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A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ENTES BANCÁRIOS NO USO DO CARTÃO DE CRÉDITO POR TERCEIROS

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HELLER, Helena Sabetzki; VIEIRA, Patrícia Elias. A responsabilidade civil dos entes bancários no uso do cartão 
de crédito por terceiros. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e 
Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 416-435, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 
2236-5044 
 
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A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS ENTES BANCÁRIOS NO USO 
DO CARTÃO DE CRÉDITO POR TERCEIROS 
Helena Sabetzki Heller1 
Patrícia Elias Vieira2 
SUMÁRIO 
Introdução; 1 A responsabilidade civil; 1.1 O conceito de responsabilidade civil; 1.2 
As espécies de responsabilidade civil; 1.3 A reparação do dano; 2 Os entes 
bancários; 2.1 O conceito de entes bancários; 2.2 Os contratos e operações 
bancárias; 2.3 As operações ativas e passivas; 3 A responsabilidade civil no uso do 
cartão de crédito por terceiros; 3.1 O conceito de cartão de crédito; 3.2 Os direitos e 
obrigações do cartão de crédito; 3.3 A responsabilidade dos entes bancários no uso 
do cartão de crédito por terceiros; Considerações finais; Referência das fontes 
citadas. 
RESUMO 
O presente trabalho tem por objetivo a análise doutrinária nos elementos pré-
textuais, abordando-se a jurisprudência em caráter ilustrativo, acerca da 
responsabilidade civil dos entes bancários no uso do cartão de crédito por terceiros. 
A pesquisa trata do instituto da responsabilidade civil, desde a sua conceituação, até 
as formas de reparação de dano pelo agente causador. Aponta as espécies de 
responsabilidade civil, com maior enfoque na responsabilidade objetiva, subjetiva, 
contratual e extracontratual. Conceitua os entes bancários, bem como as operações 
e contratos por estes realizados. Subdivide as operações bancárias em ativas e 
passivas. Enfatiza o cartão de crédito, por ser atualmente um dos serviços mais 
utilizados pela sociedade moderna. Assinala os direitos e obrigações das partes 
integrantes do seu sistema, destacando a responsabilidade civil na hipótese de uso 
do cartão de crédito por terceiros. O método de pesquisa utilizado foi o indutivo e a 
conclusão alcançada foi a responsabilidade civil objetiva dos entes bancários no uso 
do cartão de crédito por terceiros. 
Palavras-chave: Responsabilidade civil. Entes bancários. Cartão de crédito. 
 
1 Acadêmica do 8º período do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI. 
Endereço Eletrônico: helenasheller@yahoo.com.br. 
2 Professora de Direito Civil e Direito Processual Civil do Curso de Direito em Balneário Camboriú e 
Itajaí do CEJURPS da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI. Advogada. Endereço Eletrônico: 
patriciaelias@univali.br, patelias@terra.com.br. 
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de crédito por terceiros. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e 
Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 416-435, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 
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INTRODUÇÃO 
A responsabilidade civil, atualmente, é o instituto jurídico pelo qual se busca 
a resolução de conflitos particulares e individuais da sociedade. 
Esta se consubstancia, principalmente, na obrigação de reparar um prejuízo 
causado a terceiro, o que possibilita, desta forma, a restauração do equilíbrio 
patrimonial e moral alterado. 
Neste escopo, os entes bancários atuam como interventores das relações 
jurídicas particulares, uma vez que propiciam, além de tudo, a realização de atos 
legais através da manifestação de vontade das partes. 
Visando promover a consecução de sua finalidade, estes desempenham 
uma série de atividades negociais ao longo do seu exercício mercantil, que 
permitem, além da circulação de capital, a intermediação de recursos financeiros. 
A fim de cumprir com os seus objetivos primordiais, oferecem diversos 
serviços aos seus usuários, os quais originam, por consequência, uma série de 
relações e contratos no ordenamento jurídico. 
Dentre os serviços ofertados, o cartão de crédito se destaca, uma vez que 
consiste no meio mais usual pelo qual as instituições bancárias permitem a abertura 
de crédito aos seus portadores. 
Desta relação jurídica, no entanto, insurge um condão de direitos e 
obrigações, os quais, se eventualmente violados, caracterizam a responsabilidade 
da parte que os infringiu. 
Desta forma, no caso do uso do cartão de crédito por terceiros, teria a 
instituição bancária responsabilidade civil objetiva pelas ações fraudulentas 
cometidas? 
Assim, o presente trabalho tem por objetivo apresentar o instituto da 
responsabilidade civil, caracterizar os entes bancários e identificar o cartão de 
crédito, mais precisamente no tocante a responsabilidade do seu uso por terceiros. 
O Método utilizado na fase de Investigação foi o Indutivo, uma vez que se 
buscou, após considerar os fatos presentes, a conclusão geral do tema pesquisado. 
A hipótese a ser considerada é, portanto, a responsabilidade civil objetiva 
dos entes bancários no uso do cartão de crédito por terceiros, independentemente 
de dolo ou culpa na conduta do usuário do sistema. 
 
