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Artigo publicado na edição 53 w w w . r e v i s t a m u n d o l o g i s t i c a . c o m . b r j u l h o e a g o s t o d e 2 0 1 6 Assine a revista através do nosso site 60 www.revistamundologistica.com.br :: artigo Victor Brandão Bini Graduado em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e mestrando na Unicamp (Limeira), faz parte do quadro técnico da Nortegubisian desde 2011, é Black Belt em Lean Six Sigma pela Nortegubisian, ministra disciplinas de graduação e MBA em diversas faculdades da região de Campinas, especialmente, referentes à metodologia Lean Six Sigma, e atuou no desenvolvimento do sistema de Sales and Operations Planning (S&OP) de grandes empresas, que resultou no software desenvolvido pela Nortegubisian. vbbini@nortegubisian.com.br Nelson Carvalho Maestrelli Graduado e mestre em Engenharia Mecânica pela Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos, é diretor técnico da Nortegubisian Consultoria e Treinamento e professor da Universidade Mackenzie, na área de Gestão de Operações. Atua como consultor desde 1994, em empresas de diversos portes e segmentos, e é especialista nas áreas Lean Thinking, Planejamento e Projeto de Sistemas Produtivos e Six Sigma. nmaestre@nortegubisian.com.br Diego de Carvalho Moretti Graduado e mestre em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é diretor Comercial e sócio da Nortegubisian Consultoria e Treinamento. Especialista em Lean Thinking, Administração de Materiais, Técnicas de Previsão de Demanda e Planejamento e Controle da Produção, atuou em mais de cem projetos de melhoria de processos produtivos e administrativos, em empresas de diferentes setores e portes. Especificamente relacionado ao tema Sales and Operations Planning (S&OP), gerenciou projetos em empresas de diferentes portes e setores. dmoretti@nortegubisian.com.br Métodos de previsão de demanda integrados ao S&OP Reduzir o erro das previsões, por meio da aplicação de métodos mais assertivos de planejamento da demanda, pode promover, simultaneamente, ganhos na redução de estoques e no aumento do nível de serviço. No entanto, esse esforço deve ser integrado ao Sales and Operations Planning (S&OP), que conciliará a demanda às vendas e ao planejamento das operações. Esse artigo relata um estudo de caso, em que a aplicação de métodos adequados de planejamento de consumo de produtos gerou ganhos significativos de redução de estoques e de erros de previsão. Gestão da demanda, vendas e planejamento de operações trabalhando juntos para reduzir os estoques e aumentar o nível de serviços, simultaneamente 61 Para atender à demanda de seus produtos, as orga-nizações industriais devem:• Medir e utilizar a sua capacidade produtiva, con- forme necessário; • Dimensionar adequadamente os seus estoques. O equilíbrio entre a capacidade e a demanda (Figura 1) é necessário, para garantir que as operações produ- tivas consigam atender aos pedidos dos clientes, em re- lação aos requisitos de quantidade e qualidade, para o fornecimento de produtos. Por um lado, a efetiva utilização da capacidade produ- tiva depende de esforços constantes, para a redução de tempos improdutivos e o aumento de disponibilidade. Por outro lado, a gestão da demanda depende de um processo consistente de previsão de vendas. Erros de previsão de vendas podem comprometer as operações e, até mesmo, inviabilizar alguns negócios (ver Figura 1). A Tabela 1 apresenta exemplos que já se tornaram clássicos para essa questão. Todos os casos, por razões distintas, ilustram situações em que as previsões de de- manda não se confirmaram e acabaram por interrom- per (alguns temporariamente) a oferta dos produtos. Desse modo, os modelos de previsão de vendas, que consigam detectar