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GILMAR SILVA SANTOS SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL POLITICAS SOCIAIS COMO FERRAMENTA PARA GARANTIA DOS DIREITOS DO IDOSO Andradas 2018 Andradas 2018 GILMAR SILVA SANTOS POLITICAS SOCIAIS COMO FERRAMENTA PARA GARANTIA DOS DIREITOS DO IDOSO Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado ao Curso de Serviço Social da Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Orientador: Luciana Sacoman Burke Soares SANTOS, Gilmar Silva. POLITICAS Sociais como ferramenta para a garantia dos direitos do Idoso 2018. 52. Trabalho de Conclusão de Curso (Serviço Social) - Sistema de Ensino Presencial Conectado. Universidade Norte do Paraná, Andradas, 2018. RESUMO O tema abordado neste trabalho visa refletir sobre a ocorrência do envelhecimento, não como um fato fenomênico, mas como um processo natural no decurso da vida dos seres humanos, as implicações enquanto ente social, bem como sua vulnerabilidade frente a sociedade. Será demonstrada a existência das políticas sociais criadas para que se efetivasse a garantia dos direitos previstos para os idosos, no entanto, será exposto o senário brasileiro atual, o qual demonstra que o envelhecimento da população não tem sido acompanhado por medidas que garantam todos os direitos deste público. Frisar-se-á por oportuno, o surgimento dos direitos do idoso, sua origem pelo mundo, bem como sua implantação em nossa Carta Magna, as fontes de sua criação e análise das legislações até tempos atuais, destacando as alterações ocorridas e ainda as medidas que já foram utilizadas no país. Será destacado a importância da observância da velhice, como o transpasse para uma sociedade diversa e ligeiramente incutida aos grupos minoritários e vulneráveis. Por fim será destacada a importância da aplicação de medidas sociais voltadas para o idoso, afim de proteger seus direitos fundamentais, garantindo um envelhecimento saudável. Também serão analisadas situações como violência, descaso, exclusão social e preconceito, destacando que no Brasil, houve grandes intervenções na política brasileira com avanços e retrocessos no que se refere, de um lado, a implementação das políticas neoliberais e, de outro, um processo de lutas e conquistas da população idosa na efetivação de leis constitucionais que promovessem a dignidade da pessoa idosa. Por fim será abordada a importância do Serviço Social como forma interventora da garantia dos direitos dos idosos, bem como serão apresentados os temas das Conferências Nacionais dos Direitos do Idoso, ocorridos no país e as sugestões eficazes sobre a aplicabilidade de medidas sociais voltadas ao envelhecimento populacional o qual nos proporciona desafios, tais como a mudança de estereótipos de velhice, novos papéis sociais desempenhados pelos mais velhos, novos horizontes econômicos com o adiamento da idade para aposentadoria e o nascimento de um novo público de consumidores, novas possibilidades para transformar o ócio e tempo livre em momentos de saúde e desenvolvimento pessoal. Palavras-chave: Idoso, Família, Assistente Social. ABSTRACT The aim of this paper is to reflect on the occurrence of aging, not as a phenomenon, but as a natural process in the course of human life, its implications as a social entity, as well as its vulnerability to society. It will be demonstrated the existence of the social policies created to ensure the guarantee of the rights provided for the elderly, however, will be exposed the current Brazilian senate, which shows that the aging of the population has not been accompanied by measures that guarantee all rights this public. The emergence of the rights of the elderly, their origin around the world, as well as their implementation in our Magna Carta, the sources of their creation and analysis of the laws until current times, highlighting the changes that have taken place and also the measures which have already been used in the country. Emphasis will be placed on observance of old age as it transcends it to a diverse and slightly inculcated society of minority and vulnerable groups. Finally, the importance of applying social measures aimed at the elderly will be highlighted, in order to protect their fundamental rights, guaranteeing a healthy aging. It will also analyze situations such as violence, neglect, social exclusion and prejudice, highlighting that in Brazil, there have been major interventions in Brazilian politics with advances and setbacks, on the one hand, on the one hand, the implementation of neoliberal policies and, on the other, a process of struggles and achievements of the elderly population in the implementation of constitutional laws that promote the dignity of the elderly person. Finally, the importance of Social Work as an intervening way of guaranteeing the rights of the elderly will be addressed, as well as the themes of the National Conferences on the Rights of the Elderly in the country and the effective suggestions on the applicability of social measures aimed at the aging of the population which brings us challenges such as changing old age stereotypes, new social roles played by older people, new economic horizons with postponing retirement age and the birth of a new consumer audience, new possibilities for transforming leisure and free time in moments of health and personal development.. Keywords: Elderly, Family, Social Worker. Dedico este trabalho de pesquisa aos meus pais, a quem tenho como meus eternos heróis, que embora não estejam mais entre nós, permanecem vivos em meus pensamentos. À Deus rogo para que permita encontrá-los e abraça-los novamente. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por alcançado mais essa conquista, á ele toda honra e gloria. A minha querida e amada família pelo apoio prestado de forma incondicional. Amo cada um de vocês. A minha tutora de classe, que com muita competência me auxiliou na realização deste trabalho, não somente isto, mas pelas demonstrações de carinho, afeto, dedicação e amor. A coordenadora e todos os profissionais que trabalha em meu polo. Obrigado pelo apoio nos momentos difíceis dessa caminhada. Obrigado pela paciência e carinho que vocês me dispensaram. Aos amigos que mesmo de maneira inconsciente contribui para a realização deste trabalho. As minhas colegas de curso. Obrigado pela amizade, carinho e afeto vocês fizeram com que a jornada fosse mais agradável e feliz. Amo vocês. Obrigados a todos vocês, tem um pouco de vocês neste trabalho. Deus é nosso refúgio e fortaleza, auxilio sempre presente na adversidade. Salmos 46:1 ( bíblia King James Atualizada ) SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9 1 OS DIREITOS SOCIAIS DO IDOSO NO BRASIL ................................................. 11 1.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS .............................................................................. 11 1.2 DIREITOS HUMANOS ........................................................................................11 1.2.1 – 1ª Dimensão: Liberdade ................................................................................ 12 1.2.2 – 2ª Dimensão: Igualdade ................................................................................ 13 1.2.3 – 3ª Dimensão: Fraternidade ............................................................................ 14 2 LEGISLAÇÕES DE PROTEÇÃO AO IDOSO COMO DIREITO SOCIAL.............. 16 2.1 NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ........................................................... 19 2.1.1 O Princípio da Solidariedade ............................................................................ 20 2.1.2 O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ................................................. 21 2.2 NA POLITICA NACIONAL DO IDOSO – LEI 8.842 DE 1994 .............................. 22 2.2.1 Considerações importantes sobre a Política Nacional do Idoso – PNI ............. 23 2.3 NO ESTATUTO DO IDOSO – LEI 10.741 de 2003 ............................................. 24 2.3.1 Importância jurídica do Estatuto do Idoso ........................................................ 28 2.3.2 Deveres da família, comunidade, sociedade e Estado ..................................... 28 2.4 DEMAIS LEIS INFRACONSTITUCIONAIS DE DESTAQUE ............................... 34 3 AS POLITICAS SOCIAIS VOLTADAS PARA O IDOSO E A INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL PARA SUA APLICABILIDADE ................................................. 35 3.1 – CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS ................................................................... 35 3.2 – ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E SUAS ESTATISTICAS ATUAIS ..... 36 3.3 – A ORIGEM DAS POLÍTICAS PUBLICAS E SUAS DIFERENCIAÇÕES .......... 37 3.4 – A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL COMO INTERVENTOR DE DIREITOS . 