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74 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade III Unidade III Na unidade II analisamos quais são as principais taxas de juros no mercado internacional e como elas instituem e auxiliam operações financeiras e comerciais. Nesse sentido, e em virtude da influência dessas taxas nas relações financeiras e comerciais entre os países, sabe‑se que um gestor em comércio exterior ciente conseguirá programar o melhor momento de se aventurar ou aventurar seu cliente em uma empreitada internacional. Para que os projetos sejam bem desempenhados, é necessário conhecer o que os intermediários, isto é, os bancos, têm a oferecer ao agente que busca formas de ultrapassar as fronteiras do seu país. A oferta de condições ideais ou favoráveis auxiliará na tomada de decisão. Para produzir qualquer operação, é crucial que os contratos sejam efetivados de maneira correta para que o recebimento dos valores em moeda estrangeira, bem como os pagamentos, possam ser efetuados. No entanto, até o momento, apesar de termos estudados temas fundamentais, não tratamos a respeito de duas operações comerciais que norteiam grande parte das relações internacionais entre os países: exportação e importação. Em vista disso, tentaremos compreender quão importantes são esses conceitos comerciais, principiando pela exportação. 5 EXPORTAÇÃO E O CÂMBIO 5.1 Conceito Em obra publicada em 1999, Sandroni nos define exportação como: [...] vendas, no exterior, de bens e serviços de um país. Resulta, como a importação, da divisão internacional do trabalho, pela qual os países tendem a especializar‑se na produção dos bens para os quais têm maior disponibilidade de fatores produtivos, garantindo um excedente exportável (SANDRONI, 1999, p. 230‑231). Desse modo, o ato de exportar pode ser compreendido como o momento em que mercadorias e serviços são encaminhados a país estrangeiro. Não obstante, também pode‑se entender como exportação o ato de enviar mercadorias para outro estado dentro de uma mesma federação. Neste caso, ela é chamada de exportação interna. 75 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Ao se enviar o produto ao exterior, a exportação poderá ter cobertura cambial, neste caso haverá pagamento pelo produto. No caso de não ocorrer pagamento pela exportação realizada, dá‑se a designação de sem cobertura cambial. Quando um produto é enviado ao exterior mas não gera pagamentos, significa que este tem um destino específico, como um evento, uma feira; e servirá de donativos ou amostras. Não obstante, qual(is) o(s) motivo(s) que leva(m) uma empresa a buscar o mercado externo? Entre eles podemos citar: • Aumento da produtividade: com a introdução no mercado estrangeiro, a sociedade tende a reduzir sua capacidade ociosa, pois necessitará de maior produção, podendo diminuir seus custos e tornando‑se mais competitiva. • Diminuição da carga tributária: a empresa poderá compensar com a exportação os impostos internos como ICMS, IPI, PIS/Pasep, Cofins e IOF. • Imagem da empresa: organizações que atuam no exterior têm sua imagem vinculada a produtos de qualidade. No Brasil a atividade exportadora se tornou estratégica, pois impacta diretamente no emprego e na renda e gera divisas para o país, incentivando o equilíbrio das contas externas e promovendo o desenvolvimento econômico. 5.2 Fundamento legal As exportações são regulamentadas pela Circular n. 3.325, de 24 de agosto de 2006, e pelo Regulamento do Mercado de Câmbio e Capitais Internacionais do Banco Central do Brasil (RMCCI/Bacen). Baseando‑nos no RMCCI, podemos identificar que a receita advinda de uma exportação pode ser mantida em sua totalidade no exterior pelo exportador. Conforme destacado na unidade II, o contrato de câmbio é o documento legal para a formalização da entrada de valores no país. Este pode ser celebrado para liquidação imediata (spot) ou futura (forward). O pagamento das exportações poderá ser feito através de: crédito em conta mantida pelo exportador no exterior; de crédito da moeda estrangeira em conta de banco autorizado a operar em câmbio no País; entrega em espécie a um banco da moeda estrangeira. Além dessas formas, o recebimento de uma exportação pode ser feito por meio de cartão de uso internacional emitido no exterior, vale postal internacional e outros instrumentos descritos no RMCCI. 