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Prof. Vinícius Albuquerque História Social da Arte UNIDADE III Unidade III: análise histórica a partir da produção artística de diversas épocas: o uso de imagens no ensino de História. As discussões historiográficas iniciadas com a Escola dos Annales também incluíram o ensino de História. Para Cardoso e Vainfas (1997, p. 402): tanto a noção de documento quanto a de texto continuaram a ampliar-se. Agora, todos os vestígios do passado são considerados matéria para o historiador. Desta forma, novos textos, tais como a pintura, o cinema, a fotografia etc., foram incluídos no elenco de fontes dignas de fazer parte da história e passíveis de leitura por parte do historiador. Análise histórica e o uso de imagens no ensino de História Diversificação das fontes documentais: valorização do trabalho em sala de aula. Novas atividades de: investigação, análise, reflexão, aproximam alunos do método de trabalho do historiador. Professores e alunos adquirem uma nova postura: utilizando diferentes meios e linguagens, podem estudar o passado e o presente por meio de um raciocínio crítico. Análise histórica e o uso de imagens no ensino de História Sobre o uso de imagens Muitas vezes a imagem ainda aparece como mera ilustração de frases e textos, não sendo tomada como documento histórico. Contudo, o uso das pinturas históricas permite um maior contato dos alunos com a chamada “cultura clássica”, possibilitando analisar o conteúdo da obra e o contexto social de sua produção. A pintura histórica é a mais comum. A pintura histórica surgiu no Renascimento, quando os artistas começaram a pintar cenas da Antiguidade, e chega ao séc. XIX com temas nacionais, com Delacroix, os eventos históricos, batalhas, ou temas como o Grito do Ipiranga, de Pedro Américo. Burke (2005). Análise histórica e o uso de imagens no ensino de História “A liberdade guiando o povo”, Delacroix Pintura histórica – século XIX Fonte: www.objetivo.br/c onteudoonline/im agens/conteudo_ 9595/013b.jpg Para compreender uma pintura histórica é necessário conhecer o contexto histórico de sua produção, as concepções de historicidade dos artistas e também o imaginário social de seus consumidores. Se datação, contexto político e outras questões não forem levados em conta, a pintura histórica finda sendo abordada como se não englobasse concepções de História, limitada à imagem da História “tal qual ocorreu”, “prova de verdade”, “retrato”, “espelho” [...]. A imagem da pintura histórica, todavia, corresponde a uma interpretação da história, fazendo ver a trajetória de um país sob determinados ângulos (SILVA, 2000, p. 259). Análise histórica e o uso de imagens no ensino de História A pintura ou a reprodução de uma pintura permitem ao aluno imaginar e reconstruir o não vivido, o tema estudado. Segundo Calado e Pais da Silva (2004), a utilização da imagem como documento e fonte histórica escolar deve considerar alguns princípios pedagógicos, como: fornecer pontos de referência aos quais as imagens possam ser relacionadas, limitar os aspectos apresentados àquilo que é essencial, realizar uma exposição gradual dos diversos elementos, a atenção do aluno deve ser direcionada para aquilo que é relacionado ao conteúdo estudado. A imagem pode ser usada como meio para estruturar o pensamento em relação ao tema estudado. Análise histórica e o uso de imagens no ensino de História Desenvolver uma interpretação do tema estudado através da construção do conhecimento. Integrar questões pedagógicas e historiográficas. O uso de imagens possibilita a interpretação da História, em determinados períodos ou épocas, com uma riqueza de informações e detalhes, levando o aluno a um processo de aprendizagem mais interativo, prazeroso, que tenha significado, que lhe dê condições de se posicionar criticamente frente a questões e problemas que a sociedade traz. Escola como um espaço de construção do conhecimento, e não um local de fragmentação entre o saber e o fazer. Análise histórica e o uso de imagens no ensino de História Chervel (1990) critica o educandário como