adequadamente as variações de de- manda, são extremamente úteis para as organizações produtivas. Para introduzir os conceitos de previsão de demanda, é necessário, antes, definir os tipos de deman- da existentes: os itens de demanda independente e os de demanda dependente. A Figura 2 apresenta a estrutura de um produto A, composta por quatro componentes. O produto A é um item de demanda independente, pois a sua previsão de vendas depende de características de mercado, condi- ções de oferta e não está vinculada ao consumo de ne- nhum outro item. Os componentes B, C, D e E, por sua vez, são itens de demanda dependente, pois a quantidade a ser produzida de cada um está diretamente relacionada (dependente) à quantidade de produtos A, que será produzida. A pre- visão de demanda para itens independentes é, portanto, a mais complexa de ser realizada e é para esse cenário que os principais modelos de previsão são aplicados. MODELOS DE PREVISÃO E SUA APLICAÇÃO A previsão de vendas de um produto, também cha- mada de forecast, é uma sequência ou série de dados, projetados ao longo do tempo para frente. O forecast é o processo de coletar, armazenar, processar, apresentar e utilizar dados temporais (históricos e futuros), de modo Figura 1: Equilíbrio entre a capacidade e a demanda. Figura 2: Tipos de demanda (dependente e independente). EXEMPLO AMBIENTE RESULTADOS FORD EDSEL 1957 INDUSTRIAL LANÇADO EM 1957, COM PROJEÇÃO DE VENDAS DE 200 MIL UNIDADES/ANO, SAIU DO MERCADO EM 1960, ANO EM QUE VENDEU 2.800 UNIDADES. MERCEDES BENS CLASSE A INDUSTRIAL LANÇADO EM 1999, EM SEIS ANOS NO MERCADO (1999 A 2005), FORAM PRODUZIDAS 63.402 UNIDADES. A PREVISÃO ERA DE 70 MIL UNIDADES ANUAIS. COMPLEXO DO SAUÍPE SERVIÇOS DE HOTELARIA INICIOU AS OPERAÇÕES EM 1998. EM 2010, GEROU 32 MILHÕES DE PREJUÍZOS (TAXA DE OCUPAÇÃO MÉDIA DE 35%). EM 2013, OPEROU COM TAXA DE 53%. IPOD HI-FI/APPLE TV/PING (REDE SOCIAL DE MÚSICA) INDUSTRIAL E SERVIÇOS LANÇADOS EM 2007, SÃO CONSIDERADOS TRÊS DOS CINCO MAIORES FRACASSOS COMERCIAIS DA APPLE. Tabela 1: Exemplos de falhas de previsão de demanda. CAPACIDADE DEMANDA B (1) C (2) C (2) E (4) PRODUTO A PRODUTO FINAL: DEMANDA INDEPENDENTE COMPONENTES: DEMANDA DEPENDENTE EX: ITEM “E” POSSUI DEMANDA DE QUATRO VEZES A DEMANDA DE “A” 62 www.revistamundologistica.com.br a minimizar os erros de previsão e, portanto, reduzir as incertezas de planejamento. O processo de previsão de vendas (Figura 3) mostra que a utilização de métodos quantitativos, para o trata- mento dos dados de vendas, é um dos seus principais componentes. A integração entre as informações obtidas a partir do tratamento quantitativo dos dados, geralmente a cargo do Planejamento e Controle da Produção (PCP) das empresas, e as informações de mercado, clientes, con- correntes, cenários e tendências, tratadas qualitativa- mente pela área de vendas, fornecerá a base necessária para a decisão sobre o que, quanto e quando produzir. A decisão sobre qual o modelo de previsão mais adequado para cada empresa ou produto depende- rá da análise do histórico de dados de consumo e de seu comportamento. No entanto, para todos os casos, quanto maior o horizonte de planejamento (Figura 4), maiores serão os erros cometidos. A qualidade das previsões é avaliada, medindo-se a diferença entre as quantidades previstas por diferentes modelos e as quantidades reais demandadas. A Tabela 2 apresenta os métodos mais comuns de previsão e os ambientes mais adequados para a sua utilização. Para avaliar qual o melhor método a ser utilizado em cada situação, deve-se aplicar cada um a uma base de dados e determinar o erro gerado pelas diferenças en- tre as previsões e realizados para cada método. As medidas mais comuns, utilizadas nesse processo de avaliação, estão mostradas a