de Meaux Paris Fonte: Adaptado pelo Autor de (RPBW, acessado em 01.06.2020) 39 4.2 ELEMENTAL LO BARNECHEA Lo Barnecheia é uma comunidade ao norte de santigo, uma região bem localizada que abriga umadas maiores concentrações de renda do Chile. Porém concentra um grande número de pessoas em assentamentos ilegais em situação de vulnerabilidade sanitária e social. No projeto Elemental Lo Barnechea, a equipe de Aravena desenvolve uma proposta em cima do sitio que a abrigava os antigos assentamentos precários ilegais um conjunto de 150 casas e uma sede social. Tabela 2 - Elemental Lo Barnechea Ficha Técnica Nº Casas 150 Superfície Inicial 44,5 m² Arquitetura Elemental Superfície Final 69,2 m², ampliação: 23m² Engenharia José Gajardo Entrega da obra Julho de 2010 O projeto deixou cerca de metade de cada casa sem mobília com a planta livre para que, com o tempo, as famílias pudessem se apropriar da residência e acrescentar aquilo que lhes fazia sentido. Fato que é super importante, pois dá a liberdade e o orgulho dor moradores por suas casas, incentivam o autoaperfeiçoamento e um sentimento de lugar na sociedade. “Pense na fase final e em como o design pode facilitar a vida das famílias para alcançar esse padrão de renda média no futuro. É assim que a qualidade deve ser medida. E definitivamente não era assim que a habitação social estava sendo medida, e não como estava sendo projetada.” (ARAVENA,2014) Figura 20 - Casas Lo Barnechea Disponível em https://archello.com/story/38675/attachments/photos-videos/9 40 4.2.1 Forma e Implantação urbana A implantação do projeto se organiza a partir da separação do conjunto em núcleos tipo condomínio, com 20 habitações cercando um pátio comunitário. Onde a subdivisão dos espaços trás autonomia para cada condômino se apropriar do espaço, com níveis de organização mais íntimos entre os moradores. O que reforça as redes sociais e produz grupos de monitoramento nas calçadas. Figura 21 - Implantação do Conjunto Habitacional Lo Barnechea Fonte: Adaptado pelo autor de (ARAVE,2016). A apropriação dos espaços internos vai sendo feita pelo conjunto de moradores que o cerca, ganhando vida e garantindo a manutenção urbana dos pátios. Neste projeto fica evidente a necessidade de trabalhar com um conjunto altamente racionalizado, o que resultou em espaços públicos pequenos. Figura 22 - Imagem Aérea Conjunto Habitacional Lo Barnechea Disponível em https://archello.com/story/38675/attachments/photos-videos/10 https://archello.com/story/38675/attachments/photos-videos/10 41 4.2.2 Tipologia e Planta Baixa Para resolver a problemática a Elemental utilizou uma variação da tipologia de habitação Renca e Temuco. Que consiste basicamente em: em primeiro núcleo de serviços, instalações, circulação, e estrutura em 1,5 metros de largura e um segundo núcleo com 3 metros de largura onde se desenvolve os cômodos. Tudo isso em pavimentos dentro de um volume de 4,5 x 6,0 metros. Figura 23 - Planta Baixa Lo Barnecheia Fonte: Adaptado pelo Autor de ARAVENA (2013) Diferente de maiorias dos projetos de Aravena o crescimento incremental se desenvolve na possibilidade de ampliação interna, por meio de entrepisos livres previamente estruturados. Podendo o morador ampliar no vazio junto ao mezanino, desenvolvendo um novo cômodo, além de acrescentar uma escada que dá acesso ao sótão. Cada casa possui 44 m² iniciais, já sendo ampliada chega ao total de total 69 m², sendo dois andares, e mais o sótão (mansarda). O layout final com as ampliações proporciona uma habitação com sala/cozinha, três quartos, e banheiro. 