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Ecopedagogia Professor conteudista: Franco Bonetti Ecopedagogia Unidade I 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................................1 2 PERCEPÇÕES DO MEIO AMBIENTE: NOÇÕES BÁSICAS, AÇÃO HUMANA E IMPACTOS .........6 3 NOÇÕES BÁSICAS PARA A QUESTÃO AMBIENTAL ................................................................................7 4 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL E NO MUNDO ................ 12 5 SOCIEDADE SUSTENTÁVEL: TECNOLOGIA E BIOÉTICA ...................................................................... 15 Unidade II 6 ELEMENTOS NATURAIS E CONSTRUÍDOS DO MEIO AMBIENTE .................................................... 18 7 FATORES FÍSICOS E SOCIAIS DO MEIO AMBIENTE ............................................................................. 19 8 SUSTENTABILIDADE SOCIAL: UM DESAFIO DO SÉCULO XXI .......................................................... 22 9 SAÚDE, EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE: O DESAFIO DA PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA ................................................................................................................................................................... 23 10 EDUCAÇÃO, MEIO AMBIENTE E SAÚDE: RECONHECENDO ESPAÇOS SOCIAIS E RESSIGNIFICANDO CONCEITO ........................................................................................................................ 26 11 DIVERSIDADE: DESIGUALDADE E ÉTICA ............................................................................................... 32 12 REFLEXÃO ......................................................................................................................................................... 33 Sumário ECOPEDAGOGIA 1 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 5 10 15 20 25 1 INTRODUÇÃO Para compreendermos as questões ambientais que enfrentamos na atualidade, é necessário, antes, mudarmos nossa percepção sobre tempo e espaço. Isso pelo fato de que vivemos em um planeta que surgiu há 4,5 bilhões de anos e que vem sendo modificado constantemente pela influência de todos os componentes do universo, físicos e energéticos, além das ações promovidas pelos seres vivos que o habitam hoje. Para auxiliar nessa complexa compreensão, é preciso que os ambientes educacionais também sejam transformados, com uma abordagem voltada para a interdisciplinaridade e a transdiciplinaridade. Nesse contexto surge a ecopedagogia. A ecopedagogia fundamenta-se na pedagogia voltada para a aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida cotidiana, com o objetivo de promover a sustentabilidade das sociedades contemporâneas. O conceito de ecopedagogia, criado por Francisco Gutiérrez, pesquisador do pensamento de Paulo Freire na Costa Rica, segue os princípios da “Carta da Terra”, documento anunciado em março de 2000 pela UNESCO e que foi adotado pela ONU no ano 2002 com o mesmo valor da “Declaração dos Direitos Humanos”. A “Carta da Terra” foi aprovada por um fórum da sociedade civil, com representante de todos os povos, com o status de documento da “cidadania planetária”. Unidade I Unidade I 2R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 Seguindo essa linha de raciocínio, a ecopedagogia trabalha a ideia de fundamentar as ações humanas no sentido de compartilhar com as demais vidas a experiência do planeta Terra através das mudanças das atuais relações humanas, sociais e ambientais. A formação dessa consciência ecológica depende da educação, ou seja, de conhecimentos e competências humanas capazes de promover sociedades sustentáveis e a preservação do meio ambiente. Para tanto, pesquisadores sobre a perspectiva da educação como ferramenta transformadora de pensamentos e conceitos geram um documento que nos auxilia nessa tarefa. A CARTA DA TERRA NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO Primeiro Encontro Internacional — São Paulo, 23 a 26 de agosto de 1999. Organização: Instituto Paulo Freire — Apoio: Conselho da Terra e UNESCO-Brasil Carta da Ecopedagogia Em defesa de uma pedagogia da Terra 1. Nossa mãe Terra é um organismo vivo e em evolução. O que for feito a ela repercutirá em todos os seus filhos. Ela requer de nós uma consciência e uma cidadania planetárias, isto é, o reconhecimento de que somos parte da Terra e de que podemos perecer com sua destruição ou podemos viver com ela em harmonia, participando do seu devir. 2. A mudança do paradigma economicista é condição necessária para estabelecer um desenvolvimento com justiça e equidade. Para ser sustentável, o desenvolvimento precisa ser economicamente factível, ecologicamente apropriado, socialmente justo, includente, culturalmente equitativo, respeitoso 5 10 15 20 25 30 ECOPEDAGOGIA 3 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 e sem discriminação. O bem-estar não pode ser só social; deve ser também sociocósmico. 