76 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade III 5.2.1 Formas de exportação As exportações ocorrem de três formas: Exportação direta: a exportadora realiza todo o processo de venda da mercadoria. Ela pode contratar um intermediário, entretanto, esse agente não descaracteriza a operação como sendo direta. Exportação indireta: tipo de operação na qual a empresa tem sua produção comprada por outra sociedade nacional, que fará a venda da mercadoria no exterior. Exportação indireta por trading company: as chamadas tradings são organizações nacionais que possuem regime tributário diferenciado para que possam atuar como compradoras de mercadorias dentro das fronteiras do País e efetuar posterior venda ao exterior. Elas recebem o mesmo tratamento fiscal que as exportadoras, ou seja, compram produtos para exportação com alíquota de impostos reduzida. Observação As empresas conhecidas trading company recebem benefícios da autoridade monetária para que possam atuar de forma ativa no mercado. Porém, para gozar de tal privilégio, elas precisam obter registro especial na Secex e SRF; constituir‑se em sociedades por ações; e possuir capital mínimo determinado pelo CMN. 5.2.2 Documentos necessários para a exportação De forma resumida, apresentaremos os principais documentos exigidos ao processo de exportação. Fatura pró‑forma: registro preparado pela empresa exportadora após a negociação. É similar a um orçamento, pois inclui todas as informações do que foi solicitado pelo importador. Em seguida podemos observar um modelo de fatura pró‑forma ou proforma invoice. 77 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Figura 11 – Modelo de fatura pró‑forma Registro de Exportação (RE): é o documento eletrônico que deve ser preenchido via Siscomex. Nele são descritas todas as características do produto a ser exportado para registro dos órgãos governamentais. Nota fiscal: deverá acompanhar a mercadoria, com todas as suas informações, desde o local de origem do produto a ser exportado até o embarque. Ela não acompanhará a mercadoria para o exterior, mas é obrigatória sua posse no território nacional. Fatura comercial (commercial invoice): formaliza a venda do produto. Nela devem estar contidas todas as informações da negociação efetuada entre importador e exportador. 78 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade III Saque (draft): é um título de crédito emitido contra um devedor informando que este deverá pagar certa quantia, em data e local estipulados. O saque pode ser dispensado, dependendo da operação e das relações comerciais entre importador e exportador. Romaneio (packing list): nos casos de exportações que contenham mais de um volume, o vendedor prepara um romaneio especificando o conteúdo de cada um desses volumes. Se necessário, observações adicionais poderão ser inseridas. Figura 12 – Modelo de packing list Conhecimento de embarque (bill of lading): documento que a empresa transportadora emite confirmando o recebimento da mercadoria.Ele atesta que esta última foi entregue para embarque e é considerado um recibo de posse da mercadoria. A depender do tipo de transporte, existem diferentes modelos; em seguida observamos o modelo utilizado para os embarques marítimos. 79 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Figura 13 – Modelo de bill of lading Alguns documentos serão emitidos somente se forem solicitados e poderão ser dispensados se assim for acordado entre as partes, sendo estipulado nos acordos comerciais existentes entre os países. É o caso dos seguintes impressos: • certificado de origem; • lista de pesos; • certificado fitossanitário; 80 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade III • certificado de análise; • certificado de qualidade; • fatura consular. Saiba mais O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) disponibiliza informações complementares sobre outros arquivos utilizados no processo de exportação. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/ sistemas_web/aprendex/default>. Acesso em: 28 mar. 2017. 