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ABUSO SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UM ESTUDO DOS CASOS NOTIFICADOS NO MUNICÍPIO DE IGREJINHA/RS 1 Fernanda Ritter 2 Silvia Dutra Pinheiro 3 RESUMO A violência contra crianças e adolescentes ocorre desde a nossa antiguidade, mas na década de 70 que se tornou publicamente conhecida. O abuso sexual ainda é um tabu nas famílias, sendo um assunto encoberto por uma névoa de segredos, mas que, muitas vezes, se faz conhecer através dos indícios e rastros que deixa na vida destas vítimas, podendo estes serem imediatos ou tardios. Desta forma, a pesquisa objetivou a verificação dos fatores de risco mais frequentes, dentre os apontados pela literatura, nos casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes notificados em Igrejinha/RS. Para tal investigação, utilizou-se o método quantitativo para uma pesquisa do tipo documental, a partir de registros da Delegacia de Polícia local. Foram encontrados 34 casos registrados entre 2005 e 2008, cujos dados foram coletados a partir de um formulário construído para a pesquisa, e tratados estatisticamente pelo programa SPSS. Os resultados evidenciaram que a maioria das vítimas são meninas com idades entre 4 e 7 anos e de 12 a 15 anos, tendo como abusador homens com idades entre 13 a 30 anos. O maior índice de abusadores refere-se a pessoas próximas à família, seguido pelo padrasto. São famílias que indicam a existência de desajustes familiares, sendo estes separações ou outra forma de violência. A forma de abuso mais predominante foi o atentado violento ao pudor, seguido pelo estupro, sendo que a violência sexual obteve maior índice na residência da vítima, seguido pela residência do abusador, números que sugerem uma predominância de casos de abuso extrafamiliar. Palavras-chave: Abuso Sexual. Fatores de Risco. Violência. INTRODUÇÃO Entende-se como fatores de risco, determinadas condições ou variáveis que se associam a alta probabilidade de ocorrência de resultados negativos ou indesejáveis (REPPOLD; PACHECO; BARDAGI; HUTZ, 2002). Considerando-se os fatores de risco de abuso sexual contra crianças e adolescentes encontrados na literatura, entre eles a existência de violência familiar na história de vida do abusador, desajustes familiares e psíquicos, presença de alcoolismo na família, além de aspectos sociais, econômicos e culturais característicos, prevalecendo a situação de abuso sexual em populações carentes e com pais desempregados. Desta forma, o presente artigo, busca conhecer os fatores de risco que surgem 1 Artigo de pesquisa apresentado ao Curso de Psicologia das Faculdades Integradas de Taquara, como requisito parcial para aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão II. 2 Acadêmica do Curso de Psicologia da FACCAT. E-mail: fernanda_ritter@yahoo.com.br 3 Psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica (PUCRS), Docente do Curso de Psicologia da FACCAT . Endereço Postal: Av. Oscar Martins Rangel, 4500, CEP: 95600-000, Taquara-RS. Email: silviap12@yahoo.com.br 2 com maior frequência entre os casos de abuso sexual cometidos contra crianças e adolescentes notificados no município de Igrejinha/RS, no período de 2005 a 2008. O abuso, em qualquer forma que se apresente, contra crianças e adolescentes, é algo crescente em nossa sociedade. Crescente no sentido de que muitos são os casos que estão vindo à tona, mas, no entanto, segundo dados estatísticos, ainda são poucos os que acabam sendo denunciados à polícia, já que em algumas famílias, o mesmo pode ser mantido como um segredo que nunca será revelado, assim como pode ser negligenciado pelas mesmas. Segundo Sousa e Silva (2002), três a cada dez crianças, indiferente de gênero, sofrem algum tipo de violência dentro de sua própria casa. E, conforme Habigzang e Caminha (2004), mais de um tipo de violência pode estar ocorrendo com a mesma criança, ou seja, não há limites entre os tipos de violência. Assim, importa conhecer mais profundamente este tema, já que o índice de ocorrência de abuso sexual é alto em todo o país, onde a cada dia são noticiados mais casos que envolvem a violência sexual contra crianças e adolescentes. Para a realização desta pesquisa, foram contatados o Ministério Público e a Delegacia de Polícia do município, pois se buscava conhecer os dados existentes naquele município para este tipo de violência, o que não existia, apenas os registros e inquéritos policiais referentes a estes casos, mostrando-se, assim, uma pesquisa pioneira nesta temática naquele município. Então, a partir deste levantamento estatístico, buscou-se com este estudo mapear os casos de abuso sexual cometidos contra crianças e adolescentes ocorridos em Igrejinha/RS, procurando-se conhecer o perfil sócio- demográfico destas famílias; identificar a frequência de possíveis desajustes familiares e psíquicos; verificar se existia alcoolismo, além de conhecer as condições mais frequentes sob as quais ocorriam os casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes, tais como o local, as ameaças, o tipo de violência sexual cometida, entre outros. Neste sentido, para a comunidade local é fundamental tomar conhecimento de tais fatores de risco existentes nos casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes ocorridos no município, podendo-se, com isso, elaborar programas de prevenção, contribuindo, assim, para o desenvolvimento regional. Desta forma, os resultados encontrados nesta pesquisa poderão alertar as famílias de que este tipo de violência ocorre muito próximo e que as marcas deixadas nas vítimas podem ser irreversíveis. Conforme Ferrari e Vencina (2002) crianças vítimas de violência são crianças sem voz e sem vez, que vivem um drama que afeta o seu desenvolvimento tanto físico quanto emocional, o que pode transformá-los em indivíduos com graves dificuldades de vinculação. Além disso, referem os autores que podem surgir sequelas imediatas ou tardias, físicas e emocionais, traduzidas em sintomas como dificuldades 3 escolares, de relacionamento social, distúrbios psicossomáticos, até a invalidez ou a morte por homicídio ou suicídio. A seguir serão fundamentadas as formas de violência encontradas na literatura e, em seguida, aprofundados os conhecimentos acerca do abuso sexual, de suas possíveis sequelas e fatores de risco, no intuito de sustentar teoricamente as razões deste estudo, através de artigos e materiais bibliográficos atualizados. 