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Psicologia_7

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( 7 )
Emoções, sentimentos e afetos: 
delimitações conceituais e repercussões 
no cotidiano do trabalho
Socorro, alguém me dê um coração, 
Que esse já não bate nem apanha 
Por favor, uma emoção pequena, 
Qualquer coisa 
Qualquer coisa que se sinta, 
Tem tantos sentimentos, deve ter 
algum que sirva 
Arnaldo Antunes
Olá!
Nesta	 unidade,	 iremos	 refletir	 sobre	 a	 importância	
das emoções, sentimentos e afetos na composição da nossa 
dimensão subjetiva, e discutiremos sobre a importância das 
emoções e afetos no cotidiano do trabalho.
Você conhece bem as suas emoções? 
Os afetos determinam o nosso comportamento? 
Quais afetos acompanham seus pensamentos e fantasias?
Como conciliar as diferentes emoções com as obriga-
ções do trabalho? 
O que controla a sua emoção? É a cognição? 
Qual a importância da cognição no estudo sobre 
as emoções?
Cláudia Vaz Torres
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Todos os nossos campos de estudo, trabalho, lazer, etc. 
são extremamente ricos em objetos, pessoas e situações que 
despertam reações afetivas, cognitivas e comportamentais. 
Falamos, então, em afeto, emoção, sentimento; mas, antes de 
respondermos as perguntas feitas anteriormente, faz-se im-
portante	compreender	o	significado	de	cada	termo.
Até o século XIX, os termos emoção e sentimento eram 
utilizados de modo indiscriminado. Atualmente, distinguimos 
esses termos de modo mais preciso. A emoção diz respeito a 
um estado agudo e transitório e o sentimento é um estado mais 
atenuado e durável, esclarece Bock, Furtado e Teixeira (1993).
Gondim e Siqueira (2004) aprofundam a compreen-
são	e	esclarecem	que	não	há	consenso	em	relação	às	defi-
nições das diversas manifestações afetivas. Os autores re-
sumem, da seguinte forma, os estados afetivo-emocionais, 
que incluem as emoções e afetos:
Na maior parte das definições há forte 
associação das emoções com alterações 
fisiológicas e corporais desencadeadas 
por estímulos internos ou externos que 
parecem não estar sob total controle 
consciente da pessoa. Os afetos abarca-
riam os sentimentos, os humores e os 
temperamentos, que teriam em comum 
sua maior persistência no tempo e sua 
relação com aspectos cognitivos. Os 
sentimentos não estariam relacionados 
à prontidão da ação tanto quanto as 
emoções, mas à interpretação subjetiva 
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da situação que pela persistência do ob-
jeto na memória faria perdurar o afeto 
em relação a ele. O humor também seria 
um estado afetivo mais duradouro, mas 
não estaria relacionado especificamen-
te a um objeto, repercutindo de modo 
significativo na maneira como a pessoa 
agiria em vários contextos de interação 
durante o período de permanência de 
seu estado afetivo. O temperamento, 
por sua vez, seria a manifestação de um 
estado afetivo individual persistente 
no tempo, pouco passível de modifica-
ção por fatores circunstanciais e que 
estaria incorporado nas características 
subjetivas de cada pessoa. (GONDIM; 
SIQUEIRA, 2004, p. 211)
Assim, depreendemos que os afetos estão presentes 
na vida da pessoa, constituem a nossa dimensão subjetiva e 
marcam	a	nossa	relação	com	o	outro.	Porém,	definir	os	esta-
dos afetivos tem criado divergências teóricas no que diz res-
peito	à	ênfase	em	determinados	aspectos,	como	a	influência	
da cultura na expressão das emoções e afetos.
Henry Wallon, um importante teórico da Psicologia, 
destacou as manifestações da vida afetiva, como as emoções, 
os sentimentos e os desejos nos seus estudos sobre o desen-
volvimento da pessoa humana, numa perspectiva integrada. 
Para o autor, somos pessoas completas em que o afeto, a cog-
nição e o movimento são interdependentes e participam das 
nossas relações. Na análise walloniana, a afetividade é um 
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conceito mais abrangente no qual se inserem manifestações 
ou expressões, como a emoção.
A emoção, para o autor, é uma atividade eminente-
mente social, que se nutre do efeito que causa no outro. 
As	 emoções	 possuem	 características	 específicas	 que	
as distinguem de outras manifestações da afetividade. São 
sempre acompanhadas de alterações orgânicas, como acele-
ração dos batimentos cardíacos, mudanças no ritmo da respi-
ração,	dificuldades	na	digestão,	secura	na	boca.	Além	dessas	
variações no funcionamento neurovegetativo, perceptíveis 
para quem as vivem, as emoções provocam alterações na 
mímica facial, na postura, na forma como são executados os 
gestos.	Acompanham-se	de	modificações	visíveis	do	exterior,	
expressivas, que são responsáveis por seu caráter altamente 
contagioso e por seu poder mobilizador do meio humano. 
