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Legislação Ambiental

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Universidade Federal Fluminense 
Instituto de Geociências 
Departamento de Geografia 
Disciplina: Planejamento Territorial 
Docente: Ester Limonad 
Nomes: Bárbara Farias, Dafne Vinhaes, Leonardo Batista, Rafael Ribeiro e 
Vitor Penalva 
 
 
 
 
Legislação Ambiental Brasileira 
 
 
 
 
 
 
NITERÓI 
2018 
Sumário 
 
 
 
1. Introdução .......................................................................................................... 2 
2. Objetivos geral e específicos ............................................................................. 3 
3. Códigos Florestais .............................................................................................. 3 
3.1. Entendendo APP’s e RL’s .......................................................................... 4 
4. Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) ................................ 4 
5. Resistências ......................................................................................................... 9 
5.1. Agronegócio vs. Legislação Ambiental ...................................................... 9 
5.2. Comunidades Tradicionais e Resistências ................................................. 10 
6. Considerações Finais ........................................................................................... 11 
7. Bibliografia ........................................................................................................... 12 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
1. Introdução 
 
A legislação ambiental brasileira é uma das mais complexas e bem elaboradas do 
mundo, sendo criada com a finalidade de regulamentar o uso dos recursos naturais, sendo o 
principal meio para proteção e conservação do meio ambiente. Elaborada a partir do 
conceito de desenvolvimento sustentável sobretudo em um país de proporções continentais 
e vasta disponibilidade de áreas florestadas. É importante salientar que essa nova via de 
desenvolvimento, em âmbito mundial, foi uma alternativa a percepção dos danos causados 
pela exploração desenfreada dos recursos naturais. Segundo Mascarenhas (2004) O 
processo produtivo não precisa, necessariamente, prejudicar o meio ambiente. Se o 
destruirmos, de nada adiantará o processo produtivo – eis que também a nossa existência 
estará ameaçada. 
As leis de proteção ambiental tem 16 principais mecanismos, sendo estes: Lei do 
Patrimônio Cultural(1937); Lei das Florestas (1965); Lei da Fauna Silvestre (1967); Lei das 
Atividades Nucleares (1977); Lei do Parcelamento do Solo Urbano (1979); Lei de 
Zoneamento Industrial nas Áreas Críticas de Poluição (1980); Lei de Proteção Ambiental 
(1981), Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (1981); Lei do Gerenciamento Costeiro 
(1988); Lei da Criação do IBAMA (1989); Lei dos Agrotóxicos (1989); Lei da Exploração 
Mineral (1989); Lei da Política Agrícola (1991); Lei da Engenharia Genética (1995); Lei 
dos Recursos Hídricos(1997); Lei dos Crimes Ambientais (1998). 
 Segundo o Grupo de Inteligência Territorial Estratégica -GITE e Empresa Brasileira de 
Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA (2017), o Brasil mantém vegetação nativa preservada 
em 61% de seu território, sendo destes até 41% em áreas de Reserva Legal, Área de Proteção 
Permanente – APP, Unidades de Conservação e em terras Indígenas. Contudo, o histórico 
do Brasil com as leais de proteção ambiental vem desde o Brasil Colônia, com a importação 
das regulamentações portuguesas em relação ao meio ambiente. A primeira lei ambiental 
criada em território brasileiro foi o Regimento do Pau-Brasil (1605) que proibia a 
exploração da espécie sem que houvesse o consentimento da Coroa, com a pena de morte 
como uma das previsões aos transgressores. Até o fim do Império se destacaram também o 
Alvará de Regimento das Minas e estabelecimentos Metálicos (1802), A exigência de 
licenças para exploração de Pau-Brasil, Peroba e Tapinhoãs (1825) e uma série de leis 
elaboradas entre os anos de 1840 e 1858 que regulamentava a exploração de determinadas 
espécies nativas, dando origem ao termo “Madeira legal”. 
3 
 
