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autor do original LAURA LOUZADA JORGE SAREVALO 1ª edição SESES rio de janeiro 2015 GERÊNCIA DE IMPORTAÇÕES Conselho editorial regiane burger, modesto guedes júnior Autor do original laura louzada, jorge sarevalo iProjeto editorial roberto paes Coordenação de produção rodrigo azevedo de oliveira Projeto gráfico paulo vitor bastos Diagramação fabrico Revisão linguística aderbal torres bezerra Imagem de capa nome do autor — shutterstock Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015. Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063 Sumário Prefácio 7 1. Importância do Comércio Exterior e a Negociação na Importação 10 Introdução 11 Aspectos Importantes em Operações Relacionadas ao Comércio Exterior 13 Processos e Procedimentos de Comércio Exterior 15 Áreas e Terminais Operacionais do Comércio Exterior 17 Negociação para Importação 19 Termos Internacionais de Comércio (INCOTERMS) 22 Custos Envolvidos no Comércio Internacional 24 Órgão Gestores e Anuentes no Comércio Exterior 25 Aspectos Importantes em Comércio Exterior 27 2. Tratamento Administrativo e Classificação Fiscal de Mercadorias na Importação 32 Tratamento Administrativo 33 Importação de Material Usado 38 Classificação Fiscal de Mercadorias 41 3. Habilitação, Documentação e Tratamento Tributário na Importação 54 Radar da Receita Federal 55 Registro, Modalidades e Credenciamento no Radar 56 Documentos no Comércio Exterior 60 Outros Documentos 64 Tratamento tributário na importação 65 4. Despacho e Regimes Aduaneiros na Importação 78 Despacho Aduaneiro de Importação 79 Declaração de Importação (DI) 81 Passo a Passo para o Despacho Aduaneiro 83 Regimes Aduaneiros 87 5. Importância do Conhecimento da Formação de Preços e Custos, Operações de Pagamento e Câmbio nas Importações Brasileiras 102 Conhecimento do Processo 103 Barreiras Comerciais 104 Formação de Preços e Custos 108 Multas e Penalidades 110 Contratos de Câmbio no Mercado Brasileiro 111 Garantias e Riscos para o Vendedor 118 Garantias e Riscos para o Comprador 119 Despesas de Bancos Locais e de Bancos no Exterior 119 7 Prefácio Prezado(a) aluno(a) A disciplina de Gerência de Importações tem como objetivo principal a apresentação do processo para importação de qualquer mercadoria. Dessa for- ma, este livro irá apresentar todas as atividades e agentes envolvidos, procedi- mentos e documentação necessários, e pontos onde maior cuidado e atenção devem ser tomados para evitar erros e problemas durante o processo. Você irá entender desde a escolha do produto que será importado, passando pelo conta- to com os exportadores, as descrições e características importantes, legislação envolvida, documentos, cadastros e conhecimentos necessários, até a libera- ção da mercadoria, para que o importador possa direcioná-la para finalidade desejada. São abordados diversos temas divididos em cinco capítulos, confor- me elencado a seguir: Capítulo 1 – Importância do Comércio Exterior e a Negociação na Importação Capítulo 2 – Tratamento Administrativo e Classificação Fiscal de Mercadorias na Importação Capítulo 3 – Habilitação, Documentação e Tratamento Tributário na Importação Capítulo 4 – Despacho e regimes Aduaneiros na Importação Capítulo 5 – Importância do Conhecimento da Formação de Preços e Custos, Operações de Pagamento e Câmbio nas Importações Brasileiras Esperamos que a disciplina de Gerência de Importação desperte a sua curiosidade e que faça você perceber que quanto mais informação obtiver so- bre o produto que deseja importar, melhores poderão ser os resultados durante o processo de importação. Bons estudos! Jorge Luis Sánches Arévolo Laura Mendes Louzada Importância do comércio exterior e a negociação na importação 1 10 • capítulo 1 1 Importância do comércio exterior e a negociação na importação Este primeiro capítulo trata da importância do comércio exterior, os processos envolvidos para operar o comércio exterior, assim como as áreas terminais, tais como território aduaneiro, portos secos, entre outros. O comércio exterior é con- cebido como importante para o desenvolvimento de um país e, assim, a impor- tância da eficiência nos processos envolvidos é determinante nesse contexto. Também, se faz uma abordagem sobre os termos internacionais do comér- cio, os órgãos gestores e anuentes, sendo estes órgãos os reguladores do comér- cio. Em relação aos termos do comércio (Incoterms), se discute a importância e as categorias. Em relação aos órgãos vinculados, se discute a importância e a função de cada um deles no processo de operações do comércio exterior. OBJETIVOS • Reconhecer a importância do conhecimento do comércio exterior, bem como as operações e processos relacionados, seja de negociação, formação de preços e modalidades de pagamento. • Identificar as áreas e terminais operacionais do comércio exterior, assim como a sua importância no processo de importação. • Reconhecer a importância dos termos de comércio internacional – Incoterms. • Identificar a importância dos órgãos gestores e anuentes no controle das opera- ções de comércio exterior. REFLEXÃO Você se lembra, ou já ouviu falar, no jornal ou na televisão, dos acordos de comércio que o Brasil tem (ou realiza) com outros países? Ou da formação de blocos econômicos, como o MERCOSUL e a União Européia? Em tal sentido, qual é a finalidade de um país ou países assinarem acordos de comércio? A resposta é sustentada pela teoria econômica, especifica- mente pelas teorias de economia internacional, sendo que todo país por si só não é autossu- capítulo 1 • 11 ficiente. Sendo assim, o comércio internacional tem suas bases no princípio das vantagens comparativas. Nesse sentido, um país que apresenta vantagem na produção de determinado bem, pode realizar operação de comércio exterior, sem afetar a sua demanda interna. Con- siderando o caso brasileiro, o país tem vantagem na produção de determinados produtos, principalmente agropecuários, e dependência no em relação à compra de petróleo, maquina- ria industrial, entre outros. Por isso a importância do comércio exterior, que discutiremos ao longo desse capítulo. 1.1 Introdução 1.1.1 Aspectos Iniciais • O comércio exterior é resultado dos relacionamentos entre os países, que precisam intercambiar mercadorias. Precisamente, o intercâmbio entre duas nações para exportação (venda) e importação (compra) de seus pro- dutos é o que chamamos de “comércio exterior”. • Os acordos de comércio são relevantes nas transações comerciais, po- dendo determinar o volume de negócios entre países. • A qualidade dos bens produzidos no mercado interno é determinante nas relações comerciais, já que a abertura comercial pode limitar a pro- dução interna por meio da concorrência estrangeira. 1.1.2 Importância O comércio exterior é, indiscutivelmente, uma das principais formas para o de- senvolvimento socioeconômico de um país. Como consequência de um comér- cio exterior ativo, há geração de empregos diretos e indiretos, excessos produ- tivos são absorvidos, há uma redução substancial da ociosidade produtiva das empresas, enfim, diversos fatores auxiliam no crescimento produtivo e tecno- lógico das empresas atuantes no mercado internacional. Um fator importante a ser abordado, principalmente quando sefala de Bra- sil, é o saldo na balança comercial, dado que, dependendo do saldo das opera- ções de comércio exterior, este pode trazer sérios problemas para a estabiliza- ção e funcionamento da economia. Nos últimos anos, o Brasil experimentou um alto crescimento na comercia- 12 • capítulo 1 lização de produtos no mercado externo, sendo destaque mundial nas exporta- ções de diversas commodities. Além disso, ocupa o primeiro lugar no ranking de maior exportador de produtos, tais como soja, café, entre outros. Sem dúvidas, o fator tecnologia é importante para que um país possa se tor- nar competitivo no cenário mundial do comércio. Considera-se a tecnologia como fundamental para a redução de custos de produção e consequentemente obter preços competitivos. Nesse mesmo contexto, é importante destacar que se as empresas brasilei- ras se dedicarem exclusivamente a produzir para o mercado interno, sofrerão a concorrência das empresas estrangeiras dentro do próprio país. Assim, toda em- presa que busca manter a sua participação no mercado interno, deve considerar a importância da tecnologia, bem como medidas que propiciem a minimização de custos para se tornarem competitivas, tanto no meio interno como externo. Portanto, para que uma empresa possa se tornar líder no comércio, tanto interno como externo, deve considerar a importância dos custos de produção, o tratamento tributário do país, tanto interno como externo (externo, no senti- do de operar no comércio exterior) e, além disso, deve fazer um planejamento prévio mediante pesquisa de mercado. Um aspecto muito discutido no Brasil é o chamado “Custo Brasil”. Segundo o FIESP (2013), a produção de um bem manufaturado no Brasil é, em média, 34,2% mais caro que o seu similar importado dos principais parceiros comer- ciais do Brasil, já incluídas as alíquotas de importação vigentes. Ou seja, a pro- dução é mais cara unicamente em função do Custo Brasil, isto é, devido às defi- ciências no ambiente de negócios do país. Para obter esse patamar, estratégias, planos e métodos devem ser adotados e colocados em prática. CONCEITO Custo Brasil: Refere-se a custos vigentes na economia brasileira decorrentes de deficiências em diversos fatores relevantes para a competitividade, que são menos expressivos quando se analisa o ambiente de negócios em outras economias. O Custo Brasil independe de estra- tégias das empresas, pois decorre de deficiências em fatores sistêmicos, as quais somente podem ser dirimidas com políticas de Estado (FIESP, 2013). Cabe nesse contexto, destacar a competitividade de toda empresa que quer capítulo 1 • 13 operar no comércio exterior. Entende-se por empresa competitiva aquela que tem a capacidade de competir no mercado em relação aos concorrentes. Sendo assim, uma empresa competitiva pratica preços adequados e bens de qualidade. Para obter esse patamar, estratégias, planos e métodos devem ser adotados e colocados em prática Agora, em relação ao produto competitivo, pode-se destacar como fatores de importância para tornar o produto competitivo, tanto no mercado domésti- co quanto no internacional, os seguintes aspectos: • Qualidade na fabricação; • Capacitação e competência dos profissionais envolvidos nas operações internacionais; • Excelência nos procedimentos logísticos: estratégias para a redução do tempo e custos envolvidos no processo; • Análise minuciosa de toda operação, vislumbrando possíveis entraves na execução do processo. 