5.2.3 Formas de contrato de câmbio para a exportação A contratação do câmbio com um banco autorizado é um momento ímpar para o exportador. Ao firmar o contrato de câmbio, o exportador assumirá o compromisso de venda das divisas advindas da operação, bem como definirá o caráter dela, o qual poderá ser: Simplificado: exigido tanto para exportação com Declaração Simplificada de Exportação (DSE) quanto com o RE, no valor máximo de US$ 50.000,00 por processo quando emitido por corretora, ou ilimitado se enviado por bancos autorizados a operar no mercado cambial. Quando acima de US$ 20.000,00, o nome do importador/pagador deverá ser mencionado. No caso de contratos de câmbio simplificados, não existe a possibilidade de rescisão, aditamento ou baixa, e o prazo para a contratação desse tipo de operação é de até 360 dias anteriores ou posteriores à exportação ou prestação do serviço. A grande vantagem do contrato simplificado é a redução no custo de exportação. Contrato tipo 1 normal (não simplificado): é necessária uma exportação formal, ou seja, o RE é obrigatório, mesmo que o valor seja inferior a US$ 20.000,00. Neste caso, seguem alguns detalhes quanto ao prazo e à forma de pagamento: • Contratação pré‑embarque: é possível o recebimento antecipado com um prazo máximo de até 360 dias (curto prazo) anteriores à data do embarque da mercadoria. Pagamento com anterioridade maior que 360 dias da data do embarque também pode ocorrer, porém fica sujeito ao prévio registro no Bacen. • Pagamento à vista: a exportação (que pode ser representada por uma letra de câmbio) é paga no ato da apresentação dos documentos de exportação ao importador. • Contratação pós‑embarque: pagamento após viabilizar os documentos ao importador tem um prazo máximo de até 360 dias da data do embarque (operações não financiadas). 81 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Cabe ao exportador, de posse de todas as informações, decidir qual é o melhor tipo de contrato de câmbio a fim de negociar com seus clientes. 5.3 Responsabilidade das partes As partes que assinam o contrato de câmbio (exportador e banco) devem cumprir todas as suas cláusulas. Caso ocorra alguma irregularidade, esta pode ser reparada através de uma alteração, prorrogação ou rescisão. As modificações do contrato de câmbio podem ser feitas, desde que os itens seguintes não sejam modificados: • partes intervenientes (comprador e vendedor da moeda estrangeira); • valor da moeda estrangeira ou nacional; • tipo de moeda estrangeira; • taxa cambial; • data; e • número de registro no Sisbacen. A prorrogação pode ser feita, desde que respeitado o prazo máximo de 360 dias antes ou depois do embarque. Em caso de rescisão do contrato, ambas as partes devem mostrar conformidade, tanto no pré‑embarque quanto no pós‑embarque e não há necessidade de autorização do Bacen. A exportação requer muito estudo e consciência do vendedor, pois é um passo fundamental para a continuidade de seus negócios. Desse modo, a palavra‑chave desse processo é planejamento. 5.4 Principais financiamentos à exportação As exportações – como parte importante da política interna e externa brasileira – recebem inúmeras possibilidades de financiamentos. Além dos bancos autorizados a operar com câmbio, o próprio governo, através de seus organismos, incentiva a exportação. Em vista disso, é necessário analisar cada um deles. Não obstante, nesta seção trataremos, em especial, do ACC e do adiantamento de cambiais entregues (ACE). Os demais tratados serão estudados na unidade seguinte. 5.4.1 Adiantamento de contrato de câmbio (ACC) Ao celebrar um determinado contrato de câmbio, o exportador poderá, a seu critério, solicitar a antecipação dos valores referentes a ele. O ACC é realizado antes do embarque da mercadoria, como se o exportador precisasse de um autofinanciamento para empreender o projeto. 82 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade III O adiantamento deste contrato poderá ser total ou parcial, a depender do exportador. No entanto, o prazo máximo de 360 dias deverá ser observado. Os encargos sobre essa operação são: Libor + spread sobre a moeda estrangeira; IOF alíquota 0%; taxa de abertura de crédito (TAC), de acordo com a instituição financeira; e taxa de serviço de câmbio (TSC), também de acordo com a entidade financeira. Esses encargos são cobrados após serem convertidos em reais no dia do débito, o que poderá ocorrer na data de contratação da ACC ou na data de vencimento do saque. Já o principal é pago após o embarque da mercadoria, na data de vencimento do respectivo contrato de câmbio. As instituições financeiras podem, a seu critério, cobrar a taxa Prime norte‑americana em substituição à Libor. O spread cobrado sobre a moeda estrangeira deve atingir, no máximo, 5% ao ano. Lembrete O spread é a diferença entre a cotação da moeda na data da captação e o preço dela no repasse ao cliente. No caso dessa operação de adiantamento (ACC), o contrato de exportação pode ser a garantia do financiamento, porém, conforme o relacionamento entre cliente e banco, outras salvaguardas poderão ser solicitadas. Na hipótese de a operação de exportação não ocorrer ou for cancelada, a contratação do ACC é convertida em um tipo de crédito, devendo o exportador arcar com todos os custos desta. 