simples agente de transmissão e lembra o caráter criativo do sistema escolar; tal instituto não vulgariza as ciências de referências das disciplinas, mas produz um saber próprio, que é o saber escolar. “é necessário conhecer a teoria e a prática do ensino e aprendizagem de História, sendo preciso que [...] o aluno seja entendido como agente de sua formação, com ideias prévias e experiências diversas e o professor como investigador social e organizador de atividades problematizadoras; o conhecimento histórico é visto a partir de sua natureza multiperspectivada e nos seus vários níveis: senso comum, ciência e epistemologia; as estratégias e recursos são múltiplos e intervenientes; a avaliação é feita a partir de todo o material produzido pelo aluno; e os efeitos sociais são focados nos agentes sociais” (SCHMIDT GARCIA, 2006, p. 23). Análise histórica e o uso de imagens no ensino de História É essencial dar importância ao conhecimento prévio do aluno: selecionar temas e fontes históricas que podem ser estudadas em sala de aula e realizar recortes, considerando que não é possível estudar toda a História; o conhecimento histórico está presente além dos livros e o estudo de outras fontes, como as fotografias familiares, os utensílios domésticos e os artefatos, que podem contribuir para a análise de determinado tema histórico; também se pode partir da realidade do aluno e iniciar o estudo da história local. Schmidt e Garcia (2006) baseiam-se nas pesquisas realizadas por Rüsen (2001) para explicar que os conteúdos ressignificados a partir da experiência dos sujeitos comuns podem passar a compor os currículos e materiais didáticos de maneira a contribuir para a formação da consciência histórica crítico-genética. Uso de imagens no ensino de História: construção de sentidos Segundo Rüsen (2001), a consciência histórica é: a “constituição do sentido da experiência no tempo” e, por meio da narrativa histórica, [...] torna presente o passado, sempre em uma consciência de tempo na qual passado, presente e futuro formam uma unidade integrada, mediante a qual, justamente constitui-se a consciência histórica. [...] a consciência histórica constitui-se mediante a operação, genérica e elementar da vida prática, do narrar, com o qual os homens orientam seu agir e sofrer no tempo. Mediante a narrativa histórica são formuladas representações da continuidade da evolução temporal dos homens e de seu mundo, instituidoras de identidade por meio da memória e inseridas como determinação de sentido no quadro de orientação da vida prática humana (RÜSEN, 2001, p. 65-7). Uso de imagens no ensino de História: construção de sentidos Rüsen (2001) destaca que existem quatro tipos de consciência histórica: tradicional, exemplar, crítica, genética – o termo genético se refere ao processo histórico em que os sujeitos se orientam no tempo através da relação passado, presente e futuro. Para Jörn Rüsen, o ensino tradicional de História no Brasil, influenciado pelo positivismo, leva o aluno a compreender a totalidade temporal como permanência das experiências relativas aos modelos de vida e de cultura do passado, reproduzindo uma consciência histórica tradicional. Uso de imagens no ensino de História: construção de sentidos O uso de arte em sala de aula pode auxiliar a problematizar a noção de documento, pois: a) Foi resgatada a noção positivista de documento. b) Apenas no início do século XX o cinema pode ser considerado arte.c) Quando trabalhamos a arte devemos nos preocupar essencialmente com as pinturas. d) Todos os vestígios do passado são considerados matéria para o historiador. e) Nem todos vestígios podem ser considerados como objetos de estudos para os historiadores. Interatividade É fundamental a formação de uma consciência histórica crítica nos alunos O estudo das experiências do passado não se pauta na linearidade temporal e na redução das interpretações a causas e consequências, permitindo a ampliação das possibilidades de explicação e compreensão do fato histórico. Pensar o conhecimento histórico como resultado do processo de investigação sobre o passado, valorizando