42 Tabela 5: Dimensões de Espaço Nome do compartimento Área útil em m² Mobiliário existente Banheiro 3,20 m² Lavatório Sala de TV/Estar 7,40 m² - Cozinha 7,40 m² Cuba Dormitório 7,80 m² - Área de ampliação 1 (Dormitório 2) 10,32 m² - Área de ampliação 2 (Dormitório 2) 14,5 m² - Área Total 69,00 m2 - ÁREA TOTAL CONSTRUÍDA: 69,00 M² Fonte: Autor 4.2.3 Fachada, Materiais e Estrutura As unidades da carcaça são entregues com acabamentos básicos - paredes de tijolos cerâmicos de baixa transmitância e excelente desempenho acústico são visíveis - e são expansíveis para dentro: a estrutura de concreto armado pode suportar as adicionais lajes leves de madeira que dão estrutura ao novo cômodo ; a cobertura é feita de aço galvanizado. Figura 24 – Corte LO BARNECHEA Fonte: Autor 43 5 ANÁLISE DA ÁREA DE INSERÇÃO DO PROJETO 5.1 ANÁLISE DA INSERÇÃO REGIONAL O município de Rio do Sul está localizado na região do Alto Vale do Itajaí, no Estado de Santa Catarina, estando a cerca de 188 km da capital Florianópolis (figura x). O município é subdividido em 25 bairros, sendo o Bairro Canoas escolhido para a área de intervenção do projeto. Figura 25 - Localização do município de Rio do Sul Fonte: adaptado pelo autor de, IBGE A ocupação e o traçado dos primeiros lotes na região estudada sofreram influência da topografia local, caracterizada pela presença do rio, montanhas e vale. Sendo as primeiras picadas e caminhos abertos de maneira rudimentar pelos os imigrantes seguindo a perpendicular do alinhamento das margens dos rios para o interior do vale e tiveram influência na delimitação de novos lotes, que sempre buscava ter acessibilidade à água. Figura 26 - Cidade de Rio do Sul, Bairro Canoas e entorno 44 Fonte: Adaptado pelo autor de https://www.google.com/maps/ A cidade está localizada às margens da rodovia BR-470, principal via de acesso e de circulação de mercadorias e produtos. As rodovias estaduais SC-110 e SC-350 também servem de ligação ao município. O estado atual da rodovia BR-470 e a sua sobrecarga de veículos têm acarretado grande problema para a população e empresas do município. Segundo estimativas do IBGE, em 2016, Rio do Sul contava com uma população de 68.217 habitantes, sendo considerado o 19º município mais populoso de Santa Catarina. No período 2016/2000, a taxa média anual de crescimento populacional foi de 1,8%, sendo que a população de 68.217 habitantes está distribuída em 261 km2, 261 habitantes por km2. (SEBRAE, 2018) Figura 27 - Densidade demográfica dos municípios do Cluster – 2016 Fonte: IBGE – Diretoria de Estatística, Geografia e Cartografia – Estimativa Populacional 2016. Figura 28 - Densidade demográfica da área objeto do trabalho. https://www.google.com/maps/ 45 Fonte: Adaptado pelo Autor. 5.2 ANÁLISE DO ENTORNO O Bairro Canoas onde vai ser posicionado o projeto se posiciona em um local estratégico entre o a área central e a BR-470, sendo um território de grande vitalidade urbana, e bem provido de equipamentos públicos. O terreno da proposta fica localizado entre um espaço altamente qualificado, porem que contem a limitação de estar em uma área passiva a alagamentos, o que ocorre em boa parte da cidade que são atingidas por enchentes em uma média de 3 a 4 vezes por década. Por essa configuração negativa, e outras mais, como o nível de ruído proveniente do elevado, possibilitaria um maior valor de barganha sobre os valores dos terrenos. O que possibilita que o princípio de alocar os conjuntos em áreas bem localizadas seja colocado em prática. A figura abaixo elucida com as enchentes ocupam a área do terreno. Figura 29 - Áreas alagáveis Fonte: Adaptado pelo Autor, mapa Defesa Civil. Disponível em: https://www.google.com/maps/d/viewer?mid=1BFoe-q2LJHLd66R0MpianejE30_XYkdo https://www.google.com/maps/d/viewer?mid=1BFoe-q2LJHLd66R0MpianejE30_XYkdo 46 Quanto aos usos pode se observar através da figura XX, a predominância do uso residencial entre as quadras, porém com focos de uso misto e comercial fronte a as vias coletoras, concentrado principalmente na Rua Princesa Isabel. O bairro contem a presença industrial em edificações adjacentes a BR-470, elencando uma das 3 rotas da entrada da cidade pela BR-470. Figura 30 - Mapa de Uso e Ocupação de Solo Fonte: Adaptadopelo Autor. 