3. A sustentabilidade econômica e a preservação do meio ambiente dependem também de uma consciência ecológica, e esta, da educação. A sustentatibilidade deve ser um princípio interdisciplinar reorientador da educação, do planejamento escolar, dos sistemas de ensino e dos projetos político-pedagógicos da escola. Os objetivos e conteúdos curriculares devem ser significativos para o(a) educando(a) e também para a saúde do planeta. 4. A ecopedagogia, fundada na consciência de que pertencemos a uma única comunidade da vida, desenvolve a solidariedade e a cidadania planetárias. A cidadania planetária supõe o reconhecimento e a prática da planetaridade, isto é, tratar o planeta como um ser vivo e inteligente. A planetaridade deve levar- nos a sentir e viver nossa cotidianidade em conexão com o universo e em relação harmônica consigo, com os outros seres do planeta e com a natureza, considerando seus elementos e dinâmica. Trata-se de uma opção de vida por uma relação saudável e equilibrada com o contexto, consigo mesmo, com os outros, com o ambiente mais próximo e com os demais ambientes. 5. A partir da problemática ambiental vivida cotidianamente pelas pessoas nos grupos e espaços de convivência e na busca humana da felicidade, processa-se a consciência ecológica e opera-se a mudança de mentalidade. A vida cotidiana é o lugar do sentido da pedagogia, pois a condição humana passa inexoravelmente por ela. A ecopedagogia implica numa mudança radical de mentalidade em relação à qualidade de vida e ao meio ambiente, que 5 10 15 20 25 30 Unidade I 4R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 está diretamente ligada ao tipo de convivência que mantemos com nós mesmos, com os outros e com a natureza. 6. A ecopedagogia não se dirige apenas aos educadores, mas a todos os cidadãos do planeta. Ela está ligada ao projeto utópico de mudança nas relações humanas, sociais e ambientais, promovendo a educação sustentável (ecoeducação) e ambiental com base no pensamento crítico e inovador, em seus modos formal, não formal e informal, tendo como propósito a formação de cidadãos com consciência local e planetária que valorizem a autodeterminação dos povos e a soberania das nações. 7. As exigências da sociedade planetária devem ser trabalhadas pedagogicamente a partir da vida cotidiana, da subjetividade, isto é, a partir das necessidades e interesses das pessoas. Educar, para a cidadania planetária, supõe o desenvolvimento de novas capacidades, tais como: sentir, intuir,vibrar emocionalmente; imaginar, inventar, criar e recriar; relacionar e interconectar-se, auto-organizar-se; informar-se, comunicar-se, expressar-se; localizar, processar e utilizar a imensa informação da aldeia global; buscar causas e prever consequências; criticar, avaliar, sistematizar e tomar decisões. Essas capacidades devem levar as pessoas a pensar e a agir processualmente, em totalidade e transdisciplinarmente. 8. A ecopedagogia tem por finalidade reeducar o olhar das pessoas, isto é, desenvolver a atitude de observar e evitar a presença de agressões ao meio ambiente e aos viventes e o desperdício, a poluição sonora, visual, a poluição da água e do ar, entre outros, para intervir no mundo, no sentido de reeducar o habitante do 5 10 15 20 25 30 ECOPEDAGOGIA 5 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 planeta e reverter a cultura do descartável. Experiências cotidianas aparentemente insignificantes, como uma corrente de ar, um sopro de respiração, a água da manhã na face, fundamentam as relações consigo mesmo e com o mundo. A tomada de consciência dessa realidade é profundamente formadora. O meio ambiente forma tanto quanto ele é formado ou deformado. Precisamos de uma ecoformação para recuperarmos a consciência dessas experiências cotidianas. Na ânsia de dominar o mundo, elas correm o risco de desaparecer do nosso campo de consciência, se a relação que nos liga a ele for apenas uma relação de uso. 9. Uma educação para a cidadania planetária tem por finalidade a construção de uma cultura da sustentabilidade, isto é, uma biocultura, uma cultura da vida, da convivência harmônica entre os seres humanos e entre estes e a natureza. A cultura da sustentabilidade deve nos levar a saber selecionar o que é realmente sustentável em nossa vida, em contato com a vida dos outros. Cotidianamente. 