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Doenças autoimunes - avaliação laboratorial

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AVALIAÇÃO LABORATORIAL NAS DOENÇAS AUTOIMUNES 
 
SITUAÇÃO 1. Marina, 47 anos, branca, solteira, procurou um clínico de seu convênio queixando-se de dores nas dobras das mãos, 
cotovelos, joelhos e tornozelos há mais de 6 meses. Além das dores, Marina disse também que suas articulações estavam ficando 
inchadas, quentes e vermelhas. Durante a entrevista, Marina relatou que é fumante desde os 21 anos, e que uma tia sofre de um quadro 
semelhante. O médico Dr. Juarez, perguntou se pela manhã ela apresentava rigidez e dificuldade para mobilizar as articulações. Sendo 
a resposta positiva, o médico solicitou a pesquisa de fator reumatóide (FR) qualitativo e anticorpo anti-CCP quantitativo, cujos 
resultados foram: Fator Reumatóide = reagente (normal = não reagente). Anticorpos anti-CCP = 120 U/dl (Negativo: < 20,0; 
Fracamente Positivo: 20,0 a 39,0; Moderadamente Positivo: 40,0 a 59,0; Fortemente Positivo > 60,0). Foram realizados também 
exames de imagem, cujos resultados foram: Radiografia das articulações que revelou presença de erosões ósseas com pinçamento do 
espaço articular nas articulações carpo-metacarpianas. Ultrassonografia das articulações das mãos, que evidenciou a presença de 
espessamento sinovial com sinal positivo ao doppler, sendo sugestivo de sinovite com formação de pannus. Diante da avaliação 
laboratorial de Marina, Dr. Juarez recomendou a ela suspender o tabagismo e iniciou tratamento com prednisona (10mg/dia) e 
metotrexato (15mg/semana) por via oral, além de solicitar reavaliação em quatro semanas para possíveis ajustes no tratamento. 
 