seguir e utilizam o exem- plo da Tabela 3, para a sua determinação. Para o mês de janeiro, tem-se uma diferença de cem unidades entre a previsão (1.000 uni)e as vendas (900 uni). Para fevereiro, a diferença (desvio) entre a previsão e as vendas é de -150 uni. A partir de fevereiro, medem-se, também, os erros (desvios) acumulados, incluindo os meses anteriores e gerando, período a período, os valores dos desvios ab- solutos e médios. Figura 3: O processo de previsão e o tratamento quantitativo dos dados. Figura 4: Horizonte de tempo e erros de previsão. ERROS ESPERADOS DE PREVISÃO CRESCEM COM O HORIZONTE AGREGAÇÃO DOS DADOS PODE SER MAIOR PARA DECISÕES EM LONGO PRAZO PR EV IS ÃO D E D EM A N D A /E RR O HOJE (TEMPO) HORIZONTE FUTURO MELHORIA CONTÍNUA DO PROCESSO DE PREVISÃO AVALIAÇÃO CRÍTICA PROCESSO PREVISÃO DE VENDAS TRATAMENTO ESTATÍSTICO TRATAMENTO QUANTITATIVO DOS DADOS DE VENDAS E OUTRAS VARIÁVEIS TRATAMENTO QUALITATIVO DAS INFORMAÇÕES • INFORMAÇÕES QUE EXPLIQUEM OS COMPORTAMENTOS ATÍPICOS • DADOS HISTÓRICOS DE VENDAS • DADOS DE VARIÁVEIS QUE EXPLIQUEM AS VENDAS REUNIÃO PARA A PREVISÃO DE VENDAS: • COMPROME- TIMENTO DAS ÁREAS ENVOL- VIDAS • TRATAMENTO DAS INFORMA- ÇÕES DISPONÍ- VEIS • INFORMAÇÕES SOBRE A CONJUNTURA ECONÔMICA • DECISÕES COMERCIAIS • INFORMAÇÕES SOBRE OS CLIENTES • INFORMAÇÕES SOBRE OS CONCORRENTES • OUTRAS INFORMAÇÕES DE MERCADO + AGREGAÇÃO GRADUAL- MENTE MAIOR DOS DADOS FAZ OS ERROS GRADUAL- MENTE DIMINUÍREM PREVISÃO 63 O indicador Tracking Signal ((TS) ou Sinal de Ras- treabilidade) é calculado pelo quociente entre o desvio acumulado (linha 4) e o desvio absoluto médio (linha 7), e permite avaliar tanto a qualidade da previsão, quanto o seu viés, ou seja, se a previsão realizada pelo método escolhido apresenta tendência ou previsões enviesadas. O Gráfico 1 apresenta o valor de TS para os dados da Tabela 3. Nota-se que, a partir do período de abril, o valor de TS apresenta tendência negativa crescente. A análise da variação de TS permite concluir, sobre a validade do método de previsão utilizado, que os valores de TS, variando em torno de zero (dentro dos limites de 4 e -4, definidos pela prática), significam que a qualidade das previsões é adequada. Quando alguma tendência de viés é identificada, deve-se testar outras opções de mo- delos de previsão. ERROS DE PREVISÃO MAIS COMUNS A Figura 5 apresenta os erros mais comuns, que as empresas cometem, nos processos de previsão de de- manda. Considerá-los nos processos, integrando-os às análises quantitativa e qualitativa, conforme mostrado nesse artigo, pode minimizar os erros e garantir o per- feito equilíbrio entre a demanda e a capacidade para as organizações industriais. Garantindo um processo adequado de previsão de demanda e associando esse trabalho ao uso eficiente dos recursos produtivos, a empresa encontrará o equi- líbrio necessário entre a demanda e a capacidade. Esse equilíbrio é fundamental para que a gestão de opera- ções cumpra o seu papel na organização: produzir a quantidade necessária, no momento adequado e nos padrões de qualidade exigidos pelos consumidores. INTEGRAÇÃO ENTRE A GESTÃO DA DEMANDA E O S&OP Garantir a minimização dos erros de previsão, por Tabela 2: Métodos para a previsão de demanda. Gráfico 1: Sinal de Rastreabilidade (Tracking Signal (TS)). MÉTODO AMBIENTE CONSIDERAÇÕES MÉDIA MÓVEL (ARITMÉTICA OU PONDERADA) CENÁRIOS COM DEMANDA RELATIVAMENTE ESTÁVEL, SUJEITA APENAS A FLUTUAÇÕES ALEATÓRIAS CALCULA A PREVISÃO COM BASE NA MÉDIA DOS (TRÊS OU QUATRO) PERÍODOS ANTERIORES SUAVIZAÇÃO EXPONENCIAL CENÁRIOS COM DEMANDA RELATIVAMENTE ESTÁVEL, MAS CONSIDERANDO OS PERÍODOS MAIS RECENTES, COM MAIOR IMPORTÂNCIA PARA AS PREVISÕES CALCULA A PREVISÃO COM BASE NA APLICAÇÃO DO COEFICIENTE ALFA, CONSTANTE DE SUAVIZAÇÃO