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Aula 14 Imuno - Tolerância Imunológica : Doenças Auto-Imunes ● Distrofia Ectodérmica-Candidíase-Poliendocrinopatia Autoimune (APECED) ○ Também conhecida como Poliendocrinopatia auto-imune tipo 1 ○ Mutação na proteína AIRE ○ Ocorrência de Candidíase grave ○ Herança Recessiva Autossômica ○ Produção de anticorpos contra Glândulas endócrinas, Fígado, Pele, Plaquetas, IL-17A, IL-17F e IL-22 ■ Anticorpos agem contra as citocinas produzidas pelo Linfócito TCD4 Th17 ■ Th17 é importante no controle das infecções fúngicas. Se há uma alteração no funcionamento pleno desse clone, os fungos que antes eram tolerados pelo corpo, agora passam a ser patogênicos ○ Ocorrência de anormalidades ectodérmicas ○ Resumo Estudo Dirigido : ■ Doença rara que tem como característica um distúrbio autossômico recessivo, o qual é causado por mutações no gene regulador autoimune (AIRE). Esse está envolvido com o mecanismo de tolerância autoimune e contribui para a seleção negativa de linfócitos T auto-reativos no Timo, Nódulos linfáticos e Baço. ■ O diagnóstico é baseado na presença, de pelo menos, duas das três seguintes patologias : Candidíase mucocutânea, Hipoparatiroidismo e Insuficiência supra-renal. Além disso, a grande presença de anticorpos nos órgãos pode contribuir para essa confirmação. Outras manifestações autoimunes também podem ocorrer, como a má absorção intestinal e hepatite autoimune. ■ O tratamento é essencialmente sintomático. As patologias endócrinas são tratadas com substituição hormonal. Um longo curso de tratamento antifúngico sistêmico é utilizado para tratar a candidíase, apesar de alguns doentes permanecerem resistentes. O Tratamento imunossupressor é recomendado para os casos com hepatite autoimune ou com má absorção grave. ● Síndrome de Desregulação Imune, Poliendocrinopatia e Enteropatia ligada ao cromossomo X (IPEX) ○ Mutação no Fator de Transcrição FoxP3 ○ Não há produção de Células T reguladoras ○ Mecanismo de Tolerância fica totalmente desordenado ○ Produção de anticorpos contra Ácido glutâmico descarboxilase e Plaquetas ○ Sintomas ⇉ Diarréia Severa, Dermatite, Diabetes tipo 1, Trombocitopenia, Neutropenia, Anemia, Hepatite, Nefrite, Hiper e hipotireoidismo, Alergias Alimentares, Sepse, Meningite, Pneumonia, Atrofia das vilosidades, Redução de capacidade absortiva ○ Resumo Estudo Dirigido : ■ É uma síndrome hereditária rara que afeta lactentes do sexo masculino, uma vez que decorre de mutações no gene (FOXP3). ■ O FOXP3, codifica um fator de transcrição que regula o desenvolvimento das células T CD4+ CD25+, células T reguladoras (Treg) no Timo, as quais estão envolvidas na homeostase imune e na proteção contra autoimunidade. ■ A doença cursa com uma enteropatia perdedora de proteínas, diarréia refratária, dermatite eczematosa crônica, poliendocrinopatias, níveis elevados de imunoglobulina E total (IgE total) e, geralmente, com a presença de auto-anticorpos. ■ Pode ainda cursar com citopenia, nefropatias, hepatopatias, níveis elevados de imunoglobulina A (IgA), alergias alimentares e infecções graves recorrentes. ■ Usualmente, ocorre em lactentes jovens e crianças, podendo ser fatal naqueles sem tratamento apropriado. ■ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: ● citopenias, ● doenças renais, ● doenças hepática, ● alergias alimentares com níveis extremamente elevados de IgE e uma intensa eosinofilia periférica. ● A enteropatia cursa com uma diarreia aquosa ou mucoide-sanguinolenta. ■ Os casos mais graves são caracterizados pelo início precoce de uma tríade de manifestações clínicas: diarreia secundária à enteropatia autoimune, Diabetes mellitus tipo 1 (DM1) e eczema. ■ Histologicamente, a diarréia é caracterizada por atrofia das vilosidades em duodeno e inflamação com destruição glandular afetando todas as partes do sistema digestório, o que pode levar a má absorção e consequentemente, um déficit no crescimento. ■ A DM 1 ocorre secundariamente à destruição das ilhotas pancreáticas por infiltração de células T, podendo manifestar-se antes ou após o aparecimento da enterite. ■ DIAGNÓSTICO: ● Correlação das manifestações clínicas supracitadas, ● rastreio familiar cuidadoso pode revelar a presença de indivíduos do sexo masculino na linhagem materna com fenótipo clínico semelhante, morte precoce ou abortos espontâneos múltiplos. ● Mapeamento Genético evidenciará variante patogênica no gene FOXP3. ■ Principais Causas Mortis: ● Complicações do DM1, ● Complicações da diarréia intratável, ● Sepse por proliferação bacteriana sistêmica e tissular. ■ Tratamento: ● Transplante de células tronco hematopoiéticas (TCTH) alogênicas. (única terapia curativa para a síndrome IPEX ) ■ Para os pacientes que não se submetem ao transplante, o tratamento é limitado a: ● terapias de suporte, ● suporte nutricional, ● terapia de reposição para doenças endócrinas, ● combinação de múltiplas drogas imunossupressoras. ● Síndrome Linfo-Proliferativa Autoimune (ALPS) ○ Mutação nos genes de Fas/FasL, FADD e caspases ○ Excesso de produção de Linfócitos B e T ○ Aumento de Células CD3+ CD4- CD8- (não são Timócitos) ■ Erros no processo de Seleção Positiva e Seleção Negativa ■ A proliferação ocorre numa velocidade mais rápida com que o sistema consegue controlar / checar ○ Sintomas ⇉ Esplenomegalia, Linfadenopatia, Anemia hemolítica, Neutropenia, Trombocitopenia, Hepatite, Linfoma, Hipergamaglobulinemia ○ Resumo Estudo Dirigido : ■ A Síndrome Linfoproliferativa Autoimune é uma doença com causa de origem genética. Nela, o indivíduo apresenta alterações gênicas que implicam defeitos na produção de FAS, CD95 (Fas-L) ou TNFRSF6 na maioria dos casos (embora também haja casos relacionados a alterações em CASP8, CASP10, NRAS, KRAS, PRKCD e um pequeno grupo sem diagnóstico genético). Essas moléculas estão presentes nas membranas de diferentes células do organismo e estão diretamente associadas ao processo de apoptose celular. Sua manifestação clínica é caracterizada por: esplenomegalia, linfadenopatia, anemia hemolítica, neutropenia, trombocitopenia, doenças autoimunes, entre outros sintomas. Evidentemente, a identificação da mutação genética patogênica é uma forma de definir o diagnóstico para ALPS. ■ No sistema imune especificamente, esse processo é fundamental durante o processo de maturação dos Linfócitos T e B, além de estar associado ao mecanismo de defesa propriamente dito (processo de killing realizado pelos Linfócitos T CD8). O comprometimento do complexo Fas/Fas-L portanto, desregula a homeostasia de maturação/morte celular, gerando assim consequências diversas para o organismo como um todo. ■ Dentre essas consequências temos : ● Maior expressão de Células chamadas DNT (CD3+ CD4- CD8-); ● Linfocitose, ou seja, produção descontrolada de linfócitos graças ao rompimento da homeostasia; ● Geração de autoanticorpos patogênicos; ● Surgimento de linfomas devido à grande concentração de células circulantes nos órgãos linfóides secundários (Linfonodos). ■ Além disso, cabe ressaltar a importância do complexo Fas/Fas-L para a manutenção do imunoprivilégio de tecidos específicos no organismo. Em alguns sítios, as células epiteliais de revestimento expressam Fas-L em sua membrana plasmática. Assim, ao entrar em contato com células imunes ativas, induzem sua apoptose, impedido que atuem de fato sobre aquele sítio. Dessa forma, sítios como os olhos, testículos, ovários, placenta, dentre outros, tornam-se mais suscetíveis a ataques autorreativos.OBS : Pessoas que não possuem Timo, somente possuem Células CD3- CD4- CD8- (Timócitos). ● Artrite Reumatóide (RA) ○ Produção de auto-anticorpos IgM anti-Fc ⇉ Fator Reumatóide ○ Inflamação do Sinóvio ○ Invasão e dano a cartilagem de articulações ○ Presença de clones de Linfócitos B e T auto-reativos ○ Associação com MHC HLA DRB10404 e HLA DRB10401 (em caucasianos) ○ Respostas auto-reativas contra colágeno tipo II, glicoproteína 39 e proteínas citrulinadas ○ Resumo Estudo Dirigido : ■ A Artrite Reumatoide (AR) é uma doença inflamatória crônica que afeta principalmente as articulações músculo-esqueléticas (Reumatismo), mas que pode vir a afetar outros sistemas do organismo, como a pele e os pulmões. ■ Uma articulação