TEXTO DE APOIO – ARTRITE REUMATÓIDE: Aspectos laboratoriais 
A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória sistêmica, crônica e progressiva, que acomete preferencialmente a 
membrana sinovial das articulações, podendo levar a destruição óssea e cartilaginosa. Trata-se de uma condição que acomete cerca de 
0,5% a 1% da população mundial adulta, sendo sua ocorrência observada em todos os grupos étnicos. Há predomínio no sexo feminino 
(2 a 3 vezes em relação ao sexo masculino), ocorrendo, sobretudo, em pacientes entre a quarta e sexta décadas de vida, embora haja 
registro em todas as faixas etárias. O diagnóstico da AR é estabelecido considerando-se achados clínicos e exames complementares. 
Nenhum teste isolado, seja laboratorial, de imagem ou histopatológico, confirma o diagnóstico. 
As manifestações clínicas da AR podem ser divididas em articulares e extra articulares. Sendo uma doença sistêmica, 
sintomas gerais como febre, astenia, fadiga, mialgia e perda ponderal podem preceder ou acompanhar o início das manifestações 
articulares. As manifestações articulares mais comuns são: dor, inchaço e limitação dos movimentos das articulações acometidas 
(geralmente mais de 4 articulações, com simetria entre elas); acomete com frequências mãos e punhos; com artrite progressiva e rigidez 
matinal. As manifestações extra articulares mais frequentes incluem quadros cutâneos, oculares, pleuro pulmonares, cardíacos, 
hematológicos, neurológicos e osteometabólicos. São mais observadas em pacientes com doença grave e poliarticular, com sorologia 
positiva para autoanticorpos e com nódulos reumatoides. 
Os autoanticorpos mais frequentemente associados à AR, são o fator reumatóide e os anticorpos anti-peptídeo cíclico 
citrulinado (anti-CCP). O fator reumatóide, primeiro auto-anticorpo descrito em humanos reconhece a fração Fc da molécula da IgG e 
o mais utilizado na rotina laboratorial é o fator reumatóide IgM anti-Fc de IgG. Os peptídios cíclicos citrulinados surgem a partir da 
citrulina produzida pela ação de enzimas peptidil arginina deaminases (PADs) sobre a arginina. Em indivíduos com predisposição 
genética para AR, uma simples inflamação nas articulações com infiltrado de células inflamatórias pode desencadear a expressão de 
PAD e as células sendo ativadas, podem morrer por apoptose. Durante a apoptose, a concentração de cálcio intracelular aumenta e 
resulta na ativação das PADs e na citrulinação de proteínas intracelulares. A retirada dos corpos apoptóticos pode, em indivíduos 
geneticamente predispostos para AR, contribuir para a ativação do sistema imune, onde os fragmentos das proteínas citrulinadas podem 
ser apresentados pelo MHC classe II às células T. A resposta imune aos antígenos citrulinados resultaria na produção de anticorpos 
anti-CCP, atingindo a articulação e induzindo a produção de imunocomplexos e estimulando a ocorrência do processo inflamatório. 
O tabagismo mostrou associação com a AR, principalmente em indivíduos com a HLA-DRB1 e sorologia positiva para anti-
CCP. Crê-se que o fumo induz a expressão de enzimas PAD nas células da mucosa brônquica, gerando peptídeos citrulinados, que no 
indivíduo presdisposto pode ser o gatilho para a geração desses autoanticorpos. Existem também a possibilidade de reatividade cruzada 
entre antígenos microbianos que ao se associarem a determinada molécula HLA (p.ex. HLA-DRB1) podem mimetizar antígenos 
próprios que se associam às mesmas moléculas HLA. A bactéria Porphyromonas gengivalis, que causa periodontite, bem como 
bactérias da microbiota intestinal, têm apresentado associação com o surgimento da AR, em modelos animais. 
Os marcadores laboratoriais mais utilizados para avaliar a atividade da AR são as provas de atividade inflamatória, como a 
velocidade de hemossedimentação (VHS) e dosagem da proteína C reativa (PCR). O fator reumatóide (FR) é um dos critérios de 
classificação do Colégio Americano de Reumatologia para o diagnóstico de artrite reumatóide, sendo positivo em 70% a 80% desses 
pacientes. No entanto, ele não é específico para essa doença, sendo reagente em outras doenças, como o lúpus eritematoso sis têmico, 
tireoidite auto-imune, Síndrome de Sjögren, em doenças infecciosas como a tuberculose, a hanseníase e a endocardite bacteriana, em 
neoplasias e também em 10% dos indivíduos saudáveis. A ausência desse fator não exclui o diagnóstico de artrite reumatóide, e sua 
presença isolada não identifica a doença. A pesquisa de anticorpos anti-CCP tem sensibilidade que varia de 70 a 75% e especificidade 
de 95%, sendo útil sobretudo nos pacientes com artrite na fase inicial com FR negativo. Sua pesquisa é válida na investigação de artrites 
indiferenciadas, e como são detectados muito precocemente, podem ser utilizados como indicador de progressão e progóstico da AR. 
A radiografia convencional é o método de imagem mais utilizado na avaliação de dano estrutural articular na AR. As lesões 
mais características, como redução do espaço articular e erosões ósseas, aparecem mais tardiamente. A presença de erosão óssea deve 
ser considerada como fator de risco para o desenvolvimento de artrite persistente, quando observada nos estágios iniciais da doença. 
Ela está relacionada com limitação funcional e, consequentemente, com um pior prognóstico. A sensibilidade da ultrassonografia 
musculoesquelética e da ressonância magnética na detecção de dano estrutural é superior à sensibilidade da radiografia convencional. 
 
AVALIAÇÃO LABORATORIAL NAS DOENÇAS AUTOIMUNES 
 
SITUAÇÃO 2. Em 2002, Raimundo Nonato com 28 anos, foi diagnosticado com psoríase cutânea. A lesões de pele 
regrediram logo após o início do tratamento e o paciente foi monitorado pela reumatologista usando metotrexato (MTX) 
15 mg/semana, desde o diagnóstico (dose cumulativa de 5,04 g) com bom controle clínico da doença. Em junho de 2009, 
novas lesões de pele apareceram, associadas a envolvimento articular e perda de 10 kg de peso. O exame dermatológico 
identificou a presença placas eritematosas e escamosas, algumas delas com crostas, predominantemente na região palmo-
plantar e mãos, assim como na região peniana. O exame articular revelou artrite nas articulações interfalangeanas das 
mãos, proximal e distal,articulação metacarpofalangiana e punho. O escore PASI (Psoriasis area and severity index) foi 
de 19. 
 
