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CAPÍTULO – VI MANEJO REPRODUTIVO VI.I INTRODUÇÃO As condições impostas por uma economia estabilizada e globalizada, a competição de outras culturas pelo uso da terra e de carne de outras espécies pelo consumidor, devem forçar os pecuaristas a serem mais eficientes. Dentre os fatores que afetam primariamente a renda bruta, especialmente para fazendas de cria ou ciclo completo, estão os índices reprodutivos. Neste contexto, a fertilidade passa a exercer um papel fundamental, já que determina o número de animais disponíveis para a venda, o que influencia a renda bruta anual cerca de cinco vezes mais do que a taxa de crescimento. Assim, medidas que permitam otimizar os índices reprodutivos assumem grande importância. Para que a eficiência reprodutiva seja alcançada, a boa nutrição dos animais e o controle sanitário tornam-se essenciais. A maior parte dos problemas reprodutivos deve-se ao consumo insuficiente de energia e proteína; a deficiência de minerais geralmente ocasiona redução no consumo e na utilização do alimento, tendo efeito indireto. A reprodução consiste em assegurar a manutenção da espécie. A capacidade de produção dos órgãos reprodutores apresenta relação bastante estreita com a saúde e a capacidade de adaptação dos animais. Esses órgãos só começam a desempenhar suas funções quando os animais atingem a puberdade (início da maturidade sexual). A chegada da maturidade varia com: a) a raça b) a linhagem c) o indivíduo d) a saúde animal e) a nutrição balanceada f) o manejo adequado MEIO AMBIENTE → PUBERDADE ← GENÉTICA ↑ ALIMENTAÇÃO VI.II CONCEITOS BÁSICOS • ANATOMIA E FISIOLOGIA REPRODUTIVA DO MACHO O aparelho genital masculino dos bovinos consiste em dois testículos contidos na bolsa escrotal, órgãos acessórios (glândulas e ductos) e o pênis. A) TESTÍCULOS: A função dos testículos consiste na formação dos espermatozóides e na secreção da testosterona, o hormônio masculino. Sob a influência da testosterona, há o desenvolvimento das características sexuais secundárias masculinas e o estímulo para a formação do sêmen. B) EPIDÍDIMO: Composto de cabeça, corpo e cauda do epidídimo. É nessa estrutura que se dá a maturação dos espermatozóides. C) DUCTO DEFERENTE: É um canal que, no momento da ejaculação, propele os espermatozóides da cauda do epidídimo para o ducto ejaculatório da uretra prostática. D) CORDÃO ESPERMÁTICO: É composto de: a) ducto deferente; b) músculo cremaster → responsável pela termorregulação testicular. c) artéria e veia testicular → além do suprimento sangüíneo, ajudam a abaixar a temperatura testicular; d) nervo testicular; e) vasos linfáticos. E) GLÂNDULAS SEXUAIS ACESSÓRIAS: a) vesículas seminais → glândulas compactas secretoras de substâncias nutritivas e tamponantes para o sêmen; b) próstata → produz uma secreção alcalina para neutralizar o pH ácido da uretra masculina. È responsável pelo odor característico do sêmen; c) bulbouretrais → produz uma secreção rica em mucina (muco). F) PÊNIS: O órgão copulador masculino é chamado pênis ou verga e pode ser dividido em três regiões principais: a) glande → é a extremidade livre; b) corpo → é a porção principal; c) raízes ou Pilares → fixam o pênis na pélvis. O pênis dos bovinos apresenta duas flexões, em forma de “S”. Durante o estímulo sexual, o S se desfaz por relaxamento, expondo-o através do prepúcio. G) PREPÚCIO: Prega de pele que circunda a extremidade do pênis quando não está em ereção. H) BOLSA ESCROTAL: As principais funções da bolsa são: a) alojar os testículos b) proteger os testículos c) manter a temperatura testicular cerca de 4ºC mais baixa do que a temperatura corporal A bolsa escrotal dispõe de três mecanismos para manter baixa a temperatura testicular: a) a pele é cerca de 2/3 mais fina do que o restante do corpo; b) o músculo cremaster eleva-o para próximo ao corpo em dias frios e abaixa-os em dias quentes; c) a rede de artérias e veias resfria o sangue que chega aos testículos. • ANATOMIA E FISIOLOGIA REPRODUTIVA DA FÊMEA A reprodução na fêmea é um processo complexo que envolve todo o corpo do animal. O sistema reprodutivo é formado de dois ovários, duas trompas de Falópio, útero, vagina e vulva. A) OVÁRIOS: São glândulas que produzem os óvulos e hormônios (estrógeno e progesterona). Sob a influência do estrógeno, há o desenvolvimento das características sexuais secundárias na fêmea. B) TROMPAS DE FALÓPIO: São também conhecidas por ovidutos ou tubas uterinas. São dois tubos que conduzem os óvulos de cada ovário para o útero, e é o local onde ocorre a fertilização do óvulo pelo espermatozóide. C) ÚTERO: É formado por dois cornos uterinos, corpo do útero, colo uterino (cérvix). O corno uterino é o lugar onde ocorre o desenvolvimento do feto. A cérvix ou o colo do útero permanecem bem fechados, exceto durante o cio e o