10. A ecopedagogia propõe uma nova forma de governabilidade diante da ingovernabilidade do gigantismo dos sistemas de ensino, propondo a descentralização e uma racionalidade baseadas na ação comunicativa, na gestão democrática, na autonomia, na participação, na ética e na diversidade cultural. Entendida dessa forma, a ecopedagogia se apresenta como uma nova pedagogia dos direitos que associa direitos humanos — econômicos, culturais, políticos e ambientais — e direitos planetários, impulsionando o resgate da cultura e da sabedoria popular. Ela desenvolve a capacidade de deslumbramento e de reverência diante da complexidade do mundo e a vinculação amorosa com a Terra. 5 10 15 20 25 30 35 Unidade I 6R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 2 PERCEPÇÕES DO MEIO AMBIENTE: NOÇÕES BÁSICAS, AÇÃO HUMANA E IMPACTOS Conceitualmente, podemos afirmar que meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e infraestrutura de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. É inegável, porém, que o conceito de meio ambiente vem sendo construído pelas diferentes ciências, portanto é mais interessante considerá-lo uma representação social que evolui no tempo e espaço social em que é utilizada e, ainda, que pode admitir flexibilidade. O que pode ser considerado definido são os aspectos que tratam o ser humano como agente e paciente de transformações intencionais por ele produzidas no seu ambiente, ou seja, o ser humano é parte integrante dos ciclos e fluxos que operam nos ecossistemas, neles intervindo, produzindo modificações intencionais e construindo novos ambientes. Debates mundiais, ao considerar a questão ambiental em tempos de globalização, quando a tecnologia disponibiliza possibilidades ao homem para satisfazer suas necessidades e desejos, julgam inevitável o aumento da capacidade humana de intervir na natureza. Discussões e tensões relacionadas ao uso do espaço e dos recursos naturais são frequentes no atual modelo de civilização, no qual a crescente e desordenada urbanização acaba por impor consequências quase sempre indesejáveis, em que a exploração dos recursos naturais passou a ser feita de forma descontrolada. Recursos não renováveis correm o risco do esgotamento definitivo onde sistemas inteiros de vida vegetal e animal são tirados de seu equilíbrio, produzindo efeitos devastadores como, por exemplo, o esgotamento do solo e a contaminação da água. 5 10 15 20 25 30 ECOPEDAGOGIA 7 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 Nesse cenário, o meio ambiente e os seus recursos naturais se tornaram uma preocupação para o planejamento social, político e econômico dos governos, considerando que a questão ecológica está estreitamente ligada à interdependência mundial, ultrapassando fronteiras, pois, se um país resolve fazer um experimento atômico, o mundo todo sofre as consequências dessa ação. 3 NOÇÕES BÁSICAS PARA A QUESTÃO AMBIENTAL Para compreendemos melhor a questão do meio ambiente e sua importância na qualidade de vida do homem, torna-se importante a definição de alguns conceitos básicos, antes de iniciarmos o levantamento de questões mais específicas: Biosfera. Bios significa “vida”. A biosfera é uma película de terra firme, água, energia e ar que envolve todas as partes do planeta Terra e que se estende um pouco acima e um pouco abaixo da superfície. É o habitat viável de todas as espécies de seres vivos. Ecologia. Palavra derivada do grego: oikos significa “casa” e logos quer dizer “estudo”. Sinteticamente, é o estudo do meio ambiente em que vivemos e sua relação e interação com todos os seres vivos. Impacto ambiental. Todo e qualquer tipo de alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que afetam a saúde, a segurança e o bem estar da população, quer direta ou indiretamente; as atividades sociais e econômicas; o conjunto de todos os seres vivos de uma região, a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais. 5 10 15 20 25 Unidade I 8R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 Unidades de conservação. São espaços de território nacional, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, de domínio público ou propriedade privada, legalmente instituídos pelo poder público com os objetivos e limites definidos, sob regimes especiais de administração, aos quais se aplicam garantias adequadas de proteção. Existem unidades de conservação de proteção integral, garantindo a preservação total da natureza, e de uso sustentável, que permitem seu uso controlado Floresta. Com alta densidade de árvores, a floresta é uma entidade biológica formada por um conjunto complexo de formas vegetais interdependentes, as quais se dispõe em camadas. Flora silvestre. É o conjunto das espécies vegetais naturais nativas de uma região ou país. Flora exótica. É o conjunto das espécies vegetais não nativas de uma região, as quais foram adaptadas ao local ou importadas. Mata Atlântica. Área de formação vegetal com grande riqueza de espécies. Em geral apresenta três estratos: superior, com espécies arbóreas de altura entre 15 a 40 metros; intermediário, com alta densidade de espécies, constituído por arbustos, arboretos e árvores de pequeno porte, entre 3 e 10 metros; e um terceiro, composto por grande variedade de ervas rasteiras, cipós, trepadeiras, além de palmeiras e samambaias. Ela abriga grandevariedade de espécies da fauna brasileira, como, por exemplo: onça, sagui-de-tufo-preto, paca, cotia, tucano-de-bico verde, caxingulê, mono-carvoeiro, entre outras. Área de proteção ambiental. É a área destinada à proteção ambiental, visando assegurar o bem-estar das populações humanas e a conservação ou melhoria das condições ecológicas locais. 