1.2 Aspectos Importantes em operações relacionadas ao comércio exterior Na atualidade, os avanços da tecnologia e, portanto, da comunicação com as mais distintas regiões do planeta, possibilitam que os negócios sejam efetua- dos, diariamente, com empresas de distintos países. Sendo assim, empresas estrangeiras podem vir concorrer com as empresas brasileiras. Portanto, é importante fazer um planejamento dos bens que vamos comer- cializar. Assim, devemos, em primeiro lugar, fazer uma pesquisa de mercado, identificando seu produto no mercado internacional (por Nomenclatura de Mercadorias ou por Sistema Harmonizado, que será discutido com mais deta- lhes no Capítulo 2), identificando o mercado alvo, as possíveis barreiras comer- ciais, os acordos comerciais e, se existirem, as preferências tarifárias. Em segundo lugar, é importante dispor de tecnologia para ser competitivo no mercado, bem como ter uma boa gestão. Mesmo, atuando no mercado inter- no, toda empresa deve considerar esses dois fatores como importantes. Em terceiro lugar, em operações de comércio exterior, deve-se levar em con- sideração os requisitos técnicos. Para tal, deve-se conhecer as Normas Técnicas (ABNT), além de conhecer o manual de barreiras técnicas (INMETRO), com a fina- 14 • capítulo 1 lidade de superar barreiras técnicas que se possa enfrentar em outros mercados. Em quarto lugar, é importante ter o registro da marca. O registro da mar- ca não está relacionado apenas à proteção de seu uso, mas também, como um bem material de valor econômico. A marca registrada garante ao proprietário o direito de uso exclusivo em todo o território nacional em seu ramo de atividade econômica (MDIC, 2014). É importante mencionar que muitas regiões ou paí- ses ganham fama por causa de seus produtos ou serviços. CONEXÃO Para saber mais, acesse o site “Exposições e Feiras” pelo link <http://www.expofeiras.gov. br/index>. Em quinto lugar, fazer a promoção do produto, participando de missões comerciais, dirigidas a potenciais países importadores. Em geral, uma missão comercial tem por finalidade verificar as possibilidades de exportação, deter- minar a estrutura social e econômica do mercado alvo e, mediante a coleta de informação, observar a concorrência e a legislação comercial do país (barreiras técnicas, entre outros). Além disso, estabelecer contato com representantes co- merciais, bem como viabilizar possíveis acordos e parcerias comerciais. Da mesma maneira, é importante participar de feiras e exposições nacio- nais e internacionais. Com a finalidade de obter imediata reação do público ao produto e, consequentemente, identificar mudanças para torná-lo mais ade- quado ao gosto dos clientes potenciais. Nesse mesmo contexto, conhecer o SISPROM (sistema de registro de infor- mações de promoção) também é importante. Esse sistema oferece às empresas uma redução dos custos como, por exemplo, a não incidência do IR (Imposto de Renda) nas remessas para o pagamento de despesas com a participação em feiras ou missões comerciais no exterior. Além disso, simplifica as rotinas do- cumentais, com a utilização do serviço eletrônico. Nessa mesma linha, é importante que toda empresa exportadora e impor- tadora participe das sociedades civis envolvidas, como o caso das câmeras de comércio, associações fundadas com o objetivo de expandir o comércio a um determinado país ou países. Certamente, o governo cumpre um papel impor- tante no que se refere à promoção dos produtos nacionais no mercado interna- cional. Nesse sentido, a Vitrine do Exportador (VE) é uma iniciativa do governo, capítulo 1 • 15 que ajuda a potencializar e unir esforços, proporcionando maior visibilidade aos exportadores brasileiros. 1.3 Processos e procedimentos de comércio exterior No intercâmbio comercial há dois tipos de comercialização: comercialização direta e indireta. A comercialização direta é aquela em que o exportador con- duz todo o processo de exportação, isto quer dizer, o exportador cuida de todos os detalhes, desde a comercialização e entrega do produto até a cobrança. Na comercialização indireta, a empresa utiliza os serviços de outra empresa, cuja função é encontrar compradorespara os seus produtos, em outros mercados. 1.3.1 Forma de pagamento A forma de pagamento é feita de comum acordo entre o exportador e o impor- tador. Os tipos são: 1. Pagamento antecipado: onde o importador remete previamente o valor transação e, então, o exportador providencia a exportação da mercadoria; 2. Remessa em saque: nesta modalidade o importador recebe do expor- tador os documentos do embarque e após a retirada da mercadoria na alfândega o importador providencia a remessa para o exportador; 3. Cobrança documentária: neste caso o exportador embarca a mercado- ria e envia os documentos de embarque a um banco, que envia para ou- tro banco, na praça do importador, para que realize o pagamento, seja à vista ou a prazo. Assim, nesse tipo de operação, os bancos são meros co- bradores internacionais de uma operação de exportação/importação, fechada diretamente entre o exportador e o importador; 4. Carta de crédito: nesta modalidade o importador solicita a um banco de seu país um crédito a favor do exportador e, então, o banco do impor- tador comunica ao banco do país do exportador sobre a existência do crédito. Uma vez que o banco do exportador comunicar sobre o crédito, o exportador providencia o embarque da mercadoria. Depois disso, o banco do exportador envia os documentos ao banco do importador e, 16 • capítulo 1 assim, o banco do importador realiza a cobrança e entrega os documen- tos ao importador, para que possa retirar a mercadoria. CONEXÃO Para simular uma operação de importação, bem como saber os tributos envolvidos visitar a página da Receita Federal pelo link < http://www4.receita.fazenda.gov.br/simulador/>. 1.3.2 Tratamento tributário O tratamento tributário será discutido com mais detalhes no Capítulo 3, mas é muito importante que o exportador/importador acompanhe continuamente a legislação. Os principais tributos nas operações de comércio exterior são: • Imposto de exportação (IE): a base do cálculo depende exclusivamente da alíquota a ser utilizada, de acordo com a política cambial e do comér- cio exterior do país. No Brasil, a alíquota do imposto é de 30%, facultando ao Poder Executivo reduzi-la ou aumentá-la; • Imposto de importação (II): varia de acordo com os produtos; • Imposto sobre a circulação de mercadorias (ICMS): a exportação de pro- dutos industrializados é imune ao ICMS e, na importação, irá variar de acordo com o produto e a região do importador; • Imposto sobre produtos industrializados (IPI): a base cálculo depende da transação. No caso de importação, a base de cálculo é o preço de ven- da do produto, mais o Imposto de Importação e demais taxas exigidas (frete, seguro, etc.); • Contribuição para financiamento da seguridade social (COFINS): se destina exclusivamente ao financiamento de despesas das atividades de saúde e previdência social. A base de cálculo é a receita bruta da venda (mensal). No caso das importações, a alíquota no geral é de 7,6%, poden- do variar segundo o tipo de produto. capítulo 1 • 17 1.3.3 Seguro de crédito (SCE) Tem por objetivo a cobertura contra os riscos comerciais, políticos, etc. a que estão sujeitas as transações comerciais e financeiras vinculadas às exportações. O Brasil conta com a SBCE (Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação S/A), que tem como sócio o BNDES, e é uma companhia que opera o seguro de crédi- to à exportação. 