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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA REFERÊNCIAS TÉCNICAS E TEÓRICAS DO JUDÔ: CONTRIBUIÇÃO PARA UM TRATAMENTO METODOLÓGICO MAIS SIGNIFICATIVO. Por MARCO AURÉLIO LAURIANO DE OLIVEIRA RECIFE 2000 UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA REFERÊNCIAS TÉCNICAS E TEÓRICAS DO JUDÔ: CONTRIBUIÇÃO PARA UM TRATAMENTO METODOLÓGICO MAIS SIGNIFICATIVO. Monografia apresentada a Coordenação de Pós-Graduação, como requisito complementar para conclusão do curso, de Especialização em Educação Física Escolar. RECIFE 2000 AGRADECIMENTOS Aos professores e amigos da ESEF-UPE, que incentivaram na conclusão deste trabalho. Especificamente, ao professor Paulo Cabral, que sempre me orientou com paciência e dedicação. A minha família, que sempre acreditou em mim. A meus alunos do Judô, que torceram e colaboraram com essa produção. Especialmente, aos que participaram diretamente com a construção do mesmo. Alunos da associação ESEF, Flávio Archanjo Flávio José (fotos) Hamilton Sena Paulo André “Dino” Paulo Valois “monitor do PSA” Tomé Peregrino Aos alunos do PSA, especialmente, Alex Leandro Fernanda Regina (afilhada) Renata Cristina A todos muito obrigado! SUMÁRIO 1.IDENTIFICAÇÃO .................................................................................................................. 5 1.1. TEMA: ..................................................................................................................................... 5 1.2. PESQUISADOR: .................................................................................................................... 5 1.3. ENTIDADE: ............................................................................................................................. 5 1.4. PERÍODO DE REALIZAÇÃO: ............................................................................................... 5 2.PROBLEMA ............................................................................................................................ 5 3.OBJETIVOS ............................................................................................................................ 6 4.JUSTIFICATIVA .................................................................................................................. 7 5.INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10 CAPÍTULO I ............................................................................................................................. 12 JUDÔ: SUA GÊNESE, SUA FILOSOFIA E O JUDÔ NO BRASIL. .................................. 12 1. HISTÓRICO DO JUDÔ ............................................................................................................. 12 2. OS MOTIVOS QUE LEVARAM A CRIAÇÃO DO JUDÔ ...................................................... 15 3. BASES FILOSÓFICAS DO JUDÔ ............................................................................................. 17 4. O JUDÔ NO BRASIL.................................................................................................................. 19 CAPÍTULO II ........................................................................................................................... 25 CARACTERÍSTICAS, QUALIDADES FÍSICAS DO JUDÔ, E A ORGANIZAÇÃO NAS ESCOLAS E ACADEMIAS. .................................................................................................... 25 1.CARACTERÍSTICAS .................................................................................................................. 25 2.QUALIDADES FÍSICAS ............................................................................................................. 27 3.2ORGANIZAÇÃO NAS ESCOLAS E ACADEMIAS ................................................................ 29 CAPÍTULO III ......................................................................................................................... 33 A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO SOBRE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM PARA O JUDÔ. ....................................................................................... 33 1.DESENVOLVIMENTO E A APRENDIZAGEM ....................................................................... 33 CAPÍTULO IV .......................................................................................................................... 41 AS TÉCNICAS DO JUDÔ ....................................................................................................... 41 1.ABORDAGEM INICIAL ............................................................................................................. 41 2.DIVISÃO TÉCNICA DO JUDÔ ................................................................................................. 43 2.1. TÉCNICAS DE QUEDA ................................................................................................................................ 43 2.2. TÉCNICAS DE PROJEÇÃO .......................................................................................................................... 43 2.3. TÉCNICAS DE CONTROLE ......................................................................................................................... 44 2.4. TÉCNICAS DE DEFESA PESSOAL ............................................................................................................. 44 3.UKEMI WAZA - técnica de queda .............................................................................................. 44 3.1. Ushiro Ukemi - queda para trás ....................................................................................................................... 45 3.2. Mae Ukemi - queda para frente ....................................................................................................................... 46 3.3. Yoko Ukemi - queda para o lado ..................................................................................................................... 47 3.4. Zenppon Kaiten Ukemi - rolamento ................................................................................................................ 48 4.NAGE WAZA - técnicas de projeção ......................................................................................... 49 4.1. Tati Waza - técnica em pé ............................................................................................................................... 50 4.1.1. Ashi Waza - técnica com pé ou perna ......................................................................................................... 51 4.1.2. Koshi waza - técnica com o quadris ........................................................................................................... 52 4.1.3. Te Waza - técnica com a mão ou braço ........................................................................................................ 53 4.2. Sutemi Waza - técnica de sacrifício .............................................................................................................. 53 4.2.1. Yoko Sutemi - sacrifício para o lado .......................................................................................................... 54 4.2.2. Ma Sutemi - sacrifício na mesma direção ..................................................................................................... 55 5.GO KYO .......................................................................................................................................56 6.KATAME WAZA - técnicas de controle ..................................................................................... 61 6.1. Osae komi Waza - técnica de imobilização ..................................................................................................... 62 6.1.1. Osae Komi Waza (fotos) ............................................................................................................................ 63 6.2. Shime Waza - técnica de estrangulamento ...................................................................................................... 65 6.2.1. Shime Waza (fotos) ...................................................................................................................................... 66 6.3. Kansetsu Waza - técnica de articulação .......................................................................................................... 67 6.3.1. Kansetsu Waza (fotos) ................................................................................................................................ 68 CAPÍTULO V ........................................................................................................................... 69 SUBSÍDIOS PARA O JUDÔ CONVENCIONAL E PARA AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ...................................................................................................................................... 69 1.VISÃO GERAL ............................................................................................................................ 