47 O bairro também possui a característica grande presença de equipamentos urbanos como: o maior parque da cidade (Parque Harry Hobus), o mercado público municipal, no qual se dispõe a abrigar os pequenos comerciantes da agricultura e pecuária local, o ginásio municipal, bem como o estágio municipal e outros serviços educacionais e de interesse público. Figura 31 - Equipamentos de Interesse Público Fonte: Acervo do Autor O sistema viário é organizado, sendo de baixo tráfego nas vias locais, porem tem uma grande concentração na via coletoras. O transporte coletivo acessa as vias coletoras do bairro, tendo como rota a Rua Princesa Isabel, atendendo em pelo menos 6 horários diários. 48 Figura 32 - Mapa Viário Fonte: Acervo do Autor O Bairro Canoas possui em sua grande parte do território dotado por áreas de preservação permanente, e amplas áreas de vegetação de mata Atlântica. Tais vegetações estão concentradas nos fundos de vale, juntamente as margens do Rio Itajaí açu, onde se encontra a maior parte da área de preservação permanente (APP). Figura 33 - Mapa Ambiental 49 Fonte: Acervo do Autor 5.3 ANALISE DO TERRENO O terreno proposto está localizado entre a Rua Vila Ipiranga x R. Princesa Isabel x Rua Fernando Silva. A área total do terreno vem da unificação de 5 terrenos dispostos ao lado do Parque municipal Harry Hobus, contendo no total 11.168,15 m². O espaço contém uma única edificação existente que no caso seria demolida para dar espaço ao conjunto. A geometria do terreno é irregular, fazendo frente para 3 ruas. Figura 34 - Terreno da Proposta Fonte: Acervo do Autor 50 Figura 35 – Vista Frontal do Terreno Fonte: Acervo do Auto O conjunto de imagens abaixo ilustram a relação terreno/entorno. A Rua Fernando Silva (quadro 01) oferece infraestrutura adequada com saneamento e pavimentação, porém contem calçadas estreitas e incessíveis para transeuntes de mobilidade reduzida. A conexão do terreno com a Rua Princesa Isabel (quadro 02) ocorre através de um muro de contenção apresenta um desnível de aproximadamente 4 metros, o que potencializa o nível de complexidade do projeto. O terreno apresenta pequenos desníveis e vegetação não nativa na sua maioria (quadro 03) e (quadro 04). Figura 36 - Entorno terreno da proposta Fonte: Acervo do Auto 51 6 DIRETRIZES PRELIMINARES DE PROJETO 6.1 DIRETRIZES URBANÍSTICAS 6.1.1 PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO Segundo plano diretor de Rio do Sul, o terreno está localizado na ZR3 – Zona Residencial de Alto Adensamento. De modo é uma área de predominância habitacional, com muito potencial de adensamento. A zona também autoriza edificações de comercio e indústria, levando em consideração o porte, nível de degradação ambiental e polo gerador de tráfego. A tabela abaixo ilustra as possibilidades construtivas na lei vigente. Tabela 3 - Diretrizes Urbanísticas ZR3 – ZONA RESIDENCIAL DE ALTO ADENSAMENTO Índice de Aproveitamento Básico 5,00 > Máximo 6,50 Taxa de Permeabilidade do solo 5% Taxa de Ocupação máxima 80% Afastamento frontal 4,00 Afastamento lateral e fundos H-9/6 Gabarito de Altura 10/12 Pavimentos Quanto as diretrizes do projete então seguirão as normas municipais vigentes, sendo as principais: • Plano Diretor do município de Rio do Sul (L.C. n°163 e seus anexos) • INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 001/2014 (Orienta quanto aos procedimentos adotados para análise de projetos e registro de edificações multifamiliares verticais e horizontais, que configurem condomínio, no município de Rio do Sul.) • INSTRUÇÕES NORMATIVA CBMSC (Todas vinculadas ao projeto de conjuntos multifamiliares) 52 6.2 CONCEITO Baseado no princípio de Incrementalidade que vem se aprimorando, e em conformidade com a meta 11 do SDG¹, que visa tornar cidades e assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. O conceito propõe o que foi chamado de HIM (Habitação Incremental Mista) onde se visa a promoção da flexibilidade arquitetônica, a integração de sociedades excluídas geograficamente da do núcleo da cidade, com o desenvolvimento de uma edificação polivalente, apta a usos mistos. O símbolo conceito simboliza a habitação HIM: Habitação, visando a promoção do mais nobre patrimônio do homem. Dos serviços, visando uma sustentabilidade urbana e econômica. E enfim do Lazer, fonte do equilíbrio da sociedade. Figura 37 – Conceito do Projeto Fonte: Desenvolvida pelo Autor 53 6.3 DIRETRIZES DE PROJETO Aqui serão apresentadas as métricas para o projeto de habitação de interesse social HIM – CANOAS, contendo as métricas propostas para o projeto. 