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1.1 Violência Segundo Ferrari (2002) os termos abuso, violência e maus-tratos contra crianças e adolescentes são usados como sinônimos na literatura. E, conforme a autora, para a violência doméstica existem quatro tipos reconhecidos: violência física, violência psicológica, violência sexual e negligência. Sousa e Silva (2002) referem que três a cada dez crianças, meninas ou meninos, sofrem diariamente algum tipo de maus-tratos dentro da sua própria casa. Informa a autora que essas crianças estão na faixa etária entre os cinco e sete anos e entre os dez e treze anos, sendo o pai biológico o responsável pela maioria dos casos, seguido por padrastos ou outros parentes conhecidos da vítima, e por último algum desconhecido. Acrescenta-se, segundo Guerra (2001), que a violência intrafamiliar permeia todas as classes sociais. Pensa-se na questão da violência, como o uso da força, que é expressa em relações de poder. Mas ela também pode se apresentar quando envolve a perda de autonomia, em que pessoas são privadas de manifestar a sua vontade, submetendo-as à vontade e aos desejos de outros (FERRARI, 2002). Na infância ou adolescência, ela pode se expressar de uma forma dinâmica,ou seja, não existindo limites entre os tipos de violência, pois enquanto vítimas de abuso sexual, as crianças são muitas vezes, também, vítimas de negligência, violência psicológica e violência física (HABIGZANG; CAMINHA, 2004). A violência física refere-se a qualquer ação, única ou repetida, intencional na qual o adulto usa de sua força física tendo por objetivo danificar, ferir, causar dor e desconforto à criança (HABIGZANG; CAMINHA, 2004; GUERRA, 2001; FERRARI, 2002). Além de causar lesões físicas, Habigzang e Caminha (2004) sugerem que essa forma de violência, na maioria das vezes, ocorre concomitante à violência psicológica, em que a criança é depreciada 4 e desrespeitada através de agressões verbais, o que é extremamente danoso para a vítima do ponto de vista emocional. Segundo Guerra (2001), os indicadores físicos, ou seja, as marcas pelo corpo da criança devem ser observadas especialmente quando as causas alegadas a estes não forem adequadas, ocorrerem em épocas diversas, bem como em diferentes etapas do desenvolvimento, e as justificativas dadas pelos pais são sempre inadequadas ou inconsistentemente explicadas. Já a violência psicológica, também designada como tortura psicológica, ocorre sempre que um adulto deprecia constantemente a criança, bloqueando seus esforços de autoaceitação (GUERRA, 2001). E, segundo Silva (2002) esta forma de violência também pode apresentar atitudes de rejeição ou de abandono afetivo para com a criança, causando-lhes sentimentos de menos valia, não-merecimento e dificuldades no seu processo de construção de identificação- identidade, onde essas ameaças, conforme Guerra (2001), podem tornar esta criança medrosa e ansiosa, sendo estas algumas das formas de sofrimento psicológico. Sobre a negligência, Guerra (2001) esclarece que este tipo de violência representa a omissão em termos de prover as necessidades físicas e emocionais de uma criança ou adolescente. Segundo o autor, configura-se negligência quando os pais (ou responsáveis) falham em termos de alimentar, de vestir adequadamente seus filhos, entre outros, e quando tal falha não é o resultado das condições de vida além do seu controle. A violência sexual configura-se como todo ato ou jogo sexual, relação hetero ou homossexual entre um ou mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo por finalidade estimular sexualmente esta criança ou adolescente, ou utilizá-los para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa (GUERRA, 2001). Essa forma de violência pode ser classificada como extrafamiliar ou intrafamiliar, também chamado de incestuosa, e pode ser dividida em três grupos, conforme aponta Silva (1998): sem contato físico: assédio, exibicionismo, voyeurismo; com contato físico: carícias, coito ou tentativa de coito, manipulação das genitais, sexo oral, sexo anal; ou com violência: coito com brutalização, estupro, assassinato. O abuso sexual da criança é cercado por um complô de silêncio, pois envolve medo, vergonha, culpa, desafia tabus culturais e aspectos das relações de interdependência (SILVA, 1998). O silêncio, para a autora, é visto como uma tentativa de preservar o núcleo familiar, e a contradição existente entre o papel de proteção esperado da família, e a violência que ocorre nela. 5 Para punir os agressores dos maus-tratos de crianças ou adolescentes, surge o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), uma lei que entra em vigor em 1990, com o intuito de garantir uma melhor qualidade de vida e assegurar o direito de todas as crianças e adolescentes do nosso país, sem haver distinção de raça, cor ou classe social. Todos passam a ser reconhecidos como sujeitos de direitos, considerados em sua condição de pessoas em desenvolvimento e a quem se deve prioridade absoluta. No seu art. 5º (ECA, 1990), das disposições preliminares, é explicado que nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. 1.2 Abuso sexual contra crianças e adolescentes Segundo Ferrari (2002) a violência sexual possui raízes profundas nas relações de dominação sobre as mulheres, pois estas se mantiveram subordinadas aos homens, chefes de família, no núcleo familiar e submeteram meninos e meninas a esta violência. Salienta a autora que durante toda a nossa história sempre existiu a violência contra crianças e adolescentes, sendo muitas delas oferecidas a deuses como forma de salvamento e fertilidade de determinados povos e suas terras. Durante a história, Miller (1994) refere que as crianças eram consideradas propriedade dos adultos e eram sujeitas ao abuso físico ou sexual. Em todos os tempos, o domínio do mais forte sobre o mais fraco foi exercido sob diversas formas de poder, em diferentes esferas da sociedade, até mesmo nas famílias. Esta relação de poder, de busca de excessos, do que é diferente ou até mesmo anormal, soma-se a pouca importância dada às crianças e aos adolescentes e às consequências dos maus-tratos dos adultos sobre eles (PFEIFFER; SALVAGNI, 2005). Conforme Machado, Lueneberg, Régis e Nunes (2005), a violência sexual é todo o ato imposto por um adulto que utiliza seu poder sobre a criança, podendo ou não haver contato físico e/ou uso de força física. O Código Penal Brasileiro (2003) traz este tipo de violência subdividida em: 1) Estupro: conjunção carnal (relação pênis-vagina) ilícita, praticado pela força e contra a vontade, neste caso, da criança e/ou adolescente; 2) Atentado Violento ao Pudor: constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele pratique ato libidinoso diverso de conjunção carnal, bem como voyerismo, telefonemas obscenos e linguagem sexualizada; e, ainda, conforme Machado et al (2005), 3) Atos Libidinosos: o agressor procura satisfazer a sua vontade sexual ou libido, através de 6 toques, contato sexual, com ou sem penetração (com dedos, pênis, ou outros objetos na região oral, genital ou anal), beijos (dependendo da intensidade e intencionalidade); 4) Exibicionismo: exposição intencional e não natural do corpo de um adulto ou parte; 5) Sedução: emprego de meios não violentos para corromper sexualmente uma mulher e/ou criança. Segundo a Unesco (1999) o abuso sexual, muitas vezes, vem acompanhado de maus- tratos e coação física. Portanto, o silêncio é a marca registrada neste tipo de violência e, na maioria das vezes, os parentes não agressores costumam fechar os olhos para evitar escândalos e uma maior desestrutura familiar (MACHADO et al, 2005). Para Ferrari (2002), a mãe pode mostrar-se conivente com a situação do abuso sexual, onde a filha acaba por desempenhar as funções sexuais e assumir, assim, o papel de esposa dentro desse casamento, tornando-se um jogo velado. Desta forma, as crianças vítimas de abuso sexual apresentam um estado de angústia, já que não conseguem contar para terceiros sobre o abuso, ou ninguém a sua volta dá crédito ao que diz. Por isso, muitas vezes, o segredo é dividido apenas entre abusado e agressor. E quando consegue contar para alguém que acredite nesta situação vivida, o abuso, já se transcorreu muito tempo e é previsível que consequências do ponto de vista emocional e de estruturação da personalidade já tenham ocorrido (MORALES; SCHARAMM, 2001). E, segundo Aded, Dalcin, Morales e Cavalcanti (2006), muitos transtornos psiquiátricos estão sendo relacionados a eventos traumáticos sofridos na infância, sendo que os níveis de gravidade podem variar com o tipo de abuso sofrido, a sua duração e o grau de relacionamento davítima com o agressor. O abuso sexual intrafamiliar coloca em cheque os tabus sociais relacionados à vivência harmoniosa familiar, o respeito e o amor paterno e materno (MACHADO et al, 2005). Os casos mais frequentes da violência sexual, da infância até a adolescência, são decorrentes de incesto, ou seja, o agressor possui ou mantêm algum grau de parentesco com a vítima (PFEIFFER; SALVAGNI, 2005). Uma das características marcantes do incesto é a chamada síndrome de adaptação da criança, que envolve três situações: o segredo, onde a criança sofre abuso quando está sozinha com o adulto e o fato não deve ser compartilhado com ninguém; a falta de defesa, onde o adulto é alguém da família, sendo que esta criança foi orientada de que, na família tudo é permitido e só se deve desconfiar de estranhos, desta forma ela vive num conflito que facilita o exercício do domínio perverso por quem dela abuse; e a adaptação, a criança se sente numa 7 armadilha e não busca ajuda. Desprotegida só lhe resta aprender a aceitar a situação e conviver com a mesma (UNESCO, 1999). Segundo a UNESCO (1999), em aproximadamente 80% dos casos, o agressor faz parte do sistema familiar, convive de alguma maneira com a vítima, podendo manter laços de autoridade ou afeto. Ainda, segundo Pfeiffer e Salvagni (2005) o agressor usa da relação de confiança que tem com a criança ou adolescente, e de poder como responsável, para se aproximar cada vez mais e, assim, praticar atos que a vítima considera inicialmente como de demonstrações afetivas e de interesse. Essa aproximação é recebida, a princípio, com satisfação pela criança, que se sente privilegiada pela atenção do responsável. Este lhe passa a idéia de proteção e que seus atos seriam normais em um relacionamento de pais para filhas, ou filhos, ou mesmo entre a posição de parentesco ou de relacionamento que tem com a vítima. Aquele que abusa sexualmente de crianças pode apresentar transtornos de personalidade e conduta, orgânicos ou psiquiátricos, alteração comportamental de ajustamento sexual ou induzido pelo uso abusivo de álcool e outras drogas (UNESCO, 1999). O abuso sexual é um fenômeno rodeado de grande complexidade e de difícil enfrentamento, tanto pela família, criança e até mesmo pelo profissional que muitas vezes não sabe como agir (ARAÚJO, 2002). Mas, quando se trata de crianças ou adolescentes, o profissional de saúde é, por lei, obrigado a notificar aos órgãos responsáveis, podendo este ser o Conselho Tutelar. Isto deverá ocorrer sempre que houver suspeita ou comprovação de um caso de violência. É uma medida importante de proteção para este grupo. Sendo, ainda, necessária uma intervenção com a família, para resgatar o papel de pais ou responsáveis e garantir a segurança desta criança ou adolescente, esclarecendo, também, que o sigilo continuará a ser preservado (MACHADO et al, 2005). Conforme estudo realizado por Habigzang e Caminha (2004), foram apontados três fatores de risco como sendo os principais desencadeadores e mantenedores do abuso sexual infantil. Os autores indicam uma maior probabilidade, e não uma relação direta de causa e efeito, visto que explicar a ocorrência de maus-tratos contra a criança é uma tarefa complexa, e envolve a articulação e compreensão em rede de aspectos sócio-culturais, psicossociais, psicológicos e biológicos. Um dos fatores apontados foi a reprodução das experiências de violência familiares vividas durante a infância, contribuindo para que se perpetuem os maus- tratos. Algumas pesquisas estudadas constataram que os pais que sofreram violência quando crianças apresentaram um índice duas vezes maior de agredirem seus filhos, comparado com os que não foram vítimas de violência. 