69 2.ANÁLISE DAS REFERÊNCIAS HISTÓRICAS E FILOSÓFICAS ......................................... 70 3.SUGESTÃO PARA ABORDAGEM DAS TÉCNICAS DO JUDÔ ............................................ 74 4.SUGESTÕES METODOLÓGICAS ............................................................................................ 77 UKEMI, NAGE E KATAME WAZA ........................................................................................... 77 4.1. Ukemi Waza – técnicas de queda ................................................................................................................... 77 4.2. Nage waza – técnicas de projeção ................................................................................................................. 78 4.3. Katame Waza – Técnicas de controle ........................................................................................................... 79 5.ANÁLISE DAS DISPONIBILIDADES MATERIAIS PARA O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA ...................................................................................................................... 80 6.CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 83 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 85 5 1. IDENTIFICAÇÃO 1.1. TEMA: Referências Técnicas e Teóricas do Judô: contribuição para um tratamento metodológico mais significativo. 1.2. PESQUISADOR: Marco Aurélio Lauriano de Oliveira. 1.3. ENTIDADE: Escola Superior de Educação Física – UPE 1.4. PERÍODO DE REALIZAÇÃO: 2º semestre de 1999. 2. PROBLEMA Quais as referências técnicas e teóricas do judô que contribuirão para um tratamento metodológico e estruturação do planejamento contemplando sua essência, nas aulas formais e como conteúdo nas aulas de educação física? 6 3. OBJETIVOS GERAL: Analisar as referências técnicas e teóricas do Judô, elegendo e hierarquizando temas, contribuindo para a elaboração de planejamentos mais significativos, nas aulas formais e como conteúdo nas aulas de educação física. ESPECÍFICOS: Analisar a literatura do Judô, resgatando desde a sua gênese os pontos essenciais para uma prática, consciente e crítica. Relacionar as principais técnicas do Judô selecionando-as de forma que permita uma melhor compreensão das mesmas. 7 4. JUSTIFICATIVA O Judô é hoje, um dos esportes mais praticados no Brasil. Apesar disso, são poucos os profissionais que se sentem em condições de tratá-lo como conteúdo em aulas de educação física, não sendo muito, também, os que ensinam o Judô em escolinhas ou academias de forma adequada. Suas práticas, muitas vezes, são baseadas numa metodologia de reprodução, ou seja, repetindo-se, quase sempre, o mesmo tratamento metodológico vivenciado no passado, sem, contudo, refletir sobre essa metodologia. Hoje, as Instituições de Ensino Superior do Brasil, tem contribuído na busca de metodologias mais apropriadas para o Judô, tentando aproximá-lo, o máximo possível, dos seus verdadeiros objetivos, promovendo uma melhor fundamentação, bem como, têm gerado ao longo dos anos, vários estudos sobre esta modalidade, estimulando as pessoas que trabalham com o Judô a buscarem uma melhor qualificação; bem como, estimulando pesquisas na área, em busca de aumentar os subsídios teóricos, que no caso do Judô são escassos. Sendo assim, com esse trabalho, teremos condições de contribuir com mais uma referência teórica para os alunos da graduação 8 dos cursos de educação física, para os professores de Judô e, para os professores de educação física que queiram utilizá-lo como conteúdo em suas aulas. Pretendemos, a partir das referências estudadas, eleger alguns aspectos importantes do judô que poderão ser abordados em aulas específicas e de educação física, como também, dentre as técnicas existentes, sugerir uma série de técnicas, que, utilizadas em aulas de Educação Física, contemplem o conhecimento da modalidade e sirvam de suporte para aprofundamentos posteriores, caso haja necessidade. Nesse caso, este estudo pretende minimizar dois problemas que interferem na escolha do Judô como conteúdo em aulas de educação física: a grande quantidade de técnicas que pertencem ao Judô, que têm levado alguns professores, a colocarem este conteúdo em segundo plano, quando solicitado pelos alunos, por entenderem que seria necessário à apreensão de todas as técnicas, para fazer uso do assunto com competência. É lógico, que, se o professor possuir vasto conhecimento sobre qualquer modalidade que queira abordar, ele terá mais tranqüilidade em eleger determinados conteúdos, porém, entendemos que não seja necessário um conhecimento aprofundado de todas as técnicas do judô para usá-lo com competência em aulas de 9 educação física, e sim, um conhecimento organizado, fundamentado em bons referenciais que permitam tratá-lo de forma adequada e significativa. O outro problema, é a dificuldade material, elemento complicador não só para o judô, como para qualquer outra modalidade esportiva, visto que, toda modalidade tem o seu material específico, que sem ele a atividade ficará deficiente. Tentaremos, entre outras coisas, com essa pesquisa, discutir estes aspectos e identificar até que ponto, dependendo dos objetivos eleitos, qual será o material necessário. 10 5. INTRODUÇÃO O presente estudo tem como objetivo, pesquisar as referências teóricas e técnicas do Judô, e eleger alguns aspectos importantes que poderão ser abordados em aulas específicas de judô e de educação física, como também, dentre as técnicas existentes, sugerir uma série de técnicas, que possam ser utilizadas em aulas de Educação Física, que contemplem o conhecimento nessa modalidade. No primeiro capítulo, fazemos uma abordagem do Judô: sua gênese,sua filosofia e o Judô no Brasil, discutindo quais os equívocos cometidos na prática pedagógica e quais os aspectos que não devem ser esquecidos no Judô convencional ou em aulas de educação física. No segundo capítulo, analisamos as características, qualidades físicas do judô, e a organização nas escolas e academias. No terceiro capítulo, analisamos a importância do conhecimento do desenvolvimento e da aprendizagem para o judô. Tentaremos demonstrar as implicações na prática pedagógica do não 11 conhecimento desses temas. No quarto capítulo, veremos as técnicas do Judô, de forma bem detalhada, oferecendo uma grande quantidade de informações, que permitem ao leitor uma compreensão de todas as subdivisões, e classificações das mesmas. O quinto capítulo, tem como característica, a apresentação dos subsídios para o Judô convencional e para as aulas de educação física, baseados na análise dos assuntos tratados nos capítulos anteriores. Concluiremos, com as considerações finais, esperando ter proporcionado as reflexões necessárias, que venham contribuir para uma melhoria da prática pedagógica do Judô, como também, estimulado o uso deste tema como conteúdo em aulas de educação física. 12 CAPÍTULO I JUDÔ: SUA GÊNESE, SUA FILOSOFIA E O JUDÔ NO BRASIL. 1. HISTÓRICO DO JUDÔ Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o Judô não tem na sua criação a intenção de ser uma arte marcial, e sim uma modalidade de luta com objetivos esportivos e pedagógicos, criado a partir de uma arte marcial muito eficiente e antiga chamada Ju Jutsu. Tão antiga que as únicas referências que temos da sua origem, são baseadas em lendas, sendo a mais conhecida entre os meios judoísticos a que conta sobre: Um médico japonês, chamado Akiyama Shirobei que havia residido na China, durante alguns anos, teria aprendido uma famosa arte de luta, denominada “wou-chou”. Quando voltou ao Japão, constatou que para aplicar alguns golpes era necessário dispensar um grande esforço. Isso o deixou bastante desanimado. (Calleja, 1983, p.08) Uma vez que, pessoas com pouco porte físico, enfrentavam sérias dificuldades para vencer outros adversários fisicamente 13 superiores. Para refletir, de que forma uma pessoa poderia derrotar um adversário com superioridade física, isola-se em um mosteiro, baseando sua reflexão em torno da seguinte questão: Se, uma vez que ataco, eu sou positivo, sou por conseguinte negativo assim que sou atacado. Ora, opor uma ação a outra ação não é vantajoso a não ser que a minha força seja superior a força adversa..... Pois, se a ação positiva é sempre aniquilada por uma ação positiva mais importante, como conjugar tal coisa até ao completo domínio? (Robert, 1964, p.10). Um problema aparentemente sem solução, que segundo Calleja, teria sido resolvido durante uma tempestade quando Akiyama Shirobei observando duas árvores, a Cerejeira e o Salgueiro, percebeu a solução. Vendo que a Cerejeira apesar de ser uma árvore robusta, não resistia a adversidade do temporal e ao final do mesmo encontrava-se em pedaços, enquanto, o Salgueiro por ser uma árvore aparentemente frágil, porém flexível, curvava-se com o peso da neve que escorregava pelos seus galhos, possibilitando-os sempre retornar a posição original. Vendo este quadro, modificou as técnicas do “wou chou” baseando-as no princípio “Ceder para Vencer”. Como os movimentos do Salgueiro, que cedia ao peso da neve para resistir a tempestade. A essas novas técnicas dá o nome de JU JUTSU (técnica suave). (Calleja,1983 p. 08). 