No bebê, os estados afetivos são, inva-
riavelmente, vividos como sensações 
corporais, e expressos sob a forma de 
emoções. Com a aquisição da lingua-
gem diversificam-se e ampliam-se os 
motivos dos estados afetivos, bem como 
os recursos para sua expressão. Tor-
nam-se possíveis manifestações afeti-
vas como os sentimentos, que, diferente 
das emoções, não implicam obrigatoria-
mente em alterações corporais visíveis 
(GALVÂO, 2003, p. 61-62). 
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A análise walloniana sobre a emoção traz importantes 
elementos para que possamos compreender melhor o com-
portamento	emocional,	as	situações	de	conflitos,	as	crises	e	
identificar	os	fatores	que	provocam	os	conflitos,	os	posiciona-
mentos das diferentes pessoas que acirram a crise, as nossas 
próprias reações e o que reduz a temperatura emocional. 
O exemplo, a seguir, ilustra essa ideia:
Confusão começou com discussão entre 
duas meninas; em outra oportunida-
de, teriam tentado pôr fogo no colégio 
“Porrada, porrada, porrada.” Foi em 
meio a esses gritos que os alunos da 
Escola Estadual Amadeu Amaral, no 
Belém, zona leste de São Paulo, come-
çaram a depredar o colégio, por volta 
das 9h40 de ontem. Pedras e carteiras 
foram arremessadas nos vidros, por-
tas arrombadas, tapas e socos fizeram 
os professores, acuados, se trancarem 
dentro de uma sala. A “rebelião” só 
terminou por volta das 12 horas com 
a entrada da Polícia Militar, acio-
nada por vizinhos e funcionários da 
unidade. Em meio à correria, ado-
lescentes de 5ª a 8ª séries choravam 
e gritavam e a diretora da escola des-
maiou, segundo testemunhas. U., uma 
aluna de 15 anos que teria sido pivô 
da confusão, ficou levemente ferida. 
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[...] Um professor, que pediu para não 
ser identificado, afirma que desde o iní-
cio do ano os alunos têm quebrado jane-
las e até tentaram botar fogo na escola 
na segunda-feira passada [...] (REH-
DER, 2008, s.p.)
Esse fato, ocorrido numa sala de aula, é apenas uma 
das situações que acontecem em muitas outras escolas do 
país,	mas	que	reflete	uma	situação	de	tensão	emocional,	em	
que professores e alunos convivem com agressões verbais e 
físicas no ambiente escolar. 
Reflita:
 Como enxergar e lidar com essa situação de modo mais objetivo? Por 
que os grupos apresentam um espaço propício para manifestações 
emocionais coletivas?
Para Wallon, as emoções têm um poder de contágio e 
propiciam relações interindividuais nas quais se diluem oscontornos da dimensão subjetiva de cada um. O poder con-
tagioso e coletivo da emoção tem uma importância decisiva 
na coesão do grupo social, pois estabelece uma comunhão 
imediata, esclarece Galvão (2003).
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Vamos assistir ao vídeo do Pink Floyd - The Wall: http://www.youtube.
com/watch?v=vrC8i7qyZ2w e refletir sobre o conteúdo da nossa aula:
Como analisou as manifestações das emoções?
A partir do vídeo, podemos depreender que a apo-
logia à disciplina, o adestramento, a racionalidade e a ten-
tativa de suprimir os impulsos, impedindo a manifestação 
das emoções, podem provocar uma explosão de emoções 
que resulta em ações negativas.
Nas revistas semanais ou em jornais, podemos encon-
trar relatos de experiências que evidenciam os benefícios 
das	expressões	das	emoções	na	vida	pessoal	e	profissional,	
e os danos que podem advir quando guardamos tudo para 
nós	mesmos	por	conta	da	dificuldade	em	expressar	as	an-
gústias, o medo, a raiva, etc., ou pelo receio de ser conside-
rado frágil, imaturo, passional, etc. diante de uma repentina 
manifestação de emoções. 
Embora exista o preconceito com relação à livre ex-
pressão das emoções, é importante enfatizar que as emoções 
permitem a comunicação interpessoal, a manutenção das re-
lações, a interação social e a preparação para a ação diante de 
situações importantes para a nossa sobrevivência. 
Acrescentamos, porém, que nas pesquisas em Psicolo-
gia existem muitas divergências teóricas, uma delas em con-
sequência da função que a emoção cumpre na vida da pessoa. 
As discordâncias com relação à ênfase nas funções bio-
lógica, psicológica ou social da emoção não são únicas, pois 
existem outros focos de divergência. Quanto à compreensão 
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de como ocorre o processo emocional e o nível de consciência 
da resposta emocional, esclarecem Gondim e Siqueira (2004).
As abordagens biológicas defendem que: 
O cérebro, ao detectar subliminarmen-
te por meio de algum mediador um 
determinado estimulo, desencadeia re-
ações fisiológicas, tais como aumento 
dos batimentos cardíacos, sudorese e 
sensação de calor, que ao se tornarem 
conscientes fariam com que a pessoa 
procurasse interpretar o evento atri-
buindo estados afetivos: medo, tristeza, 
alegria, etc. (GONDIM; SIQUEIRA, 
2004, p. 212).