Resultados dos exames suplementares: 
✓ Exames sorológicos (VDRL, Anticorpo anti-Chlamydia trachomatis, Fator reumatóide): negativos. 
✓ Proteína C reativa 12 mg/L (valores normais= menor ou igual a 1 ml/L). 
✓ Pesquisa de Antígeno HLA-B27: negativo 
✓ Radiografia de mãos e pés com várias alterações em articulações pequenas e grandes, redução do espaço articular e 
formação de osteófitos. Tomografia computadorizada da coluna mostrou esclerose, irregularidade cortical e osteófitos 
marginais na junção sacro-ilíaca. Densitometria óssea normal. Exame oftalmológico normal. 
✓ Histopatologia da biopsia das lesões dermatológicas foi compatível com psoríase. 
 
TEXTO DE APOIO – PSORÍASE: Aspectos imunopatológicos e laboratoriais 
A psoríase é entendida como uma doença inflamatória crônica, complexa e multifatorial, que envolve 
hiperproliferação dos queratinócitos na epiderme, com um aumento da taxa de turnover de células epidérmicas. Fatores 
ambientais, genéticos e imunológicos parecem contribuir para a Psoríase. A doença se manifesta mais frequentemente na 
pele dos cotovelos, joelhos, couro cabeludo, áreas lombo-sacrais, fenda interglútea e glande peniana. Em até 30% dos 
pacientes, as articulações são afetadas. 
A imunopatogênese da psoríase envolve tanto queratinócitos, células dendríticas, macrófagos, neutrófilos, 
mastócitos, células endoteliais, como linfócitos T. Inicialmente, ocorre ativação células dendríticas e queratinócitos. 
Vários fatores ambientais como o trauma mecânico, infecções, medicamentos e estresse emocional são considerados 
desencadeantes da doença. A ligação de antígenos de agentes infecciosos aos receptors toll like, nos queratinócitos e 
células dendríticas, também pode levar à ativação dessas células, que ativadas produzem inúmeras quimiocinas, citocinas 
(IL-1, TNF-alfa) e fatores de crescimento. Uma vez ativada, a célula dendrítica processa um antígeno (ambiental ou 
endógeno, ainda não definido), e migra para o linfonodo regional onde o apresenta aos linfócitos T. Para que a ativação 
do LT ocorra, é necessária a ligação do antígeno-HLA ao TCR (receptor de célula T), além da ligação de moléculas co-
estimulatórias. Estabelecendo uma sinapse imunológica. 
Na psoríase, ocorre preferencialmente a diferenciação de Th1, produtores de INF-γ, TNF-α e IL-2, de linfócitos 
Th17, produtores de IL-17, TNF-α, IL-6; IL-22 e e de linfócitos CTL, produtores de TNF-α, INF-γ, perforinas e granzima 
B. Esses linfócitos expressam a molécula CLA (antígeno linfocitário cutâneo) e LFA-1 que direcionam sua migração para 
o foco inflamatório na pele, através da interação com E-selectina e ICAM-1, respectivamente. Os linfócitos CTL 
concentram-se na epiderme e os LT (Th1 e Th17) na derme, amplificando o processo inflamatório por estimularem a 
produção de IL-12 e IL-23 pelas células dendríticas. A IL-12 favorece a proliferação dos Th1 e a IL-23 dos Th17, que 
associada a diminuição LT reguladores, perpetuando a lesão. Na psoríase, uma subpopulação de células dendríticas, ditas 
inflamatórias (CDi), grandes produtoras de IL-20, que é uma sintetase indutora da produção de óxido nítrico (iNOS), bem 
como de IL-23 e TNF-α. A IL-20 estimula a proliferação dos queratinócitos e o óxido nítrico a vasodilatação. A IL-23 
favorece a proliferação dos LTh17 e consequente produção de IL-22 e IL- 6 (que estimulam a proliferação dos 
queratinócitos e de proteínas de fase aguda), além de IL-17 e TNF-α. O TNF-α estimula no queratinócito a produção de 
IL-8 e IP-10 (proteínas quimiotáticas), de IL-1 e do próprio TNF-α, além de fatores de crescimentos que favorecem a 
angiogênese. A proliferação dos LTh1, induzida pela IL-12, leva a produção de TNF-α e INF-γ. O INF-γ também estimula 
a produção de IL-12, IL-8, IP-10, IL-23, defensinas e iNOS pelos queratinócitos e células dendríticas. O mecanismo de 
lesão na pele é semelhante ao que acontece nas articulações da artrite psoríasica. 
O diagnóstico diferencial das manifestações articulares deve ser feito com sífilis terciária, artrite reumatóide ou 
artrite reativa por Chlamydia trachomatis (doença sexualmente transmitida), esta última caracterizada por poliartrite, 
uretrite e conjuntivite, acompanhada de lesão típica de pele afetando mais frequentemente homens jovens, com forte 
associação com HLA-B27, presente em 80-90% dos pacientes com artrite secundária àquela DST. 
AVALIAÇÃO LABORATORIAL NAS DOENÇAS AUTOIMUNES 
 