DEFINIDA PARA CADA PERÍODO ANTERIOR PROJEÇÃO DE TENDÊNCIAS E CICLICIDADES CENÁRIOS COM DEMANDA COMPLEXA, SUJEITA À PRESENÇA DE TENDÊNCIA E CICLICIDADE (SAZONALIDADE) CALCULA A PREVISÃO CONSIDERANDO OS EFEITOS DA SAZONALIDADE DE PERÍODOS ANTERIORES E DE TENDÊNCIA (CRESCIMENTO OU QUEDA). MÉTRICAS ASSOCIADAS AOS DESVIOS (ERROS) DE PREVISÃO JAN FEV MAR ABR MAIO JUN 1 PREVISÃO 1000 1200 1000 900 1100 1200 2 VENDAS 900 1350 950 1000 1250 1300 3 DESVIO 100 -150 50 -100 -150 -100 4 DESVIO ACUMULADO 100 -50 0 -100 -250 -350 5 DESVIO ABSOLUTO 100 150 50 100 150 100 6 DESVIO ABSOLUTO ACUMULADO 100 250 300 400 550 650 7 DESVIO ABSOLUTO MÉDIO 100 125 100 100 110 108 8 TRACKING SIGNAL (TS) 1,0 -0,4 0 -1,0 -2,3 -3,2 Tabela 3: Medidas para a avaliação dos erros de previsão. 5 4 3 2 1 0 -1 -2 -3 -4 -5 VARIAÇÃO DO SINAL DE RASTREABILIDADE TS JAN FEV MAR MAI JUNABR LIMITE SUPERIOR TS LIMITE INFERIOR 64 www.revistamundologistica.com.br meio da aplicação de métodos adequados de planeja- mento da demanda, é o primeiro passo para melho- rar o processo de sua gestão. No entanto, é necessário conciliar essa tarefa com as expectativas de vendas e o planejamento das operações, que suportarão essa de- manda planejada. Para isso, entra em cena o processo de S&OP, fundamental para integrar e conciliar os interesses e metas das áreas envolvidas. CONCEITOS PRINCIPAIS DO S&OP A partir da década de 80, equipes de executivos oriundos dessas três áreas principais (planejamento es- tratégico, vendas e produção) passaram a trabalhar em conjunto, realizando atividades em ciclos mensais, para coordenar os esforços e atingir os melhores resultados, principalmente, relativos a previsões de demanda, por meio da integração entre as vendas e o planejamento de operações. A Figura 6 mostra a evolução do conceito de S&OP desde o seu início. O S&OP pode ser descrito como um método usado para balancear a demanda do mercado à capacidade da operação, o que possibilitará a integração entre o plano de negócios e a estratégia da corporação. O processo de S&OP é realizado de maneira com que a equipe de executivos da empresa possa trabalhar de forma harmoniosa, compartilhando informações so- bre as características do planejamento da produção e as demandas de mercado. Reuniões frequentes e regulares são necessárias, para garantir a atualização das informações que as áreas en- volvidas utilizarão para a tomada de decisões, cabendo às áreas de vendas e marketing apresentar as projeções de demanda e, à área de operações, engenharia e finan- ças, indicar os recursos disponíveis. Esse alinhamento entre as áreas envolvidas busca so- luções, em que se obtenha o máximo de lucratividade, combinando os recursos disponíveis com as restrições de fornecimento, produção e atendimento à demanda. Os fundamentos do S&OP se baseiam em quatro elementos-chaves, mostrados na Tabela 4: demanda, for- necimento, volumes e mix de produção (MP). A tabela mostra como os quatro elementos-chaves estão relacio- nados e como o planejamento estratégico e os planos Tabela 4: Elementos-chaves de S&OP. Figura 5: Erros de previsão cometidos pelas empresas. ELEMENTOS-CHAVES DO S&OP DEMANDA DEFINIR AS NECESSIDADES DOS CLIENTES E SEU IMPACTO SOBRE AS OPERAÇÕES E O PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO FORNECIMENTO AVALIAR A CAPACIDADE DOS FORNECEDORES E O ESTOQUE DE MPs, PARA VERIFICAR A SUA ADEQUAÇÃO À DEMANDA VOLUME DEFINIR AS QUANTIDADES A SEREM PRODUZIDAS, DE MODO A ATENDER À DEMANDA DOS CLIENTES MIX DE PRODUÇÃO DEFINIR AS QUANTIDADES DE CADA ITEM DE FORNECIMENTO, O SEQUENCIAMENTO DAS ORDENS E A PRIORIZAÇÃO DE ATENDIMENTO AOS CLIENTES PRINCIPAIS ERROS DE PREVISÃO COMETIDOS PELAS EMPRESAS CONFUNDIR PREVISÕES COM METAS (DEPOIS, ASSUMIR AS METAS COMO PREVISÕES) GASTAR TEMPO E RECURSOS