8 Um segundo fator de risco desencadeador do abuso sexual infantil, conforme Habigzang e Caminha (2004), é a violência como produto de desajustes familiares e psíquicos e do alcoolismo. Em um estudo realizado com 103 vítimas constatou-se que os três principais fatores desencadeantes da violência são os distúrbios de comportamento do agressor (31,06%), a desagregação familiar (21,97%) e o alcoolismo (17,42%). E um terceiro fator, para os autores, é a ordem macroestrututal. Essa ordem é traduzida por aspectos sociais, econômicos e culturais, como por exemplo, a desigualdade, a dominação de gênero e de gerações. Na pesquisa estudada pelos autores, verificou-se que a agressão é mais evidente na população carente, mas cabe ressaltar que não se pode generalizar e associar pobreza com maus-tratos infantis. Observou-se também uma prevalência de maus-tratos contra crianças, 50% maior nas famílias em que os pais estavam desempregados. Para Scodelario (2002), o silêncio é quem conduz a perpetuação do abuso por várias gerações, podendo o mesmo tipo de abuso vivido ser praticado inicialmente com uma filha ou filho, ou com a neta, e ainda esses filhos abusados sexualmente abusar de seus próprios filhos ou sobrinhos. Este silêncio mantém tanto agressores quanto as vítimas e demais membros da família, envolvidos nesta dinâmica do abuso. Segundo Habigzang e Caminha (2004), multigeracionalidade é como se chama esse fenômeno, em que um ciclo de violência acompanha a família de geração em geração. Os autores ressaltam ainda que essa questão deva ser entendida como uma probabilidade, uma maior vulnerabilidade, e não quer dizer que isso deva ser considerado como uma lei inexorável. Em relação a forma de intervenção nos casos de abuso sexual, Habigzang e Caminha (2004), referem que a intervenção utilizada precisa contemplar toda a complexidade do fenômeno, onde devem ser realizados trabalhos em rede para uma maior eficácia e minimização de impactos negativos que esta experiência pode produzir nestas vítimas. Os autores ainda enfatizam que, no Brasil, existem poucos estudos sobre tratamentos de casos que envolvam a violência sexual. 2 METODOLOGIA Escolheu-se desenvolver um estudo no método quantitativo, pois buscou-se conhecer e analisar quantitativamente os fatores de risco do abuso sexual cometido contra crianças e adolescentes nos casos registrados junto a Delegacia de Polícia do município de Igrejinha/RS dos últimos quatro anos. Segundo Marconi e Lakatos (1991), o método quantitativo constitui- se em investigações de pesquisa empírica cuja finalidade está em delinear e analisar as 9 características de fatos ou fenômenos, caracterizando-se pela precisão e controle estatístico, assim como, fornecer dados para a verificação de hipóteses. Salienta-se, ainda, que trata-se de uma pesquisa do tipo documental, já que foram usados os arquivos das ocorrências policiais registradas naquele município, sendo estes, fonte primária de coleta de dados, e documentos de posse pública municipal. Para Marconi e Lakatos (1991), a característica essencial da pesquisa documental está em utilizar-se como fonte de coleta de dados documentos, escritos ou não, denominados de fontes primárias, e que podem ser feitos no momento em que o fato ocorre ou depois. Segundo Cozby (2003), pesquisas em arquivos envolvem o uso de informações previamente compiladas para responder às questões da pesquisa, sendo que o pesquisador não coletará os dados originais, mas analisará os dados existentes, ou seja, a coleta foi realizada a partir dos dados disponíveis nas ocorrências policiais, sendo que não houve nenhum dado coletado diretamente com a própria vítima nem com o abusador dos casos de abuso sexual infantil. 2.1 Amostra O tipo de amostra definida para esta pesquisa foi de amostragem probabilística por conglomerados ou grupos, que deriva do fato de os conglomerados serem considerados grupos formados e/ou cadastradosda população (MARCONI; LAKATOS, 2002). Ou seja, a amostra foi constituída por todos os registros de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual no período de 2005 a 2008, sendo o abuso sexual o conglomerado ao qual a criança e o adolescente pertenciam. O período de 2005 a 2008 foi definido após consulta prévia com a Delegacia de Polícia do município de Igrejinha/RS, onde se soube que existem em média vinte casos ao ano, segundo informações do Delegado de Polícia, pretendendo-se, assim, um somatório de oitenta casos no período de quatro anos, além de que a partir de 2005 os registros estavam mais completos, pois passaram a ser informatizados. Desta forma, os resultados encontrados nesta pesquisa tiveram mais validade e fidedignidade, considerando-se, também, o fato de se tratar de uma pesquisa quantitativa. Salienta-se, ainda, que durante a pesquisa não houve contato direto com as vítimas de abuso sexual, ou seja, foram utilizadas apenas as documentações disponíveis no local de coleta de dados. No período selecionado para o presente estudo, encontrou-se 34 casos de abuso sexual, notificados nas ocorrências policiais do município, sendo que destes casos 79,4% eram do sexo feminino e 20,6% do sexo masculino. Verificou-se, ainda, que dos 34 casos coletados 10 dez foram registrados durante o ano de 2005, oito no ano de 2006, 12 em 2007 e quatro em 2008. São números que mostram uma pequena queda em relação ao ano de 2005 em comparação a 2006, mas, em contrapartida, de 2007 a 2008 ocorre uma diminuição significativa de registros envolvendo abuso sexual contra crianças ou adolescentes no município. De certa forma, esta redução pode ser explicada conforme Araújo (2002), o qual aponta que a denúncia torna-se difícil, tanto para a criança, quanto para sua família, pois acaba expondo a violência que ocorre dentro da própria família. A seguir, no capítulo da análise e discussão dos resultados, a amostra estará melhor detalhada, conforme demonstram as Tabelas 1, 2, 3 e 4, informando características da vítima, do abusador, da família da vítima, além de outras informações gerais sobre as circunstâncias da ocorrência do abuso sexual. 2.2 Instrumentos de pesquisa Para a coleta de dados optou-se por um formulário (Apêndice A) como instrumento elaborado exclusivamente para o presente estudo, em total consonância com os objetivos específicos, a fim de atender ao objetivo maior de verificar os fatores de risco mais frequentes nas situações de violência sexual notificadas no município de Igrejinha/RS, no período de 2005 a 2008. Este instrumento estava constituído de quatro temas centrais (vítima, abusador, família da vítima e informações gerais) que visavam explorar, a partir dos registros policiais, sob quais circunstâncias esta forma de abuso ocorria. Segundo Leopartdi (2001) o formulário é considerado uma lista informal, catálogo ou inventário, destinado à coleta de dados resultantes de observações ou de interrogações, cujo preenchimento é feito pelo próprio investigador. Conforme o autor, o formulário deverá ser composto por questões de múltipla escolha, perguntas abertas ou fechadas, e preenchido na medida em que as perguntas são feitas ao entrevistado que, no caso da presente pesquisa, foram utilizados o documento de registro de ocorrência policial, assim como o inquérito pertinente ao mesmo. 