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Roberto Senise Lisboa
Direito do Consumidor
Sumário
03
CAPÍTULO 2 – Como responsabilizar civilmente os fornecedores? .......................................05
Introdução ...................................................................................................................05
2.1 Responsabilidade pelo vício.......................................................................................05
2.2 Responsabilidade pelo acidente de consumo ...............................................................09
2.3 Desconsideração da personalidade jurídica e responsabilidade em grupos societários .....12
2.4 Oferta, publicidade e práticas abusivas ......................................................................14
Síntese ..........................................................................................................................23
Referências Bibliográficas ................................................................................................24
Capítulo 2 
05
Introdução 
Em uma sociedade de massa, como a do consumo contemporânea, é imprescindível a adoção 
da teoria do risco da atividade desempenhada pelo fornecedor, uma vez que a negociação 
celebrada não leva mais em conta aspectos que se circunscrevem apenas a assuntos de ordem 
pessoal de cada uma das partes. 
O Código de Proteção e Defesa do Consumidor adotou a teoria do risco da atividade de for-
necimento de produtos e serviços no mercado de consumo, fixando a responsabilidade objetiva 
do fornecedor como regra, exceto quando a lei expressamente dispuser em sentido contrário, 
conforme Lei n. 8.078/90. De acordo com essa teoria, o agente causador do dano responderá 
civilmente independentemente de culpa.
Há autêntica despersonalização da obrigação. Os consumidores são considerados uma ca-
tegoria de clientes a partir daquilo que eles têm, e não do que eles são. Trata-se, portanto, do 
fenômeno da “coisificação” das pessoas, efeito colateral que a sociedade da informação e de 
massa proporcionam com a desumanização das relações jurídicas.
Além disso, a responsabilidade civil por danos causados ao consumidor, nos termos já aponta-
dos, é regulamentada pelo legislador em duas grandes vertentes: a responsabilidade pelo fato 
do produto e serviço, também denominada de responsabilidade por acidente de consumo, que 
diz respeito aos danos extrapatrimoniais, cumulados ou não com os danos patrimoniais; e a res-
ponsabilidade pelo vício do produto e serviço, adstrita aos danos patrimoniais. 
Mas o que se entende por vício? E por fato? Como ocorre a responsabilidade civil do fornecedor, 
nesses casos? É possível a responsabilidade civil por danos morais e patrimoniais, de maneira 
cumulada, quando há um acidente de consumo? É possível estender a responsabilidade do 
fornecedor a outas empresas que integram o grupo societário no qual ele se encontra? Qual é 
o regime jurídico da oferta e da publicidade no Código de Proteção e Defesa do Consumidor? 
Quais são as práticas abusivas do fornecedor? Essas e outras questões serão analisadas a partir 
de agora.
2.1 Responsabilidade pelo vício
O sistema de responsabilidade civil nas relações de consumo é complexo, desdobrado em duas 
vertentes; a da responsabilidade pelo vício do produto e serviço e a da responsabilidade pelo 
fato do produto e serviço.
Primeiramente, será abordada a responsabilidade pelo vício e, no item seguinte, a responsabili-
dade pelo fato.
A responsabilidade pelo vício do produto e serviço tem como fundamento a existência de dano 
patrimonial puro, ou seja, o consumidor tem o direito de ser reparado por dano ou ameaça de 
Como responsabilizar 
civilmente os fornecedores?
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Direito do Consumidor
prejuízo patrimonial ou econômico, tendo em vista a impropriedade da função econômica do 
produto ou serviço. Sob a perspectiva conceitual, nada impediria a utilização da expressão “de-
feito intrínseco” para significar um vício, entretanto, como a lei utiliza o vocábulo “defeito” para 
os casos de responsabilidade pelo fato, mencionaremos apenas o “vício”.
Nesse contexto, é inadequado que o produto ou serviço não atenda às necessidades do con-
sumidor, visto que foi por conta dessa necessidade que ele adquiriu o bem de consumo. Sendo 
assim, a inadequação por impropriedade do produto ou serviço causa o prejuízo econômico ou 
patrimonial ao consumidor, que, por sua vez, disponibilizou verba e não atingiu o real objetivo, 
em face do defeito existente no que foi adquirido.
O vício intrínseco do objeto de consumo, para ser reconhecido como tal e ensejar a reparação, 
deverá acarretar em dano econômico. Imagine a seguinte situação: um legislador buscou a re-
gulamentação da responsabilidade pelo vício em dupla vertente, regendo a matéria sobre vício 
intrínseco do produto para, depois, tratar do vício intrínseco do serviço, mencionado nos artigos 
18 e 20 da Lei n. 8.078/90. Assim, o vício do produto pode ser: 
• de qualidade: quando há inadequação por impropriedade da função econômica do bem 
(o produto não possui a função econômica que o consumidor espera); 
• de quantidade: quando há inadequação por impropriedade em medida, peso ou 
extensão da função econômica do bem; 
• de informação: quando há inadequação por impropriedade, ante a divergência de dados 
entre o que consta do rótulo, embalagem ou invólucro, e o que é, de fato, o bem. 
Para os fins de responsabilidade pelo vício do produto, o consumidor poderá exigir o cumpri-
mento da obrigação perante todos os fornecedores que compuseram a cadeia econômica de 
consumo, conforme estruturada na figura a seguir.
Figura 1 – A responsabilidade civil leva em consideração, 
quando se aplica a solidariedade, a cadeia econômica de consumo
Fonte: arka38, Shutterstock.
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Os fornecedores de produto com vício intrínseco possuem a responsabilidade solidária pelo 
vício oculto, bem como pelo vício aparente ou de fácil constatação, existente à época da aquisi-
ção, conforme mencionado nos artigos 18 e 26 da Lei n. 8.078/90. Entretanto, isso não ocorre 
no estudo do vício redibitório, previsto no Código Civil, que apenas autoriza a redibição ou o 
abatimento proporcional do preço quando houver defeito oculto à época da contratação da 
compra e venda ou da doação onerosa.
Já quando houver vício de produto compósito, isto é, formado por peças justaposicionadas e que 
podem ser substituídas por outras, sem que maiores danos venham a ocorrer, o tratamento legal 
nas relações de consumo será outro. Nessa hipótese, o fornecedor terá o direito a proceder ao 
seu reparo no prazo de 30 dias, caso outro prazo não seja convencionado pelas partes, mediante 
cláusula em separado (nunca podendo ser inferior a sete, nem superior a 180 dias). Além disso, 
se o produto for compósito e o vício não vier a ser reparado conforme a legítima expectativa es-
perada no prazo assinalado, ou, ainda, se o produto com vício não for compósito; o consumidor 
poderá recorrer a uma das seguintes soluções:
• redibição da coisa, obtendo a restituição dos valores pagos, além da eventual indenização 
por perdas e danos patrimoniais;
• estimação da coisa, mediante o abatimento proporcional do preço, caso pretenda 
permanecer com o bem para si;
• exigir a troca do produto por outro igual e em perfeitas condições de uso.