1.4 Áreas e terminais operacionais do comércio exterior 1.4.1 Território aduaneiro O Território Aduaneiro é definido como o espaço geográfico que compreende todo o território nacional, incluindo as águas territoriais e o correspondente espaço aéreo, sendo nele aplicadas as normas do direito tributário e os artigos do Decreto no 4.543, de 26 de dezembro de 2002, mais conhecido como Regu- lamento Aduaneiro. Ao analisarmos com maior profundidade o conceito de território aduaneiro, teremos o surgimento dos termos: zona primária e zona secundária. A zona primária é constituída pela área terrestre ou aquática, contínua ou não, portos, aeroportos alfandegados e pontos de fronteira alfandegados; a zona secundária compreende o restante do território nacional. É importante destacar que, em determinadas oportunidades, um território aduaneiro pode ser maior ou menor que o território nacional, de forma a aten- der interesses econômicos e visando simplificar e desburocratizar os procedi- mentos de fiscalização aduaneira, tal como acontece com o MERCOSUL, que permite a criação e funcionamento de alfândegas justapostas ou conjuntas, ou seja, num mesmo local teremos a presença de fiscais de um segundo país atu- ando no território do primeiro. Será de responsabilidade do Ministro da Fazenda demarcar orla marítima ou faixa de fronteira, zonas de vigilância aduaneira, sujeitas a exigências fis- cais, proibições e restrições determinadas em ato específico. A critério de autoridade aduaneira, a zona primária poderá ser total ou par- cialmente protegida, de forma que o acesso indiscriminado de pessoas ou veí- culos seja impedido ou restrito. 18 • capítulo 1 Assim, na zona primária será permitido: • Estacionar ou transitar veículos procedentes ou destinados ao exterior; • efetuar as operações próprias das mercadorias procedentes do exterior, enviadas ao exterior ou que eventualmente estejam de passagem com destino final a outro país; • O embarque, desembarque ou trânsito dos viajantes procedentes do ex- terior ou a ele destinados; • A entrada ou saída de mercadorias procedentes ou destinadas ao exterior somente poderão ser efetuadas em zona primária, nos portos, aeropor- tos ou zonas de fronteira alfandegada. 1.4.2 Recintos alfandegados São aqueles assim declarados por autoridade aduaneira competente onde po- derão ocorrer, sob controle aduaneiro, movimentação, armazenagem e despa- cho aduaneiro de mercadorias procedentes do exterior, ou a ele destinadas, ba- gagem de viajantes e remessas postais internacionais. Nesse contexto têm-se os portos secos. A figura a seguir ilustra os portos secos existentes no Brasil. RR AM AC RO PA AP MA CE RN PB PEPI BA SE ES RJ MG SP PR SC RS MS MT GO DF TO AL Fonte: ABREPA (2014). Os portos secos são recintos alfandegados, de uso público, onde poderão capítulo 1 • 19 ser realizadas operações de movimentação, armazenagem e despacho aduanei- ro de mercadorias e de bagagem, procedentes do exterior ou a ele destinadas. No Porto Seco são executados todos os serviços aduaneiros a cargo da Secretaria da Receita Federal, inclusive os de processamento de despacho aduaneiro de im- portação e de exportação, possibilitando a interiorização desses serviços no país. Dessa forma, no porto seco, se recebem cargas diversas, importadas ou que se e preparam para a exportação. No caso das importações, o Porto Seco arma- zena a mercadoria pelo período desejado pelo importador, em regime de sus- pensão de impostos, fazendo a nacionalização fraccionada. No Brasil, existem 63 unidades de Portos Secos. São 62 unidades divididas entre 14 estados e 1 no Distrito Federal (ABREPA, 2014). Concluindo essa parte, destaca-se o comércio exterior como fundamental para o crescimento socioeconômico de qualquer nação. Em tal sentido, a ado- ção de políticas que facilitem as operações de comércio, como o caso de barrei- ras tarifárias ou acordos de comércio, são aspectos determinantes para o bom desempenho. Também é importante mencionar a logística para se alcançar a eficiência, ou seja, para que o ingresso no comércio exterior não seja apenas temporário, em função dos obstáculos e da concorrência acirrada em um mundo globaliza- do e sem fronteiras. Em relaçãoà logística, o Brasil tem investido na melhoria das vias de transporte, uma vez que este ponto é muito criticado, dado que o transporte no Brasil é considerado um dos mais caros no mundo. 1.5 Negociação para importação 1.5.1 Importância A decisão de operar no comércio exterior requer um planejamento bem defini- do e estruturado, onde serão descritas e analisadas as diversas fases da opera- ção e escolhidas as melhores alternativas para realização do negócio. O planejamento em operações de comércio exterior é importante, buscan- do reduzir os riscos que possam apresentar-se. Assim, um plano de ação, com a finalidade de analisar o macro ambiente atual e futuro, confrontando com a capacidade interna da empresa para lidar com incertezas, deve ser realizada. 20 • capítulo 1 Com esse objetivo, a empresa deverá munir-se1 de amplo leque de informa- ções, que devem contemplar desde a análise da conjuntura do mercado externo e interno, aspectos fiscais, culturais, política de importação brasileira, até pro- cedimentos administrativos para importar determinado bem. Assim, antes de fazer a opção pela compra externa, as empresas devem re- fletir sobre alguns pontos importantíssimos, tais como: tendências, qualidade do produto, garantia de fornecimento, exigências técnicas e legais do uso do produto no Brasil, especificações técnicas, assistência técnica, legislação de im- portação, concorrência local, níveis de preços praticados, montante de tributos incidentes, exposição ao risco cambial, pesquisa de mercado, condição de ven- da, cumprimento dos prazos de entrega, acordos internacionais vigentes, etc. 1.5.2 Contatos iniciais Quando desejamos importar um determinado produto, é necessário que faça- mos uma cuidadosa pesquisa no mercado internacional, para verificarmos as empresas que poderão nos fornecer o produto desejado. Poderemos obter o produto direto do fabricante, por meio de uma trading, representante, distri- buidores ou agentes. Cabe ao importador analisar qual a melhor opção dentro da sua estratégia e planejamento feitos anteriormente. Assim, decorrente de uma boa pesquisa de mercado, o importador inicia contatos comerciais com esses potenciais fornecedores estrangeiros da merca- doria que deseja comprar e solicita catálogos, amostras e amplas informações sobre o produto e, principalmente, a tabela de preço, se atentando para o INCO- TERM, que servirá para definir, dentro da estrutura de um contrato de compra e venda internacional, os direitos e obrigações recíprocos do exportador e do importador, estabelecendo um conjunto-padrão de definições e determinando regras e práticas neutras, como por exemplo: onde o exportador deve entregar a mercadoria? Quem paga o frete? Quem é o responsável pela contratação do seguro? Os INCOTERMS serão discutidos de forma mais detalhada a seguir. Geralmente, esse contato inicial é feito nas diversas feiras internacionais realizadas aqui no Brasil e em todo mundo, por meio de pesquisas realizadas na internet ou por indicação 1 Abastecer-se, resguardar-se, se garantir. capítulo 1 • 21 Agora, após estabelecer o contato, devemos ter em consideração os cus- tos envolvidos no processo de importação. O levar do preço, seja ele visando o mercado interno ou externo, envolve profundos conhecimentos de custos. Na prática, usualmente, toma-se como ponto de partida para o cálculo do preço de importação do exterior, o preço determinado pelo exportador para a venda, todos os tributos federais e estaduais (II, IPI, PIS, COFINS, ICMS) que incidem na compra para o mercado doméstico, acrescentando-se os custos que advirão no processo de preparo e chegada da mercadoria do exterior. Devemos, dessa forma, realizar anotações sobre os itens que compõem os custos da mercadoria, e então colher todos os elementos que fazem parte do processo para colocaro o produto no mercado interno. Conhecendo os custos, um primeiro passo é determinar o ponto de equilíbrio do produto. A finalidade do cálculo do ponto de equílibro é determinar as possíveis perdas e lucros ao comercializar o produto. Em tal sentido, pode-se saber qual a quantidade míni- ma que deve ser vendida para não incorrer em perdas. É importante que toda empresa que inicia operação de comércio exterior seja assessorada por um despachante aduaneiro. Sem dúvidas a ajuda de um profissional que atua no ramo ajuda a empresa a obter bons resultados. Em resumo, no contato inicial é imprescindível obter o maior número pos- sível de informações sobre o produto. Após o contato inicial, busca-se obter in- formações sobre preços do produto e custos para sua importação. Formas de comercialização Existem duas formas de comercialização: 1) Comercialização Direta; 2) Comer- cialização Indireta. A forma direta é aquela em que o exportador conduz todo o processo de ex- portação, desde os primeiros contatos com o importador até a conclusão da operação de venda. Assim, o exportador é responsável por todos os detalhes, desde a comercialização e entrega do produto até a cobrança. No caso da comercialização indireta, a empresa utiliza os serviços de outra, cuja função é encontrar compradores para os seus produtos. 