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Distúrbios Alimentares

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Centro Universitário Estácio Juiz de Fora
Curso de Psicologia
Fundamentos da Psicologia da Saúde
 TRANSTORNOS ALIMENTARES
Leonardo Fonseca de Oliveira – 201512858013
Natalia Sales de Oliveira – 201512651711
Andreia de Oliveira Pereira – 201608108961
Martha Juliana Coelho Andreza – 201512515191 
Mariana Cobuci – 201511219921 
Glauci Rodrigues Vandanezi - 201512515221
Juiz de Fora MG
Novembro / 2016
INTRODUÇÃO
	
	A partir de uma revisão bibliográfica e no campo de entrevistas, apresentaremos os principais conceitos relacionados aos transtornos alimentares e também a intervenção cirúrgica (cirurgia bariátrica). As doenças associadas com a alimentação hoje em dia têm manifestado mais interesse e preocupação. Isso ocorre devido ao aumento de distúrbios alimentares, assim como também o aumento de mortalidade e morbidade na sociedade moderna. O estudo dos sintomas desses distúrbios possuem semelhanças, pois geralmente estão acompanhados de comportamentos como ingestão compulsória de alimentos de forma rápida, não tem controle alimentar e sentimento de culpa. Os transtornos alimentares são caracterizados por severas modificações nos hábitos alimentares, podendo causar extrema perda de massa corpórea, ou até mesmo um aumento exacerbado de peso. Existem inúmeros transtornos causadores, porém, buscaremos retratar de forma sucinta os principais transtornos acometidos nos pacientes.
	 
ANOREXIA NERVOSA 
Contexto Histórico 
 
Surgiu com o termo Fastidium, em fontes Latinas, na época de Cicero (106 – 43 AC), junto a vários textos do século VVI . Durante a idade média, as praticas de jejuns foram compreendidas como estados de possessão demoníaca ou milagres divinos, mulheres que se auto-impunham jejum como forma de se aproximar com Deus. Bell (1985) relatou o comportamento anoréxico de 260 santas italianas, chamas de 'santas anoréxicas', como uma resposta de aparentemente á estrutura social patriarcal a qual estavam submetidas. Um dos primeiros casos de anorexia foi com uma jovem de 15 anos que após a morte de sua irmã e diante de projetos futuros de casamento, Santa Catarina de Siena iniciou restrições alimentares, preces e praticas auto-flagelamento (causar dor a si mesmo), chegando a induzir vômitos quando forçada a se alimentar. A inanição haveria gerado um estado psicológico de constante vigília e experiências míticas, vindo a falecer de desnutrição aos 32 anos.
O termo ‘anorexia sagrada’ que antes era usadas para crenças religiosas, ou auto-flagelação, não se encaixa com o termo estudado hoje, como anorexia nervosa, embora tenham muito em comum, quanto á perca de peso intensa, dietas extremamente rígidas, estados ideais, como na Itália Medieval com a beatitude das mulheres, e no ocidente atual a busca pela magreza, evitação da sexualidade, excesso de atividades, perfeccionismo no seu corpo,distorção cognitiva, insatisfação consigo própria. 
Etimologia:  
Do grego 'ANN' -> ausência de  'Orexis' -> apetite - Aversão a comida.
  Primeiras Referencias 
 O primeiro relato medico de anorexia nervosa, foi pelo autor Morton,em 1968, onde descreve dois casos de consumpção de origem nervosa. O autor ressalta a influencia entre processos mentais e físicos, e o papel patogênico das emoções, os quadros apresentavam em mulheres jovens com diminuição do apetite, amenorréia, aversão á comida, emagrecimento extremo e hiperatividade. 
 Após vários anos a anorexia nervosa recebeu vários significados. Em 1873, Laségue publica um artigo que diz que a causa primaria dessa doença é de origem psíquica, chegou esta conclusão com achados de pesquisa de oito pacientes de 18 a 32 anos, que ressalta a crença mórbida de que ‘o alimento é lesivo e deve ser evitado’, e outras características psicopatológicas, como a insegurança pessoal, busca por aprovação, e a contribuição familiar, que resulta na manutenção dos sintomas. Logo após, em 1874, Gull apresenta a ‘Anorexia Nervosa’ achados clínicos voltada para inanição prolongada, como a caquexia (atrofiamento muscular, perda de peso, perda do apetite), a amenorréia, sinais vitais e etc. Gull não descartava o componente psicológico, porem ano priorizava, ele se voltou mais para o biológico. 
 Charcot, em 1889 foi o primeiro a detectar o aspecto psicopatológico a qual motivas as mulher a jejuar, o chamado ‘fobia de peso’. Charcot descreveu o caso de Nadia, como ‘anorexia mental’. E ele relata que durante as consultas Nadia não parava de perguntar se estava tão magra quanto antes. Assim como Nadia, varias mulheres apresentavam este quadro, aversão ao corpo feminino, mas com algumas diferenças. Então foram distinguidas duas formas de anorexia: A anorexia obsessiva, na qual a fome é mantida, e a histérica, onde as pacientes não tinha qualquer apetite. 
 Simmonds também contribui para que esse estudo sobre a anorexia se abrangesse, e foi ele, em 1914, que descreveu a anorexia como uma doença orgânica (somática), quando ele apresentou um acaso de caquexia, onde na autopsia revelou atrofia do lobo anterior da hipótese (hormônios que controlam o funcionamento de outras glândulas endócrinas). Depois desse relato, a anorexia nervosa passou a se confundir com a Doença de Simmonds.Mas, aproximadamente 30 anos depois,foi restabelecido o conceito de anorexia nervosa, em 1949 por Sheehan e Summers, onde diziam: ‘apesar de existirem sintomas comuns entre dois quadros, não havia evidencias clinicas de redução da função hipofisária nem anormalidade histológicas significativas da glândula na anorexia nervosa’’. 
 Por algum tempo a anorexia foi considerada como um sintoma inespecífico. Outra forma de conceber a anorexia nervosa foi como variante de outras doenças psiquiátricas, como a histeria, da esquizofrenia, do transtorno obsessivo e da doença afetiva. 
