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Relato de Estagio Basico

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RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ESTAGIÁRIAS DE PSICOLOGIA NO 
CENTRO DE REABILITAÇÃO EM UMA INSTITUIÇÃO DE SAÚDE 
PÚBLICA 
 
 
Amanda Mendes Silva - Uni-FACEF 
Marília Batarra Lima - Uni-FACEF 
Thais Silva Cintra - Uni-FACEF 
Patrícia do S. M. Franco do Espírito Santo - Uni-FACEF 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
Ao refletir sobre a prática psicológica em instituições hospitalares observa-se 
que na década de 50 houve o que se pode denominar de “o transporte do 
consultório para dentro do hospital”. A partir desta denominação, o trabalho clínico 
no hospital encontrava grandes dificuldades para avançar, pois o que se encontrava 
de teoria era apenas de cunho clínico e não se aplicava às instituições pela 
realidade diversa, assim surgia a necessidade de recriar e transformar a prática do 
profissional da psicologia neste ambiente. Desta forma, observa-se, um 
descompasso entre a formação acadêmica e a real necessidade da instituição 
(ROMANO, 1999). 
Apesar da precariedade na formação do psicólogo para a área hospitalar, 
atualmente tem ocorrido algumas mudanças na medida em que se tem aumentado a 
busca pelo aprimoramento na área, além da importância em se pensar estratégias a 
respeito da demanda, possibilitando assim, melhores formas de atuação (CASTRO; 
BORNHOLDT, 2004). 
O psicólogo no ambiente hospitalar necessita reunir seus conhecimentos e 
técnicas com a finalidade de aplicá-los coordenada e sistematicamente buscando 
assim uma assistência integral do paciente. É também um trabalho de 
restabelecimento do estado de saúde mental do paciente ao controle de 
implicações que prejudicam seu bem-estar, além de orientá-los com o intuito de 
que eles encontrem maneiras de aprender, crescer e amadurecer com a 
experiência do “adoecimento”. Portanto, cabe ao psicólogo, ir além da doença em 
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si, percebendo nisso a oportunidade de crescimento e amadurecimento pessoal 
(RUDNICKLI, 2007). 
A fim de propiciar uma reflexão acerca da prática do psicólogo em equipes 
multidisciplinares, fica evidente a necessidade de um profissional com uma visão 
mais atenta e sensível à dimensão emocional do paciente e, principalmente, que 
este encontre possibilidades para contribuir, sensibilizando os outros profissionais da 
equipe (TONETTO & GOMES, 2007). 
O psicólogo no contexto hospitalar auxilia em uma compreensão mais ampla 
da realidade institucional e dos medos, angústias e somatização dos pacientes, 
entrelaçando várias teorias entre si para construir seu próprio arcabouço teórico 
(ANGERAMI-CAMON, 2004). 
É a partir da psicologia hospitalar que se tem a possibilidade de estabelecer 
melhores e mais adequadas condições no atendimento ao paciente, aos seus 
familiares e a toda equipe profissional que compõe o cenário hospitalar (CASTRO; 
BORNHOLDT, 2004). 
A respeito da realidade hospitalar é importante ressaltar que uma das formas 
de tratamento em tal local é a reabilitação, entendida por Matilde Neder como o 
trabalho conjunto de uma equipe de técnicos sob o paciente portador de deficiência 
física ou mental, com a finalidade de ajudá-lo a realizar suas potencialidades física, 
social, psíquica e profissional, garantindo o controle de si mesmo e do ambiente a 
sua volta (ANGERAMI-CAMON, 2004). 
Quando compreendida como um processo, a reabilitação contempla múltiplas 
dimensões, indo além da recuperação de funções perdidas ou alteradas. Além disto, 
é importante ressaltar que reabilitar não significa curar e nem fragmentar o indivíduo. 
“Reabilita-se a pessoa, o ser humano na sua magnitude física, emocional e social” 
(FARO, 2006, p.129). 
Três categorias podem facilitar a compreensão sobre a reabilitação, a 
primeira é o reintegrar à vida diária, enfocando as atividades do cotidiano fora da 
instituição, como fazer compras, realizar tarefas domésticas, o autocuidado (banho, 
higiene oral, vestuário e outros). A segunda categoria está relacionada ao ajudar a 
conviver socialmente, enfatizando o relacionamento interpessoal e consigo mesmo e 
a terceira refere-se a ajudar a convivência em família, permitindo ao paciente viver 
com dependência mínima, um ser humano capaz e produtivo (ANGERAMI-CAMON, 
2004). 