No caso de responsabilidade pelo vício de quantidade do produto, inexiste o prazo de reparo, 
abre-se a possibilidade de complementação do peso ou medida (BRASIL, Lei n. 8.078/90).
O prejuízo de ordem econômica, no entanto, poderá implicar, ainda, em dano à vida, à saúde 
ou à segurança do consumidor, possibilitando a imputação em desfavor do fornecedor por aci-
dente de consumo, ou seja, a responsabilidade pelo fato de o produto ou serviço (BRASIL, Lei n. 
8.078/90).
Entre os casos de impropriedade do produto ao uso e consumo, a legislação insere o bem nocivo 
à vida e à saúde, assim como os perigos, situações que fundamentam a responsabilidade pelo 
fatodo produto e serviço. Nesse contexto, o artigo 18 da Lei n. 8.078/90 promove a interliga-
ção entre as duas vertentes de responsabilização civil apontada, sendo considerada de máxima 
importância em razão do tratamento diferenciado que se dá à matéria, tanto no que concerne 
à imputação do fato (artigos 12, 14, 18 e 20) quanto no que se refere ao prazo propositura da 
demanda cabível (artigos 26 e 27).
Como o fundamento da responsabilidade pelo fato é o dano moral – e esse vem recebendo cada 
vez maior atenção dos legisladores contemporâneos ocidentais –, vale lembrar que a indeniza-
ção, nesse caso, deverá corresponder a um montante que tenha o poder de inibição de novas 
práticas ilícitas pelo infrator, representando um valor adequado para a equivalência pela perda 
sofrida por parte do consumidor, sem que essa estipulação judicial gere enriquecimento sem 
causa para alguma das partes.
Na responsabilidade decorrente de serviço viciado, o consumidor poderá exigir a sua reexecu-
ção, uma vez que não venha a optar pela redibição ou pela estimação, conforme artigo 20 da 
Lei n. 8.078/90.
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Figura 2 – A reexecução do serviço que foi prestado de maneira inadequada 
é uma ferramenta de fidelização do cliente, não apenas uma solução jurídica para o caso
Fonte: ESB Professional, Shutterstock.
A solução jurídica de reexecução do serviço, assim como a da troca do produto, não apenas 
contribui para a conclusão mais rápida do conflito, mas também pode ser utilizada de maneira 
positiva pelo fornecedor, tanto como marketing quanto uma maneira de fidelização da clientela. 
Por sua vez, quando o vício extrapola a função econômica do produto ou do serviço, causando 
prejuízos não-patrimoniais, a situação passa a ser analisada como responsabilidade civil pelo 
acidente de consumo. Caso o consumidor queira reclamar judicialmente pelo vício do produto 
ou serviço, ele terá um prazo de declínio, cujo termo inicial de contagem variará segundo dois 
critérios:
• Vício aparente ou de fácil constatação: o termo inicial do prazo será a data da entrega 
do produto ou do término da execução do serviço;
• Vício oculto: o termo inicial do prazo será a data na qual ele se tornar manifesto.
Além disso, para efetuar a reclamação, será necessário que o vício exista à época da contra-
tação, ou seja, no momento da entrega do produto ou do término da execução do serviço ad-
quirido. O período de tempo para reclamar também variará de acordo com a durabilidade do 
produto ou serviço, seguindo a lógica:
• 30 dias, tratando-se de produto ou serviço não durável;
• 90 dias, tratando-se de produto ou serviço durável.
Conforme estabelece o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, esse prazo decadencial 
não será aplicado quando:
• a reclamação foi feita perante o fornecedor, assim, a contagem para reclamar judicialmente 
terá início com a resposta negativa, transmitida de maneira inequívoca ao consumidor;
• há inquérito civil, iniciando-se a contagem para reclamar judicialmente no encerramento 
do caso, o que se dá com a promoção do arquivamento devidamente homologada pelo 
Conselho Superior do Ministério Público.
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Para melhor compreender a questão da prescrição e da decadência nas relações de 
consumo, você pode ler o artigo “Algumas linhas sobre prescrição e decadência no 
âmbito consumerista”, escrito por Carlos Eduardo D’Elia Salvatori. O documento está 
disponível no link: <http://www.cidp.pt/publicacoes/revistas/ridb/2013/03/2013_03_
02391_02421.pdf>.
VOCÊ QUER LER?
Analisadas as principais regras da responsabilidade pelo vício do produto e serviço, cabem algu-
mas observações sobre a responsabilidade pelo fato do produto e serviço.
2.2 Responsabilidade pelo acidente de consumo
A responsabilidade pelo fato do produto e serviço tem como fundamento um dano ou ameaça 
de dano a algum direito personalíssimo do consumidor, em razão da existência de um acidente 
de consumo. O acidente de consumo é um fato jurídico que prejudica o direito à vida, à saúde 
ou à segurança do consumidor ou das vítimas do evento, conforme mencionado no artigo 17 
da Lei n. 8.078/90, que tem como causa o produto ou serviço defeituoso lançado no mercado 
(LISBOA, 2012). 
O acidente de consumo pode ser entendido como um vício exógeno ou extrínseco, ou seja, 
um fenômeno estranho à relação jurídica celebrada, o qual proporciona ao produto ou serviço 
defeitos que causam insegurança no consumidor, em detrimento de sua vida ou saúde (física e 
psíquica). Isto é, seus direitos da personalidade (direitos inatos ao Homem, intrínsecos à sua 
natureza e preexistentes ao próprio surgimento do Estado).
Nesse caso, de acordo com o artigo 12 da Lei n. 8.078/90, o legislador concede tratamento pró-
prio para a responsabilização tanto do produto quanto do serviço oferecido. A responsabilidade 
por danos à vida, saúde ou segurança do consumidor é direta do fornecedor mediato (aquele 
que não é intermediário, mas, sim, aquele que fabrica, produz, constrói ou importa) quando há 
fornecimento de produtos. Assim, ele tem o encargo por qualquer defeito que venha a causar 
danos ou ameaça de prejuízo aos direitos personalíssimos do consumidor.
Vale ressaltar que se considera defeituoso o produto ou serviço cuja segurança proporcionada 
ao consumidor não é aquela esperada, em razão de sua natureza, de suas características, da 
apresentação, do uso, da circulação no mercado e demais circunstâncias relevantes. Ademais, 
a inserção de um produto ou serviço de melhor qualidade ou mais aperfeiçoado tecnicamente 
não torna defeituoso o produto ou serviço anterior, assim como o posteriormente colocado no 
mercado de consumo, de acordo com o descrito nos artigos 12 e 14 da Lei n. 8.078/90 (BRASIL, 
Lei n. 8.078/90).
