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73 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 RESPONSABILIDADE SOCIAL Unidade II 5 RESPONSABILIDADE SOCIAL EM DIVERSOS PÚBLICOS Souza (2006) afirma que a interação entre agentes sociais molda a sociedade. Esses agentes sociais são as empresas, investidores, funcionários, clientes e governo, entre outros. Cada um, a seu modo e com seus objetivos, consegue contribuir para o desenvolvimento. 5.1 Responsabilidade social com funcionários Stoner e Freeman (1999) ponderam que empresas socialmente responsáveis entendem que para ser bem-sucedidas nas estratégias de sustentabilidade precisam envolver seus funcionários. O trabalho com o público interno é fundamental na gestão socialmente responsável. Antes de realizar projetos externos, é necessário um trabalho interno. Assim, é preciso estar estritamente dentro dos parâmetros das questões legais que envolvem as relações de trabalho, ter pontualidade nos pagamentos salariais e prover condições de trabalho adequadas. Uma boa prática consiste em envolver os funcionários na melhoria dos processos internos. Outras boas práticas envolvem a valorização da diversidade, orientação pré-aposentadoria, cooperativas de crédito etc. Melo Neto e Froes (1999) contribuem discutindo os papéis dos funcionários e seus dependentes como agentes sociais além dos muros das empresas, os quais são promotores da responsabilidade social corporativa ao trabalharem como voluntários em programas sociais, ao difundirem valores éticos em suas relações com os diversos públicos da empresa e ao assumirem comportamentos sociais responsáveis em seu cotidiano de vida e de trabalho. A consequência lógica do orgulho em integrar uma empresa respeitável e respeitosa, conforme Souza (2006), é o aumento da produtividade e a redução dos erros. A empresa socialmente responsável alcança outros tipos de retorno, segundo Melo Neto e Froes (1999): • Melhoria da qualidade de vida de seus empregados, com reflexos positivos na família e na vizinhança; • Melhoria da qualidade de vida no trabalho; • Maior integração social do empregado e sua família na comunidade; • Redução nos índices de abstenção; • Melhoria do clima organizacional; e 74 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 Unidade II • Retorno em forma de cidadania profissional, pois os empregados se transformam em empregados-cidadãos (MELO NETO; FROES, 1999, p. 109-110). 5.2 Responsabilidade social com governo Schvarstein (2003) afirma que o papel fundamental do governo é promover o bem-estar social. Mas sejamos francos: independentemente da posição política de quem quer que seja, não se pode afirmar categoricamente que o Estado atende satisfatoriamente todas as necessidades da população. As áreas em que o Estado são deficientes é, portanto, terreno fértil para a ação social empresarial. Entretanto, é muito fácil enxergar ações sociais empresariais sem relação com as ações de outras organizações e mesmo do Estado. Essa desarticulação é prejudicial para a população, e uma maneira de resolver isso é procurar coordenar de forma conjunta as ações com empresas e governo local. É razoável afirmar que essa ação conjunta ganha eficiência em função de multiplicar o efeito dos esforços. Boas práticas observadas em países desenvolvidos envolvem ações do governo como: • financiamento de desenvolvimento tecnológico voltado a energia limpa, mobilidade, controle de resíduos e outros temas correlatos; • vantagens fiscais para empresas que invistam em bons programas ambientais e sociais; • preferência definida em edital para empresas socialmente responsáveis participando em licitações. Podemos perceber que o Estado precisa adotar a responsabilidade social internamente nas esferas de governo, autarquias, fundações etc. para que essas práticas se disseminem pela sociedade. Bourgartner (2005) chega a propor um novo tipo de serviço público que vai além dos procedimentos formais da administração pública através do alinhamento governo/empresas em direção à responsabilidade ambiental social e corporativa. 5.3 Responsabilidade social com fornecedores Quando a cadeia produtiva de uma empresa conta com fornecedores não comprometidos com a sustentabilidade ambiental e social, essa empresa na prática está sendo conivente com um modelo arcaico de fazer negócios, segundo Souza (2006). Lembrete Cadeia produtiva é o conjunto de organizações que interagem ao longo de um processo produtivo transformando insumos em novos insumos até a transformação em produto que segue ao cliente final. 75 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 RESPONSABILIDADE SOCIAL O relacionamento com fornecedores demanda transparência. Ambos, fornecedor e empresa, devem estar alinhados nas ações de RSE. Por isso, diversas empresas estão trabalhando no sentido de expandir o modelo de gestão sustentável para seus fornecedores e clientes. Esse movimento é uma extrapolação do conceito de empresa responsável, uma vez que o objetivo é tornar toda cadeia produtiva envolvida com a busca de soluções para a problemática ambiental e social (SOUZA, 2006, p. 87). Ao garantir junto ao mercado que não tem relações comerciais com fornecedores que não respeitam o meio ambiente ou que tenham condutas reprováveis, a empresa aumenta sua reputação e contribui com a sociedade. As empresas socialmente responsáveis devem selecionar seus parceiros e fornecedores utilizando critérios de comprometimento social e ambiental, considerando por exemplo, seu código de conduta em questões como as relações com os trabalhadores e com o meio ambiente (LOURENÇO; SCHRÖDER, 2003, p. 95-96). Souza (2006) pondera que não se trata de simplesmente deixar de fazer negócios com fornecedores sem RSE, e sim de incentivar e auxiliá-los a se adequar e assumir políticas alinhadas com os conceitos de sustentabilidade. Assim, a mudança positiva é incentivada. No caso de buscar novos fornecedores, um dos critérios passa a ser então as questões relacionadas ao tema. Para fazer negócios, a empresa deve incentivar seus fornecedores e parceiros a adotar os princípios e as ações de RSE que ela adota e utilizar critérios objetivos na seleção de fornecedores, como padrões de conduta nas relações trabalhistas, respeito à comunidade e ao meio ambiente etc. Pode parecer para você, aluno, uma ação impossível. Entretanto, ela está ocorrendo com cada vez mais frequência no ambiente de negócios. Exemplos de boas práticas na seleção e manutenção de fornecedores: • Definir como obrigatória a prática de processos éticos de gestão. • Estabelecer política ou programa de responsabilidade social para a cadeia de fornecedores. • Discutir RSE com os fornecedores para adequá-los aos critérios da empresa. • Fazer visitas surpresa de inspeção. • Estabelecer meios para conhecer a origem de insumos utilizados pelos fornecedores (ou seja, os fornecedores dos fornecedores) e ter garantias da lisura de seus processos. • Recusar adquirir insumos com possibilidade de ser “piratas”, falsificados ou roubados. 76 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 Unidade II • Incluir cláusulas restritivas a todos os fatores negativos mencionados nos contratos de fornecimento com direito a cancelamento e multas, além do encaminhamento da denúncia às autoridades competentes. 5.3.1 Cuidados específicos com fornecedores Devem ser tomados os seguintes cuidados: • Trabalho infantil: pela Lei nº 10.097, de 19 de dezembro de 2000 (BRASIL, 2000),é proibido qualquer trabalho a menores de 16 anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos. A empresa tem obrigação de incentivar fornecedores a não explorar trabalho de crianças e adolescentes, e é preciso monitorar o fornecedor para verificar o cumprimento. • Trabalho escravo, ou em condição análoga: o artigo 149 do Código Penal (BRASIL, 1940) define: Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto. A empresa deve incluir nos contratos de fornecimento essa questão, exigindo, quando necessário, as documentações devidas de seus fornecedores. Uma boa prática é participar de programas para erradicar o trabalho forçado. • Trabalhadores terceirizados: as leis brasileiras permitem a contratação de trabalhadores terceirizados: Considera-se prestação de serviços a terceiros a transferência feita pela contratante da execução de quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal, à pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviços que possua capacidade econômica compatível com a sua execução (BRASIL, 1974). Tendo trabalhadores terceirizados ou fornecedores nessas condições, a empresa deve estabelecer cláusula de corresponsabilidade de obrigações trabalhistas nos contratos de serviço, controlar o cumprimento do contrato e oferecer ao trabalhador terceirizado os mesmos benefícios oferecidos aos funcionários contratados. 5.3.2 Caso da Natura A Natura, empresa brasileira de cosméticos, tem operações em sete países da América Latina e na França. Seu corpo de funcionários conta com sete mil pessoas, além de aproximadamente um milhão e meio de consultoras de beleza. Sua prática junto a fornecedores de equipamentos, insumos, produtos e serviços é clara e justa: a Natura quer formar parceiros nas práticas empresariais sustentáveis e transparentes que possam atender aos objetivos de ambas as partes. 