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Ética, Redes Sociais e Direitos Humanos Ética e Cidadania Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ANA LUCIA GUIMARÃES AUTORIA Ana Lucia Guimarães Olá! Sou doutora em Ciências Humanas e tenho mais de 20 anos de atuação como professora na Educação Superior. Além disso, tenho 12 anos de militância como dirigente sindical da causa dos professores, o que me agrega conhecimentos e experiências para ser autora desta disciplina. Portanto, atuar e defender a causa da educação laica, democrática e de qualidade é mais do que um princípio em minha formação e trajetória profissional, é um compromisso de ofício. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Direitos Humanos ........................................................................................ 10 Conceituação e Princípios Dos Direitos Humanos ................................................. 10 Ação Comunitária e Participação Democrática ............................. 14 Ética, Direitos Humanos e Violência .................................................................................. 18 Cenário Atual e Tendências da Ética e da Cidadania ........................................... 21 Ética e Política ................................................................................................................23 Ética na Saúde ................................................................................................................24 Ética nas Redes Sociais ............................................................................26 Educação, Ética e Cidadania Hoje ........................................................ 31 7 UNIDADE 04 Ética e Cidadania 8 INTRODUÇÃO Nesta unidade de ensino de nossa disciplina, aprenderemos sobre Direitos Humanos. Veremos o que são os direitos humanos, como o direito à vida, à educação, ao trabalho, à liberdade de opinião etc. Veremos que é possível construir nossa cidadania zelando pelos nossos direitos e de nossos vizinhos. Veremos, ainda, a responsabilidade de governos de garantirem esses direitos. Entenderemos que só é possível participar das decisões políticas de um país a partir do exercício da cidadania plena, ancorada na ética, se temos condições democráticas para essa participação. Enfim, faremos uma reflexão sobre ausência de direitos e perpetuação da violência para entendermos o que está acontecendo hoje com as práticas de ética e cidadania. Você também está curioso para debater esses temas? Vamos lá! Ética e Cidadania 9 OBJETIVOS Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é dar suporte a você no desenvolvimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Explicar o conceito e os princípios dos Direitos Humanos. 2. Relacionar ação comunitária com participação democrática. 3. Ponderar questões e situações ligadas a ética, direitos humanos e violência. 4. Identificar o cenário atual e as tendências da ética e cidadania. Então, preparado para conhecer os Direitos Humanos e sua relação com os conceitos de ética e cidadania? Seguimos juntos na aprendizagem desses importantes temas! Ética e Cidadania 10 Direitos Humanos OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você deverá ter todo conhecimento sobre Direitos Humanos, princípios e relações com ações comunitárias de participação democrática. Deverá compreender que só é possível atuar de forma cidadã e ética se existem garantias de efetivação dos direitos que possuímos. Vamos lá! A aprendizagem e o debate nos esperam! Conceituação e Princípios Dos Direitos Humanos O conhecimento dos Direitos Humanos acende uma chama de luta social, coletiva e ao mesmo tempo individual. É importante destacar que os Direitos Humanos envolvem a proteção de nossa cidadania em nível mundial. Por isso, não podemos colaborar para que discriminações, intolerância e opressão aconteçam com qualquer indivíduo. Mas o que são Direitos Humanos? Inicialmente, convém destacar que são a base de uma relação respeitosa entre iguais e diferentes no mundo social. Nossa Constituição de 1988, por exemplo, a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, definida e divulgada pela ONU — Organização das Nações Unidas, já preconizava no art. 1º que: “[...] todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”. DEFINIÇÃO: Direitos Humanos: são aqueles constituídos pelos direitos naturais, garantidos a todos os cidadãos e que devem ser estendidos a todos os indivíduos, sem distinção de gênero, classe social, posição