diferentes sujeitos históricos e suas relações, articular a compreensão do processo histórico às permanências e às transformações temporais, favorecendo a percepção do contexto social. Uso de imagens no ensino de História: consciência histórica Lee (2001): é preciso considerar que, para assimilarmos a História, é preciso abordar situações específicas do passado e promover a sua interpretação. Não se trata de trabalhar livremente com documentos ou apresentar diferentes versões; é fundamental que os alunos saibam que tudo o que estudam já foi pesquisado por alguém. A partir do momento em que falamos do que pode ou não ser testemunhado, os alunos fazem avanços no entendimento de evidência e percebem que os historiadores não copiam os testemunhos, mas sim fazem inferências, ou seja, questionam, deduzem, levantam hipóteses e realizam interpretações. Estudo da História em situações específicas O conhecimento histórico é de natureza complexa; sua construção e aquisição se dá a partir de matrizes sociais, mediadas pela cultura e pela linguagem. Ou seja, o processo de construção do conhecimento não é algo que se processa diretamente entre o sujeito e o objeto a ser conhecido. Entre eles existe a ação mediada da linguagem, dos signos e dos instrumentos que exercem o papel de ferramentas psicológicas que mediam a ação do homem, seu acesso ao mundo físico e social. [...] é necessário que o professor inclua, como parte constitutiva do processo ensino/aprendizagem, a presença de outros mediadores culturais, como os objetos da cultura material, visual ou simbólica, que, ancorados nos procedimentos de produção do conhecimento histórico, possibilitarão a construção do conhecimento pelos alunos, tornando possível “imaginar”, reconstruir o não vivido diretamente, por meio de variadas fontes documentais (SIMAN, 2004, p. 85). Estudo da História em situações específicas: uso de conceitos De acordo com Meneses (2003, p. 46), “[...] os conceitos criados para explicar certas realidades históricas têm seu significado voltado para essas realidades, não sendo possível empregá-los indistintamente para toda e qualquer situação semelhante [...]”. existem conceitos mais abrangentes e os que se referem a realidades mais específicas. No momento em que se atribuem a essas categorias as determinações históricas e suas especificidades, como trabalho assalariado, trabalho escravo, temos conceitos que poderão receber mais especificações, como é o caso do trabalho escravo no Brasil. Estudo da História em situações específicas: uso de conceitos Quando se trabalha com a análise de uma imagem, é necessário que o professor tenha clareza de que alguns aspectos são necessários no processo de ensino e aprendizagem para que não se perca a intencionalidade, por isso a imagem deve ser utilizada sempre como forma de aprendizado e cultura. Qualquer imagem deve ser bem explorada e, quando necessário, articulada a um texto, passível de ser interpretada, pois representa uma determinada época. Dessa forma, constituir-se-á em uma autêntica fonte de informação, de pesquisa e de conhecimento, a partir da qual o aluno pode perceber diferenças e semelhanças entre épocas, culturas e lugares distintos. Estudo da História em situações específicas: uso de conceitos [...] Interpretar exige paciência, a imagem deve ser olhada, questionada, para que história e memória sejam entendidas. Olhar não é simplesmente ver, nem observar com mais ou menos competência. Ele pressupõe a implicação deliberada de uma experiência, isto é, uma explicação. As criações humanas só são suscetíveis de interpretação e de explicação pelo caminho da compreensão implicativa, de uma tomada de consciência sobre si mesmas. Logo, o objeto de conhecimento é reconhecido por estar intimamente em constituição pelo sujeito que conhece. Para tal, ele deve dialogar com a imagem, interrogá-la e estabelecer certa intimidade com a mesma (KERN, 2005, p. 140). O presente de cada época histórica é único e particular, diz respeito somente ao momento vivido. Estudo da História em situações específicas: interpretação Bloch (2001, p. 60) afirma que “[...] nunca se explica plenamente um fenômeno histórico fora do estudo de seu momento”, por isso as imagens devem ser contextualizadas dentro do período e local em que foram produzidas, observando- se também a origem e o histórico do artista. Por ser um meio de expressão do homem, tratando de fenômenos culturais e artísticos, não podemos desconsiderar o contexto histórico e social da imagem. Ao analisar uma imagem, devemos perceber as informações explícitas e implícitas, decifrando seus códigos, uma vez que esta não reproduz a realidade, mas a reconstrói a partir de uma linguagem própria, que permite aprender e notar acontecimentos que, por outros modos, não conseguiríamos perceber. As imagens são representações do mundo. Estudo da História em situações específicas: contextualização Palavras e imagens são formas de representações do mundo que constituem o imaginário (PESAVENTO, 2003, p. 86). Produção imagética: gravuras, pinturas, fotografias, vídeos, além do universo dos historiadores da arte. A análise da produção artística dos homens de diferentes períodos históricos de formação do sujeito social. A imagem constitui um elo entre o tempo de seu produtor e o tempo de seu observador. Os significados e intenções na criação variam de acordo com o período, lugar e pessoas, ou seja, conforme o contexto histórico. Palavras e imagens: representações do mundo Além das formas tradicionais (desenho, pintura, escultura, gravura, arquitetura), há o cinema, a televisão, o computador e a internet. Novas tecnologias irromperam várias manifestações artísticas que são produzidas basicamente por meio da utilização das suas possibilidades e inovações. Televisão: várias manifestações de produções artísticas (telenovelas, seriados, filmes ou desenhos animados) ligados às artes cênicas com mecanismos de representação imagética das artes visuais, como o vídeo. Linguagens artísticas se fundem, se unem. Linguagem artística audiovisual: cada vez mais utilizada até em museus. Várias formas de expressão, que vão desde o desenho até a fotografia. Palavras e imagens: representações do mundo Nos jornais, por exemplo, frequentemente aparecem tiras de histórias em quadrinhos, os cartuns e as charges políticas. Imagens com cenas de violência captadas com precisão pela câmera do fotógrafo. Histórias em quadrinhos (HQs) que inicialmente se revelaram para entreter os leitores de antigos jornais norte-americanos, alcançaram um nível artístico elevado desde os seus primórdios, com trabalhos de Roy Lichtenstein e a Pop Art. Palavras e imagens: representações do mundo Arte contemporânea: Quebra de padrões pela liberdade total de criar, representar e propor situações, tudo pode ser incorporado, o espectador é provocado e convidado às mais variadasreflexões sobre a arte e sobre a vida, integrando-se à própria existência. Beleza, fealdade, ironia, política, percepções, sensações, sucata, lixo e até o próprio corpo, tudo pode ser material artístico. Na década de 1960: a arte conceitual, que passa a questionar a própria função da arte. O suporte da arte passa a ser a ideia, o conceito. O importante não é o resultado do processo artístico, mas o processo em si, a ideia que a obra encerra. Arte contemporânea A arte conceitual: Vanguarda artística, no fim da década de 1960, na Europa e nos Estados Unidos. Época do movimento hippie, dos protestos contra a Guerra do Vietnã e das grandes contestações sociais, como o feminismo, o homossexualismo e as questões ambientais. A arte buscava chocar, protestar, instigando o espectador a refletir sobre o papel da arte na sociedade e da arte como mercadoria. Comunicava as angústias e expectativas de uma sociedade que vivia em meio a mudanças e questionamentos. Arte conceitual e vanguardas Segundo Flusser (2013), “A comunicação humana é um processo artificial. Baseia-se em artifícios, descobertas, ferramentas e instrumentos, a saber, em símbolos organizados em códigos.” A comunicação humana é um artifício cuja intenção é nos fazer esquecer a brutal falta de sentido de uma vida condenada à morte. Sob a perspectiva