77 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 RESPONSABILIDADE SOCIAL A Natura tem uma política pública de seleção e manutenção de fornecedores alinhados com princípios do desenvolvimento sustentável, da governança corporativa e da responsabilidade social, e incentiva fortemente que esses fornecedores façam o mesmo com seus fornecedores, criando uma corrente positiva de negócios. Saiba mais Acesse o portal do fornecedor Natura e veja como é possível aplicar os conceitos discutidos: NATURA. Portal do fornecedor. [s.d.]. Disponível em: <http://www. natura.com.br/fornecedores>. Acesso em: 28 dez. 2018. 5.3.3 O caso da Levi’s Carneiro (2009) conta que a calça jeans Levi’s 501, uma das mais vendidas no mundo todo pelo fabricante americano de roupas, consome pelo menos três mil litros de água do cultivo do algodão até as lavagens feitas pelo consumidor ao longo do ciclo de vida útil. Esse estudo foi feito pela própria Levi’s em 2006. O estudo revelou que quase 50% desse consumo é feito nas fazendas de algodão. Pelo modelo de negócio da Levi’s, a compra do tecido é feita de tecelagens, e estas compram o algodão das fazendas. Ou seja, é o fornecedor do fornecedor o responsável pelo maior consumo de água apontado pelo estudo. “Podemos zerar nosso consumo de água em nossas fábricas, escritórios e lojas, mas o impacto ambiental da calça continuaria sendo o mesmo, por isso, precisamos diminuir o consumo nas fazendas para nos considerarmos verdadeiramente sustentáveis”, disse Sean Cady, diretor mundial de sustentabilidade da Levi’s (CARNEIRO, 2009, p. 121). Em 2009, o diretor mundial de sustentabilidade da Levi’s esteve no Brasil para incentivar produtores brasileiros de algodão a adotar práticas sustentáveis no plantio e colheita em parceria com uma ONG. A Better Cotton Initiative (BCI – Iniciativa para um Algodão Melhor) é uma ONG que tem por objetivo ensinar procedimentos sustentáveis na produção de algodão com diminuição do uso de água e agrotóxicos, contribuindo para preservar o ambiente e os trabalhadores. Essa iniciativa foi replicada na Índia e no Paquistão, onde produtores de algodão fornecem matéria-prima para as tecelagens fornecedoras de tecido para a Levi’s. Foi estabelecido um plano de metas para aumentar gradativamente o percentual de algodão sustentável em seus produtos. Ou seja, a prática sustentável foi incorporada à estratégia de negócios e, portanto, aos indicadores de processos. 78 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 Unidade II As empresas precisam assumir sua liderança, já que têm os recursos financeiros, tecnológicos e humanos para gerar uma mudança concreta. Elas têm o poder de agir como impulsionadoras desse processo (CARNEIRO, 2009). 5.3.4 O caso do boicote da carne paraense A exigência junto aos fornecedores pode criar situações didáticas para vários ramos de atividade. Em 2009 ocorreu um boicote (veto a quaisquer relações com um grupo que se queira punir ou constranger) feito por Carrefour, Walmart e Pão de Açúcar. As três maiores redes de supermercados do país se reuniram para banir a carne de todos os frigoríficos do estado do Pará. O motivo era a denúncia do Ministério Público Federal de desmatamento da Amazônia pelos produtores de carne do Pará para criar gado. Mais um caso de fornecedor do fornecedor! Note que a denúncia não era dos frigoríficos, e sim dos fornecedores dos frigoríficos. O boicote surtiu efeito: os onze frigoríficos da região se comprometeram a não mais comprar carne de produtores das áreas desmatadas e houve acompanhamento sistemático da Abras (Associação Brasileira de Supermercados) para garantir o cumprimento. E a onda de imprensa atingiu e inspirou empresas de outros ramos: a Nike, em função do alerta dado pela organização ambientalista Greenpeace, decidiu suspender as compras de couro de empresas paraenses ligadas ao problema do desmatamento. 5.4 Responsabilidade social com comunidades As comunidades ao redor das organizações são, em grande parte, os primeiros grandes impactados pelas atividades empresariais, de acordo com Souza (2006). O relacionamento com a comunidade no entorno das atividades da empresa é um tópico delicado. Vizinhos furiosos com barulho ou poluição atmosférica frequentemente geram problemas muitas vezes difíceis de lidar. Um bom relacionamento ao longo do tempo cria um good will (boa vontade) valioso, já que vizinhos engajados positivamente podem antecipar atritos potenciais. Além disso, a vizinhança com viés positivo muitas vezes traz sugestões e recomendações úteis para a operação empresarial. Para isso, é importante que a empresa adote processos de comunicação com seu entorno e que efetivamente leve em consideração o conteúdo dos feedbacks. Trata-se de uma rua de duas mãos chamada de cooperação. Criar e estimular uma cultura cooperativa é benéfico para ambas as partes. Os relacionamentos comerciais e sociais da empresa podem beneficiar a comunidade, e os relacionamentos sociais da comunidade podem beneficiar a empresa. Criar um ambiente de confiança mútua através de comunicação clara e aberta costuma ser um passo importante. Uma vez que as comunidades podem ser agentes de pressão para que as organizações adotem práticas responsáveis, qualquer antecipação de itens de uma possível agenda cria o ambiente de confiança. Por exemplo, se uma indústria de determinado ramo tiver um vazamento inesperado e poluir um rio, empresas do mesmo ramo devem rapidamente antecipar as reações de suas comunidades e demonstrar que o risco equivalente não deve ocorrerem função de processos adotados. Ou seja, antes de uma comissão de vizinhos bater à porta, a empresa deve comunicar claramente e de maneira honesta a situação real de risco de suas instalações, reforçando o clima de confiança. 79 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 RESPONSABILIDADE SOCIAL De um lado, as comunidades eventualmente impactadas negativamente possuem a capacidade de pressionar a empresa a adotar práticas responsáveis para resolver o problema. As pressões podem ocorrer através de denúncias públicas sobre poluição, barulho, problemas trabalhistas e outros. Por outro lado, o relacionamento amistoso com as comunidades pode representar um ativo valioso com transparência e respeito. Neste caso, a comunidade passa a ser defensora dos valores da empresa. Souza (2006) pontua que para o pleno exercício da RSE, a empresa deve contribuir para o desenvolvimento local da região na qual exerce suas atividades, enquanto Melo Neto e Froes (2001) estabelecem parâmetros para as organizações avaliarem as relações comunitárias: • Tipo e natureza da relação; se direta, através de projetos sociais próprios, ou indireta, por meio de doações e apoio; • O foco da relação; se está centrada em problemas sociais prioritários, ou se está centrada em problemas sociais secundários; • O alvo das ações; se focalizado e direcionado para comunidades e populações-alvo, ou se disperso para diversas comunidades e segmentos populacionais; • A natureza das ações; se são ações de inserção ou de fomento ao desenvolvimento social ou de voluntariado; • O escopo da relação; se restrita a um único órgão ou entidade, ou se mais ampla, envolvendo diversos parceiros; • O impacto das ações, se contribui para a melhoria da qualidade de vida da população ou se, além disso, contribui para o desenvolvimento sustentável da comunidade local ou regional (MELO NETO; FROES, 2001, p. 12). 5.4.1 O caso da Colgate-Palmolive A Colgate-Palmolive tem programas globais de melhoria da qualidade de vida das comunidades onde atua em todo o mundo: • Sorriso Saudável, Futuro Brilhante é um programa que promove educação em saúde bucal. Há materiais educativos e produtos gratuitos para ações sociais. O programa divulga informações sobre saúde bucal e faz diagnósticos e tratamentos gratuitos. Em 17 anos atendeu mais de 49 milhões de crianças em mais de 4,9 mil cidades no Brasil. • O programa Funcionário Cidadão incentiva os funcionários da Colgate-Palmolive a praticarem o voluntariado nas localidades onde vivem, integrando a empresa, colaboradores e a comunidade. Há campanhas regulares de arrecadação e distribuição de roupas, sapatos, cobertores e brinquedos 80 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 Unidade II nas diversas comunidades atendidas, e os voluntários estabelecem também um cronograma de visitas a entidades assistenciais voltadas a crianças, adolescentes e idosos. • A Colgate-Palmolive tem uma política para doação de seus produtos a entidades sem fins lucrativos. Há um processo de indicação por parte dos funcionários e mensalmente vinte instituições são atendidas. Já foram beneficiadas milhares de entidades como AACD, Instituto da Criança, Santas Casas de Misericórdia e outras. 