A abordagem cognitiva incorporou alguns aspectos 
das teorias de origem biológica, mas enfatizou a emoção e o 
afeto como manifestações culturais que dependem dos con-
textos sociais. Nessa perspectiva, a excitação biológica, como 
as mudanças na frequência cardíaca, na respiração e na pres-
são sanguínea, é importante, mas é preciso analisar o modo 
como	a	nossa	interpretação	da	situação	influencia	as	nossas	
emoções, em termos de como percebemos o seu efeito no nos-
so bem-estar ou em nossos objetivos. Nessa abordagem, Glas-
sman e Hadad (2008) esclarecem: 
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[...] as emoções atualmente desempe-
nham um papel muito mais matiza-
do em nossas vidas, em grande parte 
graças à influencia dos processos cog-
nitivos. Através da interpretação per-
ceptual e da memória das experiências 
passadas, avaliamos as situações para 
sentir não apenas medo ou prazer, 
mas também amor e tristeza, orgulho 
e vergonha. Como acontece com mui-
tos fenômenos, o entendimento final da 
emoção pode envolver uma interação 
complexa de diferentes fatores - e os 
processos cognitivos certamente serão 
um fator. (GLASSMAN; HADAD, 
2008, p. 222)
Assim, compreendemos que o modo como interpreta-
mos o contexto tem um importante papel nas emoções e que 
essas diferenças estão muito baseadas na aprendizagem, atra-
vés das interações que ocorrem na cultura.
Outras	abordagens	como	a	filosófica,	comportamental	
e	 clínica	adotam	premissas	específicas	para	a	compreensão	
das emoções e afetos:
-	Abordagem	filosófica	 -	 este	 tema	 é	 tratado	desde	 a	
Antiguidade.	Nesta	abordagem,	os	filósofos	partem	da	pre-
missa de que o afeto implica uma ação sofrida e que a emoção 
está na base da formação moral. 
- Abordagem comportamental – baseada no estudo de 
eventos observáveis, enfatiza os fatores externos no desenca-
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deamento das emoções. Para esta abordagem, as emoções são 
condicionadas. Glassman e Hadad (2008) citam, como exemplo:
Um bebê recém-nascido pode instin-
tivamente responder ao contato com o 
corpo da mãe, mas, mais tarde, essa res-
posta agradável torna-se associada ao 
rosto da mãe e, mais tarde ainda, a ob-
jetos da casa e, talvez, mesmo a própria 
casa. Os indivíduos que experimentam 
prazer ao escutar uma velha canção 
favorita experimentam emoções que se 
tornaram associadas ao estimulo condi-
cionado da música. Mesmo quando va-
mos ao cinema, o condicionamento está 
envolvido (provavelmente através de 
um processo de ordem mais elevada em 
nossas reações aos heróis, aos vilões e a 
várias situações intrigantes). (GLASS-
MAN; HADAD, 2008, p. 138)
Os teóricos desta abordagem acreditam que a aprendi-
zagem é o principal fator para explicar as mudanças de com-
portamentos e, dependendo do tipo de resposta, isso envolve 
o condicionamento clássico, que destaca que os estímulos 
condicionados vão eliciar respostas condicionadas, ou o con-
dicionamento operante, que enfatiza a possibilidade de uma 
resposta voluntária mudar em função das consequências am-
bientais. O condicionamento clássico e o condicionamento 
operante estão inter-relacionados no nosso comportamento, 
mas esta abordagem postula que a aplicação do condiciona-
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mento operante ao comportamento cotidiano consiste na mo-
dificação	do	comportamento.
De qualquer modo, assim como os pensamentos, os 
sentimentos e os outros estados mentais internos não po-
dem ser estudados empiricamente, portanto, não têm lugar 
nesta abordagem. 
- Abordagem clínica – aborda as emoções como pertur-
bações decorrentes da dinâmica psíquica inconsciente, centra 
a atenção nos processos psicopatológicos. O conceito abrange 
uma intricada rede de outros conceitos, como angústia e pul-
são. O afeto é um estado emocional permanente e intenso, 
que inclui toda a variedade de sentimentos e que estão pre-
sentes ao longo da nossa vida. 
Leia um trecho do texto “O afeto no tempo” de Corrêa 
(2005).	Disponível	em:	http://www.cbp.org.br/rev2806.htm
A partir deste ponto Lacan propõe re-
considerar outros textos de Freud sobre 
o afeto. A separação entre representa-
ção e quantidade (quantum) e a separa-
ção entre o intelectual e o afetivo criam 
dificuldades no seu entendimento. La-
can nos diz então que “algo no afeto é 
verdadeiro como um signo, quer dizer, 
ele é imediatamente compreensível” 
Laurent (1986). O afeto seria uma rela-
ção, um acesso direto ao verdadeiro in-
dependente da cultura, da época ou da 
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língua. Existe sua expressão como as 
lágrimas na tristeza, o riso na alegria, 
embora esse riso possa também, em de-terminadas circunstâncias, expressar 
ferocidade, como é o caso dos chineses.