musculoesquelética saudável possui tipicamente dois ossos cobertos por cartilagem articular (tecido conjuntivo que funciona como uma proteção amortecedora durante o atrito entre os ossos, suavizando o deslize) que em suas extremidades. A articulação pode ter ainda uma cápsula fibrosa revestindo-a; uma membrana sinovial, que possui células produtoras de fluido sinovial (líquido transparente e viscoso que preenche a cavidade articular, lubrificando a articulação) e removedoras de debris; vasos sanguíneos e linfáticos associados à membrana sinovial e, portanto, à articulação como um todo. ■ A AR é uma desordem sistêmica inflamatória autoimune que é geralmente desencadeada por uma interação entre um fator genético e o ambiente. Por exemplo, uma pessoa com um certo tipo de gene para uma proteína imune HLA-DR1 ou HLA-DR4 podem desenvolver artrite reumatoide, depois de ser exposto a um fator no ambiente, como a fumaça de um cigarro ou um antígeno específico (e.g. bactéria intestinal). A exposição a esses fatores ambientais pode causar modificações em antígenos próprios, como anticorpos IgG ou proteínas como Colágeno Tipo 2 e Vimetina (da família dos filamentos Intermediários). Enquanto isso, devido a suscetibilidade dos genes HLA-DR1 e HLA-DR4, as células imunes acabam não reconhecendo as proteínas modificadas como antígenos próprios. Nisso, células apresentadoras de antígeno (APC’s, como as células dendríticas – DC’s–e macrófagos) carregam esses antígenos próprios que não estão mais sendo reconhecidos para os linfonodos, a fim de que os linfócitos T CD4+ sejam ativados. Esses linfócitos T estimulam os linfócitos B próximos a se proliferarem e se diferenciarem em plasmócitos, que irão produzir auto-anticorpos contra esses antígenos próprios. ■ Na AR, as Células T Helper e esses auto-anticorpos entram na circulação e alcançam a articulação. Uma vez lá, as Células T secretarão citocinas inflamatórias, como IFN-γ e IL-17, para recrutarem mais células inflamatórias, como macrófagos, para a cavidade articular. Os macrófagos também irão produzir citocinas inflamatórias como o TNF- α, IL-1 e IL-6, que juntas com as citocinas das células T, irão promover a proliferação das células sinoviais. O aumento do número de células sinoviais e imunes cria um pannus, que é uma membrana sinovial densa e inchada com tecido de cicatrização (ou de granulação) feito de fibroblastos, miofibroblastos e células inflamatórias. Com o tempo, o pannus pode danificar a cartilagem ou outros tecidos e pode também erodir o osso. Células sinoviais ativadas podem também secretar proteases que irão degradar as proteínas na cartilagem articular. Sem a cartilagem protetora, os ossos ficam expostos e podem atritar diretamente um com o outro. Além disso, citocinas inflamatórias aumentam o nível de uma proteína na superfície das células T chamada de RANKL ( = Receptor Ativador do fator Nuclear Ligante de Kappa-B). RANKL permite células T se associar a RANK, uma proteína na superfície de osteoclastos, que estimulará a ação degradadora de osteoclastos nos ossos. Nesse mesmo tempo, anticorpos também irão entrar na cavidade da articulação, como: o Fator Reumatóide (RF), que é um anticorpo de IgM que tem como alvo a região constante Fc dos anticorpos alterados de IgG; e o Anticorpo Peptídico citrulinado anticíclico (Anti-CCP) que marca proteínas citrulinadas. Quando associados com as moléculas alvos, esses anticorpos formam Imunocomplexos que se acumulam no líquido sinovial e ativam o sistema complemento, promovendo ainda mais o quadro inflamatório com a cascada proteolítica. ■ A Inflamação crônica causa angiogênese (formação de vasos sanguíneos a partir de vasos preexistentes) patológica, que irá auxiliar na chegada de mais células inflamatórias no local. Com a progressão da doença, muitas articulações ficam inflamadas e podem culminar em destruição. Entretanto, essas citocinas não ficam apenas no espaço da articulação. Elas escapam pela corrente sanguínea e alcançam muitos sistemas do corpo humano, causando problemas extra articulares. Por exemplo, a IL-1 e IL-6 podem ir ao cérebro e atuam como