Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
2 C O O R D E N A DA S C A RT E S I A N A S Geometria Anal´ıtica e´ o estudo das formas geome´tricas usando um sistema de coor- denadas. Atrave´s dele, os entes geome´tricos e suas inter-relac¸o˜es podem ser traduzidos em nu´meros e equac¸o˜es. Estas, por sua vez, podem ser resolvidas por meio de operac¸o˜es alge´bricas ou via algoritmos computacionais. As soluc¸o˜es obtidas podem enta˜o ser in- terpretadas geometricamente, usando o sistema de coordenadas novamente, para fazer a passagem reversa do mundo dos nu´meros para o mundo das formas geome´tricas. Abordaremos neste cap´ıtulo o sistema de coordenadas cartesianas retangulares. 2.1 coordenadas no plano Um sistema de coordenadas cartesianas retangulares no plano ou o plano xy consiste num par de retas perpendiculares, denominadas respectivamente eixo x e eixo y, cada qual graduada em nu´meros reais. O ponto de intersec¸a˜o das retas tem coordenada zero em cada eixo. As retas perpendiculares ao eixo x (retas verticais) formam uma partic¸a˜o do plano, isto e´, por cada ponto P do plano passa exatamente uma reta vertical. Assim, para encontrar a coordenada x do ponto P, basta identificar onde a reta vertical que passa por P intercepta o eixo x (cf. Figura 1.(a)). Um procedimento ana´logo leva a` coordenada y do ponto P (cf. Figura 1.(b)). O par ordenado (x,y) registra as coordenadas do ponto P no plano xy. Neste caso, escrevemos P = (x,y) para indicar que o ponto P tem coordenadas (x,y) (cf. Figura 1.(c)). Note que na˜o ha´ nada de especial com as letras x e y. Em vez delas, poder´ıamos utilizar as letras y e z e enta˜o falar de plano yz. A coordenada x de um ponto P e´ chamada de abcissa e e´ igual a` distaˆncia do ponto P ao eixo y. Analogamente, a coordenada y do ponto P e´ chamada de ordenada e e´ igual a` distaˆncia do ponto P ao eixo x (cf. Figura 2.(a)). A ordem em que as coordenadas sa˜o listadas e´ fundamental, assim P = (1, 2) e Q = (2, 1) sa˜o pontos diferentes porque o primeiro tem abcissa 1 enquanto o segundo tem abcissa 2 (cf. Figura 2.(b)). Pontos do 7 2.1 coordenadas no plano 8 x y 1 2 30 P (a) x y 1 2 3 0 P (b) x y 1 2 P = (1, 2) (c) Figura 1: Encontrando as coordenadas do ponto P plano da forma (x, 0) situam-se sobre o eixo x e pontos do plano da forma (0,y) situam-se sobre o eixo y (cf. Figura 2.(c)). x y 1 2 1 2 P = (1, 2) (a) x y 1 2 1 2 P = (1, 2) Q = (2, 1) (b) x y P = (1, 0) Q = (0, 2) (c) Figura 2: Encontrando as coordenadas dos pontos P e Q O conjunto de todos os pares ordenados (x,y) de nu´meros reais e´ denotado por R2, i.e., R2 = {(x,y) : x ∈ R e y ∈ R} , onde “:” significa “tais que”. Atrave´s dum sistema de coordenadas cartesianas, cada ponto P do plano e´ identificado, de forma u´nica, com um par ordenado (x,y) de nu´meros (coordenadas) reais, tambe´m chamado de ponto do R2. Assim, cada forma geome´trica (subconjunto de pontos do plano xy) corresponde a um objeto alge´brico (subconjunto de pontos do R2). Uma forma sucinta de descrever regio˜es do plano xy sa˜o as equac¸o˜es envolvendo x e y (cf. Tabela 1 e Figura 3). O conjunto universo de uma equac¸a˜o e´ o conjunto onde buscamos as suas soluc¸o˜es. Se a equac¸a˜o descreve um objeto do plano xy, enta˜o o conjunto universo e´ R2. 