O ponto de partida para a compreensão 
do afeto pela psicanálise tem sido sem-
pre a manifestação histérica. Em 1915 
Freud disse que o afeto é um ataque 
histérico codificado, estabelecido e fi-
xado na espécie. Daí possivelmente La-
can ter considerado o afeto como uma 
estrutura de ficção, como no sintoma 
histérico. Dito de outro modo, o sujeito 
histérico sabe que o afeto mais verda-
deiro é faz-de-conta, é semblante. Esta 
questão coloca o próprio sujeito frente 
à suspeição sobre a verdade e não-ver-
dade do próprio afeto. No seu conflito, é 
comum o histérico declarar as dúvidas 
sobre a autenticidade ou veracidade de 
seus afetos e até de suas paixões.
Em Televisão, Lacan (1973) ensina 
também que o afeto não é verdadeiro, 
ele é aquilo que deve ser verificado. Na 
experiência analítica precisamos fa-
zer com que o afeto seja tomado como 
verdadeiro, isto é, explorar aquilo que 
no afeto tem a ver com o inconsciente. 
Mas, precisamos saber até que ponto 
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um afeto procede do inconsciente. Para 
Lacan o afeto não é sentimento, como 
a angústia. Não sendo um sentimento 
é uma paixão, ou como está dito mais 
claramente: “o afeto é uma paixão da 
alma”, reforçando a diferença entre afe-
to e paixão.
Lacan (1973) nos diz, então, que o afeto traz algo para 
ser decifrado, compreendido e interpretado, o afeto não é sen-
timento, como podemos compreender a angústia. Não sendo 
um sentimento, é uma paixão; ou como explica: o afeto é vi-
venciado	como	uma	paixão	da	alma.	Tal	definição	explica	a	
diferença entre afeto e paixão.
Nesta direção, compreendemos que o afeto permeia a 
nossa condição humana e pode ser percebido no nosso modo 
tão singular de expressar a nossa divisão, o nosso desassossego, 
a nossa falta, tudo que nos move e nos torna sujeitos desejantes. 
E no trabalho, como as emoções são vivenciadas?
O trabalho, além de viabilizar a construção de um lu-
gar singular para mulheres e homens, repercute também na 
subjetividade, à medida que dá origem a novas referências e 
atitudes frente à realidade. 
Na psicanálise, Freud (1930), no texto O Mal-Estar na 
Civilização, revela que um dos aspectos que parece melhor 
caracterizar a civilização é a estima e o incentivo à atividade. 
Quando o homem descobriu que estava em suas mãos melho-
rar a sua sorte na terra e dominar a natureza através do traba-
lho, um outro homem que trabalhasse com ele ou contra ele 
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passou a não ser mais indiferente, passou a ser um auxiliar 
na garantia de melhores condições de vida. “Esse outro ho-
mem adquiriu para ele o valor de um companheiro de traba-
lho, com quem era útil conviver.” (FREUD, 1930, p. 119). Desse 
modo, através das atividades humanas, há um deslocamento 
de grande quantidade de componentes libidinais, agressivos 
e eróticos para a utilidade, obtenção de prazer e substituição 
do poder do indivíduo em prol de uma comunidade.
Sabemos que, principalmente no contexto de trabalho, 
os aspectos afetivos sempre foram desconsiderados em prol da 
objetividade, da previsibilidade, da estabilidade e do controle. 
Pensar um espaço em que exista a espontaneidade, a impulsi-
vidade e a expressão de emoções tem sido possível nos dias de 
hoje, por conta da valorização da afetividade e da sua impor-
tância nas análises sobre motivação e satisfação no trabalho.
Tornou-se um imperativo, na contemporaneidade, co-
nhecer mais sobre as pessoas e os seus processos psicológicos. 
A nossa realidade, alicerçada nas bases aparentemente ilusórias 
da cultura do espetáculo e da visibilidade, exercem uma pres-
são, como esclarece Sibilia (2008) sobre as subjetividades, para 
que estas se projetem de acordo com os novos códigos e regras. 
Mas, as pessoas não mudam facilmente para se tornarem com-
patíveis com as engrenagens da cultura organizacional. 
Precisamos, então, sempre considerar que a prescrição 
de papéis, que cada pessoa inserida num contexto organiza-
cional irá exercer, auxilia na lógica da racionalidade que pre-
valece	nesses	ambientes	e	que	define	o	que,	como	e	quando	
fazer, mas não assegura que as ações realizadas pelas pessoas 
serão bem feitas e bem-sucedidas. Isso ocorre porque as pes-
soas vivem um turbilhão de emoções construídas nas suas 
relações familiares, comunitárias, de lazer, trabalho, etc. e to-
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dos esses processos repercutem no seu fazer diário. Por isso, 
para analisarmos as repercussões das emoções, sentimentos 
e	afetos	no	mundo	do	trabalho,	importa	refletir,	inicialmente,	
sobre a relação entre cognição e afeto. 
