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Universidade Federal Fluminense Instituto de Geociências Departamento de Geografia Disciplina: Planejamento Territorial Docente: Ester Limonad Nomes: Bárbara Farias, Dafne Vinhaes, Leonardo Batista, Rafael Ribeiro e Vitor Penalva Legislação Ambiental Brasileira NITERÓI 2018 Sumário 1. Introdução .......................................................................................................... 2 2. Objetivos geral e específicos ............................................................................. 3 3. Códigos Florestais .............................................................................................. 3 3.1. Entendendo APP’s e RL’s .......................................................................... 4 4. Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) ................................ 4 5. Resistências ......................................................................................................... 9 5.1. Agronegócio vs. Legislação Ambiental ...................................................... 9 5.2. Comunidades Tradicionais e Resistências ................................................. 10 6. Considerações Finais ........................................................................................... 11 7. Bibliografia ........................................................................................................... 12 2 1. Introdução A legislação ambiental brasileira é uma das mais complexas e bem elaboradas do mundo, sendo criada com a finalidade de regulamentar o uso dos recursos naturais, sendo o principal meio para proteção e conservação do meio ambiente. Elaborada a partir do conceito de desenvolvimento sustentável sobretudo em um país de proporções continentais e vasta disponibilidade de áreas florestadas. É importante salientar que essa nova via de desenvolvimento, em âmbito mundial, foi uma alternativa a percepção dos danos causados pela exploração desenfreada dos recursos naturais. Segundo Mascarenhas (2004) O processo produtivo não precisa, necessariamente, prejudicar o meio ambiente. Se o destruirmos, de nada adiantará o processo produtivo – eis que também a nossa existência estará ameaçada. As leis de proteção ambiental tem 16 principais mecanismos, sendo estes: Lei do Patrimônio Cultural(1937); Lei das Florestas (1965); Lei da Fauna Silvestre (1967); Lei das Atividades Nucleares (1977); Lei do Parcelamento do Solo Urbano (1979); Lei de Zoneamento Industrial nas Áreas Críticas de Poluição (1980); Lei de Proteção Ambiental (1981), Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (1981); Lei do Gerenciamento Costeiro (1988); Lei da Criação do IBAMA (1989); Lei dos Agrotóxicos (1989); Lei da Exploração Mineral (1989); Lei da Política Agrícola (1991); Lei da Engenharia Genética (1995); Lei dos Recursos Hídricos(1997); Lei dos Crimes Ambientais (1998). Segundo o Grupo de Inteligência Territorial Estratégica -GITE e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA (2017), o Brasil mantém vegetação nativa preservada em 61% de seu território, sendo destes até 41% em áreas de Reserva Legal, Área de Proteção Permanente – APP, Unidades de Conservação e em terras Indígenas. Contudo, o histórico do Brasil com as leais de proteção ambiental vem desde o Brasil Colônia, com a importação das regulamentações portuguesas em relação ao meio ambiente. A primeira lei ambiental criada em território brasileiro foi o Regimento do Pau-Brasil (1605) que proibia a exploração da espécie sem que houvesse o consentimento da Coroa, com a pena de morte como uma das previsões aos transgressores. Até o fim do Império se destacaram também o Alvará de Regimento das Minas e estabelecimentos Metálicos (1802), A exigência de licenças para exploração de Pau-Brasil, Peroba e Tapinhoãs (1825) e uma série de leis elaboradas entre os anos de 1840 e 1858 que regulamentava a exploração de determinadas espécies nativas, dando origem ao termo “Madeira legal”. 3 Durante o Brasil República as leis ambientais progrediram de forma contínua, mesmo que lentamente, até a década de 70, tendo na constituição de 34, durante o Estado Novo, seu primeiro grande marco. No primeiro choque do Petróleo (1973), o Estado definiu que o desenvolvimento nacional deveria se sobrepor as questões ambientais. “A Delegação Brasileira na Conferência de Estocolmo declara que o país está aberto à poluição, porque o que precisa é dólares, desenvolvimento e empregos” (MEDINA, 2009). Essa dinâmica foi modificada com a elaboração do II Projeto Nacional de Desenvolvimento – PND (1975- 79), fortalecendo a política ambiental. Em 31 de Agosto de 1981 foi criado a Política Nacional de Meio ambiente, durante o III PND (1980-85), por meio da lei N° 6.938, sinalizando um grande avanço no direito ambiental, com a produção de diversas leis, decretos e resoluções, afim de otimizar a relação do desenvolvimento econômico/social com o meio ambiente. O Brasil reforçou sua posição quanto a preservação ambiental com a constituição de 1988, com destaque para criação do Programa Nossa Natureza, em 12 de outubro de 1988, IBAMA em 1989, Agência Nacional de Águas – ANA em 2000, a participação e organização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – ECO 92, no Rio de Janeiro em 1992 e a criação da Lei de Crimes Ambientais em 2000. 