5.4.2 Adiantamento de cambiais entregues (ACE) Após embarcar a mercadoria ao seu importador, o exportador poderá, de posse da documentação comprovatória, solicitar a antecipação de recursos. Assim, ele solicita ao banco que adiante o valor descrito no saque contra o exportador. Ao contratar o crédito de um ACC, o exportador buscava financiamento para sua produção, no presente caso ele busca financiamento de um produto (mercadoria) já entregue. Esse trâmite se assemelha a um desconto de duplicatas aplicado no Brasil. O exportador poderá antecipar até 100% do valor em um prazo máximo de 180 dias, incidindo sobre essa negociação a taxa Libor ou Prime, mais o spread sobre a operação. É possível observar que em contratações de ACE a taxa de juros é reduzida. O valor principal da transação será pago na data de vencimento do saque. Já os encargos poderão ser pagos na data da contratação ou no vencimento do saque. Na data de vencimento, o banco reterá o valor pago pelo importador e, caso este não efetue o pagamento, o montante será debitado da conta daexportadora. 83 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL De acordo com o relacionamento entre exportador e banco, algumas garantias poderão ser solicitadas, tais como: saque de exportação, seguro de crédito ou outra precaução que a instituição financeira julgar necessária. A contratação de um ACE não vincula o exportador à contratação de um ACC. A única regra existente é: se foi contratado o ACC em um banco, o ACE deve ser contratado com o mesmo bancário. Se houver inadimplência do pagamento por parte do importador, o exportador deverá recorrer à cobrança judicial e comunicar aos órgãos competentes tal fato. Observação Ao contratar um ACC, o exportador pagará uma alíquota de 0% de IOF. Isso não significa que existe a isenção desse imposto, mas sim uma redução em sua percentagem. 6 IMPORTAÇÃO E O CÂMBIO 6.1 Conceito O Novíssimo dicionário de economia define importação como: Entrada de mercadorias e serviços estrangeiros num país. Os serviços, cujo valor não figura na receita comercial, constituem as importações invisíveis. [...] os importadores podem recorrer ao mercado financeiro internacional para obter o crédito necessário ao pagamento de suas importações (SANDRONI, 1999, p. 291). Dessa maneira, todas as compras realizadas com um fabricante internacional fazem parte do conceito de importação. As importações podem ser contratadas com cobertura cambial, ou seja, haverá repasse de valores ao fornecedor; ou sem cobertura cambial, quando não há a necessidade de repasse. Hoje o ato de importar no Brasil – mesmo com a taxa de câmbio desvalorizada – é essencial, principalmente no que tange a alguns bens manufaturados e aos bens de capital, os quais nosso país produz menos. Para entender o processo de importação e os caminhos adotados pelo Brasil, devemos relembrar a história do País e os regimes cambiais adotados. 84 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade III Lembrete Os chamados bens de capital são aqueles que auxiliarão na produção de outro bem e que não têm seu fim no processo produtivo. Um exemplo deles são as máquinas, instalações e os equipamentos. 6.2 Regime cambial A tratativa sobre os regimes cambiais existentes foi discutida na unidade I do presente livro‑texto, e vale lembrar que eles podem ser classificados como: regime cambial de câmbio fixo; regime cambial de câmbio flutuante (flutuação limpa ou suja); e regime cambial de bandas cambiais. Como destacamos, a fim de nos atentarmos a estes regimes e ao roteiro das importações no Brasil, vamos analisar a economia brasileira ao longo de alguns períodos da história nacional. Durante muitos anos, mais precisamente até 1930, o Brasil era um país agrário exportador, dependendo, basicamente, da exportação de café. Em contrapartida, necessitava trazer muitos produtos do exterior. Ante a crise no preço do café nesse período e a produção sendo feita por outros países, os cafeicultores brasileiros não conseguiam efetuar s vendas ao exterior e se viram em uma situação crítica. O então presidente, Getúlio Vargas, comprou a produção de café de todos os produtores e a estocou, queimando‑a posteriormente. Essa situação foi agravada pelo volume de importação realizado pelo Brasil e pela América