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1 A RESPONSABILIDADE CIVIL 
O instituto da responsabilidade civil possui papel fundamental na sociedade 
pós-moderna, uma vez ser responsável pela solução de conflitos sociais, bem como 
permitir a proteção dos direitos individuais. 
Além de ser uma garantia social, pela necessidade de segurança jurídica ao 
lesado, tem a função de restaurar o equilíbrio jurídico-econômico desfeito, uma vez 
que decorre de grave ofensa às normas legais vigentes e, consequentemente, 
importa na reparação do dano pelo agente causador. 
Portanto, indispensável o estudo da responsabilidade civil, bem como do seu 
conceito, espécies e formas de reparação do dano. 
1.1 O conceito de responsabilidade civil 
Em termos gerais, a responsabilidade consiste no dever jurídico de 
recomposição do dano sofrido, incumbida ao agente causador, em relação a uma 
determinada situação. 
Esta constitui uma relação jurídica obrigacional, cujo objetivo se dá pelo 
ressarcimento da coisa pretendida a vitima. 
De acordo com GAGLIANO e PAMPLONA FILHO3 “A palavra 
responsabilidade tem origem no verbo latino respondere, significando a obrigação 
que alguém tem de assumir as consequências jurídicas de sua atividade (...)”. 
Neste escopo, a responsabilidade nada mais é, portanto, do que um dever 
jurídico sucessivo, no qual se assume as consequências jurídicas de um fato, que 
acarreta, posteriormente, na reparação do dano causado. 
Trazendo esse conceito para o âmbito do Direito Privado, tem-se que a 
responsabilidade civil se consubstancia na obrigação de reparar o prejuízo causado 
a outrem, compelindo o agente causador do dano a proceder, em seguida, sua 
retaliação. 
Conforme GAGLIANO e PAMPLONA FILHO4: 
 
3 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. São Paulo: 
Saraiva, 2003, p. 2. 
4 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: 
responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 9. 
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(...) a responsabilidade civil deriva da agressão de um direito 
eminentemente particular, sujeitando, assim, o infrator, ao 
pagamento de uma compensação pecuniária à vítima, caso não 
possa repor in natura o estado anterior das coisas. 
Assim, na responsabilidade civil, o agente que cometeu o ato ilícito tem a 
obrigação de reparar o dano patrimonial ou moral causado, buscando restaurar o 
status quo ante e, não sendo este possível, de indenizar ou compensar a vítima. 
Observa-se, portanto, segundo LISBOA5, o princípio geral da restituição ou 
recomposição integral ao estado anterior, restitutio in integrum (reintegração total), 
no qual se busca minimizar os efeitos causados ao prejudicado. 
A indenização, desta forma, é admitida de forma excepcional, por meros 
motivos de ordem pública, uma vez ter a responsabilidade civil o intento de retornar 
as coisas ao seu estado inicial. 
Deste modo, o objeto principal da reparação civil é garantir o direito do 
lesado, promovendo a resolução de conflitos subjetivos e individuais da sociedade, 
viabilizando, além da proteção do direito particular, a prevenção da coletividade de 
novas violações eventualmente realizadas em favor de terceiros, uma vez idear a 
reparação do equilíbrio moral e patrimonial desfeito. 
1.2 As espécies de responsabilidade civil 
A responsabilidade civil é, na sua essência, um conceito uno, incindível, 
aplicável a todos os ramos do direito. Entretanto, no decorrer do tempo, em função 
de algumas peculiaridades dogmáticas, fez-se necessário estabelecer uma 
disposição sistemática sobre a matéria. 
Dentre as classificações doutrinárias presentes, destaca-se a necessidade 
de categorização da responsabilidade civil, conforme LISBOA6, dentre outras, de 
acordo com a sua origem e culpa. 
Quanto à culpa, esta subdivide-se, principalmente, em objetiva e subjetiva. 
A responsabilidade subjetiva é aquela decorrente de dano causado em 
função de ato doloso ou culposo, restando caracterizada quando o agente causador 
do dano atuar com negligência, imprudência ou imperícia em relação a outrem. 
 
5 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: obrigações e responsabilidade civil. 3. ed. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 428. 
6 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: obrigações e responsabilidade civil. P. 458-9. 
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Neste caso, o principal pressuposto da responsabilidade civil é a culpa, uma 
vez ser o agente causador do dano somente chamado a indenizar se restar 
comprovada que da ação ou omissão praticada gerou ato lesivo a direito. 
Consoante CAVALIERI FILHO7 “A ideia de culpa está visceralmente ligada à 
responsabilidade, por isso que, de regra, ninguém pode merecer censura ou juízo de 
reprovação sem que tenha faltado com o dever de cautela em seu agir”. 
Assim, a prova da culpa do agente causador do dano é indispensável para 
que surja o dever de indenizar, sendo esta a consequência jurídica necessária do 
ato ilícito. 
Entretanto, no ordenamento jurídico vigente, há hipóteses em que não se faz 
necessária a caracterização da culpa. Nesses casos, destaca-se a responsabilidade 
civil objetiva. 
Na responsabilidade objetiva, o dolo ou culpa na conduta do causador do 
dano é irrelevante, uma vez que, segundo GAGLIANO e PAMPLONA FILHO8, “(...) 
somente será necessária a existência do elo de causalidade entre o dano e a 
conduta do agente responsável, para que surja o dever de indenizar”. 
Portanto, na responsabilidade civil objetiva, a atitude culposa ou dolosa do 
agente causador é de menor relevância, uma vez ser esta fundada diretamente no 
risco da atividade exercida pelo autor do dano. 
Desta feita, o sistema jurídico vigente adotou como regra geral a 
responsabilidade civil subjetiva, não excluindo, entretanto, a responsabilidade civil 
objetiva nos casos específicos previstos em lei. 
Já quanto à origem, a responsabilidade civil subdivide-se em contratual e 
extracontratual. 
A responsabilidade contratual é aquela decorrente da violação de um dever 
jurídico criado pelas partes, ou seja, do inadimplemento de norma contratual 
previamente fixada. 
 