substâncias pirogênicas, induzindo um quadro de febre; nos músculos esqueléticos elas promovem a degradação de proteínas; na pele e em muitos órgãos viscerais elas culminam na formação de nódulos reumatoides, que são estruturas circulares de macrófagos e linfócitos com uma área central caracterizada por necrose; vasos sanguíneos também são afetados, ao passo que o endotélio fica inflamado, resultando em vasculite, o que os tornam propensos a desenvolverem placas de ateroma (de tecido fibroso e lipídico), e portanto, aumentam o risco de aterosclerose. Em resposta ao quadro inflamatório, o fígado também começa a produzir hepcidina, uma proteína que diminui os níveis séricos de ferro ao inibir sua absorção no intestino e prendê-los em macrófagos ou hepatócitos, podendo culminar em um quadro de anemia. Enquanto isso, dentro do interstício do pulmão, fibroblastos são ativados e se proliferam, produzindo tecido conjuntivo fibroso ou de cicatrização que dificulta a hematose alveolar; a cavidade pleural, que reveste o pulmão, também pode ficar inflamada, preenchendo o pulmão com fluido ( = efusão pleural) que dificulta a expansão do pulmão no processo respiratório. ■ Pessoas com AR podem vir a desenvolver deformações específicas, usualmente nas articulações metacarpofalângicas da mão, como o “desvio ulnar dos dedos”. Mas também são comuns nas articulações interfalângicas, como as “Boutonnière”, ou “deformação em botoeira”. Outra deformidade é a em “pescoço de cisne”, que é o oposto. ■ Uma condição particular séria e associada com Artrite Reumatóide é a Síndrome de Felty, que é um transtorno caracterizado pela combinação de artrite reumatoide, esplenomegalia e neutropenia, que pode culminar em infecções com risco de morte. ■ O Diagnóstico de AR geralmente envolve exame de sangue para confirmar a presença de RF e Anti-CCP. Testes de Raio-X também revelam pouca densidade óssea perto da articulação afetada, encurtamento do espaço articular, erosão óssea e inchaço de tecidos não resistentes (como pele e músculos). ■ O Tratamento a longo prazo consiste no uso de medicamentos que podem ajudar a suprimir a inflamação. Além disso, há uma variedade de medicamentos que modificam a resposta biológica, dado que suprimem a ação de Linfócitos ou bloqueiam citocinas. O tratamento dos picos inflamatórios pode ser feito por remédios anti-inflamatórios. ● Esclerose Múltipla (MS) ○ Inflamação do Sistema Nervoso Central ○ Presença de clones de Linfócitos T auto-reativos ⇉ Resposta Th17 com IFN-γ ○ A resposta auto-reativa age contra : proteína básica da Mielina (MBP), proteína do Oligodendrócito da Mielina (MOG) e proteína próteo-lipídea da Mielina (PLP) ○ Tratamento com anti-IFN-γ piora o quadro da doença ○ Modelo experimental EAE (Encéfalo-Mielite Auto-imune Experimental) ○ Portadores de MS possuem número normal de Células T reguladoras, mas sua função reguladora está comprometida ○ A Tolerância oral foi sucesso em camundongos (células T auto-reativas anti-MBP produzindo TGF-β ao invés de IL-17 A e IFN-γ) ○Tolerância oral fracassou em humanos ○ Associação com HLA-DR2 ○ Resumo Estudo Dirigido : ■ A esclerose múltipla é uma doença autoimune do sistema nervoso central na qual as células T CD4+ das subpopulações Th1 e Th17 reagem contra os antígenos próprios de mielina, resultando em : inflamação do SNC com ativação de macrófagos ao redor dos nervos do cérebro e da medula espinhal; destruição da mielina; anormalidades na condução nervosa; déficits neurológicos. É a doença neurológica mais comum de adultos jovens. No exame patológico, há inflamação na substância branca do SNC com desmielinização secundária. A EM é caracterizada clinicamente por fraqueza, paralisia e sintomas oculares com exacerbações e remissões. Os exames de imagem do SNC sugerem que, em pacientes com doença ativa, não há formação frequente de nova lesão. ■ Por analogia com uma doença experimental (Encefalomielite Autoimune Experimental), acredita-se que a esclerose múltipla também seja causada por células Th1 e Th17 específicas da mielina, detectadas em pacientes e isoladas a partir do sangue e do