5 10 15 20 25 30 ECOPEDAGOGIA 9 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 Reservas biológicas. Correspondem a áreas delimitadas com a finalidade de preservar e proteger integralmente a fauna e a flora, para fins científicos e educativos, em que é proibida qualquer forma de exploração dos seus recursos naturais. Estações ecológicas. Basicamente, são áreas representativas de ecossistemas brasileiros. Elas são destinadas à realização de pesquisas básicas e aplicadas de ecologia, à proteção do ambiente natural e ao desenvolvimento da educação conservacionista. Nessas áreas não há exploração do turismo. Parques. São áreas geográficas de extensão considerável, demarcadas e protegidas pelo poder público, dotadas de atributos naturais excepcionais — ou seja, são ricas em espécies. Os parques são objeto de preservação permanente, submetidos à condição de inalienabilidade e indisponibilidade em seu todo. Destinam-se a fins científicos, culturais, educativos e recreativos. São criados e administrados pelos governos federal, estadual e municipal, visando principalmente à preservação dos ecossistemas naturais englobados contra quaisquer alterações que os desvirtuem. Áreas de preservação permanente. Pelo art. 2º da lei 4771/65, consideram-se de preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: • ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal com largura mínima estabelecida pela própria lei; • ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais: • nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados olhos d'água, qualquer que seja a sua situação topográfica; • no topo de morros, montes, montanhas e serras; 5 10 15 20 25 30 Unidade I 10R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 • nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive; • nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; • nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais; • em altitudes superiores a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação. A seguir, na figura 11, as áreas brasileiras consideradas áreas de preservação permanentes: Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando assim declaradas por ato do poder público, as florestas e demais formas de vegetação natural destinadas: • a atenuar a erosão das terras; • a fixar as dunas; • a formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; 1 Disponível em: http://www.webciencia.com 5 10 15 ECOPEDAGOGIA 11 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 • a auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares; • a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico; • a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção; • a manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas; • a assegurar condições de bem-estar público. Poluição. É a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: • prejudiquem a saúde, a segurança e o bem estar da população; • criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; • atinjam desfavoravelmente a biota; • afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; • lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Recursos naturais. São a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo e os elementos da biosfera, a fauna e a flora. Foram elencados aqui apenas alguns conceitos que considerados fundamentais, porém que não se esgotam, mesmo porque, como já citado, esta é uma área do conhecimento que só recentemente vem despertando a atenção em razão da urgência de ações práticas. 