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Brito e Barros (2008) consideram que o trabalho de reabilitação é apreender o 
indivíduo doente além da sua doença, estimulando-o a desenvolver suas 
capacidades reais e potenciais. 
Para Faro (2006) a reabilitação se caracteriza como um 
“processo de conhecimentos, habilidades e atitudes com os quais o indivíduo doente 
possa viver com dependência mínima, possibilitando, além do seu resgate físico, a 
reconquista de sua cidadania” (p.142). 
 Pontes e Hubner (2008) preconizam que a reabilitação proporciona a 
aceitação da nova realidade. No entanto, o conceito de reabilitação sob vários 
aspectos, pode ser: 
 
Reabilitação é a ação coordenada e contínua de uma equipe de técnicos 
competentes junto à pessoa portadora de deficiência física ou mental, com o 
fim de auxiliá-la a realizar suas potencialidades e objetivos física, social, 
psíquica e profissionalmente, de modo a alcançar um melhor controle sobre si 
mesma e sobre seu ambiente, enfrentando a realidade da vida (ANGERAMI-
CAMON, 2004, p.106). 
 
Na reabilitação, o paciente possui papel de extrema importância juntamente 
com a equipe de Reabilitação, uma vez que ele é o foco da equipe e quem direciona 
e determina os resultados de seu próprio processo. A família quando incorporada 
ao processo e à equipe, possui papel dinâmico no tratamento através do 
aprendizado dos cuidados necessários ao paciente (LEITE; FARO, 2005). 
De acordo com Oliveira (2000) o paciente em reabilitação deve ser visto como 
um ser integral, cuja equipe multiprofissional deve conhecer as razões dos 
comportamentos para melhor ajudá-lo e assim, este paciente terá melhor 
aproveitamento em seu programa de reabilitação. Sendo assim, os fatores físicos, 
biológicos e sociais que compõe a personalidade, devem ser levados em conta para 
que se possa tratar o paciente em sua totalidade. 
Segundo Faro (2006) o momento em que o paciente, a família e o profissional 
se deparam com as incapacidades decorrentes da doença ou da deficiência se 
caracteriza como a fase mais difícil de ser enfrentada. Esta etapa necessita de 
ajustes e adaptações, frente a reações emocionais que podem surgir diante das 
alterações físicas ou mentais sofridas. 
Olivieri (2000) complementa ao afirmar que o paciente em processo de 
reabilitação sente sua limitação como uma agressão que alterou os planos para o 
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futuro, além da perda de saúde, liberdade, autocontrole e autonomia. Ele também 
pode transferir a responsabilidade para outra pessoa, por se sentir inseguro 
podendo assim criar uma co-dependência com seus membros familiares. 
Portanto, a responsabilidade do psicólogo no Centro de Reabilitação de uma 
instituição hospitalar consiste em compartilhar com a equipe de profissionais os 
aspectos psicológicos da personalidade dos pacientes que os leva a ter certas 
atitudes ou comportamentos, o que define também seu grau de aceitação às 
mudanças. Ele passa a ser o intermediário entre a equipe e o paciente, pois possui o 
conhecimento necessário para compreender os aspectos emocionais que estão 
envolvidos na reabilitação do paciente. (ANGERAMI-CAMON, 2004). 
Segundo Galhordas e Lima (2004) quando se concebe a pessoa como um 
todo na área da saúde, a reabilitação não surge apenas como uma intervenção 
num corpo atingido, mas também como a reabilitação dos aspectos psicológicos 
ligados ao corpo, cujo funcionamento não se encontra intacto. 
 Desta forma, o corpo constitui uma via para a interpretação dos 
comportamentos sociais, sentimentos físicos e emocionais.Na reabilitação 
encontram-se pessoas com alterações na imagem do corpo associadas a alguma 
alteração física e/ou biológica. Nesta realidade, a alteração da imagem corporal 
está relacionada com sentimentos de falta de controle e de sensibilidade dos 
membros, além de uma desvalorização da imagem estética (CASTRO CALDAS 
apud GALHORDAS; LIMA 2004). 
Alguns autores falam da importância do acolhimento em uma instituição de 
saúde. Segundo Matumoto (1998) apud Souza et.al (2009), o acolhimento não está 
restrito ao fato de apenas receber, mas é composto de uma sequência de atos e 
modos que fazem parte do processo de atendimento, na relação com o usuário, 
dentro e fora da unidade. O acolhimento é uma ferramenta importante para atender 
a exigência de acesso, propiciar vínculo entre equipe e população, trabalhador e 
usuário, questionar o processo de trabalho, desencadear cuidado integral e 
modificar a clinica (SOUZA; et.al. 2009). 