 Com varias tentativas de se nomear e distinguir diferentes tipos de pacientes com o quadro, em 1960 foi reconhecida como ‘síndrome psiquiátrica especifica’ com alguns aspectos característico que distinguem de aspectos psicopatológicos na anorexia nervosa. Hilde Bruch detectou nessas mulheres que sofrem de anorexia nervosa deficiência do ego e da personalidade, tendo assim três áreas de perturbações do funcionamento; Transtorno da imagem corporal, transtornos nas percepções ou interpretações de estímulos corporais (como a percepção da fome), e uma sensação de ineficiente que atrapalham seus pensamentos e suas atividades. 
 Dez anos depois, critérios padronizados para o diagnósticos da anorexia nervosa começam a surgir, com base em distúrbios psicopatológicos e psicobiológicos, não descartando nenhuma dessas variáveis e ressaltando os critérios de perda considerável de peso, a preocupação mórbida com o risco de engordar, alterações na percepção corporal, amenorréia. 
Vejamos o quadro de Critérios diagnósticos para anorexia nervosa segundo o DSM-IV e a CID-10:
A anorexia nervosa é mais comum entre jovens adolescentes, do sexo feminino, de família de alto nível social que possuem padrões desapropriados de relacionamento interpessoal, em que apresenta uma aparente harmonia porém há conflitos implícitos. Esse distúrbios é caracterizado por pessoas que reduzem a ingestão alimentar por medo de engordar, chegando a caquexia, inanição e até a morte. Esse transtorno é considerado como síndrome psicossomática, em que implica na desnutrição proteico calórica e amenorreia, além de distúrbios psicológicos como depressão, fobia, compulsões, preocupação obsessiva com os alimentos, distorção de imagem corporal, entre outros.
Assim, conforme a doença avança, geralmente, começando com dietas para emagrecer, junto com excessivos exercícios físicos, o emagrecimento tende a aumentar. É nesse momento, em que a desnutrição está acentuada é que os familiares buscam tratamentos médicos, frequentemente com resistência por parte do paciente.
O diagnóstico da anorexia nervosa é realizado segundo orientação estabelecido peloDSM-IV, que determina que pessoas com anorexia nervosa há a negação em permanecer com o peso corporal, ideal ou acima do peso mínimo para idade e altura. Tem também o medo acentuado de ganhar peso ou tornar-se obeso, ainda que esteja baixo o seu peso ideal. Outro fator é o distúrbio de imagem corporal. E por fim, a amenorreia em mulheres pós-menarca, ou seja, a ausência de pelo menos três ciclos menstruais consecutivo.
A DSM-IV estabelece os subtipos de anorexia nervosa que é a restritiva que consiste na restrição dietética, e a anorexia nervosa compulsiva ou purgativa que ocorre a ingestão alimentar compulsivo, vômitos, laxativos e diuréticos.
Conforme a DSM-IV, para o diagnóstico é necessário afastar as doenças gastrointestinais, de caráter tumoral, hormonal, e também quadros psiquiátricos, como depressão e a esquizofrenia. 
BULIMIA NERVOSA 
Contexto Histórico 
O comportamento de forçar vômito é muito antigo, por exemplo, no antigo Egito, que levam como virtude o ato de vomita. Segundo Heródoto, eles vomitavam e usavam purgativos todo mês, por três dias consecutivos, crendo que todas as doenças do homens são provocadas por causa de comida, e o ato de vomitar previne doenças.Os Romanos também tinha essas crenças, eles criaram um vomitarium que permitia que todos alimentassem com excesso durante o banquete e logo após vomitar em um lugar reservado para esta finalidade, usando penas de abe para estimular o vômito. Os purgantes eram muito usados na Idade Media, sendo o único medicamento que o médico podia descrever nesta época.
Etimologia 
Do grego ‘bous’ -> bio e ‘limos’ -> fome – Fome de boi. 
Primeiras Referências 
Na ausência de um nome apropriado, o diagnostico do caso Ellen West deu se o nome de ‘obsessão da vergonha do corpo’. Ellen apresentava os quadros que hoje se caracteriza como bulimia nervosa, o medo de engordar, atividade exageradas, apetite fora do normal, o esforço para perder o que comer, induzindo vômitos, e usando tabletes tireoidianos para perder peso. Tempos mais tarde, Ellen sofreu suicídio com ingestão de veneno. 
Os estudos começaram com pacientes anoréxicas e logo após em paciente obesos, e identificaram também, sintomas bulímicos em pacientes com peso normal, com distorção do corpo, o excesso de ingestão de comida, e a provocação de vômitos. 
Hussel descreveu 30 casos em 1979, sugerindo que o caso seria uma evolução da anorexia nervosa e um subgrupo dos anoréxicos bulímicos. Hussel descreveu que apenas 20% a 30% dos pacientes com bulimia teve algum episódio de anorexia, mas que eram breves. 
Pacientes com bulimia tem um impulso excessivo de comer, seguindo de sentimento de culpa, e assim levando a provocação de vomitos. 
Vejamos o quadro de Critérios diagnósticos para bulimia nervosa segundo o DSM-IV e a CID –10.
 
A bulimia nervosa é um distúrbio caracterizado pela grande quantidade de ingestão alimento coma sensação de perda de controle, seguidos por comportamentos compensatórios de eliminação, como vômitos, laxantes, diuréticos e atividades físicas excessivas. Esses episódios bulímicos acarretam sentimentos como culpa, vergonha e depressão pela falta de controle.
 Esse transtorno, frequentemente, é ocasionado por conflitos familiares, história de abuso sexual na infância e questão sobre o desenvolvimento da feminilidade, surgindo dificuldades de controle de impulso, depressão crônica, culpa excessiva e intolerância à frustação e à ansiedade.
As pessoas com bulimia nervosa possuem sérios problemas gastrointestinais, como dilatação gástrica aguda, desgaste do esmalte dentário, esofagite, esvaziamento gástrico, anormal e síndrome do colo irritado.
O tratamento da bulimia nervosa, assim como a anorexia nervosa, é geralmente complexo e desafiador, pois depara com quadros de confusão, perplexidade e desespero por parte do paciente e de seus familiares. Dessa maneira, diversas modalidades terapêuticas especificas são fundamentais e deve ser desempenhada por equipe multiprofissional, assim como, terapias nutricional, para orientar e reeducar os hábitos alimentares, a psicofarmacoterapia, a psicoterapia individual e a de grupo familiar.