A psicologia possui diferentes abordagens teóricas, 
uma delas é a cognitivista. Esta abordagem prioriza todos os 
processos envolvidos no conhecer (BASTOS, 2004). A ativida-
de de conhecer inclui, de acordo com o autor, construção, or-
ganização e uso de conhecimento; algo que vai além do pro-
cessamento, armazenamento e recuperação de informações 
e	que	envolve	o	raciocínio,	julgamentos,	afirmações,	atribui-
ções e interpretações. A cognição, então, não deve ser tradu-
zida apenas como atividade racional, intelectual e consciente.
As abordagens cognitivistas têm um importante papel 
na análise da complexa relação entre contexto de trabalho e 
comportamento do trabalhador. 
Para Bastos (2004), a importância que vêm assumindo 
as variáveis cognitivas nos estudos sobre as organizações 
deve-se ao reconhecimento de que a natureza do ambiente ao 
qual o indivíduo responde é construída nos seus processos 
de interação social. Pesquisador da Universidade Federal da 
Bahia,	Antonio	Virgilio	Bittencourt	Bastos	 conduz	um	con-
junto de pesquisas sobre cognição e organização. Ele esclare-
ce que a ênfase nos processos cognitivos, ou no entendimento 
do que as organizações são, e os processos nelas envolvidos, 
não devem nos levar a uma visão simplista das complexas 
relações que unem a cognição humana e os processos consti-
tutivos das organizações de trabalho, pois não existem rela-
ções simples e lineares, como também não há uma tecnologia 
cognitiva efetiva que ajude a lidar com os problemas organi-
zacionais.	Não	há,	então,	como	fixar	modelos	ou	adotar	ma-
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nuais sobre como gerenciar cognições individuais e coletivas. 
Analisar em profundidade a cognição humana é um 
importante aspecto para a compreensão de vários fenôme-
nos. Sobre esses fenômenos, Bastos (2004) esclarece:
Estes, vão desde as percepções indivi-
duais sobre eventos, passam pelas in-
terações e seus conflitos no interior de 
díades e pequenos grupos de trabalho, 
pelas cognições e decisões das pessoas 
com poder gerencial de moldar regras 
e estruturas, e chegam até aos proces-
sos pelos quais o ambiente é percebido 
e interpretado e como tais percepções 
influem na formulação de planos, pro-
jetos e políticas, tidos como necessários 
para a sobrevivência e melhoria das 
organizações. (BASTOS, 2004, p. 203)
Compreendemos, com o autor, que os estudos sobre a 
cognição humana possibilitam a compreensão sobre as per-
cepções	individuais,	as	interações,	os	conflitos,	as	lideranças,	
as relações de poder, as retaliações, etc. Os avanços nesse 
campo de estudodestacam que as pessoas são ativas na cons-
trução da sua realidade, interpretam o seu mundo, intera-
gem, e não podem ser manejadas no ambiente organizacional 
na mesma lógica que os recursos materiais o são. 
A cognição e a emoção são processos imbricados e in-
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separáveis no contexto de uma organização e em todos os 
outros em que estejam presentes as ações humanas. A abor-
dagem da cognição e do papel das emoções no campo dos es-
tudos organizacionais ampliou o debate sobre as pessoas, os 
seus processos psicológicos e rompeu com a ideia da ênfase 
na racionalidade, no ambiente de trabalho. 
Esses estudos promovem a compreensão do modo 
como o ambiente externo repercute nas manifestações afeti-
vas e como há uma tentativa constante de neutralizar, norma-
lizar, ajustar a expressão das emoções a diferentes situações 
sociais. Algumas emoções devem ser inibidas para garantir o 
bem-estar coletivo. 
Você concorda que as emoções devem ser inibidas? 
Quais manifestações afetivas devem ser inibidas? 
E a inveja, a raiva e o ciúme?
E, ainda, a hostilidade, a atitude de retaliação, a insegurança? 
Como devem ser consideradas as manifestações afetivas no ambiente 
de trabalho? É possível um trabalho emocional para compreender e 
redirecionar essas manifestações? É possível padronizar a expressão das 
emoções no ambiente de trabalho para que todos demonstrem alegria e 
satisfação?
Vamos analisar, então, as emoções a partir da HQ 
“Conveniências emocionais”, de campos de estudo e pesqui-
sa sobre o assunto:
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“Conveniências emocionais” de Vinicius Mitchel disponível em oglobo.
globo.com/blogs/gibizada/default.asp?a... 
