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ISIS-TCC-Final-05 04

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 Isis Cristina Riboli Cochi 
 
 
 
 
 
 
Relato de Caso: Utilização da eletroquimioterapia como 
tratamento do carcinoma de células escamosas em felinos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo/SP 
2016 
Isis Cristina Riboli Cochi 
 
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Isis Cristina Riboli Cochi 
 
 
 
 
 
Relato de Caso: Utilização da eletroquimioterapia como 
tratamento do carcinoma de células escamosas em felinos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo/SP 
2016 
Isis Cristina Riboli Cochi 
 
Monografia apresentada como requisito final 
à obtenção de Título de Especialização no 
Curso de Pós-Graduação em Clínica Médica 
de Felinos, do Centro de Estudos Superiores 
de Maceió, da Fundação Educacional Jayme 
de Altavila, orientada pelo Prof. MSc. 
Jonathan Ferreira e co-orientada pela Prof. 
MSc. Juliana Vieira Cirillo 
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“Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, 
lembrai-vos de que as grandes coisas do homem 
foram conquistadas do que parecia impossível.” 
 
Charles Chaplin 
 
 
 
 
 
 
 
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Resumo 
 
 O carcinoma de células escamosas (CCE) é um tumor de origem epitelial que acomete 
animais principalmente de pele e pelos claros devido à exposição aos raios ultravioletas. 
Geralmente apresentam evolução lenta e baixo caráter metastático, entretanto em muitos 
casos os pacientes chegam ao atendimento veterinário quando as lesões já estão extensas, 
tornando o seu tratamento desafiador. Muitos tratamentos são descritos na literatura entre 
eles cirurgia, radioterapia, quimioterapia, crioterapia e mais recentemente, eletroquimioterapia 
(ECT). A eletroquimioterapia vem ganhando destaque no tratamento desses tumores devido a 
sua alta eficácia e poucos efeitos colaterais. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a 
eficácia do tratamento com eletroquimioterapia em um felino com carcinoma de células 
escamosas. 
 
Palavras-chave: felino, carcinoma, pele, eletroquimioterapia, bleomicina 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Abstract 
 
The squamous cell carcinoma (SCC) is a tumor of epithelial origin which mainly 
affects animals skin and hair clear due to exposure to ultraviolet rays. Usually have slow 
evolution and low metastatic character, though in many cases the patients come to veterinary 
care when the lesions are already extensive, making their challenging treatment. Many 
treatments are described in the literature including surgery, chemotherapy, radiotherapy, 
cryotherapy and, most recently, electrochemotherapy (ECT). The electrochemotherapy is 
gaining prominence in treating these tumors due to its high efficacy and few side effects. The 
objective of this study was to evaluate the efficacy of electrochemotherapy in a feline with 
squamous cell carcinoma. 
Keywords: feline, carcinoma, skin, electrochemotherapy, bleomycin 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
1. Introdução ....................................................................................................................... 8 
2. Revisão Bibliográfica ...................................................................................................... 8 
2.1 Etiopatogenia................................................................................................................. 8 
2.2 Sinais Clínicos ............................................................................................................... 9 
2.3 Diagnóstico ................................................................................................................. 10 
2.4 Tratamento .................................................................................................................. 11 
2.5 A utilização da eletroquimioterapia no tratamento do CCE ....................................... 12 
3. Relato de Caso............................................................................................................... 15 
4. Resultados e Discussão ................................................................................................. 19 
5. Conclusão ...................................................................................................................... 20 
6. Referências Bibliográficas ............................................................................................ 21 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1. Felino com áreas de dermatite actínica e CCE caracterizadas no exame 
histopatológico (MURPHY, 2013) ........................................................................................... 10 
Figura 2. Lesão ulcerada em canto nasal do olho esquerdo referida pelo responsável na 
primeira consulta (Arquivo Pessoal). ....................................................................................... 15 
Figura 3. Evolução da lesão com 25 dias, 31 dias e 47 dias após a primeira consulta (Arquivo 
Pessoal). .................................................................................................................................... 16 
Figura 4. Paciente anestesiado antes da eletroquimioterapia (Arquivo Pessoal). .................... 16 
Figura 5. Paciente após a realização da eletroquimioterapia (Arquivo Pessoal). ..................... 17 
Figura 6. Evolução 5 dias após a ECT (Arquivo Pessoal). ...................................................... 17 
Figura 7 Paciente após 38 dias da eletroquimioterapia. (Arquivo Pessoal). ............................ 18 
Figura 8. Evolução da lesão após 60 dias da eletroquimioterapia (Arquivo Pessoal). ............. 18 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
LISTA DE ABREVIAÇÕES 
 