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Figura 3 – A segurança dos consumidores é de maior relevância para a relação de consumo, 
daí a responsabilidade pelo fato do produto e serviço
Fonte: Yabresse, Shutterstock.
O fornecedor imediato é chamado de “comerciante” pelo Código de Defesa do Consumidor. O 
vocábulo “comerciante” não possui o mesmo sentido dado pelo Direito Comercial, restrito aos 
que praticam atos de comércio ou de mercancia, atualmente denominados atos de empresa ou 
empresariais. A acepção é mais ampla, uma vez que fornecedor poderá ser qualquer pessoa físi-
ca ou jurídica, mesmo aquela que não venha a exercer atos tipicamente de comércio, mas, sim, 
de natureza civil estrita (prestação de serviços e atividades ligadas à terra). 
Assim, recairá sobre o fornecedor imediato a responsabilidade pelos danos provocados por 
acidente de consumo, quando o fornecedor mediato não for identificado de forma precisa ou 
quando não conservar adequadamente os produtos perecíveis (BRASIL, Lei n. 8.078/90).
Embora vedada a denunciação da lide nas ações regidas pelo Código de Defesa do Consumi-
dor, com base na responsabilidade por acidente de consumo, é possível o exercício do direito de 
regresso, em face do causador do dano, segundo sua participação para a ocorrência do evento 
(BRASIL, Lei n. 8.078/90).
A responsabilidade contratual pelo acidente de consumo incidirá sobre o agente da conduta de-
lituosa pelo descumprimento das cláusulas negociais. Ela pode ser imputada a uma das partes, 
hipótese que a pessoa prejudicada poderá exigir o cumprimento da obrigação, a teor do artigo 
84 da Lei n. 8.078/90 (eficácia interna do negócio jurídico). 
Tanto poucas pessoas como muitas, em quantidade dispersa ou incontável, podem ser vítimas 
da inadequação por insegurança do produto ou serviço, uma vez que o acidente de consumo 
pode ocorrer tanto com o destinatário final quanto com alguma vítima que seja equiparada ao 
consumidor
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Um exemplo é o acidente de consumo ocorrido no interior de uma residência. A mãe que adquire 
um eletrodoméstico, assim como o filho – que é terceiro em relação ao negócio jurídico –, pode-
rão ser vítimas relacionadas ao mesmonegócio jurídico celebrado, se, ao ligarem corretamente 
o eletrodoméstico adquirido, vierem a sofrer choque elétrico proveniente do produto. Se outros 
eletrodomésticos de mesma série de fabricação estivessem com problemas, causando choque 
elétrico considerável nas pessoas que manipulassem esses produtos, a responsabilidade do for-
necedor também estaria caracterizada. Na forma contratual, pouco importa se o adquirente ou 
algum terceiro havia sofrido a descarga da eletricidade.
Assim, ainda como exemplo, se as instalações de um cinema vierem a pegarem fogo, causando 
ferimentos nos indivíduos que estão assistindo ao filme e nos transeuntes que estavam próximos 
ao local (terceiros não contratantes que sofrem os efeitos da prestação de serviços adquirida), 
todos poderão, individualmente, buscar a reparação ou ter seus direitos amparados.
Outro exemplo que podemos citar é quando uma pessoa adquire um veículo automotor, trans-
portando por meio dele os seus familiares. Imagine que, repentinamente, por uma falha do sis-
tema de frenagem do automóvel recém-adquirido, o indivíduo atropele um transeunte que falece 
logo em seguida. Nesse caso, além de ter causado ferimentos nos passageiros do automóvel, ou 
seja, os familiares; a pessoa ainda matou um transeunte. 
Dentro desse contexto, a relação contratual foi celebrada apenas entre a concessionária do 
veículo e o seu adquirente. Pelo sistema consumerista, o defeito da frenagem do veículo causou 
danos ao consumidor e à outras vítimas do evento, que a ele são equiparadas, conforme artigo 
17 da Lei n. 8.078/90. 
Como o dano foi, de fato, contratual para o contratante, posto que o bem fornecido causou a 
insegurança ao consumidor e à terceiros, os sucessores do pedestre, infelizmente atropelado, 
poderão pleitear indenização por dano moral, junto ao fornecedor responsável.
Encaminhado o veículo para reparo do sistema de frenagem, o fornecedor descumpriu a obri-
gação e restituiu o veículo ao seu proprietário. Dessa forma, um novo acidente pode aconte-
cer, abalroando o carro com uma loja de departamentos, ferindo o condutor e outras pessoas 
envolvidas.
Tanto o consumidor (eficácia interna do contrato) quanto os terceiros feridos pelo defeito extrín-
seco do bem poderão se opor ao negócio jurídico, uma vez que houve o descumprimento da 
obrigação do fornecedor (princípio da oponibilidade dos terceiros prejudicados), e o prejuízo foi 
manifesto não somente à parte, mas também a eles. 
Se o atropelamento tivesse ocorrido sem que qualquer falha de segurança pudesse ter como 
causa a fabricação do carro, o caso seria de responsabilidade extracontratual. Além disso, se o 
mesmo atropelamento tivesse ocorrido, ainda, em um veículo de test drive por falha de frenagem 
do carro, a responsabilidade seria da fornecedora e pré-contratual (apresentação do produto 
ao consumidor). Contudo, se nesse test drive tivesse ocorrido o atropelamento por imprudência 
do condutor consumidor, a responsabilidade seria dele, na forma aquiliana, pelo sistema civil de 
responsabilidade.
Caso
A jurisprudência vem reconhecendo a responsabilidade do transportador por danos físicos causa-
dos ao passageiro, pouco importando se o acidente de consumo é de grande monta, atingindo 
um número expressivo de pessoas ou não. 
Como exemplo, podemos exemplificar com o caso de um passageiro que, em função de acidente 
ocorrido dentro da estação, sofreu amputação da falange distal do polegar. O Superior Tribunal 
de Justiça manteve a decisão de responsabilizar o transportador por danos morais e estéticos.
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Exclui-se, por outro lado, a responsabilidade contratual do fornecedor de produtos ou serviços 
quando a culpa é exclusiva da vítima ou de terceiro (BRASIL, Lei n. 8.078/90).
O legislador também estabelece outros fatores de exclusão da responsabilidade do fornecedor, 
que, materialmente, apenas identificam a ausência de responsabilidade por inexistência de nexo 
de causalidade: o defeito inexistente do produto ou do serviço e a demonstração de que o for-
necedor não lançou o produto no mercado (exclusões formais da responsabilidade, previstas nos 
artigos 12 e 14 da Lei n. 8.078/90).
