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Aula 1
Pensando Sobre Ética
Da Antiguidade à Contemporaneidade Da Antiguidade para nossa Contemporaneidade, o significado de ética percorreu e, ainda percorre, uma longa trajetória, alimentando acaloradas discussões entre filósofos, políticos, empresários, professores e todos os tipos de estudiosos.
Nessa aula, Barros Filho explica que os gregos consideravam o mundo algo finito e ordenado. Davam-lhe o nome de Cosmos. Segundo suas crenças, cada indivíduo nascia com uma função predeterminada que se encaixava perfeitamente no funcionamento desse Cosmos. As pessoas que prezavam pelas boas condutas eram aquelas que se dedicavam a desenvolver seus talentos natos, integrando-se às engrenagens perfeitas desse Cosmos ordenado. Em contrapartida a essa visão grega, a modernidade e as descobertas científicas trouxeram novas informações que acabaram levando a humanidade a constatar que, na verdade, o ser humano não nascia para cumprir uma missão cósmica, e sim nascia porque as leis da natureza levam à procriação das espécies. Com essa constatação, o homem mudou sua forma de pensar: apesar de não nascermos por causa de todo um planejamento cósmico, temos de praticar condutas que nos levem a conviver uns com os outros da melhor maneira possível. Assim, a procura por boas condutas continua. Mas, afinal, o que são boas condutas? A procura pela resposta a essa pergunta leva a muitas formas de pensar. Uma delas é conhecida por pensamento consequencialista, para o qual uma conduta é considerada boa
ou não conforme o resultado a que ela leva, ou seja, quando as consequências são positivas, a conduta é considerada boa e vice-versa. Os filósofos dividiram o pensamento consequencialista em dois tipos: o pragmático e o utilitarista. Talvez, muito mais importante do que decorar esses dois termos seja compreendê-los. O pensamento consequencialista é dividido em função de duas considerações sobre as consequências geradas pelas condutas humanas: 1. Consequência para a própria pessoa que praticou a conduta (o tipo pragmático). 2. Consequência para a maior parte de pessoas impactadas pela conduta de alguém (o tipo utilitarista). Explicando melhor: o pensamento consequencialista pragmático avalia que uma conduta é boa quando leva o praticante ao sucesso desejado por ele mesmo. Vamos pensar em um exemplo do dia a dia? Quando um aluno é aprovado ao final do semestre, ele atingiu o sucesso esperado, certo? Portanto, para o consequencialista pragmático, sua conduta foi boa. Quanto ao pensamento consequencialista utilitarista, considera-se que uma boa conduta é aquela que leva à satisfação do maior número de pessoas possível, ou seja, uma conduta será boa quando a maioria das pessoas impactadas for beneficiada e uma minoria não o for.
Que tal analisarmos esses dois tipos de pensamentos? Vamos começar pelo pensamento consequencialista pragmático. Supondo que o aluno (do exemplo apresentado) tivesse colado em todas as provas, sua conduta seria considerada boa? Segundo esse tipo de pensamento consequencialista, seria boa, sim, pois ele teria atingido seu intento final: a aprovação. Agora, vamos passar para a análise do pensamento consequencialista pragmático. Será que é sempre positivo obter vantagem para uma maioria? E como fica a minoria? Lembre-se de que o extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial acontecia sob o aplauso da maioria dos alemães... Diante dessas reflexões, somos obrigados a considerar que há fragilidade nesses dois tipos de pensamentos, não é mesmo? O pensamento consequencialista não dá valor à conduta humana pelo modo como ela é praticada, mas sim pelos efeitos que ela acarreta. Portanto, o que acaba sendo avaliado não é a conduta em si mesma. Immanuel Kant, filósofo que viveu no início da era moderna, propôs que se avaliasse uma conduta por seu próprio valor, e não pelo valor de suas consequências. De que maneira? Baseando-se em princípios. Mas, como definir esses princípios? Segundo Kant, cada princípio deveria ser universalizável, ou seja, ser naturalmente aceitável por todos. O autor Carlos Eduardo Meirelles Matheus, em seu audiolivro sobre Kant, Parte 2, apresentado pela Universidade Falada, aborda a construção teórica formulada pelo filósofo alemão a respeito da ética.
Kant: vida e obra No site da Universidade Falada, é possível adquirir a obra de Matheus em arquivo .mp3. Trata-se de uma obra em formato de audiolivro, possibilitando o aproveitamento do conteúdo enquanto se está no trânsito ou em filas. No site, é possível ainda ouvir um trecho do audiolivro. Vale a pena! MATHEUS, Carlos Eduardo Meireles. Kant: vida e obra. São Paulo: Universidade Falada. Trecho para audição disponível em: http://goo.gl/jTHP18. Acesso em: 15 out. 2014. Kant propôs uma lei conhecida por Imperativo Categórico. Por ela, compreende-se que todo ser racional pode deduzir, por si mesmo, como deve agir em sociedade. Segundo o Imperativo Categórico, cada pessoa seria capaz de organizar os seguintes pensamentos: 1. Devo agir de tal modo que a norma contida no meu ato possa se tornar uma norma universal. 2. Não devo mentir porque não posso querer que mintam para mim, portanto, não devo mentir para os outros.
3. Ninguém pode querer que a mentira se torne uma norma válida para todos, já que, deste modo, ninguém acreditaria em ninguém. A máxima que diz para nos colocarmos no lugar do outro, antes de agirmos, é muito utilizada até hoje quando pretendemos adotar uma conduta correta, não é mesmo? Tem sido aplicada na educação das crianças. Vamos analisar um exemplo? Você não gosta de que desconfiem de você, certo? Você seria capaz de confiar em estranhos que se aproximam quando você está fazendo um saque em caixa eletrônico às 23 horas? Pois é... Parece que até mesmo o Imperativo Categórico de Kant apresenta fragilidade... Howard (2011, p. 73-74) nos propõe uma análise bastante interessante sobre essa máxima – chamada, por ele, de A Regra de Ouro. Sua reflexão parte dela, chegando à Regra de Ferro
O autor Howard (2011) nos provoca a enxergar como muitas regras, algumas até consideradas sabedorias populares, podem levar a interpretações que não envolvem condutas éticas. Quando julgamos ser correto fazer aos outros o que gostaríamos que fizessem a nós, adotamos a premissa de que todos têm os mesmos gostos que temos. E isso não é verdade. Cada pessoa tem seu próprio jeito de ver a vida. Cada grupo tem seus próprios valores. E, seguindo este raciocínio, compreendemos como é frágil adotarmos os códigos de conduta religiosos como se fossem universais. Imagine a seguinte situação: Um avião, da El Al (companhia aérea nacional de Israel), estava para decolar de Nova York quando se atrasou por causa de uma confusão desencadeada por haredim (judeus ultraortodoxos). Eles se recusaram a se sentar ao lado de mulheres, porque sua religião não permite. Uma passageira – Amit Bem-Natan – declarou ao site Ynet que alguns haredim ficaram em pé nos corredores e se recusavam a ir para frente. Todos eles tinham bilhetes com assentos numerados e comprados com antecedência, mas pediram às mulheres que trocassem de assento. O voo acabou atrasando porque o avião não pode decolar enquanto houver passageiros em pé.
Companhia aérea de Israel é criticada por discriminação às mulheres Você poderá ler a notícia, na íntegra, sobre o impasse ocorrido entre os passageiros da companhia aérea nacional de Israel. Acesse o link indicado: SHERWOOD, Harriet. Companhia aérea de Israel é criticada por discriminação às mulheres. Folha de S.Paulo, 30 set. 2014. Disponível em: http://goo.gl/3jofBs. Acesso em: 8 out. 2014. Outra passageira do voo (identificada apenas como Galit), disse que passageiros ultraortodoxos sugeriram que ela e seu marido se sentassem separados para se adaptar às exigências religiosas deles. Galit se negou, mas disse que acabou sentada ao lado de um homem heredi que se levantou do assento assim que a decolagem terminou e ficou em pé no corredor. Será que esse evento traz à tona um dilema ético? Será que os direitos religiosos devem se sobrepor aosdireitos civis? Esse é um caso de bullying contra as mulheres? Seria uma prática de discriminação contra as mulheres? A companhia aérea deveria responsabilizar-se pelo conflito? Deveria ter articulado uma negociação? A notícia veiculada no site da Folha de S.Paulo traz muitos questionamentos que podem ser debatidos sob a luz de estudos do Direito, do Marketing, da Economia, da Política, da Globalização, entre muitas outras.
Segundo Matos (2011, p. 16), a ética deve pressupor liberdade; dignidade/responsabilidade; igualdade de oportunidades; e direitos humanos. Ao tentarmos aplicar esses elementos na análise da notícia sobre os haredim, percebemos que surgirão conflitos culturais e religiosos. Se, por um lado, os haredim têm direito à liberdade de escolher suas crenças religiosas, por outro, as mulheres, como cidadãs do mundo contemporâneo, também têm direito de ir e vir. Há também de se considerar a responsabilidade da companhia aérea quanto a solucionar as necessidades de seus clientes. Barros Filho, durante a aula aberta a qual nos referimos logo no começo deste tema, afirma que a questão da ética, em nossa contemporaneidade, é uma atividade ininterrupta de discussão a respeito de quais princípios queremos adotar para nos orientarmos em nossa convivência. Segundo ele, para se fazer ética, há de se considerar a perspectiva normativa (relativa às regras a serem obedecidas) e a perspectiva aplicada (relativa ao modo de agir), ou seja, não basta apenas respeitarmos as regras do jogo ‒ precisamos participar das definições das regras do jogo em que jogaremos. Se considerarmos o exemplo do jogo, vamos constatar que a convivência em sociedade é constituída por vários jogos que vão acontecendo ao mesmo tempo: cada jogo tem seu conjunto de regras estabelecidas pelas próprias pessoas envolvidas nele. Seguindo esse raciocínio, será que podemos concluir que a ética é um conjunto de regras de conduta para determinado contexto sob determinadas condições sociais, econômicas, geopolíticas e culturais? Se aceitarmos essa conclusão, vamos compreender que falar de ética não é exatamente falar do que é certo ou errado, mas sim falar dos códigos de condutas ideais para determinada sociedade que vive sob determinadas condições. O Príncipe, de Nicolau Maquiavel Pesquisar sobre ética é como viajar para um mundo sem fronteiras. Podemos encontrar estudos da Grécia Antiga (berço das discussões sobre ética)
Podemos conhecer a versão cristã da ética na era Medieval. Podemos ler obras da época do Renascimento. Podemos estudar as posições de filósofos modernos. Podemos testemunhar a participação de interessados dos mais diversos perfis em debates a respeito do assunto em nossa atualidade. É possível que você já tenha lido O Príncipe, de Maquiavel. Se ainda não o fez, deve, pelo menos, ter ouvido falar. Esta obra é uma referência até hoje, apesar de ter sido escrita em 1513 e publicada apenas em 1532, após a morte do autor. Por que será que suas ideias alimentam debates até hoje?