A HQ “Conveniências emocionais”, as questões ante-
riores e tantas outras questões são de interesse de estudiosos 
que discutem a afetividade no contexto do trabalho. As in-
vestigações sobre as condições de trabalho (físicas, temporais, 
sociais) e sua relação com a afetividade do trabalhador po-
dem ser encontradas em estudos realizados na primeira me-
tade do século XX. Nesses estudos, em que é apontada a visão 
mecanicista, há o esclarecimento de que o homem é avesso ao 
trabalho e o realiza com desagrado, tendo como incentivos, 
o dinheiro e o medo do desemprego. Para aqueles que não 
concordavam	 com	 a	 visão	 mecanicista,	 uma	 configuração	
adequada do ambiente de trabalho poderia tornar as pessoas 
mais felizes, produtivas e assíduas no trabalho e contribuir 
com o bem-estar físico e emocional de todos os envolvidos 
(GONDIM; SIQUEIRA, 2004) 
Nesse campo de investigação, alguns pesquisadores 
têm profundo interesse em conhecer como agem as pesso-
as emocionalmente inteligentes e como é possível aprender a 
controlar as emoções (GOLEMAN, 1995). 
Goleman (1995) analisou as habilidades que as pes-
soas emocionalmente inteligentes possuem - como au-
toconsciência, automotivação, autocontrole, empatia e 
sociabilidade - e reconheceu que essas habilidades são im-
portantes na solução de problemas, na regulação de ações 
em diversos contextos, no conhecimento de si (inteligência 
intrapessoal) e na interação satisfatória com os outros. Sa-
ber	lidar	com	emoções	implica	saber	identificar	o	impacto	
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das emoções no ambiente de lazer, familiar e de trabalho e 
tomar	a	iniciativa	para	saber	responder	às	emoções	confli-
tantes das pessoas de modo construtivo.
(7.1)
A afetividade no contexto de 
trabalho
Vamos	iniciar	nossa	reflexão	sobre	o	tema,	através	da	
leitura do texto, a seguir:
Emoções e manifestações afetivas discre-
tas no trabalho
Emoções discretas no trabalho são de-
finidas como manifestações afetivas de 
qualidades distintas. Entre elas estão, 
por exemplo, o medo, a raiva, a surpresa, 
a alegria, a tristeza e o asco. No Brasil, 
pouco se tem dado atenção aos estudos 
que são voltados para as emoções discre-
tas no trabalho.
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Uma pesquisa de Mendonça (2003), po-
rém, vem avaliar uma outra manifestação 
afetiva discreta, a retaliação. Ele avaliou 
se a orientação dos valores individuais, 
a percepção de justiça organizacional e a 
percepção e o julgamento da retaliação in-
fluenciam a atitude de retaliação, dentro 
da organização. A atitude de retaliação 
seria formada por dois componentes, o 
afetivo e o conativo. O componente afe-
tivo da atitude de retaliação se apoia na 
crença de que a injustiça provoca ressen-
timento e também no próprio sentimento 
de indignação para com a organização. Já 
o componente conativo inclui a tendência 
consciente para retaliar, sendo que, para 
a pessoa, esta é a maneira mais adequada 
para reparar uma injustiça.
Dentre as conclusões da pesquisa, con-
tatou-se que a percepção e o julgamento 
da retaliação favorecem a atitude de reta-
liação. Porém, nesse aspecto, nem sempre 
os trabalhadores irão reagir com a mesma 
intensidade emocional às injustiças, pois 
nem todos a perceberão da mesma forma. 
Constatou-se também que pessoas com 
mais tempo na organização tendem a ter 
atitudes de retaliação.
A escolaridade pareceu não influen-
ciar nessas atitudes, porém pessoas com 
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maior grau de instrução percebem injus-
tiças na empresa com mais rapidez e de 
forma mais aguçada. No entanto, mesmo 
as percebendo com mais clareza, elas não 
avaliam a retaliação como a melhor forma 
de reparação.
Outro aspecto constatado foi o de que car-
gos de chefia não aprovam a retaliação e 
tendem a perceber poucas injustiças, de-
vido ao grau de comprometimento com a 
empresa e seus valores. Em relação aos 
aspectos individuais, pessoas que visam 
alcançar objetivos apenas pessoais, den-
tro da empresa, estão mais propensas às 
atitudes de retaliação.
Uma das limitações dessa pesquisa está no 
fato de que ela avalia a retaliação apenas 
no plano cognitivo e não a atitude propria-
mente dita, ou seja, ela analisa a propensão 
à retaliação, o que não é o mesmo que ana-
lisar a retaliação na prática das empresas. 
Isso ocorre porque, mesmo agindo de for-
ma coerente com nossos sentimentos, nem 
sempre essa relação se estabelece de modo 
concreto, ainda mais em organizações, 
onde não se permite quaisquer atitudes de 
agressão ou violência.
Fonte: Emoções e Afetos no Trabalho - Psicologia Organizacional - Atuação - Psicologado 
Artigos	http://artigos.psicologado.com/atuacao/psicologia-organizacional/emocoes-e-
-afetos-no-trabalho#ixzz22dKczcfn
Uma perspectiva de estudo no campo da Psicologia so-
bre a afetividade é a teoria sobre as atitudes, explicam Gon-
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dim e Siqueira (2004), que compreende as atitudes como uma 
rede de sentimentos, crenças, tendências para agir em dire-
ção a pessoas, grupos, ideias e objetos. 
