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dos fenômenos observados no grupo, paralelamente o autor assevera que "seria uma pretensão infundada tentar desenvolver a teoria de grupo, porque é impos- sível abarcar toda a gama de aspectos que cabe considerar nos processos de grupo"; acrescenta também que, sendo cabíveis explicações de pontos de vista diferentes, como os do sociólogo, do psicossociólogo e do terapeuta de grupo, toma-se impossível a univocidade conceitual. Dentro desta diversidade é importante destacar a equivocidade do próprio conceito de dinâmica de grupo, cuja popularização precoce acabou por conduzi-lo a ser interpretado como ideologia capaz de resolver os problemas das relações interpessoais, em termos de coexistência pacífica. Diz ainda o autor que "a equivocidade da expressão não se deve exclusiva- mente à impossibilidade de definir dinâmica, mas também à variedade infinita de definições do termo grupo". As reflexões do autor culminam no estudo dos objetivos das diferentes modalidades de laboratórios. As tendências terapêuticas ou psicossociais, que historicamente sempre caminharam pari-passu, para as quais tentativas de separa- ção continuam ainda hoje fracassadas, parecem resolver-se intrinsecamente no papel que o "instrutor" assume no grupo e nos objetivos prefixados. Ainda assim, ficam sem respostas inúmeras perguntas que resultam do grupo, especialmente aquelas relativas às enfermidades, emoções, aprendizagem etc. Trata-se de um livro sério, desapaixonado, cuja leitura pode contribuir para o esclarecimento, no sentido de configurar expectativas justas tanto daqueles que, como profissionais, dedicam-se à dinâmica de grupo, como daqueles que recorrem a esta ciência para buscar benefícios pessoais ou de terceiros. ÉUDA SIGELMANN Maldonado, Maria Tereza P. Psicologia da gravidez, parto e puerpério. Petrópolis, Vozes, 1976, 118 p. Enquanto muito se fala a respeito da mulher como sujeito e não mais objeto, a psicologia pouco se tem preocupado com vivências especificamente femininas. Entre os trabalhos acadêmicos, desenvolvidos no mestrado em psicologia clínica da PUC, é ínfimo o número de dissertações que se propõem estudar temas tais como gravidez, puerpério, menstruação, lactação etc., e isso apesar da esmagadora superioridade numérica das estudantes sobre os seus condiscípulos. O interesse do assunto, por si só, já bastaria para valorizar a presente contribuição, que foi objeto de brilhante defesa de dissertação de mestrado, na PUC do Rio de Janeiro, em 1975. Mas a maestria com que o tema é desenvolvido, junto com a seriedade do propósito e a sua utilidade prática fazem deste livrinho uma importante contri- buição para o enfoque teórico da psicologia da gravidez. 250 A.B.P.A. 3/77 A autora parte do conceito de crise elaborado por Kaplan, e definido como perturbação temporária de um estado de equihbrio. Dentro da perspectiva que considera as situações de crise como encruzilha- das existenciais, necessárias ao desenvolvimento da pessoa, a gravidez surge como um momento privilegiado para a reformulação de todos os valores vitais da mulher. Não são mudanças fisiológicas apenas, mas também psicossociais - a gravidez provoca mudança de identidade e nova definição de papéis. Os fatores socioeconômicos desempenham um papel nada desprezível em nosso meio. Por isso a época da gravidez representa um núcleo de tensões entre diversos fatores. A rigor, destaca a autora, "é necessário pensar não apenas em termos de 'mulher grá- vida' mas sim de 'família grávida'" (p. 16), ao contrário da maioria dos trabalhos, que focaliza exclusivamente a situação da mulher, como se a mesma não fizesse parte de um conjunto dinâmico. Eis o duplo enfoque - a gravidez como crise existencial e como drama familiar - que domina a descrição desta psicologia da gravidez. As três grandes fases são descritas sob esse ângulo, e o parto é especifica- mente situado como o ponto alto da crise, que a resume e a sintetiza. Daí a importância da modalidade de parto escolhida pela parturiente e, portanto, do preparo psicológico para tal momento. O puerpério é também tratado, bem como o significado pSicológico da amamentação. Resumindo os principais estudos já realizados