CCE Carcinoma de Células Escamosas 
ECT Eletroquimioterapia 
IV Intravenosa 
Hz Hertz 
kg Kilograma 
m
2 
Metros Quadrados 
mg Miligrama 
µs Microssegundos 
SRD Sem Raça Definida 
UV Ultravioleta 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 O carcinoma de células escamosas (CCE) juntamente com os 
hemagiossarcomas cutâneos são os tumores de pele induzidos pela irradiação ultravioleta 
mais prevalentes nos cães e gatos. Animais com pele e pelos claros apresentam um risco 
maior das lesões causadas por esses raios. (VILAR-SAAVEDRA & KITCHELL, 2014; 
SABATINI, et al., 2010). É um tumor maligno que se origina a partir de células tronco 
epidérmicas que tem a capacidade de autorrenovação ou diferenciação em múltiplas 
linhagens. Formas do epitélio escamoso revestem a maioria da pele, cavidade oral, esôfago, 
unhas e coxins e estão localizadas na base do folículo piloso e membrana basal da epiderme. 
Aproximadamente 15% dos tumores de pele de felinos correspondem ao CCE além de ser a 
grande maioria dos tumores malignos orais nessa espécie (MURPHY, 2013; RATUSHNY, et 
al., 2012). 
A eletroquimioterapia é uma das modalidades terapêuticas utilizada para o 
tratamento do carcinoma de células escamosas e vem ganhando popularidade entre os 
veterinários oncologistas com o passar dos anos assim como na medicina. Sua utilização visa 
aumentar a eficácia de quimioterápicos como a bleomicina e a cisplatina aumentando sua 
absorção dentro das células tumorais através da administração de pulsos elétricos 
permeabilizantes (SPUGININI e BALDI, 2014). 
 
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 
 
2.1Etiopatogenia 
 
A exposição solar crônica resulta na progressão de alterações actínicas para o 
carcinoma in situ que não ultrapassou a membrana basal) e posteriormente para carcinoma 
invasivo (THOMSON, 2007). 
A idade média dos felinos afetados está entre 10 a 12 anos (VAIL e WITHROW, 
1998). Os gatos de pelagem branca tem 13,4 vezes maior risco de desenvolver CCE em 
comparação aos demais gatos coloridos. Mutações do gene supressor tumoral P53 foram 
9 
 
encontradas em mais de 50% dos felinos com carcinoma de céulas escamosas em plano nasal 
(TEIFKE e LOHR, 1996). 
A ocorrência do CCE não tem predisposição racial e sexual, porém raças de 
pelagem longas são mais protegidas devido a melhor cobertura pilosa. Raças como os 
siameses são naturalmente protegidos pela distribuição de suas marcas (PLASMEIJER et 
al.,2009). Segundo Hunt, 2006, gatos com lesões em orelha tiveram maior sobrevida (799 
dias) quando comparados aos gatos com lesões em plano nasal isoladamente (675 dias). Os 
gatos com lesões em plano nasal e pinas simultaneamente, tiveram o tempo de sobrevivência 
mais curto (530 dias). 
Acredita-se que etiologia do CCE seja decorrente da exposição crônica à radiação 
ultravioleta (UV) especificamente relacionada com a exposição à radiação UVB e surgem em 
locais com pouca pelagem e não pigmentados como orelhas, pálpebras e plano nasal 
(MURPHY, 2013). 
 