Esta abordagem foi a que conseguiu levar maior núme-
ro de pesquisadores em Psicologia e de outras áreas correlatas 
a investigar afetividade no contexto de trabalho. Ela também 
podeser apontada como o principal eixo teórico responsável 
pelo conhecimento psicossocial aplicado ao trabalho durante 
o século XX, tendo como seus principais representantes os 
conceitos atitudinais denominados por: satisfação no traba-
lho,	que	diz	respeito	ao	grau	de	contentamento	com	chefia,	
colegas, salário, promoções e trabalho realizado; envolvimen-
to com o trabalho, que pode ser compreendido pelo nível de 
identificação	com	o	trabalho	realizado	e	o	comprometimento	
organizacional afetivo, que são os afetos dirigidos à empresa 
empregadora (GONDIM; SIQUEIRA, 2004).
Depreendemos, com os autores, que satisfação, envol-
vimento e comprometimento com o trabalho são vínculos 
que se relacionam entre si. 
O conceito de satisfação no trabalho envolve mais que 
grau	de	contentamento	com	chefia,	colegas,	salário,	promoções	
e trabalho realizado. A satisfação no trabalho, que resulta de ex-
periências no meio organizacional e tem os seus desdobramen-
tos na vida social da pessoa, é um aspecto a ser destacado por 
ser	um	indicador	de	influências	do	trabalho	na	saúde	mental,	na	
relação entre trabalho e vida familiar e entre trabalho e vínculos 
afetivos.	A	satisfação	no	trabalho,	afirmam	Siqueira	e	Gomide	
Junior (2004), abrange um bem-estar semelhante à satisfação ge-
ral com a vida, estado de ânimo, otimismo e autoestima.
Este conceito, assim como tantos outros que estudamos 
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ao longo da disciplina, possui as suas divergências, pois al-
guns consideram a satisfação no trabalho como um conjunto 
de	reações	específicas	a	vários	componentes	do	trabalho,	que	
produzem graus diferentes de satisfação ou insatisfação. Ou-
tros aspectos também são considerados como fontes de satis-
fação,	como:	relação	com	a	chefia,	com	os	colegas,	atribuições	
do cargo, o salário e as chances reais de promoção (GONDIM; 
SIQUEIRA, 2004). Para outros, a satisfação no trabalho incide 
na proximidade do trabalho com a casa, na carga horária, nos 
benefícios, etc.
De qualquer modo, é importante destacar que a sa-
tisfação no trabalho, que também diz respeito à natureza 
de um vínculo afetivo, promove melhor desempenho, mais 
produtividade e bem-estar. 
Para	tratarmos	desse	assunto,	convém	uma	reflexão	so-
bre um ponto extremo que diz respeito ao sofrimento mental 
relacionado ao trabalho. As políticas internas da organização, 
a política de pessoal, a competitividade, as práticas gerenciais 
e de organização do trabalho produzem diferentes sentimen-
tos, criam culturas e novos modos de subjetivação.
Algumas vezes, as situações de medo, insegurança, in-
certeza, as retaliações, as injustiças, o individualismo em di-
ferentes contextos que a pessoa está inserida produzem um 
mal-estar e, em certas circunstâncias, um sofrimento psíquico.
Elizabeth Roudinesco (2000), psicanalista, esclarece 
que o sofrimento psíquico manifesta-se, atualmente, sob a 
forma de depressão.
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Atingido no corpo e na alma por essa 
estranha síndrome em que se misturam 
a tristeza e a apatia, a busca de identi-
dade e o culto de si mesmo, o homem 
deprimido não acredita mais na valida-
de de nenhuma terapia. (ROUDINES-
CO, 2000, p. 13)
Para	a	autora,	antes	de	buscar	vencer	o	vazio	refletindo	
sobre as causas da angústia, a pessoa trata as suas dores com 
receitas médicas. Sobre isso, ela acrescenta:
Quanto mais a sociedade apregoa a 
emancipação, sublinhando a igualdade 
de todos perante a lei, mais ela acentua 
as diferenças. No cerne desse dispositi-
vo, cada um reivindica sua singulari-
dade, recusando-se a se identificar com 
as imagens da universalidade, julgadas 
caducas. Assim, a era da individualida-
de substituiu a da subjetividade: dando 
a si mesmo a ilusão de uma liberdade 
irrestrita, de uma independência sem 
desejo e de uma historicidade sem his-
tória, o homem de hoje transformou-se 
no contrário do sujeito. Longe de cons-
truir seu ser a partir da consciência 
das determinações inconscientes que 
o perpassam à sua revelia, longe de ser 
uma individualidade biológica, longe 
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de pretender-se um sujeito livre, des-
vinculado de suas raízes e de sua cole-
tividade, ele se toma por senhor de um 
destino cuja significação reduz a uma 
reivindicação normativa. Por isso, liga-
-se a redes, a grupos, a coletivos e a co-
munidades, sem conseguir afirmar sua 
verdadeira diferença (ROUDINESCO, 
2000, p. 13-14).