SITUAÇÃO 3. Eugênia tinha 22 anos quando começou a apresentar um quadro de dor abdominal que já durava 4 
semanas, quando resolveu procurar um médico. Na consulta, ela relatou que sua dor era epigástrica, com períodos 
constantes, porém com certos picos em que se acentuava, sendo de caráter constritivo e não irradiava. Além da dor, ela 
apresentava diarréia semi-líquida, sem muco ou sangue, sem aparente fator desencadeante, não associada a ingesta 
alimentar, sem horário específico, e bastante irregular. Não havia febre, anorexia ou outros sintomas associados ao quadro. 
Na pesquisa laboratorial, foi evidenciada a presença dos anticorpos anti-gliadina a e anti-endomísio no soro da paciente. 
A hipótese diagnóstica inicial foi de doença celíaca. 
 
TEXTO PARA CONSULTA: AUTOANTICORPOS NA DOENÇA CELÍACA 
A doença celíaca (DC) é uma das hipersensibilidades alimentares mais comuns, afetando aproximadamente 1% 
do mundo ocidental. Em pacientes com DC, a ingestão de proteínas do glúten em proteínas de trigo e similares, 
composto de cevada e centeio, resultam em uma inflamação crônica no intestino delgado que é caracterizada por atrofia 
das vilosidades, hiperplasia das criptas e aumento do número de linfócitos que infiltram tanto epitélio como a lâmina 
própria. A perda de tolerância a proteínas de glúten em pacientes com DC está associada com uma doença inflamatória 
com LT CD4 anti-glúten específicas. As células T específicas anti-glúten que produzem quantidades elevadas de IFN-
gama podem ser isoladas a partir da mucosa do intestino delgado de pacientes, mas não de indivíduos saudáveis. Existe 
ainda um intenso infiltrado de eosinófilos intestinais com significativa degranulação dos seus produtos após a ingestão de 
glúten, provavelmente mediada por citocinas liberadas pela célula T. 
As moléculas HLA-DQ2 e HLA-DQ8 estão associadas à predisposição para o desenvolvimento da DC. Mais 
de 90% dos pacientes com DC possuem o HLA-DQ2, enquanto que os pacientes HLA-DQ2-negativos geralmente 
expressam HLA-DQ8, demonstrando que estas moléculas desempenham um papel importante na apresentação de 
peptídeos de glúten na DC. A ligação de peptídeos de glúten às moléculas HLA requer uma modificação dos peptídeos 
pela enzima transglutaminase tecidual (tTG). Esta enzima é expressa constitutivamente na lâmina própria intestinal e é 
transitoriamente ativada quando ocorrem danos no tecido. A tTG introduz cargas negativas em determinados peptídeos 
do glúten através da conversão de resíduos de glutamina em glutamato. Este processo, denominado desamidação, 
aumenta a afinidade de peptídeos de glúten para HLA-DQ2 e HLA-DQ8. Apesar de nossa compreensão sobre o papel 
das moléculas HLA e das células T reativas ao glúten, na patogênese da DC, ainda não se sabe porque entre tantas 
proteínas alimentares, o glúten não induz tolerância, e leva ao desencadeamento de uma resposta inflamatória imune em 
pacientes com DC. 
Do ponto de vista clínico, a DC se apresenta em diarreia crônica e suas repercussões: emagrecimento, distensão 
abdominal, fezes fétidas, claras, volumosas, sobrenadantes, com ou sem gotas de gordura, inchaço das pernas e outros 