2. Objetivos geral e específicos Este trabalho tem como objetivo geral a identificação de leis que permeiam a legislação ambiental brasileiras e suas aplicações em território nacional. Os objetivos específicos são a delimitação de regiões do território afetados pelas leis, a identificação dos agentes atuantes e modificadores, além de órgãos reguladores que atuam sobre essas áreas, os mecanismos utilizados para a demarcação dessas áreas, os conflitos existentes entre diferentes esferas de poder, os interesses econômicos e as comunidades tradicionais e, por fim, as novas posturas do poder público em relação a questões ambientais. 3. Códigos Florestais O 1º Código Florestal foi criado em 1934, durante o governo de Getúlio Vargas, e tinha características preservacionistas, estabelecendo o uso da propriedade em função do tipo florestal remanescente (BRASIL, 1934). Este código também abordou o conceito de florestas protetoras em uma propriedade, no entanto, não indicava o tamanho dessas florestas, mas dando claras indicações da intenção de criar um conjunto de regras 4 específicas para o meio ambiente. Ao longo do tempo, o Poder Público sentiu a necessidade de interceder e estabelecer alguns limites através da criação oficial de outro Código Florestal. Tais medidas visavam a proteção das florestas e dos recursos hídricos, sendo entendidas como um ponto de partida às definições posteriores que abrangem as Áreas de Preservação Permanente. Com isso, no dia 15 de setembro de 1965, através da Lei n° 4.771/1965 foi instituído o novo código. Com este código, um importante disciplinador de atividades florestais foi criado, declarando as florestas existentes no território nacional como bens de interesse comum a toda a população, garantindo o direito de propriedade, além de determinar regras para a utilização, preservação e conservação das florestas e outras formas de vegetação em propriedades rurais, ou seja, as Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL) (BRASIL, 1965). 3.1. Entendendo APP’s e RL’s Os primórdios conceituais do quese conhece hoje como APP surgiram em 1934, com a edição do primeiro Código Florestal (Decreto nº 23.793/34). Por este Código, o que se considera “preservação permanente” estava prescrito no art. 4°, que se referia às florestas protetoras. Essas florestas, de acordo com a sua localização, serviam para conservar o regime das águas, evitar erosão e garantir a salubridade pública (BRASIL, 1934). Porém, o conceito de Área de Preservação Permanente, surgiu no Brasil através da Lei n° 4.771/1965 (BRASIL, 1965). A reserva legal (RL) é uma modalidade de área protegida no Brasil, e conforme o texto do Código Florestal de 1965 (BRASIL, 1965, Art. 1°, §2°, inciso III), onde reserva legal é “a área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção da fauna e flora nativas.” 4. Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) As unidades de conservação (UC) são áreas no território com características naturais consideradas relevantes no âmbito biológico, pois englobam uma parte dos diferentes 5 ecossistemas, habitats e populações existentes no território nacional e representam a preservação do rico patrimônio biológico presente. Além disso, essas áreas são marcadas pelo uso sustentável de recursos naturais por comunidades tradicionais, o que fortalece não apenas o advento de uma educação ambiental, mas também da diversidade de saberes que pode existir em determinado espaço. Tendo em vista o que foi dito, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC – Lei 9.985/2000) foi criado no intuito de efetivar a importância das UC, planejando-as e integrando-as de forma organizada e garantindo assim a permanência da diversidade biológica por todo o território nacional. Ele é administrado pelos governos federal, estadual e municipal e gerido por órgãos que vão desde o planejamento e monitoramento do sistema de UC até a implementação em si. São estes os principais órgãos responsáveis: Figura 1 - Fonte: mma.gov.br A união entre esses órgãos forma o sistema de gestão das unidades de conservação e auxiliam no cumprimento das normais impostas no SNUC, que atendem primordialmente aos seguintes objetivos: Proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica. Proteger as espécies ameaçadas de extinção. Preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais. Promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais. Órgão