Ao relatarem a respeito da psicoterapia de grupo, Bechelli e Santos (2002) 
afirmam que esta favorece o trabalho do paciente como próprio agente de mudança, 
pois no grupo são os pacientes que desenvolvem a terapia e têm a possibilidade de 
romper com o modelo médico, onde o terapeuta é o expert e tem condições de 
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definir o correto e o errado, de estabelecer e aplicar o procedimento ou a 
intervenção. A escolha dos assuntos e temas a serem discutidos é função do grupo. 
Desta maneira, os pacientes têm a possibilidade de assumir um papel ativo 
durante o processo, passam a encontrar auxílio entre si, permitindo uma abertura 
maior à espontaneidade dos participantes. Assim, cada um estabelece a direção que 
lhes é mais produtiva. A força para a mudança provém dos membros do grupo, o 
apoio mútuo consolida a união em torno de um objetivo em comum (BECHELLI; 
SANTOS, 2002). 
Ainda de acordo com os autores supracitados o terapeuta nesse contexto usa 
seu conhecimento e habilidade para estabelecer e manter a cultura do grupo, 
mobilizar as dinâmicas e as forças intrínsecas do grupo, além de assegurar o 
andamento apropriado, o psicólogo auxilia o paciente a usar de modo eficaz seus 
próprios recursos para seu restabelecimento e a lidar de forma mais crítica e 
adequada com a realidade. 
Segundo Romano (1999), os grupos de apoio são freqüentemente uma das 
únicas formas de ajuda aos pacientes, pois neles, os indivíduos percebem que não 
estão sós, compartilham sentimentos com pessoas da mesma situação, reduzem a 
ansiedade e aprendem novos métodos de adaptação. 
Além disto, os grupos de apoio possibilitam atitudes positivas, facilitando a 
reestruturação cognitiva. Ele é formado por psicólogos podendo haver ainda a 
participação de outros profissionais para uma melhor sistematização da transmissão 
de informação e incentivo ao paciente a perceber, aceitar e participar do tratamento, 
pois as orientações são fundamentais para seu processo de reabilitação (ROMANO, 
1999). 
A fim de caracterizar o trabalho com grupos em instituições hospitalares, 
Ponchirolli (1990) ao dirigir um grupo de reabilitação para amputados observou que 
os participantes demonstraram a necessidade de se reorganizarem e construir 
novamente suas defesas derrubadas pela dificuldade de lidar com esta nova 
situação. Estes, com suas limitações físicas, sentiram-se privados do social e 
impedidos de dar continuidade à sua vida profissional, conseqüentemente 
remetendo desequilíbrio também na família, além de desenvolverem uma grande 
dificuldade de reinserção em seu meio pela existência de preconceitos advindos do 
social. 
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A partir deste trabalho, a autora em questão afirma que a auto-imagem 
alterada necessita passar por um novo processo de autoconstrução, uma vez que 
nesta fase, o paciente sente dificuldades, necessitando de um grande esforço 
interior para obter-se a reformulação desejada, que interfere diretamente na 
adaptação do paciente ao seu novo modo de viver. 
Ponchirolli (1990) pôde então observar a necessidade do paciente em ser 
visto como um todo, a partir do momento que este tem consciência de que seus 
sentimentos negativos e dificuldades de adaptação é esperado ele se sinta mais 
apoiado e valorizado, desenvolvendo uma reorganização de sua nova imagem 
corporal e conseqüentemente adaptação à nova situação e reintegração no meio 
ambiente. 
 
CONTEXTUALIZAÇÃO 
O estágio em Psicologia Hospitalar ocorreu no Centro de Reabilitação de um 
hospital público de esfera administrativa privada, uma unidade beneficente sem fins 
lucrativos de dependência individual com atendimentos aos credenciados e também 
ao Sistema Único de Saúde (SUS). O Centro de Reabilitação existe há sete anos e 
surgiu a partir de uma necessidade do hospital de descentralizar e facilitar o 
tratamento para os usuários. 
No Centro de Reabilitação existem três focos de intervenção: reabilitação 
física, neurológica e infantil e no processo de tratamento estão envolvidos o fisiatra, 
fisioterapeuta, técnica de enfermagem, terapeuta ocupacional, nutricionista, 
psicóloga e assistente social. São oferecidos aos pacientes atendimentos individuais 
e em grupo. 