14 Não pretendemos aqui levantar discussões acerca das referências baseadas em lendas, para explicar a origem do Ju Jutsu. O que nos importa agora, é identificar elementos que possam contribuir para o aprendizado do Judô. Podemos perceber, que esta lenda tem como objetivo principal explicar o princípio que fundamenta o Ju Jutsu, o que poderemos constatar, ser válida para o Judô, uma vez que, o princípio “Ceder para Vencer”, poderá ser observado em todas as técnicas do Judo, principalmente, nas de projeção. Sabendo disso, concluiremos que, não é adequado aprender as técnicas do Judô, sem antes ter a clareza de como se utilizar deste princípio, na aplicação das mesmas, o que, sem dúvida, além de demandar em um esforço muitas vezes desnecessário e de pouca eficiência, a aprendizagem se dará de forma incompleta, uma vez que, é desprovida do entendimento essencial para a aplicação das técnicas. 15 2. OS MOTIVOS QUE LEVARAM A CRIAÇÃO DO JUDÔ Depois da sua criação, o Ju Jutsu se desenvolve largamente pelo Japão, segundo Calleja, foi de 1603 a 1867 o seu melhor período, sendo os guerreiros Samurai os seus mais diretos e perfeitos cultuadores. Apesar de existirem muitas academias de Ju Jutsu pelo Japão, não havia uma padronização, existindo academias especializadas em técnicas de solo, outras em técnicas de projeção, percussão etc. Os professores ensinavam as crianças os chamados “golpes mortais” e os confrontos geralmente ocorriam até a morte. (Calleja, 1983, p. 08). Em 1882, Jigoro Kano, um jovem estudioso e com formação na área de educação, licenciado em letras, realizou estudos em ciências estéticas e morais e tendo toda sua vida voltada para a educação. Dentre outras coisas, foi professor, vice presidente e reitor do Colégio dos Nobres, conselheiro do Ministro da Educação Nacional, diretor da Escola Normal Superior, diretor da Educação Primária no Ministério da Educação Nacional, Adido ao Palácio Imperial, torna-se o primeiro japonês a fazer parte do Comitê Olímpico Internacional e é considerado por muitos o pai da Educação Física no Japão. Admirador e praticante de várias modalidades do Ju Jutsu, 16 por achar que qualquer atividade física deveria, antes de tudo, servir para a educação de seus praticantes, via no Ju Jutsu, grandes possibilidades educativas, contudo, seria necessário implementar algumas modificações, a começar pelos objetivos, uma vez que os principais objetivos do Ju Jutsu estavam ligados a guerra, tendo os seus principais praticantes, como já foi citado, os Samurai que eram verdadeiros guerreiros nas lutas corpo a corpo. Segundo Gama, Jigoro Kano, Baseado nas leis da dinâmica, ação e reação, selecionou as técnicas que ofereciam fundamentos científicos, criou sua própria disciplina, elaborou uma nova orientação, inseriu princípios básicos como do equilíbrio, gravidade e sistemas de alavancas nas execuções dos movimentos lógicos. Idealizou regras para confrontos esportivos, baseados no espírito IPPON-SHOBU (luta pelo ponto completo); substitui o nome Ju Jutsu, pois o fim visado já não era a arte guerreira e sim a valorização da vida. (Gama, 1986. p 04). A substituição do nome Ju Jutsu foi feita da seguinte forma: Manteve o prefixo “JU” (suave), substitui a palavra “JUTSU” (técnica) por “DO” (caminho ou via). Sendo assim, o Ju Jutsu reformulado passa a se chamar JUDÔ (Caminho Suave). Com a mudança do nome, procurava fortificar a idéia que não se tratava apenas de simples mudanças técnicas, objetivava-se com o Ju Jutsu modificado, a busca na melhoria 17 da qualidade de vida de forma geral. 3. BASES FILOSÓFICAS DO JUDÔ Segundo Gama, os ensinamentos do Judô fixaram suas raízes na fusão filosófica das quatro escolas de pensamentos ético- religiosas desenvolvidas no Oriente: TAOISMO, SHINTOISMO, BUDISMO e CONFUCIONISMO. Que tem como síntese para o Judô, o entendimento, de desvincular as técnicas aprendidas no Dojo* doseus objetivos aparentes, que é superar outro adversário, mas sim, o de superar a si mesmo. Aprender a governa-se com sabedoria. (Gama, 1986, p. 04) Os estudos para fundamentar o Judô em bases teóricas mais sólidas, longe do empirismo muito comum ao Ju Jutsu da época, continua a passos largos ao ponto que, em 1922, é fundada a Sociedade Cultural “Kodokan”** e um movimento social foi lançado, com base nos axiomas “Seryoku Zen Yo” (Máxima Eficácia) e “Jita Kyoei” (Prosperidade e Benefícios Mútuos)” (KODOKAN ISTITUTE apud, Caleja 1983). * Dojo: local onde se pratica o Judô **Kodokan: Nome da primeira academia de Judô, fundada por Jigoro Kano 18 Completam-se as bases filosóficas que deverão nortear a prática do Judô. Sendo a “Máxima Eficácia, e Prosperidade e Benefícios Mútuos” a fórmula filosófica para a superação pessoal, de um elemento participante de uma sociedade, sem a qual essa superação tonar-se-á inviável se pretendida isoladamente do contexto social. Conforme o exposto, fica-nos claro, que Jigoro Kano, com o Judô, pretendera criar uma modalidade de luta, que não tivesse um fim em si mesmo, que a sua prática significasse, de alguma forma, um pensamento voltado para uma melhoria pessoal e da sociedade. Consequentemente, uma prática baseada no pensamento crítico. 19 4. O JUDÔ NO BRASIL Sendo o judô hoje, um dos esportes mais praticados no Brasil, nem por isso, podemos concluir que sua prática tem se dado adequadamente, uma vez que, observamos no decorrer dos anos, que além de sofrer as influências que muitas vezes são comuns a todos os esportes, como por exemplo: a necessidade que alguns professores sentem de aprimorar o mais rápido possível o seu atleta, (especialização precoce) o ganhar, como elemento mais importante na modalidade, (exacerbação da competição) a presença na mídia, como forma de ascender profissionalmente e outros motivos que desvirtuam o bom trato da modalidade esportiva. Acrescenta-se o fato que, o que tem norteado sua prática no decorrer dos anos, é o pouco conhecimento das suas bases históricas e filosóficas, como observaremos a seguir. Saray Giovana, realizou um estudo no Paraná, tendo como objetivo diagnosticar a aplicabilidade dos princípios judoísticos na aprendizagem do judô. O estudo foi realizado com atletas e técnicos membros da Federação Paranaense de Judô. Demonstrou no seu decorrer o quanto o Judô que hoje é ensinado encontra-se desarticulado dos objetivos da sua gênese e concluiu, mostrando a necessidade de um maior aprofundamento teórico, para garantir uma prática mais consciente 20 e crítica. (Saray Giovana, 1990 p.14). Nas entrevistas, quando se questionou os aspectos que diferenciam o judô de outras modalidades, obteve-se, de forma expressiva, a filosofia, como resposta. Entretanto, sobre os princípios do Judô, constata-se que a grande maioria não tem conhecimento dos mesmos. Ao tentar resgatar a utilização dos princípios durante aulas práticas de Judô, os praticantes responderam; “que quando se trata de aulas práticas se utilizam dos princípios para não lesionar o companheiro, em situação de confronto decisivo os princípios não tem muita importância”. (in Saray,1990, p.13). Com os técnicos, também ficou claro que a maioria não tem conhecimento dos princípios do Judô. Os autores concluíram que, tantos os praticantes quanto os técnicos são conscientes que o Judô possui uma filosofia, porém, não apresentam conhecimentos de seus princípios. (in Saray,1990, p.14). Estudos como esse, alerta-nos sobre a prática pedagógica, a qual o Judô está inserido no Brasil, que não se diferencia de forma significativa dos outros esportes, assim como ele se coloca. Em alguns casos, até se processa mais gravemente, uma vez que tem, no discurso a sua filosofia como sendo o elemento diferencial das outras modalidades esportivas, dando a entender aos leigos, ter algo mais a 21 oferecer. No entanto, constata-se que essa filosofia é pouco conhecida, consequentemente, não podendo ser utilizada adequadamente. Outras implicações que devem ter influenciado negativamente a prática pedagógica do Judô no Brasil, podem estar relacionada a sua chegada neste país, através do processo de imigração japonesa, que na ocasião desenvolve duas vertentes para a prática do Judô no Brasil. Segundo Calleja, O Judô chega ao Brasil de forma um pouco confusa por volta de 1925, apesar do seu precursor no Brasil, ser altamente graduado pela Kodokan, fez fama, em lutas violentas de Ju Jutsu, muitas vezes sangrentas e confrontando-se com as diversas modalidades de lutas existente no país. (Calleja, 1983. p.15) Fazendo uma leitura desse dado histórico, podemos observar que muitos praticantes do Judô quando da sua origem, eram antigos adeptos do Ju Jjutsu, que na ocasião, por não gozar de muita simpatia, se dirigiram para a prática do Judô, deparando-se com um pensamento filosófico de difícil absorção. Para alguns disseminadores do Judô, a sua filosofia não tinha sustentação, ou por estar além da