consultivo e deliberativo, representado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), acompanha a implementação do SNUC no território. Órgão central, representado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), tem por função coordenar diretamente todas as fases do SNUC. Órgãos executores, representados na esfera federal pelo Instituto Chico Mendes de Conservação de Biodiversidade (ICMBio) e pelo IBAMA, além das esferas estadual e municipal, implementam, subsidiam e administram as UC. 6 Conservação das variedades de espécies biológicas e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais. Promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento. Proteção geológica, morfológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural da natureza. Proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente. Proporcionar meio e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental. Recuperar ou restaurar ecossistemas degradados. Valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica. Favorecer condições e promover a educação e recreação com a natureza. Tabela 1 - Fonte: mma.gov.br Através da exposição dos objetivos, há a divisão das unidades de conservação em grupos, divididos em dois: Uso de Proteção Integral e Uso Sustentável. A diferença entre ambos está, conceitualmente, na categoria de uso em que se inserem. O grupo de Proteção Integral está contido em um caráter preservacionista, ou seja, de não-uso direto dos recursos naturais. Neste caso, portanto, só se encontram atividades de uso indireto, como o turismo ecológico, a pesquisa científica, a educação ambiental e, em alguns casos, a possibilidade de trilhas esportivas. As unidades de Proteção Integral são categorizadas em cinco tipos diferentes: 1. Estação Ecológica, cuja área é delimitada para a proteção da natureza e a realização de pesquisas científicas, mas apenas voltadas a esse fim. Um exemplo desse tipo de unidade está entre os estados de Tocantins e Bahia, a Serra Geral dos Tocantins, marcada por uma riqueza hídrica preservada. 2. Reserva Biológica, cuja área é voltada à preservação da diversidade biológica e as únicas ações diretas permitidas são para a recuperação de ecossistemas já alterados e manutenção do equilíbrio natural. A única forma de visitação permitida é a voltada a educação. Um exemplo de Reserva Biológica está em Atol das Rocas, no Rio Grande do Norte, próximo à área de Fernando de Noronha. 3. Parque Nacional, destinado a preservação dos ecossistemas naturais, além do mantimento de locais com beleza cênica. Esta é uma categoria mais abrangente, pois 7 permite, além do uso para a educação e pesquisa científica, a atividade turística e recreativa. Um exemplo desse tipo de unidade de conservação é o Parque Nacional do Iguaçu, na cidade de Foz do Iguaçu (PR) que contém uma variedade de espécies preservadas em todo a sua área delimitada, a presença de um hotel dentro do parque, além das Cataratas do Iguaçu, com forte apelo turístico. 4. Monumento Natural, voltado a preservação de locais considerados singulares, raros e, portanto, com forte beleza cênica. A principal atividade nestes locais é o turismo e, diferentemente das categorias anteriores, os monumentos naturais podem conter áreas particulares, desde que estes sigam os objetivos da UC e mantenham a área intacta. Um exemplo de Monumento Natural é o Salto São Francisco, no município de Prudentópolis (PR), que conquistou essa categorização apenas em 2013, com a reivindicação das comunidades locais. 5. Refúgio da Vida Silvestre, cujas áreas são destinadas a preservação para a existência e reprodução de espécies e comunidades da fauna e flora nativas. São abertas à visitação e, assim como os monumentos naturais, também podem conter áreas particulares. Um bom exemplo desse tipo de UC está no Pantanal Mato Grossense, no Refúgio Ecológico Caiman, que busca manter preservadas as espécies de Vitória-Régia locais, a permanência de jacarés, além das onças-pintadas, ameaçadas de extinção. Ao contrário do que é implantado nas unidades de conservação de Proteção Integral, as Unidades de Uso Sustentável mantêm uma lógica conservacionista, ou seja, é permitido o uso direto dos recursos naturais do local, desde que mantenham o equilíbrio dinâmico natural e não venham a esgotar qualquer tipo de recurso ambiental disponível. Desta forma, são essas as unidades que possuem atividade econômica inserida, além da presença de diversas comunidades tradicionais que se mantêm naquelas áreas por gerações. Essas unidades podemser categorizadas em sete tipos: 1. Área de Proteção Ambiental (APA), que costuma ser uma área extensa voltada a proteção da diversidade biológica, a organização da ocupação humana e o mantimento da sustentabilidade no uso dos recursos naturais. Elas podem ser públicas ou privadas e normalmente são encontradas em locais de grande interesse ecológico. Um dos 8 exemplos de APA está em Paraty, no Rio de Janeiro, e esta sofre constantemente com a atividade econômica predatória, o que vai contra as leis ambientais vigentes no SNUC.O monitoramento tem sido crescente no local, mas ainda se mostra ineficiente. 