Para o diagnóstico da bulimia nervosa é realizada conforme os critérios determinados pela DSM-IV que estabelece que esse transtorno é caracterizado por episódios recorrentes de compulsão alimentares, que pode ser definido como ingerir alimentos em grande quantidade em período de duas horas e sentimento de perda de controle alimentar, no decorrer do episódio. Além disso, há o comportamento compensatório para evitar o ganho de peso, como vômitos auto-induzidos, abuso de laxantes, diuréticos, enemas ou outras drogas, jejum ou exercícios excessivos. Outro fator, é a compulsão alimentar e comportamentos compensatórios acontece duas vezes por semana por pelo menos três meses. Ocorre, também a preocupação excessiva com a forma do corpo e com o peso. E, por fim, o distúrbio não ocorre somente durante episódios de Anorexia nervosa.
O DSM-IV fornece dois subtipos de bulimia nervosa que é a purgativo que consiste em vômitos ou abuso de laxantes, diuréticos e enemas; e os não purgativos que são no caso de jejum ou exercícios excessivos.
Não são considerados bulimia nervosa, segundo DSM-IV, a anorexia nervosa, tipo compulsivo ou purgativo, depressão e distúrbio de personalidade.
TRANSTORNO DO COMER COMPULSIVO
Neste transtorno o individuo tem o ato de comer compulsivamente, porem diferenciando da bulimia, o mesmo não utiliza de métodos purgativos para eliminar alimentos digeridos e não tende a se preocupar com seu peso, ou com a forma corporal, geralmente quem possui esse transtorno são pessoas obesas. Neste transtorno, o indivíduos tem ataques de comer muito e descompassadamente e só para quando se sentem fisicamente desconfortáveis. Geralmente são acompanhados por médicos, onde fazem controle de alimentação e seu peso. 
Diagnósticos apresentados: 
Episódios repetidos de bing eating;
Durante a ocorrência dos episódios, devem estar presentes no mínimo três dos indicadores abaixo:
a) Comer muito mais rápido que o normal;
b) Comer até sentir-se desconfortável fisicamente;
c) Ingerir grandes quantidades de comida, mesmo estando sem fome;
d) Comer sozinho por sentir-se envergonhado da quantidade de comida ingerida;
e) Sentir-se culpado e/ou deprimido após o episódio.*
* Esses sentimentos podem levar o indivíduo a apresentar novos episódios de binge eating, formando-se assim um ciclo.
VIGOREXIA 
A vigorexia não é caracterizado estritamente como um quadro de Transtorno Alimentar, mas como uma patologia obsessivo-compulsiva. Caracteriza pela obsessão por músculos, pela compulsão aos exercícios e pelo consumo de substâncias que prometem o aumento da massa muscular (como anabolizantes). Assim como as pessoas que têm Anorexia ou Bulimia, os portadores da Vigorexia apresentam uma percepção distorcida da imagem corporal.Assim pode-se acarretar vários problemas como enfermidades cardiovasculares, câncer de próstata, problemas nas articulações. 
Vejamos o quadro de critérios diagnósticos baseados no DSM-IV são:
Preocupação com a ideia de que o corpo não é suficientemente magro e musculoso. Condutas associadas a características incluem longas horas levantando peso e excessiva atenção para a dieta.
A preocupação é manifesta pelo menos por dois dos seguintes quatro critérios:
O indivíduo frequentemente abandona importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas por causa de uma compulsiva necessidade de manter seu esquema de exercício e dieta.
O indivíduo evita situações onde seu corpo é exposto a outros ou enfrenta tais situações, apenas com acentuado desconforto ou intensa ansiedade.
A preocupação com a inadequação do tamanho ou da musculatura corporal causa desconforto clinicamente significativo ou prejuízo a áreas de atividade, social, ocupacional ou outras áreas importantes.
O individuo continua a exercitar-se, a fazer dieta ou utilizar substâncias ergogênicas (destinadas a melhorar o desempenho) apesarde saber as consequências adversas do ponto de vista físico ou patológico.
O foco primário da preocupação e da conduta concentra-se em ser muito pequeno ou inadequadamente musculoso, distinguindo-se do medo de estar gordo como ocorre na anorexia nervosa, ou uma preocupação primária apenas com outros aspectos da aparência, tal como em outras formas de distúrbio dismórfico corporal.
SÍNDROME DO GOUMERT 
Os indivíduos que apresentam este quadro estão somente preocupados na preparação, compra, apresentação e ingestão de pratos especiais, finos e/ou exóticos, colocando em segundo plano suas relações sociais, familiares e ocupacionais.
Até 2010 foram encontrados apenas 34 casos, considerando assim um distúrbio muito raro.
Acredita-se que tal alteração possa ser consequência de lesões ou alterações funcionais no hemisfério cerebral direito, tais como tumores, traumatismos, hemiplegia, etc.
 
TRANSTORNO ALIMENTAR NOTURNO
Neste transtorno o individuo tem o habito de comer durante a noite, não lembrando no outro dia que se levantou e se alimentou, e quando lhe contam do fato ocorrido negam incessantemente, apresentando também alteração de humor. Um fato importante é que são pessoas que geralmente fazem algum tipo de regime alimentar durante o dia.
Normalmente a Síndrome do Comer Noturno não é uma patologia única, mas sim uma combinação de um transtorno alimentar, um transtorno do sono e um transtorno do humor. Embora não exista um tratamento específico, alguns medicamentos podem ser utilizados para ajudar no controle do comer noturno e nos sintomas depressivos que podem estar presentes.
PICA 
Este é um transtorno que se caracteriza pela ingestão de substâncias não comestíveis como sabonete, tijolo, argila, cascas de pintura, gesso, giz, cinzas de cigarro, etc. As pessoas vulneráveis a desenvolver o transtorno de Pica são mulheres com tendência histérica, grávidas, pessoas de certos grupos étnicos nos quais estes comportamentos são considerados normais, e indivíduos que passaram por sérias restrições no comportamento alimentar. 
Para o diagnóstico de Pica esse fenômeno precisa persistir pelo menos por um mês. 