sua época, ou muito provavelmente, pela própria necessidade temporal, que um pensamento filosófico precisa para se consolidar, basta observarmos, que as bases 22 filosóficas que deveriam nortear a prática do Judô só foram completadas em 1922. Impossibilitando que o Judô, chegasse ao Brasil de forma coesa no que se refere aos aspectos filosóficos. Paralelamente, a outra vertente, é a necessidade que imigrantes japoneses sentiam na manutenção da sua cultura “o Judô é entronizado por professores japoneses e torna-se um meio eficaz para manter o espírito japonês e enriquecer a formação dos jovens nipônicos... A grande preocupação dos japoneses era não perder as características orientais, ainda que muito distante” (Monteiro, 1998, p. 44 e 45). Percebendo-se, a influência do rigor da cultura japonesa, em prol, da aprendizagem do Judô nos judocas brasileiros, confundindo-se cultura com modalidade esportiva. Em contra partida, só progrediam no Judô, pessoas que se submetessem a este processo de aculturamento, dando oportunidade a professores autoritários e reprodutores de uma pedagogia, formada como única referência: o Dojo, serem os disseminadores do Judô no Brasil. Levando a prática pedagógica inerente ao judô a cometer equívocos muitas vezes irreparáveis, que observam-se até nos dias atuais. Levando Freitas a concluir que, 23 o Judô tem participado negativamente no desenvolvimento do psiquismo infantil por introjetar nas crianças, de forma autoritária, regras de conduta ditas “oficiais” mas que na realidade são as regras de conduta com as quais determinada classe social, por sinal hegemônica, procura a manutenção de uma certa ordem social e econômica..... Pautando-se quase sempre numa linha de trabalho não científica. (Freitas.1989, p. 35). Embora, possamos observar que não só o Judô, e sim todos esportes, muitas vezes tem atuado negativamente, como práticas pedagógicas com características reprodutoras dos valores das classes sociais hegemônicas, observamos no entanto que, a prática pedagógica está pautada no entendimento de educação do professor. Para Luckesi, a educação não se manifesta como um fim em si mesma, se processa de duas formas, como instrumento de manutenção ou transformação social. E a prática pedagógica, se processará de acordo com o entendimento de mundo que o educador tem. Ou realizará de forma consciente e crítica ou reproduz um modelo baseado no senso comum. (Luckesi, 1993. p.30à 32). Contudo, o judô brasileiro, teve todo um processo histórico que beneficiou essas práticas baseadas na manutenção de modelos das classes sociais hegemônicas. Basta salientar que a chegada do Judô no Brasil, além dos problemas já 24 relatados, coincide com o início da tendência de educação física militarista que segundo Ghiraldelli, tinha como objetivo principal, a obtenção de uma juventude capaz de suportar o combate, a luta, a guerra, eliminando os fracos e premiando os fortes e tinha na disciplina exacerbada o pré-requisito básico para a sua manutenção, (Ghiraldelli, 1992. p.18). Se o Judô serviu para mostrar superioridade física e para manter o modelo de cultura de um povo, facilmente foi utilizado ao longo dos anos como meio de manutenção dos modelos sociais hegemônicos. O importante hoje, é termos clareza quanto a qual o modelo de Judô queremos. Se optarmos pelo Judô de Jigoro Kano, precisamos o quanto antes nos apropriarmos do conhecimento histórico e filosófico do judô, como também, termos uma leitura crítica da realidade, para que possamos resgatar na essência do Judô, os elementos necessários para desenvolvê-lo de forma consciente e crítica, não mais o reproduzindo segundo modelos determinados pelas elites brasileiras. 25 CAPÍTULO II CARACTERÍSTICAS, QUALIDADES FÍSICAS DO JUDÔ, E A ORGANIZAÇÃO NAS ESCOLAS E ACADEMIAS. 1. CARACTERÍSTICAS O Judô é um esporte que tem como principal característica a utilização básica do desequilíbrio de um companheiro, para projetá-lo em um local revestido com vários colchões denominados de tatami. Um estudo da Caracterização do esforço em modalidades desportivas mensuráveis e não mensuráveis realizado por Silva (1988), traz acerca do Judô a seguinte caracterização. O judô é um esporte extremamente complexo com características biomecâncias acíclicas, os movimentos não são repetitivos. Com muita dificuldade de identificar o esforço a ser realizado em uma competição, em virtude do que vai determinar o esforço em cada luta, é o oponente, e luta-se várias vezes no mesmo dia e nenhuma luta será igual a outra, portanto fica impossível para o professor detectar antecipadamente com precisão as situações de estresse a que serão submetidas seus alunos. (Silva, 1988 p.36). Possui uma variedade de técnicas, que, para o Judô competitivo há necessidade de grande parte ser vivenciada nos treinos, 26 não com os objetivos de aprendê-las para aplicá-las em competições, e sim, conhecê-las sabendo-se assim quais os procedimentos de esquivas ou contra golpes adequados a ocasião, paralelamente, o judoca competidor tem que se aprimorar em uma ou duas técnicas, que só serão eficientes se aplicadas com grande velocidade, independente do estado de fadiga em que se encontre. Não que nos treinos as técnicas não tenham que ser aplicadas com rapidez, mais os alunos descansam periodicamente, além de não haver a preocupação constante de não cair e também não existe a necessidade de atacar seguidamente até a exaustão o que em competição não é possível. O grau de concentração é muito elevado, pois o judoca tem que se antecipar ao oponente, identificando o tipo de ataque que será desprendido, além de planejar e realizar o seu próprio ataque. Toda essa elaboração mental tem que ser organizada em segundos e um leve descuido é suficiente para se perder uma luta. Como vimos, o Judô é um esporte com características muito complexas, de forma que, não teremos condições de estabelecer com segurança o grau de exigência que serão submetidos nossos alunos na ocasião de uma competição. Precisamos ter consciência, dessas dificuldades, para podermos estabelecer, o tipo de estresses que poderá 27 se instalar quando permitimos que participem de competições com nível de exigência elevado. É imprescindível que se tenha a compreensão das características do Judô, e assim possamos proteger nossos alunos, evitando traumas, por estarem submetendo-se a atividades com níveis de exigências além das suas capacidades. 2. QUALIDADES FÍSICAS Outro aspecto que devemos considerar, para uma prática pedagógica do Judô com mais eficiência, é o conhecimento das qualidades físicas que estão envolvidas com a modalidade. Como vimos anteriormente, o Judô é um esporte complexo e a maior quantidade possível de informações a seu respeito, contribuirá com o professor na organização de suas aulas. Tubino (1979), relata as seguintes qualidades físicas para o Judô : 1. Força explosiva dos membros superiores e inferiores 2. Coordenação 3. Ritmo 4. Agilidade 5. Flexibilidade 28 6. Equilíbrio dinâmico 7. Equilíbrio recuperado 8. Resistência aeróbica 9. Resistência anaeróbica 10. Resistência muscular localizada nos membros superiores e inferiores 11. Descontração diferencial 12. Descontração total Não existindo um total consenso entre os autores com relação as qualidades físicas do judô, porém, todos apontam as seguintes coincidências: Resistência: aeróbica, anaeróbica Velocidade: reação Força: estática - dinâmica - explosiva Equilíbrio: dinâmico- recuperado Vale salientar, que esse conhecimento, atrelado as características do Judô, permitirá que o professor tenha clareza de quais qualidades físicas estão sendo exigidas em um treino ou competição. Outro ponto, que justifica esse conhecimento está mais relacionado com a especificidade das técnicas do Judô, ou seja, saber quais as 29 qualidades físicas estão envolvidas diretamente com a aplicação de suas técnicas, o que possibilitará ao professor escolher o repertório de técnicas que serão vivenciadas pelo seu grupo, não permitindo a aplicação de outras com um nível de exigência elevado de determinadas qualidades físicas, que não sejam adequadas para o grupo de alunos em questão. 