PARA AVALIAR ERROS E ACERTOS DE PREVISÃO (RELEVANTE É AVALIAR “QUANTO” SE ACERTA OU ERRA) NÃO LEVAREM CONSIDERAÇÃO DOIS DADOS: VALOR DA PREVISÃO E DA ESTIMATIVA DE ERRO (CONSIDERAR APENAS O VALOR DA PREVISÃO) NÃO UTILIZAR O PROCESSO DE MELHORIA CONTÍNUA DAS PREVISÕES (AUMENTO DA CONSISTÊNCIA) 65 de negócios têm de orientar o planejamento dos recur- sos de manufatura. OBJETIVOS DO S&OP Os principais objetivos do S&OP são: 1. Possibilitar que o plano de negócios se concretize, por meio do sincronismo entre as finanças, o planeja- mento de vendas e as operações; 2. Assegurar que todas as atividades e planos sejam realistas e possam ser suportados pelas áreas; 3. Gerenciar as mudanças, mediante ações apropriadas e controladas, em substituição às ações reativas; 4. Gerenciar adequadamente o estoque de produtos, para suportar as necessidades dos clientes; 5. Avaliar continuamente o desempenho, para gerenciar as mudanças e resolver rapidamente os imprevistos; 6. Valorizar o trabalho em equipe, as decisões consen- suais e a tomada de decisões, baseada em fatos e números. O método de S&OP se baseia em um pro- cesso disciplinado de atividades. A Figura 8 mostra as etapas principais desse processo. Na etapa 1 (atualização de dados), é realizada a atua- lização dos arquivos com os dados relativos ao período anterior: vendas reais, volumes de compra, níveis de esto- ques e valores financeiros envolvidos. A partir da atualiza- ção dos dados, é possível gerar a previsão de vendas para o período seguinte. Essa tarefa, geralmente, é realizada pela área comercial, com o apoio das informações referentes à análise dos dados de vendas concretizadas, relatórios de previsão estatística e planilhas das equipes de campo. Uma vez preparadas as previsões, elas devem ser forne- cidas para a equipe executiva do S&OP. Na etapa 2, ocorre a atividade de planejamento da demanda. O planejamento da demanda se materiali- za, quando é elaborado um plano inicial de consumo de recursos, baseado na combinação de informações provenientes de várias fontes: tratamento histórico de dados (quantitativo), informações qualitativas do mer- cado (informações de campo da equipe comercial) e ocorrência de eventos especiais (promoções, efeitos de sazonalidade ou tendência). Na etapa 3, realiza-se o planejamento dos supri- mentos necessários para suportar as vendas projetadas. Podem ser elaborados vários planos alternativos de fornecimento, para possibilitar a execução das tarefas planejadas na etapa 2. Nessa etapa, são avaliados os níveis desejados de es- toques, acompanhados pelos indicadores definidos pela política de estoques da empresa (giro e cobertura para cada família de produtos), e são monitorados os aspec- tos relativos às limitações de fornecimento: capacidade de fornecedores, recursos disponíveis e disponibilidade de materiais. Na etapa 4, acontece uma reunião prévia da equipe executiva (média gerência), na qual as diferenças encon- tradas entre o planejamento de demanda e de supri- mentos são identificadas e tratadas, bem como o seu impacto financeiro. É fundamental que os participantes da reunião prévia possuam ciência sobre os problemas identificados e participem sugerindo alternativas. São possíveis dois tipos de resultados: • Consenso sobre os pontos em que é possível se che- gar a uma solução, sem a necessidade do envolvimen- to da alta gerência/direção da empresa; • Definição das possíveis alternativas acerca das ques- tões pendentes, que serão apresentadas na reunião executiva de S&OP (próxima etapa do processo). Algumas alternativas podem requerer mudanças es- tratégicas, que devem ser decididas pelos executivos. À medida que o processo de S&OP é repetido, a tendên- cia é que o número de pontos a serem tratados pela equipe