7 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 
2004, p. 38. 
8 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: 
responsabilidade civil. P. 16. 
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De acordo com CAVALIERI FILHO9 "Se a transgressão se refere a um dever 
gerado em negócio jurídico, há um ilícito negocial comumente chamado de ilícito 
contratual”. 
Deste modo, antes da obrigação de indenizar emergir, na responsabilidade 
contratual existe, entre o inadimplente e seu cocontratante, um vínculo jurídico 
derivado de convenção, portanto o dever de indenizar é apenas a consequência 
legal da violação de uma obrigação jurídica previamente estabelecida. 
Já na responsabilidade extracontratual, também chamada de aquiliana ou 
delitual, o seu nascimento se dá com a violação de um dever jurídico imposto por lei. 
Conforme prevê CAVALIERI FILHO10 “se o dever surge em virtude de lesão 
a direito subjetivo, sem que entre o ofensor e a vítima, pré-exista qualquer relação 
jurídica que o possibilite, temos a responsabilidade extracontratual”. 
Ou seja, a responsabilidade extracontratual é aquela decorrente de um ilícito 
sem prévia relação obrigacional, sendo, portanto, a prática de um ato punível 
meramente em decorrência da lei. 
Assim, na responsabilidade extracontratual, segundo RODRIGUES11, não há 
nenhum liame jurídico existente entre o agente causador do dano e a vítima, até que 
o ato lesivo ponha em ação os princípios geradores de sua obrigação de indenizar, 
por força da violação de um mandamento legal e, consequentemente, da ação ilícita 
do agente infrator. 
Portanto, indubitável a importância da classificação da responsabilidade civil, 
uma ser esta imprescindível para o aprofundamento da temática, bem como da 
identificação dos princípios específicos aplicáveis ao caso em tela. 
1.3 A Reparação do dano 
A reparação do dano é o principal efeito da responsabilidade civil, uma vez 
visar o ressarcimento do prejuízo ocasionado, bem como à recuperação do bem 
juridicamente tutelado. 
 
9 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. P. 37. 
10 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. P. 37. 
11 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: Responsabilidade civil. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 9. 
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Dentre as formas de reparação do dano, a reposição natural, hipótese em 
que o bem é restituído ao estado em que se encontrava anteriormente ao fato 
danoso, constitui a mais adequada forma de reparação. 
Porém, ainda que seja o modo próprio de reparação, esta não poderá ser 
imposta ao titular do direito à indenização, uma vez que, dificilmente, uma coisa 
danificada volta ao seu estado anterior. 
Segundo GOMES12: 
Se o autor do dano não pode restabelecer o estado efetivo da coisa 
que danificou, paga a quantia correspondente a seu valor. É rara a 
possibilidade de reposição natural. Ordinariamente, pois, a prestação 
de indenização se apresenta sob a forma de prestação pecuniária e, 
às vezes, como objeto de uma dívida de valor. 
Além disso, a indenização pecuniária poderá ser exigida concomitantemente 
com a reposição natural. 
Esta se fará possível nos casos em que não satisfazer suficientemente o 
interesse do credor, uma vez que a reparação do dano consiste na restauração do 
equilíbrio patrimonial e moral sofrido pela vítima. 
De acordo com GOMES13, ainda: 
Se o devedor quer cumprir a obrigação de indenizar mediante 
reposição, o credor não pode exigir a substituição de coisa velha, por 
nova, a menos que o reparo não restabeleça efetivamente o estado 
anterior. Por outro lado, o devedor não pode ser compelido à 
restituição in natura, se só for possível mediante gasto 
desproporcional. 
Deste modo, ainda que a reposição natural seja a forma mais apropriada de 
reparação do dano, esta não será sucessivamente possível, uma vez que nem todas 
as formas danosas competem tal modalidade. 
Nos casos em que o dano abranger a moralidade, a reposição natural será 
impraticável, pois o bem tutelado é o próprio patrimônio ideal da pessoa natural. 
Conforme RODRIGUES14, denomina-se patrimônio ideal, “o conjunto de 
tudo aquilo que não é suscetível de valoração econômica”. 
 