política, etnia, religião ou nacionalidade. Ética e Cidadania 11 Figura 1 - Dia Internacional dos Direitos Humanos — 10 de dezembro Fonte: Freepik. Segundo Franzoi (2003), é no contexto pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que houve a publicação, em 10 de dezembro de 1948, da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela ONU. O autor remonta que tal documento se fez necessário para que pudéssemos lembrar, combater e exterminar todo e qualquer ato de atrocidade, violência, semelhantes aos que aconteceram durante o conflito. Esse documento é o resultado das lutas por direitos historicamente constituídos e traz a perspectiva de igualdade e liberdade entre homens e mulheres. Mas é preciso compreender o significado desses direitos, no sentido de valorizar sua existência e aplicabilidade. Nesse sentido, para Piovesan (2005), a efetivação dos Direitos Humanos refere-se a uma aspiração e necessidade universal de reconhecermos a nós mesmos como seres humanos, únicos, que não são julgados pelas suas diferenças para acessar espaços e culturas. Tal movimento dá respeito à valorização da dignidade da pessoa humana. Ética e Cidadania 12 SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Vamos ler mais um pouco? Recomendamos a leitura do texto Ética e Direitos Humanos. Disponível aqui. De maneira geral, devemos destacar que os três princípios fundamentais dos Direitos Humanos são: • Inviolabilidade da pessoa - não sacrificar um indivíduo com o motivo de que será para o benefício de outro. • Autonomia da pessoa - assegura a liberdade de ação para qualquer indivíduo desde que este não prejudique outros. • Dignidade da pessoa - os indivíduos devem ser julgados e tratados conforme seus atos, unicamente. Depreende-se que os Direitos Humanos são os direitos e a liberdade de todos os seres humanos. Assim, ressaltamos algumas característicasdesses direitos, sendo: • Universalidade – todo e qualquer ser humano é sujeito ativo desses direitos, independente de credo, raça, sexo, cor, nacionalidade e convicções. • Inviolabilidade – esses direitos não podem ser descumpridos por nenhuma pessoa ou autoridade. • Indisponibilidade – esses direitos não podem ser renunciados. Não cabe ao particular dispor dos direitos conforme a própria vontade, devem ser sempre seguidos. • Imprescritibilidade – eles não sofrem alterações com o decurso do tempo, pois têm caráter eterno. • Complementaridade – os direitos humanos devem ser interpretados em conjunto, não havendo hierarquia entre eles. Ética e Cidadania http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832003000100015 13 SAIBA MAIS: Esses conhecimentos são importantes, pois trazem reflexões sobre os direitos humanos. Recomendamos assistir ao vídeo: Direitos Humanos - Teoria Geral: Conceito e Premissas Filosóficas. Disponível aqui. Em seguida, indicamos a leitura da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível aqui. RESUMINDO: Neste capítulo vimos o conceito de Direitos Humanos, bem como seus princípios fundamentais. Conhecemos a Declaração Universal dos Direitos Humanos realizada pela ONU e vimos algumas características desses direitos. Ética e Cidadania https://www.youtube.com/watch?v=A7eTybbqFCc https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf 14 Ação Comunitária e Participação Democrática OBJETIVO: Ao final deste capítulo, você será capaz saber o que é comun idade e quais são os canais de participação pelos quais ela pode atuar na sociedade. Veremos também sobre ética, direitos humanos e violência e qual é o cenário atual e as tendências da ética e da cidadania, tanto na política como na saúde. O ser humano imagina-se incluído em dois grupos societais: um deles mostra-se como alguém que sente a necessidade de ser conduzido, aceita e espera confortavelmente aquilo que o Estado oferece, como políticas públicas, ou decisões políticas, sociais e econômicas. O outro grupo busca constantemente a chama acesa do questionamento, da participação, da vontade de transformar e de estar construindo as decisões acima referidas. Dessa forma, consideramos significativo destacar o conceito de comunidade para pensarmos seu papel no âmbito democrático. DEFINIÇÃO: Comunidade: sociologicamente é um grupo de indivíduos que além de possuírem a residência em comum do ponto de vista geográfico, compartilham cultura e tomam parte de uma história compartilhada, têm objetivos e metas comuns, partem das demandas comuns.. Ética e Cidadania 15 Figura 2 - Comunidade Fonte: Freepik. Paul (1987) aponta que