SNC. Foi sugerido que uma infecção, mais provavelmente viral, possa ativar as células T reativas à mielina própria pelo fenômeno de mimetismo molecular. ■ A autotolerância pode falhar por causa da herança de genes de suscetibilidade, como observado pela maior taxa de concordância para o desenvolvimento de esclerose múltipla de quatro a cinco vezes maior entre gêmeos idênticos que entre gêmeos não idênticos. Essas observações implicam fatores genéticos no desenvolvimento da doença, mas também indicam que a genética só pode contribuir com parte do risco. Os polimorfismo genéticos associados à EM incluem o locus HLA, com os alelos HLA-DRB1*1501 sendo a ligação mais forte. Estudos de associação de genoma completo e outras análises genômicas revelaram mais de 100 variantes genéticas que contribuem para o risco de doença; a maioria dessas variações localiza-se em genes envolvidos na função imune. Uma associação interessante ocorre com um polimorfismo na região não codificante do gene para a cadeia alfa do receptor de IL-2, CD25. Esse polimorfismo pode alterar a geração e a manutenção de células T editoras e/ou reguladoras. Outros estudos sugerem que a manutenção periférica de células T reguladoras é defeituosa em pacientes com EM, mas não se sabe quanto isso contribui para uma falha da autotolerância. Uma vez que as células específicas de mielina T são ativadas, elas migram para o SNC, onde encontram as proteínas da mielina e liberam citocinas, que recrutam e ativam macrófagos e mais células T, levando à destruição da mielina. Estudos sugerem que a doença é propagada por meio de um processo conhecido como espalhamento de epítopos. A ruptura do tecido resulta na liberação de novos antígenos proteicos e expressão de novos epítopos, previamente sequestrados, que ativam mais células T auto-reativas. ■ Situa-se entre as mais importantes doenças neurológicas, em virtude de sua freqüência, cronicidade e tendência em acometer adultos jovens. Esta doença apresenta-se com distribuição unimodal entre os 20-40 anos de idade, com maior incidência no sexo feminino e na etnia branca. O Brasil é considerado um país de baixa prevalência da EM, existindo contudo regiões que apresentam média incidência, como demonstram estudos em cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Botucatu. Especula-se que essa diferença entre as diversas regiões do Brasil decorra em parte de nossa diversidade genética e de nosso índice de miscigenação. Estes fatores, aliados a grande extensão territorial do Brasil seriam os responsáveis pela concentração de determinadas características genéticas e fenotípicas em algumas regiões de nosso país. ■ Quanto aos sintomas, alguns costumam ser mais característicos, embora a patologia envolva peculiaridades em cada paciente. Os principais são desequilíbrio; alterações na bexiga e intestino, tremor, espasmos, alterações cognitivas, alterações de sensibilidade, dor, problemas visuais, fraqueza muscular, intolerância ao calor e fadiga. ● Miastenia Gravis (MG) ○ Produção de anticorpos auto-reativos contra o receptor de Acetilcolina ■ Anticorpos se ligam aos receptores de Acetilcolina, impedindo a propagação do impulso nervoso ○ Fraqueza muscular severa ○ Down-regulação de AIRE ○ Diminuição das Células T reguladoras ○ Timoma (neoplasia epitelial tímica rara) ○ Resumo Estudo Dirigido : ■ A Miastenia Grave (MG) é uma doença caracterizada por uma alteração na transmissão nervo-músculo provocando o enfraquecimento e fadiga dos músculos estriados esqueléticos de uso repetitivo. Há diferentes formas clínicas de MG como a miastenia do recém-nascido, a miastenia congênita, a miastenia de origem medicamentosa e a forma mais comum que é a miastenia autoimune, na qual há a ação de anticorpos contra os receptores de acetilcolina (ACh) na junção neuromuscular. ■ Apesar de não ter sido comprovada a maneira como se inicia a produção de anticorpos, estes interferem na interação da ACh com seus receptores. Na MG, os anticorpos ligam-se aos receptores nicotínicos (AChR) induzindo sua internalização e degradação. Assim, quando a ACh é liberada na junção