Sinopse: “Mais que um tratado sobre as condições concretas do jogo político, O Príncipe é um estudo sobre as oportunidades oferecidas pela fortuna, sobre as virtudes e os vícios intrínsecos ao comportamento dos governantes, com sugestões sobre moralidade, ética e organização urbana que, apesar da inspiração histórica, permanecem espantosamente atuais.” (Fonte: http://goo.gl/ZY0oMe. Acesso em: out. 2014) Apesar de ter sido publicada há quase 500 anos, a obra de Maquiavel traz reflexões totalmente aplicáveis à nossa contemporaneidade. MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Cia das Letras, 2010.
Nessa obra, Maquiavel apresenta quais seriam as melhores condutas para um príncipe conquistar e manter suas conquistas. Os pensamentos consequencialistas são perceptíveis em várias passagens do livro. Há um trecho em que Maquiavel escreve: “[...] pareceu-me mais conveniente procurar a verdade pelo efeito das coisas, do que pelo que delas se pode imaginar” (MAQUIAVEL, 1973, p. 69). Dentro do contexto do livro, podemos interpretar essas palavras do autor como: vale mais a vantagem que um príncipe obtém para si próprio por meio de suas condutas do que a conduta em si mesma. Há um documentário sobre a obra O Príncipe que faz uma paráfrase de algumas falas de Maquiavel.
Documentário Grandes Livros: O Príncipe No episódio desta série de documentários produzidos pela Discovery Channel, apresenta-se O Príncipe, livro escrito por Nicolau Maquiavel em 1513, cuja primeira edição foi publicada postumamente, em 1532. Trata-se de um dos tratados políticos mais importantes já escritos, com papel crucial na construção do conceito de Estado como modernamente o conhecemos. Entre outras coisas, descreve as maneiras de se conduzir os negócios públicos internos e externos, e, fundamentalmente, como conquistar e manter um principado. GREAT BOOKS (série). O Príncipe. Produção: Discovery Channel. EUA. Documentário. Duração: 50:23 min. Disponível em: http://goo.gl/nKhK3O. Acesso em: 14 out. 2014.
O trecho inicial do filme mostra um homem que escreve ao novo presidente dos Estados Unidos, dando-lhe conselhos sobre como manter seu poder na presidência. Aí está a comparação com a obra O Príncipe, em que Maquiavel começa escrevendo a Lourenço de Medici – um estadista da época do Renascimento Italiano – e lhe oferece seus estudos sobre como um príncipe deve agir para manter seu poder. O peso do pensamento consequencialista do tipo pragmático é mantido na paráfrase do filme, assim como está no livro. Ou seja: a conduta é avaliada em função das melhores consequências para quem a está praticando. Se analisarmos friamente o trecho do documentário, teremos a impressão de que o homem que escreve ao novo presidente dos Estados Unidos o aconselha à conduta do fingimento para poder manipular o povo e manter seu poder na presidência. O livro O Príncipe retrata esse mesmo contexto: utilizando-se de exemplos de homens poderosos, da Antiguidade à Renascença, o autor descreve como as vantagens oferecidas pelo poder e pela fortuna podem despertar a ambição de governantes, levando-os a atos desleais e violentos. A obra de Maquiavel tornou-se um instrumento para reflexões sobre ética. Trata-se de uma obra antiga cujos debates ainda são bem atuais: a prática de uma política totalmente isenta de condutas éticas, retratada por Maquiavel, é ainda uma realidade até hoje. Você deve saber que o termo maquiavélico surgiu a partir de O Príncipe. Alguns estudiosos defendem Maquiavel, afirmando que, na verdade, ele era um cidadão que defendia a moralidade. É provável que o autor tivesse a intenção de lançar debates sobre a falta de ética na política exatamente retratando o pior da prática da política. Sobre Ética e Moral Será que existem diferenças entre o conceito de ética e de moral? Na verdade, as palavras ética e moral têm a mesma origem. Como já vimos, ética
vem do grego ethos, significando bom costume/boa conduta. Quando a palavra foi traduzida para o latim, tornou-se mor-morus, significando também costume mor ou costume superior. É da tradução latina para o português que se tem a palavra moral. Atualmente, há muitas discussões sobre a diferenciação entre ética e moral. Há pensadores que aplicam conceitos diferentes a cada um dos termos e, ainda, há aqueles que preferem manter suas semelhanças. O autor Mário Sérgio Cortella, por exemplo, afirma que a ética é o conjunto de princípios que norteiam as condutas para o indivíduo conviver em sociedade. Quanto à moral, trata-se da prática dos princípios éticos. Saiba Mais! Jô Soares entrevista o Prof. Mário Sérgio Cortella Cortella é filósofo e escritor, com Mestrado e Doutorado em Educação, professor-titular da PUC-SP, com docência e pesquisa na Pós-Graduação em Educação e no Departamento de Teologia e Ciências da Religião. É professorconvidado da Fundação Dom Cabral (desde 1997) e ensinou no GVpec da FGV-SP (1998/2010). Foi Secretário Municipal de Educação de São Paulo (1991-1992). (Fonte: http://goo.gl/LesgXe. Acesso em: out. 2014) Acessando o link indicado,você poderá assistir a uma entrevista de Jô Soares com Cortella. Você poderá compreender sua visão sobre as diferenças entre ética e moral. REDE GLOBO. Programa do Jô: Entrevista com Mário Sérgio Cortella. Disponível em: http://goo.gl/L2ZZPU. Acesso em: 8 out. 2014.
O autor Clóvis de Barros Filho explica que a ética está ligada ao grupo e tem a pretensão de ser universal. A moral está ligada ao indivíduo, pois cabe a cada um, que convive em uma sociedade, decidir praticar ou não os princípios éticos determinados nessa sociedade. Vamos compreender melhor essa diferença entre ética e moral utilizando um exemplo fornecido pelo Prof. Clóvis de Barros Filho, quando ele esteve no programa Café Filosófico, em 2009, discutindo sobre o tema: Moral e Estilo de Vida na Crise da Contemporaneidade. Saiba Mais! Fonte: http://goo.gl/h5nDLm. Acesso em: out. 2014. Moral e Estilo de Vida na Crise da Contemporaneidade O questionamento sobre a ética aparenta ser constante na sociedade. Com ou sem crise. Com mudança ou não de valores e paradigmas. O discurso da eficácia corporativa e suas metas, tão elogiados no início do século, hoje são duramente condenados. Problemas econômicos e ambientais sugerem o retorno aos valores fundamentados no respeito e na cooperação. BARROS FILHO, Clóvis. Moral e Estilo de Vida na Crise da Contemporaneidade. Programa Café Filosófico, 29 maio 2009. Disponível em: http://goo.gl/GTPPwt. Vídeo disponível em: http://vimeo.com/26390212. Acesso em: 15 out. 2014. Você sabia que, em alguns países europeus, você não compra jornal em bancas? No Brasil, por exemplo, escolhemos o jornal que desejamos levar, vemos o preço, entregamos o dinheiro ao jornaleiro, ele faz a conta e nos dá o troco. É assim, não é? Pois bem! Na cidade de Genebra, na Suíça, não é assim. Há uma banqueta cheia de jornais. Não há ninguém vigiando. Você chega, abre a caixa, pega o seu jornal e deixa o dinheiro. Isso mesmo! Você deixa seu dinheiro junto a outras quantias já deixadas por outras pessoas. Se tiver direito a troco, você mesmo pega o valor devido. Agora, vamos refletir juntos. O que poderia passar pela cabeça de um estrangeiro, cuja cultura de origem fosse influenciada por ideias como a de levar vantagem em tudo? Pensaria em levar o jornal sem pagar por ele? Pensaria em levar todos os jornais sem pagar por eles? Ou, ainda, pensaria em levar o dinheiro já deixado por outros compradores? É provável que essas ideias acabem passando pela cabeça não só de alguns estrangeiros, mas, por que não dizer, pela cabeça de alguns suíços também. O que faz, então, uma pessoa resistir a essas tentações? A moral! A moral implica liberdade de escolha. Vamos pensar da seguinte maneira: o princípio de não roubar é uma determinação ética em Genebra (e em grande parte do mundo, claro). Trata-se de um princípio do código de ética. Cabe aos moradores e visitantes decidirem se vão cumprir esse princípio ou não. Caberá ao indivíduo que passa pela banqueta de jornais suíços ser moral ou não, ou seja, cabe a ele praticar ou não a ética preestabelecida. Ética Negativa: “Ética negativa são proibições que assumem a forma de ‘Você não deve...’ A ética negativa requer pouca ou nenhuma energia para ser cumprida. Veja ‘Não deverás matar’, por exemplo.” Por outro lado, a “Ética positiva são obrigações que assumem a forma ‘Deverás...’. A ética positivarequer uma conduta virtuosa e energia para ser seguida. Por exemplo: ‘Deverás alimentar os famintos’”. (HOWARD, 2011, p. 54) Genebra: “A famosa neutralidade suíça, conquistada em 1815, transformou em um grande centro administrativo do humanitarismo. A cidade abriga mais de 200 organizações internacionais, como as sedes da ONU (Organização das Nações Unidas), da Cruz Vermelha e da OMC (Organização Mundial do Comércio). E também concentra um sem-número de bancos mundialmente reconhecidos por garantirem sigilo absoluto das contas de seus correntistas. Mas a maior contribuição de Genebra para o mundo não reside exatamente em suas instituições, e sim no seu caráter multicultural, que flui em teatros, óperas, mais de 1.300 cafés e restaurantes de gastronomia requintada, além de 2 mil anos de história retratados em dezenas de museus. Não à toa, 43% dos seus 185 mil habitantes são estrangeiros, que convivem em perfeita harmonia a despeito da variedade de idiomas, preferências gastronômicas e manifestações artísticas. Definitivamente, a neutralidade suíça não faz de Genebra uma cidade morna. É imparcial sim, mas cheia de personalidade”. (GENEBRA. Disponível em: http://viajeaqui.abril.com.br/cidades/suica-genebra. Acesso em: 10 out. 2014) Haredim: palavra também grafada como haredi (palavra hebraica cujo significado pode ser “temente”). Algumas fontes alertam que, atualmente, o termo pode ser considerado pejorativo, dependendo do contexto em que é utilizado. “A comunidade haredi, concentrada nos bairros religiosos de Jerusalém, é notável por seu isolamento e por sua força política, enquanto seus membros são isentos do serviço militar em troca de seus estudos religiosos.” (BERCITO, 2014, s.p.). Paráfrase: fenômeno linguístico que se apropria de determinado conteúdo (texto ou fala) transformando a maneira em que fora apresentado. A paráfrase acontece, basicamente, quando o conteúdo é mantido e a forma é modificada. Pragmático: realista, objetivo. É um adjetivo derivado do substantivo “Pragmatismo”, doutrina filosóficaque defende que as ideias devem ter uma aplicação prática.