12 GOMES, Orlando. Obrigações. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994, p. 51. 
13 GOMES, Orlando. Obrigações. P. 51. 
14 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: Responsabilidade civil. P. 190. 
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Portanto, impossível a restituição ao estado anterior do dano causado, uma 
vez que as lesões praticadas, neste caso, se dão aos direitos personalíssimos da 
vítima, os quais não compreendem exata valia econômica. 
Ressalta GOMES15: 
Admiti-se, porém, sem oposição, que o pagamento da soma de 
dinheiro é um modo de dar satisfação à vítima, que, recebendo-a, 
pode destiná-la, como diz Von Tuhr, a procurar as satisfações ideais 
ou materiais que estime convenientes, acalmando o sentimento de 
vingança inato no homem. 
Logo, evidente à diferenciação do dano patrimonial e do dano 
extrapatrimonial, uma vez que esta reside, além da esfera jurídica atingida e às 
consequências geradas, principalmente, na forma de reparação do dano causado. 
Assim, incontestável a importância do instituto da reparação do dano na 
esfera da responsabilidade civil, uma vez ter esta, por objetivo, a retaliação em favor 
da vítima de um dano causado, bem como a compensação social do fato 
perpetrado. 
2 OS ENTES BANCÁRIOS 
Os entes bancários possuem indubitável significância na sociedade 
moderna, uma vez proporcionarem a mobilização de crédito, bem como atenderem 
aos fins sociais a que foram destinados. 
Estes são definidos pela Lei n. 7.492, de 16 de junho de 198616, que buscou, 
além de conceituá-los, a defesa da política cambial nacional, a fim de prevenir 
fraudes contra terceiros, bem como, controlar, efetivamente, a entrada e saída de 
moeda e crédito advindo das atividades realizadas. 
São considerados verdadeiros reguladores do mercado financeiro, uma vez 
propiciarem a movimentação econômica, bem como a circulação de capital, e a 
consequente valorização monetária nacional. 
 
15 GOMES, Orlando. Obrigações. P. 272. 
16 BRASIL. Lei nº 7.492 de 16 de junho de 1986. Define os crimes contra o sistema financeiro 
nacional, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7492.htm. 
Acesso em: 15 nov. 2012. 
HELLER, Helena Sabetzki; VIEIRA, Patrícia Elias. A responsabilidade civil dos entes bancários no uso do cartão 
de crédito por terceiros. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e 
Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 416-435, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 
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Assim, visto a demasiada importância dos entes bancários no direito vigente, 
este tópico abordará desde a sua conceituação até os serviços e operações 
proporcionados por estas instituições. 
2.1 O conceito de entes bancários 
Os entes bancários são instituições financeiras essenciais a economia, uma 
vez propiciarem a movimentação de riquezas, bem como, a prestação de serviços a 
sociedade. 
Por definição legal, são às pessoas jurídicas de direito público ou privado, 
que têm como atividade principal a intermediação e aplicação de recursos 
financeiros próprios ou de terceiros. 
São considerados empresas comerciais, cujo objetivo principal, segundo 
MENDONÇA17, consiste no recebimento e concentração de capitais, para, em 
seguida propiciar a distribuição por meio de operações de crédito, no qual operam 
como intercessores creditícios. 
De modo geral, os entes bancários são mobilizadores, agindo sempre como 
sujeito das operações e contratos que realizam, tendo por finalidade, principalmente, 
a circulação de capital e a intermediação dos recursos monetários. 
De acordo com ABRÃO18: 
Na terminologia do moderno Direito Comercial, os bancos são 
empresas (organizações harmônicas de capital e trabalho para o 
exercício de uma atividade econômica de produção ou de troca de 
bens ou serviços), e não meros estabelecimentos (complexos de 
bens, materiais e imateriais, de que dispõe o empresário para o 
exercício de sua atividade). 
Portanto, consideram-se instituições bancárias, as organizações 
empresárias que utilizam-se de recursos monetários próprios ou de terceiros, na 
atividade creditícia, ou seja, as empresas cuja atividade concentra-se na emissão, 
depósito e investimento de capital. 
Deste modo, imprescindível a sua conceituação, visto que os entes 
bancários exercem papel fundamental na sociedade moderna, pois propiciam a 
 
17 MENDONÇA, José Xavier Carvalho de apud ABRÃO, Nelson. Direito bancário. 6. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2000, p. 15. 
18 ABRÃO, Nelson. Direito bancário. P. 16-7. 
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intermediação e mobilização de crédito, permitindo a movimentação e 
direcionamento dos recursos monetários, fomentando, por conseguinte, o 
desenvolvimento social e econômico brasileiro. 
2.2 Os contratos e operações bancárias 
Visando promover o desenvolvimento comercial, os entes bancários 
desempenham uma série de atividades negociais durante o seu exercício mercantil. 
Estas denominam-se, conforme COELHO19, operações bancárias, e 
consistem na coleta,intermediação e aplicação de recursos, ligadas direta ou 
indiretamente à concessão, circulação e administração de crédito. 
Quanto a sua concepção, as operações bancárias divergem nos aspectos 
legais e econômicos, uma vez que as instituições financeiras objetivam, além dos 
fins sociais, a lucratividade nas atividades praticadas. 
No campo econômico, o foco está na prestação de serviços pelos entes 
bancários, uma vez que os atos realizados visam tão somente à consecução de sua 
finalidade, qual seja a intermediação e aplicação de recursos monetários, tanto em 
proveito próprio como de terceiros. 
De acordo com ABRÃO20 “economicamente, há que se considerar a 
prestação de serviços no setor creditício que redunda em proveito tanto para o 
banco, como para o cliente”. 
Já na esfera legal, as operações bancárias dependem do acordo de vontade 
entre as partes, razão pela qual se inserem no campo contratual. 
Deste modo, no âmbito jurídico das operações bancárias, o fato propulsor da 
relação processual obrigacional é o contrato bancário, o qual produz direitos e 
deveres subjetivos na esfera judicial, bem como, é o objeto regulador da relação 
jurídica firmada. 
Assim, tanto na concepção econômica, quanto na jurídica, as instituições 
bancárias além de atuarem como intermediárias na mobilização de crédito, possuem 
o intuito de lucratividade nas operações que realizam, uma vez que promovem a 
circulação de riqueza e propiciam a realização dos negócios jurídicos. 
 
19COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 452. 
20 ABRÃO, Nelson. Direito bancário. P. 42. 
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2.3 As operações ativas e passivas 
Na multiplicidade das atividades efetuadas pelos entes bancários, estes têm 
proporcionado um raio crescente de serviços na preocupação de conservar e 
ampliar sua clientela, bem como melhorar e aperfeiçoar seu sistema, assumindo 
uma posição de nítido destaque em relação aos usuários e demais empresas do 
segmento econômico. 
Neste escopo, a doutrina, buscando delimitar as atividades realizadas pelas 
instituições bancárias, principalmente quanto aos elementos de coleta e aplicação 
de fundos, classificou as operações executadas em uma dúplice categoria. 
Segundo LUZ21: 
Não se pode querer classificar uma operação atendendo a todos os 
acontecimentos eventuais de sua vida, usando como critério de 
aferição, meras possibilidades ou potenciais de riscos, aspectos 
acidentais. A classificação científica observa o ser genérico. É no seu 
nascedouro que uma operação expõe sua identidade. É assim que o 
Direito (comercial e fiscal) vê e qualifica jurídica e contabilmente o 
ativo e o passivo. 
Assim, quanto às atividades efetuadas para captação de crédito, a doutrina 
classificou-as em operações passivas, por consistirem, essencialmente, na coleta de 
capitais para o exercício da atividade creditícia. 
Neste campo, os entes bancários figuram como devedores e assumem a 
conduta esperada quanto ao pagamento de juros, acessórios e restituição do 
montante depositado. 
Já em relação à distribuição de capitais, considerou estas operações ativas, 
principalmente porque a prestação de serviços se dá em favor do público, e não 
mais a sua conta. 
Nesta esfera, as instituições bancárias desenvolvem atividades visando à 
concessão de crédito, assumindo, deste modo, a posição de credoras das 
obrigações pactuadas, cobrando juros e demais encargos dos atos realizados. 
Desta forma, as operações desenvolvidas pelos entes bancários, apesar de 
diferirem quanto a sua classificação, se coligam em uma relação de recíproca 
 
21 LUZ, Aramy Dornelles da. Negócios jurídicos bancários: o banco múltiplo e seus contratos. 2. ed. 
São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999, p. 22. 
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interdependência, uma vez que, de acordo com LUZ22, a inadimplência futura de 
qualquer crédito implicará na baixa das operações lançadas e, por conseguinte, dará 
origem ao prejuízo apurado, saindo o montante do polo ativo, e passando a figurar, 
então, no polo passivo. 
Portanto, as operações bancárias, além de proporcionarem a intermediação 
de crédito, consubstanciando-se em verdadeiros alicerces de mobilização de capital, 
uma vez tornarem possível às atividades realizadas pelos entes bancários, bem 
como preconizarem direito e deveres no âmbito jurídico, possibilitando, desta forma, 
além da prestação de serviços, o desenvolvimento econômico e social nacional. 
3 O CARTÃO DE CRÉDITO E SEU USO INDEVIDO POR TERCEIROS 
O cartão de crédito se consubstancia em uma das formas mais usuais de 
mobilização de crédito pelos entes bancários. 
Este sistema, segundo LACERDA FILHO23, constitui um negócio jurídico 
complexo, de conteúdo lucrativo e que tem como função primordial promover a 
aquisição de bens e a prestação de serviços. 
Deste modo, o cartão de crédito, além de fomentar o consumo e a produção 
nacional, é o mecanismo pelo qual se identifica o legítimo usuário do seu sistema, 
habilitando o seu titular e propiciando as facilidades creditícias pactuadas. 
Assim, este tópico abordará o conceito de cartão de crédito, os direitos e 
obrigações das partes e a responsabilidade civil no seu uso indevido por terceiros. 
3.1 O conceito de cartão de crédito 
Além de exercerem papel fundamental na economia, os entes bancários 
oferecem diversos serviços aos seus usuários. Dentre os serviços ofertados, o 
cartão de crédito se destaca, uma vez que consiste, atualmente, em um dos meios 
mais utilizados para o desenvolvimento da produção, do crédito e do consumo 
nacional. 
 