22 • capítulo 1 1.6 Termos internacionais de comércio (INCOTERMS) São regras internacionais, imparciais, de caráter uniformizador (ao uniformi- zar, facilitam as negociações e reduzem custos), que objetivam promover a harmonia nos negócios internacionais. Tais regras vêm sendo definidas pela Câmara de Comércio Internacional (CCI), desde 1936. Os Incoterms (International Commercial Terms) são representados por meio de siglas (3 letras maiúsculas) constituindo, portanto, redação sumária do costume internacional em matéria de comércio, com a finalidade de sim- plificar e agilizar a elaboração das cláusulas dos contratos de compra e venda. Definem os direitos e obrigações mínimas do vendedor e do comprador envol- vendo todas as etapas necessárias ao deslocamento dos bens da origem até o destino. Após agregados ao contrato de compra e venda, passam a ter força le- gal, com significado jurídico preciso e determinado. ATENÇÃO Um bom domínio dos Incoterms é indispensável para que o negociador possa incluir todos os seus gastos nas transações em comércio exterior. Além disso, as regras definidas pelos In- coterms valem apenas entre os exportadores e importadores, não produzindo efeitos em re- lação às demais partes envolvidas, tais como: despachantes, seguradoras e transportadores. Os Incoterms determinam apenas os deveres e direitos entre comprador e vendedor, não tendo nenhum efeito sobre as demais partes. Também não re- presentam imposições, mas sugestões, o que abre caminho a inúmeras varian- tes ou variáveis, cujo uso deve ser evitado, na medida do possível. Todos os Incoterms trazem implícita a necessidade de determinação su- ficiente de localização acordada entre as partes, podendo advir graves conse- quências pela ausência dessa informação. Ressalta-se, ainda, que uma nova versão não invalida as anteriores, razão pela qual deve sempre ser mencio- nada a versão que está sendo utilizada. Isso quer dizer que as versões 2000 e anteriores continuam valendo e podem ser aplicadas, desde que haja vontade manifesta das partes envolvidas. capítulo 1 • 23 OS INCOTERMS Regulam Condições de entrega da mercadoria Distribuição de riscos na operação Distribuição de custos na operação Distribuição de documentos para a operação O modo de pagamento e preço A transferência de propriedade da mercadoria As consequências do incumprimento de contrato Não regulam Fonte: Elaborado pelos autores. 1.6.1 Categorias do Incoterms A nova versão do Incoterms2010, que entrou em vigor em 2011, não incorporou quatro termos da versão de 2000 e adicionou dois novos, ficando assim reduzi- da a onze termos, quando na versão 2000 eram treze. Os Incoterms são dividi- dos em quatro categorias. 1. E de Ex (Partida mínima de obrigação para o exportador): a mercadoria é entregue ao comprador no estabelecimento do vendedor, isto quer di- zer que o comprador arca com todos os custos e riscos envolvidos em retirar a mercadoria do estabelecimento do vendedor. 2. F de Free (Transporte principal não pago pelo exportador): a mercadoria é entregue a um transportador internacional indicado pelo comprador. Nesse caso, o vendedor completa suas obrigações quando entrega a mercadoria ao transportador internacional. 3. C de Cost ou Carriage (Transporte principal pago pelo exportador): o vendedor contrata o transporte mas não assume risco por perda ou da- nos às mercadorias, nem por custos adicionais decorrentes de eventos ocorridos após o embarque e despacho. Portanto, o vendedor contrata e paga o frete para levar as mercadorias ao local de destino designado. 24 • capítulo 1 4. D de Delivery (Chegada - Máxima obrigação para o exportador): o vende- dor se responsabiliza por todos os custos e riscos para colocar a merca- doria no local de destino. Assim, o vendedor entrega a mercadoria no ponto combinado, arcando com todos os custos e riscos até esse ponto. A figura a seguir, mostra um exemplo de categoria de Incoterms, especifica- mente da categoria D de Delivery e tipo DAF (Delivery at Frontier). No exemplo, o vendedor entrega a mercadoria na fronteira, arcando com todos os custos até esse ponto. Após a entrega da mercadoria, são transferidos do vendedor para o comprador os custos e riscos de perdas ou danos causados às mercadorias. DAF – Delivered at Frontier (...named place) DAF Entregue na Fronteira (... local designado) ALF ALF R C R = Riscos C = Custos Comprador Vendedor Fonte: MDIC (2014). CONEXÃO Para ver mais exemplos ilustrativos sobre as modalidades dos Incoterms, visite a página do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), pelo link <http://www. mdic.gov.br/sistemas_web/aprendex/default/index/conteudo/id/273>. 1.7 Custos envolvidos no comércio internacional Os principais custos envolvidos são: 1. Custos tributários: os principais tributos que impactam o comércio exterior são: Imposto de Importação (II), Imposto sobre Produtos In- dustrializados (IPI); Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias (ICMS), Programa de Integração Social (PIS) e Contribui- capítulo 1 • 25 ção para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), que serão detalhados no capítulo 3. 2. Custo logístico: basicamente, toda empresa deve considerar três aspec- tos: transporte internacional, transporte interno e armazenagem. Um dos principais desafios de toda empresa é proteger e preservar a qua- lidade da mercadoria na sua movimentação nacional e internacional, desde a saída do estabelecimento comercial (produtor/fabricante) até a sua chegada ao estabelecimento designado pelo importador. 3. Custos operacionais: neste contexto, estão envolvidos os custos de re- muneração do despachante aduaneiro, os pagamentos exigidos pela fiscalização aduaneira e outros, como aqueles incorridos por movi- mentação de carga ou unitização e desnutização de cargas, ou seja, pre- encher ou tirar a mercadoria do contêiner, também conhecidos como “ova e desova de contêiner”. 4. Custos administrativos: estão envolvidos os custos do registro de do- cumentos no Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX), a corretagem de câmbio, assim como, a consolidação e desconsoli- dação documental. 1.8 Órgão gestores e anuentes no comércio exterior É fundamental para toda empresa que vai iniciar suas atividades no comér- cio exterior, conhecer os órgãos que controlam a prática de compra e venda com outros países. Assim como na venda ou compra no mercado interno, exis- tem regras que devem ser cumpridas, sejam regras que envolvem documentos, garantias, entre outros. Também, no comércio existem órgãos que controlam e orientam as empresas sobre os tramites necessários para operar com impor- tações ou exportações. Assim, os principais órgãos que controlam as operações de importação e exportação são: 26 • capítulo 1 Órgão Gestores Órgão AnuentesAutorização ● SEXEC. RBF. ● BACEN ● MAPA DPF ● IBAMA ● Importação ● Exportação Fonte: Elaborado pelos autores. 1. SECEX – Secretaria de Comércio Exterior: com sede em Brasília, em li- nhas gerais, define as regras do comércio exterior (a portaria Secex no (número), traz uma orientação sobre a importação e exportação). 2. DECEX – Departamento de Comércio Exterior: a DECEX é um departa- mento dentro da estrutura da SECEX. Tem como finalidade fiscalizar as normas estabelecidas pela SECEX. Autoriza alguns tipos de opera- ções de comércio exterior, dependo do tipo de atuação da empresa ou do tipo de produto (neste último caso, por exemplo, se o mesmo tiver a isenção temporária de imposto). 3. Receita Federal do Brasil (RFB): tem como finalidade controlar a entrada dos produtos, verificar a documentação do processo de importação ou ex- portação. Avaliar e deliberar sobre as questão tributária e avaliar questões que envolvem benefício fiscal, tais como redução de imposto, suspensão tributária, entre outros. (Ver regulamento aduaneiro, decreto no 6.759). 4. Banco Central do Brasil (BACEN): tem como finalidade controlar as divi- sas, ou seja, o recebimento ou saída de dinheiro, sobre a exportação ou importação. Envolve as questões de pagamento e câmbio. Os quatro órgãos mencionados são conhecidos como gestores. Também exis- tem os órgãos anuentes, que são os responsáveis por dar autorização para a im- portação ou exportação de determinados produtos. Assim, é importante que a empresa saiba se o produto que pretende importar passa pelo controle desses órgãos, como por exemplo: Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimen- to (MAPA), Ministério de Defesa, Departamento da Policia Federal (DPF), Insti- tuto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), capítulo 1 • 27 entre outros. No caso de produtos radioativos, o órgão anuente responsável pela autori- zação da importação do produto é a Comissão Nacional de Energia Nuclear, com sede em Brasília. No caso da importação de matéria prima para a indústria farmacêutica, em muitos casos, é necessária a autorização da Policia Federal. No caso da importação de agrotóxicos para fins não agrícolas, destinados a pro- teção de madeiras ou florestas naturais, entre outras finalidades, deve obter a autorização do IBAMA. 1.9 Aspectos importantes em comércio exterior Conforme mencionado ao início do capítulo, o comércio exterior é neces- sário porque nenhum país dispõe de todos os recursos para atender a sua de- manda interna. Entretanto, essa atividade defronta com uma série de barreiras. Dentre as barreiras no comércio, pode-se mencionar aspectos como a moeda (taxa de câmbio) e o idioma como, por exemplo, as negociações com países da Ásia onde a moeda e o alfabeto são totalmente diferentes dos nossos. Além dis- so, as legislações, sendo que esse fator implica a relação comprador-vendedor. 