Princípio: ponto de partida para julgar a validade de um caminho antes de se tomar uma decisão. Os princípios pessoais nascem das crenças e dos significados que as pessoas atribuem a suas próprias experiências. Os princípios éticos surgem das crenças e valores de determinada sociedade em determinado tempo
Aula 2
Pensando em relações humanas
Da Antiguidade ao Iluminismo Costuma-se dividir a história ocidental em três períodos: Antiguidade, Idade Média e Idade Moderna. Quanto à nossa contemporaneidade, ou seja, o momento em que vivemos agora, ainda não há um consenso de como chamá- la. Alguns usam o termo pós-modernidade, enquanto outros usam a expressão modernidade tardia. É provável que, somente em uma próxima era histórica, tenhamos um nome oficial para esta era em que vivemos. Na Antiguidade, as relações humanas alcançavam uma dimensão importante pelo encontro das pessoas na cidade. Lá, eram realizadas trocas comerciais e trocas culturais. Aliás, o papel original da política surgiu nesta época. Formada por duas palavras gregas, pólis (cujo significado era cidade) e tikós (cujo significado era bem comum), a política propunha-se a ser um instrumento para o bem viver em sociedade. A conduta humana era fundamentada na crença de que o universo, sendo finito e ordenado, reservava uma missão de vida a cada indivíduo, que tinha a responsabilidade de desabrochar suas potencialidades e cumprir essa missão que o Cosmos lhe reservara. Ao deslocarmos nosso olhar para a Idade Média, encontraremos relações definidas por uma hierarquia de categorias sociais bem definidas: a realeza, a Igreja, os senhores feudais, os artesãos e os camponeses. Não havia mais a crença em um universo finito e ordenado. Era a Igreja Católica que determinava o código de conduta e regulava o convívio social. As relações humanas, na época medieval, eram marcadas por uma maioria de camponeses e artesãos pobres e aterrorizados por epidemias que eram vistas como castigo do demônio. Eles eram explorados por tributos dos senhores feudais e da Igreja, cujo clero constituía-se principalmente de indivíduos ricos. O calendário anual era marcado por atividades religiosas. As doenças eram tratadas com exorcismos. A Igreja monopolizava o conhecimento com a tutela das bibliotecas. Sua atuação não se limitava aos aspectos religiosos, pois eram os papas que coroavam os imperadores nas cerimônias de sagração.
io de impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em língua portuguesa ou qualquer outro idioma. Diante dessa descrição sobre a Idade Média, compreendemos por que muitos autores achamam de Idade das Trevas! Saiba Mais! Como era a vida na Idade Média Este texto, veiculado pela revista Aventuras na História, apresenta como teria sido o cotidiano da vida medieval: CORDEIRO, Tiago. Como era a vida na Idade Média. Aventuras na História, 1 abr. 2010. Disponível em: http://goo.gl/31pfDf. Acesso em: 21 out. 2014. Para combater as sombras que pairavam sobre as relações humanas medievais, surgiu o Iluminismo. O Iluminismo e a Revolução Francesa Resgatando o que foi o Iluminismo, vamos nos lembrar de que se tratou de um processo cultural que envolveu intelectuais da Europa do século XVIII. O Iluminismo propunha, principalmente: a valorização da razão humana, o domínio da natureza por meio do conhecimento e o questionamento à intolerância da Igreja e do Estado. A partir de então, a Igreja foi perdendo seu poder junto às sociedades ocidentais. A humanidade descobriu que as epidemias ocorriam por falta de higiene, e não por interferências do demônio. Descobriu-se, também, que as melhores colheitas aconteciam pela aplicação de técnicas agrícolas, e não com rituais religiosos. E ficou claro que pedaços do céu não estavam à venda. Foi o Iluminismo que impulsionou a Revolução Francesa em 1789. O Regime Absolutista da França daquela época inflamou a população, miserável e revoltada, contra a realeza. O contexto daquela época se parecia com um grande caldeirão, em que borbulhavam questões políticas, sociais, culturais e econômicas sobre as labaredas do anseio popular e da violência humana.
É incrível como alguns eventos históricos trazem à tona o melhor e o pior das relações humanas. A Revolução Francesa, por exemplo, mostrou uma sociedade que buscava mais igualdade e liberdade, ao mesmo tempo em que se utilizava de ações violentas, como torturas e massacres, para atingir seus objetivos tão iluminados. Saiba Mais! A Revolução Francesa O artigo, a seguir, trata da Revolução Francesa, um dos mais importantes acontecimentos da história do Ocidente. MACHADO, Fernanda. Revolução Francesa: Queda da Bastilha, jacobinos, girondinos, Napoleão. Revista Pedagogia e Comunicação, Seção História Geral, 15 jul. 2013. Disponível em: http://goo.gl/rej46m. Acesso em: 21 out. 2014. Maria Antonieta Caso você queira combinar seus estudos com entretenimento, poderá assistir ao filme Maria Antonieta. Com uma bela fotografia, ele ilustra como eram as relações humanas na cultura francesa da época. MARIA Antonieta. Direção de Sofia Coppola. Produção de Sofia Coppola, Rose Katz. EUA: American Zoetrope, Columbia Pictures do Brasil, 2007. 1 bobina cinematográfica. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uBsSioNmQRI. Acesso em: 21 out. 2014.
A Revolução Industrial A Revolução Francesa acelerou a Revolução Industrial, que trouxe avanços tecnológicos como a máquina a vapor e a eletricidade: surgia a Modernidade. As novas técnicas de produção, que esses inventos propiciavam, levavam a humanidade a manipular os recursos naturais como nunca havia feito. Novas divisões sociais surgiram: de um lado, os proprietários dos meios de produção; de outro lado, os trabalhadores. A nova relação social era estabelecida entre capital e mão de obra. A Revolução Industrial foi um processo que se iniciou na Inglaterra. Não há um consenso, entre os historiadores, a respeito de datas específicas. O que é de se esperar, pois mudanças socioeconômicas não acontecem do dia para a noite. São resultados de todo um processo que envolve também muitas outras dimensões, como a política, a cultural e a tecnológica. O que nos importa, neste momento, é saber que, entre 1840 e 1870, o progresso tecnológico e econômico ganhou força na Inglaterra com a adoção crescente de barcos a vapor, navios, ferrovias, fabricação em larga escala de máquinas e o aumento de fábricas que utilizavam a energia a vapor. Saiba Mais! A Revolução Industrial na Inglaterra Para saber mais sobre a Revolução Industrial, o documentário A Revolução Industrial na Inglaterra, produzido pela Enciclopédia Britânica, aborda o contexto vivido pela Inglaterra durante este processo, abordando de modo bastante didático os principais pontos deste momento histórico. Vale a pena conferir! A REVOLUÇÃO Industrial na Inglaterra. (The Industrial Revolution in England) Produtor: David Thomson. Produção: Encyclopaedia Britannica Films, inc.; Encyclopaedia Britannica Educational Corporation. Chicago: Encyclopaedia Britannica Educational Corp., 1959. VHS. Duração: 26 min.
O advento das máquinas trazia promessas de melhorias na vida social e econômica. As ideias eram animadoras, afinal, as 18 horas que um artesão levava para produzir um sapato poderiam se transformar em 20 minutos de trabalho com a utilização das máquinas! Era claro o crescimento monstruoso da produtividade, não era? Assim, era possível concluir que as horas de trabalho na indústria iriam diminuir. As vendas aumentariam, e os operários poderiam ganhar mais. Ganhando mais, eles também poderiam comprar mais. Mais compradores, mais produção, mais venda e, assim, um ciclo econômico saudável que iria beneficiar todo o país! Puxa! Parecia um sonho, não? Na verdade, esse sonho não foi realizado plenamente. Você deve se lembrar de que, antes da chegada das máquinas, a sociedade da época era formada por nobres, burgueses, artesãos, agricultores e clero. A mudança de classe social não era possível aos indivíduos. Então, perguntamos: será que os artesãos e agricultores teriam condições de comprar máquinas e construir fábricas? Claro que não! Na verdade, eles acabaram constituindo a classe operária. E aqueles que tinham riqueza para se apropriar das máquinas (como os burgueses, por exemplo)? Será que eles se contentariam em vender a um preço baixo os produtos fabricados com o gasto de altos salários ao proletariado? A resposta é negativa também... As vendas aumentaram, sim, pois quem já era rico passou a comprar mais. O preço dos produtos não diminuiu proporcionalmente. Quanto aos operários, eles recebiam baixíssimos salários e péssimas condições de trabalho, pois os proprietários do capital não queriam comprometer seus lucros. O país se beneficiou, exportando muitos produtos. E a população em geral? Bem, teria de se organizar em sindicatos para combater a exploração pela qual sofria. Mas isso aconteceu bem depois.