neuromuscular, a chance da molécula de ACh encontrar um receptor antes de ser hidrolisada pela acetilcolinesterase torna-se menor visto que a densidade de AChR está reduzida. Além disso, algumas mudanças morfológicas, tais como a alteração na geometria da placa motora, a redução das dobras juncionais e o alargamento da fenda sináptica, levam à difusão da ACh para longe da fenda e diminuem ainda mais a probabilidade da ACh interagir com receptores funcionais ainda presentes. Todas essas mudanças interferem na transmissão nervo-músculo, já que a ACh torna-se menos eficaz na estimulação da placa motora e, como resultado, o músculo esquelético não se contrai adequadamente. ■ Existe a hipótese de que o Timo teria alguma relação com a MG, visto que 70% dos pacientes têm hiperplasia de Timo e aproximadamente 10% têm timoma – com potencial para comportamento maligno. O Timo miastênico contém um número aumentado de células B e linfócitos tímicos que liberam anticorpos contra AchR. Em decorrência a estímulos desconhecidos, as células mióides do Timo se danificam provocando uma falha no mecanismo supressor de linfócitos T helper propiciando um aumento descontrolado de anticorpos contra os AChRs, produzidos pelos linfócitos B. Outras possibilidades compreendem na ocorrência de uma infecção viral que poderia alterar as propriedades da superfície da placa motora, tornando-a imunogênica ou na presença de antígenos virais ou bacterianos que compartilhem epítopos com o AChR, de modo que, quando uma pessoa é infectada, os anticorpos gerados contra o organismo estranho também podem reconhecer o AChR. ■ Os principais sintomas da MG são a fadiga extrema, fraqueza muscular, dificuldade para mastigar e engolir, falta de ar, voz anasalada, pálpebras caídas (ptose palpebral) e visão dupla (diplopia). Em geral, os sintomas variam de intensidade no decorrer de um mesmo dia e pioram com esforço físico, agitação, infecções e altas temperaturas. ■ O tratamento é feito inicialmente com inibidores da acetilcolinesterase em doses padronizadas, sendo reservado o uso de imunossupressores em casos selecionados. Inexiste tempo predefinido de tratamento, visto que se trata de uma doença crônica e com sintomas muitas vezes flutuantes. Assim, deve-se tentar sempre o controle da doença com a menor dose necessária com vistas à suspensão de medicamentos, se possível, conforme o alívio dos sinais e sintomas referidos. ● Pênfigo Vulgar (PV) ○ Produção de anticorpos auto-reativos IgG1 e IgG4 contra a Desmogleína (família das Caderinas) ○ A Desmogleína é uma proteína de adesão dos epitélios ○ Ataque autoimune à integridade da pele ○ Doença Mucocutânea ○ Ocorrência de infecções ○ As variantes da doençasão diferentes de acordo com a etnia ○ Indivíduos que possuem somente o IgG1 para o epítopo da Desmogleína não apresentam a doença. É necessária a mudança de isotipo para IgG4, para que a doença aconteça ○ Associação com HLA-DR4 e HLA-DQ3 e com HLA-DR 14 e HLA-DQ15 ○ Resumo Estudo Dirigido : ■ O Pemphigus Vulgaris (também chamado de Pênfigo Vulgar), consiste na forma mais grave da doença Pênfigo, uma vez que caracteriza a presença de bolhas nas regiões de mucosa digestiva, nasal e genital, principalmente. ■ Essa patologia decorre de disfunções auto-imunes, isto é, o organismo próprio acaba produzindo naturalmente anticorpos IgG1 e IgG4 anti-Desmogleína, a qual é uma glicoproteína presente nos desmossomos das Células Epiteliais. Devido à ação desses anticorpos, as pontes intercelulares acabam sendo rompidas, assim ocorrendo a Acantólise (processo de desprendimento da camada espinhosa da epiderme) e posteriormente, formando fendas entre os epitélios. Nota-se, também, que esses anticorpos auto-reativos estão relacionados ao acúmulo de fatores pró-apoptóticos, como o Co-estímulo Fas-FasL, entre outros. ■ Conclui-se, portanto, que essa formação de fendas epiteliais ocasiona o vazamento de fluido intracelular, assim formando as bolhas. Essas bolhas, muitas vezes, acabam se rompendo e formando ulcerações nas mucosas, típico de portadores da doença.
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