1.9.1 Barreiras ao livre comércio exterior Monopólios: quando um país ou um grupo econômico tem o monopólio de um produto, ele torna-se dono do mercado. Assim, pode impor o preço que quiser. Se um monopólio decide por influenciar nos preços, pode ser resultado de uma redução ou de aumentos na produção. Dumping: consiste em vender no exteriora um preço abaixo do custo de pro- dução. O objetivo é destruir o concorrente e se tornar dono do mercado. Por- tanto, que pratica dumping terá condições de, no futuro, impor preços e con- dições. O governo brasileiro regulamenta o dumping por meio do decreto no 1.602, de 23 de agosto de 1995. Oligopólio: quando o mercado é dominado por alguns concorrentes. É comu- mente formado por empresas de grande porte. São grupos poderosos que destro- em as empresas menores e, como consequência, eliminam a concorrência. Segundo Maia (2007) a indústria automobilística no Brasil era um oligo- pólio porque, sendo um dos maiores segmentos da economia, até 1997, havia apenas quatro empresas: General Motors, Fiat, Ford e Volkswagen. Portanto, o 28 • capítulo 1 oligopólio pode manter uma política de preços nociva ao consumidor. Truste: consiste na fusão de várias empresas buscando o monopólio. Assim, com a formação do Truste, é possível impor preços e condições. Cada país com- bate oTruste por meio de legislação adequada. Cartel: é uma forma de eliminar a concorrência. Consiste na união de várias produtoras (por acordo comercial) com a finalidade de distribuir entre si quo- tas de produção e também determinar preços. Um exemplo de cartel é a Orga- nização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que determina o preço do barril de petróleo e estabelece a quota de produção de cada associado. 1.9.2 Esquemas protecionistas Entre os esquemas protecionistas pode-se mencionar os subsídios (à importa- ção, como também à exportação), as tarifas alfandegárias (barreias alfandegá- rias), taxas múltiplas de câmbio, licenças de importação e exportação, quotas de importação e barreiras técnicas e sanitárias. É comum os governos subsidiarem a produção de algumas mercadorias fa- zendo com que elas se tornem competitivas quando comparadas com àquelas produzidas no exterior, principalmente em relação aos preços. No caso das barreiras alfandegárias, estas podem surgir como medida de es- timulação à implantação de novas indústrias, como uma tentativa do governo de fornecer condições de competitividade para empresas que não tem condi- ções de competir no mercado. No caso das licenças de importação ou exportação, surgem como medida de cada governo para controlar o ingresso ou saída de produtos. Assim, o governo designa um órgão que estuda as necessidades do país e autoriza a importação, conforme apresentado no item 1.8 desse capítulo. O sistema de quotas de importação obriga ao país importador a criar um con- trole, limitando a quantidade de produtos importados. Geralmente, esse controle também é feito por meio de emissão de licenças de importação. Por fim, as barreiras técnicas podem ser exemplificadas pelo que foi esta- belecido pela união europeia em 1994: as bananas importadas deveriam ter, pelo menos, 14 cm de comprimento e 2,7 de largura (MAIA, 2007). De forma semelhante, para as barreiras sanitárias, em 2012, a Organização Mundial do Comércio (OMC) estabeleceu uma série de normas para a importação de carne suína, onde cada país exportador (como sendo uma empresa), deve que cum- prir diversos requisitos, tais como controlar a vacinação dos animais para ga- capítulo 1 • 29 rantir que eles não se contaminem com a febre aftosa. ATIVIDADE 1. Que aspecto inicial toda empresa deve considerar antes de uma operação de comércio exterior? Considere a importância da pesquisa de mercado e da negociação. 2. Mencione as principais etapas de um processo de importação. 3. Quais são os órgãos que fazem parte da atual estrutura do comércio exterior brasileiro? 4. Considera-se o transporte internacional como um fator fundamental na cadeia logística internacional. Explique a importância do transporte no comércio exterior. 5. Explique a importância dos Incoterms. Considerando que os Incoterms definem regras apenas para exportadores e importadores, não produzindo efeito com relação às demais partes, como transportadoras, seguradoras, despachantes, etc. REFLEXÃO Neste capítulo, foi possível compreender a importância do Comércio Exterior para o cresci- mento de um país. Além disso, foram apresentados os Termos de Comércio Internacional, bem como os processos e procedimentos envolvidos em operações de comercio exterior. Também se analisou conceitos de negociação internacional na importação de produtos e as responsabilidades de cada um dos órgãos governamentais que regulam as operações de comércio exterior no Brasil. LEITURA RECOMENDADA VAZQUEZ, J. L. Comércio Exterior Brasileiro. 8 ed. São Paulo: Editora Atlas S. A., 2007 – Capítulos 1 e 2: Estes capítulos do livro apresentam o atual cenário do comércio exterior no Brasil, indicando os principais órgãos participantes do sistema e as relações dentro deste mercado com o crescimento do país. MAIA, J. M. Economia Internacional e Comércio Exterior. 11 ed. São Paulo: Atlas, 2007. 420 p. – Capítulos 2 e 3: Os capítulos discutem o comércio exterior indicando as bases para as relações do mercado com a economia internacional e a importância do desenvolvimento do comércio exterior para o país. 30 • capítulo 1 DIAS, R.; RODRIGUES, W. Comércio Exterior: Teoria e gestão. São Paulo: Editora Atlas S. A., 2007. – Capítulo 7: O capítulo apresenta as condições internacionais de importação e exportação, tratando a historia, a finalidade, a utilização e a operacionalização dos Incoterms. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PORTOS SECOS – ABREPA. Informações e estatísti- cas. Disponível em: <http://www.abepra.org.br/>.Acesso em: 15 set. 2014. FEDERAÇÃO DE INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO – FIESPI.Custo Brasil e taxa de câmbio na competitividade da indústria de transformação brasileira. (2013). Disponível em: <http://apps.fiesp.net/fiesp/newsletter/custo-brasil/010313/cus- to-brasil.pdf>. Acesso em 20 set. 2014. MAIA, J. M. Economia Internacional e Comércio Exterior. 11 ed. São Paulo: Atlas, 2007. 420 p. RECEITA FEDERAL. Disponível em:<http://www.receita.fazenda.gov.br/>. Acesso em: 22 set. 2014. ADUANEIRAS. Curso de comércio exterior. Disponível em <http://cursos.aduaneiras. com.br/treinamento_detalhes.asp?id=12816> Acesso em: 22 set. 2014. NO PRÓXIMO CAPÍTULO Abordam-se os seguintes temas: tratamento administrativo e licenciamento de importação, importações restritas (sujeitas a licenciamento) e não restritas e, classificação fiscal de mer- cadorias. Assim, neste ponto, descreve-se o tratamento administrativo do Siscomex sobre os produtos sujeitos a licenciamento automático e não automático. Consequentemente, é possível diferenciar quando um produto importado possui restrição ou não. No caso da clas- sificação fiscal de mercadorias, se descreve a importância do Sistema Harmonizado e da Nomenclatura Comum do MERCOSUL, para a facilitação do comércio internacional. Tratamento administrativo e classificação fiscal de mercadorias na importação 2 32 • capítulo 2 2 Tratamento administrativo e classificação fiscal de mercadorias na importação Este segundo capítulo fala sobre o tratamento administrativo da importação, tais como: operações sujeitas a licenciamento automático e aquelas dispensa- das de licenciamento. Também, aborda o tratamento administrativo do tipo de bem classificado como “material usado” para a importação. Nesse mesmo con- texto, foca na importância da classificação fiscal de mercadorias, como forma de facilitar o comércio. Nessa mesma linha, descreve a Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM), assim como a classificação dos tipos de bens que se re- gem segundo essa Nomenclatura. OBJETIVOS • Apresentar o sistema administrativo das importações brasileiras, assim como conhecer asoperações de importação de produtos que possuem restrição para ingresso no país. • Detalhar o que é Licenciamento Automático e não Automático. • Apresentar o que é um método internacional de classificação de mercadorias, baseado em uma estrutura de códigos e respectivas descrições. • Identificar a Estrutura e Composição da Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM). REFLEXÃO Você se lembra da maneira como os produtos estão ordenados em um mercado? Ao obser- var os produtos, estes estavam divididos em diferentes seções, como produtos de limpeza, frutas, bebidas, carne, entre outros. A finalidade é facilitar ao cliente a rápida localização do produto que ele deseja compar. Nesse mesmo sentido, no comércio externo, cada produto tem uma codificação (Nomenclatura), com a finalidade de distinção e facilitação das opera- ções. Assim, o código ou classificação do café será diferente do vinho, o código da uva será diferente do leite, e assim por diante. E, antes de dispor os produtos para a venda, a empresa teve que cumprir diversos requisitos exigidos pelos órgãos governamentais. Considerando que uma empresa vende tanto produtos nacionais quanto importados, essa empresa teve capítulo 2 • 33 que obter licença de importação emitida pelos órgãos gestores e anuentes. Dessa forma, este capítulo nos ajudará a entender um pouco mais desses processos e nomenclaturas. 