O Capitalismo Se, até a Idade Média, os códigos de conduta eram determinados pela polaridade Igreja/Estado, com a Modernidade, um terceiro poder interfere na ordem das relações humanas: o capitalismo. Os proprietários das máquinas, ferramentas e recursos financeiros (os capitalistas) começaram a lucrar por meio da exploração de trabalhadores (o proletariado). Expliquemos: para ganhar mais com a venda de um produto, o capitalista oferecia a remuneração mais baixa possível ao proletariado. Deste tipo de relação social eclodiram as lutas de classes. De um lado, os capitalistas, tentando maximizar seus lucros, de outro lado, o proletariado, reivindicando melhores salários. Após a Segunda Guerra Mundial (1945), foi possível perceber algumas movimentações político-econômicas na Europa Ocidental, Estados Unidos e Japão. Uma das características marcantes foi o início de um processo de regulação da política macroeconômica pelo Estado para garantir o equilíbrio no campo econômico e a paz social no âmbito político. Para estimular o desenvolvimento da atividade produtiva, o Estado oferecia empréstimos e investimentos de longo prazo. Uma nova base para o regime de acumulação ‒ característico do capitalismo ‒ surgiu com um tripé formado pelo Estado, grandes corporações e sindicatos. Para nós, ocidentais, o regime capitalista é o que há de mais familiar, não é mesmo? Estamos imersos nele! Grande parte de nossas relações humanas acontece por meio da economia capitalista. No entanto, o capitalismo não é uma política econômica universal. Nem todos os países o adotaram. É claro que algumas nações socialistas converteram-se. Vale lembrarmos de um fato histórico muito marcante: a Queda do Muro de Berlim, em 1989. Esse evento acelerou as consequênciasda globalização, como a desregulamentação econômica em grande parte dos países pelo mundo.
Saiba Mais! Fonte: http://www.livronauta.com.br/livro-Karl_Marx-A_Mercadoria-Atica-Flordolaciolivros-Sao_Paulo- 19648026. Acesso em: out. 2014 Publicado em 2006 pela Editora Ática, o livro Karl Marx: a mercadoria é um ensaio comentado por Jorge Grespan a respeito do primeiro capítulo da obra O Capital, de Karl Marx. A obra nos faz compreender a visão marxista a respeito do papel da mercadoria nas relações sociais do mundo moderno. Reproduzindo um trecho da quarta capa do livro: “as relações sociais do mundo moderno aparecem invertidas, coisificando as pessoas e conferindo às coisas, ao mesmo tempo, um poder sobrenatural”. MARX, Karl. A mercadoria. Tradução e Comentário Jorge Grespan. São Paulo: Editora Ática, 2006. A Globalização Quando lemos notícias sobre globalização, podemos até achar que se trata de um fenômeno recente, não é mesmo? Só que muitos de seus aspectos já existiam desde a época dos fenícios. Podemos mencioná-los: interação humana em longas distâncias, expansão do comércio além dos limites locais, influência de culturas de outras nações, entre outros. Não há uma forma única de abordar o assunto da globalização. Alguns estudiosos consideram que se trata de um processo que surgiu com o início da expansão do capitalismo (século XVI). Outros preferem datar essa origem em meados do século XX, com o desenvolvimento das tecnologias da comunicação e da divisão internacional do trabalho. Canclini (2007, p. 41) explica que essas diferenças se devem ao modo como se define o processo da globalização. Aqueles que atribuem uma origem mais antiga consideram principalmente seu aspecto econômico. Os que atribuem uma origem mais recente consideram principalmente as dimensões políticas, culturais e comunicacionais. Sejam quais forem as considerações utilizadas na abordagem da globalização, trata-se de um processo que interfere nas relações humanas. Não podemos negar que a grande mola propulsora para o processo de globalização é a economia capitalista, e que as tecnologias da comunicação garantem a viabilização desse processo. Muito mais do que mercados internacionais, o mercado global permite, aos grandes grupos empresariais, a exploração de recursos de baixos custos (como fontes energéticas e mão de obra) praticamente em qualquer lugar do mundo, assim como oferecer seus produtos aos consumidores mais atraentes, estejam onde estiverem. Se, por um lado, a globalização nos leva à ideia de ligação entre os povos e a disponibilidade de tudo para todos, por outro lado, ela também pode levar ao agravamento de problemas e conflitos como desemprego, poluição, violência, narcotráfico, entre outros (CANCLINI, 2007, p. 43). Para compreendermos melhor, vamos imaginar uma grande corporação que desloca sua produção para determinado país cuja mão de obra tenha um custo muito baixo. Uma das consequências imediatas será o desemprego no país de origem dessa empresa. Outra consequência da globalização, que também devemos considerar, é a desvalorização crescente dos recursos humanos em países mais pobres.
Saiba Mais! Bangladesh: a revolta da "mão de obra barata" após desmoronamento de fábrica Centenas de milhares de trabalhadores envolveram-se em confrontos com a polícia, dois dias depois de o desmoronamento de uma instalação fabril matar mais de 270 pessoas nos arredores da capital. As autoridades tinham conseguido retirar 45 sobreviventes dos escombros do edifício que empregava mais de 3 mil pessoas, albergando vários ateliês pertencentes a empresas como a espanhola Mango ou a britânica Primark. BANGLADESH: a revolta da "mão de obra barata" após desmoronamento de fábrica. Euronews, 26 abr. 2013. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=33qwY_jWudE. Acesso em: 19 out. 2014. Cultura e Discriminação Se pudéssemos simplificar o conceito de cultura, diríamos que ela é “formada por comportamentos humanos padronizados e regulados não pela vontade, desejo ou crença individual, mas pelos hábitos e costumes e, também, por certa imposição do meio social circundante” (COSTA, 2010, p. 15). Apesar de haver diferenças entre as culturas das mais diversas sociedades estabelecidas pelo mundo, “há elementos básicos que estão presentes em todas elas: as crenças; os valores; as normas e sanções; os símbolos; o idioma e a tecnologia” (DIAS, 2011, p. 50). Analisar a cultura de determinada sociedade nos permite compreender como ocorrem as relações humanas nessa sociedade. Você já ouviu falar do sistema de castas na Índia? Extintas por lei no fim da década de 1940, as castas faziam parte de um sistema de organização social que classificava as pessoas segundo a cor da pele e o grupo em que nasciam. Segundo o historiador Ney Vilela (apud NAVARRO, s.d.) da Unesp de Bauru, “define-se casta como um grupo social hereditário, em que as pessoas só podem casar-se com pessoas do próprio grupo, e que determina também sua profissão, hábitos alimentares, vestuário e outras coisas, induzindo à formação de uma sociedade sem mobilidade social”. Imagine nascer em uma casta menos privilegiada e não poder conquistar melhorias para sua própria vida. Tratava-se de um sistema de organização social em que não se dava o menor valor ao mérito. As relações sociais eram estabelecidas, desde o nascimento do indivíduo, com base na discriminação. Esse sistema foi extinto, mas ainda resta muito preconceito frente à origem familiar de cada pessoa. Na verdade, mesmo em sociedades que não tenham o sistema de castas, podemos encontrar dificuldades de mobilidade social. Seja por questões econômicas, educacionais, políticas ou religiosas, diferenças sociais estão presentes em toda a história da humanidade, e interligada a elas está a discriminação. As diferenças culturais podem provocar curiosidade e estranheza. Os muçulmanos consideram indecente uma mulher exibir o próprio rosto. Para a mulher ocidental, isso chega a ser bizarro. As mulheres de Bali expõem os seios e ocultam as pernas. As brasileiras acham normal exibirem suas pernas e acham indecente exibir os seios. Na Tailândia, não se pode acariciar a cabeça de uma criança, pois, segundo a tradição local, as crianças estão sob a proteção de Deus (DIAS, 2011, p. 133). Aqui, no Brasil, acariciar a cabeça de uma criança é uma prática bastante comum e considerada uma demonstração de carinho. Infelizmente, muitos conflitos e guerras são consequências de reações mais extremadas frente às diferenças culturais.