parto, servindo de proteção contra a invasão de material infectante. Durante a gestação, no útero encontram-se pequenas projeções chamadas de carúnculas que se ligam aos cotilédones da placenta, originando os placentomas. D) VAGINA: Órgão tubular de pH ácido que serve de proteção contra infecções. Na vagina encontra-se o meato urinário e as glândulas de Bartholin (muco lubrificante). E) VULVA: É a parte externa da genitália feminina. Na parte inferior está localizado o clitóris (órgão excitatório). • CICLO ESTRAL: As fêmeas bovinas entram em cio a intervalos claramente regulares. Esse intervalo entre o início do período do cio e o início do próximo é denominado ciclo estral. O ciclo estral dos bovinos resulta de uma seqüência de eventos bem orquestrados que envolvem várias estruturas e uma porção de hormônios advindos de diferentes partes do corpo. O ciclo estral é controlado diretamente pelos hormônios ovarianos e indiretamente pelos hormônios hipofisários (cérebro). Durante o ciclo estral ocorrem mudanças em todo o aparelho reprodutivo da fêmea, com o objetivo de liberar um ovócito em condições de ser fecundado, permitir o transporte dos gametas ao local de fecundação, proporcionar condições para que ocorra uma fecundação normal, transportar o zigoto para o útero e preparar o útero para receber o embrião e para o desenvolvimento da prenhez. O ciclo estral possui quatro fases distintas: A) PRÓ-ESTRO: (dura em média três dias na vaca) É uma fase preparatória na qual se percebe alteração no comportamento da fêmea, como inquietação, perda do apetite, micção freqüente (urina), e a vaca monta sobre as companheiras, mas não se deixa montar, não há cópula. B) ESTRO: (dura em média de 12 a 18horas) Essa fase compreende o cio propriamente dito, o período de receptividade sexual da fêmea. As principais alterações de comportamento são: há presença de muco; mais inquietação; perda do apetite; micção mais freqüente; a vaca em cio deixa-se montar pelas companheiras, rufião ou reprodutor; mugidos freqüentes; arqueamento e estiramento da coluna; a fêmea procura pelo macho; há cópula ou inseminação artificial. C) META-ESTRO: (duração média de três dias) Cessação súbita de cio, desaparece tolerância à monta, o comportamento volta ao normal, com indiferença pelo macho. A ovulação na vaca ocorre de forma espontânea, sem necessidade de cópula. D) DIESTRO: duração média de 15 dias. É conhecido também como anestro fisiológico. Se não houver a fertilização, um novo ciclo recomeça. Mas, se houver a fecundação, o aparelho reprodutivoé mobilizado como um todo para garantir a sobrevivência do embrião/feto. • PUERPÉRIO: É o período compreendido entre o final do parto e a próxima ovulação, com o retorno do útero ao tamanho normal e restabelecimento do ciclo estral. Também conhecido como pós-parto. O intervalo entre partos é muito afetado pela nutrição. O desencadeamento do primeiro cio após o parto é influenciado pelo nível de nutrição antes e após o parto; pela condição orgânica no parto, pela lactação, distocias, raça e idade da vaca. A necessidade econômica dos partos ocorrerem com um intervalo de 12 meses, tem estimulado considerável número de pesquisas nesta área. GESTAÇÃO DE BOVINOS: 290 dias DURAÇÃO DE UM ANO: 365 dias DIAS PARA RECUPERAÇÃO E NOVA PRENHEZ: 75 VI.III AVALIAÇÃO DO REBANHO • ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DO REBANHO Categorias de fêmeas → bezerras, novilhas, vacas de primeira cria, vacas adultas. Categorias de machos → bezerros, garrotes, touros. • TOUROS O impacto da fertilidade do touro no desempenho reprodutivo do rebanho é diversas vezes mais importante do que o da vaca, pois a expectativa é de que cada touro cubra pelo menos 25 vacas. Touros de baixa fertilidade, por permanecerem longo tempo no rebanho, causam grandes prejuízos na produtividade do sistema, quando não diagnosticados em tempo hábil. Além disso, deve-se lembrar que eles contribuem com a metade do material genético de todas as crias, enquanto é esperada de cada vaca a desmama anual de um bezerro. Para eliminar as perdas causadas por subfertilidade e infertilidade, a capacidade reprodutiva dos touros deve ser avaliada antes da monta ou repasse, por meio de um exame andrológico completo. Essa avaliação deve ser conduzida de modo a possibilitar tempo suficiente para a substituição e adaptação dos touros adquiridos. Desde que os touros a serem avaliados não sofram restrição alimentar, durante a seca, o exame poderá ser feito em torno dos 60 dias antes do início da estação de monta. Essa avaliação deve incluir: a) exame físico, onde são observadas todas as condições que possam interferir com a habilidade de monta, tais como: defeitos de aprumos, condição corporal, incidência de doenças, problemas respiratórios e de dentição e outros; b) exame do reprodutivo, para diagnóstico de anormalidades