Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
0 Isis Cristina Riboli Cochi Relato de Caso: Utilização da eletroquimioterapia como tratamento do carcinoma de células escamosas em felinos São Paulo/SP 2016 Isis Cristina Riboli Cochi 1 Isis Cristina Riboli Cochi Relato de Caso: Utilização da eletroquimioterapia como tratamento do carcinoma de células escamosas em felinos São Paulo/SP 2016 Isis Cristina Riboli Cochi Monografia apresentada como requisito final à obtenção de Título de Especialização no Curso de Pós-Graduação em Clínica Médica de Felinos, do Centro de Estudos Superiores de Maceió, da Fundação Educacional Jayme de Altavila, orientada pelo Prof. MSc. Jonathan Ferreira e co-orientada pela Prof. MSc. Juliana Vieira Cirillo 2 “Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível.” Charles Chaplin 3 Resumo O carcinoma de células escamosas (CCE) é um tumor de origem epitelial que acomete animais principalmente de pele e pelos claros devido à exposição aos raios ultravioletas. Geralmente apresentam evolução lenta e baixo caráter metastático, entretanto em muitos casos os pacientes chegam ao atendimento veterinário quando as lesões já estão extensas, tornando o seu tratamento desafiador. Muitos tratamentos são descritos na literatura entre eles cirurgia, radioterapia, quimioterapia, crioterapia e mais recentemente, eletroquimioterapia (ECT). A eletroquimioterapia vem ganhando destaque no tratamento desses tumores devido a sua alta eficácia e poucos efeitos colaterais. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a eficácia do tratamento com eletroquimioterapia em um felino com carcinoma de células escamosas. Palavras-chave: felino, carcinoma, pele, eletroquimioterapia, bleomicina 4 Abstract The squamous cell carcinoma (SCC) is a tumor of epithelial origin which mainly affects animals skin and hair clear due to exposure to ultraviolet rays. Usually have slow evolution and low metastatic character, though in many cases the patients come to veterinary care when the lesions are already extensive, making their challenging treatment. Many treatments are described in the literature including surgery, chemotherapy, radiotherapy, cryotherapy and, most recently, electrochemotherapy (ECT). The electrochemotherapy is gaining prominence in treating these tumors due to its high efficacy and few side effects. The objective of this study was to evaluate the efficacy of electrochemotherapy in a feline with squamous cell carcinoma. Keywords: feline, carcinoma, skin, electrochemotherapy, bleomycin 5 SUMÁRIO 1. Introdução ....................................................................................................................... 8 2. Revisão Bibliográfica ...................................................................................................... 8 2.1 Etiopatogenia................................................................................................................. 8 2.2 Sinais Clínicos ............................................................................................................... 9 2.3 Diagnóstico ................................................................................................................. 10 2.4 Tratamento .................................................................................................................. 11 2.5 A utilização da eletroquimioterapia no tratamento do CCE ....................................... 12 3. Relato de Caso............................................................................................................... 15 4. Resultados e Discussão ................................................................................................. 19 5. Conclusão ...................................................................................................................... 20 6. Referências Bibliográficas ............................................................................................ 