uma comunidade, para alcançar um excelente grau de participação em um projeto comunitário, por exemplo, deve se voltar aos seguintes objetivos: • Empoderamento — alto nível de consciência coletiva e de força política. O autor mostra que precisa de uma forte iniciativa com ações e organização que possam influenciar processos de mudanças. • Capacity building — compartilhamento de tarefas relacionadas à administração do projeto de transformação. Também diz respeito a monitoramento e construção da sustentação do projeto. • Eficácia — quando o projeto caminha junto com as demandas da comunidade. Corresponde e atende essas demandas. • Eficiência — a procura de consenso com interação e cooperação para avanços e não atrasos. Cumprindo metas e prazos. Intensa participação comunitária. • Compartilhamento de custos — compartilhamento de gastos do projeto a ser desenvolvido, com a finalidade de baratear o projeto. Quando falamos em ”democracia participativa”, estamos lidando com a situação de uma participação popular na tomada de decisões, sobretudo políticas. Esse conceito evoca a ideia de proporcionar a oportunidade de participação às pessoas, criando canais de debate que incentivem o pensar sobre questões políticas diretamente ligadas ao exercício de sua cidadania. Ética e Cidadania 16 Uma proposta de entendimento e clareza sobre a ideia de ação da comunidade em uma perspectiva democrática volta-se para a situação do conceito de gestão democrática presente nas escolas. Nascimento (2012) afirma que o trabalho em equipe voltado à qualidade de ensino é a grande base para uma gestão democrática e participativa nas escolas. Paro (2002) considera fundamental que a gestão escolar tenha a consciência de que precisa estar sujeita a mecanismos de controle e fiscalização pela própria comunidade na qual se insere. Fortalecendo essas ideias, Gadotti (1995) nos lembra que descentralização e autonomia devem andar lado a lado. A luta pela conquista da autonomia na escola é reflexo da luta na própria sociedade. Assim, tal qual apresentamos aqui, é necessário que o entendimento da condução democrática esteja presente, favorecendo o estado de participação da comunidade. Na escola, bem como no Estado, uma gestão participativa e democrática deve envolver participação propriamente dita, descentralização e transparência. Sobre o cenário dessa concepção se realizar na escola, Freire (1995) mostra que a participação política das classes populares deve ocorrer por meio de seus representantes, seja na tomada de decisões, seja na definição de um projeto de ação. Figura 3 - Gestão democrática Fonte: Freepik. Ética e Cidadania 17 É notável que tanto na escola quanto na sociedade são necessários canais democráticos que possibilitem a participação dos indivíduos no processo de tomada de decisões. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Vamos ler mais um pouco? Recomendamos a leitura do Texto: A gestão participativa na escola pública: tendências e perspectivas. Disponível aqui. Para que a participação da comunidade aconteça de forma efetiva, é preciso também que ela conheça os canais que existem para sua atuação, que são: • Conselhos municipais – formulam, acompanham e avaliam as políticas públicas. Neles, qualquer cidadão pode participar, apresentar projetos e dar sua opinião. • Audiências públicas – são obrigatórias para a discussão da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e podem ser requisitadas para o debate de problemas que afetem a cidade. • Ouvidoria Pública Municipal – Atende reclamações de problemas relacionados à Prefeitura. • Ação popular – permite que o cidadão proponha uma ação contra ato que lese o patrimônio público. • Iniciativa popular – com o aval de 5% dos eleitores do município, qualquer cidadão pode apresentar um projeto de lei na Câmara Municipal. • Representações – ao Ministério Público, possibilita a abertura de procedimentos de investigação de supostos atos irregulares praticados contra o interesse público. Caso seja ao Tribunal de Contas, o cidadão pode denunciar irregularidades ou ilegalidades na administração pública. Ética e Cidadania http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/SU3onzBiYiLUhza_2013-6-28-15-24-32.pdf 18 Dessa forma, vemos que cada grupo representado nos diálogos recebe a oportunidade de apresentar suas ideias e prováveis soluções para os entraves. Isso supera, com certeza, o fato de ter uma visão unilateral, em que somente uma classe, ou grupo, toma decisões e avaliam ações, pois todos os níveis