6.3.1 Métricas Urbanísticas • Estabelecer uma conexão harmônica do projeto com a paisagem; • Promover via propostas urbanas o uso das calçadas e de modais sustentáveis, como a bicicleta e o transporte coletivo, num entorno de 300 metros da edificação. • Desenvolver o projeto das habitações a níveis seguros de enchente, privilegiando para garagem e comércios os níveis em risco. • Se utilizar da ecogênese para a reconstituição de ecossistemas parcialmente ou totalmente degradados circundantes, valendo-se de uma re-interpretação do ecossistema através do plantio de espécies vegetais autóctones. • Revitalizar ambientes em baixo do Elevado Dep. José Thomé e entorno. 6.3.2 Métricas Arquitetônica • Estabelecer modelo tipológico de habitação “incremental”, com possibilidade de ampliação interna ou externa de ambientes, ou a flexibilização seus usos sem comprometer a habitabilidade e a integridade visual do conjunto. • Adaptar conceitos globais de sustentabilidade para edifícios a problemática local, associando o projeto a técnicas de design biofílico; • Planejar ambientes com o Layout. Flexível, se possível com vedações leves. • Projetar unidade dentro de um orçamento realizar do programa MCMV 54 6.4 PROPOSTA PRELIMINAR DE PROJETO Aqui será apresentado neste tópico, uma breve análise sobre o potencial de construção do terreno, o programa de necessidades (estabelecendo áreas estimadas) e o Fluxograma. No tópico final é apresentado uma proposta de implantação urbana preliminar, ainda inicial, com o foco nas potencialidades do terreno. 6.4.1 ANÁLISE DE POTÊNCIAL CONSTRUTIVO POTÊNCIAL CONSTRUTIVO (ZRE) Terreno Unificado 12.500 m² Índice de Aproveitamento máx. 81.250,00 m² (máx.) Ocupação máxima 9.680 m² Gabaritos 10/12 Pavimentos Afastamento Frontal 4,00 m 6.4.2 Programa de Necessidades e pré-dimensionamento Programa de Necessidades da Habitação Ambientes Mobiliário Fixo Área útil em m² Serviços Lavação 6m² Cozinha Cuba 9m² Área total do setor: 15m² Social Jantar/ Estar / TV 9m² Banheiro 3,9m² Varanda 10m² Área total do setor: 22,9m² Intima Dormitório 1 9m² Dormitório 2 8m² Dormitório + (Adicional) 9m² Área total do setor: 26m² ÁREA TOTAL ESTIMADA: 63,90 m² 55 Programa de Necessidades Geral Unidades de habitação 100 Unidades 65m² Unidades Comerciais 20 Unidades 100m² Área de Lazer coberta 02 Unidades 150m² Estacionamento 80 Unidades - 6.4.3 Fluxograma Figura 38 – Fluxograma Preliminar Fonte: Autor 56 6.4.4 Proposta de Implantação do Projeto Buscando um melhor aproveitamento do terreno de formato irregular a proposta pretende atender de maneira dinâmica o conceito de implantação perimetral. Se aproveitando da topografia encontrada no terreno, e os problemas do nível suscetível a enchente para os estacionamentos, áreas de lazer e pequenos comércios, e elevando as residenciais para um nível seguro. A proposta Urbana deve unificar o conjunto habitacional Canos ao Parque Municipal Harry Hobus de maneiraharmônica, conectando o conjunto ao ambiente natural. Entre os 3 espaços de lazer exemplificados abaixo, o pátio interno do conjunto se constituísse de uso privado dos moradores, enquanto dois pequenos espaços públicos, dão qualidade ao ambiente urbano exterior. Figura 39 - Proposta de Implantação do Projeto 57 Fonte: Autor O conceito de escalonamento deverá ser utilizado como ferramenta garantidora de insolação e ventilação adequada as unidades residenciais como retrata a ilustração preliminar abaixo. Ao se combinarem essas necessidade iniciais a tipologias flexíveis do desenho incremental, é necessário ainda na continuação deste trabalho trabalhar na resolução de uma série de condicionantes : como a localização dos acessos em cada habitação, como trabalhar a estrutura em uma obra racionalizada, o