da “natureza”, o homem é um animal solitário, que sabe que vai morrer e que na hora de sua morte estará sozinho. Cada um tem de morrer sozinho por si mesmo. E, potencialmente, cada hora é a hora da morte. Sem dúvida não é possível viver com esse conhecimento da solidão fundamental e sem sentido. A comunicação humana tece o véu do mundo codificado, o véu da arte, da ciência, da filosofia e da religião, ao redor de nós, esqueçamos nossa própria solidão e nossa morte, e também a morte daqueles que amamos (FLUSSER, 2013, p. 90-1). Flusser e a comunicação humana O ato de comunicação vai muito além do domínio e do aprendizado de códigos: ele depende diretamente da interpretação e interação entre emissor e receptor. Um receptor que não domina a linguagem de códigos que seu emissor disponibiliza pode acarretar falha da mensagem. Na arte contemporânea existe um vasto repertório de códigos: gestuais, pictóricos ou verbais; no século XX, a arte deixa de ser primordialmente visual e passa a ser considerada ideia e pensamento, como objeto que comunica. As propostas de Duchamp tiveram enorme relevância para os artistas conceituais. Ao questionar a arte por meio de seus ready-mades, tornou-se o grande precursor da arte conceitual. O ato de comunicação O trabalho com história da arte em sala de aula pode ser muito importante no processo formativo para demonstrar: a) Que história é fundamentalmente reunir documentos para sua preservação. b) Que não se deve ensinar os alunos a produzirem conhecimento próprio. c) Que todos os aspectos ideológicos devem ser excluídos das aulas de história. d) Que os historiadores não apenas copiam documentos, mas fazem inferências, questionam, deduzem, levantam hipóteses e realizam interpretações. e) Como os professores podem ser versáteis e criativos. Interatividade As ideias são fundamentais para a arte conceitual: não há exigência de que a obra artística seja construída pelas mãos do artista, o trabalho pode ser delegado para outra pessoa que tenha habilidade. O que importa é a invenção da obra, o conceito, que é elaborado antes de sua materialização. A arte conceitual utiliza diversas linguagens, como a fotografia, o vídeo e a própria linguagem verbal, oral ou escrita. Muitas obras conceituais são constituídas somente de texto linguístico. Arte conceitual Joseph Kosuth: Em sua instalação “Uma e três cadeiras”, expõe uma cadeira comum de madeira. Na parede do lado esquerdo da cadeira, ele cola uma fotografia dela em tamanho natural; do lado direito, fixa o verbete do dicionário, explicando o que é uma cadeira. Com isso, temos uma instalação conceitual. O conceito é superior ao objeto em si ou à sua exposição imagética (a fotografia), já que o significado de uma cadeira abrange toda e qualquer cadeira no planeta e a cadeira “real” é apenas um exemplo individual do seu conceito. A fotografia expõe somente uma cadeira ou cadeiras de uma só espécie, simboliza a pintura na História da Arte. Arte conceitual: Joseph Kosuth A arte não precisa mais ser eterna, nem é feita para perdurar. O efêmero, o momento, a passagem do tempo marca boa parte das obras recentes. Pensamento do substituível e descartável muito se aproxima da cultura de massa que se fortalece a partir do século XX. A pesquisa e o uso de materiais variados e inusitados estão presentes nas obras. Na arte contemporânea há exploração de todos os sentidos, não só da visão, mas também do tato, do paladar e da audição, muitas vezes exigindo do público uma participação ativa para que a obra se realize no que chamamos arte interativa. O efêmero na Arte A arte também é uma produção histórica. No mundo contemporâneo a arte apresenta um caráter mais provocativo. Podemos dizer que o século XX presenciou o começo de um processo de integração das linguagens da arte e da indústria. Desde a “invenção” da escrita alfabética (isto é, desde que o pensamento ocidental começou a ser articulado), as linhas escritas passaram a envolver o homem de modo a lhe exigir explicações. Estava claro: essas linhas representavam o mundo tridimensional em que vivemos, agimos e sofremos (FLUSSER, 2013, p. 102). Arte como produção histórica Fotografias, pinturas, tapetes, vitrais e inscrições rupestres são exemplos de superfícies que rodeavam o homem. Mas elas não equivaliam em quantidade nem em importância às superfícies que agora nos circundam. Portanto, não era tão urgente como hoje que se entendesse o papel que desempenhavam na vida humana (FLUSSER, 2013, p. 102). Com o nascimento da internet e a popularização dos aparatos informatizados, o avanço da imagem-superfície (texto não verbal) sobre o texto linear solapou a realidade da memória e da reflexão baseada na decodificação do texto verbal. Adequar o pensamento em linha ao pensamento em superfície pode ser um forte aliado na produção da arte. Arte como produção histórica A cultura industrial e sua influência no repertório visual e no imaginário coletivo possibilitou o surgimento de movimentos artísticos como o Futurismo e o Cubismo. Salvador Dalí incorporou em sua obra ícones da cultura midiática de seu tempo, principalmente o cinema norte-americano), sobretudo nos quadros Homenagem ao noticiário da Fox e O rosto de Mae West. No fim do século XX, a cibernética e a revolução tecnológica advinda da disseminação da informática por praticamente todas as áreas de conhecimento humano viriam a lançar as bases da cultura contemporânea, pós-industrial e em constante transição. Cultura industrial: vanguardas e cibernética Qual a diferença entre ler linhas escritas e ler uma pintura? Seguimos a linha de um texto da esquerda para a direita, mudamos de linha de cima para baixo e viramos as páginas da direita para a esquerda. Olhamos uma pintura: passamos nossos olhos sobre sua superfície seguindo caminhos vagamente sugeridos pela composição da imagem (FLUSSER, 2013, p. 104). Na primeira década do século XXI, a internet e as mídias sociais, os games interativos, a telefonia móvel, a conectividade entre os meios de comunicação de massa (rádio, TV e internet), a indústria cultural etc. começam a apontar o ciberespaço como a nossa nova fronteira a ser conquistada. Leituras A linguagem visual e a estética da cultura de massa: a toy art, a street art, o grafite, ícones da cultura cibernética. Ferramentas de integração dos diversos sistemas com capacidade de síntese. A arte contemporânea também é vista por muitos como a arte de massa. Como mencionamos, nos tempos modernos, com a evolução tecnológica dos meios de comunicação de massa – rádio, televisão, jornais, revistas e cinema –, a arte pode ser explorada no sentido de ampliar o público que pretende conhecê-la, entendê-la e apreciá-la. Linguagem visual e arte de massas Adorno e Horkheimer definiram a expressão “indústria cultural”, um mundo dominado pelo princípio da indiferença, ainda que a noção de indivíduo seja portadora dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, valores estes que assumiram um caráter universal e que deveriam realizar-se na totalidade social. Escola de Frankfurt: cultura moderna com elemento mecanicista. A concepção mecanicista: passividade alienante das massas, o indivíduo perde sua autonomia e as pessoas são condensadas numa espécie de “ser coletivo animado”, irracional e manipulável, por não ter consciência de si mesmo. Assim, a produção artística estaria inserida nessa indústria cultural feita para as massas e não por ela. Indústria cultural: Escola de Frankfurt Por isso, os filmes de cinema ou telenovelas com pouco conteúdo conceitual e argumentos simples são mais consumidos pela massa, salvo exceções que extrapolam o mercado comum e lançam propostas inovadoras em termos de roteiro, narrativa e visual. A arte produzida na cultura de massa se caracteriza, entre outros, por ter um alcance abrangente, ser de rápida visualização e de fácil acesso. Além disso, é uma minoria cultural que a produz para entretenimento e apreciação de muitos, podendo ser interpretada a partir de vários pontos de vista diferentes em relação aos seus significados. Acompanha tendências e mudanças contemporâneas que influenciam a sua criação. Pode ser comercializada e fazer parte de um grande mercado consumidor. (COELHO, T. O