5.5 Responsabilidade social com bancos e seguradoras É cada vez mais comum que processos de tomada de decisão de funding (financiamento) de parte das instituições financeiras adotem critérios ligados à questão ambiental e social. Ashley (2002) pontua que operações e procedimentos de organizações do setor financeiro têm capacidade de impactar, positiva ou adversamente, o contexto socioambiental. Os Princípios do Equador, que segundo Souza (2006) são um acordo ocorrido em 2002 no Equador entre diversas instituições financeiras para um tratamento adequado de questões socioambientais, incentivam tomadores de crédito em projetos de financiamento superiores a US$ 10 milhões a estudar os impactos ambientais de seus projetos, bem como a criar planos de mitigação desses impactos. Um exemplo de RSE financeiro é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), um dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo. O Governo Federal considera o BNDES o principal instrumento para o financiamento de longo prazo, além de investimento, da economia brasileira. A operação é voltada para financiar empreendedores de todos os portes em seus planos de modernização. O foco é gerar emprego e renda e promover inclusão social no Brasil. Para obter financiamento, as organizações precisam apresentar estudos de impactos ambientais para seus projetos e devem obrigatoriamente comprovar que atendem a legislação ambiental e de segurança e saúde do trabalhador. A consciência ambiental fica clara na declaração de missão do BNDES ([s.d.]): “Viabilizar soluções financeiras que adicionem investimentos para o desenvolvimento sustentável da nação brasileira”. Já o setor de seguros considera de maneira bastante racional empresas socialmente responsáveis como excelentes clientes, uma vez que há baixo risco em acidentes de trabalho, escândalos ambientais etc. 5.5.1 O caso Santander de financiamentos sustentáveis O Banco Santander prioriza o direcionamento de recursos financeiros para pessoas e empresas interessadas em aquisição de produtos e serviços sustentáveis (definidos pelo Santander como Crédito de Sustentabilidade). Há linhas de financiamento para energia solar, captação de água da chuva, tratamento de água e esgoto etc. 81 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 RESPONSABILIDADE SOCIAL PESSOA FÍSICA - Com o CDC Socioambiental, você pode parcelar em até 4 anos a compra de equipamentos para energia solar fotovoltaica, eficiência energética e hídrica, tratamento de resíduos e acessibilidade. PESSOA JURÍDICA - Crédito para empresas de todos os portes tornarem seus negócios mais sustentáveis, economizando água e energia, reduzindo a geração de resíduos e buscando certificações ambientais, entre outras medidas. AGRONEGÓCIO - Financiamentos do Santander e do BNDES para modernizar o setor agropecuário brasileiro com técnicas produtivas de baixo carbono e menores impactos ambientais. SANTANDER FINANCIAMENTOS - Clientes e não clientes podem parcelar a compra de bens e serviços nas lojas parceiras da Santander Financiamentos. Podem ser sistemas para a geração de energia solar fotovoltaica, adaptações para acessibilidade, equipamentos para eficiência energética e processos mais limpos, entre outros (SANTANDER, [s.d.]). 5.6 Responsabilidade social com Organizações não Governamentais (ONGs) As organizações não governamentais (ONGs) corporificam a vontade da sociedade em participar e de se tornar parte da solução em prol de um meio ambiente mais saudável e de uma sociedade mais justa. Consequentemente, muitas ONGs focaram suas ações nas áreas ambientais (reciclagem, redução de desperdícios, educação ambiental etc.) e social (educação básica, inclusão digital, saúde, arte, esportes etc.) (SOUZA, 2006, p. 91). As ONGs, por sua própria natureza, são experientes e competentes em atividades pouco comuns em empresas, e este é o motivo para serem encaradas como parceiros potenciais em projetos de RSE. Imagine uma empresa interessada em desenvolver um projeto de incentivo à reciclagem: o que é mais racional, desenvolver o projeto a partir do zero ou buscar ONGs correlatas e propor parceria cuidando do financiamento das atividades? Herzog (2002, p. 4) comenta que “a parceria talvez seja o modelo mais eficaz de atuação social porque promove a sinergia entreas competências essenciais de cada organização envolvida”. 5.7 Responsabilidade social com clientes A face visível dos programas de RSE, como balanço social, relatório de sustentabilidade e campanhas sociais, entre outras, pode ocultar uma verdade incômoda: será que os clientes dessas empresas supostamente socialmente responsáveis são efetivamente são responsáveis de modo efetivo pelo cliente final? Ou seja, será que faz parte dos procedimentos internos dessas empresas políticas de atendimento, de operação, de entrega etc. que realmente preencham os requisitos demandados pelos clientes? 82 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 Unidade II Pense numa instituição financeira com um banco, por exemplo, com ativismo e engajamento nas causas sociais e ambientais. Será que esse banco atende com eficiência e eficácia as necessidades de seus clientes? Será que os contratos legais que dão suporte a conta corrente, empréstimos, cartão de crédito, financiamento imobiliário etc. atendem de maneira responsável e justa seus clientes? Note que não estamos simplesmente derrubando a aplicação do conceito de RSE. Estamos somente ponderando que, antes de ser socialmente responsável com stakeholders, a empresa precisa ser responsável com seus próprios clientes. Portanto, é preciso coerência entre as ações voltadas à reputação junto a stakeholders e ações voltadas a clientes. A comunicação da empresa com seus clientes e com seus stakeholders deve prezar pela transparência e honestidade de propósitos. As estratégias mercadológicas devem fazer uma proposta de valor para os clientes sem subterfúgios, e a promessa implícita ou explícita inerente à proposta deve ser honrada. A proposta de valor de uma empresa é muito mais do que se posicionar em um único atributo; é uma declaração sobre a experiência resultante que os clientes obterão com a oferta e seu relacionamento com o fornecedor. A marca deverá representar uma promessa relativa à experiência total resultante que os clientes podem esperar. Se a promessa será ou não cumprida, depende da capacidade da empresa em gerir seu sistema de entrega de valor. O sistema de entrega de valor inclui todas as experiências de comunicação e canais que o cliente terá a caminho da obtenção da oferta (KOTLER, 2000, p. 59). Lourenço e Schröder (2003) ponderam que RSE junto a clientes apresenta duas vertentes: uma bem estabelecida, que é a questão legal de leis e normas de qualidade e segurança de produtos, e outra bastante fluida, que é a questão da expectativa do cliente quanto à razão qualidade/preço do produto. As empresas devem reconhecer os fatores de seus produtos que impactam a sociedade, sejam positivos ou negativos, analisando riscos potenciais e criando medidas preventivas ou corretivas em regime de contingência. Outro aspecto para ser levado em consideração envolve o acompanhamento da evolução tecnológica, pois no ritmo de inovações que vivemos hoje é razoável supor que possa haver tecnologias substitutas mais eficientes e seguras ambientalmente, garantindo bem-estar dos clientes. Lembrete A comunicação com os clientes deve ser clara e precisa, abrindo canais de contato como SAC para identificar problemas e propor soluções para os clientes. Para criar imagem de credibilidade, é preciso: 83 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 RESPONSABILIDADE SOCIAL • organizar processos de parceria com fornecedores, varejistas e prestadores de assistência técnica para a comunicação com clientes de forma transparente; • manter atualizadas todas as peças de comunicação, como embalagens, manuais e anúncios para aumentar a segurança de uso dos produtos; • destacar mudanças de características dos produtos quando ocorrerem, como tamanho, peso etc.; • oferecer aos clientes uma política clara de pós-compra com regras de devolução e responsabilidades correlatas; • criar a figura de ombudsman ou ouvidoria para defender o cliente dentro da organização de forma imparcial. Observação Segundo Silva e Sarmento (2009), a figura do ombudsman surge oficialmente em 1809, na Suécia, com um status de ministro e a função de fiscalizar o poder público e ouvir as queixas que os cidadãos tinham contra os órgãos governamentais. Posteriormente, o conceito é aplicado em jornais e órgãos de imprensa e finalmente é adotado por empresas de qualquer ramo. 5.8 O papel da ética Ética é uma palavra muito falada, mas sua aplicação muitas vezes desafia a humanidade. Há várias definições de ética e de suas derivações empresariais. Stoner e Freeman (1999) definem que ética é o estudo dos direitos e dos deveres dos indivíduos, das regras morais que são aplicadas na tomada de decisão e da natureza das relações interpessoais. Assim, uma vez que as organizações são compostas de pessoas, sempre há questões éticas envolvidas nas decisões, e essas questões se apresentam em níveis: Nível 4 O indivíduo Nível 3 Políticas internas Nível 2 Stakeholders Nível 2 Sociedade ↑↓ ↑↓ ↑↓ Figura 13 – Os quatro níveis das questões éticas de Stoner e Freeman 84 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 Unidade II • O nível 1 trata das questões éticas da sociedade como um todo. O que é bem comum, qual o limite da lei, qual o caminho para a educação etc. fazem parte desse nível. • O nível 2 aborda as questões éticas das organizações com seus stakeholders. Qual o tratamento para fornecedores e clientes, como se dá o relacionamento com investidores/acionistas, qual o limite de ação junto à comunidade etc. são integrantes desse nível. • O nível 3 é composto de questões éticas de ordem administrativa da