OBESIDADE
O número de pessoas que se encontram acima do peso vem crescendo de forma alarmante, causando uma preocupação de ordem mundial. Fatores sociais e genéticos combinados com maus hábitos alimentares e sedentarismo resultam em um aumento exacerbado da quantidade de gordura acumulada no organismo, o qual pode estar associado, direta ou indiretamente, a uma grande variedade de doenças que podem levar a um quadro de óbito. (NAHAS, 2001, POLLOCK, 1993)
O organismo humano é o resultado de diferentes interações entre o seu patrimônio genético (herdado de seus pais e familiares), o ambiente sócio econômico, cultural e educativo e o seu ambiente individual e familiar. Assim, uma determinada pessoa apresenta diversas características peculiares que a distinguem, especialmente em sua saúde e nutrição.
A obesidade é o resultado de diversas dessas interações, nas quais chamam a atenção os aspectos genéticos, ambientais e comportamentais. Logo, filhos com ambos os pais obesos apresentam alto risco de obesidade. 
Segundo Dâmaso (2003) a obesidade pode ser influenciada por fatores endógenos e exógenos, como genéticos, endócrinos, psicogênicos, neurológicos, metabólicos, além de medicamentos, alimentação, estresse e sedentarismo, no qual o valor calórico ingerido é superior ao gasto. Estes fatores podem induzir a um acúmulo excessivo de gordura, geralmente ocasionado pelo desequilíbrio entre a ingestão alimentar e o gasto energético. 
Para Vitolo (2003) os distúrbios nutricionais da infância estão relacionados à falta de conhecimento sobre nutrição por parte dos pais, o que os leva a oferecer uma dieta inadequada a seus filhos.
O ganho de peso também dar-se-á ao aumento da ingesta alimentar e a uma redução do gasto energético correspondente a essa ingesta. O aumento da ingesta pode ser decorrente da quantidade de alimentos ingeridos ou de modificações de sua qualidade, resultando numa ingesta calórica total aumentada. O gasto energético, por sua vez, pode estar associado a características genéticas ou ser dependente de uma série de fatores clínicos e endócrinos, incluindo doenças nas quais a obesidade é decorrente de distúrbios hormonais.
Existem três tipos de definições quando uma pessoa está acima do peso. O sobrepeso é quando há mais gordura no corpo do que o ideal para uma vida saudável. A obesidade quando o acúmulo de gordura é muito acima do normal, podendo gerar até problemas graves de saúde e a obesidade mórbida, quando o valor do IMC ultrapassa 40. Entretanto, nesse caso, o tratamento inicial além das mudanças de estilo de vida sempre inclui medicamentos e até cirurgia bariátrica pode ser recomendada.
A obesidade é considerada uma doença, mas não transmissível, visto que oferece riscos para outras doenças como o diabetes, as doenças cardiovasculares, a hipertensão, além de problemas físicos como artrose, pedra na vesícula, artrite, cansaço, refluxo esofágico, sem falar na “doença psicossocial” que o individuo obeso está susceptível a sofrer, portanto inclui-se os fatores psicológicos que a pessoa obesa possa sofrer como diminuição da autoestima e depressão. (NAHAS, 2001; SILVA et al, 2007).
Uma prevenção mais eficaz no risco contra a obesidade passa pela conscientização da importância da atividade física aliada a alimentação adequada. O estilo de vida sedentário, as refeições com poucos vegetais e frutas, além do excesso de alimentos ricos em gordura e açúcar precipitam o aumento do número pessoas obesas, em todas as faixas etárias, lembrando que até crianças são acometidas por esta doença.
A obesidade não é característica de pessoas com “falta de vontade para emagrecer, descuidadas com sua aparência, mas de pessoas com uma doença que deve ser tratada como tal”.
Quanto ao tratamento da obesidade é optar por uma dieta equilibrada, adotar práticas de atividades físicas em conjunto com um estilo de vida saudável, não obstante a isso é entender que nem sempre uma pessoa obesa está obesa por que quer. 
TIPOS DE OBESIDADE
Obesidade por Hiperfagia, consequente à ingestão de muita comida. São os obesos que comem muito, em quantidade ou em qualidade e neste grupo estão incluídos os populares "beliscadores". Além dos mecanismos psíquicos tais como a depressão, ansiedade, angustia, carência afetiva.
Obesidade por Gasto Ineficiente, pessoas com vida sedentária, aquelas que comem mais do que gastam e as pessoas que, mesmo comendo proporcionalmente ao gasto com exercício, de repente param de praticá-lo sem diminuir a quantidade de comida ingerida. Também estão aqui as pessoas que comem pouco mas, conforme dizem sempre, têm a famosa tendência para engordar. Este último grupo de pessoas "com tendência para engordar" não costumam ter alterações de tiróide, como costumam achar, ou outro distúrbio do metabolismo. Normalmente a causa da obesidade é que elas gastam menos calorias do que consomem.
A obesidade, portanto relaciona-se com dois fatores: a genética e a nutrição irregular. A genética traz subsídios que existe uma tendência familiar para a obesidade, pois pais obesos filhos obesos com 80 a 90% de probabilidade. E quanto a nutrição, uma criança se tornando obesa e perpassando pela sua vida adula passará por dificuldades para voltar ao estado normal. Entretanto, uma boa alimentação, atividades físicas e força de vontade são ótimas aliadas nesse combate a balança.
Apenas 5% dos casos de obesidade são atribuídos a disfunções hormonais como distúrbios da tireóide, problemas pancreáticos, doenças do ovário. Outros casos são a indivíduos que sem tendência genética ingerem maior quantidades de alimentos gordurosos e àqueles que levam uma vida sedentária.
Obesidade nutricional, acontece através da ingestão de alimentos sem valor nutricional apropriado, especialmente por meio da ingestão exagerada de calorias, inclui muita gordura, carboidratos e proteínas.Obesidade psicológica: acomete uma pessoa que está passando por problemas psicológicos e acabam compensando na comida, come demais. Alguns exemplos são a depressão, ansiedade, estresse, solidão, rejeição, conflitos emocionais, entre outros. Essas complicações fazem com que a pessoa perca o controle alimentar que evoluirá para a obesidade.
