Buscar

AULA 04 E 05 - TEORIA GERAL DO NEGOCIO JURIDICO 1

Prévia do material em texto

TEORIA GERAL DO NEGÓCIO JURÍDICO
ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO. DISTINÇÃO ENTRE ATO E NEGÓCIO JURÍDICO
Os simples atos jurídicos (ou atos jurídicos “stricto sensu”) são fatos voluntários cujos efeitos se produzem, mesmo que não tenham sido previstos ou queridos por seus autores, ainda que haja concordância entre as vontades destes e os referidos efeitos. Não é necessária, então, uma vontade de produção de efeitos.
Os negócios jurídicos são fatos voluntários, cujo núcleo essencial é integrado por uma ou mais declarações de vontade a que o ordenamento jurídico atribui efeitos concordantes com o conteúdo da vontade das partes.
Os efeitos dos negócios jurídicos produzem-se “ex voluntate” e não apenas “ex lege”. É o que sucede com o contrato e com o testamento.
Então, ao contrário do que ocorre com os negócios jurídicos, os efeitos dos simples atos jurídicos produzem-se “ex lege” e não “ex voluntate”. São exemplos, a interpelação do devedor, a criação de uma obra artística, a adoção, o casamento.
Assim, a produção de efeitos jurídicos, no ato jurídico simples, está prevista em lei, não tendo especial atenção a vontade do(s) agente(s); já o negócio jurídico, ao contrário, não produz efeitos que o agente não tenha querido.
Por fim, é de se salientar que os ATOS JURIDICOS (aqui está a se falar de atos jurídicos simples e negócios jurídicos) são, em primeiro lugar, fatos jurídicos voluntários lícitos e, dentro desta categoria, distinguem-se dos fatos jurídicos em sentido estrito por se constituírem sobre uma declaração de vontade. 
A declaração de vontade é, portanto, o primeiro elemento que distingue o ATO JURIDICO de todos os outros fatos voluntários com que ele possa se assemelhar (ato lícito de conduta como, por exemplo, a quitação de uma obrigação). 
NEGÓCIO JURÍDICO: CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO
CONCEITO
Os negócios jurídicos são atos jurídicos constituídos por uma ou mais declarações de vontade, dirigidas à realização de certos efeitos práticos, com intenção de os alcançar sob a tutela do direito, determinando o ordenamento jurídico produção de efeitos conformes à intenção manifestada pelo declarante ou declarantes.
O que é verdadeiramente constitutivo do negócio é o comportamento declarativo – a existência de um comportamento que, exteriormente observado, apareça como manifestação de vontade de certos efeitos práticos sob a sanção do ordenamento jurídico.
CLASSIFICAÇÃO
QUANTO AO NÚMERO DE PARTES COMPONENTES
Note-se, em primeiro lugar, que parte não é sinônimo de pessoa. Cada parte pode se formar por uma ou várias pessoas, com interesses análogos. 
Diante disso, classificam-se em:
- UNILATERAIS: se formam com apenas uma manifestação de vontade. Ex.: testamento, doação, a promessa de recompensa.
- BILATERAIS E PLURILATERAIS: se formam com a declaração de vontade de mais de uma parte. Ex.: contratos. 
	Vale lembrar que há atos jurídicos (e não negócios) que são bilaterais, como casamento e adoção, por exemplo. 
B) QUANTO ÀS VANTAGENS DECORRENTES OU PROVEITO ECONÔMICO
- ONEROSOS: geram vantagens e sacrifícios para ambas as partes. Ex.: compra e venda, locação, permuta.
- GRATUITOS: quando uma das partes concede à outra parte vantagens sem contraprestação. Ex.: doação, comodato.
QUANTO ÀS FORMALIDADES A SEREM OBSERVADAS
- SOLENES: têm sua forma prevista em lei, para que não haja dúvida quando de sua interpretação. Ex.: testamento, alienação de imóvel acima de certo valor, constituição de hipoteca.
- NÃO SOLENES: são os que podem ser realizados de qualquer modo. 
QUANTO AO TEMPO EM QUE SE DEVEM PRODUZIR OS EFEITOS
- INTER VIVOS: devem ser produzidos em vida das partes.
- MORTIS CAUSA: a morte é pressuposto necessário à produção de efeitos. Ex.: testamento.
�
TEORIA GERAL DO NEGÓCIO JURÍDICO
(PARTE II)
1. O PAPEL DA VONTADE NO NEGÓCIO JURÍDICO: TEORIA DA VONTADE, TEORIA DA DECLARAÇÃO E TEORIA DA CONFIANÇA. 
	O negócio jurídico é declaração de vontade que se destina à produção de certos efeitos jurídicos que o sujeito pretende e o Direito reconhece. Seu elemento essencial é a vontade, que se dá a conhecer por meio da respectiva declaração.
	Todavia, pode ocorrer que a vontade exteriorizada seja diversa da vontade real. Daí surge um problema, que deve ser tratado pelo seguinte prisma: devemos dar preferência à vontade, frente à declaração, ou o contrário? Como ficam os interesses do destinatário e dos terceiros de boa-fé, no caso de se fazer valer a vontade, em detrimento da declaração? Como ficam os interesses do declarante, no caso de se fazer a declaração, em detrimento da vontade real?
	Para solucionar tal problema, a doutrina formulou as seguintes teorias:
TEORIA DA VONTADE