Saiba Mais! O sistema social de castas na Índia e no mundo Confira mais informações sobre o sistema de castas sociais que, embora proibido na Índia e em outros locais do mundo, ainda influencia as relações humanas: NAVARRO, Roberto. O que é a sociedade de castas que existe na Índia? Mundo Estranho, Edição 66, s.d. Disponível em: http://goo.gl/oNc77A. Acesso em: 19 out. 2014. PINHEIRO, Cláudio Costa. A hierarquia da sociedade indiana. Ciência Hoje, 31 maio 2012. Disponível em: http://goo.gl/oNc77A. Acesso em: 21 out. 2014. Evolução Tecnológica Nos últimos tempos, a evolução tecnológica tem crescido em ritmo acelerado. Se, na época das cavernas, as ferramentas mais importantes do homem eram sua machadinha e seus próprios dentes, hoje, vivemos rodeados por satélites, cabos de fibras ópticas e computadores dos mais variados tipos, tamanhos e potências. As relações humanas são intermediadas pela tecnologia. Do giz e quadronegro ao celular de última geração, temos as mais variadas tecnologias aplicadas na interação humana. Umas priorizam a relação presencial; outras, a relação a distância. O uso das novas mídias possibilita o contato de pessoas pelo mundo, apesar de não terem o mesmo idioma, as mesmas crenças ou as mesmas situações socioeconômicas. Novas formas de relações humanas surgiram com o advento da internet. Nas palavras de Costa (2010, p. 179):
Relações que se criam com a comunicação em rede, pelo compartilhamento de informações, pela interatividade proposta por um jogo, pela colaboração em alguma forma de trabalho, ou pelasolidariedade em relação a algum acontecimento da sociedade, constituem novas formas de sociabilidade. Se, por um lado, podemos elencar numerosos benefícios trazidos pelas novas tecnologias da comunicação, por outro, há algumas questões que nos convidam a refletir sobre o que ainda deve ser melhorado nas relações humanas intermediadas pelas tecnologias da comunicação. Matos (2012) destaca que a globalização dos meios de comunicação nos exige a responsabilidade ética, uma vez que nos tornamos o ponto de emissão e de recepção instantaneamente. Segundo ele, a tecnologia põe as pessoas em contato sem promover o relacionamento humano, que é fundamentado em uma comunicação que leva à avaliação crítica, ao discernimento das respostas, ao agregar conhecimento (MATOS, 2012, p. 32). Outra reflexão bastante pertinente é sobre a exclusão social pela exclusão digital. Um relatório independente, intitulado “Redefinindo a Exclusão Digital” (lançado no Fórum Global de Banda Larga Móvel 2013), declarou que, à medida que o acesso à rede está sendo resolvido em muitos países, inúmeros novos desafios, cada vez mais humanos, tais como acessibilidade e falta de habilidades, estão tornando-se as principais causas da exclusão digital para milhões de pessoas (FURLAN, 2013). Saiba Mais! Exclusão digital é retrato da exclusão social Leia mais sobre o relatório “Redefinindo a Exclusão Digital” (lançado no Fórum Global de Banda Larga Móvel 2013). Acesse o link:
FURLAN, Paula. Exclusão digital é retrato da exclusão social. 8 nov. 2013. Disponível em: http://goo.gl/xS4dDC. Acesso em: 19 out. 2014. Ser impedido de participar desta grande rede tecnológica propiciada pela internet também é uma forma de exclusão social, desenhando-se um novo tipo de marginalização. Social x Individual Até este momento, priorizamos uma abordagem bem macro a respeito das relações humanas, como você deve ter percebido. Nosso olhar foi distanciado do indivíduo em si mesmo para compreendermos movimentações sociais. Partimos da premissa de que, sendo uma criatura gregária, o homem prefere viver em grupos, ou seja, em sociedade. Então, trabalhamos nossos estudos por meio de verdadeiras pinceladas históricas que pudessem nos mostrar as dimensões macro e externa do ser humano em sua vida em sociedade. Porém, se a sociedade é constituída por indivíduos, os aspectos micro e internos também devem ser levados em consideração quando refletimos sobre relações humanas, não é mesmo? Podemos arriscar a dizer que é recente o pensamento que valoriza as questões individuais nas relações sociais. Aliás, tem sido um grande desafio, para a sociedade contemporânea, chegar a códigos de condutas sociais que sejam aceitos e praticados pela maioria, pois os indivíduos já reconhecem seu direito de levar a vida do jeito que acharem melhor. Na Antiguidade, cada indivíduo acreditava que havia uma missão cósmica reservada para ele. Na Idade Média, invariavelmente, príncipe virava rei e filho de artesão virava artesão. Na Modernidade, ou se era dono do capital ou proletário. Na contemporaneidade, podemos ser o que quisermos! Apesar da simplificação que utilizamos nesta exposição, a verdade é que, em nossa atualidade, não há papéis sociais absolutamente definidos como foi até então. Nos dias de hoje, podemos até mesmo mudar de sexo!
As relações humanas contemporâneas são complexas e cada vez menos delimitadas. Um anônimo hoje pode ser uma celebridade da internet amanhã. Uma celebridade de ontem pode viver no anonimato hoje. Um miserável pode enriquecer com a loteria. Um milionário de capa de revista pode ser encontrado vagando sem teto pelas ruas no futuro. As relações humanas em nossa contemporaneidade nos colocam desafios inéditos. Ao mesmo tempo, elas continuam tendo, como pano de fundo, as questões sociais, culturais, econômicas, políticas, religiosas e tecnológicas. Saiba Mais! Novos sujeitos, novos relacionamentos Neste programa, o psicanalista e doutor em filosofia Joel Birman e sua convidada, a psicóloga Marcia Arán, discutem questões sobre as identidades sociais construídas em função do gênero (ou seja, em função de o indivíduo ser homem ou mulher). Esse programa do Café Filosófico nos provoca a refletir sobre as implicações dos movimentos feministas e dos movimentos GLS nas relações sociais contemporâneas. Vale a pena assistir! NOVOS sujeitos, novos relacionamentos. Palestrantes: Joel Birman e Márcia Arán. Café Filosófico. Módulo: Subjetivações Contemporâneas. Jul. 2009. Disponível em: http://goo.gl/u6OVB1. Acesso em: 21 out. 2014. Cosmos: ou Cosmo tem sua origem na palavra grega kósmos e significa ordem, organização, beleza, harmonia. É o conjunto de tudo o que existe, desde o microcosmo ao macrocosmo, das estrelas até as partículas subatômicas. O macrocosmo é o grande mundo, o Universo como um todo orgânico, em oposição ao ser humano (microcosmo), segundo as doutrinas filosóficas que admitem uma correspondência entre as partes constitutivas do Universo e as partes constitutivas do Homem. (SIGNIFICADOS.COM. Disponível em: http://www.significados.com.br. Acesso em 21 out. 2014) Crenças: são ideias sobre a natureza da vida. “Os indianos que seguem o budismo acreditam que sua alma reencarna em animais e objetos, por isso cultuam muitos animais que acreditam ser antepassados reencarnados. Para um ocidental que segue a religião cristã essa crença não tem nenhum significado.” (DIAS, 2011, p. 51). Discriminação: envolve a exclusão de pessoas, ou de grupos de pessoas, de um sistema de convivência e de direitos garantidos, seja por motivos sociais, religiosos, raciais, sexuais ou outros. Idioma: “é um elemento-chave da cultura. Considerando que outros animais se comunicam por sinais (sons e gestos cujos significados são fixos), os humanos se comunicam por meio de símbolos (sons e gestos de cujo significado depende de compreensões compartilhadas). Podem ser combinadas palavras de modo diferentes para carregar um número ilimitado de mensagens, não só sobre o aqui e agora, mas também sobre o passado e o futuro. O idioma é um sistema de símbolos que permitem que os membros de uma sociedade comuniquem-se uns com os outros.” (DIAS, 2011, p. 52). Normas: “traduzem crenças e valores em regras específicas para o comportamento. Detalham aquilo que pode e que não pode ser feito. Podem ser codificadas no direito (formal) ou ritualizadas nos costumes (informal). Utilizar o cinto de segurança nos carros passou a ser uma norma (formal). O fato de as pessoas sentarem nas cadeiras e não no chão é uma norma (informal). As normas variam bastante em intensidade, indo desde as mais rigorosas que regulam o comportamento nas religiões, até aquelas que norteiam nossos hábitos cotidianos.” (DIAS, 2011, p. 51) Sanções: “são punições e recompensas que são utilizadas para fazer com que as normas sejam seguidas. Sanções formais são recompensas e punições oficiais e públicas; sanções informais são não oficiais, às vezes são sutis e até mesmo provocam reações inconscientes no comportamento cotidiano. Tanto as sanções positivas, como o aumento de salário, uma medalha de honra ao mérito, uma palavra de gratidão, um tapinha nas costas, ou um sorriso, como as sanções negativas, multas, ameaças, prisão, beliscão ou um olhar de desprezo são utilizadas para fazer com que haja uma conformidade com as normas.” (DIAS, 2011, p. 51-52) Símbolos: “são definidos como qualquer coisa que carrega um significado particular reconhecido pelas pessoas que compartilham uma determinada cultura. Um mesmo objeto pode simbolizar sentimentos diferentes em culturas diferentes. Um saiote na cultura escocesa é símbolo de masculinidade, o mesmo saiote na cultura brasileira tem o significado oposto – feminilidade.” (DIAS, 2011, p. 52) Sistema: é o conjunto de partes (ou subsistemas) que se relacionam entre si, uma dependendo da outra e uma influenciando a outra, de modo a formar um todo que alcance determinado resultado para ele mesmo e para suas partes. Tecnologia: “A palavra tecnologia tem origem no grego ‘tekhne’ que significa ‘técnica,arte, ofício’ juntamente com o sufixo ‘logia’ que significa estudo. As tecnologias primitivas ou clássicas envolvem a descoberta do fogo, a invenção da roda, a escrita, dentre outras. As tecnologias medievais englobam invenções como a prensa móvel, tecnologias militares com a criação de armas ou as tecnologias das grandes navegações que permitiram a expansão marítima. As invenções tecnológicas da Revolução Industrial (século XVIII) provocaram profundas transformações no processo produtivo. A partir do século XX, destacam-se as tecnologias de informação e comunicação através da evolução das telecomunicações, utilização dos computadores, desenvolvimento da internet e ainda, as tecnologias avançadas, que englobam a utilização de Energia Nuclear, Nanotecnologia, Biotecnologia, etc. Atualmente, a alta tecnologia, ou seja, a tecnologia mais avançada é conhecida como tecnologia de ponta.” (SIGNIFICADOS.COM. Disponível em: http://www.significados.com.br. Acesso em: 21 out. 2014). A tecnologia “estabelece um parâmetro para a cultura e não só influencia como as pessoas trabalham, mas também como elas socializam e pensam sobre o mundo. Para uma pessoa do mundo rural, uma cidade grande como São Paulo pode parecer tão fantástica como um parque de diversões para uma criança.” (DIAS, 2011, p. 52) Valores: “são concepções coletivas do que é considerado bom, desejável, certo, bonito, gostoso (ou ruim, indesejável, errado, feio e ruim) em uma determinada cultura. Valores influenciam o comportamento das pessoas e servem como critério para avaliar as ações dos outros. [...] Os japoneses apresentam valor da lealdade familiar. Em contraste, os americanos valorizam o individualismo.” (DIAS, 2011, p. 51)
Aula 3
Pensando sobre o Individuo
A Individualidade A individualidade pode tornar-se pivô de debates das mais diversas naturezas: política, religiosa, legal, filosófica, entre outras. Se formos curiosos, vamos descobrir que a palavra indivíduo vem do latim: individuus, ou seja, o que não é divisível. Afinal, por que tantas discussões opõem-se à individualidade, julgando-a inimiga do bem viver em sociedade ou oposta à caridade? Alguns chegam a dizer que o individualismo é como doença que isola a pessoa que não quer compartilhar experiências com seus semelhantes. Você já pensou sobre isso? O que é ser um indivíduo? Como dissemos, muitas áreas de estudo pesquisam a maneira de nos enxergamos como indivíduos. O psiquiatra Jacques Lacan passou cerca de 30 anos de sua vida desenvolvendo um trabalho conhecido por estádio do espelho. O que motivou suas primeiras investigações para esse trabalho foi observar a reação de uma criança de colo ao olhar-se no espelho. Notou-se que ela conseguia perceber-se como criatura distinta daquela que a segurava, assim como de tudo ao seu redor. A observação de Lacan nos leva a compreender que, desde muito cedo, podemos nos perceber como pessoas que têm suas próprias ideias e suas próprias emoções. Quando nos descobrimos pensadores de nosso próprio mundo interior tomamos consciência de nossa individualidade. Em sua obra, a autora Costa (2010, p. 83) explica a conclusão de Lacan: Lacan teve então a certeza de se tratar de uma experiência cognitiva fundamental – mesmo sem ser capaz de manter a postura ereta ou de articular a palavra “eu”, o ser humano experimenta a matriz simbólica do Eu que o acompanhará pela vida toda. Trata-se de uma experiência de natureza simbólica que faz emergir a capacidade humana de se relacionar com o mundo circundante, e consigo próprio, por intermédio de signos.