Para que o usuário seja inserido neste contexto é necessário que este seja 
encaminhado pelo SUS ou pelo convênio e aguardar em uma lista de espera. 
Quando chamado, ele passa por uma nova avaliação com o fisiatra e em seguida 
com o fisioterapeuta que planejará seu tipo de tratamento. Entre os pacientes, 90% 
são atendidos pelo SUS. 
No Centro de Reabilitação acontece em média, duas vezes por semana, uma 
reunião de introdução com a assistente social, que tem a finalidade de informar e 
esclarecer dúvidas a respeito do tratamento a ser realizado, sendo esta, específica 
para usuários e/ ou familiares que estão iniciando o tratamento. 
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Observa-se que as patologias mais freqüentes são fraturas, amputações, 
acidente vascular cerebral (AVC), entre outros comprometimentos neurológicos. 
 
METODOLOGIA 
A partir de estágios realizados no Centro de Reabilitação em anos anteriores, 
as estagiárias puderam planejar algumas intervenções tendo como base as 
propostas levantadas pelos estagiários de Psicologia do ano de 2008. As propostas 
elaboradas eram a formação de um grupo para pacientes em processo de alta e 
outro grupo de acolhimento para todos os usuários do serviço. 
Desta forma, durante as supervisões de estágio, deu-se continuidade ao 
processo de montagem das propostas, sendo possível definir dez encontros, um por 
semana, com duração de aproximadamente uma hora e trinta minutos, com 
atividades variadas para os grupos de acolhimento e alta. 
O grupo de acolhimento seria aberto para todos os pacientes que desejassem 
participar, e o convite seria feito na Reunião de Introdução realizada pela assistente 
social. Os temas trabalhados no grupo focalizavam as dificuldades com relação à 
reabilitação, significado do tratamento para o paciente, integração com o corpo 
através de sensibilização corporal e técnicas de relaxamento 
O grupo de alta seria constituído apenas por aqueles pacientes que fossem 
encaminhados pelos profissionais do Centro de Reabilitação e os temas propostos 
no grupo seriam a respeito do processo de luto, a readaptação ao novo corpo, papel 
na família, sociedade e trabalho, as expectativas para o futuro e conquistas 
alcançadas. 
As propostas apresentadas foram discutidas com a psicóloga responsável, 
esta sugeriu algumas mudanças como a diminuição do número de encontros e do 
tempo de duração dos grupos, além da ressalva feita acerca da dificuldade de 
adesão dos usuários. 
A intervenção em si não teve início imediato, devido a aspectos burocráticos 
entre as instituições, sendo necessárioaguardar a regularização dos documentos. 
Durante esse processo de espera, um sentimento de angústia foi vivenciado pelas 
estagiárias, que continuaram refletindo sobre o trabalho a ser realizado. Ainda nesse 
período ocorreu o desligamento da psicóloga, dificultando o início do trabalho. 
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Desta forma, só foi possível dar continuidade ao estágio diante da contratação 
de uma nova psicóloga, e mais uma vez, as propostas passaram por 
reestruturações. 
Neste período a psicóloga da instituição realizava o grupo de Apoio para 
pacientes. Este era composto por quatro encontros semanais e duração de uma 
hora, e em cada encontro havia a discussão de um pequeno texto que levava à 
reflexão sobre as dificuldades enfrentadas, mudanças necessárias, e cada paciente 
tinha a oportunidade de falar um pouco sobre si. Neste grupo, a participação das 
estagiárias foi somente de observação. 
Paralelo ao grupo de Apoio as estagiárias realizaram o grupo de Alta que 
ocorreu somente em dois encontros, pois, de acordo com a instituição, com um 
número maior de encontros, o paciente poderia criar novos vínculos dificultando seu 
desligamento do Centro de Reabilitação. 
Para o segundo semestre deste mesmo ano letivo (2009) as propostas de 
intervenção foram a realização de um Grupo de Acolhimento destinado a pacientes 
ingressantes no tratamento, com quatro a cinco encontros e um novo Grupo de Alta 
com duração de quatro a cinco encontros, uma vez que dois encontros não 
alcançaram os objetivos que seriam de acolher e realizar a escuta terapêutica do 
paciente. Os grupos seriam dirigidos somente pelas estagiárias e abertos para todos 
os pacientes do Centro de Reabilitação que tivessem interesse. 