Obesidade comportamental: tipo de obesidade que aborda os erros de comportamentos. São os mais comuns: o estilo de vida sedentário e os hábitos de alimentação incorretos (comer depressa, não mastigar direito, comer em pé, entre outros).
Obesidade de longa data - indivíduos obesos desde criança; é a forma de mais difícil tratamento e entre as causas existe a predisposição genética (herança familiar) e a hiperalimentação precoce;
Obesidade da puberdade - aparece na puberdade, é predominante em mulheres, tem como causas angustiam e ansiedades desta fase da vida e alterações orgânicas;
Obesidade da gravidez - na gravidez e no pós-parto, também por fenômenos psíquicos e/ou orgânicos;
Obesidade por interrupção de exercícios - comum em esportistas que ingerem grandes quantidades de calorias e param de fazer exercícios, ou seja, deixam de gastá-las;
Obesidade secundaria a drogas - alguns medicamentos como os corticóides, os antidepressivos e os estrógenos podem induzir a um ganho de peso;
Obesidade após parar de fumar - a explicação é que a nicotina aumenta o gasto calórico por sua ação lipolítica; também é responsável por perda de apetite;
Obesidade endócrina - apesar da população leiga ter outro ponto de vista, a obesidade Endócrina aparece em somente 4% das obesidades. Aqui se incluem doenças da tireóide, do pâncreas e da supra renal.
Por esta classificação já podemos concluir que a obesidade não é característica de pessoas com "falta de vontade para emagrecer, descuidadas com sua aparência, etc", mas de pessoas com uma doença que deve ser tratada como tal.
CIRURGIA BARIÁTRICA
A obesidade é uma doença crônica caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal. A OMS classifica a obesidade baseando-se no Índice de Massa Corporal (IMC)a e no risco de mortalidade associada. Assim, considera-se obesidade quando o IMC encontra-se acima de 30kg/m². 
Sendo a obesidade uma condição médica crônica de etiologia multifatorial, o seu tratamento envolve várias abordagens (nutricional, uso de medicamentos antiobesidade e prática de exercícios físicos). Entretanto, vários pacientes não respondem a estas manobras terapêuticas, necessitando de uma intervenção mais eficaz. A cirurgia bariátrica tem se mostrado uma técnica de grande auxílio na condução clinica de alguns casos de obesidade. A indicação desta intervenção vem crescendo nos dias atuais e baseia-se numa análise abrangente de múltiplos aspectos do paciente. Aspectos clínicos e cirúrgicos da obesidade mórbida: São candidatos para o tratamento cirúrgico (cirurgia bariátrica) os pacientes com IMC maior que 40 Kg/m2 ou com IMC maior que 35 Kg/m2 associado a comorbidades (hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes tipo 2, apnéia do sono,ENTRE OUTROS)
A seleção deve passar por avaliações criteriosas a fim de questionar a aptidão do paciente a fim de submeter a cirurgia. São pré-requisitos, como o histórico de tratamento do paciente em 5 anos comprovando sua ineficácia no tratamento, a cirurgia estaria contraindicada em pacientes com pneumopatias graves, insuficiência renal, lesão acentuada do miocárdio e cirrose hepática, e etc. 
As cirurgias são classificadas como disabsortivas e/ou restritivas. Podemos destacar duas técnicas mais usadas de tratamento cirúrgico
. A gastroplastia vertical com bandagem foi desenvolvida em 1982 por Mason. É uma cirurgia restritiva que consiste no fechamento de uma porção do estômago através de uma sutura, gerando um compartimento fechado. A utilização de um anel de contenção resulta em um esvaziamento mais lento deste “pequeno estômago”. Com este procedimento, os pacientes experimentam uma redução em média de 30% do peso total nos primeiros anos. Porém, observa-se uma queda na velocidade de perda de peso para menos de 20% após 10 anos de seguimento. Uma das razões propostas para este fato é o aprendizado realizado pelos pacientes. Eles passam a selecionar e ingerir alimentos líquidos hipercalóricos com ma passagem rápida pelo “estômago estreitado”
A ‘’Lap Band’’ é outra técnica cirúrgica restritiva, relativamente recente. Consiste na implantação videolaparoscópica de uma banda regulável na porção alta do estômago. Este artefato fica conectado a um dispositivo colocado sob a pele, o que permite o ajuste volumétrico do reservatório gástrico criado. Esta técnica ainda carece de uma melhor avaliação em estudos de seguimento. Nos últimos anos, entretanto, vem predominando uma terceira técnica que reúne a restrição.
Á disabsorção, chamada de cirurgia de Capella. Aqui, a gastroplastia está associada a uma derivação gastrojejunal em formato da letra Y (chamada de Y de Roux). Este procedimento consiste na restrição do estômago para se adaptar a um volume menor que 30 ml. A redução de volume da cavidade é obtida através da colocação de um anel de contenção na saída do compartimento formado (orifício menor que 1.5 cm) e conexão com uma alça intestinal. A ingestão de carboidratos simples pode, assim, ocasionar a chamada síndrome de “dumping” (náuseas, vômitos, rubor, dor epigástrica, sintomas de hipoglicemia). Esta síndrome pode desempenhar um importante papel na manutenção da perda de peso. Com este procedimento, os pacientes obtêm perdas médias na ordem de 35% em longo prazo. É uma técnica segura e com uma baixa morbidade.
Os resultados esperados com a intervenção cirúrgica são: perda de peso, melhora das comorbidades relacionadas e a qualidade de vida do paciente.
Podemos resaltar algumas complicações provenientes do pós-operatório em dois estágios, sendo eles os precoces e os tardios. Precoces, podemos destacar a infecção da ferida operatória, ulcerações gástricas, náuseas e vômitos, deiscência de sutura, pneumonia e embolia pulmonar. Já nas infecções tardias, identificamos uma má absorção de vitaminas, má absorção de sais minerais, colelitíase, diarreia, neuropatia periféricas e anemias.
O paciente para que possa a ser submetido a cirurgia, deverá ser avaliado se possuí qualquer transtorno mental atual ou pré existente, tanto no pré, como no pós operatório e deverá ser mantido essa avaliação em intervalos regulares a fim de verificar qualquer transtorno.