Se você se assustou com a quantidade de termos técnicos dessa citação, não se preocupe! Não vamos embarcar em fundamentos da psicologia. Gostaríamos apenas de destacar que nos tornamos indivíduos quando tiramos significados pessoais de nossas próprias experiências de vida. Se pudéssemos explicar, de forma simplificada, o que é uma experiência de natureza simbólica, diríamos que se trata de uma experiência com base em símbolos e, portanto, não alcança uma explicação muito objetiva. Ou seja, quando você tenta explicar como foi essa experiência, você acaba falando coisas como: “um cheiro de gosto azedo” ou, então, “borboletas em meu estômago” ou “sons do silêncio”. É claro que a psicologia explicaria de forma muito mais elaborada. Jung, por exemplo, diria algo parecido com: [...] o símbolo é a melhor expressão possível de algo relativamente desconhecido, pois ele representa por imagens, experiências e vivências que incluem aspectos conscientes e inconscientes, isto é, desconhecidas da consciência. Como tal, o símbolo participa e existe sob a forma vivencial e experiencial, sendo impossível de ter seu significado esgotado ou determinado, possibilitando estabelecer múltiplas relações e analogias (JUNG apud SERBENA, 2010). Também devemos ressaltar que o significado de signo, mencionado na citação de Costa (2010, p. 83), nada tem a ver com astrologia... O signo é um elemento da linguagem humana que nos permite associar significados às coisas que nos rodeiam (desde as materiais até as imateriais). Esses significados são bastante complexos, envolvendo nossos sentidos e nossa mente. Vamos usar um exemplo? A ideia de “chuva” pode ser dita, escrita ou desenhada. Qualquer uma dessas formas pode ser considerada um código que carrega em si duas partes: aquela expressa pela forma representada (verbal, escrita ou desenhada) e aquela que nossa mente concebe como significado. Essas duas partes estão sempre presentes em qualquer signo utilizado pela humanidade. Para compreendermos melhor a capacidade humana de se relacionar por meio de signos, vamos propor-lhe um exercício mental. Imagine a seguinte situação: duas pessoas estão saindo de um vagão do metrô em São Paulo. Ao começarem a andar pelos corredores, percebem pessoas chegando com seus guarda-chuvas molhados. Para a primeira pessoa, essa imagem gerou uma © 2014 Anhanguera Educacional. Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em língua portuguesa ou qualquer outro idioma. 4 | vontade enorme de chegar logo em casa, porque, certamente, sua mãe areceberia com bolinhos de chuva envoltos com açúcar e canela. Para a segunda pessoa, essa imagem deu-lhe desespero, pois, toda vez que chove, sua casa é tomada por enchente. Não é incrível como um mesmo signo pode despertar emoções e reações tão diferentes nas pessoas? Por mais que os mesmos indivíduos vivam em uma mesma sociedade, com a mesma cultura e, quem sabe, com a mesma educação, a individualidade está no interior de cada um. Não há como eliminá- la. Saiba Mais! Somos Todos Mutantes Nesta reportagem da Revista Superinteressante, discute-se o impacto que o surgimento de um indivíduo diferente em um grupo pode causar. O comportamento de rejeitar aquele que não é igual a todos acontece em muitas espécies, além da humana. “O problema é que sempre nos juntamos em tribos de ‘iguais’ para lutar contra qualquer coisa que pareça diferente. É parte da nossa natureza. É parte da natureza de qualquer animal - até por isso todos os mutantes sofrem, em todas as espécies. Mas, ironicamente, são os mutantes, os diferentes, que fazem a evolução andar. Não fosse por eles, nem seríamos todos macacos. Seríamos todos amebas, porque a evolução nem teria acontecido. Mas graças a ela, hoje, temos neurônios o bastante para decidir não nos comportar como amebas; cérebro suficiente para entender que o próprio conceito de raça é uma ilusão. Perpetrada por um instinto estúpido”.
VERSIGNASSI, Alexandre. Somos todos mutantes. Superinteressante.com, maio 2014. Disponível em: http://super.abril.com.br/cotidiano/somos-todosmutantes-803001.shtml. Acesso em: 27 out. 2014. A Identidade Os papéis sociais eram claros há bem pouco tempo. Pelo menos, isso é o que a história da humanidade nos mostra. Na Grécia antiga, os papéis eram designados pelo Cosmo finito e ordenado. Na Era Medieval, os papéis eram assumidos desde o berço: o clero, a realeza e os plebeus. Com a Modernidade: a burguesia eo proletariado. A relação humana, na verdade, sempre se baseou nas relações entre os papéis sociais. A relação entre mestre e discípulo; senhor feudal e vassalo; padre e fiel; rei e súdito; senhor de engenho e escravo; ricos e pobres; chefe e funcionário; marido e esposa. Esta lista pode ir bem longe! O papel social garante uma identidade ao indivíduo. Se, por um lado, a construção identitária facilita a estruturação de uma sociedade, por outro lado, pode sufocar os talentos individuais de uma pessoa. Ao mesmo tempo, dar vazão às manifestações dos talentos individuais pode desestruturar completamente os códigos de conduta de uma sociedade que se organiza pela imposição de papéis para cada um de seus integrantes. Em nossa contemporaneidade, o indivíduo já tem bastante liberdade para escolher a trajetória de sua vida. E, ao mesmo tempo, grandes debates são inflados com a questão da quebra ética e do costume da má conduta que o individualismo pode causar. Talvez sejam os dois lados da moeda: a liberdade de ser o que se quer ser e a responsabilidade em ser agente para o bom convívio social.
Sujeito e Subjetivação Nos dias de hoje, os interesses individuais têm encontrado muitos caminhos para se manifestarem. Não é para menos que se discute tanto sobre o sujeito quanto sobre a subjetivação. Saiba Mais! Novas Fronteiras da Subjetivação Assista à palestra de Benilton Bezerra Júnior, intitulada Novas Fronteiras da Subjetivação, no Programa Café Filosófico, em 2009, produzido pela TV Cultura. BEZERRA JÚNIOR, Benilton. Novas Fronteiras da Subjetivação. Café Filosófico, 2009. Disponível em: http://www.cpflcultura.com.br/ . Acesso em: 24 out. 2014. Na palestra indicada no Saiba Mais, Dr. Bezerra Júnior define sujeito como o indivíduo que mantém uma relação com o mundo, mediada pela linguagem e pela cultura. Segundo ele, um sujeito é um indivíduo que tem consciência de que é alguém com vontades próprias e tem consciência de que o outro também é alguém com vontades próprias. Você deve estar se perguntando: mas não são assim todos os indivíduos? Na verdade, não! Vamos pensar juntos: será que aquelas pessoas que têm limitações mentais ou cerebrais conseguem manter relações significativas com o mundo a seu redor? Percebemos que não, certo? Seja por não terem consciência ou por não dominarem a linguagem humana. Agora, sim, pudemos compreender a definição de sujeito! Então, vamos passar para a definição de subjetivação. A subjetivação acontece na medida em que o sujeito vai dando significado às suas experiências no mundo em que vive. Essa definição de subjetivação pode nos levar a algumas conclusões: se ela é construída a partir das vivências do sujeito, então ela não é definitiva: enquanto o sujeito estiver vivo, a subjetivação vai acontecendo. Além disso, ela não é válida para todos os sujeitos, pois cada um poderá dar os significados que quiser às suas próprias vivências. Então, vamos a mais uma questão? Quais são as influências que recaem sobre o sujeito na hora em que ele cria significados às suas experiências de vida? Algumas respostas nos vêm à cabeça imediatamente, não é mesmo? Com certeza, a educação que esse sujeito recebeu deve influenciar bastante, assim como seu jeito de ser, ou seja, sua personalidade. A cultura praticada na sociedade em que ele vive também é um fator de influência, além de suas crenças ou doutrinas religiosas. Esta reflexão nos levará a entender que a subjetivação é algo individual, mas totalmente influenciado pelo ambiente que cerca o indivíduo. Mais uma vez, repetimos: o ser humano é uma criatura gregária. Isso significa que a própria individualidade do homem necessita do outro para poder se formar. Como assim? Parece algo bem estranho isso que dissemos, não é mesmo? Convidamos você para nos acompanhar em uma hipótese bastante improvável. Se um ser humano vivesse absolutamente sozinho, desde seu nascimento, ele não ia perceber sua individualidade, porque seria o todo em seu próprio mundo!