envolvidos podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida no coletivo. Ética, Direitos Humanos e Violência A temática dos direitos humanos apresenta relevância na constituição da lógica jurídica do século XXI. Nesse sentido, mostra-se com traços do passado e uma perspectiva de futuro. Sobre os direitos humanos, vemos a necessidade de uma ampla análise histórico-filosófica, além de um grande conhecimento jurídico. A questão da violência está na ordem do dia. Como podemos nos posicionar do ponto de vista ético em relação às diferentes situações que saltam aos nossos olhos diariamente. Temos assistido a muitas cenas de desrespeito aosdireitos humanos. Muitas atitudes de violência e precarização da ordem social. Figura 4 - A questão da violência Fonte: Freepik. Ética e Cidadania 19 Schilling (2007) destaca que a violência em nossa sociedade está presente desde a fala das pessoas no dia a dia, até mesmo na mídia e nos discursos políticos. Para a autora, existem diversos tipos de violência, desde a que acontece na família até a que configura a criminalidade. Violência física, psicológica, social e emocional. Nesse sentido, viver em um estado democrático de direito como o nosso é experimentar práticas de respeito às diferenças e direitos humanos. Tudo isso é muito significativo e completo na letra fria do papel, pois, na prática, assistimos a violência contra a mulher, violência contra o idoso, violência contra a orientação sexual, crimes de ódio, corrupção, violência policial, entre outras. DEFINIÇÃO: Estado democrático de direito é aquele em que os governantes seguem o que está previsto nas leis, isto é, deve ser respeitado e cumprido o que é definido pela lei. Figura 5 - Estado democrático de direito Fonte: Pixabay. Ética e Cidadania 20 Como entendemos a violência em relação aos Direitos Humanos? Vemos, por exemplo, que a educação é direito de todos e dever do Estado, tendo por princípios a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; a liberdade de aprender, de ensinar, pesquisar e ampliar o pensamento, a arte e o saber; o pluralismo de ideias e de vertentes pedagógicas; a coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; a gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; a valorização dos profissionais do ensino; a gestão democrática do ensino público e a garantia do padrão de qualidade. Nesse caso, a infração ao respeito dos direitos humanos está diretamente vinculada à impunidade. No Brasil, existe a Emenda Constitucional 45 de 2004, que federaliza crimes contra os Direitos Humanos. Assim, quando ocorre a violação a um direito humano, esta é logo transferida para o sistema de justiça nacional. Mas o ideal seria criar políticas públicas que se voltassem ao combate direto à violência. Como o Estado apresenta dificuldades nesse projeto, assistimos, na maioria das vezes, aos pobres sendo mais vitimados pela violência, pois, no fundo, há uma inércia para estabelecer punições, bem como a conivência com ações de violência física e simbólica. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Vamos ler mais um pouco? Recomendamos a leitura do texto: Cidadania e violência: um desafio para os direitos humanos. Disponível aqui. No que tange ao campo da ética, vemos que ela e a violência caminham para lados diferentes. Já que violência remete a tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de algum ser, esmagando-o, torturando-o, desorganizando-o. Nesse sentido, podemos afirmar que a sociedade aponta que uma atitude violenta em nada colabora para uma vida justa e solidária. Dessa forma, afirmamos que violência se opõe à ética porque não considera o respeito e o compromisso de manter a integridade física e moral dos indivíduos. Ética e Cidadania http://www.esedh.pr.gov.br/arquivos/File/Cidadania.pdf 21 SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Vamos ler mais um pouco? Recomendamos a leitura da reportagem: Pelo menos três mulheres são assassinadas, vítimas de feminicídio, todos os dias no Brasil. Disponível aqui. Cenário Atual e Tendências da Ética e da Cidadania A realidade social não está pré-concebida, e os indivíduos podem atuar sobre os processos coletivos. Assim, é possível que os homens criem e recriem novas propostas de convivência que esbarram em amplas discussões acerca dos conceitos de ética e cidadania. Sobretudo, as questões que envolvem os estudos de robótica, as investigações científicas sobre células-tronco, a própria possibilidade de instituição do poder de certos grupos e pessoas