 Durante o Brasil República as leis ambientais progrediram de forma contínua, mesmo 
que lentamente, até a década de 70, tendo na constituição de 34, durante o Estado Novo, 
seu primeiro grande marco. No primeiro choque do Petróleo (1973), o Estado definiu que o 
desenvolvimento nacional deveria se sobrepor as questões ambientais. “A Delegação 
Brasileira na Conferência de Estocolmo declara que o país está aberto à poluição, porque o 
que precisa é dólares, desenvolvimento e empregos” (MEDINA, 2009). Essa dinâmica foi 
modificada com a elaboração do II Projeto Nacional de Desenvolvimento – PND (1975-
79), fortalecendo a política ambiental. Em 31 de Agosto de 1981 foi criado a Política 
Nacional de Meio ambiente, durante o III PND (1980-85), por meio da lei N° 6.938, 
sinalizando um grande avanço no direito ambiental, com a produção de diversas leis, 
decretos e resoluções, afim de otimizar a relação do desenvolvimento econômico/social 
com o meio ambiente. 
 O Brasil reforçou sua posição quanto a preservação ambiental com a constituição de 
1988, com destaque para criação do Programa Nossa Natureza, em 12 de outubro de 1988, 
IBAMA em 1989, Agência Nacional de Águas – ANA em 2000, a participação e 
organização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento 
– ECO 92, no Rio de Janeiro em 1992 e a criação da Lei de Crimes Ambientais em 2000. 
 
2. Objetivos geral e específicos 
Este trabalho tem como objetivo geral a identificação de leis que permeiam a legislação 
ambiental brasileiras e suas aplicações em território nacional. Os objetivos específicos são 
a delimitação de regiões do território afetados pelas leis, a identificação dos agentes atuantes 
e modificadores, além de órgãos reguladores que atuam sobre essas áreas, os mecanismos 
utilizados para a demarcação dessas áreas, os conflitos existentes entre diferentes esferas de 
poder, os interesses econômicos e as comunidades tradicionais e, por fim, as novas posturas 
do poder público em relação a questões ambientais. 
 
3. Códigos Florestais 
O 1º Código Florestal foi criado em 1934, durante o governo de Getúlio Vargas, e tinha 
características preservacionistas, estabelecendo o uso da propriedade em função do tipo 
florestal remanescente (BRASIL, 1934). Este código também abordou o conceito de 
florestas protetoras em uma propriedade, no entanto, não indicava o tamanho dessas 
florestas, mas dando claras indicações da intenção de criar um conjunto de regras 
4 
 
específicas para o meio ambiente. Ao longo do tempo, o Poder Público sentiu a necessidade 
de interceder e estabelecer alguns limites através da criação oficial de outro Código 
Florestal. Tais medidas visavam a proteção das florestas e dos recursos hídricos, sendo 
entendidas como um ponto de partida às definições posteriores que abrangem as Áreas de 
Preservação Permanente. Com isso, no dia 15 de setembro de 1965, através da Lei n° 
4.771/1965 foi instituído o novo código. 
Com este código, um importante disciplinador de atividades florestais foi criado, 
declarando as florestas existentes no território nacional como bens de interesse comum a 
toda a população, garantindo o direito de propriedade, além de determinar regras para a 
utilização, preservação e conservação das florestas e outras formas de vegetação em 
propriedades rurais, ou seja, as Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva 
Legal (RL) (BRASIL, 1965). 
 
3.1. Entendendo APP’s e RL’s 
 
Os primórdios conceituais do quese conhece hoje como APP surgiram em 1934, com a 
edição do primeiro Código Florestal (Decreto nº 23.793/34). Por este Código, o que se 
considera “preservação permanente” estava prescrito no art. 4°, que se referia às florestas 
protetoras. Essas florestas, de acordo com a sua localização, serviam para conservar o 
regime das águas, evitar erosão e garantir a salubridade pública (BRASIL, 
1934). Porém, o conceito de Área de Preservação Permanente, surgiu no Brasil através da 
Lei n° 4.771/1965 (BRASIL, 1965). 
A reserva legal (RL) é uma modalidade de área protegida no Brasil, e conforme o texto 
do Código Florestal de 1965 (BRASIL, 1965, Art. 1°, §2°, inciso III), onde reserva legal é 
“a área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de 
preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à 
conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e 
ao abrigo e proteção da fauna e flora nativas.” 
 
4. Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) 
As unidades de conservação (UC) são áreas no território com características naturais 
consideradas relevantes no âmbito biológico, pois englobam uma parte dos diferentes 
5 
 
ecossistemas, habitats e populações existentes no território nacional e representam a 
preservação do rico patrimônio biológico presente. Além disso, essas áreas são marcadas 
pelo uso sustentável de recursos naturais por comunidades tradicionais, o que fortalece não 
apenas o advento de uma educação ambiental, mas também da diversidade de saberes que 
pode existir em determinado espaço. Tendo em vista o que foi dito, o Sistema Nacional de 
Unidades de Conservação (SNUC – Lei 9.985/2000) foi criado no intuito de efetivar a 
importância das UC, planejando-as e integrando-as de forma organizada e garantindo assim 
a permanência da diversidade biológica por todo o território nacional. Ele é administrado 
pelos governos federal, estadual e municipal e gerido por órgãos que vão desde o 
planejamento e monitoramento do sistema de UC até a implementação em si. São estes os 
principais órgãos responsáveis: 
 
 
Figura 1 - Fonte: mma.gov.br 
 
 A união entre esses órgãos forma o sistema de gestão das unidades de conservação e 
auxiliam no cumprimento das normais impostas no SNUC, que atendem primordialmente aos 
seguintes objetivos: 
Proteger paisagens 
naturais e pouco 
alteradas de notável 
beleza cênica. 
Proteger as espécies 
ameaçadas de 
extinção. 
Preservação e a 
restauração da 
diversidade de 
ecossistemas naturais. 
Promover o 
desenvolvimento 
sustentável a partir 
dos recursos naturais. 
Órgão consultivo e 
deliberativo, 
representado pelo 
Conselho Nacional 
do Meio Ambiente 
(CONAMA), 
acompanha a 
implementação do 
SNUC no território.
Órgão central, 
representado pelo 
Ministério do Meio 
Ambiente (MMA), 
tem por função 
coordenar 
diretamente todas as 
fases do SNUC.
Órgãos executores, 
representados na esfera 
federal pelo Instituto 
Chico Mendes de 
Conservação de 
Biodiversidade (ICMBio) 
e pelo IBAMA, além das 
esferas estadual e 
municipal, implementam, 
subsidiam e administram 
as UC.
6 
 
Conservação das 
variedades de espécies 
biológicas e dos 
recursos genéticos no 
território nacional e 
nas águas 
jurisdicionais. 
Promover a utilização 
dos princípios e 
práticas de 
conservação da 
natureza no processo 
de desenvolvimento. 
Proteção geológica, 
morfológica, 
geomorfológica, 
espeleológica, 
arqueológica, 
paleontológica e 
cultural da natureza. 
Proteger os recursos 
naturais necessários à 
subsistência de 
populações 
tradicionais, 
respeitando e 
valorizando seu 
conhecimento e sua 
cultura e 
promovendo-as social 
e economicamente. 
Proporcionar meio e 
incentivos para 
atividades de pesquisa 
científica, estudos e 
monitoramento 
ambiental. 
Recuperar ou 
restaurar ecossistemas 
degradados. 
Valorizar econômica e 
socialmente a 
diversidade biológica. 
Favorecer condições e 
promover a educação 
e recreação com a 
natureza. 
Tabela 1 - Fonte: mma.gov.br 
 
 Através da exposição dos objetivos, há a divisão das unidades de conservação em 
grupos, divididos em dois: Uso de Proteção Integral e Uso Sustentável. A diferença entre 
ambos está, conceitualmente, na categoria de uso em que se inserem. O grupo de Proteção 
Integral está contido em um caráter preservacionista, ou seja, de não-uso direto dos recursos 
naturais. Neste caso, portanto, só se encontram atividades de uso indireto, como o turismo 
ecológico, a pesquisa científica, a educação ambiental e, em alguns casos, a possibilidade de 
trilhas esportivas. As unidades de Proteção Integral são categorizadas em cinco tipos diferentes: 
1. Estação Ecológica, cuja área é delimitada para a proteção da natureza e a realização de 
pesquisas científicas, mas apenas voltadas a esse fim. Um exemplo desse tipo de 
unidade está entre os estados de Tocantins e Bahia, a Serra Geral dos Tocantins, 
marcada por uma riqueza hídrica preservada. 
 