Latina como um todo. Na tentativa de reduzir a quantidade de produtos importados por esses países, a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) criou o Processo de Substituição de Importações (PSI). Esse programa tinha por objetivo reduzir a quantidade de mercadorias estrangeiras nos países latinos através da produção interna desses bens. Podemos dizer que o Brasil, assim como os demais países da América Latina, foram forçados a se industrializar. O PSI vigorou por aproximadamente cinquenta anos, até todos os países envolvidos saírem dele. A justificativa para essa debandada do programa foi a grande proteção aplicada aos países, os quais não conseguiam perceber o que acontecia fora de suas fronteiras. Por fim, o Processo de Substituição de Importações ficou conhecido como gerador de crescimento de dentro para fora. Dessa forma, o País não importaria nenhum tipo de mercadoria que pudesse ser produzido pela própria nação. Após anos de ditadura militar, o brasileiro recuperou o seu direito ao voto e elegeu o candidato Fernando Collor de Mello. Em suas políticas econômicas e com relação ao comércio exterior, o foco foram as importações. 85 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Após os anos nos quais as importações eram admitidas como algo contraproducente, o presidente Collor determinou a abertura do País para a concorrência internacional. Na visão do novo governante, o Brasil estava com o parque industrial sucateado e necessitava de competição para se renovar. Com uma taxa de câmbio favorável ao processo de importação, ou seja, câmbio valorizado, e com alíquota de importação beirando a zero para alguns produtos, a Federação promoveu a chamada abertura abrupta. Com destaque para produtos como tecidos, calçados, brinquedos etc. Foi um período em que a indústria brasileira sofreu forte ataque dos estrangeiros. O governo de Collor gerou uma das maiores crises industriais. Devido à taxa de câmbio valorizada, aliada à alíquota de importação reduzida, muitas empresas nacionais não conseguiram concorrer com os estrangeiros e fecharam suas portas. Saiba mais Para mais detalhes referentes ao governo Collor, leia a obra Economia Brasileira e contemporânea (2017). Disponível em: <https://online. minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597010206/cfi/6/10!/4/10@0:73.5> Acesso em: 28 mar. 2017. Após inúmeras denúncias de corrupção, o presidente Fernando Collor foi afastado de seu mandato. O vice‑presidente Itamar Franco assume a presidência e nomeia como seu ministro da Fazenda o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Junto com sua equipe, André Lara Resende e Pérsio Árida, Fernando Henrique Cardoso criou o plano de estabilização da economia, em vigor até os dias de hoje, denominado Plano Real. É possível dividir o regime da taxa de câmbio em três desde o início do Plano Real: • Devido à âncora cambial, a taxa de câmbio foi definida ao par, isto é, R$ 1,00 = US$ 1,00. • O período de valorização cambial faz a moeda alcançar a casa dos R$ 0,80 para cada US$ 1,00. • Fase de desvalorização cambial, que se mantém até os dias de hoje. Esse breve resumo da economia brasileira nos ajudará a compreender como o processo de importação foi e é impactado. 6.3 Tributos e despesas O tratamento dado às importações atualmente no Brasil está vinculado à política de aumento de divisas. Neste caso, as exportações são mais interessantes que a importação, o que ilustra claramente a política cambial brasileira. 86 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade III Para definir qual será a tributação imposta a um produto importado, é necessário conhecer sua nomenclatura na Tarifa Externa Comum (TEC). Não podemos especificar a alíquota para cada bem, mas sim quais serão os impostos incidentes. Nesse sentido, a tributação das importações foi estabelecida da seguinte forma: Imposto de importação: aplicado às mercadorias que ingressaram no território nacional. Imposto sobre Produto Industrializado (IPI): calculado em base ad valorem e com alíquotas definidas para cada produto. Ele também pode ser cobrado por unidade e a um valor já fixado. Porém, ele somente será incidido se houver imposto de importação, caso contrário, oIPI será dispensado. Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS): é um imposto estadual e possui alíquotas diferentes entre os estados. As alíquotas variam entre 7% e 25% dependendo do estado e do produto. PIS/Pasep importação: incide em praticamente todas as mercadorias importadas com alíquota de 2,1%. Contudo, é necessário consultar constantemente a legislação para confirmar os produtos que possuem ou não a incidência deste tributo. Cofins importação: com a mesma metodologia do PIS/Pasep, a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) incide em quase todos os produtos importados. Mais uma vez cabe a regra de consultar a legislação para verificar sua aplicabilidade. A alíquota é única e fica em 9,65%. Já as despesas incidentes sobre os produtos importados são: Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM): valor pago ao agente da companhia marítima de entrada do porto de descarga. A alíquota varia de acordo com a navegação: 25% na navegação de longo curso; 10% na navegação de cabotagem; e 5% na navegação lacustre e fluvial. Taxa de armazenagem: paga ao porto ou aeroporto no qual a mercadoria ficará. Essa taxa varia conforme o tempo de permanência no local. Taxa de capatazia: valor cobrado pela movimentação da carga pelo pessoal do porto ou aeroporto. Varia de acordo com o peso e volume da mercadoria. 6.4 Financiamento para cobrança e carta de crédito As operações de pagamento a prazo normalmente são consideradas operações financiadas. Elas podem ser divididas em dois grupos: operações de curto prazo, com pagamento em até 360 dias; e operações de médio e longo prazo, para pagamentos acima de 360 dias; estes são condicionados à emissão do registro de operações financeiras. Os financiamentos das importações de qualquer produto podem ser feitos pelo próprio exportador ao fornecer a mercadoria e aguardar uma data específica para pagamento. O vendedor seria o financiador, porém nem sempre os exportadores estão dispostos a operar tal processo. Também podem 87 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL ser processados por outras pessoas jurídicas no exterior, isto é, empresas que possuem fácil acesso a crédito externo podem financiar importações. O exportador recebe o pagamento à vista, e o importador paga a prazo a essas organizações, que normalmente são de grande porte. Evidentemente, os bancos locais autorizados a operar em câmbio podem prestar tais financiamentos e os importadores brasileiros se utilizam muito desta linha. O banco nacional local financia o importador com recursos captados com bancários estrangeiros. A entidade financeira no exterior efetua o pagamento à vista para o exportador e financia o banco nacional. O mesmo banco nacional, por sua vez, abre um financiamento ao importador. A relação do financiamento ocorre de duas formas, uma entre o banco estrangeiro e o nacional e a outra entre o banco local e o importador. Lembrete Quando o financiamento é feito pelo próprio exportador ou por uma pessoa jurídica no exterior, o financiado é o importador. No caso de financiamento adquirido no exterior, o banco nacional é o financiado. Os valores a serem financiados variam de acordo com a negociação, podendo ser o valor total da importação, uma parte dela ou um percentual. Por ser uma operação delicada, todas as condições desse financiamento devem ser detalhadas em contrato, como o valor do principal, juros, comissões e encargos. Observação O Registro de Operações Financeiras (ROF) é exigido para todas as operações com prazo superior a 360 dias e deve ser aprovado antes do registro da declaração de importação (DI). Em caso de refinanciamento de operações contratadas para pagamentos em até 360 dias, com ROF já aprovado, deve ser efetuada retificação na DI. Para operações acima de 360 dias, o banco negociador deve fazer vinculação entre o ROF e o contrato de câmbio. Em relação às cartas de crédito, os bancos no Brasil estão autorizados a emiti‑las, mesmo que o contrato de câmbio ainda não tenha sido celebrado. Para minimizar os riscos da operação, é recomendado que a abertura da carta de crédito seja feita após o registro da licença de importação no Siscomex. Desta forma, todos os dados da respectiva carta devem ser compatíveis com o registro. Ao negociar a carta de crédito no exterior, e se ela for à vista, o prazo para liquidação do contrato de câmbio é de até 15 dias. Já no caso de negociação a prazo, a liquidação acontecerá até a data de vencimento da obrigação no exterior (GONÇALEZ, 2011). 