44 4 As Conferências Nacionais dos Direitos do Idoso – CNDI como efetivação das políticas públicas SOCIAIS ..................................................................................... 47 4.1 – I Conferência Nacional dos direitos da Pessoa Idosa. Tema: Construindo a Rede Nacional de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa. .................................................... 47 4.2 – II Conferência Nacional dos direitos da Pessoa Idosa. Tema: Avaliação da Rede Nacional de Proteção e Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa: Avanços e Desafios 48 4.3 – III Conferência Nacional dos direitos da Pessoa Idosa. Tema: O compromisso de todos por um envelhecimento digno no Brasil ...................................................... 48 4.4 IV Conferência Nacional dos direitos da Pessoa Idosa. Tema: Protagonismo e Empoderamento da Pessoa Idosa – Por um Brasil de todas as Idades .................... 49 4.5 V Conferência Nacional dos direitos da Pessoa Idosa. Tema: Os Desafios de Envelhecer no Século XXI e o papel das políticas públicas. (Previsão para agosto de 2019) ......................................................................................................................... 49 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 51 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 54 9 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho de pesquisa traz como tema, as políticas sociais como garantia da efetivação dos direitos do idoso. Para isto é preciso compreender alguns fatores que, em caráter introdutório passaremos a tratá-los. O envelhecimento é processo natural decorrente da diminuição orgânica e funcional, que não decorre originalmente de patologia, vindo a acontecer com o decorrer do tempo de forma inevitável, podendo ser definido como um fenômeno natural e que em decorrência disto, geralmente apresenta um aumento da fragilidade e vulnerabilidade, que consequentemente traz consigo, agravos à saúde e ao estilo de vida destes entes sociais. Segundo Jacob e Filho (2006), “o envelhecimento fisiológico é definido como um conjunto de alterações que ocorrem no organismo humano que implica em perda progressiva da reserva funcional sem que comprometa as necessidades básicas de manutenção de vida. (JACOB-FILHO et al., 2006). Explicam ainda que, em contrapartida, “o envelhecimento patológico denomina-se como conjunto de alterações que ocorrem no organismo em decorrência de doenças e do estilo de vida que acompanha o indivíduo até a fase idosa”. (JACOB-FILHO et al., 2006). Com tais considerações, resta configurada a notória entrada dos idosos para os grupos minoritários e vulneráveis, motivo pelo qual se justifica o interesse de pesquisar sobre as possíveis maneiras de ao menos amenizar o problemas nesta faixa etária por que passam as pessoas. Como problema central deste trabalho de pesquisa, será analisado o seguinte questionamento: Qual a melhor forma de aplicabilidade da legislação que trata dos assuntos voltados para o idoso no Brasil? Neste interim será demostrada, sinteticamente a legislação que estabelece as diretrizes para os cuidados do idoso no Brasil, qual seja, a LEI No 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. A referida lei já tem 15 anos de atuação em nosso ordenamento jurídico, no entanto, verifica-se que sua plena aplicabilidade demonstra estar aquém do verdadeiro objetivo para o qual fora criada, tendo como desafio a sua plena efetivação. A falta de políticas de cuidados para os idosos que precisam de apoio é um dos desafios citados. Outros problemas que merecem destaque são a dificuldade de acesso a saúde, falta de abordagem de respeito com o idoso nas escolas, falta de política de emprego à estes, entre outros. 10 O objetivo geral da pesquisa é demonstrar a importância das políticas sociais voltadas para o idoso como instrumento para efetivação de direitos, onde se inicia com uma abordagem histórica dos direitos do idoso no Brasil e seus avanços, realiza uma explicação detalhada das medidas sugeridas pelos Estatuto do Idoso através da Lei 10.741/03, as quais, teoricamente se demonstram eficazes para a problemática exposta. No tocante aos objetivos específicos, primeiramente serão elencadas as fontes dos direitos dos idosos em nosso ordenamento jurídico, e demonstrado que elas são extraídas exclusivamente dos direitos fundamentais, onde serão expostos para uma melhor compreensão, as três primeiras dimensões dos direitos humanos; no segundo objetivo específico serão expostas as legislações que já existiram no Brasil e sua progressão até chegar no atual Estatuto do Idoso, e terá como foco mostrar suas mazelas e a falta de políticas voltadas para sua aplicabilidade, sendo realizada uma demonstração dos parâmetros de eficácia das medidas sugeridas pela referida lei, juntamente com os motivos que a dificultam; o terceiro objetivo específico, será aclarado, em tópico próprio, as política públicas voltadas para o idoso existentes, bem como a importância do serviço social, como intermediador de direitos entre o idoso e a lei existente. A metodologia empregada foi exclusivamente a revisão bibliográfica e teve caráter exploratório, tendo em vista a necessidade de se buscar na letra de lei os fundamentos legais para melhor compreensão do tema, bem como em obras referentes ao assunto estudado, sendo utilizadas fontes primárias e secundárias de pesquisas, as quais foram realizadas em livros, revistas online, publicações avulsas, dicionário online, etc., de maneira física e virtual. 11 1 OS DIREITOS SOCIAIS DO IDOSO NO BRASIL Os direitos sociais da pessoa idosa, está intimamente ligado ao diagrama dos direitos humanos e fundamentais inerentes a todos. Desta forma, em caráter preliminar, faz-se necessárioexplanar, de maneira sucinta, os conceitos relacionados aos direitos humanos e aos direitos fundamentais, sendo que este trata-se dos direitos relacionados a liberdade e a igualdade, e aquele aos direitos positivados na Constituição Federal. Nota-se, portanto, que seu conteúdo é praticamente o mesmo, diferindo-se apenas pelo plano em que estão consagrados. 1.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS Os Direitos Fundamentais, são os direitos básicos individuais, sociais e políticos e estão previstos na Constituição Federal de uma nação, os quais devem ser protegidos pelo Estado. No Brasil a Carta Magna de 1988, estabelece em seu artigo 5º, um rol de direitos fundamentais a todo o povo brasileiro, seja nato ou naturalizado, estendendo-se ainda, aos estrangeiros. Estão subdivididos em três núcleos, sendo eles: os direitos individuais e coletivos; os direitos sociais e da nacionalidade; e os direitos políticos. A vida, a saúde, a liberdade, a igualdade, a segurança, a educação, a moradia, o trabalho, a assistência aos desamparados são alguns dos exemplos dos Direitos Fundamentais contidos no artigo 5º caput, de nossa Constituição Federal, e in verbis: Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (BRASIL, 1988 online) 1.2 DIREITOS HUMANOS Ao contrário dos direitos fundamentais, os quais estão balizados internamente nas legislações de uma nação, e são fornecidas pelo Estado para todos seus cidadãos, os Direitos Humanos tem suas definições voltadas a todos os seres humanos e em nada se confunde com aquele. Possuem caráter universal e atemporal, 12 e valem para todas as pessoas do mundo. As confusões entre Direitos Humanos e Direitos fundamentais se dão em virtude deste último ser necessariamente inspirado no primeiro. Dadas exordiais explanatórias, verifica-se que os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição. A Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu preâmbulo, estabelece e determina o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, em relação a proteção de tais direitos. Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla, … a Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações (Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1988 p.4). Os direitos humanos são estabelecidos aos moldes das necessidades de cada época de acordo com os contextos históricos dos períodos vividos, o que dá a eles uma visão de progressão e/ou evolução. No ano de 1979 o Karel Vasak, jurista tcheco- francês, inspirado no lema da revolução francesa (liberdade, igualdade e fraternidade), fez a primeira divisão dos direitos humanos em dimensões, de acordo com a seguinte estrutura: 1.2.1 – 1ª Dimensão: Liberdade A primeira dimensão dos direitos humanos é relativa a diminuir a influência do Estado na vida particular dos indivíduos, o que representava o Estado Liberal. Conforme expresso, esta dimensão tratava-se da abstenção do Estado na vida do indivíduo, ou seja, de acordo com esta teoria, a intervenção do Estado se dá pelo dever de proteção de sua esfera de autonomia, todavia necessitava, por conseguinte, de uma atuação ativa do mesmo, para que tais direitos fossem garantidos aos homens. 