2.3 Procedimentos de coleta de dados Após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e da Delegacia de Polícia de Igrejinha/RS, local de obtenção de dados, deu-se início à coleta de dados. Para a autorização do local, foi emitido um pedido formal ao Delegado de Polícia, onde neste constavam explicações sobre os objetivos do trabalho, e esclarecimentos acerca da coleta de dados, assim como da permanência da pesquisadora nas dependências da Delegacia. Enfatizou-se sobre a 11 manutenção do sigilo dos dados, salientando-se que nenhum caso registrado teria seus dados identificados, mesmo que a pesquisa fosse apresentada publicamente, da mesma forma como tal autorização poderia ser revogada a qualquer momento, cancelando-se o acesso aos dados. Mediante a autorização, o representante legal do local assinou o seu consentimento em termo próprio, o qual foi construído especialmente para esta situação, para o acesso da pesquisadora aos documentos policiais, sendo então, combinados datas e horários mais convenientes para a permanência da pesquisadora no local. Os arquivos pesquisados não foram retirados das dependências da Delegacia de Polícia, sendo todos os dados coletados diretamente dos registros no próprio local. Utilizou-se para tanto o instrumento que foi preenchido com os dados considerados essenciais para responder ao problema de pesquisa, sendo sempre respeitados todos os preceitos éticos sobre as vítimas e suas famílias. Destaca-se que o uso do formulário esteve restrito ao preenchimento dos dados disponíveis nestes registros policiais, utilizando-se um formulário para cada um dos casos registrados, para assim proceder com a análise dos dados. Estes formulários foram guardados confidencialmente de posse da pesquisadora. 2.4 Procedimentos de análise de dados Os dados coletados nesta pesquisa foram processados no pacote do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 13.0, que analisa e organiza estatisticamente todos os dados coletados. Após o preenchimento dos formulários com os dados disponíveis nos registros dos últimos quatro anos, as repostas coletadas foram numeradas e, em seguida, digitadas no programa estatístico. Assim, os resultados obtidos foram fidedignos para a verificação das hipóteses desta pesquisa, onde se analisou todos os dados de forma descritiva, conforme exposto a seguir, na análise e discussão dos resultados. 3 ANÁLISE E DISCUSÃO DOS RESULTADOS Os resultados deste trabalho estão apresentados em forma de tabela, demonstrando os principais fatores de risco no município pesquisado durante o período de 2005 a 2008. Salienta-se, assim, a importância destes dados que, conforme Baptista, França, Costa e Brito (2008), os casos notificados possuem significativa importância, pois é através deles que a violência torna-se visível, o que permite um dimensionamento e auxílio para a criação de políticas públicas voltadas à identificação e prevenção desta problemática. 12 Com a finalidade de explorar as circunstâncias com que ocorriam os casos de abuso sexual registrados, o instrumento de coleta de dados constituiu-se de quatro temas centrais a serem investigados: vítima, abusador, família da vítima e informações gerais. Assim, os dados obtidos em cada tema foram caracterizados e serão a seguir discutidos. A tabela 1 faz referência ao primeiro tema investigado no formulário, ou seja, caracteriza as vítimas de abuso sexual que denunciaram a violência ocorrida no período entre 2005 e 2008, definindo-as a partir da prevalência de sexo, idade, escolaridade, bairro de residência no município de Igrejinha/RS, assim como pessoas com quem residem. Tabela 1: Caracterização da vítima de abuso sexual contra crianças e adolescentes Perfil da Vítima Frequência Percentual Sexo Feminino 27 79,4 Masculino 7 20,6 Idade 4 a 7 anos 11 32,4 12 a 15 anos 11 32,4 Escolaridade 1ª a 4ª série do fundamental 8 23,5 5ª a 8ª série do fundamental 7 20,6 Jardim, pré-escola ou creche 6 17,6 Bairro de Residência Morada verde 6 17,6 Cohab 3 8,8 Acácias 3 8,8 Com quem reside Mãe, padrasto e irmã(o)(s) 6 17,6 Pai e mãe 5 14,7 Mãe e irmã(o)(s) 5 14,7 Osdados mostram que, dentre os 34 casos de abuso sexual registrados, as maiores vítimas são do sexo feminino, 27 (79,4%), confirmando assim uma das hipóteses da pesquisa e corroborando com outros estudos desta mesma temática. Mas ressalta-se que os meninos também são vítimas deste tipo de violência, no entanto conforme Araújo (2002), a incidência 13 de casos envolvendo meninos é significativamente menor em relação às meninas, o que no presente estudo, os casos envolvendo meninos totalizam apenas 7, sendo um número quase quatro vezes menor em relação aos casos envolvendo meninas. No que se refere à idade da vítima, houve 11 (32,4%) casos com idade entre os 4 e 7 anos de idade, assim como surgiu o mesmo percentual em meninas dos 11 aos 15 anos. A hipótese proposta para este estudo traz um maior índice em crianças entre os 3 e 7 anos, o que, de certa forma, foi comprovado, porém mostrou um número significativo de meninas adolescentes, ficando o nível escolar destas vítimas entre a 1ª e a 4ª série do ensino fundamental (23,5%) e da 5ª a 8ª série do mesmo nível (20,6%). Segundo estudo realizado por Baptista et. al. (2008), 61,6% das vítimas de abuso sexual apresentavam menor grau de instrução. Da mesma forma, em outro estudo realizado por Inoue e Ristum (2008), as vítimas de abuso sexual apareceram com 40,9% frequentando a creche e o mesmo percentual apareceu entre a 1ª e a 4ª série do ensino fundamental. Desta forma, estes estudos corroboram sobre a baixa escolaridade das vítimas de abuso sexual o que, de certa forma, pode dificultar a denúncia, pois se acredita que quanto mais escolaridade tiver, menor será o índice de abuso sexual. Isso também pode ser explicado pela idade da vítima, pois quanto mais nova ela for, mais difícil de entender o que está acontecendo com ela, já que, conforme Pfeiffer e Salvagni (2005) no início a vítima considera esta situação como demonstrações afetivas e de interesse e essa aproximação é recebida com satisfação pela criança, que se sente privilegiada pela atenção que lhe é dispensada. Ainda, segundo Ferrari e Vencina (2002), estes indivíduos podem demorar a compreender o que ocorreu consigo, já que esse discernimento do acontecido requer maturidade mental que nem sempre está presente na criança. Embora não significativo, porém revelador para o município de Igrejinha/RS, considerando-se a presença de pelo menos um registro de abuso sexual nos 19 bairros investigados nos 34 casos notificados, manifesta-se uma concentração destes registros no bairro Morada Verde (17,6%), local em que a população é mais carente, com casos de miséria e vulnerabilidade social, onde as vítimas residem, prevalentemente, com sua mãe, padrasto e irmã(o)(s) (17,6%). Já quanto ao segundo tema investigado no formulário, a Tabela 2 pretende informar sobre as características do abusador, conforme os 34 casos registrados nos últimos quatro anos, definindo-o a partir da prevalência de sexo, idade, escolaridade, bairro de residência, ocupação, presença de alcoolismo e grau de parentesco com a vítima. 