organização, como direitos de minorias, acessibilidade e igualdade de gênero de funcionários, procedimentos internos, política comercial etc. • O nível 4 trata das questões éticas de relacionamento individual com outros indivíduos dentro e fora da empresa. Postura política, racismo, sexismo, honestidade, etiqueta corporativa etc. completam o quadro. É importante notar que a ética dos quatro níveis afeta as atividades da organização e é afetada por elas. Critérios de seleção de funcionários, adaptação a costumes locais ao se instalar uma filial, respeito à liberdade religiosa de funcionários, fornecedores e clientes, códigos de conduta etc. fazem parte do exercício cotidiano da ética nas empresas. Leisinger e Schmitt (2001) contribuem para a discussão abordando moral e ética: Moral Empresarial é o conjunto daqueles valores e normas que, dentro de uma determinada empresa, são reconhecidos como vinculantes. A Ética Empresarial reflete sobre as normas e valores efetivamente dominantes em uma empresa, interroga-se pelos fatores qualitativos que fazem com que determinado agir seja uma agir bom. [...] A empresa ética possui um compromisso com a cooperação ou à solidariedade para com as pessoas, isto é, além do seu próprio interesse, ela deve buscar o bem comum (LEISINGER; SCHMITT, 2001, p. 7). Ashley (2002) também aborda moral e ética, e relativiza a aplicação de moral: A moral pode ser vista como um conjunto de valores e de regras de comportamento que as coletividades, sejam elas nações, grupos sociais ou organizações, adotam por julgarem corretos e desejáveis. A ética é mais sistematizada e corresponde a uma teoria de ação rigidamente estabelecida. A moral, em contrapartida, é concebida menos rigidamente, podendo variar de acordo com o país, o grupo social, a organização ou mesmo o indivíduo em questão (ASHLEY, 2002, p. 4). Perceba que o conceito de moralidade é a aplicaçãodaquilo que a coletividade julga correto e desejável. Uma vez que a coletividade evolui e se transforma com o passar do tempo, a moralidade a acompanha. Como exemplo, pense na evolução das roupas de banho femininas ao longo do 85 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 RESPONSABILIDADE SOCIAL último século. Um biquíni comportado de hoje seria considerado moralmente ofensivo setenta anos atrás. E a moral muda em função da geografia também: o mesmo biquíni hoje numa praia de país islâmico seria blasfêmia. Moral, portanto, é um conceito relativo, enquanto ética tem aplicações tendendo para o absoluto. Ashley (2002) contribui de maneira incisiva: Responsabilidades éticas correspondem a atividades, práticas, políticas e comportamentos esperados (no sentido positivo) ou proibidos (no sentido negativo) por membros da sociedade, apesar de não codificados em leis. Elas envolvem uma série de normas, padrões ou expectativas de comportamento para atender àquilo que os diversos públicos (stakeholders) com as quais a empresa se relaciona consideram legítimo, correto, justo ou de acordo com seus direitos morais ou expectativas (ASHLEY, 2002, p. 5). Costa, Frazão e Neves (2006) comentam sobre a ética e a responsabilidade social reforçando o fato da adoção ser crescente: A Ética ilumina o ser humano, norteia a conduta individual e social e pode-se dizer que é a base da Responsabilidade Social, expressa através dos princípios e valores adotados pela organização, na condução dos seus negócios. A Ética e a Responsabilidade Social têm despertado o interesse das organizações passando a ser uma variável importante na relação destas com os seus diversos públicos, funcionários, fornecedores, clientes, sociedade, governo, dentre outros, que participam direta ou indiretamente do ambiente de negócios e de suas atividades. Ao longo dos tempos, vem-se percebendo uma mudança significativa nas práticas empresariais, pois, proprietários e dirigentes têm ampliado a visão a respeito da atuação, tanto com a sociedade quanto com seus empregados. Os cuidados com a comunidade local e o ambiente onde estão inseridas, deixam de ser apenas manifestações de consciência social e passam pelo envolvimento nas questões sociais. Por outro lado, tem-se cada vez mais uma sociedade consciente, articulada e engajada na fiscalização de práticas empresariais pautadas pela Ética. As organizações que administram suas relações sem ética com os públicos internos e externos e sem os devidos cuidados com as necessidades da sociedade e do ambiente, podem cometer erros, significando riscos de sobrevivência no mercado e pouca atenção aos problemas sociais (COSTA; FRAZÃO; NEVES, 2006, p. 197). 86 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 Unidade II No mundo atual, empresas públicas ou privadas, organizações governamentais, ONGs, Oscips etc. obrigatoriamente incorporaram a discussão sobre ética. RSE não está mais num plano abstrato e ocorre cotidianamente nas organizações. Observação Discussões sobre Ética ocorrem no mundo todo e não somente no Brasil. Outros países também enfrentam situações envolvendo questões éticas. Arruda e Navran (2000) apresentam o Modelo de Navran, que descreve a percepção dos funcionários sobre o clima ético da empresa. Ou seja, é uma ferramenta que permite medir o clima ético de uma empresa a partir da percepção e vivência de seu corpo funcional. Levantando dados de indicadores, o Modelo de Navran é aplicável em organizações de qualquer ramo ou porte e identifica se a percepção do funcionário é consistente com a política da empresa: O princípio básico do Modelo de Navran é o da congruência ou consistência: a pessoa, individualmente, e a organização são mais eficientes quando há congruência entre os valores e as crenças a respeito de como o trabalho deve ser feito e as expectativas e exigências da organização em relação ao sucesso. O conjunto de expectativas percebidas e exigidas é denominado clima ético e constitui objeto deste estudo (ARRUDA; NAVRAN, 2000, p. 28). Indicador 1: Sistemas formais São os métodos, políticas, processos e procedimentos que norteiam o negócio. Se os sistemas formais seguem uma ética clara, os funcionários percebem e devem agir em consonância. Se os sistemas não seguem uma ética clara ou há variação ética entre sistemas, os funcionários podem ficar em dúvida e acabam utilizando a interpretação de uma liderança próxima. Se os sistemas não tocarem no assunto ética, os funcionários agem em função de seus valores pessoais. Indicador 2: Mensuração Os funcionários tendem a prestar mais atenção quando há métodos de avaliação e mensuração, pois essas medidas normalmente significam metas. Em muitos casos, cumprir metas significa algum tipo de recompensa. Os sistemas de mensuração devem ser percebidos como justos em relação aos resultados dos funcionários. Indicador 3: Liderança O jeito de agir e de se comportar dos líderes é percebido de maneira muito mais contundente que suas falas. Normas e políticas escritas, quando comparadas com ações, pesam bem menos. Assim, se o 87 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 RESPONSABILIDADE SOCIAL discurso do líder não for consistente com suas ações, a dúvida se forma. Uns funcionários seguem o exemplo da ação, enquanto outros seguem a norma. Indicador 4: Negociação O senso de união entre os funcionários os estimula a serem pontuais e a cumprir obrigações, além de evitar o distanciamento entre eles. Porém, os conflitos entre as funções ocorrem de maneira natural, e é preciso negociar. Para Navran, em toda a organização, os funcionários rotineiramente se engajam em uma negociação como estratégia para resolver um conflito. Negociam prazos, compromissos, alocação de recursos, atribuição de tarefas e exigências específicas. Quando a negociação com um cliente, um par ou um supervisor é percebida como uma situação de ganha/perde, o sistema de valores internos das pessoas ajuda a determinar os limites da negociação. A integração dos valores organizacionais à negociação ajuda a mudar o foco para resultados mutuamente benéficos. A negociação se torna um processo para desenvolver soluções ótimas, em vez de uma competição para determinar quem ganhará ou quem perderá (ARRUDA; NAVRAN, 2000, p. 31). Indicador 5: Expectativas Há exigências para atingir metas: são as expectativas que a organização tem em relação aos funcionários. Contratar e promover funcionários deve ser uma atividade com regras absolutamente claras. Quanto mais claras e alinhadas com as políticas da empresa, mais fácil fica para o corpo funcional avaliar se as decisões foram certas ou erradas. Um funcionário, diante de uma oportunidade de promoção, avalia as expectativas claras da empresa com suas capacidades pessoais. Ou seja, favorecimento político em detrimento de regras que pareçam justas contribuem para o desalinhamento. Indicador 6: Consistência Os padrões de conduta da empresa devem ser consistentes com as atitudes tomadas pelos líderes e com a comunicação interna sobre essas atitudes. Os líderes devem dar exemplos de conduta e reconhecer quando erram, corrigindo os erros. Quando alguém destoa das normas éticas, uma atitude deve ser tomada. “A consistência se fortalece com a lealdade, o apoio e a confiança no líder que pessoalmente dá exemplos de conduta e que tem a humildade de retificar quando erra” (ARRUDA; NAVRAN, 2000, p. 31). Indicador 7: Chaves para o sucesso As chaves para o sucesso variam entre empresas e mesmo dentro da própria empresaao longo do tempo. Normalmente incluem trabalho árduo, motivação de equipes e premiações por resultados. Podem ser pontuais, como o lançamento de um produto estrategicamente importante, a abertura de uma filial de vendas em uma área até então inexplorada ou a experiência dos líderes em determinadas situações. 