21 6 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Felino com áreas de dermatite actínica e CCE caracterizadas no exame histopatológico (MURPHY, 2013) ........................................................................................... 10 Figura 2. Lesão ulcerada em canto nasal do olho esquerdo referida pelo responsável na primeira consulta (Arquivo Pessoal). ....................................................................................... 15 Figura 3. Evolução da lesão com 25 dias, 31 dias e 47 dias após a primeira consulta (Arquivo Pessoal). .................................................................................................................................... 16 Figura 4. Paciente anestesiado antes da eletroquimioterapia (Arquivo Pessoal). .................... 16 Figura 5. Paciente após a realização da eletroquimioterapia (Arquivo Pessoal). ..................... 17 Figura 6. Evolução 5 dias após a ECT (Arquivo Pessoal). ...................................................... 17 Figura 7 Paciente após 38 dias da eletroquimioterapia. (Arquivo Pessoal). ............................ 18 Figura 8. Evolução da lesão após 60 dias da eletroquimioterapia (Arquivo Pessoal). ............. 18 7 LISTA DE ABREVIAÇÕES CCE Carcinoma de Células Escamosas ECT Eletroquimioterapia IV Intravenosa Hz Hertz kg Kilograma m 2 Metros Quadrados mg Miligrama µs Microssegundos SRD Sem Raça Definida UV Ultravioleta 8 1. INTRODUÇÃO O carcinoma de células escamosas (CCE) juntamente com os hemagiossarcomas cutâneos são os tumores de pele induzidos pela irradiação ultravioleta mais prevalentes nos cães e gatos. Animais com pele e pelos claros apresentam um risco maior das lesões causadas por esses raios. (VILAR-SAAVEDRA & KITCHELL, 2014; SABATINI, et al., 2010). É um tumor maligno que se origina a partir de células tronco epidérmicas que tem a capacidade de autorrenovação ou diferenciação em múltiplas linhagens. Formas do epitélio escamoso revestem a maioria da pele, cavidade oral, esôfago, unhas e coxins e estão localizadas na base do folículo piloso e membrana basal da epiderme. Aproximadamente 15% dos tumores de pele de felinos correspondem ao CCE além de ser a grande maioria dos tumores malignos orais nessa espécie (MURPHY, 2013; RATUSHNY, et al., 2012). A eletroquimioterapia é uma das modalidades terapêuticas utilizada para o tratamento do carcinoma de células escamosas e vem ganhando popularidade entre os veterinários oncologistas com o passar dos anos assim como na medicina. Sua utilização visa aumentar a eficácia de quimioterápicos como a bleomicina e a cisplatina aumentando sua absorção dentro das células tumorais através da administração de pulsos elétricos permeabilizantes (SPUGININI e BALDI, 2014). 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1Etiopatogenia A exposição solar crônica resulta na progressão de alterações actínicas para o carcinoma in situ que não ultrapassou a membrana basal) e posteriormente para carcinoma invasivo (THOMSON, 2007). A idade média dos felinos afetados está entre 10 a 12 anos (VAIL e WITHROW, 1998). Os gatos de pelagem branca tem 13,4 vezes maior risco de desenvolver CCE em comparação aos demais gatos coloridos. Mutações do gene supressor tumoral P53 foram 9 encontradas em mais de 50% dos felinos com carcinoma de céulas escamosas em plano nasal (TEIFKE e LOHR, 1996). A ocorrência do CCE não tem predisposição racial e sexual, porém raças de pelagem longas são mais protegidas devido a melhor cobertura pilosa. Raças como os siameses são naturalmente protegidos pela distribuição de suas marcas (PLASMEIJER et al.,2009). Segundo Hunt, 2006, gatos com lesões em orelha tiveram maior sobrevida (799 dias) quando comparados aos gatos com lesões em plano nasal isoladamente (675 dias). Os gatos com lesões em plano nasal e pinas simultaneamente, tiveram o tempo de sobrevivência mais curto (530 dias). Acredita-se que etiologia do CCE seja decorrente da exposição crônica à radiação ultravioleta (UV) especificamente relacionada com a exposição à radiação UVB e surgem em locais com pouca pelagem e não pigmentados como orelhas, pálpebras e plano nasal (MURPHY, 2013). 