13 1.2.2 – 2ª Dimensão: Igualdade Com a Revolução Industrial, o senário mundial se vê numa descontrolada marcha de desenvolvimento das técnicas de produção em grande escala, que por consequência gera um alto crescimento econômico no século XIX. Todas as benesses obtidas no referido período, não trouxe tão somente benfeitorias à sociedade. A garantia da liberdade e intervenção mínima do Estado estabelecida pela primeira dimensão dos direitos, denota-se por um desequilíbrio, social, já que o exacerbado desenvolvimento se deu com o sacrifício da classe trabalhadora. O conjunto estabelecido pelo crescimento econômico, o enriquecimento de uma pequena classe e a produção em grande escala passa a suscitar inúmeros problemas no âmbito social, acarretando por conseguinte o descontentamento da população. A igualdade conquistada na primeira dimensão, prevista no sistema liberal em relação a intervenção mínima do Estado, passa a ser vislumbrada de maneira estritamente formal. Desta forma, faz-se necessária a intervenção do Estado para trazer o equilíbrio social e garantir aos povos, os direitos que passaram a serem tão somente intrínsecos aos cidadãos. Em síntese, a primeira dimensão do sistema liberal, a qual inibia a atuação do Estado, no contexto na revolução industrial, é provocador do aumento da desigualdade vindo a população atuar pela clemência de um sistema de contrapesos, a transformar a igualdade formal em material para que houvesse um desenvolvimento da sociedade de forma geral, e não apenas uma pequena classe, vislumbrava-se portanto o apelo pela igualdade social. Nas palavras de Paulo Bonavides, nesta fase: Estado social é enfim Estado produtor de igualdade fática. Trata-se de um conceito que deve iluminar sempre toda hermenêutica constitucional, em se tratando de estabelecer equivalência de direitos. Obriga o Estado, se for o caso a prestações positivas; a promover meios, se necessários, para concretizar comando normativos de isonomia. (BONAVIDES, Paulo. Op. cit. p. 343) 14 A segunda dimensão desencadeou uma série de direitos sociais, merecendo destaque os direitos trabalhistas, e ainda a seguridade social para aqueles que adentravam no avanço da idade. No ínterim desta fase, destaca-se por oportuno a dignidade da pessoa humana, e por conseguinte alguns dos direitos do idoso passam a ter singelos olhares do Estado, que aportou na consistência dos direitos voltados a igualdade econômica, social e cultural, que deve se dar através de prestação positiva obrigatórias impostas ao Estado para alcançar a justiça social. Embasados na doutrina de André de Carvalho Ramos (RAMOS, P. 324. 2014) temos duas espécies de direitos sociais, à saber: i) direitos prestacionais. Exemplos: liberação de medicamentos em favor dos necessitados; ii) direitos de abstenção, os quais o Estado deveria se abster de interferir de modo indevido. Exemplos: liberdade de associação sindical e direito de greve. 1.2.3 – 3ª Dimensão: Fraternidade Direitos de terceira dimensão tem suas especificidades no tocante a solidariedade ou fraternidade, sendo conferidos de forma geral a toda sociedade, salvaguardando interesses coletivos ou difusos, não se destinando apenas à proteção dos interesses individuais, de um grupo ou de um determinado Estado. Destaca-se neste contexto dimensional, a preocupação com as gerações humanas presentes e futuras. Esta dimensão encontra origem na chamada terceira revolução industrial ou tecno-científica, a qual se dá pelos avanços tecnológicos da comunicação e de transportes. Para melhor elucidação em relação aos direitos coletivos e difuso, faz-se mister trazer a baila o conceito previsto no Código de Defesa do Consumidor em seu artigo 81 in verbis: Art. 81. A defesa dos interessese direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de 15 fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum. (BRASIL, 1990 online) Sobre a terceira dimensão, o direito ao desenvolvimento, à autodeterminação dos povos, de propriedade, de comunicação, progresso, direito a paz, ao meio ambiente, são alguns dos exemplos que compõem o seu rol, sendo alguns deles coletivos e outros difusos, percebendo-se neste aspecto, sua caraterística de direitos transindividuais, ou seja são concebidos para a proteção de coletividades ou grupos e não à proteção do homem isoladamente. Paulo Bonavides, em relação aos direitos de terceira geração, destaca: Com efeito, um novo polo jurídico de alforria do homem se acrescenta historicamente aos da liberdade e da igualdade. Dotados de altíssimo teor de humanismo e universalidade, os direitos da terceira geração tendem a cristalizar-se no fim do século XX enquanto direitos que não se destinam especificamente à proteção dos interesses de um indivíduo, de um grupo ou de um determinado Estado. Tem primeiro por destinatário o gênero humano mesmo, num momento expressivo de sua afirmação como valor supremo em termos de existencialidade concreta. (BONAVIDES, Paulo. Op. cit. p. 569) É certo que as dimensões dos direitos humanos seguem marcha ininterrupta com relação a progressão, no entanto, para o objeto desta obra acadêmica, não se faz necessário o estudo das demais dimensões, já que fora exatamente neste momento histórico, que começam serem visualizados os grupos minoritários e vulneráveis, dentre os quais estão contidos os direitos do idoso. Em decorrência disto, ocorre o surgimento das políticas sociais de proteção destes grupos, o que será melhor especificado no discorrer deste trabalho de pesquisa. 16 2 LEGISLAÇÕES DE PROTEÇÃO AO IDOSO COMO DIREITO SOCIAL Percebe-se que a presença da pessoa idosa, desde os primórdios contempla os quadros sociais verificados na coletividade, contribuindo de forma veemente para que a engrenagem social tenha seu pleno desenvolvimento, seja na condição ativa, através de ações materiais, seja na passiva como ente social portador de direitos e deveres objeto de demandas a seu direcionamento, e ainda na condição de meros conselheiros, que se justifica pela experiência adquirida e compartilhada com os mais jovens, no sentido de contribuir com o pensar e agir da sociedade contemporânea. Daí se extrai o motivo pelo qual estabelecer políticas sociais voltadas ao idoso. A Doutora em serviço Social Jeanete Liasch Martins de Sá, traz suas afirmações sobre o tema: O idoso é um ser de seu espaço e de seu tempo. É o resultado do seu processo de desenvolvimento, do seu curso de vida. É a expressão das relações e interdependências. Faz parte de uma consciência coletiva, a qual introjeta em seu pensar e em seu agir. (SÁ 2002, p. 1120) Deveras, a conscientização a que se refere a autora em comento, já pode ser visualizada em nosso ordenamento Jurídico na Carta Magna Brasileira de 1988, na Política Nacional do Idoso – Lei 8.842 de 1994 e no Estatuto do Idoso – Lei 10.741 de 2003, no entanto importa salientar que desde 1948 a proteção dos direitos do idoso já era conhecida pela Declaração Universal de Direitos como versa seu artigo XXV, in verbis XXV. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. (Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1988 p.4) O escopo geral sobre os direitos do idoso na Constituição Federal, está previsto 17 num único artigo de forma expressa, qual seja, art. 230 in verbis: Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. § 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares. § 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos (BRASIL, 1988. Online) A garantia dos direitos do idoso, está intimamente ligada à promoção da dignidade da pessoa humana, tal qual fora estabelecida na Carta Magna Brasileira de 1988, como um dos fundamentos da referida Constituição, podendo ser visualizada logo em seu artigo 1º. Destarte, todos os cidadãos são iguais em dignidade sendo desconsiderada por oportuno sua faixa etária, tal artigo denota-se como preceptor constitucional é o que afirma o professor Ingo Wolfgang Sarlet [...] na condição de princípio fundamental, a dignidade da pessoa humana constitui valor-guia não apenas dos direitos fundamentais, mas de toda a ordem constitucional, razão pela qual se justifica plenamente sua caracterização como princípio constitucional de maior hierarquia axiológico-valorativa. (SARLET 2005, p.35) A atuação do Estado na garantia dos direitos dos idosos é essencial para que ocorra sua efetivação, no entanto, faz-se necessário a participação de forma harmônica de diversos outros polos, para que se obtenha a eficácia esperada dos referidos dispositivos legais. Desta forma, pretende-se que Estado, Família e Sociedade sejam protagonistas que comungam do princípio da solidariedade para com seus idosos, trabalhando de forma integrada para garantir a valorização dos idosos enquanto entes sociais. Em relação as leis brasileiras referentes ao idoso merecem destaque além da 18 Constituição Federal de 1988, as seguintes legislações: a) 1989: Portaria Federal de nº 810/89 do Ministério da Saúde, que determina a normatização do funcionamento padronizado de instituições ou estabelecimentos de atendimento ao idoso. (BRASIL.1989, online) b) 1991: aprovação dos Planos de Custeio e de Benefício da Previdência Social, estabelecendo novas regras para a manutenção do valor real dos benefícios. c) 1993: Estatuto do Ministério Público da União e a Lei nº. 8.742/93 – Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) –, reconhecida como política de seguridade social responsável pela garantia de proteção social à população socialmente mais exposta a riscos. (BRASIL. 