poderem deter o porte de arma. Assim, para Singer (2002), uma pessoa vive dentro de uma esfera do ético quando se preocupa com a justificativa de sua ação, já que só o fato da pessoa querer justificar, podendo estar certa ou errada, demonstra que há uma pauta ética. Valls (2000) mostra que a moral está diretamente ligada às ações práticas dos seres humanos. Ele chama a atenção para o fenômeno da massificação e do autoritarismo dos meios de comunicação e das políticas, pois, segundo ele, os homens, mesmo cientes de seu papel fundamental como executores da moral, conseguem agir eticamente. Ele traz o questionamento de que até que ponto é possível o homem escolher entre o bem e o mal. Ética e Cidadania https://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2019/05/16/pelo-menos-tres-mulheres-sao-assassinadasvitimas-de-feminicidio-todos-os-dias-no-brasil.ghtml 22 Figura 6 - Ética na atualidade Fonte: Pixabay. Em tempos atuais, a educação ocupa um lugar importante para a formação do cidadão participativo e solidário, consciente de seus deveres e direitos e sem falar em propostas de educação com direitos humanos. Dessa forma, pode-se construir a base para uma amplitude maior do que vem a ser uma educação democrática, apontando o caminho para a democracia como o regime da soberania popular, com pleno respeito aos direitos humanos. No que se refere ao mundo do trabalho, por exemplo, Solomon (2006) destaca que o estudo da ética se faz primordial pelas infrações que aparecem em jornais no mundo dos negócios. Tal proposta deveria ocorrer a partir da compreensão profunda das experiências práticas. Bauman (2011) também colabora com as reflexões entre a “Era da Ética”, típica da modernidade, e a “Era da Moral”, peculiar da pós- modernidade. Ele apresenta a ideia de “ser junto com o outro”. A ética e a moral da pós-modernidade, para ele, relacionam-se com a responsabilidade moral incondicional que cada pessoa pode desenvolver por meio de suas atitudes ao “estar junto com o outro” na vida pregressa. Ética e Cidadania 23 Segundo o autor, diferentes sujeitos devem ser capazes de decisões próprias sem serem coagidos por um sistema normativo. Eles constroem o senso de responsabilidade que os auxilia para lidar com situações que exigem consenso, instituindo a questão ética. A moral, no olhar de Bauman (2011), consiste em categoria contingente e incontível. Para ele, a relação com o desconhecido traz a possibilidade de reconhecimento de uma humanidade. Vejamos algumas situações em que a ética e a cidadania aparecem, e os sujeitos devem usar esse senso de racionalidade. Ética e Política Um problema que tem incomodado muito a realidade social brasileira está relacionado com a questão da corrupção na política. Será que aqueles que são eleitos democraticamente, com o voto direto, com a perspectiva de representar a vontade geral e que governam voltados para seus interesses pessoais estão agindo de forma ética? Há uma falta de ética no exercício da política no meio social? Como fica a questão da cidadania relacionada à questão ética em tempos atuais? “O Analfabeto Político. O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio, depende das decisões políticas. O analfabeto...” (Bertolt Brecht) Para Bittar (2010), a questão ética presente no mundo das atividades políticas pode ser traduzida como a saúde político-institucional se traduz na saúde social, deve-se aceitar que a estrutura da éthos de uma sociedade fica, em grande parte, na dependência de ocorrências e atitudes políticas. Farah (2000) adverte que um agente público (o eleitor, mas sobretudo os eleitos) recebe esse impacto de corrupção do corruptor, torna-se um forte elo de captação de recursos pessoais para suas vaidades e fantasias próprias e de sua família, deixando de lado sua funçãopública. Ética e Cidadania 24 Morin (2001) destaca que o ensino da ética é um dos saberes necessários à educação. Para ele, a reflexão no campo da ação do homem, em nível das decisões da ação moral dos indivíduos, deve ganhar espaço em diferentes níveis da educação. A corrupção pode ser compreendida como um fenômeno social, ela consiste em um reflexo da cultura formada sem princípios éticos e valores morais. Trata-se de um fenômeno ético cultural. No Brasil, vemos que a raiz da corrupção é histórica e cultural. Ética na Saúde O comportamento ético em atividades de saúde deve considerar um enfoque de responsabilidade social e também a expansão dos direitos da cidadania, pois sem cidadania, não há saúde. A ética da responsabilidade e a bioética envolvem o cuidado do outro, portanto, compete ter consciência em desenvolver essa postura. Dessa forma, vemos que a ética deve reconhecer o valor de todos os seres vivos e encarar os humanos como um dos pontos que formam a base da vida. Clotet (2003) aponta que a bioética é uma ética aplicada que está preocupada com o uso adequado das novas tecnologias na área das ciências médicas e das soluções pertinentes aos dilemas morais que sejam apresentados. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Vamos ler mais um pouco? Recomendamos a leitura do texto: Princípios da bioética e o cuidado na enfermagem. Disponível aqui. Ética e Cidadania http://cifmp.ufpel.edu.br/anais/1/cdrom/mesas/mesa4/02.pdf 25 Figura 7 - Bioética Fonte: Pixabay. RESUMINDO: Neste capítulo, vimos como os direitos humanos são importantes, bem como seus princípios para a sua participação democrática na sociedade e que essas ações estão presentes em todos os âmbitos. Vimos que a questão da violência ocorre nas relações e em diferentes situações de desrespeito ao ser humano, por isso, é necessário ter amparo legal às vítimas. Assim, destacamos o quanto é possível que os homens se apropriem da ética e da cidadania para ter uma boa convivência na sociedade, pois, neste universo, a moral está relacionada com a racionalidade. Você percebeu o quanto a legislação dos direitos humanos é importante? Ética e Cidadania 26 Ética nas Redes Sociais OBJETIVO: As redes sociais também têm se mostrado como um importante canal de informação e trocas comunicacionais. Ao mesmo tempo que informam, também desinformam. Relacionando com a questão ética, temos a grande dor de cabeça do momento, as chamadas fake news. Estas provocam desequilíbrio, afetações emocionais e transtornos, principalmente naqueles que são os alvos dessas notícias falsas. As fake news reforçam preconceitos, ódio contra indivíduos ou grupos sociais. Imaginem o impacto que a sociedade teve sobre a falsa notícia da existência de um “Kit Gay” imposto nas escolas. Essa ideia partiu de um projeto verdadeiro que fazia parte de um dos programas do Governo Federal, mas foi manipulada e disseminada totalmente desvirtuada, com a perspectiva de dizer que haveria uma suposta ideologia de gênero e sexualidade firmada para as escolas. A questão ética aparece fortemente no fato de que antes de compartilhar essas notícias que causam impacto, bem como todas as outras que compartilhamos ou postamos, é sempre preciso checar a veracidade da informação. Schudson (2017) afirma que a notícia falsa pode interferir no cotidiano do cidadão e das redações jornalísticas. Segundo ele, no jornalismo, por exemplo, é preciso ter responsabilidade com a questão da reprodução de notícias falsas, exageradas ou até mesmo corrompidas. Kunczik (2001) aplica o termo disfunção quando ocorre as notícias servirem de ameaça à estabilidade social. Pois, conforme Wolf (1987), a circulação de notícias falsas destrói a cidadania de forma severa. Ainda, em seu olhar, os meios de comunicação têm a função de trazer a possibilidade de alertar o cidadão e apresentar instrumentos para definição de ações diárias. Ética e Cidadania 27 Como detectar notícias falsas, segundo Kieky e Robertson (2017): • Considere a fonte — veja se tem credibilidade. • Considere o autor — faça uma breve pesquisa sobre ele. • Confirme a data. • Fontes de apoio — encontre bases de informações; as fontes que se relacionam ou tratam do assunto — é preciso identificá-las. • Considere todos os lados — ser contra uma ideologia não quer dizer que a notícia é falsa. • Verifique se é piada — há sites que fazem piadinhas com determinados temas. • Leia mais — é preciso ler sobre o assunto. Quando você pesquisa e lê mais sobre um assunto, percebe se a informação a ser compartilhada tem ou não veracidade. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Vamos ler mais um pouco? Recomendamos a leitura do texto: O impacto das fake news e o fomento dos discursos de ódio na sociedade em rede: a contribuição da liberdade de expressão na consolidação democrática. Disponível aqui. Ética e Cidadania http://coral.ufsm.br/congressodireito/anais/2017/1-12.pdf 28 Figura 8 - Fake news Fonte: Freepik. Enfim, a discussão sobre ética e cidadania, levando em consideração o que estamos vivendo em uma sociedade que precisa da convivência harmônica, é preciso haver compatibilidade entre o ideal da sociedade almejada e o estilo de vida construída, sem isso, não é possível pensar em uma sociedade