2.1 coordenadas no plano 9 conjunto universo equac¸a˜o subconjunto R2 x = 2 {(2,y) : y ∈ R} R2 −2 6 x 6 2 {(x,y) : −2 6 x 6 2 e y ∈ R} R2 (x− 2) · (y− 1) = 0 {(2,y) : y ∈ R}∪ {(x, 1) : x ∈ R} Tabela 1: Descrevendo subconjuntos do plano xy atrave´s de equac¸o˜es Outra forma de descrever subconjuntos do plano de forma sucinta sa˜o os produtos cartesianos (cf. Tabela 2 e Figura 4). O produto cartesiano de um conjunto A ⊆ R por um conjunto B ⊆ R e´ o subconjunto do R2 definido por A×B = {(x,y) : x ∈ A e y ∈ B}. Frequentemente, o conjunto A ou o conjunto B e´ um intervalo de nu´meros reais tal como [1, 3] = {t ∈ R : 1 6 t 6 3}, ]1, 3[= {t ∈ R : 1 < t < 3}, [1,∞[= {t ∈ R : t > 1}. . x y 2 x = 2 x y 2−2 −2 6 x 6 2 x y 2 1 (x− 2) · (y− 1) = 0 Figura 3: Descrevendo subconjuntos do plano atrave´s de equac¸o˜es Em particular, R =] −∞,∞[ e R2 = R×R. produto cartesiano subconjunto {2}× [−2, 2[ {(2,y) : −2 6 y < 2} {−2, 2}×R {(−2,y) : y ∈ R}∪ {(2,y) : y ∈ R} [−1, 1[×[−2, 2] {(x,y) : −1 6 x < 1 e − 2 6 y 6 2} Tabela 2: Descrevendo subconjuntos do plano atrave´s de produtos cartesianos 2.2 coordenadas no espac¸o 10 . x y 2 2 −2 {2}× [−2, 2[ x y 2−2 {−2, 2}×R x y 1−1 −2 2 [−1, 1[×[−2, 2] Figura 4: Descrevendo subconjuntos do plano atrave´s de produtos cartesianos 2.2 coordenadas no espac¸o Um sistema de coordenadas cartesianas retangulares no espac¸o ou o espac¸o xyz consiste em treˆs retas mutuamente perpendiculares, denominadas eixo x, eixo y e eixo z, cada qual graduada em nu´meros reais. As treˆs retas se interceptam num u´nico ponto que tem coordenada zero em cada eixo. O plano que e´ perpendicular ao eixo z e passa pela origem e´ chamado de plano xy. De forma ana´loga sa˜o definidos o plano yz e o plano plano xz. Estes treˆs planos sa˜o conhecidos como planos coordenados (cf. Figura 5). x y z plano xy x y z plano yz x y z plano xz Figura 5: Planos coordenados As coordenadas cartesianas de um ponto P do espac¸o sa˜o uma tripla ordenada (x,y, z). Se o ponto P pertence ao plano xy, enta˜o automaticamente a sua coordenada z e´ zero e as outras duas sa˜o encontradas projetando o ponto P nos eixos x e y, seguindo o mesmo procedimento utilizado na Sec¸a˜o 1.1. De forma ana´loga, se encontra as coordenadas de pontos do espac¸o contidos no plano yz ou no plano xz (cf. Figura 6). Se o ponto P na˜o estiver contido em nenhum dos planos coordenados, enta˜o para encon- trar as suas coordenadas (x,y, z) escolhemos um dos planos coordenados e encontramos a projec¸a˜o ortogonal P ′ do ponto P sobre o plano coordenado escolhido. Se o plano coor- denado escolhido for o plano xy, enta˜o as coordenadas x e y de P sa˜o as mesmas de P ′ 2.2 coordenadas no espac¸o 11 . x y z P 2 2 0 P = (2, 2, 0) x y z P 2 1 0 P = (0, 2, 1) x y z 0 P 2 2 0 P = (2, 0, 2) Figura 6: Encontrando as coordenadas cartesianas de um ponto P do espac¸o. enquanto que a coordenada z e´ a distaˆncia de P a P ′. Tudo funciona de modo ana´logo, se em vez do plano xy, escolhermos o plano yz ou o plano xz (cf. Figura 7). . x y z P ′ P 2 2 0 3 P = (2, 2, 3) x y z P ′ P 2 1 2 P = (2, 2, 1) x y z P ′P 2 2 0 1 P = (2,−1, 2) Figura 7: Encontrando as coordenadas cartesianas de um ponto