2.2 Sinais Clínicos 
 
O CCE pode aparecer de forma proliferativa ou lesão erosiva. Os tumores em 
plano nasal são em geral localmente invasivos e se desenvolvem por um longo período de 
tempo, geralmente meses a anos. Lesões de caráter mais agressivo que crescem rapidamente 
estão associadas a um subtipo histológico mais severo com potencial de invasão linfática 
estromal. Metástases não são frequentes, porém linfonodos regionais e pulmões podem ser 
acometidos (THOMSON, 2007). 
A progressão do carcinoma de células escamosas, frequentemente é lenta e se 
caracteriza por lesões que não cicatrizam e tendem a evoluir para úlceras em pálpebras, plano 
nasal e orelhas de felinos de cores claras. Não é incomum a ocorrência simultânea de lesões 
pré-cancerosas (actínicas) e tumorais na mesma área da pele podendo ocorrer nas pinas, plano 
nasal e pálpebras (MURPHY, 2013). 
 
 
10 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.3 Diagnóstico 
 
Entre os diagnósticos diferenciais do CCE estão as neoplasias (melanoma, 
mastocitoma, hemangioma, hemangiossarcoma), distúrbios granulomatosos, complexo 
granuloma eosinofílico, paniculite e paroníquia. Lesões nodulares e/ou ulcerativas podem ser 
observadas em casos de esporotricose, criptococose, hipersensibilidade alimentar, atopia e 
complexo pênfigo (SANTIM et al., 2005; SCOTT e MILLER, 2001). 
Em casos de carcinoma de células escamosas presente em plano nasal, devem ser 
considerados diagnósticos diferenciais como rinite crônica, doenças virais como a 
imunodeficiência felina, infecções fúngicas ou bacterianas do plano nasal, pólipos 
nasofaríngeos, afecções da cavidade oral e lesões traumáticas (FOSSUM, 1997). 
O diagnóstico definitivo é obtido através da realização de biópsia excisional ou 
incisional. A maioria das lesões é superficial e apresenta processo inflamatório, o que dificulta 
o diagnóstico por meio de aspiração com agulha fina. De acordo com o sistema de 
estadiamento da organização mundial da saúde (Tabela 1) o CCE pode ser divido em 5 
estágios (OWEN, 1980). 
Figura 1. Felino com áreas de dermatite actínica e CCE 
caracterizadas no exame histopatológico (MURPHY, 2013) 
11 
 
 
Tabela 1. Estadiamento do CCE (Owen, 1998). 
 
2.4 Tratamento 
 
O tratamento geralmente se torna desafiador devido à extensão das lesões quando 
se faz o diagnóstico. Apesar da desfiguração resultante do tumor, gatos com CCE avançado 
podem viver por longos períodos. Tratamentos antitumorais devem visar o alívio dos 
sintomas e controle do tumor com resultados cosméticos razoáveis. Inúmeras abordagens 
terapêuticas têm sido relatadas na literatura, incluindo cirurgia, crioterapia, radiação, terapia 
fotodinâmica e quimioterapia intralesional (SPUGNINI et al., 2009). Diversos protocolos 
quimioterápicos podem ser utilizados como adjuvantes na terapia dos CCE, dentre as drogas 
utilizadas estão a doxorrubicina, actinomicina-D, bleomicina, carboplatina e os anti-
inflamatórios inibidores seletivos de COX -2 (RODASKI e WERNER,2009). 
Nos estágios iniciais, cirurgia, crioterapia, radioterapia ou cirurgia associada à 
radioterapia são opções de tratamento. Em estágios mais avançados, a cirurgia pode afetar a 
estética desses animais, por outro lado a radioterapia quando realizada em áreas periorbitais, 
cavidade oral ou plano nasal pode levar a efeitos colaterais como conjutivite, ceratite 
ulcerativa, e ceratoconjuntivite seca. (PINARD, C.L.et al., 2012). 
Tis carcinoma pré-invasivo (carcinoma in situ) não rompe a membrana 
basal 
T1 tumor maior que 2 cm de diâmetro, superficial 
T2 tumor com mais de 2-5 cm de diâmetro, ou com invasão mínima, 
independentemente do tamanho 
T3 tumor maior que 5 cm de diâmetro, ou com invasão do tecido 
subcutâneo independentemente da sua dimensão 
T4 tumor invadindo outras estruturas como fáscia, músculo, osso ou 
cartilagem 
12 
 