3.2 ORGANIZAÇÃO NAS ESCOLAS E ACADEMIAS O judô no Brasil, está organizado na sua prática de duas formas: Em academias ou clubes e escolas, geralmente particulares. Nas academias e clubes, o judô assume características exclusivamente competitiva, ou seja, as pessoas que procuram o judô podem até ter outros objetivos, mais o objetivo do local é certamente o alto rendimento, com raras exceções. Nas escolas apresenta-se de forma um pouco diferenciada. Dependendo da escola e do professor, o judô poderá ter como objetivo principal a competição. O aspecto competitivo, tem se apresentado como um problema, uma vez que, vem levando muitos professores, por falta de 30 uma formação adequada, buscarem em seus alunos, a especialização precoce e a exacerbação da competição. Consequentemente, alunos que se inscreveram para essa prática, motivados por outros objetivos que não competitivos, decepcionam-se, além de serem eliminados precocemente, não por serem excluídos das aulas e sim por se depararem com atividades totalmente diferentes das que eles pensavam. Como afirma Lima, .... um erro frequente na atuação dos treinadores e docentes de educação física, é dar pouquíssima atenção a forma como recebem e tratam as crianças quando estas se apresentam pela primeira vez, numa atividade desportiva organizada pelos adultos. ( Lima,1989. p. 29). Outro erro que o autor aponta é, ... dirigir a iniciação de modo a impor às crianças objetivos que elas não podem atingir. ..... Levando algumas crianças a serem eliminadas por não conseguirem alcançar os objetivos imposto, ainda causando um climade insegurança nos que ficaram, pois se falharem, serão também eliminados ”. (Id. 1989. p. 30). Muitas vezes, alguns professores, em busca de um aprimoramento exacerbado, levam a criança a desempenhar atividades que não estão ao seu alcance, consequentemente, não conseguem o aprimoramento desejado, além de, possivelmente, resultar em prejuízos 31 com conseqüências irreparáveis. Para Knapp “se a criança experimenta antes de estar preparada, pode sentir frustrações que a prejudicará no seu desenvolvimento posterior e a fará perder tempo.” Knapp (198? p. 85). Ambos os autores, fortalecem a idéia de que toda experiência nova deve estar fundamentada nas reais possibilidades do educando, sob pena de não haver assimilação do que esta tentado se ensinar, pondo em risco todo o processo de desenvolvimento em que a criança se encontra. Essas distorções que levam a criança a experimentar situações que estão longe de sua realidade concreta, causam confusão mental, podendo até deixa-la numa situação inferiorizada, por acharem- se incompetentes perante um grupo. Como vimos, a prática do Judô, poderá ser problemática, se o professor não tiver a competência necessária para lidar com essas questões, e possa promover a prática pedagógica do Judô consciente e crítica observando todos os fundamentos necessários para tratar o Judô, segundo os objetivos de Jigoro Kano, garantindo o conhecimento da sua história e o exercício da sua filosofia, como analisamos no capítulo anterior. O objetivo de abordarmos esse assunto é o fato que esses 32 problemas ocorrem dentro da escola, embora não concordemos que isso ocorra também nas academias e clubes, pois não existe um Judô diferente para cada local onde ele é desenvolvido, porém, na escola, penso, é inadmissível, se considerarmos a escola como o local onde todas as ações que lá aconteçam devam estar voltadas para a educação dos seus alunos. 33 CAPÍTULO III A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO SOBRE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM PARA O JUDÔ. 1. DESENVOLVIMENTO E A APRENDIZAGEM Vendo os capítulos anteriores, observamos que os problemas apresentados estão bem relacionados com o que, como e quando ensinar. Situação que vai recair na questão metodológica, que por sua vez passa também pelo entendimento de como se processa o desenvolvimento da criança juntamente com o como ela aprende. Pois, sem uma compreensão do desenvolvimento e dos mecanismos da aprendizagem, não será possível uma elaboração metodológica coerente. Segundo Oliveira, 1993 interpretando as idéias de Vygostsky, quando nos referimos ao desenvolvimento de uma criança, estamos querendo saber até onde ela chegou, ou o que ela é capaz de fazer sozinha, e a respeito de quando a aprendizagem deva acontecer, Vygostsky se refere a dois momentos, o primeiro é o Nível de Desenvolvimento Real, que é a etapa em que a criança é capaz de realizar uma determinada tarefa sozinha. O Segundo, é o Nível de 34 Desenvolvimento Potencial, que está relacionado a capacidade que a criança tem de realizar uma determinada tarefa com ajuda de outras pessoas. O autor procura demonstrar, que é a aprendizagem que impulsiona o desenvolvimento, visto que uma ação de ensino realizado no nível de desenvolvimento potencial apressaria a consolidação de uma determinada etapa de desenvolvimento, impulsionando a criança para o nível de desenvolvimento real, consequentemente pronta para outros tipos de aprendizagem. E deixa claro que uma ação pedagógica realizada em etapas anteriores a zona de desenvolvimento potencial não surtirá efeito, uma vez que, não existe maturidade suficiente para se processar a aprendizagem, como também, a intervenção realizada no nível de desenvolvimento real, não teria importância, pois se encontra em etapas já consolidadas. A partir desses dois níveis é que Vygostsky, define a Zona de Desenvolvimento Proximal, que seria a distância do nível potencial ao real, ou seja, a distância que a criança percorre da realização de tarefas com ajuda, para realizá-las sem ajuda. (Oliveira apud Vygostsky, 1993, p. 58 à 61). Acrescenta ainda, uma forte ligação do indivíduo com o ambiente sócio-cultural, determinando que sem a ajuda de outras pessoas o indivíduo não se desenvolve plenamente. 35 Sendo assim, vemos em Vygostsky, uma grande pista para uma prática pedagógica mais adequada, se concentrarmos nossas ações em valorizar, tanto as relações sociais, quanto, implementa-las no momento certo que venha a contribuir, para uma aprendizagem significativa, consequentemente, um avanço no desenvolvimento sem prejuízos para os alunos. Para Wallon, o desenvolvimento se processa numa dialética de desenvolvimento onde entram inúmeros fatores: metabólicos, morfológicos, psicomotores, psicotônicos, psicoemocionais e psicossociais. E temos dois aspectos importantes que fazem parte do movimento que são elementares do comportamento como a previsão (fator de antecipação) e a execução (fator de controle). O movimento é nessa perspectiva inteligência concreta. O movimento torna-se comportamento assentado no ajustamento entre os dados exteroceptivos (captados pela percepção) e os proprioceptivos (organizados pela memória e pelo conhecimento do próprio corpo). E é através do movimento e da ação que a criança se liberta das sensações e percepções. Liberdade que é simultaneamente conquista interior, pois toda ação exteriorizada é antes ação interiorizada. Portanto, não havendo separação da ação com a 36 consciência, estabelecendo a necessidade de um bom sincronismo desses dois fatores, para que a criança demonstre na sua ação o resultado do seu pensamento. 27). Diferente de Vygostsky e Wallon, Fonseca apud Piaget (1987), afirma que a inteligência do homem é vista mais como uma adaptação do homem ao mundo exterior. Adaptação esta, verificada de duas formas que ele chama de ASSIMILAÇÃO; como sendo todas as coisas, situações ou objetos que se encontram fora da criança para ser agido por ela, e é através da ação e do movimento que a criança incorpora o mundo exterior. A esse processo de incorporação ele chama de ACOMODAÇÃO” (id. 1987. p. 35 à 36). Ou seja, primeiro a criança assimila para depois acomodar sempre nessa ordem. E é através de constantes acomodações que o indivíduo transforma-se. Como se vê, Piaget, destaca o movimento como sendo o motor que possibilita a criança apreender os objetos. E dá a idéia de que cada passo da aprendizagem a frente exige a utilização de aprendizagens anteriores, ou seja, é numa inter-relação do passado, presente e futuro que a aprendizagem se estabelece. Vygostsky, Wallon e Piaget com concepções muitas vezes 37 diferentes no que se refere ao desenvolvimento e aprendizagem, são unanimes quando colocam a interação do indivíduo com o meio, variando talvez, no nível dessa interação. E será o movimento humano e a ação, dois dos fatores de grande importância para que ocorram a aprendizagem e o desenvolvimento. Sendo o movimento e a ação, algo muito mais significativo do que simples contrações musculares. Então, torna-se imprescindível que o professor que trabalhe com esportes, tenha conhecimento das teorias da aprendizagem, bem como do desenvolvimento motor das crianças que estão sobre a sua responsabilidade, garantindo com sua prática o desenvolvimento da criança sem traumas nem atropelos e promovendo aprendizagens significativas. Voltando a questão metodológica, como se pode percebernesse capitulo, a criança aprende de forma contínua e progressiva: engatinha, anda, corre, etc. Sempre de forma gradual e não uma série de saltos. Com o Judô, o aprendizado não deve ser diferente. Segundo Knapp, a criança deve ter idade apropriada para poder aprender certas atividades, a idade necessária não é a idade cronológica, mas a idade fisiológica, isto é, o grau de maturidade atingido pela criança. (Knapp, 198?, p. 84). O grau de maturidade, deve ser respeitado pelo professor 38 ao elaborar atividades que sendo mau planejadas podem levar a que alguns alunos, impossibilitados de realizá-las, sintam-se inferiorizados. Não tendo espaço em grupos onde as atividades estão bem além da sua capacidade, sem ter oportunidade de melhorar, não veem saída a não ser abandonar o Judô. Sem contar os danos físicos ou emocionais imediatos ou em longo prazo que poderão se instalar. Com relação ao desenvolvimento motor, “é na puberdade que as crianças encontram-se em