número de fachadas livres em contraponto dos terraços, a disposição racional das áreas de serviços e a tipologia associada a cada residência. É notório que todas estas condicionantes se conectam em uma equação, afetando-se umas às outras. Figura 40 - Modelo ainda preliminar da edificação vista da Rua Princesa Isabel Fonte: Autor 58 CONSIDERAÇÕES FINAIS Por muitos anos a Habitação Social foi vista por políticos e arquitetos como um objeto que oportunizava de promoção do seu nome através do formalismo (Pedregulho¹), ou comprovação teóricas (Unite d' Habitation²), hoje aparentemente no cenário nacional não passa rentabilidade imobiliária ou propagadíssimo político. A solução para a crise habitacional passa muito longe da estratégia historicamente mais adotada para solucionar o problema, construir grandes blocos rígidos em altura, de modo a abrigar o maior número possível de pessoas na menor área de implantação, em terrenos periféricos, mas sim trabalhar a polivalência e a flexibilidade de sistemas dentro onde as coisas acontecem, nos centros urbanos¹. “Substituir a lógica reducionista por um princípio de síntese.” Este trabalho documenta basicamente o inicio de uma pesquisa sobre habitações socias e o desenho incremental, aqui mais especificamente tratado, nas obras do coletivo ELEMENTAL, e análise teórica abordado no livro “Manual de Vivenda Incremental y Diseño Particiativo”. Porem existe uma infindável serie de teóricos retratando o conceito da flexibilidade tipológica, bem como da sustentabilidade urbana. É verdade que ao logo dessas 50 páginas conseguimos alencar alguns conceitos, porém a obra só estabelecera completitude ao findar do nosso projeto modelo, que será produzido em um segundo módulo. Continuará... 1 1 Conteúdo se embasa no tópico 2.3.1 ² Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho) ³ Unite d' Habitation / Le Corbusier 59 REFERÊNCIAS ARAVENA, Leandro. Elemental: Incremental Housing and Participatory Design Manual. Edição 1. Hatje Cantz Verlag, 2016. 512 p. ALEXANDER, Christopher; ISHIKAWA, Sara; SILVERSTEIN, Murray. A PATTERN LANGUAGE: towns - buldings - construction. New York: Oxford University Press, 1977. 313 p. BENETTI, Pablo. Habitação Social e Cidade: desafios para o ensino de projeto. Rio de Janeiro: Rio Book's, 2012. 104 p. BRANDAO, Douglas Queiroz. Disposições técnicas e diretrizes para projeto de habitações sociais evolutivas. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 11, n. 2, p. 73-96, abr./jun. 2011. CORTADO, Thomas. 2018. À beira da cidade. Tese de Doutorado em Antropologia social, Universidade Federal do Rio de Janeiro. EDWARDS, Brian. O guia básico para a sustentabilidade. Barcelona: Editora G. Gili, 2005. 226 p. FARR, Douglas. Urbanismo Sustentável: desenho urbano com a natureza. Tradução: Alexandre Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, 2013. GEHL, Jan. Cidades Para Pessoas. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2015. 262 p. HABRAKEN, N.J. Supports: an alternative to mass housing. Architectural Press, 1972. JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. 3. ed. São Paulo: Wmf Martins Fontes, 2011. 296 p. LIMA, Fernando. Métricas Urbanas: abordagens paramétricas no planejamento de bairros e cidades sustentáveis. São Paulo: Editora Ufjf, 2019. 163 p. LOTUFO, José Otávio. Habitação Social para a Cidade Sustentável. 2011. 157 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. LUCINI, Hugo Camilo. Habitação Social: procurando alternativas de projeto. Itajaí: Ed. Univali, 2003. 131 p. (Série Raíz). DOS SANTOS, Marco Gui Alves. Flexibilidade e mutação Proposta de um sistema modular flexível para habitação colectiva na Covilhã. 158 p. Covilhã, 2012 RUE DE MEAUX HOUSING http://www.rpbw.com/project/rue-de-meaux-housing WRI BRASIL. Minha Casa, Minha Vida: construir perto do centro é sinônimo de economia e qualidade de vida. https://wribrasil.org.br/. [Online] 26 de 03 de 2018. http://www.rpbw.com/project/rue-de-meaux-housing
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