P Segue da ana´lise feita na Figura 7 que planos paralelos aos planos coordenadaos teˆm uma das componentes constante (cf. Figura 8). Em particular, o plano xy tem equac¸a˜o z = 0, o plano yz tem equac¸a˜o x = 0 e o plano xz tem equac¸a˜o y = 0. x y z x = 1 1 x y z y = 1 1 x y z z = 2 0 2 Figura 8: Descrevendo planos paralelos aos planos coordenados Uma mesma equac¸a˜o pode descrever objetos diferentes em conjuntos universos diferen- tes. Por exemplo, a equac¸a˜o x = 1 descreve uma reta no plano xy (conjunto universo igual a R2), enquanto que no espac¸o xyz (conjunto universo igual a R3) a mesma equac¸a˜o descreve um plano (cf. Tabela 3 e Figura 9). 2.3 aplicac¸o˜es 12 conjunto universo equac¸a˜o subconjunto R2 x = 1 {(1,y) : y ∈ R} R3 x = 1 {(1,y, z) : y ∈ R e z ∈ R} R3 x = 1 e z = 0 {(1,y, 0) : y ∈ R} Tabela 3: A importaˆncia do conjunto universo x y 1 x = 1 x y z x = 1 1 x y z x = 1 e z = 0 1 Figura 9: Uma mesma equac¸a˜o pode descrever objetos diferentes Tomandounio˜es de planos paralelos aos eixos coordenados obtemos regio˜es como aque- las descritas na Figura 10. Vale observar que [0, 1]× [1, 2]× [1, 2] = {(x,y, z) : 0 6 x 6 1, 1 6 y 6 2 e 1 6 z 6 2}. x y z 0 6 x 6 1 1 0 x y z 1 6 y 6 2 1 2 x y z 1 6 z 6 2 1 2 x y z [0, 1]× [1, 2]× [1, 2] 1 1 1 2 2 Figura 10: Descrevendo regio˜es do espac¸o 2.3 aplicac¸o˜es Pontos do plano xy ou do espac¸o xyz tambe´m podem ser utilizados para descrever a configurac¸a˜o de um sistema f´ısico, isto e´, a posic¸a˜o simultaˆnea de todas as part´ıculas ou partes do sistema. 2.4 exercı´cios 13 2.3.1 Bilhar unidimensional Um bilhar unidimensional e´ formado por uma mesa retil´ınea sobre a qual duas bolas de sinuca se movem sem atrito (cf. Figura 11.(a)). As bolas esta˜o sujeitas a coliso˜es ela´sticas entre elas ou com as bordas da mesa. Naturalmente, elas na˜o podem mudar de lado, isto e´, na˜o podem alternar posic¸o˜es. x y 1 (a) x y 1 1 (x,y) (b) Figura 11: O bilhar unidimensional e o seu espac¸o de configurac¸o˜es A configurac¸a˜o instantaˆnea do sistema e´ um par ordenado (x,y), sendo x a posic¸a˜o da primeira bola e y a posic¸a˜o da segunda bola. O espac¸o de configurac¸o˜es (i.e. o conjunto de todos os pares de posic¸o˜es do sistema) e´ o conjunto S = {(x,y) : 0 < x < y < 1}, esboc¸ado na Figura 11.(b). O conjunto S na˜o e´ um produto cartesiano. 2.3.2 O peˆndulo duplo O peˆndulo duplo e´ um peˆndulo com duas articulac¸o˜es popularmente conhecido por seu comportamento cao´tico, conforme atestam diversos v´ıdeos da internet. Como o sistema tem duas articulac¸o˜es, a sua configurac¸a˜o em cada instante de tempo e´ um par ordenado (θ1, θ2) que fornece a posic¸a˜o angular simultaˆnea das duas hastes (cf. Figura 12.(a)). O seu espac¸o de configurac¸o˜es e´ enta˜o o produto cartesiano S = {(θ1, θ2) : −pi < θ1 6 pi,−pi < θ2 6 pi} = (−pi,pi]× (−pi,pi]. 2.4 exercı´cios 1. Esboce no plano xy os pontos que satisfazem a equac¸a˜o ou inequac¸a˜o dada. (a) x = 3 (b) y > 1 (c) (x− 3) · (y− 1) = 0 (d) xy− x− 3y+ 3 = 0 (e) x2 − 4 6 0 2.4 exercı´cios 14 (a) θ1 θ2 θ1 θ2 pi pi (θ1, θ2) (b) Figura 12: O peˆndulo duplo e o seu espac¸o de configurac¸o˜es 2. Esboce no plano xy os produtos cartesianos dados abaixo. (a) {0, 1}× {1, 2} (b) [0, 1]× {1, 2} (c) {0, 1}×]1, 2[ (d) [0, 1]× [1, 2] 3. Descreva ou deˆ a equac¸a˜o dos conjuntos esboc¸ados na figura abaixo. x y 1 2 1 2 3 (a) x y 2 (b) x y 1 2 (c) x y 1 1 2 (d) 4. Descreva os conjuntos esboc¸ados na figura abaixo. x y 1 (a) x y 1 3 (b) x y 1 1 (c) x y 2 1 2 (d) 5. Dadas as figuras abaixo, encontre as coordenadas dos pontos A,B,C,D,E, F,G e G ′. 