condições de desenvolver as capacidades físicas motoras” (TANI,1988 p. 89). Fato este que deve ter, pelos professores de Judô, muita atenção, pois, a maioria recebe seus alunos quando eles se encontram antes ou no início da puberdade, e a observação equivocada deste quadro também teria consequências não muito agradáveis. A taxinomia para o domínio motor, segundo (Tani, apud Harrow, 1988 p. 67), coloca as habilidades específicas, como o Judô, o período apropriado para as crianças que se encontram a partir dos 11 anos de idade. Contudo, vale salientar que essa faixa etária refere-se a idade provável, não necessariamente um aluno que encontra-se com 11 anos, estará plenamente no período das habilidades específicas, podendo ainda estar amadurecendo algumas habilidades básicas que é o período de desenvolvimento imediatamente abaixo das 39 habilidades específicas. Cabe ao professor observar este fenômeno e ter competência para lidar com estas questões, sem prejuízos para o aluno. Sabemos que não é tarefa fácil, porém, necessária, do contrário não será possível a aprendizagem das habilidades específicas sem que o aluno seja prejudicado. Visto que “a aquisição de uma habilidade não depende da iniciação precoce e sim da aprendizagem no momento oportuno,” (Tani, 1988, p. 89). Com relação ao desporto especificamente, o autor afirma que, “o desporto é muito importante, por proporcionar a criança o desenvolvimento das qualidades específicas que também é patrimônio cultural da humanidade... proporciona o desenvolvimento afetivo-social, cognitivo, como o desenvolvimento cárdio-respiratório.” (Id. 1988, p. 90). Podemos perceber que o esporte poderá ser um excelente meio para o desenvolvimento e da aprendizagem, contudo, vale a pena mencionar as implicações na formação da personalidade, como a questão da ética, da moral e dos valores inapropriados que poderão ser adquiridos em conseqüência de uma prática esportiva mau orientada. Pires afirma que, 40 O desporto mau utilizado, encobre processos poucos claros, degrada consciência, deturpa valores, manipula população, esquece princípios, desencadeia paixões desacerbadas, torna-se um fim em si mesmo.... Não chega praticar desporto, torna-se cada vez mais necessário e urgente repensar a sua filosofia, os seus princípios, as suas estratégias e as suas práticas. (Pires,1991. P. 41). É este tipo de esporte que não deve interessar ao professor de educação física, principalmente de Judô. Temos que garantir não só uma boa prática do Judô, com aprendizagens significativas, como também, garantir o desenvolvimento da criança sem atropelos, para que ela possa se desenvolver em toda sua plenitude e, paralelamente o professor não deve se furtar de tratar dos valores morais e éticos, que contribuam para a formação da personalidade da criança, conforme estar implícito nos princípios filosóficos do Judô. 41 CAPÍTULO IV AS TÉCNICAS DO JUDÔ 1. ABORDAGEM INICIAL Antes de abordarmos as técnicas do Judô, faz-se necessário alguns esclarecimentos, para possibilitar uma melhor compreensão das mesmas, bem como, desse capítulo. Não apresentaremos todas as técnicas do Judô, uma vez que este trabalho não tem essa intenção e sim fornecer informações que possibilitem uma prática pedagógica mais significativa, para os professores de judô e de educação física que queiram tratá-lo como conteúdo em suas aulas. Iniciaremos vendo como está organizado tecnicamente o Judô, usando os termos técnicos com as devidas traduções, com o objetivo de facilitar o entendimento das partes pertencentes ao Judô, bem como, a familiarização desses termos, uma vez que são usualmente veiculados nos meios judoísticos em todo mundo, sendo também didaticamente importantes se bem utilizados. Salientando, que sempre que possível, será oferecido, mais de um ponto de consulta, que vai ajudar para uma melhor compreensão das técnicas do Judô. 42 Veremos as técnicas de projeção que pertencem ao Go Kyo (Princípios de ensinamentos, que são uma série de técnicas de projeção elaboradas por Jigoro kano, em 1886 e reformuladas em 1920 por Jigoro Kano e os mestres da Kodokan). O Go Kyo, foi organizado observando o grau de dificuldade e continuidade das técnicas. No entanto, inicialmente, veremos suas técnicas organizadas por parte do corpo essencial para execução. Em seguida, observaremos em fotos o Go Kyo organizado segundo a última reformulação. Veremos também uma técnica chamada, Ippon Seoi Nage, que apesar de não pertencer ao Go Kyo, é considerada importante, por ser muito utilizada nos últimos anos. Finalizaremos o capítulo, com algumas técnicas de controle, selecionadas, de acordo com as possibilidades das mesmas servirem de base para futuros aprofundamentos. 43 2. DIVISÃO TÉCNICA DO JUDÔ O Judô, está dividido em quatro grandes grupos, conforme poderá se observado na figura 1. Figura 1. Divisão técnica do Judô 2.1. TÉCNICAS DE QUEDA São as formas de cair, elemento fundamental para o Judô uma vez que o cair, é o ato mais frequente na sua prática. 2.2. TÉCNICAS DE PROJEÇÃO São as correspondentes ao ato de projetar um companheiro no solo. As técnicas de projeções são consideradas as mais importantes JUDÔ Caminho suave Nage Waza TÉCNICA DE PROJEÇÃO Ukemi Waza TÉCNICA DE QUEDA Atemi Waza TÉCNICA DE DEFESA Katame Waza TÉCNICA DE CONTROLE 44 e as mais admiradas pelos judocas. 2.3. TÉCNICAS DE CONTROLE São as que visam controlar os movimentos do companheiro, através de imobilizações, estrangulamentos e chaves de articulações. 2.4. TÉCNICAS DE DEFESA PESSOAL Parte relacionada a defesa pessoal. Hoje pouco utilizada pelos praticantes de Judô, uma vez que o aspecto esportivo, não demanda tempo para essa prática, que também exige muita especialização. Nesse trabalho não consideraremos as técnicas de defesa pessoal, visto que o assunto não pertence ao foco de interesse do estudo. 3. UKEMI WAZA - técnica de queda Conforme citado anteriormente, é a parte essencial do judô, por ser um pré-requisito para a iniciação às técnicas de projeção. São tão importantes que independente do nível de aprendizagem que os judokas se encontrem, nem o tipo de treino que vai realizar, antes de se iniciar a parte fundamental dos treinos, torna-se essencial realizá-las 45 como preparação. Para o iniciante, o ukemi waza, assume umaimportância ainda maior, uma vez que, o medo de cair interfere diretamente no acesso as técnicas de projeção, não havendo progresso significativo enquanto não se consiga cair razoavelmente bem. O ukemi waza está dividido em quatro grupos de acordo com a figura 2. Figura 2. Divisão das técnicas de queda. 3.1. Ushiro Ukemi - queda para trás Forma de cair pouco utilizada no Judô, uma vez que uma pequena quantidade de técnicas permite que se caia dessa forma, no Ukemi Waza - TÉCNICA DE QUEDA Mae Ukemi – queda para frente Ushiro Ukemi – queda para trás Zenppon Kaiten Ukemi - rolamento Yoko Ukemi – queda para o lado 46 entanto, é um excelente exercício para a proteção da cabeça, já que a forma correta de cair exige a aproximação do queixo ao osso esterno, evitando assim, que a cabeça toque no dojo. É também muito útil, para situações fora do ambiente judoístico, quando houver a necessidade de cair dessa forma, visto que o ushiro ukemi corrige um dos principais defeitos quando se cai para trás, que é a colocação da mão para suportar o peso do corpo, o que as vezes não será possível ocasionando alguns traumas. Figura 3. Foto do momento final da queda para trás. 3.2. Mae Ukemi - queda para frente Também é uma forma de cair pouco utilizada, não tendo nenhuma técnica do Judô formal que permita a queda em mae ukemi. Sendo muito útil em ocasiões especiais, fora do ambiente judoístico, pois USHIRO UKEMI 47 possibilita a proteção de toda a parte frontal do corpo. Figura 4. Foto do momento final da queda para frente. 