14 Tabela 2: Caracterização do abusador nos casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes Perfil do Abusador Frequência Percentual Sexo Masculino 33 97,1 Idade 13 a 20 anos 8 23,5 21 a 30 anos 9 26,5 Escolaridade 1ª a 4ª série do fundamental 10 29,4 5ª a 8ª série do fundamental 12 35,3 Bairro de Residência Morada verde 7 20,6 Cohab 4 11,8 XV de Novembro 3 8,8 Centro 3 8,8 Não consta no registro 3 8,8 Ocupação Pedreiro 7 20,6 Não consta no registro 5 14,7 Estudante 4 11,8 Industriário 4 11,8 Alcoolista Não 27 79,4 Grau de parentesco com a vítima Outro (vizinho ou amigo da família) 13 38,2 Padrasto 7 20,6 Pai 5 14,7 Conforme a tabela 2, a maioria dos abusadores é do sexo masculino (97,1%), com idades entre 13 e 30 anos (50%), conhecidos da vítima, mas não familiares, tais como vizinhos ou amigos da família (38,2%), seguidos pelo padrasto (20,6%), com escolaridade prevalente entre 5ª e 8ª série do ensino fundamental (35,3%). Residentes em sua maioria no Bairro Morada Verde (20,6%) trabalham prioritariamente como pedreiro (20,6%), não 15 havendo confirmação sobre a presença de alcoolismo por parte do abusador (79,4%) nos casos notificados. Os achados, do presente estudo, mostram resultados divergentes daqueles trazidos pela literatura, onde segundo a UNESCO (1999), em aproximadamente 80% dos casos, o agressor faz parte do sistema familiar, convive de alguma maneira com a vítima, podendo manter laços de autoridade ou de afeto. E, segundo Pfeiffer e Salvagni (2005), os casos mais frequentes da violência sexual, da infância até a adolescência, são decorrentes de incesto, ou seja, o agressor possui ou mantém algum grau de parentesco com a vítima. Mas, ainda, pode-se observar que 35,3% dos casos de abuso sexual foram cometidos pelo padrasto e pelo pai, respectivamente, o que mostra um número significativo de casos envolvendo a violência intrafamiliar (incestuosa). Isto mostra que, casos que envolvem o pai ou padrasto como perpetuador do abuso sexual, aparecem em menor número do que aqueles cometidos por outras pessoas, pois conforme Araújo (2002), em famílias incestuosas ocorre a chamada lei de preservação do segredo familiar, onde esta acaba por prevalecer sobre a lei moral e social, tornando-se assim difícil sua denúncia e confirmação. Isto pelo fato de a vítima correr o risco de ser desacreditada, insultada ou punida, podendo ainda ser acusada de destruir a família e a harmonia familiar. Segundo Machado, Lueneberg, Régis e Nunes (2005), o abuso sexual intrafamiliar coloca em cheque os tabus sociais relacionados à vivência harmoniosa familiar. Onde a família é a instituição responsável pela transmissão de valores, conhecimento e a socialização do indivíduo, tornando-se fundamental os laços afetivos (SCODELARIO, 2002), o respeito e o amor paterno e materno (MACHADO et al, 2005). O terceiro tema investigado – família da vítima – é apresentado na Tabela 3, conforme a descrição de fatores como a estrutura familiar, desajustes familiares e psíquicos, a presença de alcoolismo e de uso de drogas, bem como a renda familiar nos 34 casos registrados nos últimos quatro anos. 16 Tabela 3: Caracterização da família da vítima nos casos de abuso sexual infantil Perfil da Família da Vítima Frequência Percentual Estrutura familiar Coabitam 3 pessoas 13 38,2 Coabitam 5 pessoas 10 29,4 Desajustes familiares Sim (separações ou outras violências) 26 76,5 Desajustes psíquicos Não consta no registro 31 91,2 Alcoolismo Não consta no registro 28 82,4 Uso de drogas Não consta no registro 28 82,4 Renda familiar Não informou 33 97,1 Segundo a tabela 3, poucas informações referentes à família da vítima foram encontradas nos registros, ou seja, não constaram dados sobre a existência de desajustes psíquicos em 31 dos 34 casos registrados (91,2%). Da mesma forma sobre a existência ou não de alcoolismo em 28 casos (82,4%). Assim como sobre o consumo de drogas, não houve registro em 28 casos (82,4%). E da renda familiar em 33 casos (97,1%). Sendo estes cinco pontos alguns dos fatores considerados de risco para a ocorrência do abuso sexual. Embora os registros não tenham informações sobre a renda familiar da vítima, esta que é um dos fatores de risco destacado na literatura,de certa maneira a informação sobre os bairros onde residem abusadores e vítima de abuso sexual, bem como a ocupação do abusador, fazem referência a famílias economicamente carentes, visto que as ocorrências registradas dão-se em maior índice em bairros considerados carentes naquele município: bairro de residência do abusador (Morada Verde – 20,6%), bairro de residência da vítima (Morada Verde – 17,6%), e ocupação do abusador (pedreiro – 20,6%). Entretanto, um dos fatores investigados que apareceu em número significativo foi o desajuste familiar (76,5%), considerando-se as situações de separação conjugal, violências diversas ou perdas, estando a família coabitando entre 3 pessoas na sua maioria (38,2%), sendo estes a mãe, o padrasto e irmã(o)(s), conforme revelou a tabela 1. 17 Em um estudo realizado por Habgizang, Koller, Azevedo e Machado (2005), entre os principais fatores de risco, destaca-se a presença do padrasto nas ocorrências de abuso sexual, ou seja, o índice de separações é significativo nestas notificações. Portanto, este fator corroborou com a presente pesquisa, já que apresentou um número elevado de desajustes familiares nestes casos. Destaca-se, ainda, na estruturação familiar, que 5 pessoas (29,4%) coabitavam no momento das notificações, o que corrobora, até certo ponto, com os estudos realizados por Habgizang et al (2005), onde estes verificaram que quanto mais pessoas coabitando, maior é a probabilidade de ocorrência do abuso sexual. Entretanto, neste estudo, o índice de famílias com 5 pessoas foi menor do que em famílias com 3 pessoas, mas não se pode deixar de destacar esse percentual apresentado nestas notificações. Por fim, o último tema investigado neste estudo, apresentado na Tabela 4, diz respeito às informações gerais sobre a ocorrência do abuso sexual, procurando-se conhecer as formas de violência predominantes, o tempo de ocorrência e frequência da situação de abuso sexual, e também o local onde ocorreu a violência. Tabela 4: Caracterização da violência cometida nos casos de abuso sexual infantil Perfil da violência cometida Frequência Percentual Forma de violência Atentado violento ao pudor 21 61,8 Estupro 8 23,5 Tempo de ocorrência do abuso Menos de 1 ano 20 58,8 Frequência do abuso Uma vez 19 55,9 Várias vezes 11 32,4 Local onde ocorreu o abuso Residência da vítima 13 38,2 Residência do abusador 10 29,4 Segundo a tabela 4, que busca caracterizar as circunstâncias como se deu a violência sexual, sendo esta considerada segundo Guerra (2001), como todo ato ou jogo sexual, relação hetero ou homossexual entre um ou mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo por 18 finalidade estimular sexualmente esta criança ou adolescente, ou utilizá-los para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa. Percebeu-se que em 61,8% o atentado violento ao pudor foi a forma de violência predominante no que se refere ao tipo de abuso, seguido pelo estupro em 23,5% das notificações. Segundo o Código Penal Brasileiro (2003) Atentado Violento ao Pudor se refere ao fato de constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele pratique ato libidinoso diverso de conjunção carnal (somente considera-se a relação pênis-vagina), bem como voyerismo, telefonemas obscenos e linguagem sexualizada. No que diz respeito ao tempo de ocorrência do abuso, em 58,8% dos casos este tempo predominou em ter ocorrido por menos de um ano, ocorrendo com a frequência de uma única vez em 55,9%, enquanto que em 32,4% destas vítimas a violência foi sofrida por várias vezes. O que mostra um número de casos notificados em um curto período de tempo e imediatamente a ocorrência do abuso sexual, pois sabe-se que muitas vítimas podem passar anos sendo abusadas e silenciadas por estes abusadores. Já, sobre a identificação do local onde ocorreram estas notificações, a tabela revela que a maioria das ocorrências registradas aponta para a residência da vítima em 38,2% dos casos, e em 29,4% na residência do abusador, o que mostra o predomínio da violência extrafamiliar, sendo que esta classificação se destina aos casos em que o abusador era uma pessoa de fora da família, e aos casos em que ocorre no ambiente familiar, perpetuadas por pessoas próximas a vitima, são chamadas de intrafamiliar ou incestuosas. No formulário utilizado para coleta de dados, destinou-se um espaço para o registro de outros pontos relevantes para a pesquisa, ou seja, qualquer dado que fosse importante para explicar a problemática do abuso sexual, sendo estes, muitas vezes, ilustrativos e corroborando com muitos estudos sobre esta violência. Desta forma, destaca-se a violência na história de vida do abusador, a negligência da mãe sobre a situação de violência ocorrida com a filha, além das promessas e ameaças sofridas pela vítima de abuso sexual, aspectos apontados na literatura como possíveis fatores de risco que caracterizam as circunstâncias para ocorrência de tal violência sexual. Araújo (2002) explica que, com muita frequência, os abusadores também foram vítimas de abuso na sua infância, mas mesmo sendo um fator muito presente não se pode determinar que é uma das causas desencadeantes, já que existem muitas formas de subjetivação para a elaboração desta experiência durante a vida desta vítima. Assim, o comentário de um acusado, pai biológico da vítima, no seu depoimento, diz que havia sido abusado quando tinha 8 anos de idade, sendo este ato cometido pelos seus 19 irmãos mais velhos. Ele acrescentou, ainda, que havia cometido por duas vezes este mesmo ato com a sua irmã de 4 anos de idade quando ele já estava com 21 anos e, que sua irmã mais velha também lhe pedia para que tivesse relações com ela. Ele diz que presenciou quando seu pai também tentou abusar desta sua irmã mais velha e que sua mãe tentou matá-lo quando descobriu o que ele estava fazendo com suas irmãs. Este relato mostra a repetição de padrões dentro de uma família, ficando como algo permissivo entre seus membros. Ferrari (2002) explica que a mãe pode mostrar-se conivente com a situação do abuso sexual, pois a filha acaba por desempenhar as funções sexuais e assumir, assim, o papel de esposa dentro desse casamento, tornando-se, desta forma, um jogo velado, negligenciando a violência cometida. Este fato pode ser observado em outro depoimento feito por uma mãe que explica que sempre teve problemas de útero que a deixava indisposta a manter relações sexuais com seu parceiro, padrasto de sua filha, pois tinha muitas dores durante a relação. Ela disse que já estava há 6 anos com essa pessoa e que sua filha lhe disse que as situações de abuso iniciaram junto deste relacionamento, o que a fez perceber que algo estava errado, ocorrendo mudanças súbitas de comportamento entre os dois, já que viviam “se estranhando” (sic), e agora estavam muito apegados. Em uma determinada noite, relata que não estava conseguindo dormir, quando ouviu gemidos vindos da sala de estar e um som que se assemelhava a alguém com ânsia de vômito, foi quando se levantou e foi verificar o que acontecia, presenciando marido e filha no sofá. A vítima, com 12 anos hoje, conta que o padrasto lhe dizia que com esta idade ela já poderia fazer aquilo que todos os outros faziam, e que se ela fizesse ganharia um celular e uma bicicleta, mas que não era para contar nada para sua mãe. Segundo Scodelario (2002), ameaças e promessas fazem parte do discurso desses abusadores, já que eles podem ser considerados grandes "atuadores" e muito sedutores, convencendo a família deque ele não seria capaz de tal ato. Segundo Machado et al (2005), o silêncio configura-se como a marca registrada deste tipo de violência, pois qualquer palavra destas crianças ou adolescentes, são repreendidas pelo agressor, sendo estas feitas em forma de ameaça ou de sedução. A vítima aqui citada explicou que acabava ficando em silêncio, pois temia apanhar e ser colocada em um orfanato. A menina ainda relatou para a mãe que este homem lhe causava repúdio e que por isso morou um tempo com o seu pai, até o dia em que precisou voltar a conviver com ela. Espera-se que, com os resultados apresentados neste trabalho, esses dados possam contribuir com os profissionais de saúde que trabalham direta ou indiretamente com situações de abuso, em especial no município de Igrejinha/RS, planejando-se ações e estratégias que 20 venham a minimizar a ocorrência tanto de casos que envolvam a violência intrafamiliar quanto a extrafamiliar. Conforme Pfeiffer e Salvagni (2005), se abandonarmos estas vítimas a própria sorte, elas poderão levar dentro de si as dores desta criança ferida onde surgirão sequelas por toda a sua vida. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS No intuito de conhecer os fatores de risco citados na literatura e que surgem com maior frequência entre os casos de abuso sexual cometido contra crianças e adolescentes notificados no município de Igrejinha/RS, no período de 2005 a 2008, os resultados evidenciaram que a maioria das vítimas são meninas, com idades entre 4 e 7 anos e entre 12 e 15 anos, tendo como abusador homens, com idades entre 13 e 30 anos, sendo na sua maioria pessoas próximas à família, como vizinhos ou amigos, seguidos pelo padrasto. Isto denota, de certa forma, ser mais fácil denunciar a violência cometida por pessoas alheias à família, sendo mais complexo expor a violência que ocorre no seio familiar, pois, desta forma, se expõe a fragilidade destes pais em assumir o seu papel moral e social em prover as necessidades básicas ao desenvolvimento de seus filhos. São famílias que manifestam a existência de desajustes familiares, sendo estes separações conjugais ou outro tipo de violência. A forma de abuso mais predominante foi o atentado violento ao pudor, sendo que tal violência obteve maior índice de ocorrência na residência da vítima, números que sugerem uma predominância de casos de abuso extrafamiliar, mas com um número significativo de casos envolvendo abuso intrafamiliar (incestuoso) cometido por padrasto e o pai, respectivamente. Embora o abuso sexual ocorra em qualquer classe social, estes dados corroboram com os achados na literatura, no sentido de que as famílias que mais denunciam a violência sexual são as de nível sócio-econômico mais baixo, o que se confirma pelos resultados deste estudo, apontando o bairro Morada Verde como o local onde mais ocorreu o abuso sexual, constituindo o local de residência tanto do abusador como da vítima, sendo conhecido por abrigar uma parte mais carente da população daquele município. Algumas das limitações encontradas neste estudo se referem a uma dificuldade de interpretação dos dados encontrados nos registros policiais, já que haviam muitas contradições nos depoimentos existentes em cada um dos inquéritos. Mas, considerando-se que muitas vezes as crianças são ignoradas pela família abusadora, principalmente quando conseguem revelar a violência pela qual estão passando, procurou-se dar ênfase aos depoimentos das vítimas de cada um dos registros policiais. Outro ponto a se destacar, diz 21 respeito à falta de informações em relação à família da vítima, o que dificulta uma melhor análise de alguns dados existentes nos casos verificados, tais como desajustes psíquicos, presença de alcoolismo, uso de drogas e situação econômica. Acredita-se que os dados obtidos através desta pesquisa podem contribuir de forma significativa, principalmente no que diz respeito ao conhecimento da ocorrência desta forma de violência naquele município, oferecendo assim dados fidedignos sobre todos os casos envolvendo crianças ou adolescentes destes últimos quatro anos. Assim, sugere-se, então, a realização de novas pesquisas sobre o tema, em diferentes municípios do Vale do Paranhana, visto que a região registra um alto índice de casos de violência sexual, importando conhecer os principais fatores de risco característicos de cada município. É através destes estudos que conseguiremos conscientizar a população de que o abuso sexual é uma forma de violência muito comum, que ocorre muito próxima de todos e, também, elaborar programas que possam tratar da prevenção da violência cometida contra crianças ou adolescentes. Por consequência, a ciência psicológica da mesma forma beneficiar-se-á com os achados deste estudo, em especial a comunidade científica da região, já que seus dados poderão tornar-se referência aos profissionais que trabalham ou têm contato com situações de violência sexual infantil no seu dia a dia, além de servir de estímulo para a continuidade desta pesquisa ou para o desenvolvimento de futuras pesquisas em outros municípios da região do Vale do Paranhana. REFERÊNCIAS ADED, N. L. O.; DALCIN, B. L. G. S.; MORALES, T. M.; CAVALCANTI, M. T. Abuso sexual em crianças e adolescentes: revisão de 100 anos de literatura. Rio de Janeiro: Revista de psiquiatria clínica. v. 33. n. 4, 2006. 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Rio de Janeiro: Garamond (Edições Unesco Brasil), 1999. 25 APÊNDICE A - FORMULÁRIO PARA COLETA DE DADOS ANO DE REGISTRO: __________ VÍTIMA Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Idade: ____________ Escolaridade: _______________________________________ Bairro da residência: ________________________________________________________ Mora com quem? ___________________________________________________________ ABUSADOR Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Idade: ____________ Escolaridade: _______________________________________ Bairro de residência: _________________________________________________________ Ocupação: _________________________________________________________________ Alcoolismo: ( ) Sim ( ) Não Grau de Parentesco com a vítima: ( ) Pai ( ) Padrasto ( ) Mãe ( ) Madrasta ( ) Irmão ( ) Tio ( ) Primo ( ) Avô ( ) Desconhecido ( ) Outro: ____________________________________________________ FAMÍLIA DA VÍTIMA Estrutura familiar (quantas e quem são as pessoas que residem na casa):________________ Desajuste familiar (violências diversas, separações, perdas): __________________________ Desajuste psíquico (presença de doenças psicopatológicas, uso de medicamentos psiquiátricos): ( ) Sim ( ) Não Presença de alcoolismo: ( ) Sim ( ) Não Uso ou abuso de drogas: ( ) Sim ( ) Não Quais: ________________________________ INFORMAÇÕES GERAIS Forma da Violência Sexual: ( ) Estupro ( ) Atentado violento ao pudor ( ) Atos libidinosos ( ) Exibicionismo ( ) Sedução ( ) não informou Tempo de Abuso: ( ) menos de um ano ( ) mais de um ano ( ) não informou ( ) outro: ___________________ Freqüência do Abuso: ( ) uma vez ( ) 2 vezes ( ) 3 vezes ( ) várias vezes ( ) não informou Renda Familiar: ( ) inferior a um salário mínimo ( ) de 1 a 2 salários mínimos ( ) de 2 a 3 salários mínimos ( ) de 3 a 4 salários mínimos ( ) de 4 a 5 salários mínimos ( ) mais de 5 salários mínimos ( ) não informou ( ) não possui nenhuma renda Local onde ocorreu o abuso sexual: ( ) residência da vítima ( ) residência do abusador ( ) não declarado ( ) outro local: _______________________________________________________ Outros dados relevantes: _____________________________________________________
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