2.1 Tratamento administrativo O sistema administrativo das importações brasileiras compreende as seguin- tes modalidades: 2.1.1 Importações dispensadas de licenciamento Como regra geral, as importações brasileiras estão dispensadas de licencia- mento, devendo os importadores tão somente providenciar o registro da De- claração de Importação (DI) no SISCOMEX, com o objetivo de dar início aos procedimentos de Despacho Aduaneiro junto à unidade local da RFB (Receita Federal do Brasil). Porém, é importante consultar seu despachante aduaneiro antes de embarcar o material a ser importado, pois é comum que um produto que antes não necessitava de Licença de Importação (LI) passe a precisar. Portanto, nos casos em que a importação é dispensada de licenciamento, o importador (ou seu representante legal) deve apenas formular a Declaração de Importação (DI) no Siscomex. A DI consiste na prestação, de acordo com o tipo de declaração e a modali- dade de despacho aduaneiro, das informações separadas em dois grupos: a) gerais: correspondentes à operação de importação; b) específicas (adição): contendo dados de natureza comercial, fiscal e cambial sobre as mercadorias. Em síntese, o Registro da DI caracteriza o início do Despacho Aduaneiro de Importação, que é o procedimento fiscal mediante o qual é verificada a exati- dão dos dados declarados pelo importador em relação à mercadoria importa- da, aos documentos apresentados e à legislação vigente, com vistas ao seu De- sembaraço Aduaneiro. O Desembaraço Aduaneiro constitui o ato final do Despacho Aduaneiro, que 34 • capítulo 2 será detalhadamente discutido no Capítulo 4, em virtude do qual é autorizada a entrega da mercadoria ao importador. Após o fiscal da Receita Federal registrar o desembaraço no Siscomex, o importador poderá emitir, no próprio Sistema, o Comprovante de Importação (CI). Por regra, a DI somente pode ser registrada após a chegada da mercadoria no país. 2.1.2 Importações sujeitas ao licenciamento Nas importações sujeitas ao licenciamento, o importador deve registrar a Licença de Importação (LI) no Siscomex, que ficará disponível para fins de aná- lise pelo(s) órgão(s) anuente(s). O prazo máximo para efetivação do resultado é de dez dias úteis nos casos de Licenciamento Automático e de sessenta dias corridos no caso de Licenciamento Não Automático, contados da data do regis- tro da LI. Ambos os licenciamentos terão validade de noventa dias para fins de embarque da mercadoria no exterior. Em regra, o embarque da mercadoria no exterior pode ocorrer somente após a efetivação do licenciamento; caso contrário a importação fica sujeita às penalidades previstas na legislação aduaneira. Entretanto, nas situações indicadas a seguir, o licenciamento poderá ser efetuado após o embarque da mercadoria no exterior, mas anteriormente ao início do despacho aduaneiro de importação: a) Importações ao amparo do regime aduaneiro especial de “Draw back”; b) Importações ao amparo dos benefícios da Zona Franca de Manaus e das Áreas de Livre Comércio, exceto para os produtos sujeitos a licenciamento; c) Importações sujeitas à anuência do Conselho Nacional de Desenvolvi- mento Científico e Tecnológico - CNPq; d) Importação de mercadoria sujeita à anuência do MAPA, da ANVISA e da ANP, quando previsto em legislação específica, desde que o produto não esteja sujeito as licenciamento prévio ao embarque por força de anuên- cia de outro órgão; e) Importação de mercadoria ingressada em entreposto aduaneiro ou in- dustrial, observado o tratamento administrativo do Siscomex; e f) Importação de brinquedos. capítulo 2 • 35 2.1.2.1 Importações sujeitas ao licenciamento automático Os produtos sujeitos a licenciamento automático podem ser consultados no Tratamento Administrativo do Siscomex e também estão disponíveis no ende- reço eletrônico do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exte- rior – MDIC para simples consulta, Porém geralmente o site está desatualizado, prevalecendo então o constante no Tratamento Administrativo em consulta fei- ta pelo SISCOMEX. Portanto, estão sujeitas a licenciamento automático as seguintes importações: a) Produtos relacionados no Tratamento Administrativo do Siscomex; tam- bém disponíveis no endereço eletrônico do MDIC; b) àquelas efetuadas ao amparo do regime aduaneiro especial de “Draw back”. 2.1.2.2 Importações sujeitas ao licenciamento não automático Os produtos sujeitos a licenciamento não automático também estão disponí- veis no endereço eletrônico MDIC para simples consulta, mas aquele constante no SISCOMEX é mais confiável, onde estão indicados os órgãos responsáveis pelo exame prévio do licenciamento não automático, de acordo com o produto. O prazo de sessenta dias para o licenciamento não automático poderá ser ultrapassado, quando impossível o seu cumprimento por razões que escapem ao controle do Órgão anuente do Governo Brasileiro. Estão sujeitas ao licenciamento não automático as seguintes importações: a) As sujeitas à obtenção de cotas tarifária e não tarifária; b) As sujeitas ao amparo dos benefícios da Zona Franca de Manaus e das Áreas de Livre Comércio; c) As sujeitas à anuência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien- tífico e Tecnológico; d) As sujeitas ao exame de similaridade; os bens classificados como de ma- terial usado; e) as originárias de países com restrições constantes de Resoluções da ONU; f) as sujeitas a medidas de defesa comercial e de bens idênticos aos sujei- tos a medidas de defesa comercial, quando originários de países ou pro- dutores não gravados; e também as operações que contenham indícios de fraude, entre outros. 36 • capítulo 2 CONEXÃO Para saber mais visite a página do Brasil Export. – Normas Administrativas, pelo link http:// www.investexportbrasil.gov.br/. A figura a seguir ilustra alguns produtos que são sujeitos ao licenciamento e outros dispensados de licenciamento na importação. Licenciamento de importação Sujeitas a licenciamento Dispensadas de licenciamento Animais vivos, peles de animais Bens de consumo (Cafe, leite, manteiga, entre outros) Produtos químicos, médicos e radioativos Roupas de lã (tecidos no geral) ...entre outros. Doações (exceto bens usados) Retorno de material remetido ao exterior para fins detestes, exames e/ou pesquisas, com finalidade industrial ou científica ...entre outros Fonte: Elaborado pelos autores. 2.1.3 Licença de importação A Licença de Importação (LI) é um documento eletrônico registrado pelo impor- tador no Sistema Integrado de Comércio Exterior – SISCOMEX. A LI contém in- formações acerca da mercadoria a ser importada e da operação de importação de maneira geral, tais como importador / exportador, país de origem, procedência / aquisição da mercadoria, regime tributário, cobertura cambial, entre outros. Ela é necessária caso o produto a ser importado esteja sujeito ao licencia- mento. Tal como mencionado anteriormente, como regra geral, as importa- ções brasileiras estão dispensadas de licenciamento, não sendo necessária capítulo 2 • 37 uma Licença de Importação (LI) com autorização prévia de órgãos anuentes. A diferença entre Licenciamento Automático e Licenciamento não Automá- tico, está relacionada ao embarque e ao prazo que o órgão anuente possui para se manifestar no SISCOMEX, ou seja, para dar o resultado da análise em sua anuência na LI. Assim, o licenciamento automático pode ser efetuado após o embarque da mercadoria no exterior porém, antes despacho aduaneiro de importação. Já o licenciamento não automático é prévio ao embarque da mercadoria no exte- rior, salvo exceções descritas na Portaria SECEX no 23/2013 (O deferimento da anuência na modalidade de licenciamento não automático deverá ser obtido previamente ao embarque da mercadoria no exterior. Se o embarque ocorrer antes do deferimento da anuência em questão, o importador estará sujeito ao pagamento da multa prevista na legislação). A figura a seguir ilustra o funcionamento Licenciamento dentro do proces- so da importação. Importação dispensada e licenciamento Declaração de importação Despacho aduaneiro da importação Tratamento administrativo Licenciamento automático/Não automatico Órgão anuente Decisão Indeferido Exigência Embarque Deferido NCM Habilitação Fluxograma de importação Fonte: Elaborada pelos autores com informação do MDIC (2014). Nesse mesmo contexto, no tratamento administrativo das importações, há processos específicos que devem ser cumpridos de acordo com o tipo de bem importado. A seguir mencionamos a importação de material usado. 38 • capítulo 2 2.2 Importação de material usado As importações de bens usados estão regulamentadas pela Portaria DECEX nº 8, de 13/05/1991, e alterações posteriores. Assim, tais importações estão sujei- tas a licenciamento não automático previamente ao embarque dos bens no ex- terior. Portanto, de acordo com a Portaria do DECEX são permitidas as impor- tações dos seguintes bens usados: a) Máquinas, equipamentos, aparelhos, instrumentos, ferramentas, mol- des e contêineres para utilização como unidade de carga; b) Máquinas, equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados à re- construção no país, por empresas que atendam normas técnicas de pa- drão internacional, que após o processamento atinjam estágio tecnoló- gico não disponível no país, tenham garantia idêntica a análogos novos e agreguem insumos de produção local; c) Partes, peças e acessórios recondicionados, para manutenção de máqui- nas e equipamentos, desde que o processo de recondicionamento tenha sido efetuado pelo próprio fabricante ou por empresa por ele credencia- da, e os bens a importar tenham a mesma garantia do produto novo e não sejam produzidos em território nacional; d) Importações ao amparo de acordos internacionais firmados pelo país; e) Importações pelo regime de admissão temporária, devendo ser observados os critérios estabelecidos na Portaria somente em caso de nacionalização; f) Bens recebidos por herança e remessas postais, sem valor