Porém, por falta de adesão ao Grupo de Acolhimento, tornou-se necessário 
pensar em nova estratégia. Desta forma, este passou a ser realizado trinta minutos 
antes do Grupo de Introdução, tendo como objetivo acolher os pacientes recém-
chegados ao Centro de Reabilitação, trabalhar para a diminuição da ansiedade do 
início do tratamento e refletir sobre a importância da autonomia do paciente em seu 
processo de tratamento. Estes temas forma trabalhados através de dinâmicas, 
explicadas a seguir: 
 - Dinâmica das bexigas: os pacientes eram divididos em três a quatro 
grupos. As estagiárias passavam por cada grupo auxiliando nas discussões e 
distribuía duas bexigas para cada grupo. Em uma das bexigas eram anotadas 
palavras positivas e na outra, palavras negativas que expressassem os sentimentos 
dos pacientes. Após a discussão de cada grupo, estes voltavam para um grupo 
maior, expondo o conteúdo discutido. Ao final, as bexigas que representavam o 
negativo eram colocadas em um saco de lixo e estouradas por um usuário, enquanto 
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as bexigas com palavras positivas eram estouradas, ou trocadas entre os grupos a 
fim de compartilhar os sentimentos positivos para o tratamento. 
- Dinâmica dos cartões: eram distribuídos pelo centro da sala diversos 
cartões com palavras que representavam sentimentos positivos (fé, esperança, 
amor, mudança, conquista, alegria e vitória) e negativos (dor, tristeza, medo, 
cansaço e insegurança). Era solicitado que os pacientes se aproximassem da 
palavra que mais se identificassem no momento, formando subgrupos para 
conversar sobre o que havia escolhido. As estagiárias passavam por cada grupo a 
fim de estimular as reflexões. Após o momento de reflexão e partilha, os grupos 
voltavam a ser um e todos tinham a oportunidade de compartilhar uns com os 
outros. 
Nos grupos de acolhimento as estagiárias buscavam refletir a respeito de se 
ter autonomia no tratamento, não deixando a responsabilidade somente para os 
profissionais, mas sentir-se também responsável por esse processo. 
Outro grupo realizado pelas estagiárias no Centro de Reabilitação foi 
trabalhar a sensibilização corporal com a equipe técnica, com o objetivo de 
sensibilizá-los para um atendimento mais humano aos pacientes. 
 O grupo foi formado por quatro funcionários, ocorrendo semanalmente, com 
duração de uma hora, totalizando quatro encontros. Nos dois primeiros encontros 
foram realizadas dinâmicas nas quais os participantes puderam entrar em contato 
com seu próprio corpo, explorando seus sentidos e sensações. A partir do terceiro 
encontro foram realizadas dinâmicas nas quais os participantes puderam tocar o 
outro, entrando em contato com os sentimentos despertados quando recebiam o 
toque. 
No decorrer dos grupos os técnicos falaram do desejo de compartilharem de 
um espaço no ambiente de trabalho menos estruturado, onde tivessem a 
possibilidade de criar e compartilhar suas vivências. 
 Atendendo a solicitação do grupo foi elaborado um quinto encontro, onde 
todos os profissionais do Centro de Reabilitação foram convidados, encerrando o 
semestre de estágio. 
 Foi realizado ainda no segundo semestre um Grupo de Alta com o objetivo de 
preparar o paciente para o fim do tratamento na instituição. O grupo foi composto 
por dois pacientes indicados pela psicóloga, sendo realizados dois encontros, com 
duração de uma hora semanalmente. Compareceu ao primeiro encontro apenas um 
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paciente e foram realizadas apresentações e esclarecimentos com relação ao 
objetivo do grupo. Os temas abordados foram a respeito da evolução do paciente 
durante o tratamento e suas dificuldades no desligamento. 
 Na segunda e última sessão, apenas o outro paciente compareceu. Foram 
utilizados os mesmos recursos do encontro anterior, além de uma dinâmica que 
utilizava uma caixa com um espelho, levando o paciente a refletir sobre si mesmo. 
Porém, observou-se que estes pacientes não precisavam passar pelo grupo, uma 
vez que relataram estar ansiosos para ter alta logo e não por sentir falta do 
tratamento, o que seria o objetivo do grupo de alta. 
 
DISCUSSÃO 
 A realização do estágio relatado possibilitou levantar questões sobre o 
funcionamento da instituição hospitalar em relação a vários aspectos. 