2. Área de Relevante Interesse Ecológico, cujo objetivo é a preservação de ecossistemas naturais de importância local ou regional. Pode ser explorada de forma sustentável, porém, por serem áreas de pouca ou nenhuma ocupação humana e de pequena extensão, costumam se manter com o equilíbrio dinâmico natural quase idêntico. Pode ser constituída por terras públicas e privadas. Um exemplo dessa categoria é a Mata do Cipó, no Sergipe, que possui uma beleza cênica singular. 3. Floresta Nacional (FLONA), cuja cobertura agrega uma série de espécies nativas, além da permanência de moradia as comunidades tradicionais que habitam esses locais desde sua criação. É permitida a exploração sustentável, a subsistência e a pesquisa científica. Um exemplo é a Floresta Nacional dos Tapajós, que abarca os municípios de Aveiro, Belterra, Placas e Rurópolis, no estado do Pará, e mantém um plano de manejo florestal comunitário e a presença de três aldeias indígenas (Bragança, Marituba e Takuara). 4. Reserva Extrativista (RESEX), utilizada por populações extrativistas tradicionais que mantêm nesses locais suas atividades principais, além da agricultura de subsistência e da criação de animais de pequeno porte. Ela permite a visitação pública, além da pesquisa científica e conseguem garantir, além do uso sustentável do látex, a permanência da cultura da comunidade extrativista, que prova manter hábitos para além da atividade econômica. Um exemplo de Reserva Extrativista é a Delta do Parnaíba, localizada entre os estados de Ceará, Piauí e Maranhão e que contém, além das atividades citadas anteriormente, forte beleza cênica. 5. Reserva de Fauna, voltada aos estudos técnico-científicos de manejo sustentável de recursos faunísticos. Podem conter espécies nativas terrestres ou aquáticas e costumam ser alvo constante de resistências no que diz respeito ao cumprimento da lei, pois a pesca predatória nesses locais permanece em vigência. Um exemplo dessa Reserva de Fauna está na Baía de Babitonga, em Santa Catarina, cuja pesca e caça predatória tem feito com que as espécies nativas tenham reduzido drasticamente o seu número. Apesar da 9 proteção garantida por lei, o monitoramento fraco permite que as atividades econômicas permaneçam com a exploração desenfreada e não-sustentável nesses locais. 6. Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), mantém sistemas sustentáveis de exploração de recursos naturais por meio da vivência e experiências de comunidades tradicionais, que promovem uma educação ambiental adaptada as condições locais. Um exemplo está em Ilha Grande, em Angra dos Reis (RJ), cujo local é marcado pela cultura e modo de vida caiçara. 7. Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), que são criadas a partir da iniciativa do proprietário privado, buscando apoio de órgãos integrantes do SNUC para o mantimento da conservação da diversidade biológica. Essa iniciativa é dada, principalmente, pelos benefícios fiscais e bonificações dadas pelos órgãos ambientais a quem cumpre as leis do SNUC, além da proteção garantida em suas terras. A rentabilidade destes se dá pela pesquisa científica e pela atividade turística. Um exemplo dessa categoria é a RPPN Feliciano Miguel Abdala, dentro do município de Muriqui (MG), que possui forte beleza cênica e investe na atividade turística local. 5. Resistências 5.1. O Agronegócio vs. Legislações Ambientais O agronegócio, associado a outros grupos que têm interesse em terras protegidas, como a mineração, vem ganhando destaque e representação política nas esferas legislativas. Assim, além de adotarem práticas ilegais de posse de terra, desmatamento de áreas protegidas e violência no campo com o objetivo de expandir suas propriedades, empresários da agropecuária fazem uso de influência política e econômica para flexibilização de leis ambientais a seu favor. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) – que consiste na bancada ruralista institucionalizada - e o Instituto Pensar Agropecuária (IPA) são exemplos de grupos políticos que representam os interesses do agronegócio na Câmara. Os reflexos dessa atuação política são vistos nas mudanças de leis ambientais recentes. Com o Novo Código Florestal, adotado em 2012, houve revisão e redução de APs, anistia de desmatamento ilegal feita antes de 2008 e aplicação de sanções, redução das APPs em margens de rios de 30m para 5m, dentre outras mudanças favoráveis a atividades 10 produtivas, abertura de estradas e construção de hidrelétricas em áreas protegidas. Destaca- se também a criação de projetos de lei como a PL 3751-2015 