22 LUZ, Aramy Dornelles da. Negócios jurídicos bancários: o banco múltiplo e seus contratos. P. 22. 
23 LACERDA FILHO, Fausto Pereira de. Cartões de crédito. Curitiba: Juruá, 1990, p. 51. 
HELLER, Helena Sabetzki; VIEIRA, Patrícia Elias. A responsabilidade civil dos entes bancários no uso do cartão 
de crédito por terceiros. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e 
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Materialmente, segundo ABRÃO24, constitui uma pequena peça de matéria 
plástica, contendo o nome do emissor, o número em código do portador, a data da 
emissão, o período de validade, com o nome e a assinatura do seu usuário. 
Em termos jurídicos, no entanto, este consiste além do objeto material que 
identifica o acreditado, se consubstanciando no documento comprobatório de crédito 
pela instituição bancária. 
Conforme prevê ABRÃO25: 
(...) podemos chegar a conceituar o cartão de crédito como um 
documento comprobatório de que seu titular goza de um crédito 
determinado perante certa instituição financeira, o qual o credencia a 
efetuar compras de bens e serviços a prazo e saques de dinheiro a 
título de mútuo. 
Portanto, o cartão de crédito nada mais é do que o documento que autoriza 
o seu usuário,perante o estabelecimento conveniado, a aquisição de bens e 
utilização de serviços. 
Esta relação se dá, no entanto, de forma tríplice, uma vez que figura como 
interveniente o ente bancário, coordenando as relações entre o credor e o devedor e 
integrando-as em sua própria finalidade. 
De acordo RONGAGLIA26, o cartão de crédito é o instrumento pelo qual o 
comprador se desobriga a pagar diretamente ao fornecedor do bem ou serviço, 
compelindo-se, em contrapartida, a saldar o montante devido à instituição financeira. 
Deste modo, o ente bancário atua como credenciador do portador na 
aquisição de mercadorias e serviços perante o fornecedor, agindo, desta forma, 
como interventor da relação jurídica existente. 
Quanto ao seu conceito propriamente dito, no entanto, os doutrinadores 
objeto desta pesquisa, contemplam este instituto comentando simplesmente a sua 
natureza jurídica e o seu modo de funcionamento, não arriscando, assim, uma 
definição exata desta relação creditícia. 
Deste modo, o cartão de crédito nada mais é do que o meio mais usual pelo 
qual as instituições bancárias permitem a abertura de crédito aos seus usuários, 
fundamentado em uma série de direitos e obrigações que formalizam as relações 
 
24 ABRÃO, Nelson. Direito bancário. P. 141. 
25 ABRÃO, Nelson. Direito bancário. P. 141. 
26 RONGAGLIA, Marcelo Marques. Tributação no sistema de cartões de crédito. São Paulo: 
Quartier Latin, 2004, p. 108. 
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jurídicas pactuadas, visando, além da identificação do portador, o fortalecimento do 
conglomerado financeiro e econômico a que fazem parte. 
3.2 Os direitos e obrigações do cartão de crédito 
Atualmente, o cartão de crédito é a forma mais usual de mobilização 
creditícia pelos entes bancários. Desta relação jurídica, surge uma série de direitos e 
obrigações entre os seus participantes, constituindo-se, desta forma, em um feixe de 
contratos firmados entre as partes. 
Neste escopo, esta relação se dá, habitualmente, entre três sujeitos 
intervenientes: a entidade emissora do cartão, o fornecedor aderido do sistema, e o 
seu usuário. 
Segundo LUZ27, quanto ao emissor: 
Este obriga-se perante o estabelecimento conveniado a fornecer-lhe 
o material de expediente apropriado e a pagar-lhe as faturas que lhe 
sejam apresentadas nas condições e prazos previstos 
contratualmente, resguardando-o das fraudes e irregularidades que 
não possa razoavelmente constatar. E obriga-se perante o usuário a 
garantir-lhe o funcionamento do sistema para uso do qual cobra a 
prestação de serviços e a garantir-lhe a segurança operacional, uma 
vez avisado de roubo ou extravio do cartão. 
Deste modo, dentre as obrigações do emissor do cartão perante o 
fornecedor do bem ou serviço, este se obriga, principalmente, ao pagamento das 
dívidas contraídas pelo usuário. 
Já em relação ao portador, os seus direitos e obrigações vão além dos 
pactuados pelas cláusulas contratuais, pois além da prestação de serviços, este 
garante a segurança das operações perpetradas, bem como a comodidade na 
realização dos atos necessários a funcionalidade do seu sistema. 
Quanto ao estabelecimento conveniado, no entanto, suas obrigações 
diferem das do fornecedor, se consubstanciando, consoante LUZ28, para com o 
emissor: 
 