2.5 A utilização da eletroquimioterapia no tratamento do CCE 
 
Eletroquimioterapia (ECT) envolve a administração de um agente quimioterápico 
concomitante a formas de ondas adequadas que induzem aumento da captação da droga por 
células tumorais (SPUGNINI e PORRELLO, 2003). Sua utilização visa aumentar a eficácia 
de quimioterápicos como a bleomicina e cisplatina aumentando sua absorção dentro das 
células tumorais através da administração de pulsos elétricos permeabilizantes (SPUGININI e 
BALDI, 2014). Após relatos na medicina, vários estudos têm sido desenvolvidos em animais 
domésticos utilizando eletropermeabilização de pulsos bifásicos (DASKALOV et al., 1999). 
Estudos preliminares visam identificar as neoplasias que respondem a esse tratamento 
(SPUGNINI e PORRELLO, 2003) e o desenvolvimento de eletrodos apropriados 
(SPUGNINI et al.,2005; SPUGNINI, 2009). 
Essa técnica vem se mostrando eficaz no tratamento do carcinoma de plano nasal 
em gatos porém sua utilização em tumores na região da cabeça ainda é limitada devido a 
possíveis efeitos colaterais para os olhos e a possibilidade da ocorrência de extensa lise 
tumoral. A produção de lágrima pode agir como facilitador para a distribuição dos pulsos 
elétricos e em alguns casos danificar a lente e a retina (SALWA, et al.,2014). 
 De acordo com Spugnini, 2009, a ECT foi capaz de alcançar o controle local completo 
em aproximadamente 77% dos pacientes com efeitos colaterais leves e de curta duração. De 
acordo com a literatura, a ampla excisão cirúrgica ou radioterapia hiperfracionada são as 
modalidades que oferecem as maiores chances de conseguir o controle local, porém o controle 
de tumores e a sobrevivência dos animais é altamente dependente de margens cirúrgicas 
(LANAI, et al.,1997) ou o grau de resposta a radioterapia. A cirurgia é muitas vezes limitada 
dependendo do local de ocorrência do tumor como, por exemplo, plano nasal e pálpebra. 
Sobreviventes de tratamento cirúrgico e radioterapia podem sofrer de seqüelas que vão desde 
dor e infecção a desfiguração total ou parcial (MELZER et al., 2006). 
 É possível adotar um protocolo de pré tratamento com hialuronidase para degradação 
do tecido conjuntivo e dessa forma, distribuição mais uniforme da quimioterapia. Os efeitos 
colaterais leves e a preservação da arquitetura facial normal fazem da ECT uma abordagem 
potencialmente interessante. O uso de eletrodos modificadospermite a realização da 
eletroquimioterapia em áreas sensíveis, como a do canto do olho sem induzir hemorragias ou 
13 
 