comercial; g) Transferências de unidades industriais, linhas ou células de produção, vinculadas a projetos específicos de interesse da economia nacional; h) bens culturais; i) Veículos antigos, com mais de trinta anos de fabricação, para fins cultu- rais e de coleção; j) Embarcações para transporte de carga e passageiros, aprovadas pelo Depar- tamento de Marinha Mercante do Ministério dos Transportes; entre outros. capítulo 2 • 39 Em relação aos produtos mencionados nos itens (a) e (b), a importação so- mente será autorizada caso os mesmos não sejam produzidos no país ou não possam ser substituídos por outros, atualmente fabricados no território nacio- nal, capazes de atender aos fins a que se destina o material a ser importado. Para efeitos de análise da produção nacional, a SECEX torna públicos os pe- didos de importação, devendo a indústria manifestar-se no prazo de até 30 dias para comprovar a fabricação no mercado interno. Esse procedimento pode ser dispensado quando envolver a importação de bens com notória inexistência de produção nacional, quando envolver pedidos de importação que venham acompanhados de atestados de inexistência de pro- dução nacional, emitido por entidade representativa da indústria, de âmbito nacional, ou quando se referir a bens usados idênticos a bens novos contem- plados com ex-tarifário 2. Portanto, a análise de produção nacional tem início com o envio, pela in- teressada (empresa), do catálogo técnico ou memorial descritivo do produto a importar. O DECEX, por meio de consulta pública, publica os pedidos de im- portação na página eletrônica do MDIC. O resultado da análise de produção nacional terá validade de cento e oitenta dias (180), contados a partir da data de sua emissão. Em relação ao item (g), poderá ser permitida a admissão de bens usados in- tegrantes das unidades industriais e das linhas ou células de produção que con- tarem com produção nacional mediante acordo entre o interessado na impor- tação e os produtores nacionais. O acordo será apreciado por entidade de classe representativa da indústria de âmbito nacional e homologado pela SECEX. Caso não se conclua o acordo em até 30 dias (prorrogáveis por mais 30 dias, por solicitação formal de qualquer uma das partes), contados a partir da noti- ficação à entidade de classe representante dos produtores nacionais, caberá à SECEX analisar o projeto e decidir sobre a importação dos bens que contarem com produção nacional. A figura a seguir ilustra alguns materiais usados que são permitidos e outros proibidos na importação. 2 Redução temporária na alíquota do imposto de importação. 40 • capítulo 2 Importação de material usado Permitido Proibido Unidades de carga Veículos antigos, para fins culturais ou coleção Embarcações de pesca autorizadas pela SEAP Peças e acessórios destinados a manutenção de máquinas ...entre outros. Bens de consumo (exceto doação) Fonte: Elaborado pelos autores. É importante mencionar que a importação de bens de consumo usados é proibida, com exceção das importações de quaisquer bens, sem cobertura cam- bial, sob a forma de doação, diretamente realizadas pela União, Estados, Distrito Federal, Territórios, Municípios, autarquias, entidades da administração pública indireta, instituições educacionais, científicas e tecnológicas, e entidades bene- ficentes, reconhecidas como de utilidade pública e sem fins lucrativos, para uso próprio e para atender às suas finalidades institucionais, sem caráter comercial. 2.2.1 Aspectos gerais na importação de material usado Para as licenças de importação amparadas por atestado de inexistência de pro- dução nacional, deverá ser informado no campo “Informações Complementa- res” da LI o número do atestado e a entidade emissora do documento. Assim, os atestados de inexistência de produção nacional deverão ser enca- minhados ao DECEX, na forma determinada pelo art.257 da Portaria Secex nº 23/2011, em até 10 (dez) dias a partir da data do registro da LI. Caso o atestado de inexistência de produção nacional não seja encaminha- do no prazo, será adotado o procedimento de publicação em Consulta Pública no site do MDIC pelo prazo de 30 dias. Nessa mesma linha, é importante mencionar que o procedimento de colo- car o produto em consulta pública para analisar a existência de produção nacio- capítulo 2 • 41 nal poderá ser dispensado nas seguintes hipóteses: • Bens com notória inexistência de produção nacional; • Pedidos de importação acompanhados de atestado de inexistência de produção nacional emitido por entidade representativa da in- dústria, de âmbito nacional; • Importações de bens usados idênticos a bens novos contemplados com ex-tarifário estabelecido em conformidade com a Resolução CAMEX nº 35, de 22 de novembro de 2006. O atestado de inexistência de produção nacional deverá conter especifica- ções técnicas detalhadas do bem em questão, sendo válido por 180 (cento e oi- tenta) dias a partir da data de sua emissão, bem como conter as informações a que se refere o § 2º do art. 46 da Portaria Secex nº 23/2011. 2.3 Classificação fiscal de mercadorias A classificação fiscal de mercadorias é uma condição básica nas operações de comércio, seja por importação ou exportação, bem como nas operações de mercado interno. Mediante essa classificação se determina, para cada produto, a codificação em que se deve harmonizar-se3 . No caso brasileiro, em operações de comércio exterior, é necessário utiliza- ção da NCM – Nomenclatura Comum do MERCOSUL. De fato, a correta classifi- cação da mercadoria nessa nomenclatura exige um vasto conhecimento 2.3.1 Considerações sobre a nomenclatura O termo Nomenclatura é uma “linguagem” criada com a finalidade de facili- tar a identificação de mercadorias no comércio internacional. Com essa lin- guagem, as operações de comércio, bem como o processo de troca comercial entre as nações, tornaram-se mais rápidas independentemente de diferenças linguísticas ou culturais. Posteriormente, em decorrência dessa necessidade, foi elaborado um siste- ma para harmonizar a Designação e a Codificação de Mercadorias, conhecido 3 Enquadrar-se. 42 • capítulo 2 como “Sistema Harmonizado”, ou simplesmente SH. No caso do Brasil, dada a criação do MERCOSUL, foi criada a Nomenclatura Comum do MERCOSUL- NCM, composta de 8 dígitos e baseada no Sistema Harmonizado. De fato, as mercadorias são identificadas por um conjunto de números, em ordem crescente, de acordo com o seu grau de elaboração, ou seja, quanto maior a complexidade do processo produtivo da mercadoria maior é seu núme- ro no Sistema Harmonizado. Em síntese, a nomenclatura de mercadorias é uma lista de produtos do mer- cado interno e/ou externo, ordenados segundo convenção internacional, levan- do-se em consideração a matéria construtiva, emprego/aplicação, etc. 2.3.2 Importância A Classificação Fiscal de Mercadorias é importante não somente para determi- nar os tributos envolvidos nas operações de importação e exportação e de saída de produtos industrializados, mas também, em especial no comércio exterior, para fins de controle estatístico e determinação do tratamento administrativo requerido para determinado produto. O importador deve, em princípio, determinar ele próprio, ou por meio de um profissional por ele contratado, a respectiva classificação fiscal, o que re- quer que esteja familiarizado com o Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadoria e com as Regras Gerais para a Interpretação do Sis- tema Harmonizado, por meio de pesquisa efetuada na Tarifa Externa Comum (TEC) ou na Tabela de Imposto de Produtos Industrializados (TIPI), nas Notas Explicativas do Sistema Harmonizado e em emendas de Pareceres e Soluções de Consulta publicadas no Diário oficial da União (DOU). É responsabilidade do importador definir a classificação fiscal e seu erro poderá trazer grandes prejuízos financeiros, inclusive com aplicação de multa e recolhimento da diferença dos impostos que deixaram de ser recolhidos no momento do registro da Declaração de Importação. Quando a classificação cor- reta possuir alíquotas menores, há multa administrativa e juros, se aplicável. Em síntese, para importar determinado produto, o importador deverá bus- car a classificação de acordo com um método internacional de classificação de mercadorias, baseado em uma estrutura de códigos e respectivas descrições. Em tal sentido, conforme citado anteriormente, o método principal de classi- ficação de mercadorias é denominado Sistema Harmonizado de Designação e capítulo 2 • 43 de Codificação de Mercadorias, ou simplesmente Sistema Harmonizado (SH). A figura a seguir relaciona a importância da classificação fiscal de merca- dorias. Identificar mercadorias que estão inclusas em incentivos fiscais (regimes aduaneiros especiais, entre outros) Identificar mercadorias ligadas às alíquotas de impostos, tais como: II (imposto de importação), IPI (imposto sobre Produtos Industri- alizados) e ICMS. Servir de base para que se possam estabelecer políticas de defesa comercial (medidas antidumping e compensatórias) Servir como fonte estatística. A importância da classificação fiscal de mercadorias Fonte: Elaborado pelos autores. 