2.2 Sinais Clínicos O CCE pode aparecer de forma proliferativa ou lesão erosiva. Os tumores em plano nasal são em geral localmente invasivos e se desenvolvem por um longo período de tempo, geralmente meses a anos. Lesões de caráter mais agressivo que crescem rapidamente estão associadas a um subtipo histológico mais severo com potencial de invasão linfática estromal. Metástases não são frequentes, porém linfonodos regionais e pulmões podem ser acometidos (THOMSON, 2007). A progressão do carcinoma de células escamosas, frequentemente é lenta e se caracteriza por lesões que não cicatrizam e tendem a evoluir para úlceras em pálpebras, plano nasal e orelhas de felinos de cores claras. Não é incomum a ocorrência simultânea de lesões pré-cancerosas (actínicas) e tumorais na mesma área da pele podendo ocorrer nas pinas, plano nasal e pálpebras (MURPHY, 2013). 10 2.3 Diagnóstico Entre os diagnósticos diferenciais do CCE estão as neoplasias (melanoma, mastocitoma, hemangioma, hemangiossarcoma), distúrbios granulomatosos, complexo granuloma eosinofílico, paniculite e paroníquia. Lesões nodulares e/ou ulcerativas podem ser observadas em casos de esporotricose, criptococose, hipersensibilidade alimentar, atopia e complexo pênfigo (SANTIM et al., 2005; SCOTT e MILLER, 2001). Em casos de carcinoma de células escamosas presente em plano nasal, devem ser considerados diagnósticos diferenciais como rinite crônica, doenças virais como a imunodeficiência felina, infecções fúngicas ou bacterianas do plano nasal, pólipos nasofaríngeos, afecções da cavidade oral e lesões traumáticas (FOSSUM, 1997). O diagnóstico definitivo é obtido através da realização de biópsia excisional ou incisional. A maioria das lesões é superficial e apresenta processo inflamatório, o que dificulta o diagnóstico por meio de aspiração com agulha fina. De acordo com o sistema de estadiamento da organização mundial da saúde (Tabela 1) o CCE pode ser divido em 5 estágios (OWEN, 1980). Figura 1. Felino com áreas de dermatite actínica e CCE caracterizadas no exame histopatológico (MURPHY, 2013) 11 Tabela 1. Estadiamento do CCE (Owen, 1998). 2.4 Tratamento O tratamento geralmente se torna desafiador devido à extensão das lesões quando se faz o diagnóstico. Apesar da desfiguração resultante do tumor, gatos com CCE avançado podem viver por longos períodos. Tratamentos antitumorais devem visar o alívio dos sintomas e controle do tumor com resultados cosméticos razoáveis. Inúmeras abordagens terapêuticas têm sido relatadas na literatura, incluindo cirurgia, crioterapia, radiação, terapia fotodinâmica e quimioterapia intralesional (SPUGNINI et al., 2009). Diversos protocolos quimioterápicos podem ser utilizados como adjuvantes na terapia dos CCE, dentre as drogas utilizadas estão a doxorrubicina, actinomicina-D, bleomicina, carboplatina e os anti- inflamatórios inibidores seletivos de COX -2 (RODASKI e WERNER,2009). Nos estágios iniciais, cirurgia, crioterapia, radioterapia ou cirurgia associada à radioterapia são opções de tratamento. Em estágios mais avançados, a cirurgia pode afetar a estética desses animais, por outro lado a radioterapia quando realizada em áreas periorbitais, cavidade oral ou plano nasal pode levar a efeitos colaterais como conjutivite, ceratite ulcerativa, e ceratoconjuntivite seca. (PINARD, C.L.et al., 2012). Tis carcinoma pré-invasivo (carcinoma in situ) não rompe a membrana basal T1 tumor maior que 2 cm de diâmetro, superficial T2 tumor com mais de 2-5 cm de diâmetro, ou com invasão mínima, independentemente do tamanho T3 tumor maior que 5 cm de diâmetro, ou com invasão do tecido subcutâneo independentemente da sua dimensão T4 tumor invadindo outras estruturas como fáscia, músculo, osso ou cartilagem 12 2.5 A utilização da eletroquimioterapia no tratamento