88 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade III 6.5 Pagamento antecipado O pagamento antecipado é definido pela remessa de valores sem a realização do embarque da mercadoria. Assim, o importador paga por ela antes de seu recebimento. A contratação do câmbio neste tipo de pagamento é feita de forma pronta. Para que seja feita uma operação de pagamento antecipado de importação, é preciso que haja a contratação do serviço. O pagamento antecipado pode ser efetuado com até 180 dias de antecedência do embarque ou da nacionalização da mercadoria. Todas as informações referentes ao tipo de pagamento devem constar na pró‑forma. Os produtos que possuem ciclo maior de produção, como é caso de máquinas e equipamentos, podem gerar pagamentos de acordo com essa condição, mas devem ser limitados a 1.080 dias do embarque da mercadoria. Os pagamentos antecipados de tais mercancias podem ser totais ou parciais. Eles podem seguir as necessidades de execução do projeto. Para a liquidação do contrato de câmbio de pagamento antecipado, é imposto que o importador apresente fatura pró‑forma ou documento equivalente, e a LI. O contrato de câmbio deve ser vinculado, pelo importador, a uma DI em um prazo máximo de 60 dias contados da data prevista para o embarque da mercadoria. Caso esta última não seja embarcada ou nacionalizada, por qualquer motivo, até a data de liquidação do contrato, o importador deve providenciar a repatriação dos pagamentos efetuados em no máximo 30 dias. Se o importador assim desejar, pode solicitar garantias ao exportador para que este pagamento seja efetuado, garantindo a devolução de valores em caso de não remessa da mercadoria. Por outro lado, se quem importar um produto não vincular o respectivo contrato de câmbio a uma DI ou não providenciar a repatriação das divisas nos prazos estipulados, sofrerá sanções, sendo impedido de efetuar pagamentos de importação e multado em 50% a 300% do valor da operação. 6.6 Comissão de agente Em alguns casos, as entidades exportadoras mantêm nos países potenciais representantes comerciais que cuidarão do processo de venda de seus produtos. A remuneração paga a esses representantes é chamada de comissão de agente. Esta deve estar devidamente descrita na declaração de importação e poderá ser paga no exterior ou retida no país, neste caso, no Brasil. É preciso que a comissão do agente esteja descrita na DI, porém se até a liquidação do contrato de câmbio não houver vinculação com a declaração, essa prestação deverá estar devidamente discriminada na fatura pró‑forma ou em outro documento similar. A data de pagamento da comissão é negociada entre agente e exportador, normalmente o prazo está vinculado à liquidação do contrato. 89 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Conforme destaca Vieira “o ingresso no país de valores recebidos a título de comissão de agente é de responsabilidade do representante ou agente, devendo ser formalizado através da celebração de contratode câmbio tipo 03 – Transferências financeiras do exterior” (2011, p. 213). Resumo A máxima “exportar ou morrer” se transformou em algo muito significativo para o País, o que gerou diversos benefícios à Nação, entre eles: emprego, desenvolvimento, mais consumo, entre outros. Quando enviamos produtos para o exterior, não é apenas uma mercadoria que está sendo distribuída, mas também a nação como um todo, ou seja, seu povo, sua imagem, sua cultura... Conhecer o país ao qual se encaminha um produto é muito importante, pois o contato deverá ser benéfico, não algo que possa gerar inconvenientes futuros. Ao analisar o destinatário, o exportador poderá saber se existe mercado para o seu produto, se o preço praticado por ele será aceito, se culturalmente esse produto poderá aproximar as nações, entretanto, é evidente que qualquer empresário almeja obter lucros, o que certamente o comércio internacional poderá propiciar. Não obstante, exportar não é tarefa fácil, é fundamental, além de conhecer os futuros clientes, compreender um pouco a respeito da legislação de cada país: será que o país com o qual eu almejo comercializar aceita as embalagens permitidas no Brasil? Minha empresa tem condições de produzir da forma que este cliente espera? A barreira do idioma é satisfeita apenas com o conhecimento do inglês? Inúmeras perguntas surgem e surgirão ao longo do processo. Por ser uma atividade estratégica no Brasil, a exportação recebe um tratamento diferenciado em termos de tributação. Atualmente, todos os impostos incidentes na exportação estão com alíquota 0%. Contudo, como já havia dito David Hume (1988), os países não serão apenas exportadores. Em alguns momentos, ainda que com situações adversas, será necessário buscar produtos para além das fronteiras. O