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Juliana, nascida em 15/03/1992, "mãe solteira" e desempregada, sendo despejada do imóvel em que residia em comunidade carente na cidade de Cabo Frio, Rio de Janeiro, juntamente com a filha de apenas 04 anos de idade. Por não conhecer ninguém no local e sem ter a quem pedir ajuda, passou a pernoitar com a filha em alguns templos religiosos e outros locais de acesso público, alimentando- se a partir de ajudas recebidas de desconhecidos. Nessa época, Juliana fez amizade com Fabiana, moradora de rua que pernoitava nos mesmos locais que ela. No dia 23 de fevereiro de 2012, não mais aguentando sua precária situação e vendo a filha sofrer de fome sem ter como comprar alimentos, e sem conseguir qualquer ajuda, Juliana decidiu ingressar em um conhecido supermercado da região, onde visava esconder na bolsa um pacote de arroz e outro de feijão, cujo valor totalizava R$12,00 (doze reais). Ocorre que a conduta de Juliana foi imediatamente percebida pelo segurança antes mesmo que ela escondesse completamente os produtos na bolsa. Desta forma, o segurança a interceptou no momento em que ela tentava sair do estabelecimento comercial sem pagar pelos bens, e apreendeu os dois produtos escondidos. Em sede policial, Juliana confirmou os fatos, reiterando a ausência de recursos financeiros e a situação de fome e risco físico de sua filha. Juntado à Folha de Antecedentes Criminais sem outras anotações, o laudo de avaliação dos bens subtraídos confirmando o valor, e ouvidos os envolvidos, inclusive o segurança do estabelecimento e o gerente do supermercado, o auto de prisão em flagrante e o inquérito policial foram encaminhados ao Ministério Público, que ofereceu denúncia em face de Juliana pela prática do crime do Art. 155, caput, c/c Art. 14, inciso II, ambos do Código Penal, além de ter opinado pela liberdade da acusada. O magistrado em atuação perante o juízo competente, no dia 15 de março de 2013, recebeu a denúncia oferecida pelo Ministério Público, concedeu liberdade provisória à acusada, deixando de converter o flagrante em preventiva, e determinou que fosse realizada a citação da denunciada. Contudo, foi concedida a liberdade para Juliana antes de sua citação e, como ela não tinha endereço fixo, não foi localizada para ser citada. No ano de 2016, Juliana consegue um emprego e consegue resolver suas dificuldades financeiras. Em razão disso, procura um advogado, esclarecendo que nada sabe sobre o prosseguimento da ação penal a que respondia. Disse, ainda, que Fabiana, hoje residente na rua X, na época dos fatos também era moradora de rua e tinha conhecimento de suas dificuldades. Diante disso, em 20 de março de 2017, segunda-feira, sendo terça-feira dia útil em todo o país, Juliana e o advogado compareceram ao cartório, onde são informados que o processo estava em seu regular prosseguimento desde 2013, sem qualquer suspensão, esperando a localização de Juliana para citação. Naquele mesmo momento, Juliana foi citada, assim como intimada, junto ao seu advogado, para apresentação da medida cabível. Cabe destacar que a ré, acompanhada de seu patrono, já manifestou desinteresse em aceitar a proposta de suspensão condicional do processo oferecida pelo Ministério Público. Considerando a situação narrada, apresente, na qualidade de advogado(a) de Juliana, a peça jurídica cabível, diferente do habeas corpus, apresentando todas as teses jurídicas de direito material e processual pertinentes. A peça deverá ser datada no último dia do prazo. QUESTÃO 1 Carlos foi denunciado pela prática do crime de tráfico de drogas. Após a instrução probatória, o juiz reduziu a pena fixada do máximo previsto no artigo 33, § 4o da Lei 11.343/06, por ser o réu primário, de bons antecedentes, não integrar organização criminosa e não se dedicar a atividades criminosas. Além disso, o juiz negou a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, ao argumento de que o artigo 33, § 4o veda tal benefício, fixando ainda o regime como inicialmente fechado, ao argumento de que o artigo 2º, § 1º, da lei 8.072/90, assim determina. O advogado de Carlos é intimado da sentença. À luz da jurisprudência do STF, responda aos itens a seguir. A) Cabe ao advogado de defesa a impugnação da fixação do regime inicial fechado, fixado exclusivamente com base no artigo 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90? (0,65) B) Com relação ao tráfico-privilegiado, previsto na Lei nº 11.343/06, artigo 33, § 4º, é possível a conversão da pena privativa de liberdade em pena restritiva de direitos? (0,60) QUESTÃO 2 Mariano foi denunciado pela prática de crime de estupro de vulnerável, praticado contra Diana, jovem de 13 anos de idade. Segundo consta da denúncia, Mariano conheceu Diana às duas horas da madrugada, em uma boate noturna, a qual ele frequentava há alguns anos com amigos. Ao ser apresentada por um amigo em comum, Mariano foi informado de que Diana estava comemorando seu aniversário de 19 anos na boate. Ainda segundo a denúncia, por volta das cinco da manhã, Mariano e Diana dirigiram-se a um motel, onde praticaram atos libidinosos diversos, de forma consentida, vindo Mariano a tomar conhecimento, após a prática do ato libidinoso, da mentira que lhe foi contada pelo amigo, pois na verdade, Diana tinha apenas 13 anos de idade. A denúncia foi recebida. Ao final da instrução probatória, Mariano foi condenado pela prática do crime de estupro de vulnerável, previsto no artigo 217-A do Código Penal. Considerando a situação narrada, na condição de advogado(a) de Mariano, responda aos itens a seguir. A) Qual é a peça processual a ser apresentada pela defesa técnica para atacar a decisão do magistrado? Justifique. (0,60) B) Qual a principal alegação defensiva de direito material a ser apresentada pela defesa técnica? Justifique. (0,65) QUESTÃO 3 Jonas foi denunciado pelo crime de moeda falsa (art. 289 do Código Penal), perante a Justiça Federal, por supostamente ter tentado pagar a caixa do supermercado com notas por ele próprio falsificadas. Segundo narrativa constante da própria denúncia, lastreada no depoimento prestado em sede policial por Estela, funcionária do caixa do supermercado, as notas possuíam falsificação tão grosseira, que a mesma não se conteve e "começou a rir, já que aquela nota não enganava ninguém", avisando imediatamente a polícia. A denúncia foi recebida e Jonas foi citado dia 18/10/2017. Considerando o caso narrado, pergunta-se: A) A imputação apresentada na denúncia foi correta? (0,40) B) A Justiça Federal é competente para o processo e julgamento da conduta praticada? (0,45) C) Que tese defensiva pode ser suscitada em favor do acusado em sede de resposta à acusação? (0,40) QUESTÃO 4 Em determinada ação fiscal procedida pela Receita Federal, ficou constatado que Tereza não fez constar quaisquer rendimentos nas declarações apresentadas pela sua empresa nos anos de 2013, 2014 e 2015, omitindo operações em documentos e livros exigidos pela lei fiscal. O auditor fiscal, visualizando as irregularidades, realizou o auto de infração, dando início ao processo administrativo de lançamento. Antes do seu término, todavia, o representante do Ministério Público entendeu por bem oferecer denúncia contra Tereza pela prática do delito descrito no art. 1º, inciso II da Lei n. 8.137/90, combinado com o art. 71 do Código Penal. A inicial acusatória foi recebida. Diante das informações, qual a tese a ser apresentada por Tereza em sua defesa? Justifique a sua resposta. (1,25)