do CCE Eletroquimioterapia (ECT) envolve a administração de um agente quimioterápico concomitante a formas de ondas adequadas que induzem aumento da captação da droga por células tumorais (SPUGNINI e PORRELLO, 2003). Sua utilização visa aumentar a eficácia de quimioterápicos como a bleomicina e cisplatina aumentando sua absorção dentro das células tumorais através da administração de pulsos elétricos permeabilizantes (SPUGININI e BALDI, 2014). Após relatos na medicina, vários estudos têm sido desenvolvidos em animais domésticos utilizando eletropermeabilização de pulsos bifásicos (DASKALOV et al., 1999). Estudos preliminares visam identificar as neoplasias que respondem a esse tratamento (SPUGNINI e PORRELLO, 2003) e o desenvolvimento de eletrodos apropriados (SPUGNINI et al.,2005; SPUGNINI, 2009). Essa técnica vem se mostrando eficaz no tratamento do carcinoma de plano nasal em gatos porém sua utilização em tumores na região da cabeça ainda é limitada devido a possíveis efeitos colaterais para os olhos e a possibilidade da ocorrência de extensa lise tumoral. A produção de lágrima pode agir como facilitador para a distribuição dos pulsos elétricos e em alguns casos danificar a lente e a retina (SALWA, et al.,2014). De acordo com Spugnini, 2009, a ECT foi capaz de alcançar o controle local completo em aproximadamente 77% dos pacientes com efeitos colaterais leves e de curta duração. De acordo com a literatura, a ampla excisão cirúrgica ou radioterapia hiperfracionada são as modalidades que oferecem as maiores chances de conseguir o controle local, porém o controle de tumores e a sobrevivência dos animais é altamente dependente de margens cirúrgicas (LANAI, et al.,1997) ou o grau de resposta a radioterapia. A cirurgia é muitas vezes limitada dependendo do local de ocorrência do tumor como, por exemplo, plano nasal e pálpebra. Sobreviventes de tratamento cirúrgico e radioterapia podem sofrer de seqüelas que vão desde dor e infecção a desfiguração total ou parcial (MELZER et al., 2006). É possível adotar um protocolo de pré tratamento com hialuronidase para degradação do tecido conjuntivo e dessa forma, distribuição mais uniforme da quimioterapia. Os efeitos colaterais leves e a preservação da arquitetura facial normal fazem da ECT uma abordagem potencialmente interessante. O uso de eletrodos modificadospermite a realização da eletroquimioterapia em áreas sensíveis, como a do canto do olho sem induzir hemorragias ou 13 perda de arquitetura. Segundo Spuginini et al.(2015) 47 gatos com CCE em região periocular foram submetidos a ECT e não foi evidenciado nenhum dano em córnea, úvea ou retina, porém em 3 animais foi observado epífora, provavelmente consequente a esclerose do ducto lacrimal. Entre outros efeitos colaterais da eletroquimioterapia estão o risco de lise tumoral podendo levar a complicações fatais após o tratamento e a dificuldade na propagação dos pulsos elétricos em tumores extensos devido a áreas de necrose ou extensa fibrose (SPUGININI, E.P e PORRELLO, A., 2003). Eletropermeabilização é um método que utiliza impulsos de campos elétricos para induzir uma reorganização eletricamente mediada da membrana plasmática das células (CEZAMAR,et al., 2008). Eletroquimioterapia combina administração local e/ou sistêmica de medicamentos quimioterápicos, que sozinhos tem pouca permeabilidade na membrana, como bleomicina e cisplatina, com eletropermeabilização por aplicação direta de pulsos elétricos em tumores (CEZAMAR,et al., 2008). A aplicação de pulsos elétricos nos tecidos induz uma redução transitória e reversível do fluxo de sangue, o qual induz o aprisionamento do quimioterápico no tecido por várias horas, proporcionando mais tempo para a droga para agir. Este fenômeno também impediu sangramento a partir do tecido, que foi importante no caso de hemorragias decorrentes dos tumores (SERZA, et al., 2002). Estudos demonstraram que doses de quimioterápicos com eficácia antitumoral mínima ou nenhuma se mostraram