3.3. Yoko Ukemi - queda para o lado É o ukemi waza mais importante no Judô, uma vez que mais de noventa por cento das técnicas de projeção exigem esta forma de cair. Figura 5. Foto do momento final da queda para o lado. MAE UKEMI YOKO UKEMI 48 3.4. Zenppon Kaiten Ukemi - rolamento Igualmente importante ao Ukemi anterior tendo a sua finalização da mesma forma. Além de ser uma aproximação do resultado de uma técnica de projeção é muito útil para ocasiões extra o dojo, pois permite rolar com certa suavidade protegendo as partes essenciais do corpo. Figura 6. Foto do momento inicial para queda com rolamento, o momento final é igual a queda lateral. ZENPPON KAITEN UKEMI 49 4. NAGE WAZA - técnicas de projeção As técnicas de projeção, podem ser divididas em dois grandes grupos, os Tati Waza (técnica em pé) que são as técnicas que o TORI (pessoa que aplica) permanece em pé ao final da projeção, não que ele não possa desequilibrar-se e cair junto com o UKE (pessoa que recebe a técnica), como acontece frequentemente em competições, mas a técnica não exige que ele caia para aplicá-la corretamente. O outro grande grupo é o Sutemi Waza, (técnica de sacrifício) esta sim o Tori tem que primeiro cair para executar a projeção corretamente. Observar, figura 7. Figura 7. Divisão das técnicas de projeção. Nage Waza TÉCNICA DE PROJEÇÃO Tati Waza – técnica em pé Sutemi Waza – técnica de sacrifício 50 4.1. Tati Waza - técnica em pé Conforme explicado anteriormente, são as técnicas que o tori permanece em pé, poderá ser aplicada de três formas diferentes, relacionadas a parte do corpo que será essencial para execução. Com o pé ou a perna (ashi waza), com quadris (koshi waza) e com a mão ou braço (te waza). Observar figura 8. Figura 8. Divisão das técnicas em pé de acordo com a parte do corpo essencial para execução. Tati Waza – técnica em pé Te Waza – técnica com a mão ou braço Koshi Waza – técnica com Quadril Ashi Waza – técnica com pé ou perna 51 Veremos agora a relação das técnicas de Tati Waza, pertencentes ao Go Kyo, organizadas de acordo com a parte do corpo principal para execução, acompanhadas com suas traduções. Posteriormente teremos a oportunidade de verificarmos essas técnicas em fotos organizadas no Go Kyo. 4.1.1. Ashi Waza - técnica com pé ou perna O SOTO GARI (Grande varrida por fora) O UCHI GARI (Grande varrida por dentro) KO SOTO GARI (Pequena varrida por fora) KO UCHI GARI (Pequena varrida por dentro) KO SOTO GAKE (Pequeno gancho por fora) O SOTO GURUMA (Grande rotação por fora) O GURUMA (Grande rotação) HIZA GURUMA (Rotação pelo joelho) ASHI GURUMA (Rotação pelo pé) DE ASHI HARAI (Varrer o pé avançado) OKURI ASHI HARAI (Varredura dos pés juntos) SASAE TSURI KOMI ASHI (Bloqueio do pé suspenso) 52 HARAI TSURI KOMI ASHI (Varredura do pé suspenso) UCHI MATA (Varredura da coxa por dentro) 4.1.2. Koshi waza - técnica com o quadris UKI GOSHI (Quadril flutuante) O GOSHI (Grande quadril) HARAI GOSHI (Varrer com quadril) KOSHI GURUMA (Rotação pelo quadril) TSURI KOMI GOSHI (Elevação pelo quadril) TSURI GOSHI (Quadril suspenso) HANE GOSHI (Quadril levantado) USHIRO GOSHI (Quadril para trás) UTSURI GOSHI (Mudança de quadril) 53 4.1.3. Te Waza - técnica com a mão ou braço IPPON SEOI NAGE (Projeção por um ponto sobre ombro) MOROTE SEOI NAGE (Projeção com as duas mãos sobre o ombro) TAI OTOSHI (Queda do corpo) UKI OTOSHI (Queda flutuante) KATA GURUMA (Rotação sobre ombro) SUKUI NAGE (Projeção da colher) SUMI OTOSHI (Queda em angulo) 4.2. Sutemi Waza - técnica de sacrifício São as técnicas que o tori precisa cair antes para projetar o companheiro. Podendo aplicá-las de duas formas, relacionadas a direção para a execução da técnica. Para o lado (yoko sutemi), e na mesma direção (ma sutemi) projetando-se de costas. Figura 9. Divisão das técnicas de sacrifício de acordo com a posição do corpo para execução. Sutemi Waza – técnica de sacrifício Ma Sutemi – sacrifício na mesma direção(costas) Yoko Sutemi – sacrifício para o lado 54 Igualmente como fizemos com as técnicas de tati waza, Veremos a relação das técnicas de sutemi waza, pertencentes ao Go Kyo, organizadas de acordo com a direção para a aplicação das mesmas, acompanhadas com suas traduções. Posteriormente veremos todas as técnicas relacionadas do sutemi waza em fotos, organizadas também segundo o Go Kyo. Oferecendo duas possibilidades de consulta, para ter acesso a este conhecimento. 4.2.1. Yoko Sutemi - sacrifício para o lado YOKO OTOSHI (Queda lateral) YOKO WAKARE (Separação lateral) YOKO GURUMA (Rotação lateral) UKI WAZA (Queda flutuante) TANI OTOSHI (Queda no vale) YOKO GAKE (Gancho lateral) SOTO MAKI KOMI (Rolando por fora) HANE MAKI KOMI (Elevando e rolando) 55 4.2.2. Ma Sutemi - sacrifício na mesma direção TOMOE NAGE (Projeção circular) SUMI GAESHI (Contra angulo, canto) URA NAGE (Projeção em inversão, para trás) 56 5. GO KYO 1º GO KYO DE ASHI HARAI HIZA GURUMA SASAE TSURI KOMI ASHI UKI GOSHI O SOTO GARI O GOSHI O UCHI GARI MOROTE OU IPPON SEOI NAGE 57 2º GO KYO KO SOTO GARI KO UCHI GARI KOSHI GURUMA TSURI KOMI GOSHI OKURI ASHI HARAI TAI OTOSHI HARAI GOSHI UCHI MATA 58 3º GO KYO KO SOTO GAKE TSURI GOSHI YOKO OTOSHI ASHI GURUMAHANE GOSHI HARAI TSURI KOMI ASHI TOMOE NAGE KATA GURUMA 59 4º GO KYO 1. SUMI GAESHI 2. TANI OTOSHI 3. HANE MAKI KOMI 4. SUKUI NAGE 5. UTSURI GOSHI 6. O GURUMA 7. SOTO MAKI KOMI 8. UKI OTOSHI 60 5º GO KYO 1. O SOTO GURUMA 2. UKI WAZA 3. YOKO WAKARE 4. YOKO GURUMA 5. USHIRO GOSHI 6. URA NAGE 7. SUMI OTOSHI 8. YOKO GAKE 61 6. KATAME WAZA - técnicas de controle As técnicas de controle são as que têm o objetivo de impedir os movimentos do companheiro. Dividem-se em três tipos, os Osae Komi Waza (técnicas de imobilizações), são as que têm como característica, a manutenção do companheiro com os omoplatas no solo durante um tempo determinado, sem que possua entrelaçamentos de pernas,. Shime Waza (técnicas de estrangulamento), tem como característica, provocar asfixia no companheiro através de ações implementadas na região do pescoço. Kansetsu Waza (técnicas de articulações), visa provocar estiramento ou torções nas articulações do companheiro. Das técnicas de controle, veremos as principais imobilizações, estrangulamentos e chaves de braços, garantindo um conhecimento básico para futuras aprendizagens, uma vez que, as técnicas restantes serão sempre variantes das estudadas. Observar, figura 10. 62 Figura 10. Divisão das técnicas de controle. 6.1. Osae komi Waza - técnica de imobilização HON KESA GATAME (Controle pela a gola de forma básica) KATA GATAME (Controle pelo ombro) KUZURE KESA GATAME (Controle pela gola com variação) MAKURA KESA GATAME (Controle pela gola em travesseiro) YOKO SHIHO GATAME (Controle dos quatro pontos pela lateral) KAMI SHIHO GATAME (Controle dos quatro pontos por cima) TATE SHIHO GATAME (Controle dos quatro pontos na vertical) Katame Waza TÉCNICA DE CONTROLE Osae Komi Waza – técnica de imobilização Shime Waza – técnica de estrangulamento Kansetsu Waza – técnica de articulação 63 6.1.1. Osae Komi Waza (fotos) HON KESA GATAME KATA GATAME KUZURE KESA GATAME KAMI SHIHO GATAME 64 MAKURA KESA GATAME TATE SHIHO GATAME YOKO SHIHO GATAME USHIRO KESA GATAME 65 6.2. Shime Waza - técnica de estrangulamento NAMI JUJI JIME ( Estrangulamento em cruz normal) GIAKU JUJI JIME ( Estrangulamento em cruz invertido) KATA JUJI JIME ( Estrangulamento em forma de cruz) HADAKA JIME ( Estrangulamento com as mãos nuas) KATAHA JIME ( Estrangulamento pela asa) 66 6.2.1. Shime Waza (fotos) NAMI JUJI JIME GIAKU JUJI JIME KATA JUJI JIME KATAHA JIME 67 6.3. Kansetsu Waza - técnica de articulação UDE GARAMI (Manter o braço) UDE GATAME (controle do braço) UDE HISHIGI JUJI GATAME(controle do braço estirado em cruz) 68 6.3.1. Kansetsu Waza (fotos) UDE GATAME UDE GARAMI UDE HISHIGI JUJI GATAME 69 CAPÍTULO V SUBSÍDIOS PARA O JUDÔ CONVENCIONAL E PARA AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA 1. VISÃO GERAL Onde iremos buscar subsídios para fundamentar o judô convencional como uma prática pedagógica significativa, e como conteúdo em aulas de educação física? De acordo com os assuntos estudados, podemos constatar que para podermos garantir uma boa prática pedagógica do Judô, vários elementos terão que ser considerados, sendo a formação do professor, o aspecto mais importante, uma vez que, o mesmo terá que se apropriar de diversas áreas do conhecimento, para tratar do assunto adequadamente. Observamos que o conhecimento da história do Judô é um elemento norteador que nos dará condições de estabelecer como será realizado o nosso trabalho, pois nela visualizaremos sobre quais princípios se fundamenta o judô, como também, sobre quais objetivos o judô foi criado. Constatamos a existência de uma lacuna a respeito do 70 conhecimento da filosofia do Judô, bem como, de seus princípios, que terão de ser superados se pretendemos tratar o Judô adequadamente. A partir desse ponto, depois de termos claro quais os objetivos, os princípios e a filosofia do judô, poderemos estabelecer quais as técnicas que devem ser trabalhadas e qual o trato metodológico que daremos a elas. 2. ANÁLISE DAS REFERÊNCIAS HISTÓRICAS E FILOSÓFICAS Quais os referenciais históricos que devem ser utilizados? Resgatar as origens do Judô desde a criação do Ju jutsu, percebendo o que existe em comum e as diferenças dos mesmos. Ou seja, quais eram os objetivos do Ju jutsu da época, como ele era praticado e o que se ensinava. Percebendo as distorções metodológicas do Ju Jutsu da época, será sem dúvida, possível estabelecer elementos importantes para o entendimento do judô. Como por exemplo: quais eram as preocupações de Jigoro Kano, com relação ao Ju jutsu que motivaram a criação do Judô; quais as modificações implementadas; e quais os objetivos propostos. Resgatar os princípios: “Ceder para vencer”, “Prosperidade e benefícios mútuos” e o da “Máxima eficácia”, utilizando-se destes princípios não só para o entendimento da 71 aplicabilidade das técnicas, como para contribuir com uma ação educativa para os alunos, na escola e fora dela. O princípio “ceder para vencer” é sem dúvida considerado o mais importante, talvez por estar mais intimamente ligado as técnicas do Judô, no entanto, na própria tradução do nome Judô (caminho suave), ele nos dá outras indicações de sua importância, que deve extrapolar a melhor forma de