Finalmente, cumpre indagar qual prazo terá o consumidor ou a entidade legitimidade para a 
defesa dos interesses transindividuais no caso de acidente de consumo, por meio da demanda 
correspondente. Contrariamente ao legislador civil, que estabelece prazos prescricionais gerais 
e específicos com causas suspensivas e interruptivas de prescrição, a Lei n. 8.078/90 adota a 
extinção do direito de ação judicial para os casos de responsabilidade pelo fato do produto ou 
serviço.
Assim, o consumidor terá o prazo quinquenal para propor a demanda cabível, com fundamento 
na Lei n. 8.078/90, quando o fornecedor vier a ser responsável por acidente de consumo que 
possa causar ou efetivamente provoque um dano moral (ofensa a um direito da personalidade) 
para si. O prazo prescricional tem como termo inicial ou suspensivo a data do evento e do co-
nhecimento da autoria do dano.
Outro caso de prescrição é quando há impropriedade do produto por colocar em risco a vida, 
a saúde ou a segurança do consumidor, embora inserida na parte atinente à responsabilidade 
pelo vício do produto ou do serviço. Nesses casos, reconhece-se legislativamente que a respon-
sabilidade pelo fato do produto e serviço (acidente de consumo) é ofensiva aos bens jurídicos 
tutelados de maior relevância (direitos da personalidade do consumidor).
Caso o consumidor queira reclamar judicialmente pelo acidente de consumo, ou seja, pelo fato 
do produto ou serviço, ele terá um prazo prescricional de cinco anos, cujo termo inicial de con-
tagem pressupõe dois elementos: o conhecimento do dano e o conhecimento da sua autoria.
Pode acontecer de o consumidor lesado apenas tomar conhecimento da existência da autoria 
posteriormente à ocorrência do dano que sofreu, motivo pelo qual é bastante interessante a 
exigência legal de conhecimento da autoria, para os fins de início da contagem do prazo pres-
cricional. Observe-se, assim, que o prazo prescricional para o consumidor propor a ação de 
indenização é maior do que a prescrição civil por reparação de danos, cujo prazo é de três anos.
2.3 Desconsideração da personalidade jurídica 
e responsabilidade em grupos societários
A responsabilidade civil nas relações de consumo é fixada, como se observou até o presente 
momento, mediante um complexo microssistema estabelecido pela Lei n. 8.078/90. Embora o 
microssistema mencionado tenha sido muito bem elaborado pelos autores do anteprojeto, nem 
sempre há pleno êxito na reparação dos prejuízos causados aos consumidores. 
Uma das razões pelas quais acaba sendo frustrada a reparação dos danos causados aos con-
sumidores está no fato de que o fornecedor, formalmente considerado, não é o real causador 
do prejuízo, mas, sim, as pessoas que se valeram da aparência de legalidade da atividade do 
fornecimento de produto e serviço.
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O Código de Proteção e Defesa do Consumidor prevê a possibilidade de desconsideração da 
personalidade jurídica do fornecedor, a fim de ampliar o patrimônio que servirá ao pagamento 
da reparação pelos danos causados. Entende-se por desconsideração da personalidade jurídica 
(disregard of the legal entity), também denominada teoria da superação ou teoria da penetra-
ção, para os fins de relação de consumo, o instituto que responsabiliza o representante legal, o 
administrador ou o gerente que, agindo em nome do fornecedor da pessoa jurídica, pratica um 
ato lesivo aos interesses dos consumidores.
A utilização da teoria da desconsideração é bastante vantajosa para os consumidores, afas-
tando-se a roupagem da personalidade jurídica da qual o representante se utiliza para praticar 
atos de obtenção indevida de vantagem. Nas relações de consumo reside a maior relação de 
hipóteses que autorizam a desconsideração da personalidade jurídica, no direito brasileiro,as 
quais podemos citar:
• Abuso de direito: exercício imoderado de um direito que proporciona a obtenção indevida 
de vantagem, nas relações de consumo, quando o representante legal da entidade acaba 
praticando um ato ou negócio jurídico fora dos limites de suas atribuições contratuais ou 
estatutárias, sem a autorização da assembleia geral;
• Excesso de poder: quando o representante legal acaba formalmente realizando um ato 
ou negócio jurídico que não está inserido no objeto de atividade ou na finalidade da 
entidade;
• Infração da lei: cometida pelo representante legal, administrador ou gerente, que acaba 
formalmente realizando um ato prejudicial aos interesses da pessoa jurídica por ele 
representada ou de terceiros;
• Fato ou ato ilícito: proporciona obtenção de vantagem indevida em benefício do 
representante legal, administrador ou gerente do fornecedor da pessoa jurídica. É o caso, 
por exemplo, de uma das causas para a teoria da superação no Código Civil: a confusão 
patrimonial, isto é, quando o representante legal da pessoa jurídica lança ao menos parte 
do patrimônio dela em seu patrimônio particular, ou vice-versa;
• Violação do contrato social ou dos estatutos: conforme se trate de sociedade civil 
ou empresarial (contrato social), de associação ou fundação (estatuto), sendo que o 
representante legal, administrador ou gerente do fornecedor da pessoa jurídica comete 
um ato que viola diretamente alguma obrigação estatutária ou contratual existente;
• Falência ou estado de insolvência: o que caberá, respectivamente, para as sociedades 
empresárias e demais entidades, mediante decisão judicial;
• Encerramento ou inatividade da pessoa jurídica: hipótese na qual o próprio 
representante legal, administrador ou gerente responderá pelos atos ruinosos e que foram 
prejudiciais aos consumidores;
• Personalidade jurídica do fornecedor for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos 
causados aos consumidores: hipótese residual e de aplicação excepcional, devendo o 
julgador analisar o caso concreto, em conformidade com os princípios das felações de 
consumo.
Não podemos confundir, por fim, a teoria da desconsideração da personalidade jurídica com 
a teoria da responsabilidade direta do representante, nos casos expressamente indicados 
em lei (por exemplo, a responsabilidade tributária direta do representante legal da empresa por 
sonegação de informações), uma vez que a responsabilidade que sobre ele recai decorre da prá-
tica de atos que deveria ter tomado para a própria normalidade da atividade da pessoa jurídica.
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Outro regime de imputação da responsabilidade civil previsto pelo Código de Proteção e Defesa 
do Consumidor é a responsabilidade civil do fornecedor em grupos societários. Muitas vezes, 
poderá ocorrer de o fornecedor não possuir patrimônio suficiente para arcar com a reparação 
dos danos patrimoniais e/ou morais sofridos pelos consumidores, razão pela qual se busca no 
patrimônio de outras entidades do mesmo grupo societário o aporte necessário para a efetivação 
das indenizações em favor das vítimas.