sinais de desnutrição protéico-calórica. Muitos pacientes têm sintomas indefinidos e nem sempre relacionados aotrato 
gastrintestinal, como, por exemplo, anemia por deficiência de ferro. Entretanto, os sintomas e a gravidade da doença 
variam muito entre os pacientes, e alguns pacientes podem apresentar-se assintomáticos. Um pequeno subgrupo de 
pacientes com DC não respondem à dieta isenta de glúten e desenvolvem a doença celíaca refratária (DCR). A DCR é 
uma complicação grave da DC e esses pacientes têm uma grande chance de desenvolver uma enteropatia associada a 
linfoma de células T. O único tratamento disponível para a doença é uma dieta livre de glúten, resultando em uma 
restauração completa da arquitetura intestinal normal. 
Um teste diagnóstico é o uso, por três meses, de uma dieta isenta de glúten. Se os sintomas melhorarem com a 
suspensão e piorarem com a re-introdução do glúten na alimentação, tem-se uma confirmação diagnóstica. O diagnóstico 
da doença celíaca apoia-se no encontro da lesão característica da mucosa do intestino delgado ao exame histológico do 
fragmento obtido de biópsia. Os testes sorológicos são baseados na pesquisa de anticorpos IgG e IgA antigliadina e contra 
constituintes do tecido conjuntivo: IgA antireticulina e IgA anti-endomísio. Recentemente foi descoberto que a 
transglutaminase é o principal antígeno reconhecido pelo anticorpo anti-endomísio e a pesquisa de anticorpos IgA 
antitransglutaminase passou a representar uma ferramenta adicional para o diagnóstico e acompanhamento da doença. O 
que diferencia os testes é a sensibilidade e especificidade de cada um: pesquisa de anticorpos antigliadina é menos 
específica quando comparada aos demais. A pesquisa de anticorpos IgA anti-endomísio tem sido considerada a melhor 
indicadora de doença celíaca, mas em razão das dificuldades para obtenção do substrato da reação e pela descoberta da 
transglutaminase tecidual (tTG) como antígeno alvo do anticorpo anti-endomísio, esta pesquisa pode ser substituída pela 
pesquisa de anticorpos IgA anti-tTG. 
 O tratamento é orientado para a não utilização permanente do glúten na alimentação. Eventualmente, está 
indicado o uso de “pancreatina” e de corticosteróide, bem como de ciclosporina - um imunossupressor – em situações de 
grave quadro diarreico. 
AVALIAÇÃO LABORATORIAL NAS DOENÇAS AUTOIMUNES 
 
SITUAÇÃO 4. Elaine, 32 anos, parda, estudante, solteira, natural e procedente de Recife/PE, procurou atendimento 
médico com queixa de sonolência excessiva e aumento do fluxo menstrual há 6 meses. Elaine relatou que nos últimos 
meses se apresenta mais cansada que o normal – dorme nas aulas e não se sente disposta para nada. Além disso, seus 
ciclos menstruais encontram-se irregulares e com fluxo aumentado, se tornando um fato incomodo em sua vida social. 
Elaine relatou também ganho de peso mesmo mantendo os mesmos hábitos alimentares há anos, além de pele seca, queda 
de cabelos, constipação e câimbras nas pernas frequentes. Ao exame físico, a paciente encontrava-se orientada, hidratada, 
hipocorada (++/4+), afebril, anictérica, acianótica, eupneica. Aumento da frequência cardíaca. Glândula tireoide: bócio 
difuso com presença de nódulo liso e móvel em lobo direito. 
 