27 LUZ, Aramy Dornelles da. Negócios jurídicos bancários: o banco múltiplo e seus contratos. P. 
245-6. 
28 LUZ, Aramy Dornelles da. Negócios jurídicos bancários: o banco múltiplo e seus contratos. P. 
246. 
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de crédito por terceiros. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e 
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(...) a vender ao usuário pelo mesmo preço praticado nas vendas à 
vista; a observar o limite de crédito do usuário e só ultrapassá-lo 
quando especialmente autorizado pelo emitente, pagando-lhe por 
ocasião da liquidação das faturas a comissão devida por sua 
participação no sistema. Obriga-se ainda a identificar o portador do 
cartão, controlando seu prazo de validade e inexistência de 
restrições pelo exame e cotejo com as listas que lhe são enviadas 
pelo emissor. 
Assim, o fornecedor de bens ou serviços se obriga perante o emissor a 
aceitar o uso do cartão de crédito, bem como, observar os seus limites, identificando 
o portador e controlando a sua validade. 
Já em relação ao usuário, as obrigações do estabelecimento conveniado 
conforme prevê LACERDA FILHO29 são basicamente, o respeite aos preços 
ofertados ao público em geral e em igualdade de condições e tratamento, se 
obrigando a entregar uma cópia da fatura correspondente à operação efetivada ao 
seu usuário. 
Desta forma, o fornecedor está obrigado perante o portador ao tratamento 
igualitário de preços e prazos, bem como a emitir cópia da fatura, para que o usuário 
tenha maior segurança jurídica dos negócios realizados. 
Quanto às obrigações do portador, de acordo com LUZ30, perante o emissor, 
principalmente, são: 
(...) assinar as faturas de suas compras e a pagá-las quando lhe 
forem apresentadas na forma ajustada contratualmente e/ou fixada 
pela lei, bem como a ocorrer a liquidação de encargos que lhe são 
devidos pela sua participação nos sistema, avisando-lhe de eventual 
roubo, perda ou extravio do cartão, respondendo pelo eventual uso 
indevido que até essa data possa ter havido. Obriga-se da mesma 
forma pela liquidação das faturas de responsabilidade dos cartões 
adicionais que tiver solicitado. 
Desta forma, perante a instituição financeira, o usuário fica compelido, 
principalmente, ao pagamento das faturas na forma fixada pelas partes, bem como a 
taxa de prestação de serviços, se comprometendo a agir com a cautela e a 
segurança esperada. 
Já quanto à relação com fornecedor, conforme preceitua LACERDA 
FILHO31, a simples operação do uso do cartão reconhece o cumprimento da sua 
 
29 LACERDA FILHO, Fausto Pereira de. Cartões de crédito. P. 68. 
30 LUZ, Aramy Dornelles da. Negócios jurídicos bancários: o banco múltiplo e seus contratos P. 
246. 
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de crédito por terceiros. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e 
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obrigação fundamental, qual seja a do pagamento do preço ofertado, uma vez que o 
cartão constitui um meio de pagamento idôneo reconhecido pelo estabelecimento 
conveniado. 
Deste modo, o usuário quando da utilização do cartão já cumpre a sua 
obrigação perante o fornecedor, não podendo ser demandado, posteriormente, a 
pagar o valor compactuado. 
Assim, com o entrosamento das partes integrantes deste sistema de crédito, 
se faz possível a mobilização monetária, bem como a funcionalidade de seu 
esquema, constituindo o cartão de crédito, o elemento habilitador e identificador 
desta operação creditícia. 
3.3 A responsabilidade dos entes bancários no uso do cartão de crédito por 
terceiros 
Com o passar dos anos o cartãode crédito tem ganhado maior circulação no 
mercado. Ao passo que o número de usuários vem aumentando, os riscos de 
incidentes aumentam proporcionalmente, incorrendo as partes, deste modo, a um 
número crescente de fraudes e falsificações no seu processo. 
Dentre os procedimentos burlatórios, o furto e o extravio consistem nas 
grandes causas de utilização maliciosa e indevida do cartão de crédito por terceiros. 
Nesta hipótese, o ladrão e o possuidor de má-fé, utilizando-se do cartão 
como meio de pagamento, adquirem bens e serviços junto aos fornecedores e 
comerciantes filiados ao seu sistema. 
Em consequência a este uso indevido, o titular do cartão deve avisar 
imediatamente ao emissor do ocorrido, ensejando, desta forma, na 
responsabilização do ente bancário na esfera cível. 
Esta responsabilidade se divide, segundo RODIÈRE e RIVES-LANGE32, na 
fase anterior e posterior a notificação da instituição bancária: 
As despesas efetuadas pelo ladrão, posteriormente ao aviso, são 
suportadas pelo estabelecimento emissor tanto que este último não 
tenha, por sua vez, notificado a perda ou furto aos diferentes 
fornecedores credenciados. Uma vez que a notificação chegou aos 
diferentes fornecedores, estes últimos são os únicos responsáveis 
 