Os pacientes que geralmente buscam o tratamento para emagrecer (pacientes com obesidade III) podemos identificar com maior frequência transtornos de humor e no comportamento alimentar. Avaliando o impacto gerado pelo transtorno de humor, podemos perceber um episódio depressivo que parece não influenciar na perda de peso no pós operatório, e que necessitam de um tratamento no pós operatório. 
A avaliação psiquiátrica pré-operatória é fundamentalmente clínica, mas pode ser auxiliada utilizando-se testes psicológicos e entrevistas psiquiátricas estruturadas. Em alguns algoritmos para avaliação e indicação deste procedimento, aconselha operar pacientes que apresentem “condições médicas que tornem os riscos inaceitáveis ou impeçam a adaptação pós-operatória, tais como transtornos psiquiátricos ou dependência de álcool ou drogas”19. Para uma boa evolução cirúrgica, o paciente deve estar habilitado a participar do tratamento e do seguimento de longo prazo. Parece-nos que, frente ao conhecimento científico acumulado até então, não podemos considerar nenhum tipo de contraindicação psiquiátrica absoluta. O bom senso clínico nos conduz, entretanto, a uma conduta cautelosa em relação a esta situação. Por isso é que a avaliação psiquiátrica pré e pós-operatória é tão importante e deve ser realizada por um profissional experiente e integrado a uma equipe cirúrgica multidisciplinar. O tratamento prévio do transtorno psiquiátrico associado à obesidade pode ser fundamental para o sucesso do procedimento cirúrgico.CONCLUSÃO
Podemos considerar o conceito de necessidade como uma condição interna do organismo, indispensável para mantermos a homeostase, nosso desenvolvimento e bem estar. As necessidades estão vinculadas aos aspectos fisiológicos, psicológicos e sociais. O desequilíbrio se dá quando identificamos uma desordem de um desses aspectos, sendo necessário reequilibra-lo a fim de retornar ao estado normal.
Características fisiológicas, genéticas, cognitivas e sociais influenciam significantemente em todo nosso complexo sistema alimentar. E é a partir dessas variáveis que podemos encontrar alterações significantes capazes de caracterizar um transtorno alimentar, como a obesidade, a anorexia e a bulimia. 
A cirurgia bariátrica para obesos III se torna uma intervenção eficaz ao longo prazo. Esse transtorno pode associar diretamente a alguns transtornos psicopatológicos. Sendo assim, é necessário uma avaliação clinica fundamentada e criteriosa a fim de reduzir possíveis complicações pós operatórias.
A problemática dos transtornos alimentares está vinculada em vários âmbitos e é uma preocupação para a sociedade, pois está diretamente relacionada com doenças crônicas, depressão, fobias, compulsões, esofagite, problemas gastrointestinais, podendo gerar distúrbios irreversíveis. 
 
ENTREVISTAS 
A primeira entrevista foi realizada com uma pessoa que fez cirurgia bariátrica na rede pública.
Você se considerava compulsiva? Se sim conte algum episódio que teve significado para você.
“Hoje em dia não sou não, mais antes da cirurgia eu era e não sabia. Sempre que ficava nervosa ou ansiosa comia doce.
Como você se sentia em relação a você e a sociedade? Sofria preconceitos?
“Tinha muita vergonha de mim mesmo e ficava me comparando com as pessoas ao meu lado, pois achava que nunca teria o “corpo” que a sociedade estipula. Sofria sim, um deles por exemplo era em ônibus ao passar na roleta todos olhavam e também ao se sentar nos bancos: ninguém sentava ao meu lado por falta de espaço.” 
Você tinha histórico de obesidade desde a infância? Havia familiares sobrepeso? Porque desencadeou a obesidade?
“Obesidade não mais sempre fiz “cheinha”. Sim minha mãe é obesa também. Sempre fui cheinha, e depois do casamento engordei mais ainda ficando obesa, mais nunca teve um motivo específico.” 
Você sofria de alguma doença gerada pela obesidade? Se sim, qual?
“Nunca tive problema de saúde devido a obesidade.” 
Você procurou algum tratamento psicológico antes, durante ou depois a operação bariátrica? Se sim, como foi o tratamento. Se não, porquê?
“Antes nunca, durante e depois como entrei para o grupo de pessoas para a cirurgia lá temos que passar por várias especialidades inclusive psicológico e continuar frequentando as palestras mesmo depois de operada.”
O que a levou a fazer a cirurgia bariátrica? Houve apoio da família? 
“Apoio tive sim de todos a minha volta. Na verdade quando entrei no programa eu não tinha a intenção de fazer a cirurgia só tinha, entrado para fazer os exames e ver como era, no desenrolar como deu tudo certo e meus exames estavam ótimos o médico marcou a cirurgia e eu fui...Até mesmo sem pensar muito.” 
A operação foi no sistema público ou particular?
“Foi pelo SUS no Hospital Maternidade Terezinha de Jesus.”
Quais são as recomendações para fazer a operação? Há alguma triagem? Qual?
“Então tem triagem sim e depende muito de cada paciente como o IPC, problemas de saúde, tudo será avaliado pela equipe de profissionais.”
Como foi a pós operação? Houve dificuldade na adaptação? 
“Foi super tranquila só a primeira semana por causa do dreno que incomoda um pouco e a dieta líquida e complicada também, mas no geral foi tranquilo.” 
Como você se sente hoje com a operação? Tem algum episódio que a deixou emocionada depois da operação?
‘Me sinto muito feliz. Quando as roupas começaram a me servir, foi muito bom, poder entrar nas lojas e conseguir experimentar roupas sem ouvir a famosa frase:” não temos do seu tamanho “
Você tem conhecimento de algum apoio na rede pública para pessoas obesas e sobre operação bariátrica?
“Então aonde operei oferece tudo esse apoio pelo SUS, no Hospital Maternidade Terezinha de Jesus.”
Você tem algum acompanhamento profissional hoje?
“Sim, psicóloga, nutricionista e endócrinas.”
Como você via a comida antes e hoje?
“Na verdade pra mim não houve muita mudança a não ser entregue relação a quantidade que não cabe mais no estômago como antes, fora isso está normal pra mim...Mais cada um reage de maneiras diferentes.” 
A segunda entrevista foi com uma psicóloga que teve um paciente com compulsão alimentar.