Saiba Mais! Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Kaspar_hauser.jpg. Acesso em: 27 out. 2014. O Enigma de Kaspar Hauser A história é de um bebê que teria crescido sozinho dentro de um porão na cidade de Nuremberg, em torno de 1812. Sem qualquer contato humano para que ninguém soubesse de sua existência, ele dormia com uma corrente que o prendia, sentado ao chão. Deixavam-lhe água e comida enquanto dormia. Já na idade adulta, um homem o tira do calabouço e o deixa em uma praça pública na cidade, com uma carta direcionada ao capitão da cavalaria local em 1828. Sem saber falar nem andar, ele passa a fazer seus primeiros contatos com o mundo exterior e a sociedade da época. Ajudado por uma família, ele aprendeu a se comportar, a falar, ler, escrever, tocar piano, além de se interessar por jardinagem. Mas sempre observado com curiosidade e espanto pelos cidadãos. (Fonte: http://www.futura.org.br/blog/2013/01/18/o-enigma-dekaspar-hause-e-a-atracao-da-semana-no-cineconhecimento/. Acesso em: 27 out. 2014). O ENIGMA de Kaspar Hauser. Direção: Werner Herzog. Produção: Werner Herzog. Alemanha Ocidental: Zweites Deutsches Fernsehen (ZDF), 1974. 110 min. Trailer disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=R9qxbd3uR48.
A Redescrição da Subjetividade: as Bioidentidades Enquanto o mundo econômico enfrenta sua crise, assistimos à passagem de uma cultura fundamentada no sujeito psicológico, na qual a identidade estava referida preferencialmente ao registro da vida emocional interior, para outra, a cultura das bioidentidades, na qual a biologia e o corpo são as fontes privilegiadas nas quais buscamos a resposta para a questão fundamental: quem sou eu? CABRAL, Rossano L. A redescrição da subjetividade: as bioidentidades. Café Filosófico, 2009. Disponível em: http://www.cpflcultura.com.br/ . Acesso em: 27 out. 2014. Nós somente nos percebemos como indivíduos e sujeitos porque somos sensíveis às reações das pessoas que estão à nossa volta. E, mais do que isso: dependendo do significado que damos às reações das pessoas à nossa volta, determinamos nossas ações com antecedência, não é mesmo? Quantas vezes percebemos isso em nosso cotidiano! Às vezes, o marido deixa de contar alguns problemas para a esposa porque ela pode reagir mal. Assim, o marido age em função de evitar uma reação indesejável da esposa. Outro exemplo: a jovem que tem seu primeiro encontro leva uma hora para decidir qual roupa vai usar e mais duas horas para se preparar. Tudo isso para conseguir determinada reação de seu pretendente: elogios e aprovação!
Você deve ter percebido que o ponto de vista que utilizamos até agora é ocidental e contemporâneo. A liberdade para as significações individuais, ou pessoais, não é realidade para todas as civilizações. Atualmente, há muitos povos (como alguns orientais, por exemplo) cuja cultura e poder político impõem condutas às pessoas, que acabam sendo obrigadas a agir em função de leis, doutrinas religiosas e tradições culturais. Além disso, o que consideramos autonomia individual hoje nas culturas ocidentais é uma possibilidade recente. Lembre-se: a ditadura militar no Brasil só entrou em decadência há pouco mais de 30 anos! Com as rápidas reflexões que estamos fazendo, percebemos que não há como pensarmos no indivíduo sem pensarmos em relações humanas. Também não dá para pensarmos em relações humanas sem pensarmos em como sustentá- las, ou seja, se o homem depende das relações humanas, o que fazer para que elas sejam duráveis e para que elas realmente agreguem os indivíduos? Cairemos na questão da ética novamente! Não é para menos que pessoas dos mais diversos perfis e formações acadêmicas se debruçam sobre este tema há milênios! Quais devem ser as condutas ideais para que uma sociedade perdure com seus integrantes interagindo de forma satisfatória? Essa forma satisfatória é a mesma para todos os povos? Para todas as gerações? Sabemos que não! O que é aceitável no Brasil não pode nem ser sonhado no Afeganistão. Você já imaginou uma carioca sendo obrigada a usar uma burca? E uma afegã deparando-se comum biquíni tipo “fio dental”? Mesmo que elas mudassem de país, seria penoso tanto para uma quanto para a outra acostumar-se com costumes tão diversos daqueles com os quais foram criadas.
Saiba Mais! Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/07/tribunal-europeu-apoia-lei-francesa-que-proibe-veuislamico-em-publico.html. Acesso em: nov. 2014. Tribunal Europeu apoia lei francesa que proíbe véu islâmico em público Tribunal Europeu de Direitos Humanos concorda com a lei francesa de 2010 que proíbe o uso do véu islâmico integral (burca e niqab) em espaços públicos, pois decisão estaria de acordo com o entendimento de que as autoridades necessitam identificar os indivíduos para prevenir atentados contra a segurança das pessoas, dos bens e lutar contra a fraude de identidade. TRIBUNAL Europeu apoia lei francesa que proíbe véu islâmico em público. Globo.com, 1 jul. 2014. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/>. Acesso em: 28 out. 2014. Ética e Valores A ética depende dos valores cultivados por determinada sociedade, e esses valores vão mudando no tempo e no espaço. Se pararmos para pensar sobre os avanços das pesquisas científicas, vamos concluir que nossos valores têm mudado de forma radical 
Vamos pensar sobre o exemplo dado pelo psicanalista Claudio Cohen, em palestra intitulada A ética nos relacionamentos, produzida pelo Café Filosófico da TV Cultura em 2012: Saiba Mais! A ética nos relacionamentos Gravada no dia 17/03/2006, a palestra expõe uma importante distinção entre ética e moral. Enquanto a moral vem de fora, do social, a ética nasce do indivíduo, vem do ego, pois depende de uma personalidade estruturada. A moral é superegoica, já que se trata de uma imposição do ambiente introjetada nos indivíduos. O programa trata também de questões importantes dos nossos tempos que envolvem a ética, como clonagem, células-tronco e aborto. COHEN, Claudio. A ética nos relacionamentos. Café Filosófico, 2012. Disponível em: http://www.cpflcultura.com.br/wp/2008/12/30/a-etica-nosrelacionamentos/. Acesso em: 20 out. 2014. Ele nos conta que, até há pouco tempo, a área médica julgava a morte de um paciente por sua parada cardiorrespiratória. Ou seja: se o coração parava de bater, os aparelhos eram desligados, e a família tomava as providências fúnebres. No entanto, com o avanço tecnológico da medicina, chega-se à viabilidade do transplante de órgãos. E essa oportunidade de salvar vidas levou toda a sociedade médica a rever o conceito de morte. Dali em diante, o que definiria a morte de um indivíduo seria a morte cerebral. Assim, mesmo com o coração batendo, se houvesse morte cerebral, o corpo era mantido pelos aparelhos até que o órgão pudesse ser retirado, salvando outro indivíduo cujo cérebro ainda funcionasse. Não precisamos descrever como é difícil para uma família ver seu ente querido com o coração batendo com a ajuda de aparelhos e, mesmo assim, ter de considerá-lo morto. São os novos valores da modernidade. Isso não quer dizer que todas as sociedades vejam desta mesma forma. Por exemplo, na época em que os transplantes começaram a ser uma realidade, japoneses budistas recusavamse a receber órgão de um ser morto. Eles tinham outros valores. É comum que pessoas com as mesmas necessidades, interesses e pontos de vista se reúnam para se fortalecer e, assim, conquistar suas aspirações frente a uma maioria ou frente a uma parcela social mais poderosa. Se formos pensar, é assim que muitas revoluções se manifestam. Muitos movimentos sociais acontecem desta forma. Podemos pensar no exemplo dos movimentos feministas e no movimento gay. É inegável que esses movimentos de minorias abalaram os princípios e valores de uma época e plantaram novas possibilidades éticas. Hoje, grande parcela da população feminina ocidental é aceita como mãe solteira sem ter de se esconder da sociedade. As pessoas chamadas, atualmente, de homoafetivas, sentem-se mais à vontade para manifestar suas preferências sexuais. Atualmente, por exemplo, não é ético discriminar alguém cuja cor de pele seja diferente da sua. É, inclusive, uma atitude passível de processos penais. Mal dá para imaginarmos que houve uma época em que os afrodescendentes não eram considerados nem seres humanos! A quebra de tantos paradigmas tem nos trazido muitos ganhos, apesar de nos depararmos, muitas vezes, com questões tão difíceis.
Saiba Mais! Como fazer super bebês “Imunidade a doenças como câncer. Maior resistência à obesidade. Seleção de características estéticas. Tudo isso já pode, ou logo poderá, ser programado antes do início da gravidez. Conheça o admirável (e lindinho) futuro dos bebês.” COSTA, Camilla; GARATONNI, Bruno. Como fazer super bebês. Superinteressante.com, fev. 2012. Disponível em: http://super.abril.com.br/ciencia/como-fazer-super-bebes-677777.shtml. Acesso em: 27 out. 2014. Vamos pensar no caso da fecundação in vitro. Trata-se da possibilidade que indivíduos têm em conceber uma criança mesmo que fisiologicamente seus organismos não sejam capazes de fazê-los naturalmente. A grande discussão ética a respeito é: o que fazer com os embriões que não foram implantados no útero da mãe? Eles podem ser congelados, aguardando sua vez? Afinal, esses embriões devem ser considerados bebês vivos? Nossa vida, nosso dia a dia ‒ seja pessoal, seja profissional ‒ coloca-nos questionamentos constantemente. Como deveríamos nos posicionar frente a eles? Matos (2012, p. 2) afirma que a sociedade apoia-se em três pilares éticos: a criação de oportunidades para todos; a vontade que possa gerar liberdade responsável; e o compromisso com o bem pessoal e o bem comum. Pode ser que, com base nesses pilares, possamos alcançar uma sociedade mais justa, livre e solidária.