Para tal teoria, que é subjetiva e voluntarista, o negócio jurídico é essencialmente vontade, a que deve corresponder exatamente a sua forma de declaração, que é simples instrumento de manifestação dessa vontade. Esta teoria, naturalmente, protege os interesses do declarante.
TEORIA DA DECLARAÇÃO
Para tal teoria, a eficácia do ato depende exclusivamente da declaração, independentemente dela corresponder ou não à vontade do declarante. Com ele protege-se não mais o declarante, mas sim o destinatário e terceiros de boa-fé e, conseqüentemente, a circulação de direitos.
Todavia, ambas as teorias são inaceitáveis em suas posições extremas, que seriam, para a teoria subjetiva ou da vontade, a nulidade do negócio, e no caso da objetiva ou da declaração, a validade do negócio, desde que de boa-fé o destinatário.
Assim, para evitar extremos, desenvolveram-se outras duas teorias, que mitigam a posição das teorias acima mencionadas: a teoria da responsabilidade e a teoria da confiança.
TEORIA DA RESPONSABILIDADE
Esta teoria é mais ligada à vontade, pois havendo divergência entre esta e a declaração, responde o declarante pelos danos que causar, se tiver culpa na divergência. Assim, quem emite declaração de vontade no comércio jurídico sujeita-se às conseqüências decorrentes.
TEORIA DA CONFIANÇA
Esta teoria é mais próxima da declaração, pois por ela se entende que a declaração prevalece sobre a efetiva vontade quando tenha suscitado legítima expectativa no destinatário, conforme as circunstâncias objetivas. Assim, não havendo boa-fé do destinatário, não prevalece a declaração e o negócio é anulado. 
CONCLUSÃO
	O sistema brasileiro adota um critério em que tem relevância a confiança despertada no destinatário, com sua boa-fé, e com os usos do lugar da celebração do negócio, numa evidente concessão à teoria da confiança. Todavia, quando se trata de erro (sobre o qual falaremos na próxima aula), é dominante a teoria subjetiva.
2. Interpretação do negócio jurídico. Critério subjetivo e critério objetivo. Boa-fé e confiança.
	Interpretar o negócio jurídico é procurar o sentido e o significado da regra jurídica que nasce da declaração de vontade; é precisar o sentido juridicamente relevante do conteúdo da declaração de vontade, vale dizer, os direitos, faculdades, deveres e pretensões dela decorrentes. É preciso procurar conhecer, então, tanto a intenção do declarante quanto o sentido da declaração.
	Segundo o art. 112, do CCB, “nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem”. Ora, é sabido que a interpretação literal dos textos é muito pobre, o que pode levar a uma conclusão equivocada sobre o seu sentido e significado. Não é o melhor método de interpretação, mas sim apenas um passo (por óbvio, o primeiro, pois se liga à leitura) a se enfrentar no processo da interpretação de textos. 
	Diante disso, devemos voltar a debater as teorias expostas no item anterior, notadamente a teoria da confiança, com o acréscimo necessário do princípio da boa-fé que traduz a correção, a lisura, a retidão ou lealdade recíproca com que as pessoas devem agir no exercício de seus direito ou no cumprimento de suas obrigações. Também devemos observar o contexto e o fim econômicodo negócio jurídico.
	Em resumo, o respeito à boa-fé e à confiança dos destinatários, assim como a responsabilidade do declarante, devem combinar-se no sentido de se precisar a intenção do agente consubstanciada na declaração, não a simples intenção ou vontade interna, psicológica. A interpretação jurídica não deve procurar a vontade interna das partes, mas sim a vontade expressa objetivamente na declaração, com o sentido que for objetivo para as partes.
	Saltam, assim, duas regras para interpretação dos negócios jurídicos: (i) as cláusulas não devem ser consideradas isoladamente, mas sim no seu contexto e, (ii) devem-se considerar também as disposições legais, de caráter imperativo, dispositivo e supletivo, bem como os usos e costumes do lugar da celebração do negócio.
CONCLUSÃO
	Diante disso, podemos concluir que em relação aos negócios jurídicos bilaterais deve-se buscar a vontade real na declaração, levando-se em conta o conjunto das cláusulas da declaração, o objetivo das partes e as circunstâncias em que se praticou o ato.
	Já nos negócios jurídicos gratuitos, prevalece o critério subjetivo sobre o objetivo, considerando-se a circunstância de que o declarante pratica uma liberalidade, aumentando o patrimônio do destinatário, sem contraprestação equivalente, critério também aplicável no caso de atos de renúncia de direitos, pelas mesmas razões.
	Por fim, nos negócios jurídicos mortis causa (mais especificamente o testamento), adota-se o critério subjetivo (art. 1.899, do CCB: quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador.).

Continue navegando