1993, online) d) 1994: Política Nacional do Idoso. Lei 8.842 de 4 de Janeiro de 1994. (BRASIL. 1994, online) e) 1995: Decreto nº. 1.605, de 25/08/1995, que regulamentou o Fundo Nacional de Assistência Social. (BRASIL. 1995, online) f) 1996: Decreto nº. 1.948, de 03/07/1996, que regulamentou a Política Nacional do Idoso e criou o Conselho Nacional do Idoso. (BRASIL. 1948, online) g) 2003: Lei 10.741 de 01 de Outubro de 2003 – Estatuto do Idoso. (BRASIL. 2003, online) h) 2004: Política Nacional de Assistência Social (PNAS).Aprovado pela Resolução CNAS 145, de 15 de outubro de 2004. i) 2006: Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa e o Pacto pela Saúde, instituído pela Portaria do Ministério da Saúde nº 399/06, que se constitui em um conjunto de reformas institucionais do Sistema Único de Saúde – SUS –, compartilhado pela União, pelos estados e municípios. j) 2010: Lei nº 12.213, de 20 de janeiro de 2010, que instituiu o Fundo Nacional do 19 Idoso, autorizando a dedução do Imposto de Renda a pessoas físicas e jurídicas para doações realizadas aos fundos municipais, estaduais e nacionais do idoso, sendo que a verba é gerida pelo Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa. Torna-se válido trazer à baila, neste trabalho acadêmico explanações de algumas destas legislações, as quais foram fundamentais para efetivação dos direitos sociais do idoso: 2.1 NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 No que tange ao direito do idoso, conforme já elencado, temos apenas um artigo na Constituição Federal tratando deste assunto, porém extraímos do texto Constitucional, de maneira intrínseca, vários outros pontos de destaque em relação a proteção dos indivíduos em idade avançada, como por exemplo no direito previdenciário previsto em seu artigo 201, I e no direito assistencial previsto no artigo 203, I e V. Em seu Título VIII – da Ordem Social, verificamos com mais ênfase o direito dispensado aos idosos, mais precisamente no citado artigo 230. É certo que a hermenêutica estabelece linhas diversas de interpretação do referido dispositivo legal, portanto a que mais se adequa em relação a proteção dos direitos em comento merece destaque no presente trabalho, é o que se extrai do entendimento de André Ramos Tavares, ao afirmar que “O título VIII é inteiramente dedicado ao tratamento da ‘Ordem Social’. É necessário esclarecer, contudo, que o tema insere-se no contexto dos denominados direitos sociais” (TAVARES 2008, p.772). Os direitos sociais estão presentes no artigos 6º ao 11º e correspondem a educação, saúde, trabalho, alimentação, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados. Alexandre de Moraes, explica tais direitos como Direitos Fundamentais do homem: Caracterizando-se como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria de condições de vida aos hipossuficientes, visando à concretização da igualdade social. (MORAES 2008, p. 193) 20 Desta maneira tais artigos devem receber tratamento do Estado como atuação positiva, no sentido de sempre buscar a igualdade social dos menos favorecidos. Neste contexto as políticas públicas encontram vasto campo de atuação, quando, em destaque verificamos, as explanações contidas no 193, onde o constituinte define que “A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais”. Isto posto, temos que visando corrigir as desigualdades, políticas sociais voltadas aos destinatários deste aparato legal, em especial ao idoso, foco desta obra, quer parecer extremamente necessárias para sua efetivação. Percebe-se que a responsabilidade emanada pelo legislador para amparar os idosos, não se concentra apenas no Estado, mas começa no núcleo familiar, passando pela sociedade e por fim o Estado. Em linhas gerais, observa-se que o intento seja, de fato a atuação articulada de todos os setores sociais e políticos para a proteção do idoso, e de forma ampla garantir os direitos das pessoas maiores de sessenta anos. Ao analisar o artigo 230, sobre a família, encontramos o posicionamento de Fernando Capez: Tem-se que o conceito de família a ser aplicado deve ser o mais abrangente possível, ou seja, para abrigar qualquer parente em linha reta (consanguíneo ou legal) além dos colaterais até o quarto grau. (CAPEZ 2008 p. 579) Na busca do melhor conceito de família, encontra-se posicionamentos diversificados estabelecidos por inúmeros autores, no entanto para todos eles, a família é considerada a base da sociedade, sendo que seu chamamento para o cuidado com os idosos nada mais é do que buscar a interação entre as gerações, e ainda buscar o despertar de sentimentos de respeito e solidariedade com estes entes, por muitos, queridos. 2.1.1 O Princípio da Solidariedade Em relação à solidariedade, esta deve ser compreendida, não apenas como um sentimento, mas como um princípio norteador que agregado com outro princípio, a dignidade da pessoa humana, consagra-se como ápice para o árduo trabalho social a ser desenvolvido em relação à proteção dos direitos do idosos. Sobre os princípios, 21 Humberto Ávila, afirma que são “normas finalísticas, que exigem a delimitação de um estado ideal de coisas a ser buscado por meio de comportamentos necessários a essa realização” (ÁVILA 2006, p 91). Para entender a presença inserta do princípio da solidariedade no artigo 230 da atual Constituição no ano de 1988, faz-se necessário elencar que este vem sendo construído desde a antiguidade, já sendo possível sua visibilidade nas teorias clássicas de Platão e Aristóteles quando se buscava uma convivência social justa e harmoniosa. O pós-revolução industrial, quando o senário passou a demonstrar a opressão e exploração dos trabalhadores, contribuiu para o desenvolvimento de olhares críticos. Em consequência disto surgiram os sindicatos dos trabalhadores e associações como forma de elencar ideais de união e ajuda ao próximo, como forma de se viver melhor e promoção da justiça social solidária. A solidariedade foi recebida pela Constituição de 88, como norma e objetivo da República Federativa do Brasil, conforme se extrai do seu artigo 3º. A presença da solidariedade no artigo 230 da Constituição é visualizada quando o referido artigo determina a união entre os já citados protagonistas da Ordem social, à saber: a família, a Sociedade e o Estado. 2.1.2 O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana A dignidade da pessoa humana é princípio essencial do ordenamento jurídico Brasileiro, e pressupõe a ideia de maioral em relação aos demais, sendo oportuno apontar o entendimento de André Ramos Tavares ao afirmar ser este também “o reconhecimento daquilo que se poderia denominar como ‘direito à velhice” (TAVARES 2008, p. 550). Desta forma entendemos que o reconhecimento da garantia deste princípio quer parecer o direito da “dignidade do idoso”, ou “direito à velhice”. O Autor complementa seu raciocínio dizendo: Ora, decorrência desse posicionamento constitucional está em que os direitos referidos aos idosos não são apenas aqueles indicados expressamente pela norma constitucional do art. 230. São todos aqueles imprescindíveis para garantir dignidade à vida daqueles que se encontrem na condição de “idosos”. Nessa perspectiva, o direito à velhice coloca-se como direito que há de tutelar-se desde o início da vida do indivíduo. (TAVARES 2008, p. 550) 22 Efetivamente, resta evidenciado que a velhice é consagrada na Constituição brasileira como fruto da dignidade da pessoa humana, sendo nesse aspecto que também permeia o direito do idoso, fazendo-se entender que toda sociedade é responsável pela tutela desse direito. O contexto constitucional não é carta solitária em relação a proteção do idoso. Neste caso, O Estatuto do Idoso se apresenta como a parceria necessária para o avanço legislativo referente a espécie, pois reúne e sistematiza os direitos e obrigações dos protagonistas geradores do amparo ao idoso. Conhecer a estrutura do referido Estatuto é fundamental para entendera como são reguladas as políticas sociais voltadas ao idoso. No entanto, antes de dispensarmos ao estudo do Estatuto do Idoso, faz-se necessário sintetizar um aparato legal criado no ano de 1994. 