efetivos em cerca de 80% dos casos quando usados com a eletroquimioterapia. As doses dessas medicações utilizadas foram tão baixas que não foi observada nenhuma toxicidade sistêmica. A via de administração intravenosa foi utilizada no tratamento com bleomicina ou intratumoral com bleomicina e cisplatina. Embora nenhum dos estudos compararam as diferentes vias de administração, o uso da cisplatina parece ser menos eficaz (SERSA, et al., 2000). Quando utilizada apenas no tratamento quimioterápico, a bleomicina não é eficaz, seu mecanismo de ação é através da alteração da clivagem no DNA das células, a entrada nas células ocorre por meio das proteínas carreadoras presentes na bicamada lipídica. A falta da expressão dessas proteínas carreadoras é um dos primeiros mecanismos de escape das células tumorais, fazendo com que a eficácia e duração do quimioterápico sejam imprevisíveis. Por 14 outro lado, estudos tem demonstrado que a absorção da bleomicina aumenta em cerca de 700 vezes quando associada a ECT levando a apoptose de grande quantidade de células tumorais (SPUGININI et al., 2014). O resultado do aumento da absorção local após a aplicação de pulsos elétricos foi amplamente observado porém o seu efeito em conter metástases ainda é limitado. Por outro lado, a utilização de pulsos elétricos sem a utilização de quimioterápicos intralesionais ou sistêmicos não parece ter efeito anti-tumoral (SPUGININI, 2015). O intervalo de tempo entre a aplicação dos quimioterápicos e dos pulsos elétricos é de grande importância, pois no momento da aplicação dos pulsos elétricos no tumor, uma quantidade suficiente de droga deve estar presente no local. Após a administração intravenosa da droga em animais pequenos de laboratório (4 mg / kg de cisplatina ou 0,5 mg / kg de bleomicina), um intervalo de apenas alguns minutos é necessário para atingir a concentração máxima de droga nos tumores. Nos casos em que a administração é intratumoral tanto de cisplatina (2 mg/cm 3 ) como de bleomicina (3 mg/cm 3 ), este intervalo é ainda mais curto e a aplicação de pulsos elétricos devem seguir a administração da droga dentro de um minuto (SERSA, et al., 2000). Os protocolos variam principalmente na escolha dos eletrodos. Placas e eletrodos de agulhas foram usados para eletroquimioterapia de cães e gatos, enquanto que os eletrodos de contato de arame foram usados no tratamento de cavalos (Tamzali et al., 2001). Eletrodos de agulha produzem maior profundidade de campo no tecido, porém com uma distribuição heterogênea. Sua utilização é mais invasiva e dificultada quando a pele é mais espessa (por exemplo, como no caso de cavalos). Eletrodos de placa são adequados para tumores superficiais de diferentes tamanhos porque os eletrodos podem ser movidos ao redor do tumor para cobrir a área inteira. A distribuição do campo elétrico é mais uniforme quando comparada ao eletrodos de agulha (MIKLAVIC, et al., 1998) Ainda são necessários estudos para desenvolver um projeto adequado dos eletrodos e uma avaliação exata da distribuição de campo no tecido. A configuração dos eletrodos afeta a distribuição do campo elétrico no tecido. Devido à sua anatomia e propriedades elétricas, o tecido reage ao campo elétrico externo aplicado, o que torna difícil escolher os parâmetros de configuração do eletrodo de pulso adequada para cada tecido alvo particular (CEZAMAR, et al., 2008). 