Quando a pessoa começou perceber que estava diante de uma compulsão alimentar e que era necessário uma operação bariátrica e intervenção psicológica?
“Na verdade quem percebeu que a paciente estava comendo além do normal, foi sua mãe e sua personal trainer.
Em conversas com sua personal esta começou a alertá-la e sugeriu que a aluna procurasse um tratamento psicológico. O que logo em seguida foi feito.”
A pessoa tinha histórico de obesidade desde a infância? Havia familiares sobrepeso? O que desencadeou tal compulsão?
“A paciente desde a infância foi "gordinha". Seu pai sempre esteve acima do peso e a família sempre teve o hábito de se reunir ao redor de uma "boa mesa farta".”
A pessoa sofria de alguma doença gerada pela obesidade?
“Hoje a paciente tem 22 anos e há 2 anos começou a ter oscilações de pressão, tendendo a hipertensão e dores na coluna.”
Como foi o tratamento psicológico da pessoa?
“A paciente ainda encontra-se em tratamento psicológico, e sua maior dificuldade é conviver com a "vida bohemia", que por mais que seus pais tenham cooperado com algumas mudanças de hábitos, essa ainda acontece. Apesar disso a paciente é bem consciente das suas limitações e hoje, com 18 kg a menos, sua autoestima é sua maior motivação.”
Como ela se sentia em relação a ela e a sociedade?
“Antes da cirurgia, a paciente sentia muitas dores nas articulações e na coluna, assim como princípio de hipertensão. Isso a deixava muito deprimida, pois se via muito nova para já ter isso tudo.
Com relação aos padrões impostos pela sociedade, não era essa sua maior preocupação. O que lhe afetava, de fato, era a sua relação com as dores e com suas limitações aos 22 anos.”
Você teve algum contato com os familiares? Havia alguma queixa em relação a família? Se sim qual era? Houve apoia da família na operação bariátrica? 
“Foi realizada uma sessão com a mãe da paciente, a pedido da mesma, não só nesta, mais também nas sessões com a paciente, foi possível observar o apoio e afeto existente naquele núcleo familiar.”
Além da ajuda psicológica a pessoa buscou outros profissionais? Quais?
“Antes de buscar pelo tratamento psicológico, a paciente procurou um endocrinologista, um nutricionista e um personal trainer.”
Você observa muita demanda no consultório em relação a obesidade?
“Em particular, no meu consultório, a demanda em relação a obesidade ainda é pequena. A demanda que ainda sobre sai é a queixa amorosa.”
Na sua opinião quais profissionais são necessários para compor uma equipe afim do tratamento integral do paciente obeso?  
“Para um tratamento integral é importante ter uma equipe composta por endocrinologista, nutricionista, educador físico, psicólogo e, se necessário, psiquiatra. Assim, não só a perda, mais também a manutenção do peso se torna mais eficaz.”
A terceira entrevista foi com uma pessoa que realizou cirurgia bariátrica na rede privada.
Você se considerava compulsiva? Se sim conte algum episódio que teve significado para você.
“Não eu não me considerava compulsiva. Hoje sei que eu era. Sei disso por cousa de uma coisa que aconteceu nessa época, pouco antes de decidir operar, sai com um grupo de amigos, decidi que só iria tomar um refrigerante. Quando eu percebi, já estava beliscando todos os petiscos da mesa. E daí a pouco pedi um petisco só para mim, sendo quejá tinha jantado e estava satisfeita, mas olhava para as comidas e queria. Então era o prazer de sentir o sabor sem estar com fome, era apenas porque estava vendo que sentia vontade. Esse não foi o único episódio isso aconteceu várias vezes. E sempre assim, eu não quero mas pego e como.”
Só observei essa compulsividade agora, antes não tinha essa noção.”
Como você se sentia em relação a você e a sociedade?
“Eu me sentia muito mal. Tinha vergonha de tudo. Deixava de sair porque não tinha roupa e quando digo isso havia roupas, mas não tinha como escolher uma p ir a algum lugar e chegar nesse lugar e sentir bem com aquela roupa, porque sabia que não está bem.”
Você tinha histórico de obesidade desde a infância? Havia familiares sobrepeso? Porque desencadeou a obesidade?
“Não era obesa desde a infância. Era bem magra, das que deixava a família preocupada porque era raquítica. Todos se preocupavam com a minha alimentação. Eu era bailarina clássica. Fui a primeira bailarina do promusica durante três anos seguidos. Comecei aos três anos de idade e parei com vinte. Cheguei ao profissional e tive que parar porque precisava pagar a minha faculdade. Trabalhava de dia e estudava a noite. Então não tinha tempo para fazer balé. Com isso, parei com todas as minhas atividades físicas de uma vez só.
Não tinha histórico de obesidade na família. Hoje tenho a minha irmã e tia com obesidade mórbida e a minha mãe era só que descobriu que estava com diabetes, assim teve que diminuir o peso.
A minha obesidade desencadeou quando parei de fazer todas as atividades físicas sem orientação. Comia a mesma quantidade que comia antes porém foi acumulando devido a falta de exercício.”
Você sofria de alguma doença gerada pela obesidade? Se sim, qual?
“Sim, triglicérides e colesterol alto e eu estava pré-diabética.” 
Você procurou algum tratamento psicológico antes, durante ou depois a operação bariátrica? Se sim, como foi o tratamento. Se não, porquê?
“Fiz as seis ou sete sessões que são obrigatórias antes da cirurgia, porque o médico não libera o pedido de cirurgia para o plano de saúde se não passar antes pelo apoio psicológico.
Como foi o tratamento não sei explicar, só sei que foi muitas perguntas e muitas respostas. Na época o meu objetivo e a minha vontade era tão grande de me sentir bem comigo que nem me lembro direito do tratamento. Depois não procurei tratamento psicológico, só busquei grupos de apoio de pós bariátrico no facebook. ”
O que a levou a fazer a cirurgia bariátrica? Houve apoio da família? 
“O que me levou a cirurgia foi o desespero de não conseguir emagrecer sozinha, porque já tinha tentado todo tipo de dieta que se possa imaginar. Com médico, sem médico, com remédio sem remédio, com nutricionista sem nutricionista, dietas de internet, enfim de tudo que se possa imaginar. Com isso, percebi que precisava de ajuda e corri atrás.