Buscando facilitar a reparação do dano em favor dos consumidores, a Lei n. 8.078/90 estende 
a responsabilidade civil do fornecedor nos seguintes casos:
• responsabilidade solidária das sociedades consorciadas, que, estando ou não sob o 
mesmo controle acionário, poderão constituir consórcio para o empreendimento que 
definirem (BRASIL, Lei n. 6.404/76);
• responsabilidade subsidiária da sociedade integrante de grupo societário, pouco 
importando se o grupo societário é de subordinação (pressupõe a existência de uma 
sociedade controladora) ou de coordenação (as empresas se obrigam sem unidade de 
controle, apenas com unidade de direção);
• responsabilidade subsidiária da sociedade controlada, assim considerada a entidade na 
outra qual outra é titular de direitos de sócio que lhes asseguram, de maneira permanente, 
a preponderância das deliberações sociais, assim como o poder de eleger a maioria dos 
administradores;
• responsabilidade subjetiva da sociedade coligada, que é a entidade na qual outra possui 
influência significativa quando investidora de 10% ou mais do capital votante dela.
Excetuada a responsabilidade subjetiva da sociedade coligada, todas as demais entidades que 
integram os grupos societários respondem da mesma maneira que o fornecedor causador do 
dano, ou seja, objetivamente (independentemente da existência de culpa).
2.4 Oferta, publicidade e práticas abusivas
Podemos entender por oferta qualquer informação ou publicidade sobre produtos e serviços vei-
culada a uma coletividade de pessoas, por todas as formas permitidas ou que não forem coibidas 
por lei, como revistas, jornais, catálogos, outdoors, telefone, fax etc. (LISBOA, 2013). A oferta 
deve ser suficientemente precisa quanto aos seus termos, pois acaba vinculando o fornecedor, 
mesmo se não vier a contratar com o consumidor ou antes da assinatura do instrumento respec-
tivo (responsabilidade pré-contratual).
O artigo 29 da Lei n. 8.078/90 estabelece a equiparação de todas as pessoas que sejam expos-
tas às práticas de oferta e publicidade veiculadas no mercado de consumo. Trata-se de mais uma 
significativa demonstração de exceção ao princípio clássico da relatividade dos efeitos, uma vez 
que atinge terceiros, determinados ou não, causando-lhes prejuízo ou ameaça de dano.
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Figura 4 – Toda oferta e publicidade precisam de excelente estratégia de atuação, envolvendo-se a agência de 
publicidade na criação a partir da análise do bem
Fonte: DeiMosz, Shutterstock.
O fornecedor deverá se responsabilizar pelo cumprimento da oferta veiculada, já que ela passa 
a fazer parte integrante do contrato, por força de lei. Na oferta, o fornecedor deverá conceder 
todas as informações relevantes do produto ou serviço colocado à disposição do consumidor, 
como características, qualidade, quantidade, peso, data de validade, origem, além de informa-
ções sobre o risco que eventualmente o produto ou serviço podem causar à saúde.
A oferta, a apresentação e a publicidade do Código de Defesa do Consumidor são mais amplas 
do que a proposta do Código Civil, sendo aquelas vinculativas ao fornecedor e, imediatamente, 
passíveis de execução específica; enquanto que estas, apenas no caso de vincular o fornecedor, 
é que estará sujeita à indenização por perdas e danos, em face da não-realização do contrato 
e nada mais.
A responsabilidade civil do fornecedor pela oferta e pela publicidade é objeto de vários 
estudos. Por conta disso, sugere-se a leitura do artigo elaborado por Caroline Lederman 
Blochtein, denominado “A proteção do consumidor frente à publicidade dissimulada em 
blogs e redes sociais”, disponível no link: <http://hdl.handle.net/10183/157221>
VOCÊ QUER LER?
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Direito do Consumidor
Além disso, não se confunde a propaganda com a publicidade. A propaganda, como a expres-
são designa, tem como escopo a veiculação ou propagação de ideias em geral, como as de 
cunho filosófico, político, religioso ou econômico. Não tem por finalidade direta a percepção de 
lucro ou a circulação econômica de riquezas, como sucede na divulgação de publicidade, que 
visa tornar pública uma oferta de produto ou serviço para auferir proveito de sua distribuição.
Também se coíbe a publicidade enganosa e a abusiva. A publicidade enganosa é toda criação 
estética que se destina a veicular um produto ou serviço no mercado de consumo, induzindo e 
forma equivocada as pessoas expostas às suas práticas (LISBOA, 2013).
Sob uma concepção clássica e à luz da teoria da responsabilidade, como se trata de indução 
em erro do consumidor e daqueles que a ele se equiparam, incluindo-se as pessoas indetermi-
nadas expostas às práticas publicitárias, poderia parecer que o ideal seria que a denominação 
do instituto fosse publicidade dolosa ou culposa (mais uma vez se faz presente o elemento 
volitivo, que, na verdade, nãopode ser desconsiderado em qualquer relação jurídica, por mais 
comprimida que seja a vontade humana). Entretanto, deve-se ponderar que todos os institutos 
alusivos aos vícios de consentimento (defeito da manifestação da vontade), devem ser analisados 
perante o atual sistema civil brasileiro, incluindo o de proteção ao consumidor, de acordo com 
o princípio da boa-fé objetiva.
Com isso, a noção do instituto passa a ser outra, uma vez que não se cogita, para os fins de 
verificação da eventual violação de dever de conduta ante a frustração da expectativa legítima 
da vítima, se o agente pretendeu ou não causar prejuízo. Ademais, deve-se frisar que o erro 
somente acarreta a ineficácia do negócio jurídico, na lei civil, se ele for essencial e reconhecível 
pela outra parte.
Na realidade, não há o que se cogitar sobre a prática de dolo-ilícito, pois a teoria do negócio 
jurídico proporcionou, com a entrada em vigor do Código Civil de 2002, uma distinção bas-
tante importante entre o dolo-vício e o dolo-ilícito. Na primeira hipótese, não se indaga sobre a 
existência ou não de intenção de proporcionar o dano em desfavor da vítima, já que se verifica 
somente se a violação do dever de conduta acarretou o prejuízo sofrido pela vítima ou não.
Essa passagem é de suma importância para melhor compreensão da publicidade enganosa, na 
visão consumerista, uma vez que ela se sujeita à teoria do negócio jurídico conforme o princípio 
da norma da boa-fé, e não da boa-fé psicológica. A chamada publicidade enganosa ludibria a 
vítima com a ausência das informações adequadas sobre o produto ou serviço, influenciando-a 
na decisão de compra. Nesse contexto, o erro é vício de consentimento, o qual leva a vítima ao 
desconhecimento parcial ou total sobre aspectos relevantes do bem, como características, quali-
dade, quantidade, preço, condições de pagamento e demais informações.