executiva, na etapa posterior, tenda a se reduzir. Na etapa 5, ocorre a reunião executiva, na qual são tomadas as decisões de aprovação das medidas consen- suais, ocorridas na etapa 4, são avaliadas e decididas as questões em aberto e monitorados os resultados do desempenho operacional da empresa. Participam dessa reunião os gestores do grupo anterior (reunião prévia), Figura 6: A evolução do conceito do S&OP e a ampliação de seu escopo. ANOS 70 ANOS 90 2000 ATUAL PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO INTEGRAÇÃO COM NOVOS PRODUTOS PLANEJAMENTO DE DEMANDA FUTURA E DESDOBRAMENTO DE ESTRATÉGIAS GESTÃO COLABORATIVA DA CADEIA DE SUPRIMENTOS S&OP (SALES AND OPERATION PLANNING) INTEGRAÇÃO ENTRE O FORNECIMENTO, A DEMANDA E A GESTÃO DE ESTOQUES INTEGRAÇÃO COM AS FINANÇAS ANOS 80 66 www.revistamundologistica.com.br mais um comitê executivo, formado pela alta gerência/ direção da empresa. Ao final do processo de S&OP, o planejamento é fechado e formalizado para toda a em- presa. PRÉ-REQUISITOS E BENEFÍCIOS DO S&OP Antes de iniciar o processo, é necessário cuidar de alguns pré-requisitos, dos quais dependerá o sucesso da utilização do método: 1. Todas as áreas/departamentos envolvidos precisam compreender o seu papel e função no processo, como as tarefas ocorrerão e qual a função que de- vem desempenhar; 2. A partir dessas definições, o comprometimento com os resultados e a dedicação adequada de tempo e recursos são fundamentais; 3. A definição de agrupamentos ou famílias de produ- tos permite que os planos sejam feitos de forma in- tegrada e simplificada; 4. O planejamento, em um horizonte bem definido de tempo, que leve em consideração os limites e as res- trições de demanda e fornecimento; 5. O estabelecimento de um cronograma, com prazos e tarefas bem definidas e programadas, e que especi- fique objetivamente os pontos do processo, em que decisões são tomadas e datas limites para as altera- ções sejam conhecidas e respeitadas; 6. Programação das atividades, com o conhecimento dos objetivos da empresa, escopo de atuação da equipe, definição dos participantes, agenda de reu- niões, frequência de encontros e conhecimento pré- vio das famílias de produtos. Além disso, cada vez que o processo é iniciado, é pre- ciso garantir que os resultados de cada etapa atinjam a qualidade necessária, para que as etapas subsequentes aconteçam nos prazos e condições adequadas. Figura 7: Relação entre os elementos-chaves do S&OP: desdobramento até operações. Figura 8: Etapas do S&OP. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO VENDAS E PLANEJAMENTO DE OPERAÇÕES (S&OP) PLANEJAMENTO DE VENDAS PLANEJAMENTO DE OPERAÇÕES PLANEJAMENTO DO PROGRAMA MESTRE DE PRODUÇÃO (MIX) PLANEJAMENTO DE MERCADO PLANEJAMENTO DOS RECURSOS PLANEJAMENTO DETALHADO DA CAPACIDADE ATUALIZAÇÃO DE DADOS REUNIÃO PRÉVIA PLANEJAMENTO DE SUPRIMENTOS REUNIÃO EXECUTIVA PLANEJAMENTO DA DEMANDA PLANEJAMENTO FINANCEIRO GESTÃO DA DEMANDA 1 2 34 5 67 Quando o processo ocorre conforme o planejado, os benefícios gerados pelo S&OP são expressivos. Resulta- dos práticos apontam ganhos significativos nos seguintes pontos: • Aumento da acuracidade da previsão de demanda (até 25%); • Melhoria do nível de atendimento aos clientes (até 30%); • Aumento do giro dos estoques (até 50%); • Redução de compras desnecessárias (até 35%); • Redução do nível de inventário (até 40%); • Melhoria no relacionamento entre as áreas de marke- ting, manufatura e administração de materiais. ESTUDO DE CASO: RESULTADOS DA APLICAÇÃO DE MÉTODOS ADEQUADOS PARA A PREVISÃO DE DEMANDA E PLANEJAMENTO DE MATERIAIS Esse estudo foi desenvolvido em uma empresa fabri- cante e distribuidora de papéis, tradicional multinacional desse segmento. No Brasil, possui um centro de distri- buição no