processo de importação se torna essencial, visto que nenhum país é capaz de produzir tudo aquilo que necessita, desse modo, as trocas entre as nações são essenciais para a satisfação de suas populações. Diferentemente de outros períodos da economia brasileira, nos quais a importação era fundamental para o desenvolvimento da nação, hoje, com o parque industrial mais desenvolvido que há vinte anos, a situação é bastante diferente. Hoje em dia, a importação no Brasil sofre com o câmbio valorizado, o que impede a troca excessiva de produtos. Porém, o governo – por 90 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 Unidade III reinvindicação dos empresários – faz pequenas variações cambiais, valorizando a moeda no intuito de facilitar a importação de máquinas e equipamentos. A justificativa dos empresários é a não produção, ou a produção em condições reduzidas, desses bens em território nacional. Dessa forma, por meio da importação, é possível verificar que existem poucos mecanismos para seu financiamento, o que impede o próprio exportador de auxiliar o importador, além das reduzidas linhas de crédito com encargos elevados. Igualmente, ao observarmos os financiamentos, a importação recebe menos incentivo que a exportação. Pode‑se constatar, ainda, que a exportação recebe incentivos desde o momento do fechamento do pedido com o exterior. As instituições financeiras liberam financiamento para a produção e, quando a mercadoria está pronta e embarcada, oferecem crédito para os empresários exportadores. À vista disso, tanto com relação à exportação quanto à importação, é preciso estudar muito sobre as legislações específicas, dado que o governo impõe fortes controles à compra e venda no mercado internacional. Exercícios Questão 1. (ACE 2002, adaptada) Sobre o Programa BNDES‑Exim, é correto afirmar‑se que: A) É um programa de apoio às exportações que financia exclusivamente a comercialização de bens e de serviços no exterior. B) É um programa de financiamento da produção de manufaturas em geral e de bens de capital a serem exportados, além de serviços associados aos bens exportados, sendo operado diretamente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e por agentes financeiros credenciados. C) Objetiva, essencialmente, fornecer linhas de financiamento ao exportador brasileiro visando equalizar os encargos financeiros praticados domesticamente com aqueles praticados no mercado internacional. D) É um programa de financiamento da produção de bens de maior valor agregado e de serviços em geral, sendo operado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social com recursos do Tesouro Nacional. E) É um programa de apoio e promoção das exportações de pequenas e médias empresas que financia a produção e a comercialização de bens, bem como a organização de missões comerciais e de mostras no exterior. 91 Re vi sã o: Fa br íc ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 7/ 04 /1 7 TEORIA E PRÁTICA CAMBIAL Resposta correta: alternativa B. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: o BNDES‑Exim financia a produção, a aquisição e a comercialização do bem exportável ou exportado. B) Alternativa correta. Justificativa: essa é a definição do papel e do alcance do programa BNDES‑Exim. C) Alternativa incorreta. Justificativa: a alternativa fala de equalização de taxas de juros, mas isto é com o Proex, e não com o BNDES‑Exim. D) Alternativa incorreta. Justificativa: a alternativa relata que só bens de maior valor agregado recebem financiamento. Se pegarmos a lista enorme de bens financiáveis, veremos que não incluem apenas os de maior valor agregado. Vimos também que a modalidade “Pré‑Embarque Empresa âncora” está voltada às micro, pequenas e médias empresas, e claro que tais empresas não produzem bens de valor muito alto. E) Alternativa incorreta. Justificativa: a alternativa diz que o programa restringe a ajuda apenas para pequenas e médias empresas, mas o BNDES‑Exim não restringe. É verdade que ajuda tais empresas, mas não somente elas. Das seis modalidades, uma é voltada especificamente para elas, enquanto as outras cinco são direcionadas a quaisquer empresas. Questão 2. (ACE 1997) A taxa de juros utilizada como referência nas linhas de financiamento do Proex é A) Prime Rate (EUA). B) Taxa dos títulos públicos norte‑americanos de longo prazo. C) Libor. D) Taxa Selic. E) TJLP – Taxa de Juros de Longo Prazo (Brasil). Resposta desta questão na plataforma.
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