15 3. RELATO DE CASO Foi atendido no Hospital Veterinário Animaniac’s um felino, SRD, macho, castrado, 10 anos de idade, com histórico de ferida em canto medial de olho esquerdo com evolução aproximada de três meses. Durante a consulta, a tutora relatou que a ferida apresentava sangramento e em alguns momentos cicatrização parcial. O paciente tinha acesso irrestrito a rua e exposição ao sol principalmente no telhado da casa. Ao exame físico o paciente apresentava estado mental sem alterações, mucosas normocoradas, hidratação adequada, aumento do linfonodo submandibular esquerdo com consistência discretamente mais firme, não aderido e tamanho aproximado de 2 cm, ausculta e palpação abdominal sem alterações dignas de nota, lesão ulcerada em canto nasal de olho esquerdo, presença de hiperemia e descamação em dobras de orelhas. Como diagnósticos diferencias estavam dermatite actínica, criptococose, esporotricose e carcinoma de células escamosas. Foi realizado citologia das lesões e o resultado foi compatível com processo inflamatório piogranulomatoso séptico. Optou-se pela realização de biópsia incisional e exame histopatológico, dessa forma tendo como resultado carcinoma de células escamosas bem diferenciado. Os exames pré-operatórios (hemograma, função renal, função hepática e eletrocardiograma) estavam dentro da normalidade, da mesma forma que a radiografia de tórax e ultrassonografia abdominal para descartar possíveis metástases. Figura 2. Lesão ulcerada em canto nasal do olho esquerdo referida pelo responsável na primeira consulta (COCHI, 2015. Arquivo Pessoal). 16 Devido ao resultado do histopatológico e a grande extensão das lesões, optou-se pela realização associada da eletroquimioterapia com quimioterapia intravenosa (IV) com doxorrubicina e bleomicina. Foi instituído o tratamento com prednisolona 1 mg/kg em dias alternados até a realização da ECT. O paciente foi encaminhado para a ECT e a técnica foi realizada com o eletroporador LC, modelo BK100. Utilizou-se série de 8 pulsos, em onda quadrada monopolar, de amplitude 1000 V/cm, por 100 µs cada, em frequência de 1Hz. O quimioterápico empregado foi a bleomicina, por via intravenosa na dose de 15U/m 2 associada à doxorrubicina por via intravenosa. na dose de 1mg/kg. Figura 3. Evolução da lesão com 25 dias, 31 dias e 47 dias após a primeira consulta (COCHI, 2015. Arquivo Pessoal). Figura 4. Paciente anestesiado antes da eletroquimioterapia (COCHI,2015. Arquivo Pessoal). 17 Após o procedimento, foi prescrito amoxicilina com clavulanato de potássio na dose de 12,5 mg/kg a cada 12 horas durante 7 dias devido a possibilidade de infecção bacteriana secundária e cloridrato de tramadol 2 mg/kg a cada 12 horas durante 3 dias para analgesia. Figura 6. Evolução 5 dias após a ECT (COCHI, 2015. Arquivo Pessoal). Figura 5. Paciente imediatamente após a realização da eletroquimioterapia (COCHI, 2015. Arquivo Pessoal). 18 O paciente retornou ao hospital veterinário para realização de quimioterapia com doxorrubicina e bleomicina após 21 dias da realização da ECT. Os efeitos colaterais relatados pelo tutor foram anorexia, náusea e êmese após as sessões de quimioterapia e foram tratados com ondasetrona 0,5 mg/kg a cada 12 horas e fluidoterapia subcutânea. Na tentativa de minimizar os efeitos colaterais, optou-se pela realização de quimioterapia semanal apenas com bleomicina, até o presente momento, foram realizadas três sessões de quimioterapia. O paciente apresenta bom controle local do CCE, porém ainda serão necessárias novas sessões de quimioterapia para tentativa de remissão total do tumor, não descartando a possibilidade de nova aplicação de eletroquimioterapia. Figura 7 Paciente após 38 dias da eletroquimioterapia. Nota-se importante melhora porém ainda com lesão ulcerada em canto nasal de olho esquerdo (COCHI, 2015. Arquivo Pessoal). Figura 8. Evolução da lesão após 60 dias da ECT (COCHI, 2015.Arquivo Pessoal). 19 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO O caso relatado no presente estudo foi de um felino, de pelagem branca e 10 anos de idade. A idade e a coloração da pelagem corroboram com VAIL e WITHROW (1998) & TEIFKE e LOHR (1996) onde a maior incidência do CCE ocorre em felinos entre 10 a 12 anos de idade e com pelagem branca. O paciente não apresentava metástase, reforçando a sua baixa ocorrência segundo Thompson (2006). A tentativa de diagnóstico através da citologia aspirativa, por ser um meio menos invasivo, não teve sucesso devido à contaminação bacteriana. De acordo com o que foi descrito anteriormente por OWEN (1980), somente