perda de arquitetura. Segundo Spuginini et al.(2015) 47 gatos com CCE em região periocular 
foram submetidos a ECT e não foi evidenciado nenhum dano em córnea, úvea ou retina, 
porém em 3 animais foi observado epífora, provavelmente consequente a esclerose do ducto 
lacrimal. Entre outros efeitos colaterais da eletroquimioterapia estão o risco de lise tumoral 
podendo levar a complicações fatais após o tratamento e a dificuldade na propagação dos 
pulsos elétricos em tumores extensos devido a áreas de necrose ou extensa fibrose 
(SPUGININI, E.P e PORRELLO, A., 2003). 
Eletropermeabilização é um método que utiliza impulsos de campos elétricos para 
induzir uma reorganização eletricamente mediada da membrana plasmática das células 
(CEZAMAR,et al., 2008). 
 Eletroquimioterapia combina administração local e/ou sistêmica de 
medicamentos quimioterápicos, que sozinhos tem pouca permeabilidade na membrana, como 
bleomicina e cisplatina, com eletropermeabilização por aplicação direta de pulsos elétricos em 
tumores (CEZAMAR,et al., 2008). 
A aplicação de pulsos elétricos nos tecidos induz uma redução transitória e 
reversível do fluxo de sangue, o qual induz o aprisionamento do quimioterápico no tecido por 
várias horas, proporcionando mais tempo para a droga para agir. Este fenômeno também 
impediu sangramento a partir do tecido, que foi importante no caso de hemorragias 
decorrentes dos tumores (SERZA, et al., 2002). 
Estudos demonstraram que doses de quimioterápicos com eficácia antitumoral 
mínima ou nenhuma se mostraram efetivos em cerca de 80% dos casos quando usados com a 
eletroquimioterapia. As doses dessas medicações utilizadas foram tão baixas que não foi 
observada nenhuma toxicidade sistêmica. A via de administração intravenosa foi utilizada no 
tratamento com bleomicina ou intratumoral com bleomicina e cisplatina. Embora nenhum dos 
estudos compararam as diferentes vias de administração, o uso da cisplatina parece ser menos 
eficaz (SERSA, et al., 2000). 
Quando utilizada apenas no tratamento quimioterápico, a bleomicina não é eficaz, 
seu mecanismo de ação é através da alteração da clivagem no DNA das células, a entrada nas 
células ocorre por meio das proteínas carreadoras presentes na bicamada lipídica. A falta da 
expressão dessas proteínas carreadoras é um dos primeiros mecanismos de escape das células 
tumorais, fazendo com que a eficácia e duração do quimioterápico sejam imprevisíveis. Por 
14 
 
outro lado, estudos tem demonstrado que a absorção da bleomicina aumenta em cerca de 700 
vezes quando associada a ECT levando a apoptose de grande quantidade de células tumorais 
(SPUGININI et al., 2014). O resultado do aumento da absorção local após a aplicação de 
pulsos elétricos foi amplamente observado porém o seu efeito em conter metástases ainda é 
limitado. Por outro lado, a utilização de pulsos elétricos sem a utilização de quimioterápicos 
intralesionais ou sistêmicos não parece ter efeito anti-tumoral (SPUGININI, 2015). 
O intervalo de tempo entre a aplicação dos quimioterápicos e dos pulsos elétricos 
é de grande importância, pois no momento da aplicação dos pulsos elétricos no tumor, uma 
quantidade suficiente de droga deve estar presente no local. Após a administração intravenosa 
da droga em animais pequenos de laboratório (4 mg / kg de cisplatina ou 0,5 mg / kg de 
bleomicina), um intervalo de apenas alguns minutos é necessário para atingir a concentração 
máxima de droga nos tumores. Nos casos em que a administração é intratumoral tanto de 
cisplatina (2 mg/cm
3
) como de bleomicina (3 mg/cm
3
), este intervalo é ainda mais curto e a 
aplicação de pulsos elétricos devem seguir a administração da droga dentro de um minuto 
(SERSA, et al., 2000). 
Os protocolos variam principalmente na escolha dos eletrodos. Placas e eletrodos 
de agulhas foram usados para eletroquimioterapia de cães e gatos, enquanto que os eletrodos 
de contato de arame foram usados no tratamento de cavalos (Tamzali et al., 2001). Eletrodos 
de agulha produzem maior profundidade de campo no tecido, porém com uma distribuição 
heterogênea. Sua utilização é mais invasiva e dificultada quando a pele é mais espessa (por 
exemplo, como no caso de cavalos). Eletrodos de placa são adequados para tumores 
superficiais de diferentes tamanhos porque os eletrodos podem ser movidos ao redor do tumor 
para cobrir a área inteira. A distribuição do campo elétrico é mais uniforme quando 
comparada ao eletrodos de agulha (MIKLAVIC, et al., 1998) 
Ainda são necessários estudos para desenvolver um projeto adequado dos 
eletrodos e uma avaliação exata da distribuição de campo no tecido. A configuração dos 
eletrodos afeta a distribuição do campo elétrico no tecido. Devido à sua anatomia e 
propriedades elétricas, o tecido reage ao campo elétrico externo aplicado, o que torna difícil 
escolher os parâmetros de configuração do eletrodo de pulso adequada para cada tecido alvo 
particular (CEZAMAR, et al., 2008). 
 