O rol constante do artigo 37 da Lei n. 8.078/90 não é taxativo, pois é dito enganosa qualquer 
informação ou comunicação de caráter publicitário que induz o consumidor ao erro. Consagra-
do pelo artigo 2° da Resolução 39/248 da Organização das Nações Unidas (ONU), o direito de 
informação do consumidor é indispensável para o equilíbrio da relação contratual ofertada pelo 
fornecedor, a partir dos meios de comunicação.
VOCÊ QUER VER?
O acesso à informação é um direito básico do consumidor. Em entrevista dada pelo 
professor e desembargador Werson Rego, ele explica exatamente sobre o assunto de 
forma detalhada. Para entender melhor, acesse a entrevista completa no link: <http://
g1.globo.com/globo-news/jornal-globo-news/videos/v/acesso-a-informacao-e-um-
direito-basico-do-consumidor-desembargador-explica/4848854/>.
17
Entre os princípios informativos dos contratos de massa (difusos ou coletivos), podemos men-
cionar o dever de informação que o sujeito possui diante da parte contrária. A mesma regra se 
aplica aos contratos de consumo, sempre observado o princípio do homem médio: se o consu-
midor vier a adquirir uma réplica de uma obra de Picasso em uma feira de rua por um preço vil, 
simplesmente porque imaginava se tratar do verdadeiro, por exemplo, não há como se imputar 
responsabilidade alguma ao fornecedor, a não ser que ele tivesse agido dolosamente, induzindo 
as pessoas que por ali passavam a adquirir a obra sob o fundamento de que era verdadeira. 
Como não é o caso, temos a culpa exclusiva da vítima, que certamente obsta a responsabilização 
do fornecedor.
Em nosso sistema jurídico, o dever de informação incumbe ao fornecedor, não apenas durante a 
execução de um contrato realizado, mas, também, pré-contratualmente, ou seja, para quem vier 
a adquirir o produto ou serviço, ou a título preventivo sobre as pessoas que serão submetidas a 
essa publicidade.
Por outro lado, o destinatário final dos produtos e serviços possuem o dever de prestar infor-
mações relativas às suas possibilidades para adquirir e, no caso de reserva de domínio ou de 
propriedade resolúvel, prestar dados sobre as suas condições de manter o objeto da relação 
jurídica.
Assim, para descaracterização da publicidade enganosa, faz-se necessária a demonstração de 
que inexistiu a indução do erro sobre aspectos relevantes do produto ou serviço adquirido. Como 
a relação de elementos que integram a relevância de informações sobre o bem, constante do 
artigo 31 da Lei n. 8.078/90, não é taxativa, pode-se afirmar que praticamente todos os dados 
referentes aos produtos ou serviços devem ser prestados em homenagem ao princípio da boa-
-fé, sob pena de infringência, no qual se abrirá a possibilidade do lesado obter a reparação 
correspondente.
Mesmo a atitude meramente passiva do consumidor não elide, em nosso sistema, a responsabili-
zação pré-contratual imposta por lei ao fornecedor, já que apenas a existência de culpa ou dolo 
exclusivos do consumidor ou de terceiro possibilitaria a irresponsabilidade daquele. Havendo 
concurso de responsabilidade entre o fornecedor e o consumidor ou terceiro, subsiste o dever de 
reparação do dano em desfavor do fornecedor.
A boa-fé negocial deve estar presente mesmo antes da formação do vínculo contratual, em seus 
mais diversos segmentos, consubstanciados nos deveres de informação, lealdade, assistência e 
cooperação. O dever de informar pressupõe a ignorância total ou parcial da outra parte sobre 
o assunto relevante da contratação. Seu conteúdo se refere à indicação da causa obstativa da 
eficácia do contrato, qualquer que seja ela, para que o consumidor tenha pleno conhecimento 
da situação e opte, por definitivo, em contratar ou não. Enquanto não forem prestadas todas 
as informações ao consumidor, o fornecedor não poderá promover a ruptura das negociações 
preliminares, sob pena de violação do princípio da boa-fé.
Se é correta a afirmação segundo a qual a responsabilidade pré-contratual não supõe a obri-
gação de contratar (pois mesmo nos contratos forçados ou necessários isso não é concebível), é 
exata a conclusão de que a informação deve ser dada em sua plenitude para que o fornecedor 
cumpra sua obrigação ex lege. Além disso, assegura-se a defesa do consumidor pela veracidade 
e suficiência das informações prestadas pelo fornecedor, coibindo-se a realização de qualquer 
publicidade enganosa. 
Também é vedada a publicidade enganosa por omissão, ou seja, aquela que não informa sufi-
cientemente o interessado sobre as características do produto ou serviço, assim como o seu preço 
(BRASIL, Lei n. 8.078/90).
18 Laureate- International Universities
Direito do Consumidor
Importante mecanismo processual foi outorgado a todo aquele que é equiparado ao consumidor 
ou ele próprio, representado ou não por ente legitimado, para a propositura da demanda perti-
nente: a inversão obrigatória do ônus da prova (que é, a rigor, a fixação legal de imputação do 
ônus da prova), constante do artigo 38 da Lei n. 8.078/90.
Segundo o dispositivo em apreço, a veracidade da informação ou comunicação publicitária cabe 
a quem as patrocina. Independe, assim, da discricionariedade do juiz ao apreciar o processo. 
Vale frisar que se entende por patrocinador o anunciante (contratante da campanha da agência 
publicitária) e os demais fornecedores do produto ou serviço veiculados, uma vez que eles se 
responsabilizaram pela escolha do conteúdo da publicidade da agência. 
Por outro lado, na publicidade abusiva, o patrocinador ou anunciante obtém vantagem, ainda 
que potencial, ao exercer influências consideradas negativas pelo legislador para a aquisição de 
produtos e serviços. Além disso, causa, ainda que reflexamente, um prejuízo patrimonial ou mo-
ral à massa de consumidores, principalmente pelo seu comportamento, que não precisa neces-
sariamente ser demonstrado, uma vez que a simples abusividade, por si só, já torna o ato ilícito.
VOCÊ QUER VER?
Veja, no link a seguir, um interessante documentário de Carlos Soton, intitulado “Pu-
blicidade Infantil x Consumismo”, a fim de compreender melhor o motivo de algumas 
publicidades seremconsideradas de conteúdo abusivo: <https://www.youtube.com/
watch?v=joLiu7ugr7M>.