ética como realidade. Na atualidade, o sujeito que possui a cidadania é aquele detentor de direitos, mas também de deveres. Deve ter ciência de sua participação na sociedade e que precisa contribuir coletivamente. A cidadania deve perpassar interesse e participação, precisa haver interesse pelo bem comum. Ética e Cidadania 29 Uma outra perspectiva tem a ver com a sociedade de risco que estamos vivendo. Isso significa que, pensando sobre o crescimento da civilização tecnológica, vemos um número muito grande de difusão e proliferação dos riscos, que afetam as sociedades em conjunto, revelando a crise da sociedade industrial. Para Giddens (1991), a sociedade moderna organiza-se levando em conta o distanciamento tempo–espaço, diferentemente das sociedades pré-modernas, nas quais as relações entre os indivíduos estavam construídas nas referências locais. Nesse caso, a explicação para situações e fenômenos que ali se processavam, eram situadas na lógica do conhecimento e interação cotidianos que, por sua vez, promoviam a organização social com base nas redes de confiança, depositada nos laços de parentesco e alianças. Caso qualquer coisa perturbasse o equilíbrio daquela ordem social, o grupo encontraria resolução para aquele problema, valorizando a confiança localizada. Já nas sociedades atuais, conforme deriva do pensamento de Giddens, estas constroem seu esquema de funcionamento e racionalização social fundamentadas em uma relação de confiança dos indivíduos em sistemas abstratos, fichas simbólicas, que podem ser entendidos como o progresso do conhecimento técnico e científico. Portanto, vivemos riscos de acreditar nos sistemas simbólicos, no virtual e, a partir dessas crenças, também construímos nossas posições éticas e cidadãs. Ética e Cidadania 30 Figura 9 - Sociedade e crenças nos sistemas simbólicos Fonte: Freepik. RESUMINDO: Neste tópico, vimos como os direitos humanos são importantes e estão relacionados, também, com as redes sociais. Com o avanço da tecnologia, surgiram informações que não são verdadeiras e podem atingir as pessoas. Vimos que a sociedade moderna, apesar do distanciamento tempo–espaço, o crescimento da tecnologia pode trazer riscos. Assim, destacamos o quanto é importante desenvolver uma convivência harmônica, para viver em uma sociedade ética como realidade. Você percebeu o quanto é importante o sujeito ser o detentor de direitos? Ética e Cidadania 31 Educação, Ética e Cidadania Hoje OBJETIVO: Compreender a criação de novos desenhos de sujeito pensante e participativo, em uma sociedade em que as tecnologiasda informação e das comunicações são cada vez mais reais e oferecem um mapa cognitivo das relações e saberes sociais que indicam o progresso da humanidade é fundamental para se estabelecer um diálogo entre indivíduo, cultura e educação. No texto que segue, temos algumas reflexões importantes sobre ensinar a pensar para a vida. Tal reflexão traz em si a própria valorização da educação para o bem coletivo. Para refletir: Ensinar a pensar Immanuel Kant Espera-se que o professor desenvolva no seu aluno, em primeiro lugar, o homem de entendimento, depois, o homem de razão, e, finalmente, o homem de instrução. Este procedimento tem esta vantagem: mesmo que, como acontece habitualmente, o aluno nunca alcance a fase final, terá mesmo assim beneficiado da sua aprendizagem. Terá adquirido experiência e ter-se-á tornado mais inteligente, se não para a escola, pelo menos para a vida. Se invertermos este método, o aluno imita uma espécie de razão, ainda antes de o seu entendimento se ter desenvolvido. Terá uma ciência emprestada que usa não como algo que, por assim dizer, cresceu nele, mas como algo que lhe foi dependurado. A aptidão intelectual é tão infrutífera como sempre foi. Mas ao mesmo tempo foi corrompida num grau muitíssimo maior pela ilusão de sabedoria. É por esta razão que não é infrequente deparar- se-nos homens de instrução (estritamente falando, pessoas que têm estudos) que mostram pouco entendimento. É por esta razão, também, que as academias enviam para Ética e Cidadania 32 o mundo mais pessoas com as suas cabeças cheias de inanidades do que qualquer outra instituição pública. [...]Em suma, o entendimento não deve aprender pensamentos, mas a pensar. Deve ser conduzido, se assim nós quisermos exprimir, mas não levado em ombros, de maneira a que no futuro seja capaz de caminhar por si, e sem tropeçar. A natureza peculiar da própria filosofia exige um método de ensino assim. Mas visto que a filosofia é, estritamente