88 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 Unidade II As questões éticas surgem quando essas chaves de sucesso específicas não são universalmente acessíveis, quando conflitam com a posição ética declarada pela organização ou com os valores pessoais amplamente aceitos dos funcionários. Quando isso ocorre, o sucesso é percebido como reservado a um pequeno grupo seleto, com um critério de seleção além do controle do indivíduo (ARRUDA; NAVRAN, 2000, p. 32). Indicador 8: Serviço ao cliente Empresas que tratam os funcionários com respeito tendem a ter clientes mais bem-tratados. Se há desrespeito com os funcionários, esse padrão fora de ética rebate para fora dos muros e atinge clientes e outras pessoas. Evidentemente, isso prejudica os negócios. Indicador 9: Comunicação Para Navran, a comunicação da empresa com seus funcionários é vital. A empresa precisa comunicar de maneira clara as metas, as regras para atingi-las e os padrões de conduta esperados, sob pena de não conseguir atingir os objetivos. As pessoas precisam de informações, de orientação e de reforço. Necessitam conhecer as posições, os padrões éticos da empresa e o que é considerado uma conduta correta dos funcionários num amplo espectro de situações com as quais poderão se defrontar (ARRUDA; NAVRAN, 2000, p. 32). Indicador 10: Influência dos pares O mau exemplo contamina as atividades empresariais. Funcionários que agem de má-fé ou que demonstram problemas de caráter devem ter as ações contidas para minimizar o efeito do exemplo. Para Navran, a influência dos colegas existe em quase todos os negócios, indústrias e profissões. As pessoas contam com seus colegas para direção, validação e reforço. Quando a organização falha em comunicar adequadamente seus padrões éticos e suas expectativas, os funcionários compensarão essa falha aumentando sua confiança no apoio dado pelos colegas (ARRUDA; NAVRAN, 2000, p. 33). Indicador 11: Consciência ética Não fazendo parte do Modelo de Navran original, foi criado no Brasil como adaptação a algumas características próprias da nação. O aspecto político em grande número de empresas brasileiras pode prejudicar o profissionalismo de uma equipe e implicar prejuízos para a organização. Na empresa, às vezes, as relações pessoais ou a influência política são muito 89 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 RESPONSABILIDADE SOCIAL mais valorizadas que o preparo técnico-profissional dos funcionários. Na relação chefe/subordinado, o uso da autoridade pode inclusive levar ao aparecimento de frequentes casos de assédio sexual. Outro desvio que por vezes pode ocorrer é o de serem encobertas receitas da empresa, para não cumprir obrigações fiscais (ARRUDA; NAVRAN, 2000, p. 33). O jeitinho brasileiro referente a suborno, presentes de gratidão, uso dos recursos da empresa para fins pessoais etc. faz parte desse indicador. Note que não estamos afirmando que somente brasileiros adotam essas práticas, e sim que, por serem disseminadas no Brasil, merecem o acréscimo desse indicador ao modelo original. O quadro a seguir sumariza o Modelo de Navran com o acréscimo do 11º indicador: Quadro 7 – Indicadores e medidas de clima ético de Navran Indicadores Medidas 1. Sistemas formais Regras e manuais? Sistemas de controle? 2. Mensuração Sistemas de avaliação? 3. Liderança Políticas escritas e mensagens? 4. Negociação Acordos? 5. Expectativas Sistemas de seleção, promoção e correção? 6. Consistência Palavras e ações da organização? 7. Chaves para o sucesso Lançamento de produto? Auxílio a um mentor? Experiência em posições-chave? 8. Serviço ao cliente Contato com clientes? Manifestações de cortesia? Treinamentos? 9. Comunicação Comunicação de regras? Informação, orientação e reforço? Esclarecimento de dúvidas? Rapidez, precisão e punição em relação ao cumprimento das normas? 10. Influência dos pares Sistema informal de comunicação e educação? Apoio dado aos colegas? Apoio recebido dos colegas? 11. Consciência ética Relações pessoais? Assédio sexual? Uso dos ativos da empresa? Pagamentos facilitadores? Fonte: Arruda e Navran (2000, p. 33). 90 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 Unidade II 6 GESTÃO AMBIENTAL Segundo Tachizawa (2002, p. 24): A transformação e a influência ecológica nos negócios se farão sentir de maneira crescente e com efeitos econômicos cada vez mais profundos. As organizações que tomarem decisões estratégicas integradas a questões ambientais e ecológicas conseguirão significativas vantagens competitivas, quando não, redução de custos e incremento nos lucros a médio e longo prazos. Para Melo Neto e Froes (1999), a gestão ambiental fundamenta-se em: • bom relacionamento com os consumidores; • bom relacionamento com os organismos ambientais; • estabelecimento de uma política ambiental; • eficiente sistema de gestão ambiental; • garantia de segurança dos empregados e das comunidades vizinhas; • uso de tecnologia limpa; • elevados investimentos e proteção ambiental; • definição de um compromisso ambiental; • associação das ações ambientais com os princípios estabelecidos na Carta para o Desenvolvimento Sustentável; • a questão ambiental como valor do negócio; • contribuição para o desenvolvimento sustentável dos municípios circunvizinhos. Para os autores, para criar um sistema de gestão ambiental a empresa precisa: • treinar e capacitar os funcionários e envolvidos no processo; • integrar atividades de preservação ambiental com atividades de saúde e segurança do trabalho; • obter certificação ambiental ISO 14000. Borges e Tachibana (2007) comentam três abordagens para a Gestão Ambiental de Barbieri (2004): controle da poluição, prevenção da poluição e incorporação destas questões à estratégia da empresa. Estas três abordagens sugerem uma progressão, partindo do controle da poluição, passando pela prevenção da poluição e finalmente incorporando a Gestão Ambiental na estratégia organizacional: 91 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 RESPONSABILIDADE SOCIAL Quadro 8 – Gestão ambiental responsável: abordagens de Barbieri Característica Controle da poluição Prevenção da poluição Estratégia Preocupação básica Cumprir legislação Usar insumos de modo eficiente CompetitividadeResponder pressões externas Postura Reativa Reativa e proativa Reativa e proativa Ações típicas Corretivas Corretivas e preventivas Corretivas, preventivas e antecipatórias Usar tecnologias para correção no final do processo Conservar e substituir insumos Prever ameaças e buscar oportunidades com foco em médio e longo prazos Aplicar normas de segurança Usar tecnologias limpas Usar tecnologias limpas Percepção de gestores e acionistas Custo adicional Redução de custo e aumento de toda a produtividade Vantagens competitivas Envolvimento da alta administração Esporádico Periódico Permanente e sistemático Áreas envolvidas Basicamente áreas produtivas Áreas produtivas com crescente envolvimento das demais áreasAtividades ambientais permeadas na organização Toda a cadeia produtiva Adaptado de: Borges e Tachibana (2007, p. 3). Então vejamos as ideias do quadro. A empresa, em função de suas atividades, tem problemas ambientais e toma medidas em função deles. Barbieri sugere que há uma escala crescente das ações possíveis: a mais básica é controle da poluição, a intermediária é prevenção da poluição e a mais avançada é incorporar à estratégia. Veja que o controle da poluição é basicamente reativo com foco em atender a legislação e os grupos de pressão, e o gestor considera essas ações um custo adicional. Quantas empresas que você conhece não se comportam desse jeito? Agora perceba a evolução representada pela prevenção da poluição: há proatividade ligada à prevenção, o foco é ser eficiente no uso de insumos para não gerar (ou gerar pouca) poluição e os gestores enxergam as ações como redução de custo. Há uma boa quantidade de empresas nessa categoria, mas não são a maioria. Por fim, veja que incorporar à estratégia tem foco em ser mais competitivo, antecipando problemas e aproveitando oportunidades, e os gestores se envolvem sistematicamente nas ações por as considerarem fonte de vantagem competitiva. Portanto, uma empresa socialmente responsável no campo da preservação ambiental busca a excelência, incentiva o desenvolvimento sustentável da região, persegue a segurança e a qualidade de vida dos funcionários e beneficia a comunidade onde está inserida. Alinhando essas práticas com os conceitos de estratégia empresarial, conduz a questão ambiental dentro da missão e visão estabelecidas. 