15 
 
3. RELATO DE CASO 
 
Foi atendido no Hospital Veterinário Animaniac’s um felino, SRD, macho, 
castrado, 10 anos de idade, com histórico de ferida em canto medial de olho esquerdo com 
evolução aproximada de três meses. Durante a consulta, a tutora relatou que a ferida 
apresentava sangramento e em alguns momentos cicatrização parcial. O paciente tinha acesso 
irrestrito a rua e exposição ao sol principalmente no telhado da casa. Ao exame físico o 
paciente apresentava estado mental sem alterações, mucosas normocoradas, hidratação 
adequada, aumento do linfonodo submandibular esquerdo com consistência discretamente 
mais firme, não aderido e tamanho aproximado de 2 cm, ausculta e palpação abdominal sem 
alterações dignas de nota, lesão ulcerada em canto nasal de olho esquerdo, presença de 
hiperemia e descamação em dobras de orelhas. 
Como diagnósticos diferencias estavam dermatite actínica, criptococose, 
esporotricose e carcinoma de células escamosas. Foi realizado citologia das lesões e o 
resultado foi compatível com processo inflamatório piogranulomatoso séptico. Optou-se pela 
realização de biópsia incisional e exame histopatológico, dessa forma tendo como resultado 
carcinoma de células escamosas bem diferenciado. Os exames pré-operatórios (hemograma, 
função renal, função hepática e eletrocardiograma) estavam dentro da normalidade, da mesma 
forma que a radiografia de tórax e ultrassonografia abdominal para descartar possíveis 
metástases. 
 
 
 
 
 
 
 
 Figura 2. Lesão ulcerada em canto nasal do olho 
esquerdo referida pelo responsável na primeira consulta 
(COCHI, 2015. Arquivo Pessoal). 
 
16 
 
 
Devido ao resultado do histopatológico e a grande extensão das lesões, optou-se 
pela realização associada da eletroquimioterapia com quimioterapia intravenosa (IV) com 
doxorrubicina e bleomicina. Foi instituído o tratamento com prednisolona 1 mg/kg em dias 
alternados até a realização da ECT. 
 
 
 
 
 
 
 
O paciente foi encaminhado para a ECT e a técnica foi realizada com o 
eletroporador LC, modelo BK100. Utilizou-se série de 8 pulsos, em onda quadrada 
monopolar, de amplitude 1000 V/cm, por 100 µs cada, em frequência de 1Hz. O 
quimioterápico empregado foi a bleomicina, por via intravenosa na dose de 15U/m
2 
associada 
à doxorrubicina por via intravenosa. na dose de 1mg/kg. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3. Evolução da lesão com 25 dias, 31 dias e 47 dias após a primeira consulta 
(COCHI, 2015. Arquivo Pessoal). 
 
Figura 4. Paciente anestesiado antes da eletroquimioterapia (COCHI,2015. Arquivo 
Pessoal). 
 
17 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Após o procedimento, foi prescrito amoxicilina com clavulanato de potássio na 
dose de 12,5 mg/kg a cada 12 horas durante 7 dias devido a possibilidade de infecção 
bacteriana secundária e cloridrato de tramadol 2 mg/kg a cada 12 horas durante 3 dias para 
analgesia. 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 6. Evolução 5 dias após a ECT (COCHI, 2015. Arquivo Pessoal). 
 
Figura 5. Paciente imediatamente após a realização da 
eletroquimioterapia (COCHI, 2015. Arquivo Pessoal). 
 