aplicação das suas técnicas. Este princípio, apesar de pertencer inicialmente ao Ju Jutsu e incorporado ao Judô, foi inspirado na natureza, portanto, não é exclusivo dos mesmos. Ele nos permite tanto retornar a natureza para o entendimento de como ela se defende, como poderá servir de orientação ao aluno para analisar, objetivos pessoais ou sociais de forma crítica, permitindo não só o entendimento das dificuldades que deverão apresentar-se em sua vida, como também, o melhor caminho que deve ser percorrido, sem contudo desviar dos objetivos. Tanto a criança quanto o adolescente precisam perceber o quanto sua ação poderá influir na superação das dificuldades, e como elaborar estratégias coerentes para superá-las. Vemos neste princípio algo que transcende o judô, e sem dúvida era a intenção de Jigoro Kano, que o judô não fosse um fim em si mesmo. Contudo, os princípios “Prosperidade e benefícios mútuos” e o da “Máxima eficácia”, não 72 devemos considerá-los menos importantes. O primeiro, defende a importância da inter-relação com outro (social) para que todos possam prosperar. Esta inter-relação materializa-se, a medida que o aluno percebe que o companheiro precisa ser preservado na sua integridade física, estando sempre disponível como parceiro e que tem que promover o avanço dos teoricamente mais fracos, para que ele mesmo possa avançar na aprendizagem do Judô. Sendo assim, poderemos trabalhar a segurança e a solidariedade, com a compreensão da sua real importância, que é um ambiente onde o princípio “Prosperidade e Benefícios Mútuos” não seja apenas uma referência teórica e sim um pré-requisito para o desenvolvimento no Judô e na vida. Acrescentando o fato, que a prosperidade e solidariedade não se combinamnos dias atuais, uma vez que podemos observar com certa frequência em nossa sociedade, demonstrações egoístas e egocêntricas exacerbadas, onde pessoas na ânsia de ascender financeiramente ou socialmente usam de expedientes não muito lícitos. E nós, como educadores, precisamos trabalhar estas questões com muita insistência, para que nossos alunos tenham a compreensão crítica das relações sociais, sendo um agente de mudanças, em prol de uma sociedade mais justa, coerente e solidária. O segundo, o da Máxima Eficácia, está relacionado com a 73 necessidade permanente da busca constante da “perfeição”, consequentemente, resultando na economia de gasto energético. Ter como princípio, a melhoria da eficiência, certamente não será importante exclusivamente para o Judô, como também, para qualquer outra necessidade no decorrer da vida. Cabe ao professor, saber trabalhar com esse princípio, articulado com os outros princípios, garantindo uma prática do Judô significativa, com um tratamento metodológico mais eficiente e com relevância social. Se a utilização dos princípios tiver a devida consideração pelos professores, os alunos não aprenderão o judô dissociado de um todo e ele não será um fim em si mesmo. Finalmente, percebemos na história e na filosofia do Judô, vasto campo para a exploração didática, onde será possível elaborar aulas de Judô ou aulas de educação física com o sentido e o significado que ele merece. 74 3. SUGESTÃO PARA ABORDAGEM DAS TÉCNICAS DO JUDÔ A respeito das técnicas do Judô, uma das grandes dificuldades, além da quantidade é o próprio entendimento para aplicação das mesmas, é a sua nomenclatura, que geralmente é utilizada como elemento complicador, pois os alunos, têm que aprendê- las sem ter o entendimento do significado das palavras, tendo que relacioná-las com um movimento geralmente complexo. No entanto, na maioria das vezes, a tradução das técnicas, retrata qual é o movimento que deve ser realizado. A aprendizagem das técnicas paralelamente com a nomenclatura, além de dar mais significado a técnica, pois seria relacionada com um determinado movimento, facilitará e muito a aprendizagem de técnicas posteriores, proporcionando um excelente exercício cognitivo. Supondo que o aluno tenha acesso a essa metodologia e aprendeu anteriormente essas técnicas: 1ª O SOTO GARI - grande varrida por fora; 2ª MOROTE SEOI NAGE - projeção pelo ombro com as duas mãos. Depois terá a necessidade de aprender mais uma técnica. 3ª MOROTE GARI Podemos observar, que mesmo antes que o professor possa ensinar 75 como é a mecânica de funcionamento da técnica, o aluno por ter acesso ao conhecimento das palavras, terá condições de antecipar as características do movimento que será ensinado, além de poder classificar a que grupo de execução a técnica pertence. Apenas por observar as coincidências das palavras das duas técnicas anteriores com a terceira técnica, como por exemplo: a palavra Gari que é utilizada na primeira técnica significa “ ceifar ou varrer”, e a palavra Morote “com as duas mãos”, sendo assim MOROTE GARI significa “varrer com as duas mãos”. Outro aspecto que também facilitará o aprendizado, é a observação das características das técnicas, como a posição e a parte do corpo principal para execução. O conhecimento da posição e da parte do corpo principal para execução de uma técnica, é uma informação bastante útil, pois ajudará ao aluno enfatizar a parte do corpo que deverá ser mais exigida, como também, a sua postura final na execução de uma técnica. Utilizaremos a seguir, as técnicas do exemplo anterior para demonstrar este ponto. 1º O SOTO GARI - técnica de perna 2ª MOROTE SEOI NAGE - técnica de mão 76 Dois erros frequentes são associados a essas técnicas. A primeira (o soto gari) por ser uma técnica de pernas, deve ter como parte do corpo principal para execução “as pernas”, no entanto , a maioria das pessoas, crianças ou adultos, quando aprendem essa técnica, a ênfase inicialmente é colocada nos braços. Enquanto, na segunda (morote seoi nage) é uma técnica de mão e poucas pessoas, conseguem aplicá-la corretamente, enfatizando, na maioria das vezes, o quadril, quando deveria enfatizar a utilização das mãos. Como vimos, a informação da principal parte do corpo que deverá ser utilizada com mais ênfase, para a aplicação de uma determinada técnica, servirá também, para o aluno refletir se ele está aplicando a técnica corretamente, segundo as características exigidas pela própria técnica. 77 4. SUGESTÕES METODOLÓGICAS UKEMI, NAGE E KATAME WAZA 4.1. Ukemi Waza – técnicas de queda Das Técnicas de quedas, abordaremos a importância de cair, não só para a prática do judô, como para o ser humano. O ato de cair é uma situação em nossas vidas que todos temos medo, pois não fomos acostumados a tal ação, apesar de quando criança termos caído muitas vezes, porém não poderíamos nos acostumar, uma vez que ninguém nos mostrou que existem formas de cair menos traumáticas. Sem dúvida, aprender a cair é um assunto muito importante, que deve ser abordado em todas as aulas de Judô ou de educação física, que trate esse conteúdo, sobretudo é essencial para iniciar-se nas técnicas de projeção, além de ser uma grande contribuição para a vida pessoal dos alunos. No entanto, o professor de Judô ou de educação física, deve ter em mente, que inicialmente, cair não é tarefa muito agradável para os alunos, uma vez que, qualquer pessoa ao entrar no Judô, principalmente crianças, quer mesmo aprender a derrubar. Para tanto, é aconselhável associar as atividades de queda, com brincadeiras ou jogos, levando o aluno a realizá-las das mais variadas formas possíveis. 78 4.2. Nage waza – técnicas de projeção Com as técnicas de projeção, o professor precisa selecionar um grupo de técnicas, compatíveis com o nível de desenvolvimento e aprendizagem dos seus alunos, tendo o cuidado de não se impressionar com técnicas muito bonitas, com nível de exigência elevado, permitindo que os alunos as apliquem sem ter as condições necessárias para tal. O importante é ter em mente, que é imprescindível a qualidade e não a quantidade de técnicas que poderão ser aprendidas inadequadamente. Caso o professor tenha dificuldade de selecionar as técnicas para trabalhar com seus alunos, poderá orientar-se pelo Go Kyo, que encontra-se no capítulo IV. Se sua turma é de iniciação, começará pelo 1º Go Kyo, não tendo a preocupação de dar conta das 8 técnicas rapidamente, nem seguir a ordem estabelecida pelo mesmo. Para o Professor de educação física, são as técnicas de projeção, juntamente com os recursos materiais, os maiores entraves para que o mesmo trate o Judô como conteúdo em suas aulas. No entanto, tratando-se das técnicas de projeção, podemos agora dismistificar que para se trabalhar com o judô em aulas de educação 79 física, precisa-se ter o conhecimento de todas as suas técnicas, por que o aspecto que realmente importa é a percepção das possibilidades de aplicá-las, observando os princípios de aplicação, e um entendimento teórico que facilite aprendizagens posteriores. Dessa forma, o professor de educação física deverá garantir que seus alunos tenham a compreensão do Judô sobre todos aspectos: históricos, filosóficos e culturais. Ao utilizar as técnicas de projeção, o professor, deve ressaltar a compreensão das suas características e subdivisões,