que é indústria cultural). Indústria cultural Dessa forma, sob o poder do monopólio, toda cultura de massa é idêntica e seu esqueleto, a ossatura conceitual fabricada por aquele, começa a se delinear. Os dirigentes não estão mais sequer muito interessados em encobri-lo, seu poder se fortalece quanto mais brutalmente ele se confessa de público. O cinema e o rádio não precisam mais se apresentar como arte. A verdade de [é] que não passam de um negócio, eles a utilizam como uma ideologia destinada a legitimar o lixo que propositalmente produzem. Eles se definem a si mesmos como indústrias e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores gerais suprimem toda dúvida quanto à necessidade social de seus produtos (ADORNO; HORKHEIMER, 1986, p. 114). Indústria cultural: Adorno e Horkheimer Adorno e Horkheimer A arte é a antítese social da sociedade, um ente autônomo, um fato social, é uma morada fechada em si que retoma em seu interior social o que ela nega por seu próprio modo de ser. O artista incorpora as forças sociais de produção sem estar preso a elas. A arte é autônoma em sua relação com o mundo, mas sempre recorre a ele como fonte de seu material, e é necessária enquanto possui em si a esperança de um outro estado de coisas, de reconciliação entre o homem e a natureza, entre razão e verdade, processo de repetição e padronização. Indústria cultural: Adorno e Horkheimer – Escola de Frankfurt Uma contribuição essencial do pensamento de Adorno e Horkheimer para a chamada Escola de Frankfurt é: a) Abandonaram o conceito de “indústria cultural”. b) Apresentaram o conceito liberal para a arte, desconsiderando a importância da reflexão crítica, uma vez que a arte não é indústria. c) Definiram a expressão “indústria cultural”, trabalhando conceitos ligados à reprodução e alienação das massas. d) Definiram a importância da arte tecnológica no início do século XXI para pensar os conceitos de cibercultura. e) Definiram a noção de “indústria cultural”, valorizando a possibilidade infinita do mercado incentivar a promoção de artistas famosos. Interatividade A arte busca novas linguagens, presença da tecnologia e da cibercultura. Na contemporaneidade, a junção da arte com a tecnologia, além de normal, passa a ser vista como necessária. História da arte marcada pelo desenvolvimento de meios e linguagens que coincidem com o desenvolvimento científico e tecnológico: produção artística como fenômeno cultural deve ser permanentemente vista, portanto, como novas fronteiras resultantes dos territórios digitais. Novas linguagens Lúcia Santaella (2009) expressa seu pensamento sobre a pulverização de discursos da arte e de como eles são otimizados pelas novas tecnologias. Utiliza conceitos – elaborados por Pound na década de 1970 – para definir autoria que categorizam os autores em: inventores, mestres e os imitadores. “quando um indivíduo cria algo, digamos, uma composição musical, um romance, uma pintura, um filme, um vídeo, esse indivíduo torna-se um autor, quer dizer, alguém que é capaz de deixar marcas, traços de seu modo próprio de criar mensagens em um processo de signos com o qual lida. O autor é aquele que interfere de modo particular e pessoal em um processo de signos (SANTAELLA, 2009, p. 1). Novas linguagens Para Santaella, Foucault: De fato, desde Foucault desenvolveu-se uma crescente descrença na possibilidade de uma meta-teoria por meio da qual todas as coisas podem ser unidas ou representadas. Foi Foucault quem nos instruiu para desenvolver a ação, o pensamento e o desejo na proliferação, justaposição e disjunção e a preferir a multiplicidade à unidade, a diferença à identidade, e a entrar nos fluxos e arranjos móveis em detrimento dos sistemas (SANTAELLA, 2009, p. 1). É possível afirmar que novas vanguardas surgem nessas décadas iniciais do século XXI impulsionadas pelas novas mídias, pela realidade virtual e pela interatividade, possibilitando uma expansão do campo de atuação do artista. Arte, fluxos e arranjos Início da década de 1980 o crítico italiano Achille Bonito Oliva criou o termo transvanguarda internacional