2.4 exercı´cios 15 . x y z A B C 1 1 1 2 2 2 0 x y z D E F 1 1 1 2 2 2 0 x y z 1 1 2 2 1 0 G G ′ 6. Encontre as coordenadas dos pontos D,D ′,E,E ′, F e F ′ na figura abaixo. . x y z D D ′ 1 1 2 2 0 3 x y z E E ′ 1 1 2 2 1 x y z F F ′ 1 1 2 2 0 1 7. Deˆ as coordenadas dos 8 ve´rtices do paralelep´ıpedo esboc¸ado na figura abaixo. . x y z 1 1 2 2 1 0 8. Encontre as equac¸o˜es dos planos dados abaixo. 9. Descreva os conjuntos e regio˜es esboc¸ados na figura abaixo. 2.5 respostas 16 x y z (a) 1 x y z (b) x y z (c) 1 x y z (a) 1 1 2 x y z (b) 1 2 2 2 x y z (c) 1 2 1 10. Descreva os conjuntos dados na figura abaixo. . x y z 1 1 2 2 0 (a) x y z 1 1 2 2 (b) x y z 1 1 2 2 0 (c) 11. No compartimento ilustrado na figura abaixo, ha´ duas mole´culas de um mesmo ga´s. A posic¸a˜o do sistema e´ dada pela quadru´pula (x1,y1, x2,y2). Escreva na forma de produto cartesiano o conjunto de todas as posic¸o˜es poss´ıveis do sistema, isto e´, descreva o espac¸o de configurac¸o˜es utilizando um produto cartesiano. 12. Deˆ as coordenadas dos ve´rtices A, B e C exibidos na figura acima. 13. Deˆ a equac¸a˜o das regio˜es dadas na figura abaixo. 2.5 respostas 1. 2. 3. As diversas maneiras de descrever cada regia˜o sa˜o separadas por ponto e v´ırgula. 2.5 respostas 17 1 4 5 x y x1 x2 y2 y1 (a) x y z A B C 1 1 1 2 2 2 3 3 3 0 (b) x y 1 2 0 (a) x y z 1 2 (b) (a) {(1, 1), (2, 1), (1, 2), (2, 2), (1, 3), (2, 3)}; {1, 2}× {1, 2, 3} (b) x = 2; {2}×R (c) (x− 1) · (x− 2) = 0; {1, 2}×R (d) x = 1 e 1 6 y 6 2; {1}× [1, 2] 4. As diversas maneiras de descrever cada regia˜o sa˜o separadas por ponto e v´ırgula. (a) x > 1; [1,∞[×R (b) 1 6 y < 3; R× [1, 3[ (c) x > 1 e y > 1; [1,∞[×[1,∞[ (d) 0 6 x 6 2 e 1 6 y 6 2; [0, 2]× [1, 2] 5. A = (2, 0, 0),B = (0, 1, 0),C = (0, 0, 2), D = (2, 2, 0) E = (0, 2, 1), F = (2, 0, 2), G = (−2, 2, 0),G ′ = (−2, 2, 1) 6. D = (2, 2, 0),D ′ = (2, 2, 3),E = (0, 2, 1),E ′ = (1, 2, 1), F = (2, 0, 2), F ′ = (2,−1, 2) 7. {(0, 0, 0), (−2, 0, 0), (−2, 2, 0), (0, 2, 0), (0, 0, 1), (−2, 0, 1), (−2, 2, 1), (0, 2, 1)} 8. (a) x = 1 (b) y = 0 (c) z = 1 2.5 respostas 18 x y 3 (a) x y 1 (b) x y 3 1 (c),(d) x y 2−2 (e) x y 1 1 2 (a) x y 1 1 2 (b) x y 1 1 2 (c) x y 1 1 2 (d) 9. (a) (0, 0, 0), (0, 1, 0), (1, 1, 0), (1, 0, 0), (0, 0, 1), (0, 1, 1), (1, 1, 1), (1, 0, 1), (0, 0, 2), (0, 1, 2), (1, 1, 2), (1, 0, 2) ; {0, 1}× {0, 1}× {0, 1, 2} (b) 1 6 x 6 2, 0 6 y 6 2 e z = 2; [1, 2]× [0, 2]× {2} (c) 0 6 x 6 1, 1 6 y 6 2 e 0 6 z 6 1; [0, 1]× [1, 2]× [0, 1] 10. (a) x = 2 e y = 2; {2}× {2}×R (b) y = 2 e z = 1; R× {2}× {1} (c) x = 2 e z = 2; {2}×R× {2} 11. 1 < x1 < 4, 1 < x2 < 4, 0 < y1 < 5 e 0 < y2 < 5; ]1, 4[×]1, 4[×]0, 5[×]0, 5[ 12. A = (2, 2, 0), B = (0, 2, 2), C = (2, 0, 3) 13. (a) 1 6 y 6 2 (b) 1 6 y 6 2 Coordenadas cartesianas Coordenadas no plano Coordenadas no espaço Aplicações Bilhar unidimensional O pêndulo duplo Exercícios Respostas
Compartilhar