92 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 Unidade II 6.1 Ecodesign Uma das ferramentas para a Gestão Ambiental é o ecodesign. Porém, antes de discutir ecodesign, vamos entender o que é design. De acordo com o dicionário Oxford, o conceito de design foi utilizado pela primeira vez em 1588, havendo três definições para o termo. A primeira delas, diz que design é um plano desenvolvido pelo homem ou um esquema que possa ser realizado. A segunda define design como o primeiro projeto gráfico de uma obra de arte. Finalmente, a definição de que o design seria um objeto das artes aplicadas que seja útil para a construção de outras obras (DE VASCONCELOS; DAS NEVES, 2009, p. 22). Muito bem, assumindo design como um objeto das artes aplicadas que seja útil para a construção de outras obras, se adicionarmos a preocupação ambiental teremos o ecodesign, que segundo Barbieri (2004) é um modelo preocupado com aspectos ambientais em todos os estágios de desenvolvimento de um produto. Ou seja, para construir algo (o produto), deve se levar em consideração todos os aspectos envolvendo o meio ambiente desde sua concepção para reduzir o impacto ambiental durante seu ciclo de vida até o descarte. Isso implica na redução de resíduos e de custos de ponta a ponta. A ideia é considerar os problemas ambientais já na fase de projeto, pois as dificuldades e, consequentemente, os custos para efetuar modificações crescem à medida que as etapas do processo de inovação se consolidam (BARBIERI, 2004, p. 11). Assim, o ecodesign leva em consideração o desempenho do projeto como um todo e o respeito aos objetivos ambientais, de saúde e segurança ao longo de todo ciclo de vida de um produto ou processo. Por exemplo, um produto que no final da vida útil não tiver um processo de descarte responsável com reciclagem não será ecoeficiente mesmo que durante o projeto e vida útil reunir condições para tal. Como exemplo, o Centro Industrial da Xerox em Resende - RJ, inaugurado em 2006, concentra as operações do Centro Nacional de Distribuição, do Centro Tecnológico de Remanufatura e do Centro Nacional de Reciclagem e Destinação. As máquinas copiadoras Xerox são concebidas desde o projeto para terem baixo consumo de energia com economia de toner e papel ao longo de toda a vida útil, quando são devolvidas à empresa para desmonte e reaproveitamento de componentes. Perceba a elegância do conceito do ecodesign: juntar as possibilidades técnicas de processos produtivos mais limpos e suas derivações no longo prazo com os desejos e demandas da consciência ambiental. É razoável supor que mais e mais produtos oriundos de projetos de ecodesign cheguem às nossas mãos com o passar dos anos. 93 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 RESPONSABILIDADE SOCIAL 6.2 Caso da Shell A Shell, multinacional do ramo de energia, publica Relatórios de sustentabilidade desde 1998 e está constantemente renovando seus programas voltados ao tema. Um desses programas é o Mar Aberto, que visa engajar e capacitar pescadores diante de uma emergência de derramamento de óleo no mar. Com exposições, palestras e treinamento, o programa atende pescadores cujo sustento vem do mar e que precisam estar preparados para esse tipo de emergência. Note que o foco é a segurança e proteção do ambiente marinho. Os processos internos de gestão de impactos ambientais são estabelecidos em três frentes: prevenção de derramamentos, enfrentamento da poluição atmosférica e redução do uso de água. Saiba mais Conheça o Relatório de Sustentabilidade da Shell (em inglês) em: SHELL. Sustainability Report. 2017. Disponível em: <https://www.shell. com.br/promos/sustainability-pdf/_jcr_content.stream/1527902724105/ 47fffba3a8c855093eaa78d0529be640437a3619ed76fb0f5c4f493a75dd cd13/shell-sustainability-report-2017.pdf>. Acesso em: 28 dez. 2018. 6.3 Caso da Basf A Basf é uma empresa química que existe há 150 anos. Tem origem alemã e conta com mais de 112.000 funcionários no mundo inteiro. Seu portfólio de produtos contém químicos, plásticos, óleo e gás e soluções para a agricultura. A estratégia de combinar sucesso econômico, responsabilidade social e proteção ambiental tem mostrado ser bem-sucedida. Com alto investimento em pesquisa e desenvolvimento, gera inovações focadas em atender atuais e futuras necessidades dos clientes e da sociedade. A estratégia de negócios da Basf é fortemente ancorada em desenvolvimento sustentável. Isso não significa que suas fábricas não gerem poluição, por exemplo. Mas significa que há um planejamento de médio e longo prazo com ações voltadas a reduzir esse passivo ambiental. A Basf define desenvolvimento sustentável como equilíbrio entre o sucesso econômico, proteção ecológica e responsabilidade social. Assim, para administrar as ferramentas voltadas à sustentabilidade, criou um conjunto de indicadores que quantificam os fatores que afetam aspectos sustentáveis. A metodologia criada pela Basf quantifica e avalia os custos totais e o impacto ecológico de produtos ou processos ao longo de todo seu ciclo de vida, e trabalha esses indicadores dentro de seu planejamento estratégico. Assim, é possível estabelecer objetivos de longo prazo nas áreas de economia, 94 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 Unidade II meio ambiente, segurança, de pessoal e sociedade. Esses objetivos de longo prazo se desdobram em metas de curto prazo acompanhadas e controladas pelos gestores. Como exemplo dessas metas, vale a pena citar: • Mulheres em posições executivas: aumento percentual na proporção homem/mulher em posições executivas em todas as filiais do mundo. • Acidentes com afastamento por milhão de horas de trabalho: diminuição percentual. • Emissões de gases de efeito estufa por tonelada métrica de produto de venda: diminuição percentual. • Introdução da gestão sustentável de água em sites de produção em áreas de estresse hídrico: aumento percentual.Esses são apenas alguns exemplos de centenas de outros indicadores que a Basf utiliza. Há indicadores de geração de resíduos, de efluentes, de energia elétrica etc. Um caso de aplicação foi a troca de transporte rodoviário (caminhões) por trens entre o complexo químico de Guaratinguetá e o Porto de Santos. A emissão de fumaça de milhares de viagens de caminhão foi reduzida brutalmente com a adoção do trem. No relacionamento com fornecedores, há o Código de Conduta do Fornecedor, no qual estes são selecionados e avaliados através de questões relacionadas à proteção ambiental, respeito pelos direitos humanos e padrões trabalhistas e sociais. No relacionamento com a sociedade, há o Conselho Consultivo de Stakeholders e o Conselho Comunitário Consultivo (este último voltado para a vizinhança das unidades industriais). Uma boa parte dos resultados é divulgada publicamente, o que revela transparência da empresa junto ao mercado. Saiba mais Conheça as ações e resultados da Basf em: BASF. Conheça mais sobre sustentabilidade. [s.d.]. Disponível em: <https://www.basf.com/br/pt/who-we-are/sustainability.html>. Acesso em: 28 dez. 2018. Uma boa ideia é baixar e ler o último Relatório Anual e conhecer de modo transparente os modos de atuar de maneira socialmente responsável. 95 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 RESPONSABILIDADE SOCIAL 6.4 Caso do Pão de Açúcar As Estações de Reciclagem do Grupo Pão de Açúcar fazem parte do primeiro programa de parceria entre indústria e varejo no Brasil. Criado em 2001 em parceria com a multinacional Unilever e presente em mais de 40 cidades, o programa disponibiliza nos estacionamentos dos supermercados Pão de Açúcar os postos de entrega voluntária (PEVs), nos quais qualquer pessoa, mesmo que não seja cliente, pode depositar materiais recicláveis como papel, plástico, metal, vidro e óleo usado de cozinha em contêineres apropriados. As Estações de Reciclagem do Grupo Pão de Açúcar trazem benefícios: • ambientais, pois já coletaram mais de 100 mil toneladas de resíduos recicláveis desde 2001; • sociais, pois doam 100% da coleta para 37 cooperativas de reciclagem, gerando renda para mais de 2.500 pessoas de forma direta e indireta; • de relacionamento com clientes, que depositam seus resíduos, e com fornecedores, que apoiam a iniciativa. Outro programa do Grupo Pão de Açúcar é voltado para a coleta de lâmpadas nos hipermercados Extra. São cerca de cinquenta estações de coleta nos hipermercados de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e outros. O início do programa ocorreu em 2017, e mais de 44 mil lâmpadas incandescentes, tubulares e compactas foram coletadas e descartadas de maneira adequada, evitando assim a contaminação de solo e água que lâmpadas descartadas de forma incorreta causam. O Grupo Pão de Açúcar considera como estratégico os programas, uma vez que incentivam a conscientização ambiental e fomentam mudanças de hábito nas pessoas. 6.5 Caso da Sabesp Empresa concessionária de serviços de saneamento básico no estado de São Paulo, a Sabesp, pela própria natureza de seus serviços, está intimamente ligada ao meio ambiente e segue a norma ISO 14001 nas estações de tratamento, além de ter programas específicos de sustentabilidade. Um deles é o Programa Córrego Limpo, que visa sanear córregos de diversas regiões para evitar o lançamento de esgoto. Segundo o relatório de Sustentabilidade 2017 (SABESP, 2017, p. 44), em dez anos o programa despoluiu mais de 150 córregos, beneficiando cerca de 2,5 milhões de pessoas. Outros exemplos de programas da Sabesp são: Programa Mananciais, que visa recuperar as bacias de duas das principais represas da Região metropolitana de São Paulo, e Programa Pró-Billings, que amplia a coleta de esgoto e encaminhamento para tratamento na região da Represa Billings. 