2.3.3 O sistema harmonizado. O Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias, ou simplesmente Sistema Harmonizado (SH), é um método internacional de clas- sificação de mercadorias baseado em uma estrutura de códigos e respectivas descrições. O SH foi introduzido em 1985, com a finalidade de criar um siste- ma único mundial de designação e de codificação de mercadorias, podendo ser utilizado na elaboração das tarifas de direitos aduaneiros e de frete, assim como ajudar nas estatísticas do comércio de importação e de exportação, dos diferentes produtos. Além disso, o SH facilita as negociações comerciais internacionais, a ela- boração das tarifas de fretes e as estatísticas relativas aos diferentes meios de transporte de mercadorias e de outras informações utilizadas pelos diversos in- tervenientes no comércio internacional. A composição dos códigos do SH, formado por seis dígitos, permite que 44 • capítulo 2 sejam atendidas as especificidades dos produtos, tais como origem, matéria constitutiva e aplicação, em um ordenamento numérico lógico, crescente e de acordo com o nível de sofisticação das mercadorias. 2.3.3.1 Abrangência do sistema harmonizado. O Sistema Harmonizado, conhecido como SH, é uma nomenclatura sistemáti- ca que tem a seguinte estrutura: • Lista ordenada de Posições e de Subposições, compreendendo 21 Seções, 96 Capítulos e 1.241 Posições, subdivididas em Subposi- ções. O Capítulo 77 foi reservado para utilização futura do SH e os capítulos 98 e 99, para utilização das partes contratantes; • Notas de Seção, de Capítulo e de Subposição; • Seis Regras Gerais Interpretativas. As mercadorias estão ordenadas de forma progressiva, de acordo com o seu grau de elaboração, principiando pelos animais vivos e terminando com as obras de arte, passando por matérias-primas e produtos semielaborados. O SH compreende 5.019 grupos ou categorias distintas de mercadorias identificadas por um código de 6 dígitos. Os dois primeiros dígitos indicam o Capítulo. As Notas Explicativas do Sistema Harmonizado (NESH) fornecem esclareci- mentos e interpretam o Sistema Harmonizado, estabelecendo, detalhadamente, o alcance e conteúdo da Nomenclatura. As NESH compreendem as Notas de Se- ção, de Capítulo e de Suposição. Trata-se de material extenso e pormenorizado,que estabelece, detalhadamente, o alcance e conteúdo da Nomenclatura abran- gida pelo SH. A publicação encontra-se disponível para consulta no site da Recei- ta Federal do Brasil, Instrução Normativa RFB nº 807, de 11 de janeiro de 2008. CONCEITO Em síntese, a nomenclatura de mercadorias é uma lista de produtos do mercado interno e/ou externo, ordenados segundo convenção internacional, levando-se em consideração a matéria construtiva, emprego/aplicação etc. Cada produto é descrito a partir de suas carac- terísticas genéricas, até os detalhes mais específicos, que o individualizam. A essa descrição corresponde um código numérico. O trabalho de se enquadrar determinado bem ao respec- tivo código numérico denomina-se classificação de mercadorias. A Nomenclatura Brasileira capítulo 2 • 45 de Mercadorias (NBM) adota uma sistemática de classificação que recebeu a denominação de Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias (NBM/SH), ou sim- plesmente, Sistema Harmonizado. O sistema é constantemente atualizado, não importando de que ramo da atividade humana venha a surgir um novo produto a ser classificado. 2.3.3.2 Estrutura e composição da nomenclatura comum do MERCOSUL (NCM) Desde 1995, os países membros do MERCOSUL adotaram a NCM que toma por base o SH. Oito dígitos compõem a NCM (Nomenclatura Comum do MER- COSUL) sendo que os seis primeiros são formados pelo Sistema Harmonizado enquanto o sétimo e oitavo correspondem a hibridações no âmbito do MERCO- SUL. A NCM constitui atualmente a base para a classificação de mercadorias nas operações de comércio exterior do Brasil. Utiliza códigos compostos por oito dígitos numéricos. A cada código, corres- ponde um texto que se destina à designação da mercadoria nele classificada. A base para a estruturação da NCM é o Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias, mais conhecido como Sistema Harmonizado (SH) cuja elaboração e atualização são de responsabilidade da Organização Mundial de Aduanas (OMA). O SH é formado de códigos de seis dígitos, acompanhados dos respectivos textos descritivos. No momento, com base no que dispõe a Decisão Conselho do Mercado Co- mum (CMC) nº 58/10 o Brasil está autorizado a manter, até 31 de dezembro de 2015, uma lista de 100 códigos NCM como exceções à TEC. Essas exceções temporárias podem contemplar níveis de alíquotas inferiores ou superiores às da TEC, desde que não ultrapassem os níveis tarifários consolidados na OMC. Assim, quando o exportador informar a classificação fiscal que ele utiliza, não quer dizer que é a classificação fiscal correta e não poderemos usar isso como argumento em uma desclassificação fiscal. Nem sempre o exportador in- forma a classificação correta, pois, em alguns países, esse código não tem a mes- ma importância que aqui no Brasil. Dado que o Brasil possui uma classificação padrão é de responsabilidade do importador analisar se essa classificação suge- rida pelo exportador está correta, de acordo com as normas internas brasileiras. O quadro a seguir mostra em detalhes a Nomenclatura de Mercadorias, lembrando que os seis primeiros dígitos correspondem ao Sistema Harmoni- zado (SH) e os dois seguintes à NCM. 46 • capítulo 2 GERAL 2 primeiros dígitos do SH 4 primeiros dígitos 6 primeiros dígitos 7 dígito da NCM 8 dígito da NCM Capítulo Posição Subposição Item Subitem 00 00.00 00.00.00 00.00.00.0 00.00.00.00 NCM/SH 7019.12.00 Capítulo (dois primeiros algarismos) Posição (quatro primeiros algarismos) Subposição (5 e 6 algarismos) Subposição Simples - 5 dígito Subposição Composta - 6 digito Item (sétimo Algarismo) Subitem (oitavo algarismo) 70 7019 7010.12 7019.12 7019.12 00 00 Vidro e suas obras Fibras de vidro Mechas, mesmo torcidas Fios Fios Quadro 2.1 – Nomemclatura de Mercadorias. Fonte: MDIC (2014) O quadro a seguir mostra a descrição da Nomenclatura Comum do MER- COSUL (NCM) do café, especificamente do café não torrado (e torrado) em grão (não descafeinado e descafeinado). Assim, o SH do MERCOSUL é um codigo de 8 digitos, sendo 6 digitos o SH + 2 dígitos referente ao MERCOSUL. Os dois digitos acrescentados são para atender peculiaridades/intereses do comércio regional. LISTA DE CAPÍTULOS 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 SERVIÇOS Animais Vivos Carnes e Miudezas, Comestíveis. Peixes e Crustáceos, Moluscos e outros. Leite e Lacticínios; ovos e aves; mel natural; produtos de origem animal. Outros produtos de origem animal Plantas vivas e produtos de floricultura Produtos hortícolas, plantas, raízes e tubérculos, comestíveis Frutas; cascas de frutos cítricos e de melões Café, chá, mate e especiarias Cereais capítulo 2 • 47 LISTA DE CAPÍTULOS DETALHE 09 Café, chá, mate e especiarias. 0901 Café, mesmo torrado ou desafinado. 09011 Café não torrado 090111 Não descafeinado 09011110 Em grão 09011190 Outros 09012 Café torrado 09012100 09012200 Não descafeinado Descafeinado 09019000 Outros Quadro 2.2 – Classificação de Mercadorias. Fonte: MDIC (2014) Assim, quando as empresas importarem ou exportarem seus produtos, a classificação a ser considerada é uma classificação fiscal de oito digitos, ou seja, mantem-se o sistema harmonizado, acrescentando mais dois digitos. Essa classificação faz parte do processo de integração regional, quando foi cria- do o MERCOSUL, na década de 90, com a finalidade de quebrar barreiras e criar uma linguagem padrão. Em síntese, os oito dígitos representam um detalha- mento da mercadoria. 2.3.3.3 Tarifa externa comum – TEC Resultado da integração (MERCOSUL) nasceu a Tarifa Externa Comum-TEC. A TEC tem por objetivo definir os direitos aduaneiros para terceiros países. Assim, quando o Brasil compra de um país não integrante do MERCOSUL ela identifica qual é o tributo, sendo que esse tributo é adotado por todos os países integrantes do bloco. 48 • capítulo 2 CONEXÃO A TEC está disponível para o contribuinte no site do MDIC pelo link <www.desenvolvimento. gov.br> e a TIPI pelo link www.receita.fazenda.gov.br. Existem algumas empresas que forne- cem programas com atualizações diárias das tarifas. A TEC indica o percentual da alíquota de Imposto de Importação e a Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de acordo com cada NCM. A solução de consulta sobre classificação fiscal de mercadorias é competên- cia da Secretaria da Receita Federal do Brasil, por intermédio da COANA (Coor- denação-Geral de Administração Aduaneira). Em caso de dúvida sobre a correta classificação fiscal de mercadorias, o interessado deverá contatar a Unidade da Receita Federal do Brasil do seu do- micílio fiscal, formulando consulta por escrito, de acordo com as orientações constantes na Instrução Normativa RFB nº 740, de 2 de maio de 2007. 2.3.4 Aspectos importantes para a classificação de mercadorias 1. Compreender que o Brasil adota uma tarifa de oito dígitos e não seis, com base no sistema harmonizado. O Brasil adota uma tarifa regional dentro do MERCOSUL chamada de NCM; 2. A classificação regional está dentro de uma tarifa chamada TEC, adota- da pelo MERCOSUL; 3. É importante buscar informações sobre a mercadoria em relação a: função, marca, tipo, cor, acessório, material constitutivo, composição, utilização e outras disponíveis; 4. Selecionar as seções ou capítulos mais adequados; 5. Ler as notas explicativas, elas fornecem orientação para classificação correta. Com a aceitação sistemática do Sistema Harmonizado, internacionalmen- te, a Associação Latino-Americana de Integração