RESULTADO DOS EXAMES 
Laudo USG de tireoide: Os lobos da tireóide encontram-se com volumes aumentados em aproximadamente 2 vezes do 
normal e com ecogenicidades homogêneas em lobo esquerdo, porém, com área focal de hiperecogenicidade em lobo 
direito. Foi visualizado tumoração cística em lobo direito de aproximadamente 1,5 cm. Não foi visualizado hipertrofias 
de linfonodos cervicais. 
Laudo de PAAF de tireoide: Bócio adenomatoso (bócio nodular) associado à degeneração cística secundária. 
Dosagem plasmática de TSH = 3,0 (N= 0,3 e 4,0 mU/L) e de T4 livre = 0,3 (N= 0,7-1,8 ng/dL) 
Dosagem de anti-TPO = 60 U/mL (N= menor que 15 U/mL); Dosagem de anti-Tg = 150 U/mL (N= menor que 100 
U/mL); Dosagem de TRAb = 1,0 U/L (N= menor que 1,5 U/L). 
 
TEXTO PARA CONSULTA: AUTOANTICORPOS NAS PATOLOGIAS DA TIREOIDE 
Tanto na tireoidite de Hashimoto quanto na doença de Graves, o sistema imunológico passa a produzir anticorpos 
que atacam proteínas específicas da glândula tireoide, que se ligam a determinados pontos da tireoide provocando uma 
grande reação inflamatória local e destruição do tecido sadio da glândula tireoide. Os três principais auto-anticorpos 
associados a doenças autoimunes da tireoide são: Anticorpos Antitireoperoxidase (anticorpo anti-TPO; Anticorpos 
Antitireoglobulina (Anti-Tg); Anticorpos Anti-receptores de TSH (TRAb). 
Anticorpo anti-TPO (anticorpos anti-tireoperoxidase). A tireoperoxidade (TPO) é uma enzima presente nas células 
epiteliais da tireoide que participa da síntese dos hormônios tireoidianos. Mais de 90% dos pacientes com tireoidite de 
Hashimoto possuem anticorpos anti-TPO (antigamente chamado anticorpos anti-microssomal). Os anticorpos anti-TPO 
também estão presentes na doença de Graves (hipertireoidismo), mas em menor frequência, ao redor de 75% dos casos. 
Todavia, é bom salientar que cerca de 15% da população geral sadia e das gestantes, sem doenças da tireoide, podem ter 
anticorpos anti-TPO positivos, sem que isso tenha significado clínico imediato. Os anticorpos anti-TPO também são 
comuns em familiares de pacientes com doenças autoimunes da tireoide, 50% deles têm anti-TPO positivo sem ter 
qualquer sinal de doença da tireoide. Portanto, não basta ter anticorpos antitireoidianos presentes para se desenvolver 
doença autoimune da tireoide. 
Anticorpos anti-tireoglobulina (anti-Tg). A tireoglobulina é uma substância precursora dos hormônios da tireoide, que 
costuma ficar estocada dentro do tecido tireoidiano. A presença de anticorpos contra a tireoglobulina é muito comum na 
tireoidite de Hashimoto, estando presente em 80 a 90% dos casos. Em geral, pacientes com Hashimoto apresentam anti-
tireoglobulina e anti-TPO positivos. Assim como ocorre com os anticorpos anti-TPO, os anticorpos anti-tireoglobulinas 
também podem estar presentes também na doença de Graves. Cerca de 50 a 70% dos pacientes com Graves tem estes 
anticorpos positivos. Apesar de estarem muito relacionados às doenças autoimunes da tireoide, a presença de anticorpos 
anti-tireoglobulinas não significa necessariamente que o paciente tenha ou venha a ter algum problema da tireoide. Cerca 
de 15% da população saudável e das grávidas podem ter esses anticorpos detectáveis no sangue, sem que isso tenha 
relevância clínica. Ao contrário do anti-TPO, os anticorpos anti-tireoglobulina podem desaparecer após anos de 
tratamento do hipotireoidismo. 
Anticorpos anti-receptores de TSH (TRAb). O TSH é um hormônio liberado pela glândula hipófise, que age 
estimulando a produção de hormônios pela tireoide. Os receptores de TSH localizados na tireoide podem ser alvo de 
ataque de anticorpos, que recebem o nome de anticorpos anti-receptores de TSH (TRAb). Ao contrário do anti-TPO e do 
Anti-Tg, que são mais comuns na tireoidite de Hashimoto que na doença de Graves, o TRAb encontra-se presente em até 
95% dos casos de Graves e apenas em 20% dos pacientes com Hashimoto. Outra diferença relevante é o fato do TRAb 
não estar, habitualmente, presente na população em geral sadia. Os anticorpos anti-receptores de TSH podem se ligar aos 
receptores de TSH e estimulá-los, levando a tireoide a produzir hormônios tireoidianos em excesso. O TRAb também 
pode se ligar aos receptores de TSH e bloqueá-los, impedindo que o TSH atue sob a tireoide, provocando, assim, um 
estado de hipotireoidismo. 
AVALIAÇÃO LABORATORIAL NAS DOENÇAS AUTOIMUNES 
 