Quanto ao apoio da família somente meu marido me apoiou, porque ele viu o meu sofrimento. A princípio ele não queria, mas quando ele viu que eu tinha tentado tudo e estava entrando em um processo depressivo, apoiou com ressalvas devido ao medo da operação.” 
A operação foi no sistema público ou particular?
“Minha operação foi no sistema particular com o convenio da Unimed”
Quais são as recomendações para fazer a operação? Há alguma triagem? Qual?
Existe um padrão que os médicos seguem. Tem que ter o IMC mínimo de 40 sem ter nenhuma comorbidade. Agora se você tiver o IMC mínimo e tiver comorbidade também é liberado. No meu caso, o IMC era 39,26 mas eu tinha todas as comorbidades (triglicérides, colesterol alto e estava pré-diabética). E assim foi liberado.
A triagem a Unimed verifica os dados que o médico passa para ela e depois passamos por uma junta médica no próprio prédio da Unimed, assim eles liberam ou não libram.” 
Como foi a pós operação? Houve dificuldade na adaptação? 
“No pós operatório, tive muito dumping, que é quando o estomago fica do tamanho de um copo de cinquenta mililitros, então tomava meio copo de sopa que a nutricionista passou. Depois comecei a alimentação solida. Uma colher de chá a mais que comece me deixava enjoada, prostrada, parecia que iria vomitar. Com isso, comecei a entender, o que acontecia comigo antes e estava acostumada. Como por exemplo, ia a um churrasco e comia até não aguentar mais, já estava satisfeita e continuava comendo. Para que eu continuava comendo? 
Então era isso que acontecia comigo antes e continuava acontecendo. Só que antes não percebia que a comida estava pesando e continuava comendo. Depois de operada, percebi que eu tinha um limite e que esse iria fazer mal se ultrapassasse.
Hoje como de forma mais reduzida.”
Como você se sente hoje com a operação? Tem algum episódio que a deixou emocionada depois da operação?
“Me sinto leve em todos os sentidos, físico e emocional. Descobri que ser magra é econômico, pois quando está acima do peso você veste a roupa que te cabe, compra o que der, você não escolhe a roupa a roupa é que escolhe você e geralmente é mais cara. Hoje entro em uma loja e posso comprar qualquer roupa, principalmente as mais baratas. 
O fato de escolher a roupa e ficar linda não tem preço.
O que me emocionou é que era bailarina clássica e havia abandonado. O ano passado voltei a dançar o balé clássico, não tenho a mesma envoltura de antes mas poder dançar de novo não tem explicação. Voltar dançar foi maravilhoso para mim.” 
Você tem conhecimento de algum apoio na rede pública para pessoas obesas e sobre operação bariátrica?
“Não tenho conhecimento. O que tenho conhecimento é o trabalho que a Unimed faz em relação a obesidade. Eles criaram um sistema de prevenção, com uma clínica que as pessoas tem apoio psicológico, nutricional, médico e exercícios aeróbicos, controle de pressão arterial, glicemia. Esse sistema criado achei interessante porque a prevenção fez com que diminuísse muitos gastos da unimend com o tratamento. Pois quando você previne, evita o gasto do tratamento que é bem maior que a prevenção.”
Você tem algum acompanhamento profissional hoje?
“Hoje tenho uma clínica de acupuntura que trabalha com nutrição de pessoas que sofrem obesidade.
 A nutricionista da clínica de vez enquanto me dá dicas para controlar, mas não que precise de um controle mais efetivo.
O que preciso hoje é criar massa muscular devido a perda de peso abrupta, pois o corpo não escolhe o que que iria eliminar, massa magra ou gorda. Com isso a nutricionista ajuda na dieta alimentar.”
Como você via a comida antes e hoje?
“A comida antes era vista por mim como uma inimiga. Hoje me dou bem com todo tipo de comida pois nenhuma delas me faz mal. Tudo que eu como é em pequena quantidade, por isso me sinto satisfeita com o pouco. Aprendi a saborear a comida ao invés de devora-la.”
Entrevista com o Psicólogo Marlon sobre bulimia:
Segundo o relado do Psicólogo Marlon, que trabalha na Prefeitura de Simão Pereira, em um de seus atendimentos se deparou com um quadro de uma jovem de 20 anos onde apresentava uma ansiedade forte, que posteriormente a levou a um transtorno alimentar bulímico.
Ele conta que esta ansiedade foi desencadeada após o termino de seu namoro, de 2 anos. Ela começou com a ingestão exacerbada de alimentos, sem a percepção que estava entrando em um ciclo de ansiedade grave, e por medo de ganhar peso, provocava o vômito.
Ela resolveu procurar ajuda quando percebeu uma queda intensa do seu cabelo, e enfraquecimento das unhas o que já era indicio de falta de nutrientes, por conta dos vômitos provocados por ela que, impedia a absorção das vitaminas. 
Diante desse quadro, o psicólogo Marlon a encaminhou ao gastroenterologista e a um nutricionista, juntamente com suas terapias, no intuito de obter melhores resultados, já que era visível a constatação de bulimia. 
Ele a atendeu com base nas imagens distorcidas que ela tinha do seu próprio corpo, por exemplo; mostrado a ela a numeração da sua calça, que era 40 e que permanecia sempre a mesma. Porémela insistia que deveria vestir 36 o que a levava as crises de ansiedade para alcançar tal numeração.
Depois de algum tempo de terapia e da ajuda dos outros profissionais de saúde, a jovem obteve melhoras na auto provocação do vomito, mas acontecia várias vezes do seu corpo fazer o movimento involuntário, isso mostrou uma evolução no seu quadro, já que ela se conscientizou que não havia mais necessidade de provocar o vomito mostrando assim que houve da parte dela aceitação do seu peso. 
Ele relata que infelizmente o tratamento teve que ser interrompido, quando ela mudou de município, não tendo portanto a certeza da eficácia completa do tratamento. 
 Sendo assim nota-se a importância do papel do psicólogo diante dos transtornos alimentares, juntamente com o apoio dos outros profissionais da saúde, já que é comprovado que os transtornos alimentares estão diretamente ligados a fatores psicológicos. 
 
 
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