2.2 NA POLITICA NACIONAL DO IDOSO – LEI 8.842 DE 1994 Muito embora tenha sido inserido as questões do envelhecimento na Constituição Federal de 1988, não se tinha especificidade tampouco os referidos moldes, sendo que apenas no ano de 1994 foi instituída uma política nacional específica para os idosos através da Lei 8.842 de 1994, que cria condições para promoção da autonomia, integração e participação efetiva do idoso na sociedade. Para a lei em questão, destacam-se os 5 princípios norteadores da seguinte forma: A Política Nacional do Idoso tem sua base em cinco princípios estabelecidos no art. 3º apresentados da seguinte maneira: I - a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida; II - o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos; III - o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza; IV - o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem efetivadas através desta política; 23 V - as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradições entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas pelos poderes públicos e pela sociedade em geral, na aplicação desta Lei. (BRASIL, 1994 online) A referida lei foi criada sob a ótica de que a garantia do acesso da pessoa idosa aos direitos que lhe são assegurados perante lei é expressão da sua cidadania e, como tal, deve ser viabilizado tanto pela esfera governamental, quanto pela sociedade civil. Foi através dos olhares voltados para este quadro que percebeu-se a necessidade e a importância de se criar condições para que ao processo de envelhecimento fosse garantido as pessoas a qualidade de vida e melhores condições durante a velhice, sendo necessária a execução de políticas públicas voltadas a pessoa idosa visando a real efetivação dos direitos já previstos em lei. 2.2.1 Considerações importantes sobre a Política Nacional do Idoso – PNI Conforme elencado a PNI foi instituída através da lei Federal 8.842 de 04 de janeiro de 1994, criando o Conselho Nacional do Idoso. Contém 6 Títulos, que estabelecem sua finalidade; princípios e diretrizes; trata da organização e gestão; das ações governamentais; do Conselho Nacional e suas disposições gerais. Esta lei estabeleceu as competências das entidades e dos órgãos públicos com tal finalidade, promoveu a articulação e integração de ministérios que foram movidos para a elaboração de plano governamental em nível nacional. Percebe-se portanto que esta foi a primeira legislação para assegurar os direitos do idoso, Para a sua coordenação e gestão, foi designada a Secretaria de Assistência Social do MPAS, que mais tarde se transformou no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS. Pela Lei 8.842, na ocasião também foi gerado o Conselho Nacional dos Direitos do Idoso – CNDI, sendo implementado no ano de 2002. O Objetivo central da PNI era o de assegurar os direitos do idoso, promoção de sua autonomia e interação com a sociedade. Trouxe o conceito brasileiro de idoso, como sendo a pessoa maior de 60 anos, evoca os direitos do idoso como sendo direito de cidadania assegurados pela família, pela sociedade e pelo Estado; proíbe qualquer tipo de discriminação; coloca diretrizes, como participação e convívio social, 24 participação na formulação, implementação e avaliação de políticas, planos, programas e projetos; prioridade de atendimentos no lar; capacitação e reciclagem para os prestadores de serviços; informação e divulgação das políticas, serviços, planos, programas e projetos; divulgação de informações sobre aspectos biopsicossociais do envelhecimento; prioridade no atendimento em órgãos públicos e privados prestadores de serviços; apoio a estudos e pesquisas sobre questões do envelhecimento (BRASIL, 1994 online). Importante salientar que estão contidas também nesta Lei as obrigações relativas aos órgãos e às entidades no que diz respeito à criação de locais especiais para suporte às necessidades e atendimento aos idosos (centros de convivência, centros de cuidados diurnos, casas-lares, oficinas abrigadas de trabalho e atendimento domiciliar). Destaca-se também na PNI o incentivo a criação de universidade aberta para a terceira idade, como meio de universalizar o acesso às diferentes formas do saber; a participação do idoso no mercado de trabalho e a proibição de qualquer tipo de discriminação. 2.3 NO ESTATUTO DO IDOSO – LEI 10.741 DE 2003 O Estatuto do Idoso é uma Lei orgânica destinada a regulamentar os direito das pessoas com idade avançada, e para efeitos desta Lei, são considerados idosos, nos termos do artigo 1º, as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Seu surgimento está ligado com o que prova as pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), segundo o referido Instituto “A expectativa de vida do brasileiro subiu para 72,3 anos em 2006”, número que cresceu consideravelmente, já que “em 1960, era de 54,6 anos.” (INSTITUTO 2010, online). A referida lei é composta por sete títulos, e contém118 artigos que estabelecem as garantias ao direito do idoso. As normas contidas nesta Lei versam sobre os direitos fundamentais, como o Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade, aos Alimentos, à Saúde, à Habitação, ao Transporte, Medidas de Proteção; Política de Atendimento ao Idoso; Acesso à Justiça; e também sobre os Crimes. Cumpre destacar que o Estatuto do Idoso é o resultado do trabalho de diversas entidades entre as quais se encontra a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, além de profissionais de diversas áreas como da saúde, direitos humanos e assistência social, além dos parlamentares do Congresso Nacional. 25 Vigente desde 2004, o Estatuto veio consagrar e ampliar os direitos que já existiam através da Política Nacional do Idoso através da Lei 8.042 de 1994, bem como os previstos na Constituição Federal de 1988, se consolidando como um poderoso instrumento para a garantia da cidadania e vida digna dos cidadãos daquela faixa etária. Além de direitos fundamentais acima elencados, cumpre expor que ao longo de seus artigos, pode-se destacar no Estatuto, desde garantias prioritárias, até aspectos relativos a transporte, direitos à liberdade, respeito a vida, além de especificar as devidas funções das entidades de atendimento, questões sobre educação, cultura, esporte e lazer e ainda as ações por parte do Estado como da sociedade. As questões elencadas recebem um tratamento minucioso neste regulamento, no entanto para uma melhor compreensão das mais significativas resta expô-las de maneira sintética conforme segue: a) Aposentadoria O Estatuto não faz menção em relação a aposentadoria por idade, no entanto extrai-se do artigo 34, aos idosos que não possuam meios para subsistência, com mais de 65 (Sessenta e cinco) anos, nem de tê-la provida por sua família, a garantia do benefício mensal de 1 salário mínimo, nos termos da Lei Orgânica de Assistência Social. De acordo com o artigo 29, Parágrafo único, o reajuste dos benefícios devem ocorrer na mesma data dos reajustes do salário mínimo, porém seus percentuais devem ser definidos em regulamento próprio. b) Incentivos culturaisO artigo 23 promove o estabelecimento do desconto de pelo menos 50% nas atividades culturais, de lazer e esportivas, além do acesso prioritário aos respectivos locais; c) Gratuidade nos transportes públicos Está garantido nos termos do artigo 39 a gratuidade em transportes coletivos 26 públicos aos maiores de 65 anos, com as ressalvas estabelecidas pelos §§ 1, 2 e 3, que estabelece o detalhamento no caso do transporte coletivo intermunicipal e interestadual, devendo ficarem reservadas duas vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou inferior a dois salários mínimos e desconto de 50% para os idosos da mesma renda que excedam essa reserva; d) Prioridade na tramitação dos processos Os processos cuja tramitação se deem nas esferas judiciais ou administrativas deverão priorizar os casos cuja participação se dê por pessoas maiores de 60 anos. Vale dizer, que o Poder Público poderá criar varas especializadas e exclusivas para idosos, é o que se extrai do artigo 70 do Estatuto. Importante salientar que a prioridade de que trata este artigo não sessará com a morte do figurante, mas se estenderá ao cônjuge, companheiro(a) com união estável maior de 60 anos. e) Espaços ou horários especiais nos meios de comunicação Trata-se de uma garantia, que tem suas finalidades originadas da necessidade de conscientização do público idoso, em relação a saúde, participação na sociedade entre outros assuntos, já que é através dos meios de comunicação que as pessoas podem melhor se informar dos mais diversos assuntos de seu interesse. De acordo com tal determinação, jornais, rádios, televisão, internet devem ter espaços voltados a público da terceira idade. Ocorre que tal dispositivo, não tem atuação coercitiva, que obrigam tais veículos de comunicação a obedecer a norma imposta pelo artigo 24 do Estatuto, que também não prevê sanções para seu descumprimento. Vale dizer que a regular contida neste sentido, é forte meio para a quebra dos preconceitos existentes em face da população idosa, e sua aplicabilidade traria além de outros pontos importantes, um conceito melhor sobre o amor aos idosos, bem como o incentivo ao amparo e cuidado pela