para explicar o ressurgimento da pintura na arte. Além desse, outros termos como neoexpressionismo e bad painting também foram criados para exemplificar o intenso cenário da produção mundial de pintura. No Brasil, a exposição Como vai você, geração 80?, realizada em 1984 na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, na cidade do Rio de Janeiro, com a presença massiva de pintores, exemplifica essa produção voltada para a pintura. Arte no século XX e século XXI: transvanguarda internacional A nova fase da pintura estava sujeita a um contexto mundial de pluralismo cultural. A arte não mais seguia um desenvolvimento linear: liberdade da arte em seguir qualquer direção, buscando influências e inspiração em toda parte; juntar fragmentos, combinando-os e recombinando-os de forma significativa. A arte pós-moderna caracteriza-se pela multiplicidade de atitudes e abordagens, além do pluralismo cultural. Hal Foster (1996) analisa como negativa uma falsa impressão de liberalismo com a diluição da crítica e de qualquer postura ideológica. Um estado no qual todas as formas de arte passariam a coexistir, não existindo postura contestadora possível. Arte e pluralismo cultural A liberdade estilística, na qual o prazer retiniano foi cultivado por todos os artifícios do corpo pictórico. Tal período foi representado por uma variedade de artistasque não podiam ser agrupados em nenhum recorte e que não produziram um diálogo conciliador efetivo ou manifesto ideológico. Alguns nomes da diversidade da produção da década de 1980, como Francesco Clemente (Itália, 1952-), Enzo Cucchi (Itália 1949-), Mimmo Paladino (Itália 1948), Albert Oehlen (Alemanha 1954-), Anselm Kiefer (Alemanha 1945-), Georg Baselitz (Alemanha 1938-), Gerhard Ricther (Alemanha 1932-), Julian Schnabel (EUA 1951-), Eric Fischl (EUA 1948-), Jean-Michel Basquiat (EUA 1960-1988), Chuck Close (EUA 1940-). Arte e liberdade estilística contemporânea No Brasil podemos citar como pintores representantes da Geração 80, Beatriz Milhazes (1960-), Cristina Canale (1961-), Daniel Senize (1955-), Leda Catunda (1961-), Leonilson (1957-1993), Sérgio Romagnolo (1957-) a maioria deles formados na Escola de Artes Visuais do Parque Lage no Rio de Janeiro e na Faap, em São Paulo. Ana Claudia de Oliveira (1997): a arte tem como propósito nos fazer perceber o mundo, agindo sobre ele de formas diferentes. A liberdade fundante, segundo ela, característica muito forte e marcante da arte, provocou e nos provoca para senti-la, desfrutá-la em todos os seus ciclos de relações com as tecnologias e, sobre a arte tecnológica, percebe que “ainda nos intimida, fazendo com que notemos mais as aparelhagens que a produzem do que ela mesma” (OLIVEIRA, 1997, p. 225). Arte contemporânea no Brasil: geração 80 Brasil contemporâneo: Instituto Inhotim Fonte: http://www.inhotim.org.br/ uploads/2013/10/Atraves.jpg Cildo Meireles, “Através” Brasil contemporâneo: Instituto Inhotim Fonte: http://www.inhotim.org.br/inhotim/arte- contemporanea/colecao/?q=artista/doug-aitken Doug Aitken, “Pavilhão Sônico” Brasil contemporâneo: Instituto Inhotim Fonte: https://img.estadao.com.br/resour ces/jpg/4/3/1536009472734.jpg Kusama, “Narcisus” Brasil contemporâneo: Beatriz Milhazes Fonte: http://d3swacfcujrr1g.cloudfront. net/img/uploads/2016/01/012644 00000_300.jpg Fonte:http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/u ploads/2016/01/01199800000_300.jpg Beatriz Milhazes, “O guitarrista” e “Tempo de verão” A produção artística contemporânea como fenômeno cultural pode ser vista a partir: a) Apenas da produção no século XXI, quando surge a arte digital. b) Apenas da arte produzida nos Estados Unidos. c) De novas fronteiras resultantes dos territórios digitais desenvolvidos na passagem do século XX para o século XXI. d) De olhares tradicionais que revalorizam a arte clássica. e) De problematizações de campos específicos em cada uma das áreas de conhecimento, desconectadas das demais para se constituírem como objetos específicos de estudo. Interatividade ATÉ A PRÓXIMA!
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