5 10 15 20 25 Unidade I 12R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 4 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL E NO MUNDO Apesar dos conceitos e paradigmas que já elencados, o conceito de meio ambiente e sua gestão constitui um tema recente em nosso país, embora em carta datada de 1º de maio de 1500, enviada ao rei de Portugal, Pero Vaz de Caminha já relatasse as belezas naturais brasileiras. Entretanto, os problemas relacionados aos recursos ambientais sempre foram, de certa forma, tratados de forma isolada no Brasil, dificultando os mecanismos necessários à gestão do meio ambiente. Assim, apenas recentemente, a população e as estruturas de governo têm atendido às demandas no que se refere à conservação e à preservação dos recursos naturais. A história começa, aproximadamente, com a vinda da Família Real para o Brasil, quando foi criado o Jardim Botânico do Rio de Janeiro em 1808 e que hoje é uma fundação vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. Até a década de 50, contudo, não havia no Brasil uma preocupação significativa com os aspectos ambientais, apenas determinações relacionadas aos aspectos mais urbanos, como o saneamento, a conservação e a preservação do patrimônio natural, histórico e artístico, e à solução de problemas provocados por secas e enchentes. A industrialização, entre 1930 e 1950, dotou o país de instrumentos legais e de órgãos públicos que refletiam as áreas de interesse da época e que, de alguma forma, estavam relacionados à área do meio ambiente, tais como: o Código de Águas — Decreto nº 24.643, de 10 de julho de 1934; o Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS); o Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS); a Patrulha Costeira e o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP). O processo de degradação da natureza em grande escala iniciou-se com as conquistas do Império Romano, que dizimava milhares de quilômetros quadrados de florestas europeias e asiáticas para a passagem de seu exército, utilizando a madeira retirada na construção de suas majestosas armas de guerra. 5 10 15 20 25 30 ECOPEDAGOGIA 13 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 Nesse período também vamos encontrar medidas de conservação e preservação do patrimônio natural, histórico e artístico mais significativas, como, por exemplo: a criação de parques nacionais e de florestas protegidas nas regiões nordeste, sul e sudeste; o estabelecimento de normas de proteção dos animais; a promulgação dos códigos de floresta, de águas e de minas; a organização do patrimônio histórico e artístico; a disposição sobre a proteção de depósitos fossilíferos, e a criação, em 1948, da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza. Na Conferência Internacional promovida pela UNESCO, em 1968, sobre a Utilização Racional e a Conservação dos Recursos da Biosfera, o Brasil — que, já na década de 1960, havia se comprometido com a conservação e a preservação do meio ambiente efetivadas, por meio de sua participação em convenções ereuniões internacionais — agora, como membro das Nações Unidas, assinou acordos, pactos e termos de responsabilidade entre países, no âmbito da Declaração de Soberania dos Recursos Naturais. A década de 1970 foi marcada pelo agravamento dos problemas ambientais e, consequentemente, pela maior conscientização desses problemas em todo o mundo. Foi realizado, em Brasília, de 21 a 27 de agosto de 1971, o I Simpósio sobre Poluição Ambiental, por iniciativa da Comissão Especial sobre Poluição Ambiental da Câmara dos Deputados. Pesquisadores e técnicos do país e do exterior participaram do simpósio com o objetivo de colher subsídios para um estudo global do problema da poluição ambiental no Brasil. Contudo, somente após a participação da delegação brasileira na Conferência das Nações Unidas para o Ambiente Humano, realizada em 1972, em Estocolmo, Suécia, é que medidas efetivas foram tomadas com relação ao meio ambiente no Brasil. Representantes de aproximadamente 113 nações A primeira reunião da ONU, por meio da UNESCO e do PNUMA, para o meio ambiente e a saúde humana foi realizada em 1972, em Estocolmo, na Suécia. 5 10 15 20 25 30 Unidade I 14R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 participaram do evento, 90% dos quais pertenciam ao grupo dos países em desenvolvimento. Nessa época, apenas 16 nações possuíam entidades de proteção ambiental. Liderados pela delegação brasileira, os países em desenvolvimento, defendiam seu direito às oportunidades de crescimento econômico a qualquer custo. Ao final, foi proclamada, como forma ideal de planejamento ambiental, aquela que associasse a prudência ecológica às ações pró-desenvolvimento, isto é, o ecodesenvolvimento, sendo ainda aprovada a declaração de que o subdesenvolvimento é uma das mais frequentes causas da poluição no mundo. Nessa conferência foram aprovados 25 princípios fundamentais que orientam as ações internacionais na área ambiental. A Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), foi criada pelo Decreto nº 73.030, de 30 de outubro de 1973. Ela propôs a discussão, junto à opinião pública, da questão ambiental, buscando fazer com que as pessoas se preocupem mais com o meio ambiente e evitem atitudes predatórias. Em 1977, a UNESCO e o PNUMA promoveram a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, que influenciou a adoção dessa disciplina nas universidades brasileiras. A SEMA propôs, em 1981, o que seria de fato a primeira lei ambiental, no Brasil, destinada à proteção da natureza, a Lei nº 6.902, de importância significativa em relação ao meio ambiente brasileiro. O governo federal criou unidades de conservação, como parques nacionais, reservas biológicas, reservas ecológicas, estações ecológicas, áreas de proteção ambiental e áreas de relevante interesse ecológico. Nos estados e municípios a preocupação centrou-se na proteção de mananciais e cinturões verdes em torno de zonas industriais, porém, em 1985, apenas 1,49% da área total do país é ocupada por unidades de conservação. 