31 LACERDA FILHO, Fausto Pereira de. Cartões de crédito. P. 68. 
32 RODIÈRE; RIVES-LANGE apud ABRÃO, Nelson. Direito bancário. P. 148. 
HELLER, Helena Sabetzki; VIEIRA, Patrícia Elias. A responsabilidade civil dos entes bancários no uso do cartão 
de crédito por terceiros. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e 
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pelas despesas efetuadas ulteriormente com a utilização fraudulenta 
do cartão. No entanto, se o cartão é utilizado pelo ladrão antes que o 
estabelecimento emissor seja avisado, o titular desapossado suporta, 
em princípio, as consequências da utilização do cartão, mas o 
fornecedor é responsável, mesmo antes de receber o aviso, se não 
conferir a conformidade da assinatura figurando o cartão com a 
aposta da fatura ou se efetuou vendas além do montante garantido 
pelo emissor. 
Assim, quando da notificação prévia pelo usuário do cartão, este se escusa 
da responsabilidade perante o ente bancário de qualquer dívida que venha a insurgir 
em seu nome, quando da utilização indevida deste sistema por terceiros. 
De acordo com ABRÃO33: 
Resta vedado à instituição financeira retirar da conta corrente do 
consumidor ou tentar cobrar valores usados por terceiros que, de 
forma ilícita, estejam de posse de seus cartões bancários ou 
cheques, depois da comunicação de roubo, furto ou 
desaparecimento suspeito ou requisição de bloqueio ou final de 
conta pelo usuário. 
Deste modo, perante a impossibilidade de cobrança do valor pactuado por 
terceiros, as instituições bancárias ficam compelidas ao cumprimento da dívida em 
nome do usuário, não podendo, posteriormente, efetuar descontos na conta corrente 
deste, em decorrência das ações supramencionadas. 
A responsabilidade do ente bancário, neste caso, é objetiva, uma vez que as 
fraudes e delitos ocorridos fazem parte do próprio risco do seu empreendimento 
financeiro, e, por isso, passível de previsibilidade e sustação do ato pela instituição. 
Neste sentido, decidiu o STJ34: 
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. 
JULGAMENTO PELA SISTEMÁTICA DO ART. 543-C DO CPC. 
RESPONSABILIDADE CIVIL. INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS. DANOS 
CAUSADOS POR FRAUDES E DELITOS PRATICADOS POR 
TERCEIROS. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. FORTUITO 
INTERNO. RISCO DO EMPREENDIMENTO. 
Assim, em decorrência de inúmeras decisões neste sentido, a jurisprudência 
vem pacificando o entendimento da responsabilidade civil objetiva dos entes 
 
33 ABRÃO, Nelson. Direito bancário. P. 193-4. 
34 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1.199.782. Relator: Ministro Luis Felipe Salomão, 
segunda seção, julgado em: 24/08/2011. Disponível em: 
http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21478573/agravo-regimental-no-agravo-em-recurso-
especial-agrg-no-aresp-87838-sp-2011-0209341-5-stj/relatorio-e-voto. Acesso em: 22 out. 2012. 
HELLER, Helena Sabetzki; VIEIRA, Patrícia Elias. A responsabilidade civil dos entes bancários no uso do cartão 
de crédito por terceiros. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e 
Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 416-435, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 
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bancários na utilização do cartão de crédito por terceiros, uma vez que a ação em 
comento independe de dolo ou culpa na conduta do usuário para que se possa 
configurar, por conseguinte, a responsabilidade da instituição financeira na 
liquidação da dívida efetuada. 
Portanto, no intuito de reduzir as fraudes praticadas por meio dos cartões de 
crédito, tem-se reconhecido, no tocante a responsabilidade dos entes bancários, a 
indenização por eventuais danos sofridos ao seu usuário, uma vez que este instituto 
visa, além de tudo, a promoção da segurança jurídica nas operação por estes 
realizadas. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O presente artigo teve como objetivo primordial a análise doutrinária nos 
elementos pré-textuais, abordando-se a jurisprudência em caráter ilustrativo, no 
tocante a responsabilidade civil dos entes bancários no uso do cartão de crédito por 
terceiros. 
Para satisfazer tal objetivo, destacaram-se de forma sucessiva os 
componentes necessários ao seu aprofundamento. 
Deste modo, abordou-se o instituto da responsabilidade civil, mais 
precisamente as espécies de responsabilidade e as formas de reparação do dano 
pelo agente causador, avultando os entes bancários, bem como os contratos e 
operações por eles propiciados e analisando, essencialmente, o cartão de crédito e 
a responsabilidade do seu uso por terceiros. 
Constatou-se, por conseguinte, com o desenvolvimento desta pesquisa, a 
importância do cartão de crédito na sociedade atual, uma vez ser este o meio mais 
usual de intermediação creditícia pelas instituições bancárias. 
Pode-se verificar, neste escopo, a responsabilidade dos entes bancários nos 
casos de utilização do cartão de crédito por terceiros, a qual é, segundo a doutrina e 
a jurisprudência contemporânea, objetiva, uma vez que este ilícito faz parte do 
próprio risco financeiro bancário. 
Portanto, pelo estudo realizado no presente artigo, ficou caracterizada a 
responsabilidade civil objetiva das instituições financeiras quando do uso do cartão 
HELLER, Helena Sabetzki; VIEIRA, Patrícia Elias. A responsabilidade civil dos entes bancários no uso do cartão 
de crédito por terceiros. Revista Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e 
Jurídicas da UNIVALI. v. 4, n.3, p. 416-435, 3º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 
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de crédito por terceiros, restando a hipótese em exame, por conseguinte, 
confirmada. 
Por fim, vale destacar, ainda, que o presente trabalho não objetivou esgotar 
as pesquisas e análises em relação ao assunto em comento, uma vez presente uma 
vasta série de entendimentos acerca da matéria. 
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS 
ABRÃO, Nelson. Direito bancário. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. 
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7492.htm.Acesso em: 15 out. 2012. 
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1.199.782. Relator: Ministro Luis Felipe 
Salomão, segunda seção, julgado em: 24/08/2011. Disponível em: 
http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21478573/agravo-regimental-no-agravo-
em-recurso-especial-agrg-no-aresp-87838-sp-2011-0209341-5-stj/relatorio-e-voto. 
Acesso em: 22 out. 2012. 
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