Quebra de Paradigmas Abordamos a questão da liberdade que temos como sujeitos detentores de nossas próprias decisões, caminhando por trajetórias que nós mesmos escolhemos. Também comentamos que essa autonomia individual quebra muitos paradigmas sociais. Vamos lembrar: o que é um paradigma? Simplificando, um paradigma é um modelo de pensamento. São ideias já bem estruturadas a respeito de algum assunto. Um paradigma leva à repetição de hábitos, costumes e opiniões. Um paradigma pode engessar o modo de ser das pessoas. É por isso que, diante de algo que choca, mas que de alguma forma leva as pessoas a reverem suas crenças, seus conceitos e valores, é comum que se diga: quebre seu paradigma! O que estamos vivendo atualmente já não tem as mesmas características da Era Moderna. Do século XX para o século XXI, muitos paradigmas foram quebrados. É exatamente por isso que acadêmicos, pesquisadores e cientistas tentam dar um nome para esse tempo em que vivemos. Alguns preferem PósModernidade, outros, Hipermodernidade ou também Modernidade Tardia. A questão é saber se estamos realmente vivendo uma era de ruptura. Como já comentamos antes, talvez nós, que vivemos nesta era, não vamos conseguir mesmo nomeá-la. Isso será possível apenas olhando para trás e dando um nome ao que já aconteceu. Portanto, a tarefa ficará com as gerações futuras, não é mesmo? Uma das maiores responsáveis por estilhaçar os paradigmas mais intocáveis é a biotecnologia. Ela nos choca diariamente com propostas como plásticos que crescem em árvores; açúcar que vira acrílico; bioship que simula metabolismo de medicamentos no corpo humano; e, até mesmo, gravidez em homens! É chocante, sim. Aceitarmos a ideia de um homem grávido dependeria de quebrarmos um paradigma solidamente fundamentado na ciência: o homem tem cromossomos x/y. Isso é um ponto pacífico, não é mesmo? Uma criatura cujos cromossomos sejam x/x só pode ser mulher, certo? Mais ou menos...
Convidamos você para conhecer a história de Thomas Beatie. Sua identidade atual é masculina. Ele é casado com uma mulher, pai de família. Mas Thomas não nasceu com essa identidade. Ele nasceu como Tracy. Não pretendemos explorar aqui os motivos que levaram Tracy a passar por todo um processo biotecnológico de masculinização. Mas, ao fazê-lo, decidiu-se por manter seus órgãos femininos internos– o que lhe permitiu engravidar. Quando Tracy mudou sua identidade para Thomas, desejou ser pai. Tendo seu útero intacto, Thomas tornou-se um homem grávido! Saiba Mais! Homem grávido dá à luz menina nos Estados Unidos O transexual americano Thomas Beatie deu à luz uma menina saudável na cidade de Bend, no Estado de Oregon, noroeste dos Estados Unidos. HOMEM grávido dá à luz menina nos Estados Unidos. BBC BRASIL.COM, 3 jul. 2008. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/. Acesso em: 27 out. 2014. Esta é a nova era em que vivemos: os papéis sociais são fluidos. Tudo pode se transformar radicalmente. As identidades não são determinadas quando nascemos. Podemos mudá-las várias vezes no decorrer de nossas vidas. Essa fluidez dos papéis sociais, atualmente, pode levar a um mal-estar social. Aqueles que se acham portadores de crenças, valores e conhecimentos universais podem ser surpreendidos com novas possibilidades de se olhar a vida. Será que temos o direito de julgar o desejo de ser pai que uma pessoa portadora de cromossomos x/x tenha? Será que temos o direito de julgar uma pessoa, portadora de saudáveis ovários e útero, que não queira ter filhos? Muitas vezes, o que provoca o mal-estar social não é a livre manifestação do sujeito e de suas subjetivações. O que pode provocar o total desastre social é a intolerância. Talvez, ela seja a mãe de muitas guerras... Quebrar paradigmas exige nos depararmos com perguntas como: 1. Qual deveria ser o limite de ação para a humanidade? 2. Até que ponto os avanços científicos são positivos para a evolução humana? 3. É possível conciliar os interesses individuais com os interesses da coletividade? 4. Qual é o equilíbrio entre tolerância e ordem social? Não existem respostas prontas! Que tal refletirmos sobre todas as que são possíveis? Bons estudos! Burca: símbolo do talibã afegão usado tradicionalmente pelas mulheres das tribos pashtuns do país. Cobre completamente a cabeça e o corpo, inclusive os olhos, em que há uma rede para permitir a visão. (Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/07/tribunal-europeu-apoia-lei-francesaque-proibe-veu-islamico-em-publico.html. Acesso em: 28 out. 2014. Experiência cognitiva: trata-se da experiência que ocorre por meio da cognição (palavra cuja origem é latina: noscere = saber, conhecer – com o prefixo com = junto). (Fonte: http://origemdapalavra.com.br/site/palavras/cognicao/. Acesso em: 21 out. 2014). “A cognição envolve fatores diversos como o pensamento, a linguagem, a percepção, a memória, o raciocínio etc., que fazem parte do desenvolvimento intelectual.” (Fonte: http://www.significados.com.br/cognitivo/. Acesso em: 20 out. 2014). Assim, podemos considerar que as experiências que envolvem o pensamento, a linguagem, a percepção, a memória, o raciocínio, por exemplo, são experiências cognitivas. Jacques Lacan: “é um autor polêmico – discutido e admirado, para alguns teóricos é considerado o maior psicanalista depois de Freud, ou até mesmo do seu porte; para os seus críticos, a teoria lacaniana é um retrocesso da psicanálise, um desvirtuador da teoria freudiana.” (Fonte: https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/jacques-lacan-biografia. Acesso em: 16 out. 2014. Um de seus mais importantes trabalhos (o estádio do espelho) foi desenvolvido de 1936 a 1964. Linguistas: estudiosos que utilizam a ciência para explicar e descrever as manifestações linguísticas. Linguística: é a ciência que estuda a linguagem humana. Signos: a área da Linguística explica que utilizamos dois elementos principais para que a comunicação se materialize de forma plena: a linguagem, que representa todo o sistema de sinais convencionais, sejam estes de natureza verbal ou não verbal, e a língua, que representa um sistema de signos convencionais (de natureza gramatical) usados pelos membros de determinada comunidade, no nosso caso, a língua portuguesa. Partindo deste pressuposto, temos que o signo linguístico é concebido como um elemento representativo, constituindo-se de dois aspectos básicos: o significante e o significado, os quais formam um todo indissolúvel. (Fonte: http://www.portugues.com.br/redacao/o-signo-linguistico.html. Acesso em: 21 out. 2010). Exemplificando: quando ouço a palavra “casa”, imagino minha própria casa, e meus sentimentos me levam à lembrança de como é bom estar descansando nela. O significante do elemento representativo “casa” (nesse exemplo) é o som que eu ouvi (alguém falando casa), e o significado desse © 2014 Anhanguera Educacional. Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em língua portuguesa ou qualquer outro idioma. 19 | elemento representativo é a imagem que eu fiz da minha própria casa e também os sentimentos despertados quando me lembrei dela.
Aula 4
Relações Humanas no Trabalho
Trabalho: entre a Tortura e a Dignidade Humana Atualmente, há muitos autores que se baseiam em pesquisas para confirmar que funcionários felizes produzem mais. Os autores Dave Ulrich e Wendy Ulrich (2011, p. 25) mencionam alguns exemplos: “Ao longo de um período de 10 anos (1998 a 2008), as ‘melhores empresas para trabalhar’ têm uma apreciação de 6,8% em suas ações, comparada com 1,0% da empresa média.” “Ao longo de um período de sete anos, as empresas mais admiradas na lista da revista Fortune tiveram o dobro do retorno de mercado em relação à concorrência.” “Somente 13% dos empregados que não têm comprometimento recomendariam os produtos ou serviços da sua empresa, comparados com 78% dos empregados comprometidos.” Saiba Mais! O trabalho dignifica o homem? A expressão, tão comumente usada, encontra explicação na psicologia, pois o trabalho é, sim, condição preponderante para a realização humana. MENDES, G. O trabalho dignifica o homem. O Nacional.com, 1 maio 2013. Disponível em: http://goo.gl/yFIUWa . Acesso em: 1 nov. 2014. Atividade profissional e distúrbios psicossomáticos O dilema de conciliar uma atividade profissional com prazer perdura até os nossos dias e pode ser fonte de distúrbios psicossomáticos para indivíduos e perda de produtividade para empresas. BALTHAZAR, Luci Endson. Afinal, é trabalho ou tripalium? 10 jun. 2013. Disponível em: http://goo.gl/WwD48s. Acesso em: 3 nov. 2014. Matos (2012, p. 19) afirma que “a felicidade na empresa cria condições adequadas para a efetiva produtividade”. Ele menciona quatro elementos importantes para se manter um ambiente organizacional propício: estilo gerencial participativo; conhecimento compartilhado; solidariedade; valorização pessoal. Parece bastante lógica a ideia de que trabalhadores satisfeitos tenham mais ânimo para realizar suas funções (o que aumenta a produtividade) e também ficam menos doentes (principalmente quando a fonte da doença é o estresse). Mas, será mesmo possível sermos totalmente felizes no trabalho? Ana Carolina Rodrigues, jornalista da Você/SA, apresenta uma discussão bastante pertinente sobre o amor ao trabalho. Ela menciona um discurso que Steve Jobs fez a 23 mil alunos da Universidade de Stanford durante cerimônia de formatura (de lá para cá, o vídeo foi baixado mais de 20 milhões de vezes no YouTube). Em determinado momento de seu discurso, Jobs fala: “Você tem de encontrar o que você ama. A única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que faz. Se você ainda não encontrou, continue procurando, e não se acomode”. Pelo tom usado na fala de Jobs e pela quantidade de vezes que o vídeo foi visto, somos realmente capazes de acreditar que o “amor” ao trabalho é o caminho para a felicidade, não é mesmo? Por outro lado, não podemos deixar de lançar um olhar mais crítico e cuidadoso a respeito de qualquer radicalismo neste sentido. Em seu artigo, Rodrigues (2014, s.p.) provoca uma reflexão: Amar o ofício talvez seja mais simples para quem ocupa um cargo de destaque ou tem um negócio de sucesso — o que explicaria a crença de Steve Jobs. Mas, para grande parte dos trabalhadores mortais, a relação entre prazer e fazer é mais conflituosa. Não podemos negar que há um encadeamento lógico entre

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