família, sociedade e Estado. f) Planos de Saúde Muito embora a Política Nacional de Saúde do Idoso, tenha sido regulada antes de sua entrada vigor, este diploma vem com o intuito de garantir sua efetividade dando 27 a ela respaldo jurídico necessário para que os gestores tenham meios para tornar suas ações efetivas e com primazia de atendimento. Em relação ao Sistema Único de Saúde, o idoso tem direito de receber o que for necessário para seu tratamento conforme os dispostos no Estatuto, o que engloba o fornecimento gratuito de medicamentos, principalmente os de uso continuo, assim como próteses, órteses e demais recursos para relativos ao seu tratamento de saúde. É certo que neste contexto, encontra-se as mazelas originadas pela falta de recursos públicos entre outras situações que tornam falho o atendimento dispensado para o idoso fornecido pelo SUS, fazendo com que os idosos busquem alternativas em planos particulares, que para sua manutenção, muitas vezes, sacrificam suas necessidades básicas. Nesta seara, a lei veda a discriminação do idoso com a cobrança de valores diferenciados e abusivos em razão da sua faixa etária. Outro aspecto importante em relação a saúde do idoso presente no Estatuto, é possibilidade do atendimento domiciliar em casos de incapacidade de locomoção, quando da necessidade de realização de perícias do INSS para obtenção de laudos que lhes garantam direitos. Nestes casos o profissional de saúde é quem deverá se locomover até a residência do idoso para realização dos referidos trabalhos, fazendo com que este não seja obstáculo para perpetuação do seu direito. Por fim, no quesito saúde a Lei 13.466 de 2017 trouxe uma alteração importante no artigo 15, onde estabelece a preferência especial dos idosos acima de 80 anos sobre os demais idosos, exceto nos casos de emergência. g) Habitação O direito à habitação tem suas previsões no contexto constitucional de direitos sociais, dentre os quais, são conferidos a dignidade da pessoa humana, ou seja, o conceito de moradia digna integra o conceito de subsistência, o que gera a destinação de recursos públicos para programas habitacionais. Neste aspecto, o Estatuto tem previsões para garantir ao idoso prioridade para a compra de moradia nos programas habitacionais, mediante a reserva de 3% das unidades, sendo prevista, ainda, a implantação de equipamentos urbanos e comunitários voltados para acessibilidade das pessoas nesta faixa etária. Caso verificada a inexistência do seio familiar, ou faltar condições financeiras para subsistência do idoso, a este será garantido a assistência integral de longa 28 permanência, para que se opere as garantias previstas da moradia digna. O Estatuto obriga ainda que as instituições que abrigarem idosos, mantenham padrões de uma vida digna e saudável para os mesmos compatíveis com suas necessidades, o que inclui alimentação regular, higiene constituindo infração administrativa o seu não cumprimento destes quesitos. 2.3.1 Importância jurídica do Estatuto do Idoso Além das questões consideradas significativas, merece destacar que o trâmite do Estatuto do Idoso durou 6 (seis) anos pelo Congresso Nacional até ser, sancionado pelo então Presidente da República em outubro de 2003. Suas normas encontram seara em preceitos amplamente debatidos pela sociedade, revelando um caráter protetivo dos direitos de parcela da população, dada como minoritária e dotada de vulnerabilidade. A partir de sua entrada em vigor, os idosos passam a ter proteção jurídica para usufruir de seus direitos sem depender de favores ou passar por situações constrangedoras para receber sua destinação. Mas para que tudo isso se torne possível, faz-se necessário que ocorra a adesão de toda sociedade na conscientização de seus preceitos para que haja a transformação, de fato, da teoria à pratica na vida dos idosos que integram a nação brasileira e seu ordenamento jurídico. 2.3.2 Deveres da família, comunidade, sociedade e Estado Encontra-se destaque nesta legislação em seu artigo 3º., a obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público em assegurar ao idoso, com prioridade a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Neste aspecto, salvo melhor juízo, subentende- se que tal prioridade supera toda faixa etária restante, quais sejam: jovens, adultos e crianças. A garantida da prioridade está prevista no § 1º, inciso III do artigo 3º deste Estatuto, in verbis: § 1º A garantia de prioridade compreende: 29 I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população; II – preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específicas; III – destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao idoso; IV – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais gerações; V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência; VI – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria egerontologia e na prestação de serviços aos idosos; VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento; VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais; IX – prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda. (BRASIL 2003, online) a) O papel da família As determinações contidas no Estatuto, reforçam a ideia de que o princípio da dignidade da pessoa humana consagrado pelo texto constitucional, deve nortear, inclusive as relações familiares. Sendo a família, de fato, o núcleo da sociedade é esta a responsável pelo desenvolvimento do indivíduo, não tendo apenas o cunho reprodutivo, sendo também fonte de afeto e solidariedade, o que vai além de meros laços sanguíneos. Prevê o artigo 229 da Constituição Federal, “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade” (BRASIL, 1988). Daí o entendimento de que como os pais têm o dever de cuidar dos filhos enquanto menores, os filhos maiores devem amparar os pais na sua velhice. 30 Na ótica deste entendimento o Estatuto estabelece as diretrizes que determinam o papel da família nos cuidados com o idoso. Nesta seara, o abandono material dos pais idosos, gera responsabilidade civil em relação a estes, bem como responsabilidades penais. Nas palavras de Marco Antônio Vilas Boas: Infelizmente precisou que tal dispositivo ficasse assim escrito. É vergonhoso que a obrigação alimentar, mais moral que material, necessitasse ficar registrada na Lei Maior. Este dever é anterior a qualquer lei. É uma obrigação de cunho afetivo e moral. Qualquer filho que tenha caráter e sensibilidade terá que cumprir fielmente este dever de consciência (VILAS BOAS 2005 p. 31) Em relação a responsabilidade penal, para melhor ilustrar o intento deste tópico, importante trazer à baila os ditames previstos no artigo 133 do Código Penal: Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender- se dos riscos resultantes do abandono: Pena - detenção, de seis meses a três anos. § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Aumento de pena: § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço: I - se o abandono ocorre em lugar ermo; II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima. III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. (BRASIL. 1948, online) Fica desta forma elencado, que o Estatuto do Idoso prescreve que compete principalmente à família, a obrigação de garantir ao idoso a efetivação do direito à 31 vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. O violação destes direitos desencadeia a responsabilização dos filhos, com base nos artigos nos arts. 186 e 927 do Código Civil, in verbis: Art. 186 - Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito (BRASIL. 2002 online). Art. 927 - Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo (BRASIL. 