SITUAÇÃO 5: Regina, 40 anos, trabalha como gerente de um banco. Seu quadro se iniciou com tosse acompanhada de 
febre, que foi piorando progressivamente. Ao procurar o médico do trabalho, este observou palidez em pele e mucosas, 
temperatura de 38,5o C e taquipnéia.Na investigação laboratorial, o hemograma mostrou anemia e leucocitose com neutrofilia, a radiografia de tórax 
evidenciou sinal de infiltração em ambos os pulmões, e a pesquisa de bactérias no escarro mostrou-se negativa, contudo 
repleto de neutrófilos, resultado sugestivo de infecção por Mycoplasma pneumoniae. Seu plasma aglutinava hemácias 
tipo O em um teste laboratorial. O teste de Coombs direto foi positivo. Após o tratamento, e a recuperação de Regina, 
todos os achados laboratoriais voltaram ao normal. 
 
ANEMIA HEMOLÍTICA AUTOIMUNE 
 Alguns quadros infecciosos, neoplásicos ou autoimunes podem cursar com o desenvolvimento de autoanticorpos 
contra antígenos na membrana das hemácias. Alguns fármacos também podem levar a um quadro de hemólise pela 
associação do metabólito à componentes da membrana. 
O Mycoplasma pneumoniae é um agente infeccioso que causa infecção do trato respiratório, dentre elas a 
Pneumonia Adquirida na Comunidade. Essas bactérias são fagocitadas por macrófagos alveolares e irão promover uma 
resposta inflamatória cursando com o aumento de citocinas pró-inflamatórias, leucocitose com neutrofilia, febre e 
taquipnéia. A ocorrência de anemia hemolítica é um evento raro e pode ser causado como conseqüência de uma reação 
cruzada, ou seja, quando um anticorpo induzido especificamente para o Mycoplasma pneumoniae é capaz de reconhecer 
um antígeno contra as hemácias, isto porque apresentam estruturas antigenicamente parecidas. Esses anticorpos IgM 
capazes de aglutinar hemácias humanas são conhecidos como crioaglutininas, pois in vitro aglutinam hemácias em 
temperatura abaixo de 37ºC. O teste de Coombs direto positivo sugere a presença de anticorpos ligados à superfície das 
hemácias, sendo um forte indicador de Anemia Hemolítica por anticorpos à frio. 
 
 
PESQUISA DE ANTICORPOS IRREGULARES PELO TAD 
O teste de antiglobulina direto (TAD) ou teste de Coombs direto consiste em detectar a presença de IgG 
ligados às hemácias de um indivíduo. No TAD, podemos utilizar um soro de Coombs anti-C3d, para detectar a presença 
do fragmento de C3 – proteína do complemento - na membrana da hemácia, pois quanto positivo associado à ausência de 
IgG anti-Rh, indica que a hemólise está sendo mediada por IgM. 
 Ensaio para o teste de Coombs direto (TAD): Uma amostra de sangue contendo hemácia com anticorpos 
ligados (auto ou alo-anticorpos) é incubada com a anti-globulina humana (Soro de Coombs), após uma incubação de 10 
minutos a 37º C seguida de lavagem, observa-se a ocorrência de aglutinação (reação positiva).

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