de Toninho Pinheiro (PP – MG), que pretende tornar obsoleta a criação de UCs cujos proprietários não receberam indenização em cinco anos e impede a criação de novas UCs sem prévia indenização. A perda estimada pelo ICMBio com esta proposta é de pelo menos 56 mil quilômetros quadrados de áreas conservadas. O governo de Michel Temer marcou o retrocesso na questão ambiental com adoção de medidas provisórias de revisão de áreas protegidas. Um exemplo disto é a Floresta Nacional de Jamanxin (PA), criada para conter o desmatamento na região da BR - 163. No âmbito das Unidades de Conservação (UCs), a categoria de Floresta Nacional garante maiores restrições quanto ao uso e ocupação da terra. Uma Medida Provisória e um Projeto de Lei foram enviados ao Congresso pedindo a redução da Flona de Jamanxin, em que parte de seu perímetro passe a ser Área Protegida, uma categoria menos restritiva de unidade de conservação. A justificativa para esta medida é a de que com a redução de Jamanxin os conflitos por terra e desmatamento sejam reduzidos, atendendo aos interesses de todos. No entanto, estima-se que a criação de áreas protegidas na região seja altamente lucrativa para o agronegócio, uma vez que nas APs é permitida a posse privada de terras. A Flona de Jamanxin foi a mais desmatada da Amazônia entre 2012 e 2015. Nos últimos cinco anos, o desmatamento na Amazônia bateu recorde, e 83% da área devastada virou pastagem. Os estados mais atingidos são Pará e Rondônia, em áreas marcadas pelo avanço da fronteira agrícola. 5.2. Comunidades Tradicionais e Resistências De acordo com o Decreto nº 6040 da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), as comunidades tradicionais são definidas como “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos por tradição". Exemplos de povos tradicionais brasileiros são os quilombolas, seringueiros, ribeirinhos, quebradeiras de coco babaçu, dentre outros. Os povos tradicionais ocupam terras produtivas e suas atividades, que fazem uso da natureza de forma sustentável, nem sempre atendem aosinteresses do capital, o que gera 11 conflitos especialmente no campo com grileiros, posseiros e latifundiários. Esses povos são fundamentais para a manutenção de Áreas Protegidas, e se mostram como resistência política e social às investidas do agronegócio nessas regiões. As atividades desses povos são de baixo impacto ambiental, além de fornecerem serviços ambientais e conservação das terras. Há uma crescente articulação política e formação de coletivos para a defesa dos interesses desses povos tradicionais e preservação da natureza, como o Movimento dos Ribeirinhos da Amazônia, Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e o Conselho Nacional dos Seringueiros (CSN). Essas organizações são importantes para a reafirmação das identidades de comunidades tradicionais e para suas reivindicações frente às instituições reguladoras. A bancada ruralista pressiona o governo para adoção de medidas que suspendam os poucos avanços conquistados pelas comunidades tradicionais. Em agosto deste ano a CNA e a FPA apresentaram um ofício ao presidente Michel Temer pedindo a revogação do Decreto nº 6040 e a suspensão do direito de demarcação de terras, alegando que o Decreto interfere no direito constitucional de proteção da propriedade privada e favorece ações que perturbam a ordem e a segurança. 6. Considerações Finais A legislação ambiental é fundamental para a preservação e regulamentação do uso dos recursos naturais de forma sustentável, e que respeite a existência de povos tradicionais e suas atividades autônomas. O SNUC representa um avanço significativo para a conservação dos recursos naturais, além das leis citadas anteriormente. No entanto, o contexto atual é de retrocesso quanto às UCs e aumento do desmatamento da Amazônia, atendendo aos interesses do avanço da fronteira do agronegócio. O governo Temer foi marcado por diversas investidas da bancada ruralista para redução de APs e terras demarcadas, e a projeção do governo Bolsonaro é ainda mais crítica, a partir de declarações polêmicas do próprio presidente eleito em relação a demarcação de terras de povos tradicionais e indígenas, áreas protegidas e sua ligação com a bancada ruralista. 12 7. Bibliografia Ambientais, C., Nascentes, C., Pastagens, C., Florestal, C., & Legal, C. (2018). Código Florestal Brasileiro Completo e Atualizado - Lei 12.727/2012. Retrieved from https://www.cpt.com.br/codigo-florestal/codigo-florestal-brasileiro-completo-e-atualizado-lei- 127272012 Capa Comunidades Tradicionais. (2018). Retrieved from http://www.seppir.gov.br/comunidades-tradicionais/o-que-sao-comunidades-tradicionais CGTI, A. (2018). Unidades de Conservação. Retrieved from http://www.mma.gov.br/areas- protegidas/unidades-de-conservacao Conheça a Legislação Ambiental Brasileira. (2018). 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