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Material complementar Disciplina: Psicologia do Desenvolvimento e Teorias da Aprendizagem ABORDAGEM SOCIOCULTURAL DO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM 1 ABORDAGEM SOCIOCULTURAL 1.1 Características Gerais O nome mais representativo da abordagem sociocultural foi Paulo Freire, e tem origem no movimento de cultura popular, com ênfase principalmente na alfabetização de adultos. Pode ser caracterizada como uma abordagem interacionista entre o sujeito e o objeto de conhecimento, embora com enfoque no sujeito como elaborador e criador do conhecimento. O Movimento de Cultura Popular no Brasil, até 1964, contribuiu para a elaboração de uma verdadeira cultura, a partir de uma motivação de cunho vivencial. Tratava-se de um trabalho com o objetivo de possibilitar uma real participação do povo enquanto sujeito de um processo cultural. Na abordagem sociocultural, o fenômeno educativo não se restringe à educação formal, por intermédio da escola, mas a um processo amplo de ensino e aprendizagem, inserido na sociedade. A educação é vista como um ato político, que deve provocar e criar condições para que se desenvolva uma atitude de reflexão crítica, comprometida com a sociedade e sua cultura. Portanto, deve levar o indivíduo a uma consciência crítica de sua realidade, transformando-a e melhorando-a. Dessa forma, o aspecto formal da educação faz parte de um processo sociocultural, que não pode ser visto isoladamente. A abordagem sociocultural surge em um contexto pós segunda guerra mundial e se liga à problemática da democratização da cultura. 1.2 Relação Homem e Mundo Segundo Paulo Freire, o homem é o sujeito da educação. Evidencia-se uma tendência interacionista, já que a interação homem-mundo, sujeito-objeto é imprescindível para que o ser humano se desenvolva e se torne sujeito de sua práxis. O homem chegará a ser sujeito através da reflexão sobre o meio ambiente concreto. O homem é um ser situado no mundo e com o mundo, portanto não pode ser avaliado sem que seu contexto de inserção no mundo seja avaliado. 1.3 Relação Sociedade e Cultura O homem cria a cultura na medida que vem se integrando nas condições de seu contexto de vida. A história consiste nas respostas dadas pelo homem à natureza, aos outros homens, às estruturas sociais, e na sua tentativa de ser progressivamente cada vez mais o sujeito de sua práxis, ao responder aos desafios de seu contexto. Segundo Paulo Freire: [...] o homem se cultiva e cria a cultura no ato de estabelecer relações, no ato de responder aos desafios que a natureza coloca, como também no próprio ato de criticar, de incorporar seu próprio ser e de traduzir por uma ação criadora a experiência humana feita pelos homens que o rodeiam ou que o precederam. (Freire, 1974, p. 41) 1.4 Conhecimento A elaboração e o desenvolvimento do conhecimento estão ligados ao processo de conscientização. O conhecimento é elaborado e criado a partir do mútuo condicionamento, pensamento e prática. Como processo e resultado, consiste na superação da dicotomia sujeito-objeto. O homem se constrói e chega a ser sujeito na medida em que, integrado em seu contexto, reflete sobre ele e com ele se compromete, tomando consciência de sua historicidade. O homem é desafiado constantemente pela realidade e a cada um desses desafios deve responder de uma maneira, pois não há receitas ou modelos de respostas, mas tantas respostas quantos forem os desafios, sendo também possível encontrar respostas diferentes para um mesmo desafio. 1.5 Educação É a pedagogia do conhecimento, e o diálogo é a garantia deste ato de conhecimento. Para que sejam atos de conhecimento, qualquer ação pedagógica deve comprometer constantemente os alunos com a problemática de suas situações existenciais. O homem, nessa abordagem, é o sujeito da educação, pois ela se dá através da reflexão sobre o homem e pela análise do meio de vida desse homem concreto. O homem não participará ativamente da história, da sociedade, da transformação da realidade, se não tiver condição de tomar consciência da realidade e, mais ainda, da sua própria capacidade de transformá-la. A educação se dá enquanto processo, em um contexto que deve necessariamente ser levado em consideração. Nessa abordagem a educação é um fator de suma importância na passagem das informações mais primitivas de consciência para a consciência crítica, que por sua vez não é um produto acabado, mas um vir a ser contínuo. 