interior de São Paulo, fornecendo itens para uso artístico, escolar, de engenharia e arquitetura. O estudo foi dividido em etapas, conforme descrito a seguir : 1. Análise do volume e variação do portfólio paraos produtos distribuídos no Brasil; 2. Seleção de itens do portfólio para estudos de previ- são de demanda; 3. Geração da demanda, usando métodos baseados em séries temporais e comparação com o método atual utilizado pela empresa; 4. Impacto dos resultados sobre os estoques e nível de serviços. É importante salientar que esse estudo não consi- dera o atual processo de S&OP, utilizado pela empresa, embora utilize os históricos de vendas realizadas. ANÁLISE DE PORTFÓLIO (VOLUME E VARIAÇÃO) Foram analisadas as vendas no período de 24 meses. O Gráfico 2 apresenta os valores de variação e o volu- me mensal de vendas. A consideração do coeficiente de variação (CoV) possibilita delimitar as regiões, no gráfico, identificadas por Q1, Q2, Q3 e Q4, que caracterizam as demandas típicas, quanto às variáveis “volume” e “varia- ção”. De forma complementar, os itens foram classificados em relação à curva ABC tradicional, usada em gestão de materiais (importância do item, medida pelo produto, entre a sua demanda e valor unitário). Essa análise de portfólio permite concluir que, para o período conside- rado (Tabela 5): • A maior parte dos itens fornecidos situa-se na região que compreende as áreas Q2 e Q3, ou seja, os itens historicamente caracterizados por baixos volumes e Gráfico 2: Análise de volume versus variação de demanda do portfólio da empresa estudo de caso. ANÁLISE DO VOLUME DE VENDAS E VARIAÇÃO DO PORTFÓLIO DE PRODUTOS (PERÍODO DE JUN/13 A MAIO/15) Q4 ALTO VOLUME ALTA VARIAÇÃO Q1 BAIXO VOLUME ALTA VARIAÇÃO Q2 BAIXO VOLUME BAIXA VARIAÇÃO Q3 ALTO VOLUME BAIXA VARIAÇÃO 68 www.revistamundologistica.com.br baixas variações (Q2) e/ou altos volumes e baixas variações (Q3); • A maior parte dos itens A, em cor azul (curva ABC), situa-se na área Q3; • A maior parte dos itens B, em cor laranja, situa-se na área Q2; • Apenas uma parte dos itens C (em cinza) está situa- da na área Q1, caracterizada por baixo volume e alta variação. Desse modo, a análise do portfólio evidencia que a utilização de métodos de planejamento de demanda que melhor se adéquem às características de baixa va- riação (com alto ou baixo volume) podem gerar baixos erros de previsão. SELEÇÃO DE ITENS DO PORTFÓLIO PARA ESTUDOS DE PREVISÃO Para os estudos de previsão, foram escolhidos os itens A e B do portfólio da empresa. Os Gráficos 3 mos- tram os resultados gerados, usando o método proposto para a previsão de demanda. Durante a análise dos dados, foram identificados 18 itens (referências) diferentes, sem faturamento desde ju- nho/2013, totalizando R$ 133 mil em estoque, e 45 itens sem classificação. A implantação de um modelo de previsão de deman- da proporciona a redução do erro de planejamento, mi- nimizando as compras superestimadas e o consequente acúmulo de itens “micados” (sem giro). Dessa forma, a tendência é que a empresa não tenha perdas financeiras por acúmulo de estoques excessivos e desnecessários. Nesse caso em específico, haveria uma oportunidade de redução ou eliminação de cerca de R$ 133 mil em estoque, representados por itens que já entraram na fase de declínio de vendas. COMPARAÇÃO DE RESULTADOS E APURAÇÃO DOS GANHOS A Tabela 6 apresenta os resultados dos erros gerados pelo método utilizado pela empresa, em comparação ao método utilizado para a projeção da demanda. Em todos os casos analisados, o erro é significativa- mente reduzido, com a aplicação do método estrutura- do proposto. Para avaliar o impacto do uso do méto- do proposto sobre o valor total do estoque, o Gráfico 4 mostra a evolução dos valores do estoque real da