após o histopatológico pode-se confirmar a suspeita diagnóstica. O tratamento do carcinoma de células escamosas com eletroquimioterapia combina a entrega sistêmica ou local de fármacos anti tumorais com a aplicação de pulsos elétricos permeabilizantes (SPUGININI, 2011). Utilizamos para o tratamento do CCE a associação da ECT com bleomicina e doxorrubicina intravenosa, visando maior absorção e consequente eficácia dos quimioterápicos. A retenção de uma droga seletiva em locais-alvo, com consequente diminuição da exposição à droga sistêmica, visa diminuir a toxicidade e maximizar sua a eficácia. Essa seletividade pode ser obtida através da ECT (SPUGININI, 2008). Segundo, Spuginini, 2015, a ECT mostrou eficácia em 89% dos gatos, levando a um aumento da eficácia da bleomicina no tratamento de CCE avançado. No presente trabalho, observamos evolução favorável no tratamento de CCE com eletroquimioterapia com melhora importante das lesões em menos de 60 dias. Os efeitos colaterais foram leves e transitórios, corroborando com Spuginini, (2015), não foram observados efeitos colaterais em úvea, retina e córnea. Segundo Lucas e Larsson (2006), 26% dos pacientes submetidos a realização de crioterapia no tratamento do carcinoma de células escamosas em locais que suturas são contra-indicadas ou em áreas inacessíveis através de cirurgia, como face, narina e pálpebras, tiveram sequelas como perda tecidual, esternutação e ceratoconjuntivite seca. A partir do presente trabalho notamos superioridade na utilização da eletroquimioterapia em relação a crioterapia. 20 5. CONCLUSÃO O crescimento do número de felinos adquiridos como animais de companhia vem crescendo a cada ano. O número cada vez maior desses pacientes associado a maior valorização pelos tutores, tem aumentado significativamente a expectativa de vida e por consequência o número de patologias decorrentes da idade. O carcinoma de células escamosas está entre os tumores de maior incidência nessa espécie, principalmente nos pacientes com a pele e pelagem claras. O diagnóstico é feito por meio da biópsia incisional ou excisional. Diversos tratamentos são propostos, porém a eletroquimioterapia associada a bleomicina se mostrou eficaz no tratamento do CCE em um felino com extenso comprometimento facial, dando melhor qualidade de vida e remissão das células tumorais, mostrando-se um tratamento eficaz na tentativa de controle do CCE. 21 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CEZAMAR, M.; TAMZALI Y., SERSA, G., TOZON, N., MIR, M., L., MIKLAVIC, D., LOWE, R., TEISSIE, J. Electrochemotherapy in Veterinary Oncology. J Vet Intern Med 2008;22:826–831. FOSSUM, T.W. Surgery of the upper respiratory system. In: FOSSUM, T.W. Small animal surgery. 1.ed. St. Louis: Mosby, 1997, p.637-644. HUNT GB. Use of the lip-to-lid flap for replacement of the lower eyelid in five cats. Vet Surg.2006; 35: 284–286. LUCAS, R. LARSSON, C.E. Crioterapia na clínica veterinária: avaliação da praticabilidade, e efetividade em carcinoma espinocelular em felinos. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci. São Paulo. v.43, suplemento, p.33-42, 2006. MIKLAVCIC D, BERAVS K, SEMROV D, ET AL. The importance of electric field distribution for effective in vivo electroporation of tissues. Biophys J 1998;74:2152–2158. MURPHY, S. Cutaneous squamous cell carcinoma in the cat: Current understanding and treatment approaches. Journal of Feline Medicine and Surgery (2013) 15, 401–407 OWEN LN. TMN classification of tumors in domestic animals. Geneva: World HealthOrganization, 1980, pp 46–47. PINARD, C.L. MUTSAERS, A.J., MAYER, M.N., WOODS, J.P. Restrospective study and review of ocular radiation side effects following external-beam Cobalt-60 radiation therapy in 37 dogs and 12 cats. Can Vet 2012; 53: 1301-1307. PLASMEIJER EI, NEALE RE, DE KONING MN, QUINT WG, MCBRIDE P, FELTKAMP MC, et al. Persistence of betapapillomavirus infections as a risk factor for actinic keratoses, precursor to cutaneous squamous Res 2009; 69: 8926–8931. RATUSHNY, V., GOBER, M.D., HICK, R. ET AL. From keratinocyte to cancer: The pathogenesis and modeling of cutaneous squamous cell carcinoma. J Clin Invest 2012; 122:464-472. RODASKI, S.; WERNER, J. Neoplasias de pele. In: DALECK, C. R.; DE NARDI, A. B.; RODASKI, S. Oncologia em cães e gatos. São Paulo: Roca, 2009. p. 254-297. SABATINI, S. MARCONATO, L., ZOFF, A. et al. Epidermal growth factor receptor expression is predictive of poor prognosis in feline cutaneous squamous cell carcinoma. J feline Med Surgery. 