96 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 Unidade II Saiba mais Conheça as ações e resultados de responsabilidade ambiental da Sabesp: SABESP. Relatório de Sustentabilidade. 2017. Disponível em: <http:// site.sabesp.com.br/site/interna/Default.aspx?secaoId=93>. Acesso em: 28 dez. 2018. 6.6 Caso do Banco HSBC O grupo inglês HSBC enfrentou sérios problemas em 2014 e 2015 com a queda dos lucros globais em função das notícias envolvendo contas secretas mantidas por criminosos e sonegadores fiscais (incluindo políticos brasileiros). A imagem corporativa ficou seriamente comprometida e mudanças significativas se deram desde então. Isso não impediu a filial brasileira do HSBC de ser uma das empresas modelo do Guia Exame 2015 de Sustentabilidade. Três indicadores estavam acima da média: Gestão da Água, Gestão da Biodiversidade e Gestão de Resíduos. Todos os outros indicadores, exceto um, estavam dentro da média, como Relação com a Comunidade e Relação com os Clientes. Um dos pontos fortes do banco era um programa de treinamento mundial para funcionários se tornarem líderes ambientais e aproveitarem as oportunidades ligadas às mudanças climáticas. Além de um curso pela internet, o funcionário podia se engajar em ações voluntárias promovidas pelo banco. O objetivo era ser promovido a “líder ambiental”, cujo papel era disseminar conhecimentos interna e externamente (junto à comunidade) e propor ações ambientais. O programa, batizado de Climate Partnership, teve investimentos globais de 100 milhões de dólares, dos quais 20 milhões foram destinados ao Brasil. Em 2015, a operação brasileira do HSBC foi comprada pelo Bradesco. 6.7 Caso da Petrobrás Segundo o Relatório Sustentabilidade 2017 da Petrobrás, o Plano Estratégico 2018-2022 delineia uma estratégia específica preparando a empresa para um futuro baseado em uma economia de baixo carbono. Ou seja, a questão ambiental está moldando o futuro da empresa. Essa estratégia apresenta três linhas de ação: • Reduzir emissões de carbono dos processos produtivos: essa ação visa melhorar o faturamento mesmo adotando processos de redução de emissão de gases de efeito estufa. A chave está em melhoria contínua e em investimentos em tecnologias inovadoras e promissoras. 97 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 RESPONSABILIDADE SOCIAL • Investir e promover novas tecnologias para reduzir o impacto na mudança climática: essa ação busca melhor aproveitamento e eficiência de equipamentos. • Desenvolver negócios de alto valor em energia renovável: essa ação tem foco em pesquisa e desenvolvimento em energia solar, eólica e biocombustíveis, além de tecnologias emergentes e viáveis. Saiba mais Conheça a atuação corporativa, resultados e contribuições da Petrobrás: PETROBRAS. Sustentabilidade. [s.d.]. Disponível em: <http://www. investidorpetrobras.com.br/pt/relatorios-anuais/relato-integrado/ sustentabilidade>. Acesso em: 28 dez. 2018. 7 MARKETING SOCIAL Schneider e Luce (2014) resgatam o histórico do conceito de marketing social compilando trabalhos de Wiebe, Arnold, Fischer, Kotler e Levy, entre outros. A origem na década de 1950, nos EUA, ocorreu em função da discussão da força do rádio e da TV para propagar campanhas de objetivos sociais. O questionamento era: dá para vender fraternidade da mesma forma que se vende sabonete? Na década de 1960, a discussão girava em torno da hipótese de o marketing assumir deveres e responsabilidades de uma instituição de controle social, e na década de 1970 se discutia sobre a ampliação do conceito de marketing além do contexto meramente empresarial, abrigando atividades mercadológicas de museus, órgãos públicos, parquesmunicipais etc. Com o acirramento dos debates entre marketing e sociedade, em 1971 o Journal of Marketing publicou uma edição especial sobre a mudança do papel do social e ambiental do marketing. O editorial de Kelley (1971), alinhado ao trabalho de Lazer (1969), afirma que os consumidores não se preocupam apenas em satisfazer seus desejos e necessidades, mas também estão preocupados com o bem-estar societal e nesse contexto as empresas devem atender às demandas societais das mudanças no ambiente (SCHNEIDER; LUCE, 2014, p. 127). A primeira definição clara para marketing social veio de Kotler e Zaltman (1971), quando se amplia o conceito de troca/transação além das transações monetárias: “desenho, planejamento e controle de programas para influenciar a aceitação de ideias sociais envolvendo considerações de planejamento de produto, comunicação, preço, distribuição e pesquisa de mercado” (KOTLER; ZALTMAN, 1971, p. 5). 98 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 Unidade II O marketing social está num patamar mais amplo que o marketing tradicional: • Produtos sociais envolvem variáveis de decisão bastante controversas, pois o público-alvo muitas vezes tem interesses conflitantes entre si. • Produtos sociais raramente atendem necessidades imediatas, ou seja, a satisfação leva tempo para se manifestar. Segundo Cobra (1986), o marketing social é conceituado como um intercâmbio de valores não necessariamente físicos nem econômicos, mas que podem ser sociais, morais ou políticos, sendo utilizado para vender ideias ou propósitos que proporcionem bem-estar à comunidade. Note que o veterano autor de marketing já intuía em 1986 a vertente do marketing social indo além dos objetivos meramente mercadológicos das organizações. Melo Neto (2000, p. 35), numa visão um pouco reducionista, define o marketing social como uma “modalidade de marketing promocional, que tem como objetivo divulgar as ações sociais de uma empresa de modo que ela obtenha a preferência dos consumidores, o respeito dos clientes, a admiração dos funcionários, a satisfação dos acionistas e o reconhecimento da comunidade”. Note que este autor trata o marketing social basicamente como uma parte do planejamento mercadológico limitado à comunicação, enquanto Kotler estabelece bases bem mais amplas e inclusivas. Segundo Pringle e Thompson (2000), aderir a uma causa pode melhorar a reputação e ampliar a intenção de compra dos clientes, além de permitir se relacionar melhor com stakeholders. A esta altura, você pode estar se perguntando sobre a diferença entre RSE e marketing social, e a resposta é simples: RSE é utilizada por organizações com fins lucrativos e marketing social é utilizado por organizações sem fins lucrativos. É evidente que as organizações voltadas para marketing social podem fazer parcerias com as organizações voltadas para RSE. Essa parceria é benéfica para ambos. 7.1 O caso Rede Globo – Criança Esperança Desde 1986, a Rede Globo apresenta o Criança Esperança, que segundo Castro, França e Gomes (2016) é atualmente um dos maiores projetos sociais dirigidos a crianças carentes do mundo. O programa de TV tem a capacidade de mobilizar artistas e cidadãos de todas as classes sociais para contribuir com a causa da infância e da juventude. Até 2004, a entidade parceira era o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) como foco em crianças carentes, e em 2005 passou a ser a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), ampliando o escopo da campanha ao incluir jovens e adolescentes em situação de risco. 99 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 RESPONSABILIDADE SOCIAL Note que Unicef e Unesco fazem marketing social, e a Rede Globo atua em RSE com essas entidades parceiras. Figura 14 Figura 15 Segundo Castro, França e Gomes (2016), as doações recebidas são depositadas diretamente em uma conta da Unesco. Independentemente de sua simpatia ou ojeriza à Rede Globo, as doações efetivamente são destinadas a projetos sociais através da Unesco, que é um órgão da ONU. Esses projetos são selecionados previamente pela Unesco nas áreas de desenvolvimento social, comunicação, ciências naturais, educação e cultura sem influência da Rede Globo. Claro que se pode argumentar que a audiência do programa gera receita em função de anúncios publicitários, ou seja, a Rede Globo tem lucro na operação. Mas lembre-se que estamos falando de RSE, e o lucro proveniente de ações socialmente responsáveis faz parte da equação. 7.2 O caso McDonald’s – McDia Feliz O McDia Feliz é um evento de periodicidade anual em que a renda líquida da venda dos sanduíches Big Mac é encaminhada para instituições de combate ao câncer infantil. Figura 16 100 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 Unidade II A cada ano, desde 1988, no dia 25 de agosto a campanha toma forma. Desde o início, mais de R$ 260 milhões foram arrecadados e encaminhados para instituições parceiras. Em 2018, o McDia Feliz chega a sua 30ª edição, amplia seu impacto social e beneficia duas causas de grande importância no Brasil: saúde e educação. Sendo assim, além do combate ao câncer infantojuvenil, que hoje é a maior causa de morte de crianças e adolescentes, através das instituições apoiadas pelo Instituto Ronald McDonald, a campanha também destinará recursos para o Instituto Ayrton Senna, organização não governamental que, há mais de 20 anos, trabalha para desenvolver o potencial das novas gerações por meio da educação integral, ampliando suas oportunidades de vida e tornando-as agentes de transformação (MCDONALD’S, [s.d.]). Veja que a promessa é de doar a receita líquida (ou seja, descontados os impostos) de um dos produtos à venda. Ou seja, a receita de todos os outros produtos não faz parte da campanha. Assim, fica um exemplo de atividade socialmente responsável que na prática gera lucro para a companhia. É possível perceber que o enorme fluxo de clientes no dia da campanha aumenta significativamente o faturamento de cada uma das unidades. Assim, o McDonald’s está atuando em RSE, e as entidades parceiras, como o Instituto Ayrton Senna, estão fazendo marketing social. 