2. Reserva Biológica, cuja área é voltada à preservação da diversidade biológica e as 
únicas ações diretas permitidas são para a recuperação de ecossistemas já alterados e 
manutenção do equilíbrio natural. A única forma de visitação permitida é a voltada a 
educação. Um exemplo de Reserva Biológica está em Atol das Rocas, no Rio Grande 
do Norte, próximo à área de Fernando de Noronha. 
 
3. Parque Nacional, destinado a preservação dos ecossistemas naturais, além do 
mantimento de locais com beleza cênica. Esta é uma categoria mais abrangente, pois 
7 
 
permite, além do uso para a educação e pesquisa científica, a atividade turística e 
recreativa. Um exemplo desse tipo de unidade de conservação é o Parque Nacional do 
Iguaçu, na cidade de Foz do Iguaçu (PR) que contém uma variedade de espécies 
preservadas em todo a sua área delimitada, a presença de um hotel dentro do parque, 
além das Cataratas do Iguaçu, com forte apelo turístico. 
 
4. Monumento Natural, voltado a preservação de locais considerados singulares, raros e, 
portanto, com forte beleza cênica. A principal atividade nestes locais é o turismo e, 
diferentemente das categorias anteriores, os monumentos naturais podem conter áreas 
particulares, desde que estes sigam os objetivos da UC e mantenham a área intacta. Um 
exemplo de Monumento Natural é o Salto São Francisco, no município de Prudentópolis 
(PR), que conquistou essa categorização apenas em 2013, com a reivindicação das 
comunidades locais. 
 
5. Refúgio da Vida Silvestre, cujas áreas são destinadas a preservação para a existência 
e reprodução de espécies e comunidades da fauna e flora nativas. São abertas à visitação 
e, assim como os monumentos naturais, também podem conter áreas particulares. Um 
bom exemplo desse tipo de UC está no Pantanal Mato Grossense, no Refúgio Ecológico 
Caiman, que busca manter preservadas as espécies de Vitória-Régia locais, a 
permanência de jacarés, além das onças-pintadas, ameaçadas de extinção. 
 
 Ao contrário do que é implantado nas unidades de conservação de Proteção Integral, as 
Unidades de Uso Sustentável mantêm uma lógica conservacionista, ou seja, é permitido o uso 
direto dos recursos naturais do local, desde que mantenham o equilíbrio dinâmico natural e não 
venham a esgotar qualquer tipo de recurso ambiental disponível. Desta forma, são essas as 
unidades que possuem atividade econômica inserida, além da presença de diversas 
comunidades tradicionais que se mantêm naquelas áreas por gerações. Essas unidades podemser categorizadas em sete tipos: 
 
1. Área de Proteção Ambiental (APA), que costuma ser uma área extensa voltada a 
proteção da diversidade biológica, a organização da ocupação humana e o mantimento 
da sustentabilidade no uso dos recursos naturais. Elas podem ser públicas ou privadas e 
normalmente são encontradas em locais de grande interesse ecológico. Um dos 
8 
 
exemplos de APA está em Paraty, no Rio de Janeiro, e esta sofre constantemente com a 
atividade econômica predatória, o que vai contra as leis ambientais vigentes no SNUC.O 
monitoramento tem sido crescente no local, mas ainda se mostra ineficiente. 
 
2. Área de Relevante Interesse Ecológico, cujo objetivo é a preservação de ecossistemas 
naturais de importância local ou regional. Pode ser explorada de forma sustentável, 
porém, por serem áreas de pouca ou nenhuma ocupação humana e de pequena extensão, 
costumam se manter com o equilíbrio dinâmico natural quase idêntico. Pode ser 
constituída por terras públicas e privadas. Um exemplo dessa categoria é a Mata do 
Cipó, no Sergipe, que possui uma beleza cênica singular. 
 
3. Floresta Nacional (FLONA), cuja cobertura agrega uma série de espécies nativas, além 
da permanência de moradia as comunidades tradicionais que habitam esses locais desde 
sua criação. É permitida a exploração sustentável, a subsistência e a pesquisa científica. 
Um exemplo é a Floresta Nacional dos Tapajós, que abarca os municípios de Aveiro, 
Belterra, Placas e Rurópolis, no estado do Pará, e mantém um plano de manejo florestal 
comunitário e a presença de três aldeias indígenas (Bragança, Marituba e Takuara). 
 