sobre os aspectos psicossomá- ticos da gravidez e do parto, a autora mostra que a maioria ainda padece de sérias carências teóricas e metodológicas. Especial atenção é dedicada ao método psico- proftlático, bem como à prática de psicoterapia breve em gestantes. Finalizando, a autora propõe aquilo que chama de Intervenção Psicológico- Educacional (IPE). A IPE visa conjugar as técnicas tradicionais tais como informa- ções e exercícios de sensibilização corporal, relaxamento, respiração etc. com aspectos psicoterápicos de grupo. "Os três vetores básicos da IPE são: a transmissão de informações sobre o ciclo grávido-puerperal; os exercícios de sensibilização corporal e de estética .. pós-parto, e o treinamento de técnicas de relaxamento e respiração para o parto; os grupos de discussão sobre as vivências emocionais envolvidas na situação de ter um ftlho e o impacto da gravidez na estrutura familiar. Cada um implica a utilização de diversas técnicas, de atendimento psicológico, especialmente a orientação antecipatória, a reflexão de sentimentos e o reasseguramento" (p. 101). Nessa perspectiva, a expressão de ansiedade é facilitada, não só para permitir a descarga de emoções, mas por corresponder a uma vivência real e autêntica. A dor não é negada, mas enfocada dentro do seu significado existencial. Concluindo, a autora destaca a importância do trabalho conjunto do obste- tra e do psicólogo. Ambos têm por função aiudar a pessoa em momento decisivo Resenha bibliográfica 251 - de crescimento pessoal, de surgimento de nova vida e de nova estrutura de relacionamento. MONIQUE AUGRAS Wolff, Charles J. de & Shimim, Sylvia. The psychology of work in Europe: a review of a profession. Personnel psychology, v. 29, n. 2, p. 175-95, 1976. Desde que, em 1889, foi criado na Europa o primeiro laboratório de psicologia do trabalho, a psicologia tem atravessado, naquele continente, períodos de grande desenvolvimento e épocas de relativa estagnação. Tem, como no resto do mundo, descoberto novas áreas de atuação, se bem que se tenha visto obrigada a compartir algumas com outros especialistas em ciências humanas ou, por vezes, tecnológicas. Os autores apresentam um panorama da psicologia do trabalho como pro- fissão em vários países da Europa tanto Ocidental como Oriental dando primeiro uma idéia da situação do mundo industrial em ambas as regiões, com situações, problemas e enfoques bastante diferentes. Os psicólogos do trabalho enfrentam constantes desafios para os quais raramente foram preparados por sua formação acadêmica; têm que resolver sua "crise de identidade" quando atuam dentro de uma empresa: devem ser leais, por exemplo, ao grupo menos privilegiado - os trabalhadores - ou ao empregador que lhes dá o cargo? Este conflito parece bastante sério e faz com que alguns prefiram dedicar-se ao campo mais neutro da pesquisa. Muitas pesquisas, porém, tomam-se irrelevantes, pois seus temas são escolhidos mais pela facilidade de se obterem resultados do que pela importância e interesse desses resultados. Outra dificuldade advém do ensino: a formação acadêmica, encerrada em sua torre de marfim, não acompanha as mudanças impostas pela evolução ambiental. São seis as áreas em que, dentro da psicologia do trabalho, atuam os psicólogos europeus. A mais tradicional dessas áreas é a seleção, que continua, em alguns países, a ser a atividade principal dos psicólogos do trabalho. Mas o enfoque não é mais o de outrora. Adverte-se uma firme resistência a encarar a seleção de empregados com critérios análogos aos da escolha de melhor ferramenta. Prefere-se dar um enfoqueclínico, de aconselhamento e orientação, à seleção. Ou, como na maioria dos países orientais, sem problemas de desemprego, destacar os aspectos de classificação do pessoal. Surgem também problemas éticos: alguns países só comunicam os resultados ao empregador com assentimento dos candidatos, que devem previamente tomar conhecimento deles. A segunda área de atuação do psicólogo do trabalho que aparece historica- mente é o treinamento. Surpreendem-se os autores com o pouco interesse que demonstram os psicólogos europeus por este tipo de trabalho. No entanto, não 252 A.B.P.A. 3/77
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