falando, uma ocupação apenas para aqueles que já atingiram a maturidade, não é de espantar que se levantem dificuldades quando se tenta adaptá-la às capacidades menos exercitadas dos jovens. O jovem que completou a sua instrução escolar habituou-se a aprender. Agora pensa que vai aprender filosofia. Mas isso é impossível, pois agora deve aprender a filosofar. [...] Para que pudesse aprender filosofia teria de começar por já haver uma filosofia. Teria de ser possível apresentar um livro e dizer: «Veja-se, aqui há sabedoria, aqui há conhecimento em que podemos confiar. Se aprenderem a entendê-lo e a compreendê- lo, se fizerem dele as vossas fundações e se construírem com base nele daqui para a frente, serão filósofos». Até me mostrarem tal livro de filosofia, um livro a que eu possa apelar, [...] permito-me fazer o seguinte comentário: estaríamos a trair a confiança que o público nos dispensa se, em vez de alargar a capacidade de entendimento dos jovens entregues ao nosso cuidado e em vez de os educar de modo a que no futuro consigam adquirir uma perspectiva própria mais amadurecida, se em vez disso os enganássemos com uma filosofia alegadamente já acabada e cogitada por outras pessoas em seu benefício. Tal pretensão criaria a ilusão de ciência. Essa ilusão só em certos lugares e entre certas pessoas é aceite como moeda legítima. Contudo, em todos os outros lugares é rejeitada como moeda falsa. O método de instrução próprio da filosofia é zetético, como o disseram alguns filósofos da antiguidade (de zhtein). Por outras palavras, o método da filosofia é o método da investigação. Só quando a razão já adquiriu mais prática, e apenas em algumas áreas, é que este método se torna dogmático, isto é, decisivo. Por exemplo, o autor sobre o qual baseamos a nossa instrução não deve ser considerado o paradigma do juízo. Ao invés, deve ser encarado como uma ocasião para cada um de nós formar um juízo sobre ele, e até mesmo, na verdade, Ética e Cidadania 33 contra ele. O que o aluno realmente procura é proficiência no método de refletir e fazer inferências por si. E só essa proficiência lhe pode ser útil. Quanto ao conhecimento positivo que ele poderá talvez vir a adquirir ao mesmo tempo — isso terá de ser considerado uma consequência acidental. Para que a colheita de tal conhecimento seja abundante, basta que o aluno semeie em si as fecundas raízes deste método. Immanuel Kant (Tradução de Desidério Murcho). Figura 10 - Educação, ética e sociedade Fonte: Pixabay. SAIBA MAIS: Estes conhecimentos são importantes, pois trazem reflexões sobre educação, ética e cidadania na atualidade. Para aprofundamento, recomendamos assistir aos vídeos a seguir: A Fraude – o caso Bahrings (com Ewan Mc Gregor) Ameaça virtual (Com Tim Robbins e Ryan Philiphe) Com o dinheiro dos outros (Com Danny de Vito e Gregory Peck) Erin Brockovich (Julia Roberts e Albert Finney) Minority Report: a nova lei (Com Tom Cruise) O Náufrago (Com Tom Hanks e Helen Hunt) Ética e Cidadania 34 RESUMINDO: Neste capítulo, vimos que existem situações e questões na atualidade que precisam estar pautadas pelo olhar da ética e da cidadania, afinal, ser cidadão é colaborar para a garantia de que o respeito e a preservação das relações sejam fundamentais. Vimos, ainda, que tanto na política quanto na saúde e nas trocas via redes sociais, é preciso ter compromisso com a moralidade das participações e atuações. Por fim, destacamos o papel que a educação tem na formação de indivíduos pensantes e responsáveis por suas ações no seio da sociedade. Ética e Cidadania 35 REFERÊNCIAS BAUMAN, Z. A vida em fragmentos: sobre a ética pós-moderna. Tradução de Alexandre Werneck. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011. CLOTET, J. Bioética: uma aproximação. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003 FARAH, E. Ética do Advogado: I e II Seminários de Ética Profissional da OAB/SP. São Paulo: LTR, 2000. FRANZOI, J. G. A. Dos direitos humanos: breve abordagem sobre seu conceito, sua história, e sua proteção segundo a constituição brasileira de 1988 e a nível internacional. Revista Jurídica CESUMAR, Maringá, v. 3, n. 1, p. 373-390, 2003. FREIRE, P. A Educação na Cidade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1995. p. 144. GADOTTI, M. A Autonomia como Estratégia da Qualidade de Ensino e a Nova Organização do Trabalho na Escola. Petrópolis: Vozes, 1995. GIDDENS, A. As Consequências da Modernidade. São Paulo. Ed. Unesp, 1991. KUNCZIK, M. 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