empresa, mês a mês (barras na cor azul), e o estoque otimizado para cada período do tempo, caso o modelo proposto já estivesse sendo utilizado pela empresa. Essa diferença representa uma redução potencial de cerca de R$ 1,1 milhão no nível médio de inventário, carregado ao longo do ano. Somando-se a esse potencial a redução do nível de estoque, com a eliminação dos itens sem giro, gera-se uma redução de R$ 1,233 mi, cerca de 35% do valor. CONSIDERAÇÕES FINAIS O uso integrado de métodos estruturados de previ- são de demanda e S&OP pode gerar resultados expres- sivos para a redução de estoques e aumento do nível de serviços. Esse artigo apresentou um estudo de caso, em que os métodos estruturados de previsão geraram erros significativamente menores do que os valores praticados atualmente pela empresa. No entanto, para potencializar os resultados, por meio da integração das áreas de vendas, planejamento de operações e gestão da demanda, algumas ações complementares são neces- sárias: 1. Criação de uma solução sistemática para o levanta- Tabela 5: Dados referentes aos quartis do gráfico. Tabela 6: Comparação entre os erros de previsão de demanda, realizada pela empresa. Q1 Q2 Q3 Q4 # PRODUTOS 55 1.368 53 0 % TOTAL PRODUTOS 3,73% 92,68% 3,59% 0% VOLUME DE VENDAS 19.111 1.553.892 4.595.202 0 %TOTAL VENDAS 0,31% 25,19% 74,50% 0% NO ITENS A 0 18 50 0 NO ITENS B 0 159 3 0 NO ITENS C 55 1191 0 0 CÁLCULO DO ERRO DE PREVISÃO DESVIO ABSOLUTO MÉDIO PERCENTUAL (DAMP) PRODUTO PREVISÃO DA EMPRESA (%) PREVISÃO DO MÉTODO ESTRUTURADO (%) 7070 59,5 34 7044 31,2 21 8867 59,1 19,2 69 mento e preparação dos dados utilizados no plane- jamento; 2. Desenvolvimento de um processo de forecast, para a melhoria do processo de elaboração do plano de vendas, em curto, médio e longo prazos; 3. Elaboração de um processo que permita obter um ou mais planos alternativos de produção, para supor- tar o planejamento de vendas gerado; 4. Geração dos níveis desejados de estoques, expres- sos pela política de cobertura para cada família de produto; 5. Implantação de um sistema informatizado, para a ges- tão da demanda do portfólio. Referências MORETTI, Diego de Carvalho. Gestão de suprimentos em um operador logístico. Tese de Mestrado em Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia Mecânica. Campinas: Unicamp, 2005. MARTINS, Petrônio G.; LAUGENI, Fernando Piero. Administração da produção. Editora Saraiva. RITZMAN, Larry P.; KRAJEWSKI, Lee J. Administração da produção e operações. Editora Pearson. CHOPRA, Sunil; MEINDL, Peter. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: estratégia, planejamento e operação. Editora Pearson. VIANA, João José. Administração de materiais: um enfoque prático. Editora Atlas. Gráfico 3: Análise de aderência dos modelos de previsão de demanda, propostos para um produto da empresa, utilizando o Software de Previsão de Demanda e S&OP, desenvolvido pela Nortegubisian Consultoria e Treinamento e a Libra Consultores Associados. Gráfico 4: Impacto da melhoria dos erros de previsão de demanda nos estoques da empresa. HISTÓRICO - ESTOQUE REAL X SIMULADO (USANDO MÉTODOS DE PREVISÃO) REAL SIMULAÇÃO NORTEGUBISIAN R$ 3.000.000,00 R$ 2.500.000,00 R$ 2.000.000,00 R$ 1.500.000,00 R$ 1.000.000,00 R$ 500.000,00 R$ - JUN/14 JUL/14 AGO/14 SET/14 OUT/14 NOV’/14 DEZ/14 JAN/15 FEV/15 MAR/15 ABR/15 MAI/15 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 9 6 3 0 -3 -6 -9 MAX MIN OUT/12 DEZ/12 FEV/13 ABR/13 JUN/13 AGO/13 OUT/13 DEZ/13 FEV/14 ABR/14 JUN/14 AGO/14 OUT/14 DEZ/14 SET/12 NOV/12 JAN/13 MAR/13 MAI/13 JUL/13 SET/13 NOV/13 JAN/14 MAR/14 MAI/14 JUL/14 SET/14 NOV/14 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 PREVISÃO PEDIDOS DEMANDA CONSENSO DEZ/14: 573 TS
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