4. Reserva Extrativista (RESEX), utilizada por populações extrativistas tradicionais que 
mantêm nesses locais suas atividades principais, além da agricultura de subsistência e 
da criação de animais de pequeno porte. Ela permite a visitação pública, além da 
pesquisa científica e conseguem garantir, além do uso sustentável do látex, a 
permanência da cultura da comunidade extrativista, que prova manter hábitos para além 
da atividade econômica. Um exemplo de Reserva Extrativista é a Delta do Parnaíba, 
localizada entre os estados de Ceará, Piauí e Maranhão e que contém, além das 
atividades citadas anteriormente, forte beleza cênica. 
 
5. Reserva de Fauna, voltada aos estudos técnico-científicos de manejo sustentável de 
recursos faunísticos. Podem conter espécies nativas terrestres ou aquáticas e costumam 
ser alvo constante de resistências no que diz respeito ao cumprimento da lei, pois a pesca 
predatória nesses locais permanece em vigência. Um exemplo dessa Reserva de Fauna 
está na Baía de Babitonga, em Santa Catarina, cuja pesca e caça predatória tem feito 
com que as espécies nativas tenham reduzido drasticamente o seu número. Apesar da 
9 
 
proteção garantida por lei, o monitoramento fraco permite que as atividades econômicas 
permaneçam com a exploração desenfreada e não-sustentável nesses locais. 
 
6. Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), mantém sistemas sustentáveis de 
exploração de recursos naturais por meio da vivência e experiências de comunidades 
tradicionais, que promovem uma educação ambiental adaptada as condições locais. Um 
exemplo está em Ilha Grande, em Angra dos Reis (RJ), cujo local é marcado pela cultura 
e modo de vida caiçara. 
 
7. Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), que são criadas a partir da 
iniciativa do proprietário privado, buscando apoio de órgãos integrantes do SNUC para 
o mantimento da conservação da diversidade biológica. Essa iniciativa é dada, 
principalmente, pelos benefícios fiscais e bonificações dadas pelos órgãos ambientais a 
quem cumpre as leis do SNUC, além da proteção garantida em suas terras. A 
rentabilidade destes se dá pela pesquisa científica e pela atividade turística. Um exemplo 
dessa categoria é a RPPN Feliciano Miguel Abdala, dentro do município de Muriqui 
(MG), que possui forte beleza cênica e investe na atividade turística local. 
 
5. Resistências 
 5.1. O Agronegócio vs. Legislações Ambientais 
O agronegócio, associado a outros grupos que têm interesse em terras protegidas, como 
a mineração, vem ganhando destaque e representação política nas esferas legislativas. 
Assim, além de adotarem práticas ilegais de posse de terra, desmatamento de áreas 
protegidas e violência no campo com o objetivo de expandir suas propriedades, empresários 
da agropecuária fazem uso de influência política e econômica para flexibilização de leis 
ambientais a seu favor. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Frente 
Parlamentar da Agropecuária (FPA) – que consiste na bancada ruralista institucionalizada 
- e o Instituto Pensar Agropecuária (IPA) são exemplos de grupos políticos que representam 
os interesses do agronegócio na Câmara. 
Os reflexos dessa atuação política são vistos nas mudanças de leis ambientais recentes. 
Com o Novo Código Florestal, adotado em 2012, houve revisão e redução de APs, anistia 
de desmatamento ilegal feita antes de 2008 e aplicação de sanções, redução das APPs em 
margens de rios de 30m para 5m, dentre outras mudanças favoráveis a atividades 
10 
 