2002 online). Em decorrência do abandono material os pais idosos têm o direito de receber pensão alimentícia dos filhos quando estes não possuírem meios próprios, ou recursos suficientes para subsistência, recursos estes, para manutenção própria, alimentação, remédios, assistência médica, pagamento de despesas básicas como água, luz, gás, telefone e até cuidadores ou empregados, se o idoso não puder viver sozinho. De acordo com Orlando Gomes (1978 p. 455) “alimentos são prestações para satisfação das necessidades vitais de quem não pode provê-las por si”. O direito a alimentos decorre do princípio da solidariedade familiar e pode ser considerado um direito fundamental por ser essencial para a sobrevivência do indivíduo. De acordo com o art. 11 do Estatuto do Idoso, "os alimentos serão prestados ao idoso na forma da lei civil". No Código Civil, é bom relembrar, a matéria está disciplina nos arts. 1.694 a 1.699. Em decorrência do abandono afetivo, como inúmeros casos de filhos que deixam seus pais em asilos e não retornam mais, sequer para visita-los, os idosos acabam sendo privados da convivência familiar, afrontando com veemência os disposto no artigo 3º do presente Estatuto, sobre a assistência afetiva. É com base nas consequências projetadas pelo abandono afetivo, que o legislador encontra base para assim preceituar, uma vez que a omissão por parte dos filhos em relação a este preceito, gera aflição, dor, sofrimento e até a morte. Álvaro Villaça Azevedo, pontua que: 32 O descaso entre pais e filhos é algo que merece punição, é abandono moral grave, que precisa merecer severa atuação do Poder Judiciário, para que se preserve não o amor ou a obrigação de amar, o que seria impossível, mas a responsabilidade ante o descumprimento do dever de cuidar, que causa o trauma moral da rejeição e da indiferença. (AZEVEDO 2004 p. 14) Insta salientar, que o abandono afetivo dos filhos gera o dever de indenizar e essa indenização tem um caráter punitivo, compensatório e pedagógico. b) O papel da comunidade e da sociedade Os institutos constitucionais que versam sobre a proteção dos direitos e garantias fundamentais, tende a alcançar a todos os cidadãos sem exceções, e o principal instrumento legal para proteção aos direitos do idoso é o Estatuto. Consta do artigo 3º que também é obrigação da comunidade e da sociedade assegurar os direitos do idoso. Num ambiente onde parte da população se deixa levar pelo preconceito e discriminação, bem como pelo descaso e omissão de seus deveres, impera a necessidade de tomadas de providências por parte do Estado para que seja garantido os direitos dos idosos. É neste senário que a sociedade tem o seu papel, na condição de espectadores e defensores dos direitos alheios. O dever que os filhos têm de cuidar dos idosos da família, deve ser entendido como uma obrigação natural, vindo antes do dever legal, trata-se portanto de um dever de consciência e de solidariedade. Porém, conforme expresso, parte da população, não entente desta maneira, e expõe seus idosos a tratamentos degradantes, constrangedores com abusos financeiros, e ainda sob atos de violência. A sociedade ao tomar conhecimento de situações como estas, não deve se calar, devendo utilizar dos recursos disponíveis para denúncias afim de que os autores sejam responsabilizados. Como ferramenta a ser utilizada para esta finalidade o Ministério dos Direitos Humanos criou o chamado “Disque 100”, que funciona 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. As ligações podem ser feitas de todo o Brasil por meio de discagem gratuita, de qualquer terminal telefônico fixo ou móvel 33 (celular), bastando discar 100. O serviço pode ser considerado como “pronto socorro” dos direitos humanos pois atende também graves situações de violações que acabaram de ocorrer ou que ainda estão em curso, acionando os órgãos competentes, possibilitando o flagrante. A promotora de Justiça da 1ª. Promotoria de Defesa dos Direitosdos Idosos de Curitiba, Terezinha Resende Carula, em entrevista para o site de entretenimento da Jusbrasil em 2015 explicou que no seu trabalho cotidiano, ela se depara com muitos casos de abandono e falta de cuidado aos idosos por parte dos próprios familiares. Diante disso, a promotora questiona, com indignação: “É possível imaginar que um filho não tenha consciência de que deve amparar o pai ou a mãe na velhice? Do ponto de vista da consciência humana, é um sentimento elementar”. E, a partir da experiência no dia a dia, declara: “O que mais espanta é a falta de amor. Quando a pessoa é chamada a cumprir a lei, é porque não cumpriu antes seu dever de amor”. (JUSBRASIL. 2015 online) A participação da sociedade nos cuidados com o idoso, se consolida de diversas formas, e pode contar com um importante órgão que são os Conselhos Municipais dos Direitos do Idoso, os quais são os receptores das demandas de cada localidade. Desta forma percebe-se através dos relatórios de atividades destes Conselhos, demandas diversificadas de um conselho para o outro, algumas se destacam com demandas de atividades de lazer, outras localidades o ponto forte são os atendimentos relativos a abandono, violência, esquecimento em asilos, entre outros. Mensurar o dever da sociedade neste importante rito é tarefa difícil, podendo ser resumida de forma que o entendimento principal é que também seja protagonista deste mecanismo de proteção de direitos. c) O papel do Estado De acordo com tópicos anteriores a família tem o principal papel na proteção dos direitos do idoso, sendo que tal responsabilidade é considerada como norma estruturante da parentalidade, com respeito ao direito de convívio familiar sadio, orientado pelo amor e cuidado o que proporcionará a inviolabilidade da dignidade do familiar idoso. Considerando que o idoso é pertencente ao grupo dos vulneráveis, cumpre ao Estado proteger seus interesses, atuando firmemente na criação de políticas públicas de apoio ao idoso, bem como para inibir através de sanções as 34 violações legais e abusos dentre outras situações negativas relacionadas com esta parte da população. Conforme expresso, família, comunidade, sociedade e Estado tem parcela de responsabilidade na mantença da ordem relativa aos cuidados com o idoso. No entanto, amor e responsabilidade é algo que não se pode obrigar, porém o abandono material ou moral do idoso, além de ser quesito para desconstrução de tudo que se vive em sociedade, é algo que contribui para a paralisação do crescimento do povo brasileiro como cidadãos. Pode-se observar que o mecanismo do Estatuto do Idoso gira em torno da busca de suprimento para perfazer as necessidades primárias e secundárias da pessoa idosa, e veio para reafirmar os direitos que já eram, de certa forma, garantidos na Constituição. Isto trouxe para o idoso a expectativa de que seus direitos e arbítrios estão, de certa forma, garantidos. E para que se contemple tal entendimento, faz-se necessária a atuação dos três figurantes (Família, Sociedade e Estado) através de políticas públicas voltadas para o idoso. 2.4 DEMAIS LEIS INFRACONSTITUCIONAIS DE DESTAQUE Torna-se válido expor que, além das legislações já elencadas, muitas leis infraconstitucionais também trouxeram benesses a população idosa, a exemplo disto temos as três seguintes: a) A Instrução Normativa RFB 1.131, de 21 de fevereiro de 2011, que estabelece as diretrizes em relação a dedução do imposto de renda em favor do idoso, em que a pessoa física poderá deduzir na Declaração, as doações feitas para os fundos nacional, estadual ou municipal do idoso; b) A Lei Federal nº 12.008, de 29 de julho de 2009, que garante ao idoso e outros sujeitos com enfermidades consideradas graves, o a prioridade na tramitação de processos administrativos e judiciais, sendo que para isto, basta apenas que o interessado junte provas de sua condição e requerer junto a autoridade competente. c) A Lei Federal nº 11.433, de 28 de dezembro de 2006, que institui o Dia Nacional do Idoso, que deve ser comemorado no dia 1º de outubro ficando os órgãos públicos responsáveis pela coordenação e implantação da Política Nacional do Idoso – PNI –, por promoverem e realizarem eventos e divulgação para valorização do idoso na sociedade. 35 3 AS POLITICAS SOCIAIS VOLTADAS PARA O IDOSO E A INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL PARA SUA APLICABILIDADE 3.1 – CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS A velhice sempre foi tema de atenção e sua preocupação é destacada como tendência natural entre os povos. No entanto, foi no século XX que se teve um marco importante em relação a relevância de se estudar o processo de envelhecimento das pessoas. O campo da geriatria e gerontologia se consolidou pela busca de novos saberes médicos, os quais investiram em estudos sobre o corpo envelhecido. O avanço das pesquisas mundiais incentivou um grupo de médicos brasileiros a criarem as primeiras jornadas de geriatria no Brasil, o que aconteceu em meados dos anos de 1950. As primeiras extensões universitárias em relação ao envelhecimento aconteceu em 1962, o que profissionalizou a categoria médica afastando daquele senário, todos os profissionais não médicos que atuavam no campo da geriatria Outro fator de suma importância, que também contribuiu para análise acerca do tema, foi o surgimento das aposentadorias, que ocorreu no final do século XIX, na Alemanha, quando o governo estabeleceu um sistema nacional que dispensava o pagamento de uma pensão aos trabalhadores do comercio, indústria e rurais com mais de 70 anos. Esta ideia foi espalhada pelo mundo, chegando ao Brasil no ano de 1923 quando foi editada uma lei especificamente para os ferroviários, e mais tarde para as demais classes, conforme manchete da revista online SUPERINTERESSANTE publicada em 18 de abril de 2011. Nesta ocasião a velhice passou a ser objeto de discursos de legisladores sociais, o que contribuiu para a criação de instituições específicas para acolher a velhice menos favorecida. É certo que alguns idosos menos pobres encontravam refúgio no seio familiar, sendo mantidos pelas próprias famílias, com algum auxílio do governo, enquanto outros eram confinados em asilos ou outras instituições públicas com a mesma finalidade. Os asilos, durante muito tempo, foram associados a imagem