1.6 Escola Para Paulo Freire, a escola é uma instituição que existe num contexto histórico de uma determinada sociedade. Para que seja compreendida é necessário que se entenda como o poder se constitui na sociedade e a serviço de quem está atuando. A educação assume carácter amplo, não restrita à escola em si e nem em um processo de educação formal. Caso a escola seja considerada, deve ser ela um local onde seja possível o crescimento mútuo, do professor e dos alunos, no processo de conscientização, o que implica uma escola diferente da que se tem atualmente, com seus currículos e prioridades. 1.7 Relação Ensino Aprendizagem Os objetivos educacionais são definidos a partir das necessidades concretas do contexto histórico social no qual se encontram os sujeitos. Busca uma consciência crítica. O diálogo e os grupos de discussão são fundamentais para o aprendizado. Os “temas geradores” para o ensino devem ser extraídos da prática de vida dos educandos. Uma situação de ensino-aprendizagem, entendida em seu sentido global, deverá procurar a superação da relação opressor-oprimido. Desta forma, educador e educando são sujeitos de um processo em que crescem juntos, pois “ninguém educa ninguém, ninguém se educa; os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”. (Freire, 1975). 1.8 Relação Professor Aluno A relação professor-aluno é horizontal e não imposta. Para que o processo educacional seja real é necessário que o educador se torne educando e o educando, por sua vez, educador. O homem assumirá posição de sujeito de sua própria educação e, para que isto ocorra, deverá estar conscientizado do processo: é, portanto, muito difícil pretender participar de um processo educativo que, por sua vez, é processo de conscientização, a menos que seja consciente de si e de tal processo. Um professor que esteja engajado numa prática transformadora procurará desmistificar e questionar, com o aluno, a cultura dominante, valorizando a linguagem e cultura deste, criando condições para que cada um deles analise seu contexto e produza cultura. O professor procurará criar condições para que, juntamente com os alunos, a consciência ingênua seja superada e que estes possam perceber as contradições da sociedade e grupos em que vivem. Haverá preocupação com cada aluno em si, com o processo e não com produtos de aprendizagem acadêmica padronizados. 1.9 Metodologia A busca do “Tema Gerador” objetiva explicitar o pensamento do homem sobre a realidade e a sua ação sobre ela, o que constitui a sua práxis. Na medida em que os homens participam ativamente da exploração de suas temáticas, sua consciência crítica da realidade se aprofunda. Para Freire, os homens, enquanto seres em situação, encontram-se imersos em condições espaço-temporais que neles influem e nas quais eles igualmente influem, consistindo o desenvolvimento nesta interação construtivista. Por meio de situações vivenciadas do grupo, Paulo Freire delineou seu método de alfabetização, que tem como características básicas: ser ativo, dialógico e crítico: criar um conteúdo programático próprio, e usar técnicas tais como redução e codificação. Para Freire, o diálogo implica relação horizontal de pessoa a pessoa sobre alguma coisa. Desta forma, a palavra é vista em duas dimensões: a da ação e a da reflexão. Não há palavra verdadeiraque não seja práxis. Daí se afirmar que dizer a palavra verdadeira consiste em transmitir o mundo e em transformá-lo. 1.10 Avaliação A verdadeira avaliação do processo ensino-aprendizagem consiste na autoavaliação e/ou avaliação mútua e permanente da prática educativa por professores e alunos. Qualquer processo formal de notas, exames, etc. deixa de ter sentido nesta abordagem. No processo de avaliação proposto tanto alunos como professores saberão quais são seus progressos e as suas dificuldades. “A avaliação é da prática educativa, e não de um pedaço dela”. (Freire, 1982, p. 94). 1.11 Considerações Finais Para Paulo Freire, a abordagem sociocultural é explicitada como um produto histórico; a educação, sempre como um ato político; o conhecimento como transformação contínua e não transmissão de conteúdos; a regulação da aprendizagem como tendo sempre o sujeito como centro e não a comprovação de desempenhos com critérios prefixados. Referências Bibliográficas FREIRE, Paulo - Educação como prática de liberdade, 21. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 45. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006. MIZUKAMI, M. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. (Temas básicos de educação e ensino).
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