Depreendemos que, nas suas relações, a pessoa pro-
cura evitar a angústia, através muito mais de estratégias de 
normalização e fuga que de enfrentamento do vazio, que ful-
mina as relações sociais e afetivas. Discernir a evolução des-
se sofrimento e o modo como afeta o trabalho é um aspecto 
importante dos estudos sobre a psicopatologia do trabalho.
Para muitas pessoas, o trabalho pode ser pesado, 
exaustivo, obrigatório e meio de sobrevivência, não há satis-
fação e prazer. Somado a isso, as políticas internas da orga-
nização de estruturação das práticas, as políticas de pessoal, 
a	rotina	massificante,	as	dificuldades	nos	relacionamentos,	a	
ausência de momentos de lazer repercutem nas subjetivida-
des e podem ocasionar problemas de ordem física, emocional 
ou social. Os problemas mais comuns são: estresse, irritabili-
dade, depressão, ansiedade, distúrbios de sono, etc.
O trabalhador pode fazer muito por si mesmo no seu 
ambiente de trabalho, porém, a organização deve preocupar-
-se com a qualidade de vida de todos os seus integrantes, de-
senvolvendo ações que promovam o bem-estar e crescimento 
profissional.	Uma	ação	interinstitucional	é	necessária,	diante	
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dos graves problemas de saúde que atingem os trabalhadores. 
Para finalizar a nossa aula, assista ao vídeo disponível em: http://
www.youtube.com/watch?v=rUWqQZMyK7M
Leia,	a	seguir,	o	poema	de	Fernando	Pessoa	para	refle-
tir sobre os afetos e direcionamentos que damos à nossa vida:
Se em certa altura 
Tivesse voltado para a esquerda em vez 
de para a direita; 
Se em certo momento 
Tivesse dito sim em vez de não, ou não 
em vez de sim; 
Se em certa conversa 
Tivesse tido as frases que só agora, no 
meio-sono, elaboro 
Se tudo isso tivesse sido assim, 
Seria outro hoje, e talvez o universo 
inteiro 
Seria insensivelmente levado a ser 
outro também. 
Mas não virei para o lado irreparavel-
mente perdido, 
Não virei nem pensei em virar, e só 
agora o percebo; 
Mas não disse não ou não disse sim, e 
só agora vejo o que não disse; 
Mas as frases que faltou dizer nesse 
momento surgem-me todas, 
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Claras, inevitáveis, naturais, 
A conversa fechada concludentemente, 
A matéria toda resolvida... 
Mas só agora o que nunca foi, nem 
será para trás, me dói. 
O que falhei deveras não tem esperan-
ça nenhuma 
Em sistema metafísico nenhum. 
Pode ser que para outro mundo eu 
possa levar o que sonhei. 
Mas poderei eu levar para outro mun-
do o que me esqueci de sonhar?
Saudações afetuosas!
SÍNTESE 
Nesta	aula,refletimos	sobre	a	importância	das	emo-
ções, sentimentos e afetos, parte integrante da nossa dimen-
são subjetiva e analisamos as manifestações afetivas no am-
biente de trabalho.
Na próxima aula, discutiremos sobre a motivação hu-
mana e as suas principais questões.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO
Como evitar que as pessoas não sejam manejadas no 
ambiente organizacional na mesma lógica que os recursos 
materiais o são?
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LLEITURAS INDICADAS
Inteligência Emocional.	 Disponível	 em:	 <http://www.din.
uem.br/ia/emocional/>. Acesso em: 16 jul. 2012.
BISPO, P. Emoção e profissionalismo. Disponível	em:	<http://
www.rh.com.br/Portal/Mudanca/Entrevista/4629/emocao-e-
profissionalismo.html>.	Acesso	em:	16	jul.	2012.
FORBES, J. Solidão dos executivos: líderes. 
Disponível	 em:	 <http://www.jorgeforbes.com.br/br/contents.
asp?s=23&i=54
SITE INDICADO
http://internativa.com.br/artigo_rh_06_06.html
http://www.guiarh.com.br/pp128.htm
http://www22.sede.embrapa.br/publicacoes/balsoc2000/
ssmedt.htm
REFERÊNCIAS
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ZANNELI, J. C.; BORGES-ANDRADE, J.; BASTOS, A. V. B. 
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CORREA, C. P. O afeto no tempo.	 Disponível	 em:	 <http://
www.cbp.org.br/rev2806.htm>. Acesso em: 17 ago. 2012
FREUD, S. O mal-estar na civilização. Rio Janeiro: Imago, 1930. 
GALVÂO, I. H. W.: Uma concepção dialética do desenvolvi-
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TOS, A. V. B. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. 
Porto Alegre: Artmed, 2004.
REHDER, M. Alunos brigam, trancam professores e que-
bram escola na zona leste de SP. Metropole. Estado de São 
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SIBILIA, P. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio 
de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
SIQUEIRA, M. M. M.; GOMIDE JUNIOR, S. Vínculos do indi-
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ganizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.
ROUDINESCO, E. Por que a psicanálise? Rio de Janeiro: Jor-
ge Zahar, 2000.
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