de um local de acolhimento de pessoas pobres e incapazes de subsistir na sociedade, o que contribuiu veementemente para a criação da imagem da velhice como sendo, a fase final da vida, fim das expectativas, fim das esperanças, e de tudo aquilo que se pode ter de bom na vida. 36 Vale dizer, ao passo que as legislações sobre aposentadorias começam a trazerem novidades como a redução da idade para se aposentar, aposentadorias especiais entre outras, bem como o aumento da expectativa de vida nos países desenvolvidos, a velhice passou a ser vista pela sociedade como uma importante fase, o que contribuiu para a desconstrução da imagem associada a doenças, dependência etc. Verifica-se neste contexto, a criação da categoria de codinome “terceira idade” ou “melhor idade”, que trouxe consigo o fim da crise da sociedade em relação ao envelhecimento populacional. A noção de terceira idade, e o fato da sociedade ter se voltado para esta população em relação a trazer melhorias e um envelhecimento saudável, despertou os polos da economia, por enxergar neles, a partir de então, uma considerável massa de novos consumidores. Quer seja bom ou ruim, esta ideia de nova classe consumeristas, passa a inserir a “terceira idade” na sociedade de forma extraordinária. O termo terceira idade surgiu na França, em meados dos anos60, quando os franceses passaram a associar a velhice como a arte do bem-viver, e trazendo um rótulo aos aposentados como membros da terceira idade. A faixa etária considerada da terceira idade era de 60 a 80 anos, e a partir desta idade, seria considerada decadencial, ou seja, aqueles que já estariam compondo a quarta idade, segundo Clarice Peixoto, (PEIXOTO, 1998). Nesta época o Brasil ainda era considerado um país jovem, sendo que somente a partir dos anos 70, a terceira idade passou a ter maior visibilidade, sendo consolidado efetivamente após 1980 os discursos sociais a este respeito. 3.2 – ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E SUAS ESTATISTICAS ATUAIS O aumento da longevidade se relaciona com os resultados positivos obtidos pelos avanços da medicina nos critérios preventivos, que proporcionaram a descoberta de cura para diversas doenças. Estes avanços somados a descoberta de vários métodos anticoncepcionais, a inserção da mulher no trabalho e o exacerbado aumento do custo de vida da população que por consequência reduzem a natalidade, faz com que haja significativamente o aumento do número de pessoas mais velhas em determinado país, exatamente o que aconteceu no Brasil. Uma pesquisa recente do IBGE, divulgada no Jornal Nacional em 27/07/2018, (G1.GLOBO 2018 online) revelou que daqui a 20 anos, Brasil vai ter mais idosos do que 37 crianças, e segundo pesquisa, a população vai encolher a partir de 2047. Em 2060, quando a projeção termina, o número estimado é de 228 milhões de habitantes. A realidade vivida nas décadas passadas, por certo são diferentes da atual, já que para aquela, a preocupação era em relação a criação de políticas públicas voltadas para o idoso, e para esta a sua adaptação dado o aumento crescente da população alvo das referida políticas. A exemplo deste entendimento, temos as dificuldades econômicas encontradas no sistema previdenciário brasileiro desencadeado pelo aumento da população idosa, da diminuição da população economicamente ativa a longo prazo o que prejudica de forma significativa a economia do país. O novo perfil relativo a terceira idade, dadas presentes dificuldades requer devidos ajustes nas políticas públicas existentes que envolvam, desde a melhora na saúde pública, passando por diversos pontos, e por fim, um sistema previdenciário mais eficiente. Para isto faz-se necessário o entendimento das referidas políticas públicas, suas origens e a diferenciação de políticas sociais das públicas, para que se obtenha sugestões do ponto de partida para suas melhorias. 3.3 – A ORIGEM DAS POLÍTICAS PUBLICAS E SUAS DIFERENCIAÇÕES Sua origem está atrelada ao contexto histórico de uma sociedade, inerentes à acontecimentos sociais, políticos e econômicos. Afloram da necessidade da sociedade no âmbito do surgimento de classes sociais. É uma consequência de um processo social desencadeado pela exploração de trabalho e para o suprimento das necessidades das classes sociais havidas neste contexto de criação. Nesse sentido, sob síntese dos ensinamentos de Celso Hotz, (HOTZ, 2008) as políticas públicas têm suas ações voltadas a atuação estratégica do Estado para intervir na sociedade e atender necessidades, a partir de suas reivindicações em movimentos populares, luta de classes trabalhadoras, etc., as quais se apoiam no Estado, como um tutor capaz de implementar e intervir diretamente nas relações sociais, políticas e econômicas. Evaldo Vieira complementa o entendimento exposto: “Não tem havido, pois, política social desligada dos reclamos populares. Em geral, o Estado acaba assumindo alguns destes reclamos, ao longo de sua existência histórica. Os direitos sociais significam, antes de mais 38 nada, a consagração jurídica de reivindicações dos trabalhadores. Não significam a consagração de todas as reivindicações populares, e sim a consagração daquilo que é aceitável para o grupo dirigente do momento.” (VIEIRA, 1992, p. 23) As políticas sociais, por sua vez, encontram suas origens nas abordagens do Estado no âmbito do atendimento das necessidades básicas dos cidadãos. É a resposta direta do Estado, pelas reivindicações feitas pela sociedade, com finalidades na esfera social, garantindo ao cidadão, os serviços sociais, bens, e recursos necessários para sua estadia como ente da sociedade. Nas palavras de Maria Carmelita Yazbek, nas Políticas Sociais: O Estado envolve-se gradualmente numa abordagem pública através de procedimentos de intervenção nas relações sociais como legislações laborais, entre outros, sendo estes, pois, institucionalizados no âmbito da ação do Estado. Assim, ao se permitir aos cidadãos o acesso a recursos, bens e serviços sociais necessários, surgem as políticas públicas voltadas para realização de direitos, necessidades e potencialidades da sociedade de um Estado” (YAZBEK, 2008). Em síntese, pode-se afirmar que política pública é gênero enquanto política social é espécie, sendo que a primeira é medida utilizada pelo Estado para atender as necessidades da sociedade de forma geral abrangendo diversas áreas, enquanto a segunda é utilizada pelo Estado para atender especificamente, as necessidades no âmbito social da população, na esfera do exercício da cidadania. A exemplo de políticas públicas podemos citar o meio ambiente, o qual é reconhecido como um direito de todos, e para sua proteção amolda-se a Política Nacional do Meio Ambiente instituída pela Lei Federal 6.938. A água também é considerada de uso comum, e para proteção deste bem, e regulamentar seu uso foi criada a Política Nacional de Recursos Híbridos através da Lei Federal 9.433. Vale dizer que além destes exemplos, existem inúmeros outros. As Políticas Sociais, conforme expresso estão ligadas, de forma específica, às necessidades sociais, a exemplo disto podemos citar a Política Nacional de Assistência Social – PNAS; A Política Nacional da Saúde aprovada pela Portaria 687 de 30/03/2006 do Ministério da Saúde, entre outras, com destaque especial para a 39 Política Nacional do Idoso – Lei 8.842 de 04/01/1994. Percebe-se que as tais políticas públicas assim como os programas de atenção voltados para os idosos vieram como um forte instrumento de defesa e desempenham um papel importante na sua interação com a sociedade, fazendo com que eles sejam retirados do esquecimento e tenham a possibilidade de terem uma condição social mais justa. Para o sucesso desta nova realidade e dos desafios que a acompanha, faz-se necessário a instituição de instrumentos legais como garantia da proteção social e ampliação dos seus direitos. Conforme expresso, a partir de 1970, os intentos da proteção dos direitos do idoso, vão ganhando visibilidade no Brasil. Conforme consta, foi no ano de 1973 que, após um estudo realizado pelo Ministério da Previdência que constatou o aumento da população idosa no Brasil, foi apontada a necessidade de criação de políticas sociais voltadas para a população idosa. Um ano depois, 1974, deu-se início a criação de programas e projetos, assim como a edição de leis voltadas para o envelhecimento, destacando-se nesta ocasião, o Programa de Assistência ao Idoso – PAI; o programa: Projetos de Apoio à Pessoa Idosa – PAPI. Ainda nesta época, em decorrência da estatística de crescimento do número de idosos na população brasileira, através de pesquisas realizadas por institutos desta finalidade, organizações privadas e públicas intensificam-se nas ações junto a população idosa. A exemplo disso temos o Serviço Social do Comércio – SESC, que nesta ocasião passou a adotar programas para a terceira idade, assim como a Legião Brasileira
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