A publicidade abusiva, por se constituir em excesso ou imoderação do exercício do direito de 
divulgar informações no mercado de consumo, é igualmente enunciada em rol exemplificativo, 
considerando-se abusiva:
• a publicidade discriminatória de qualquer natureza, como <IT>verbi gratia<IT>, realizada 
em detrimento de sexo, raça, cor, nacionalidade ou convicção filosófica, religiosa ou 
político-partidária;
• a publicidade que explora o medo da população quanto à sua segurança e à preservação 
de seu patrimônio;
• a publicidade que explora a superstição e a crendice popular para obtenção de vantagem 
em prol do fornecedor, da agência publicitária ou de terceiro;
• a publicidade que se aproveita da deficiência de julgamento e da inexperiência da criança, 
causando qualquer prejuízo moral ou patrimonial, bem como ao seu responsável legal;
• a publicidade que desrespeita valores ambientais, naturalmente existentes ou artificialmente 
criados por força ou atividade humana;
• a publicidade que induz o interessado a se portar de forma prejudicial ou perigosa à sua 
saúde ou segurança.
A publicidade de produtos fumígeros (cigarros, charutos, cachimbos, cigarrilhas etc.), alcoólicos 
(toda bebida superior a 13 graus Gay Lussac) e tóxicos agrícolas (pesticidas, fungicidas etc.) é 
regulada de forma específica, não podendo promover a sua ligação com aspectos esportivos, de 
maior sexualidade, calmantes ou estimulantes (BRASIL, Lei n. 9.294/96).
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Figura 5 – A publicidade de cigarros é restrita, sujeita à lei própria, sob pena de ser considerada abusiva
Fonte: Shutterstock.
Além de se proibir o uso de produtos fumígeros em recintos fechados, a lei se limita a veiculação 
da sua publicidade, assim como a de bebidas alcoólicas, nas emissoras de rádio e televisão, das 
21 horas às 6 horas.
As embalagens desses produtos (fumígeros, alcóolicos e agrícolas) ainda deverão conter a refe-
rência quanto ao correto e moderado uso, bem como as advertências e efeitos colaterais, ainda 
que de forma sucinta e pouco científica. Da mesma forma, os medicamentos, os produtos da 
medicina fitoterápica da flora brasileira e as terapias em geral não poderão conter informações 
desprovidas de base ou de prova científica, em especial quanto aos seus efeitos, devendo conter 
as advertências alusivas ao seu uso excessivo, que pode ser prejudicial à saúde.
Figura 6 – Todo medicamento deverá conter as informações necessárias, 
incluindo as advertências sobre seu uso e manipulação
Fonte: Shutterstock.
20 Laureate- International Universities
Direito do Consumidor
Ademais, o consumidor não poderá ser forçado a adquirir quantidades do produto que não lhe 
sejam convenientes, ante a eventual recusa do fornecedor em vender quantidade inferior, estabe-
lecendo-se um limite mínimo para que se permita a sua aquisição. O mesmo raciocínio deve ser 
empregado sobre a prestação de serviços de forma casada, como, por exemplo, na exigibilidade 
de contratação de seguro de vida para os fins de concessão de empréstimo. 
A hipótese inversa de prática comercial também é proibida. Se, por um lado, o fornecedor não 
pode obrigar o consumidor a adquirir grandes quantidades de um produto, ele não poderá, 
também, se recusar a prestar atendimento à demanda de consumidores, retendo os bens para 
estoque próprio, fora do razoável (princípio da razoabilidade da atividade econômica). Assim, 
ele deverá realizar a função socioeconômica, conforme a disponibilidade do estoque.
O fornecedor ainda não poderá impedir que o consumidor tenha acesso aos produtos ou serviços 
por ele estocados, pois não cabe a ele promover a regulação do mercado, mas, sim, ao Estado. 
A retenção dos produtos para sobrelevação do preço e intensificação da procura é ilícito, passí-
vel de sanções civis, administrativas e penais. A remessa de produto ou de serviço ao consumidor, 
sem que tenha sido feito contato anterior no sentido de adquirir o bem, é prática abusiva, a qual 
induz o destinatário à aquisição do produto ou serviço.
Essa prática comercial é bastante corriqueira no mercado, como nos casos de envio de cartão 
bancário ou de crédito não solicitado. Para que sejam coibidas, o legislador equiparou a remes-
sa sem justa causa à distribuição de amostra grátis, sem que qualquer contrapartida o fornecedor 
possa vir a exigir do consumidor. Dessa forma, o fornecedor não poderá obrigar o consumidor a 
adquirir seus produtos ou serviços, prevalecendo-se da fraqueza ou ignorância.
Muitas vezes, o consumidor não tem o conhecimento técnico necessário nem a orientação jurídi-
ca razoável para a compreensão dos exatos limites do negócio jurídico ao qual aderiu. Mesmo 
os bacharéis em Direito, em várias oportunidades, as pessoas se deparam com situações em que 
demonstram, ainda que tacitamente, não compreender o sentido da orientação técnica, seja ela 
ligada ou não à área de conhecimento profissional.
Sendo assim, na conduta abusiva, fica clara a aproximação com o instituto da lesão, por meio do 
qual o agente obtém vantagem indevida para si, aproveitando-se da inexperiência, da levianda-
de ou da premência do consumidor. Em outras oportunidades, o fornecedor poderá agir de for-
ma igualmente indevida, aproveitando-se do estado de saúde ou da idade avançada do cliente.
Uma administradora de plano de saúde, por exemplo, não poderá se valer de um contrato por 
prazo determinado para impor sobre um consumidor adoecido ou com provecta idade outro 
contrato, de valor sobremaneira mais elevado ou sem a qualidade ou a quantidade dos serviços 
que o destinatário necessitaria e teria a seu dispor, justamente por causa da doença que contraiu.
A execução de serviços sem prévia elaboração de orçamento e autorização também é considera-
da prática abusiva, justamente para que o consumidor não seja constrangido a aceitar a prática 
de atividade e o pagamento por ela, uma vez que, se tivesse tido acesso ao orçamento ou pla-
nejamento, poderia ter facilmente recusado. 
Tomemos o exemplo de um decorador que é contatado, via telefone, para elaborar o ambiente 
de um apartamento. Chegando no local, sem dar ciência ao proprietário, o profissional pega a 
chave na portaria e realiza o serviço, que ainda não tinha contatado com a expressa anuência 
do consumidor. Nesse caso, o cliente não poderá ser obrigado a aceitar o serviço executado e a 
pagar pelo mesmo. No entanto, o fornecedor poderá complementar o serviço não terminado e 
que havia sido ajustado, anteriormente, com o consumidor. A alegação de que o serviço foi pres-
tado por telefone não é suficiente para autorizar a emissão de duplicata, que precisa ser emitida 
com base em fatura que discrimine as mercadorias vendidas ou o serviço efetivamente prestado. 
21
Também há evidente abusividade na prática cirúrgica não coberta pelo plano de saúde, quando 
realizada sem orçamento prévio, por se tratar de procedimento que é efetuado sem que o paciente 
esteja em risco iminente de vida.