produtivas, abertura de estradas e construção de hidrelétricas em áreas protegidas. Destaca-
se também a criação de projetos de lei como a PL 3751-2015 de Toninho Pinheiro (PP – 
MG), que pretende tornar obsoleta a criação de UCs cujos proprietários não receberam 
indenização em cinco anos e impede a criação de novas UCs sem prévia indenização. A 
perda estimada pelo ICMBio com esta proposta é de pelo menos 56 mil quilômetros 
quadrados de áreas conservadas. 
O governo de Michel Temer marcou o retrocesso na questão ambiental com adoção de 
medidas provisórias de revisão de áreas protegidas. Um exemplo disto é a Floresta Nacional 
de Jamanxin (PA), criada para conter o desmatamento na região da BR - 163. No âmbito 
das Unidades de Conservação (UCs), a categoria de Floresta Nacional garante maiores 
restrições quanto ao uso e ocupação da terra. Uma Medida Provisória e um Projeto de Lei 
foram enviados ao Congresso pedindo a redução da Flona de Jamanxin, em que parte de 
seu perímetro passe a ser Área Protegida, uma categoria menos restritiva de unidade de 
conservação. A justificativa para esta medida é a de que com a redução de Jamanxin os 
conflitos por terra e desmatamento sejam reduzidos, atendendo aos interesses de todos. No 
entanto, estima-se que a criação de áreas protegidas na região seja altamente lucrativa para 
o agronegócio, uma vez que nas APs é permitida a posse privada de terras. A Flona de 
Jamanxin foi a mais desmatada da Amazônia entre 2012 e 2015. Nos últimos cinco anos, o 
desmatamento na Amazônia bateu recorde, e 83% da área devastada virou pastagem. Os 
estados mais atingidos são Pará e Rondônia, em áreas marcadas pelo avanço da fronteira 
agrícola. 
 
5.2. Comunidades Tradicionais e Resistências 
De acordo com o Decreto nº 6040 da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável 
dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), as comunidades tradicionais são 
definidas como “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que 
possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos 
naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e 
econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos por 
tradição". Exemplos de povos tradicionais brasileiros são os quilombolas, seringueiros, 
ribeirinhos, quebradeiras de coco babaçu, dentre outros. 
Os povos tradicionais ocupam terras produtivas e suas atividades, que fazem uso da 
natureza de forma sustentável, nem sempre atendem aosinteresses do capital, o que gera 
11 
 
conflitos especialmente no campo com grileiros, posseiros e latifundiários. Esses povos são 
fundamentais para a manutenção de Áreas Protegidas, e se mostram como resistência 
política e social às investidas do agronegócio nessas regiões. As atividades desses povos 
são de baixo impacto ambiental, além de fornecerem serviços ambientais e conservação das 
terras. 
Há uma crescente articulação política e formação de coletivos para a defesa dos 
interesses desses povos tradicionais e preservação da natureza, como o Movimento dos 
Ribeirinhos da Amazônia, Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras 
Rurais Quilombolas (CONAQ) e o Conselho Nacional dos Seringueiros (CSN). Essas 
organizações são importantes para a reafirmação das identidades de comunidades 
tradicionais e para suas reivindicações frente às instituições reguladoras. 
A bancada ruralista pressiona o governo para adoção de medidas que suspendam os 
poucos avanços conquistados pelas comunidades tradicionais. Em agosto deste ano a CNA 
e a FPA apresentaram um ofício ao presidente Michel Temer pedindo a revogação do 
Decreto nº 6040 e a suspensão do direito de demarcação de terras, alegando que o Decreto 
interfere no direito constitucional de proteção da propriedade privada e favorece ações que 
perturbam a ordem e a segurança. 
 
6. Considerações Finais 
A legislação ambiental é fundamental para a preservação e regulamentação do uso dos 
recursos naturais de forma sustentável, e que respeite a existência de povos tradicionais e 
suas atividades autônomas. O SNUC representa um avanço significativo para a conservação 
dos recursos naturais, além das leis citadas anteriormente. No entanto, o contexto atual é de 
retrocesso quanto às UCs e aumento do desmatamento da Amazônia, atendendo aos 
interesses do avanço da fronteira do agronegócio. O governo Temer foi marcado por 
diversas investidas da bancada ruralista para redução de APs e terras demarcadas, e a 
projeção do governo Bolsonaro é ainda mais crítica, a partir de declarações polêmicas do 
próprio presidente eleito em relação a demarcação de terras de povos tradicionais e 
indígenas, áreas protegidas e sua ligação com a bancada ruralista. 
 
 
 
 
12 
 
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