18 
 
O paciente retornou ao hospital veterinário para realização de quimioterapia com 
doxorrubicina e bleomicina após 21 dias da realização da ECT. Os efeitos colaterais relatados 
pelo tutor foram anorexia, náusea e êmese após as sessões de quimioterapia e foram tratados 
com ondasetrona 0,5 mg/kg a cada 12 horas e fluidoterapia subcutânea. 
Na tentativa de minimizar os efeitos colaterais, optou-se pela realização de 
quimioterapia semanal apenas com bleomicina, até o presente momento, foram realizadas três 
sessões de quimioterapia. 
O paciente apresenta bom controle local do CCE, porém ainda serão necessárias 
novas sessões de quimioterapia para tentativa de remissão total do tumor, não descartando a 
possibilidade de nova aplicação de eletroquimioterapia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 7 Paciente após 38 dias da eletroquimioterapia. Nota-se importante melhora 
porém ainda com lesão ulcerada em canto nasal de olho esquerdo (COCHI, 2015. 
Arquivo Pessoal). 
 
Figura 8. Evolução da lesão após 60 dias da ECT 
(COCHI, 2015.Arquivo Pessoal). 
 
 
 
 
19 
 
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
 
O caso relatado no presente estudo foi de um felino, de pelagem branca e 10 anos 
de idade. A idade e a coloração da pelagem corroboram com VAIL e WITHROW (1998) & 
TEIFKE e LOHR (1996) onde a maior incidência do CCE ocorre em felinos entre 10 a 12 
anos de idade e com pelagem branca. O paciente não apresentava metástase, reforçando a sua 
baixa ocorrência segundo Thompson (2006). 
A tentativa de diagnóstico através da citologia aspirativa, por ser um meio menos 
invasivo, não teve sucesso devido à contaminação bacteriana. De acordo com o que foi 
descrito anteriormente por OWEN (1980), somente após o histopatológico pode-se confirmar 
a suspeita diagnóstica. 
O tratamento do carcinoma de células escamosas com eletroquimioterapia 
combina a entrega sistêmica ou local de fármacos anti tumorais com a aplicação de pulsos 
elétricos permeabilizantes (SPUGININI, 2011). Utilizamos para o tratamento do CCE a 
associação da ECT com bleomicina e doxorrubicina intravenosa, visando maior absorção e 
consequente eficácia dos quimioterápicos. 
A retenção de uma droga seletiva em locais-alvo, com consequente diminuição da 
exposição à droga sistêmica, visa diminuir a toxicidade e maximizar sua a eficácia. Essa 
seletividade pode ser obtida através da ECT (SPUGININI, 2008). Segundo, Spuginini, 2015, 
a ECT mostrou eficácia em 89% dos gatos, levando a um aumento da eficácia da bleomicina 
no tratamento de CCE avançado. No presente trabalho, observamos evolução favorável no 
tratamento de CCE com eletroquimioterapia com melhora importante das lesões em menos de 
60 dias. 
Os efeitos colaterais foram leves e transitórios, corroborando com Spuginini, 
(2015), não foram observados efeitos colaterais em úvea, retina e córnea. 
Segundo Lucas e Larsson (2006), 26% dos pacientes submetidos a realização de 
crioterapia no tratamento do carcinoma de células escamosas em locais que suturas são 
contra-indicadas ou em áreas inacessíveis através de cirurgia, como face, narina e pálpebras, 
tiveram sequelas como perda tecidual, esternutação e ceratoconjuntivite seca. A partir do 
presente trabalho notamos superioridade na utilização da eletroquimioterapia em relação a 
crioterapia. 
20 
 
5. CONCLUSÃO 
 
O crescimento do número de felinos adquiridos como animais de companhia vem 
crescendo a cada ano. O número cada vez maior desses pacientes associado a maior 
valorização pelos tutores, tem aumentado significativamente a expectativa de vida e por 
consequência o número de patologias decorrentes da idade. O carcinoma de células escamosas 
está entre os tumores de maior incidência nessa espécie, principalmente nos pacientes com a 
pele e pelagem claras. O diagnóstico é feito por meio da biópsia incisional ou excisional. 
Diversos tratamentos são propostos, porém a eletroquimioterapia associada a bleomicina se 
mostrou eficaz no tratamento do CCE em um felino com extenso comprometimento facial, 
dando melhor qualidade de vida e remissão das células tumorais, mostrando-se um tratamento 
eficaz na tentativa de controle do CCE. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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