2010; 12: 760-768. SALWA, S.P., BOURKE, M.G., FORDE, P.F., ET al Electrochemotherapy for the treatment of ocular basal cell carcinoma; a novel adjunct in the disease management. J Plast Reconstr Aesthet Surg 2014; 67: 403-406. 22 SANTIN, R.; ROSA, C.S.; MUELLER, E.N.; SPADER, M.B.; FERNANDES, C.G.; ANTUNES, T.A.; MEIRELES, MC.A. Lesões nodulares e/ou erodo-ulcerativas cefálicas em felinos - estudo de casos clínicos. In: XIV CIC e VII EnPós, 2005, Pelotas, 2005. SCOTT, D.W.; MILLER, W.H. Small Animal dermatology, 6th edition, WB Saunders Company, Philadelphia, Pennsylvania, p. 1249-1260, 2001. SERSA G, KRZIC M, SENTJURC M, ET AL. Reduced blood flow and oxygenation in SA-1tumours after electrochemotherapy with cisplatin. Br J Cancer 2002;87:1047–1054. SERSA G. Electrochemotherapy: Animal work review. In: Jaroszeski MJ, Heller R, Gilbert R, eds. Electrochemotherapy, Electrogenetherapy, and Transdermal Drug Delivery. Electrically Mediated Delivery of Molecules to Cells. Totowa, NJ: Humana Press; 2000:119– 136. SPUGININI, E.P, PORRELLO, A. Potentiation of chemotherapy in companion animals with spontaneous large neoplasms by application of biphasic eletric pulses. J Exp Clin Cancer Res 2003; 22: 571-580. SPUGNINI EP, CITRO G, D’AVINO A, BALDI A: Potential role of electrochemotherapy for the treatment of soft tissue sarcoma: first insights from preclinical studies in animals. Int J Biochem Cell Biol 2008,40:159-163 SPUGNINI, E.P. A., BRUNO VINCENZI B, IVAN DOTSINSKY C, NIKOLAY MUDROV C, GENNARO CITRO A, ALFONSO BALDI A,D, GIUSEPPE TONINI B. Electrochemotherapy for the treatment of squamous cell carcinomain cats: A preliminary report. The Veterinary Journal 179 (2009) 117–120 SPUGININI, E.P., BALDI, A. Eletrctrochemotherapy in veterinary oncology: From rescue to first line therapy. Methods Mol Biol 2014; 1121:247-256. SPUGNINI E.P., RENAUD, S.M., MURACE, R., CARDELLI, P. BUGLIONI, S., VINCENZI, B., CARCCO, F., BALDI, A., CITRO, G., GRAGONETTI, E. Electrochemotherapy with cisplatin enhances local control after surgical ablation of fibrosarcoma in cats: an approach to improve the therapeutic index of highly toxic chemotherapy drugs.. Journal of Translational Medicine 2011, 9:152 SPUGNINI, E.P., PIZZUTO, M. FILIPPONI, M. ROMANI, L., VINCENZI, F., MENICAGLI, A., LANZA, A. , DE GEROLAMO, R., LOMONACO, R., FANCIULLI, M., SPRIANO, G., BALDI, A. Electroporation Enhances Bleomycin Efficacy in Cats with Periocular Carcinoma and Advanced Squamous Cell Carcinoma of the Head. J Vet Int Med 2015; 29:1368-1375. TAMZALI Y, TEISSIE J, ROLS MP. Cutaneous tumor treatment by electrochemotherapy: Preliminary clinical results in horse sarcoids. Revue Med Vet 2001;152:605–609. 23 TEIFKE JP, LOHR CV: Immunohistochemical detection of p53 overexpression in paraffin wax-embedded squamous cell carcinomas of cattle,horses, cats and dogs. J Comp Pathol 114:205-210, 1996. THOMSON M., BVSc, FACVSc. Squamous Cell Carcinoma of the Nasal Planum in Cats and Dogs. Clin Tech Small Anim Pract Elsevier 2007; 22:42-45. VAIL DM, WITHROW SJ: Tumours of the skin and subcutaneous tissues, in Withrow SJ, MacEwen EG (eds): Small Animal Clinical Oncology (ed 3). Philadelphia, PA, Saunders, 1998, pp 233-260. VILAR-SAAVEDRA, P., KITCHELL, B.E. sunlight-induced skin câncer in companion animals. In: Baldi, A. Pasquali, P., Spugniini E.P.., eds. Skin Cancer, a Pratical Aproach. New York: Springer; 2014: 499-514.
Compartilhar