Importante mencionar que o fornecedor não poderá colocar à disposição do consumidor, no 
mercado, um produto ou serviço que não conte com a aprovação técnica das entidades que 
expedem normas adequadas de cada área da ciência, como a Associação Brasileira de Normas 
Técnicas (ABNT) e entidade autorizada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e 
Qualidade Industrial (Conmetro).
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) possui como objetivo prover a so-
ciedade brasileira de conhecimento sistematizado, por meio de documentos normativos 
que permitem a produção, a comercialização e o uso de bens e serviços de forma com-
petitiva e sustentável nos mercados interno e externo. Isso contribui para o desenvol-
vimento científico e tecnológico, proteção do meio ambiente e defesa do consumidor. 
Acesse o link a seguir para entender melhor: <www.abnt.org.br>.
VOCÊ SABIA?
O desatendimento das normas técnicas vigentes é prática abusiva e gera responsabilidadedo 
fornecedor pelo vício decorrente da impropriedade do produto ou do serviço. 
Outro caso de abusividade é que não se pode, em regra, recursar o fornecimento de produtos ou 
serviços ao consumidor que os quiser adquirir, por meio de pagamento à vista. Todas as pessoas 
devem ser tratadas de igual modo no mercado de consumo, uma vez que possuem o direito de 
adquirirem os produtos e serviços conforme as suas condições econômicas.
Nesse contexto, a elevação injustificada do preço dos produtos e dos serviços prestados pelo 
fornecedor, seja a título de oferta (responsabilidade pré-contratual) ou contrato formado (res-
ponsabilidade contratual), também não é permitida, sendo vista como abusiva e divorciada de 
qualquer amparo legal. Essa ideia é aplicada para a<IT> <IT>imposição de índice de reajuste 
no caso de pagamento em prestações ou a prazo (contrato de trato sucessivo), caso o fornecedor 
venha a aplicar o índice desvinculado da realidade legal ou contratual por causa do desequilí-
brio causado sobre a relação jurídica, ante a realização da conduta.
Também é proibida a fixação de termo (evento futuro e certo) inicial ou final da vigência do 
contrato para a aquisição de um produto ou serviço de forma unilateral, considerando que a 
arbitrariedade em questão conduziria o negócio à insegurança jurídica e econômica, ficando o 
consumidor ao bel-prazer do fornecedor, que iniciaria e concluiria o contrato quando quisesse. 
O prejuízo ao consumidor, caso se admitisse a flexibilização unilateral do termo suspensivo ou 
resolutivo do contrato nos negócios, é de que o pagamento fosse realizado por período (sema-
nal, quinzenal ou mensal).
Cláudia Lima Marques, renomada jurista brasileira, é considerada um dos maiores 
nomes do Direito do Consumidor brasileiro. Ela realizou uma palestra que trata dos 
rumos da advocacia consumerista, integrando as principais comissões governamentais 
e acadêmicas sobre o assunto. Veja o que ela diz no link: <https://www.youtube.com/
watch?v=oCXGB6a8en4>.
VOCÊ A CONHECE?
22 Laureate- International Universities
Direito do Consumidor
Finalmente, no rol elencado pelo artigo 39 da Lei n. 8.078/90, consta como prática abusiva a 
conduta na qual o fornecedor exige vantagem excessiva ou onerosa para o consumidor. Caso 
uma das partes se desvie da conduta que ambas esperavam no momento do contrato, o equi-
líbrio inicialmente propugnado do ajuste estará ameaçado. Assim, a conduta efetivada poderá 
acarretar o reconhecimento de um desvio de comportamento ou de finalidade nocivo ao equi-
líbrio e à harmonia da relação jurídica, gerando, assim, a abusividade do comportamento, em 
desfavor do consumidor.
23
SínteseSíntese
O microssistema de responsabilidade civil dos fornecedores nas relações de consumo estabele-
cido pela Lei n. 8.078/90, como pode se observar pelas breves notas apresentadas, é bastante 
complexo.
Neste capítulo você teve a oportunidade de estudar a importância do microssistema de respon-
sabilidade civil nas relações de consumo, tendo as seguintes competências:
• compreender os principais aspectos da responsabilidade civil pelo vício do produto e 
serviço, em virtude da inadequação por impropriedade da função econômica; 
• compreender os principais aspectos da responsabilidade civil pelo fato do produto e 
serviço, em virtude da inadequação por insegurança;
• analisar a chamada responsabilidade civil extensiva aos demais integrantes de grupos 
societários do fornecedor;
• avaliar a desconsideração da personalidade jurídica e sua importância no Direito do 
Consumidor;
• conhecer o regime jurídico da oferta e da publicidade nas relações de consumo;
• entender o regime jurídico das práticas abusivas em geral.
24 Laureate- International Universities
Referências
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coe. Manual de Direito do Consumidor. São Paulo: RT, 2017.
BLOCHTEIN, Caroline Ledermann. A Proteção do Consumidor Frente à Publicidade Dissimu-
lada em Blogs e Redes Sociais. Dissertação (Especialização em Direito do Consumidor e Direitos 
Fundamentais) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016. Disponível em: 
<http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/157221/001017550.pdf?sequence=1>. 
Acesso em: 18/01/2018.
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de 
outubro de 1988. Brasília, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti-
tuicao/constituicao.htm>. Acesso em: 05/10/2017.
______. Lei n. 1.521, de 26 de dezembro de 1951. Altera dispositivos da legislação vigente so-
bre crimes contra a economia popular. Diário Oficial da União. Brasília, 1951. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L1521.htm>. Acesso em: 06/11/2017.
______. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e 
dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 1990. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 06/11/2017.
GLOBO NEWS. Acesso à informação é um direito básico do consumidor; desembargador 
explica. Disponível em: <http://g1.globo.com/globo-news/jornal-globo-news/videos/v/acesso-
-a-informacao-e-um-direito-basico-do-consumidor-desembargador-explica/4848854/>. Aces-
so em: 18/01/2018.
LISBOA, Roberto Senise. Contratos Difusos e Coletivos: A Função Social do Contrato. São Pau-
lo: Saraiva, 2013.
______. Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo. São Paulo: Saraiva, 2012.
MARQUES, Cláudia Lima. Novos rumos da advocacia consumerista. OAB Santa Catarina, 
2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=oCXGB6a8en4>. Acesso em: 
18/01/2018.
MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor. São Paulo: RT, 2016.
SALVATORI, Carlos Eduardo D’Elia. Algumas Linhas sobre Prescrição e Decadência no Âmbito 
Consumerista. RIDB, ano 2, n. 3, 2013. Disponível em: <http://www.cidp.pt/publicacoes/revis-
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SOTON, Carlos. Publicidade Infantil x Consumismo. 2008. Disponível em: <https://www.
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Bibliográficas

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