Uma questão observada foi o predomínio do enfoque clínico na atuação do 
psicólogo, aspecto convergente com o que é discutido por Romano (1999) ao relatar 
o predomínio do modelo clínico dentro das instituições hospitalares e a dificuldade 
deste para a atuação do psicólogo hospitalar, sendo que o local e a demanda 
exigem uma atuação diferenciada. No Centro de Reabilitação onde foi realizado o 
estágio havia apenas uma psicóloga que concentrava suas atividades no 
atendimento clínico individual, atendendo uma demanda emergente. 
 Durante o estágio foi possível observar uma busca dos profissionais por uma 
atuação multidisciplinar, porém o funcionamento ainda não acontece de forma 
integral nesse modelo, há reuniões semanais entre a equipe, mas no dia-a-dia a 
comunicação fica restrita a prontuários. Romano (1999) ao abordar o tema da 
multidisciplinariedade no contexto hospitalar afirma que esta deve ser qualificada e 
dividir as responsabilidades entre as partes envolvidas facilitando a comunicação. 
Foi verificada também a dificuldade de comunicação entre os profissionais da 
equipe em relação aos pacientes e aos estagiários de psicologia. Alguns fatos 
constatados foram em relação às informações transmitidas aos pacientes sobre o 
tratamento e a dificuldade de planejar, juntamente com os estagiários, as estratégias 
de atuação. 
Faro (2006) em relação à reabilitação do paciente coloca que este é um 
processo, portanto, pode não curar, mas sim, reintegrar a pessoa aos diversos 
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âmbitos de sua vida. Tal realidade nem sempre é abordada dentro dos grupos 
vivenciados, pois os pacientes têm a expectativa de que a reabilitação irá curá-los e 
quando isto não ocorre muitos se encontram despreparadospara aceitar e conviver 
com esta nova realidade. 
A intervenção no Grupo de Acolhimento realizada no Centro de Reabilitação, 
vai ao encontro da idéia proposta por Souza et. al (2009), que trás o acolhimento 
como uma ferramenta importante para atender a exigência de acesso, propiciar 
vínculo entre equipe e população, trabalhador e usuário, questionar o processo de 
trabalho, desencadear cuidado integral e modificar a clinica. 
Durante os grupos com pacientes foi trabalhada a importância do paciente ser 
o agente de mudança no tratamento e sobre seu papel ativo durante o processo, 
assim como abordado por Bechelli e Santos (2002). 
Foi observado nos grupos que a troca de experiências entre os pacientes é 
uma maneira bastante eficaz no resultado do tratamento como constata Romano 
(1999) ao relatar que nos grupos a troca de experiências e compartilhamento 
diminuem a ansiedade e auxilia na aprendizagem de métodos de adaptação ao novo 
corpo. 
O grupo realizado com técnicos, apesar do número restrito de encontros, 
permitiu aos profissionais participantes refletirem acerca das suas práticas 
profissionais e criarem um espaço diferente da rotina de trabalho, onde puderam 
construir um espaço e um momento onde partilhavam questões e vivencias não 
apenas como profissionais, mas como indivíduo. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Com a realização desse estágio, confirmou-se a importância de que o 
paciente no Centro de Reabilitação precisa ser tratado na sua totalidade, pois os 
aspectos psicológicos e sociais interferem muito no processo de cura ou adaptação 
a nova realidade. 
Durante os grupos de acolhimento, as estagiárias tinham como objetivo 
transmitir aos pacientes a importância do seu processo ativo durante o tratamento, 
questão que também precisa ser trabalhada entre os profissionais, pois nem sempre 
estão preparados para este tipo de atuação que demanda um novo olhar sobre a 
importância de cada pessoa envolvida no processo de tratamento para alcançar 
melhores resultados. 
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A Psicologia enquanto área de atuação em uma equipe multidisciplinar pode 
ser facilitadora, no processo de mostrar aos profissionais a importância de estar 
atento aos pacientes e a família, e no potencial que estes possuem para ajudar no 
tratamento. 
A estratégia grupal pareceu ser pouco explorada, no entanto, durante o 
estágio realizado com grupos, mostrou-se eficiente, desde que adaptado à realidade 
institucional e dos pacientes. 
 Um trabalho com a equipe profissional contínuo possibilitaria um espaço de 
criação de novas relações e um novo olhar acerca do trabalho, auxiliando na 
concretização de um trabalho multidisciplinar. 
Devido ao tempo restrito e o número limitado de encontros, durante o período 
de estágio, algumas questões foram levantadas e transformações sutis observadas 
no corpo técnico e com os pacientes, porém é importante que estas questões sejam 
aprofundadas em estudos posteriores, que busquem investigar a prática profissional 
no cotidiano hospitalar. 
 
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