5 10 15 20 25 30 ECOPEDAGOGIA 15 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 A promulgação da Constituição de 5 de outubro de 1988 finalmente promoveu a formulação da nossa política ambiental, dedicando um capítulo inteiro ao meio ambiente, colocando responsabilidades partilhadas entre o governo e a sociedade quanto à sua preservação e conservação. De 3 a 14 de junho de 1992, realizou-se no Rio de Janeiro a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Rio- 92 (ECO-92), da qual participaram 170 nações e que tinha como objetivos: • identificar estratégias regionais e globais para ações referentes às principais questões ambientais; • examinar a situação ambiental do mundo e as mudanças ocorridas depois da Conferência de Estocolmo; • examinar estratégias de promoção de desenvolvimento sustentado e de eliminação da pobreza nos países em desenvolvimento. As autoridades brasileiras estavam sendo pressionadas com relação à adoção de medidas efetivas de proteção ao meio ambiente pela sociedade, que já vinha se organizando nas últimas décadas. Preocupadas com a repercussão internacional da Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, em 16 outubro de 1992, promovem a criação do Ministério do Meio Ambiente (MMA), visando otimizar a política do meio ambiente no Brasil. 5 SOCIEDADE SUSTENTÁVEL: TECNOLOGIA E BIOÉTICA Como já foi dito, pesquisas e estudos relacionados ao meio ambiente são bastante recentes, sendo que definições como a de meio ambiente e de desenvolvimento sustentável, por exemplo, ainda estão em construção pela comunidade científica. No entanto, existe uma terminologia própria 5 10 15 20 25 Unidade I 16R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 de elementos que formam as bases gerais do que se pode chamar de pensamento ecológico, que adotou três noções centrais como referência: meio ambiente, sustentabilidade e diversidade. Meio ambiente. Visto que é um conceito ainda em construção, vem sendo definido de modo distinto por especialistas de diferentes ciências, portanto é mais sensato estabelecê-lo como uma “representação social”, uma visão que evolui no tempo e depende do grupo social em que é utilizada, sendo fundamentais na formação de opiniões e no estabelecimento de atitudes individuais, as representações coletivas dos grupos sociais aos quais os indivíduos pertencem. Essas representações sociais são dinâmicas, evoluem rapidamente e interferem de forma significativa quando se trata de decidir e agir com relação à qualidade de vida das pessoas. De um modo genérico, “meio ambiente” tem indicado um “espaço” (com seus componentes bióticos e abióticos e suas interações) em que um ser vive e se desenvolve, trocando energia e interagindo com ele, sendo transformado e transformando-o. No caso do ser humano, ao espaço físico e biológico soma-se o “espaço” sociocultural. Interagindo com os elementos do seu ambiente, a humanidade provoca tipos de modificação que se transformam com o passar da história. E, ao transformar o ambiente, o homem também muda sua própria visão a respeito da natureza e do meio em que vive. Assim se distinguem, por exemplo, os elementos naturais e construídos, urbanos e rurais ou físicos e sociais do meio ambiente, porém tais categorias não devem ser tidas realidades imutáveis, pois há gradações. Vamos conhecer algumas delas. Componentes bióticos e abióticos são os elementos de um ecossistema. O conceito de meio ambiente deve ser considerado uma “representação social”, uma visão que evolui no tempo e depende do grupo social em que é utilizada. 5 10 15 20 25 30 ECOPEDAGOGIA 17 R ev is ao 20 09 : T at ia ne D ia gr am aç ão : F ab io - 1 2/ 06 /0 9 Componentes bióticos. São os seres vivos: os animais, o homem, os vegetais, fungos, protozoários e bactérias; e também as substâncias que os compõem ou são geradas por eles. Componentes abióticos. São os seres não vivos: a água, gases atmosféricos, sais minerais e todos os tipos de radiação (Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, 1992). 5
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