8 AS RELAÇÕES ENTRE PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO SETOR Em Economia, a distinção entre Primeiro e Segundo Setor sempre foi clara. Segundo Tenório (1998), o Primeiro Setor é o setor público, ou seja, o conjunto das organizações e propriedades urbanas e rurais pertencentes ao Estado, e o Segundo Setor é o setor privado, ou seja, o conjunto das empresas particulares e propriedades urbanas e rurais pertencentes a pessoas físicas ou jurídicas e fora do controle do Estado. Há diversas definições e abordagens sobre o Terceiro Setor. Veja alguns exemplos: • Fernandes (1994) define como aquele que é composto de organizações não governamentais e sem fins lucrativos, que foram criadas e são mantidas por voluntários comprometidos com as práticas da caridade, da filantropia e do mecenato. • Thompson (1997) define como aquele que trata de todas aquelas instituições sem fins lucrativos que, a partir do âmbito privado, perseguem propósitos de interesse público. • Tenório (1999) define como agentes não econômicos e não estatais que procuram atuar, coletiva e formalmente, para o bem-estar de uma comunidade ou sociedade local, sub-regional ou regional, nacional ou internacional. Note que todas as definições abordam a distinção entre privado e público. Nesse tema, Fernandes (1994) contribui com uma discussão acerca dessa distinção e localiza o Terceiro Setor:101 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 RESPONSABILIDADE SOCIAL Quadro 9 – Diferenciação público X privado Agentes Fim Setor Privados Privados Mercado Públicos Públicos Estado Privados Públicos Terceiro Setor Públicos Privados Corrupção Fonte: Fernandes (1994, p. 20). O mercado, nessa acepção, é o Segundo Setor, e o Estado é o Primeiro. Note que o inexistente “quarto setor” conceitual é a corrupção, pois são agentes públicos para fins privados. O Terceiro Setor, de acordo com Silva (2010), é composto de escolas, centros de pesquisa e de profissionalização, museus, grupos literários, orquestras sinfônicas, hospitais, asilos, creches, associações de bairro, sindicatos, associações profissionais e mutualistas, clubes de lazer, todos sem fins lucrativos, muitas vezes legalmente constituídas como ONGs ou Oscips. Este fenômeno se observa em todo o mundo. Há milhares de ONGs em praticamente todos os países, algumas de alcance mundial. 8.1 Panorama histórico das ONGs no Brasil Em termos brasileiros, o início do atualmente denominado Terceiro Setor remonta ao século XVI através da filantropia e caridade religiosa na forma das Santas Casas de Misericórdia. No início do Brasil Colônia, a população em geral não tinha praticamente nenhuma assistência governamental, e a Santa Casa cobria essa lacuna: [..] apoiava-se em um modelo importado pelas Casas de Misericórdias portuguesas, de iniciativas caritativas e cristãs, que tratavam a questão social como de resolução da sociedade, mediante a criação de asilos, educandários e corporações profissionais. [...] Nessa origem está a primeira Santa Casa de Misericórdia fundada em Santos por Brás Cubas, em 1543, e a primeira doação voluntária que consta do testamento da senhora Isabel Fernandes que, em 1599, dizia: “Deixo à Misericórdia mil réis” (CABRAL, 2007, p. 56). Até o final do século XIX mais organizações filantrópicas foram surgindo, como educandários, asilos e hospitais, sendo a grande maioria ligada à Igreja Católica, e algumas ligadas a ricos filantropos, sempre com foco assistencialista. Silva (2010) aponta as diferenças entre assistencialismo e assistência social: • Assistencialismo é uma prática paternalista de atender necessidades sem necessariamente reconhecer direitos. 102 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 Unidade II • Assistência social é uma política de estado para enfrentar a pobreza e as mazelas sociais que busca garantir direitos mínimos. Os governos dessa época pouco faziam, mas algo de positivo podia ocorrer. Então, basicamente, três grupos sustentaram a ação social por aproximadamente 300 anos: a Igreja Católica, em maior escala e com mais organização, benevolentes cavalheiros, que normalmente ansiavam por reconhecimento público, e em último lugar o governo. A figura a seguir ilustra a configuração do Terceiro Setor até o século XIX: Práticas de gestão Terceiro Setor LegislaçãoFontes de recurso Governo Indivíduos Igreja Elementos surgidos no período Legenda: Figura 17 – Configuração do Terceiro Setor até o século XIX Então veja: o Terceiro Setor na época tinha práticas de gestão e relacionamento com a legislação ainda incipientes, e as fontes de recursos eram governo, filantropos e Igreja. Nas primeiras décadas do século XX, transformações começaram a ocorrer. As décadas de 1920 e 1930 testemunharam o crescimento de várias cidades brasileiras e também das indústrias, criando novos e mais complexos problemas sociais. Outras organizações apareceram para atender essas demandas; sindicatos, associações e federações voltados ao interesse dos trabalhadores vão trazendo o Primeiro Setor para participação, e benefícios aos operários foram sendo negociados. O modelo de filantropia e assistencialismo permanecia dominante. A Constituição Brasileira de 1934 introduziu o modelo de Estado Social, ou seja, passou a institucionalmente ter preocupações econômicas e sociais. Cabral (2007) afirma que o Estado brasileiro nessa época passou a desenvolver e implantar políticas públicas de saúde e educação, além de subvencionar diversas instituições filantrópicas. Note que essa mudança de fonte de recursos das filantrópicas significa dependência do Estado. Na década de 1950, de acordo com Silva (2010), um arcabouço legal definia as regras de entidades filantrópicas: O reconhecimento institucional das organizações foi ampliado em 1959 com a criação do Certificado de Entidade de Fins Filantrópicos (Lei nº 3.577/1959). 103 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 RESPONSABILIDADE SOCIAL O título de Utilidade Pública inicialmente não ofereceu nenhum benefício econômico para as organizações. Contudo, com o Certificado de Filantropia, ficaram isentas da contribuição patronal previdenciária “[...] as entidades de fins filantrópicos, reconhecidas como de utilidade pública, cujos membros de suas diretorias não recebam remuneração” (SILVA, 2010, p. 1308). As leis da época na prática representam a pedra fundamental do estabelecimento institucional do Terceiro Setor no Brasil. Na prática, a tutela do Estado também significou maior vigilância e controle, já que as instituições precisavam apresentar relatórios de cunho fiscal/legal e seguir alguns modelos de gestão para ter acesso aos recursos governamentais ou para gozar de imunidades fiscais. A figura a seguir ilustra a configuração do Terceiro Setor no século XX até a década de 1960. Os tópicos de fundo cinza são, de acordo com a legenda, as inclusões ao modelo anteriormente apresentado: Prestação de contas Organizações nacionais Utilidade pública Entidade beneficiente Código civil 1916 Constituição 1934 Forma jurídica Práticas de gestão Terceiro Setor LegislaçãoFontes de recurso Governo Indivíduos Igreja Elementos surgidos no período Legenda: Finanças Empresas Figura 18 – Configuração do Terceiro Setor no século XX até a década de 1960 Podemos perceber que as práticas de gestão ficam mais robustas em função da obrigação da prestação de contas e do rigoroso controle financeiro exigido. Além disso, a legislação passa a intervir fortemente num conjunto de definições do marco legal. Quanto às fontes de recursos, há o acréscimo das novas organizações e das empresas. Pereira (2003) resgata a origem das organizações denominadas de não governamentais no Brasil na década de 1970: O termo não existe legalmente e caracteriza-se como um conceito socialmente construído e difundido. Internacionalmente, o termo originou-se nas Nações Unidas (non-governmental organizations – NGO), onde foi 104 AD M /C EC O Re vi sã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 0/ 01 /2 01 9 Unidade II utilizado pela primeira vez para se referir às organizações da sociedade civil comprometidas com a reconstrução social após a II Guerra Mundial. Essas organizações não haviam sido criadas por acordos governamentais, logo, eram “organizações não governamentais” (PEREIRA, 2003, p. 11). Originalmente, as ONGs brasileiras estavam ligadas à resistência ao governo militar da época. O discurso de liberdade de expressão e cidadania atraiu organizações americanas e europeias como a Rockefeller Foundation, o Banco Mundial e a Unicef, por exemplo. Silva (2010) observa que a entrada de recursos financeiros internacionais representa uma mudança na configuração de algumas das ONGs e entidades filantrópicas, pois o vínculo e dependência com o governo se esvanece
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