dos órgãos genitais internos e externos. O perímetro escrotal é um excelente indicador da produção espermática e da precocidade sexual das filhas e irmãs; c) avaliação das características físicas (volume, aspecto, cor, pH, motilidade, vigor, turbilhonamento, concentração e porcentagem de espermatozóides vivos e mortos) e morfológicas (defeitos maiores, menores e total de defeitos) do sêmen; d) avaliação da libido (desejo de procurar a fêmea e completar a monta). Touros considerados férteis podem apresentar baixa libido, reduzindo a capacidade de monta; e) capacidade de monta (relação touro/vaca). Com relação aos touros mais jovens, recomenda-se que sejam colocados com as novilhas, pois eles poderão ter dificuldades em cobrir as vacas adultas. Outro ponto importante é não colocar no mesmo pasto touros adultos e jovens, pois os adultos, por causa da dominância social, poderão impedir o desempenho dos demais. • CONDIÇÃO CORPORAL DAS VACAS AO PARTO: A avaliação da condição corporal das fêmeas é uma ferramenta extremamente útil no manejo reprodutivo. O emprego dessa prática, em ocasiões estratégicas, permite que correções no manejo nutricional possam ser efetuadas a tempo, de modo que os animais apresentem as condições mínimas no momento desejado. Diversos trabalhos de pesquisa demonstraram que é alta a correlação entre a condição corporal ao parto e o desempenho reprodutivo no pós-parto. Vacas com boas condições corporais ao parto retornam ao cio mais cedo e apresentam maiores índices de concepção. Portanto, o monitoramento da condição corporal, no terço final de gestação, pode indicar a necessidade de ajustes nos níveis nutricionais, de modo que, ao parto, a condição corporal seja atingida. O sistema de avaliação da condição corporal mais utilizado é aquele no qual a pontuação varia na escala de 1 a 9, conforme descrito na Tabela 1. O ciclo estral se mantém quando a condição corporal é de 4 ou maior ao parto. Para se obterem bons índices reprodutivos, os animais devem ser manejados de modo que venham a parir com uma condição entre 5 e 7. TABELA 1. Sistema de escore visual para avaliação corporal das vacas de cria. Escore Condição corporal Observações 1 a 3 Muito magras Falta de musculatura. Espinhas dorsais agudas ao tato. Ílios, ísquios, inserção da cauda e costelas proeminentes. 4 Magras Costelas, ancas e ísquios ainda visíveis. Processo transverso das vértebras lombares não podem ser visto individualmente. Garupa ligeiramente côncava. 5 Moderada Paleta, coxão e garupa com cobertura muscular média. Últimas costelas visíveis, boa musculação sem acúmulo de gordura. 6 Boa Espinhas dorsais não podem ser vistas, mas podem ser sentidas. As pontas da anca não são mais visíveis. Boa musculatura e alguma gordura na inserção da cauda. Aparência lisa. 7 Gorda Animal suavemente coberto de musculatura, mas os depósitos de gordura não são acentuados. As espinhas dorsais podem ser sentidas com pressão firme, mas são mais arredondadas que agudas. Cupim bem cheio e acúmulo de gordura na inserção da cauda. 8 a 9 Muito gorda Acúmulo de gordura, visível principalmente na inserção da cauda, úbere, peito e linha do dorso. Espinhas dorsais, costelas, pontas de anca e ísquios cobertos de musculatura não podem ser sentidos, mesmo com pressão firme. Fonte: Nicholson & Butterworth (1986). A categoria que apresenta maior problema é a das vacas primíparas. Essas vacas ainda têm uma demanda relativamente alta para crescimento, amamentação e necessitam recuperar a condição corporal para o próximo parto. É fácil treinar o pessoal de campo para utilizar a avaliação da condição corporal. A princípio, a separação dos animais quanto à condição corporal pode ser bastante simples: três grupos formados com vacas magras, condição moderada e gordas. O refinamento da técnica, com a distribuição de valores de 1 a 9, pode ser feito quando se ganha maior confiança pela equipe (Figuras 1 a 4). O momento de avaliação das mudanças de condição corporal pode ser determinado em épocas estratégicas: d) à época da palpação e) ao início da estação de monta f) à desmama (abril/maio), que coincide com o início do período da seca. Nessa ocasião, as fêmeas prenhes que estiverem muito magras (escore abaixo de 4) deverão receber suplementação alimentar para que atinjam escore de 5 a 6 ao parto. Fig. 1. Vaca com escore corporal 2 (muito magra). Fig. 2. Vaca com escore corporal 2 (muito magra). Fig. 3. Vaca com condição corporal 5 (moderada). Fig. 4. Vaca com escore corporal 8 (muito gorda). FONTE: VALLE, E. R.; ANDREOTTI, Renato; THIAGO, L. R. L. de S. Técnicas de Manejo Reprodutivo em Bovinos de Corte, Campo Grande: EMBRAPA/CNPGC, 2000. p. 16-18. TABELA 4. Porcentagem de vacas em cio aos 40, 50 e 60 dias após o parto, de acordo com o estado corporal ao parto. Estado corporal Porcentagem de cio ao parto 40 dias 50 dias 60 dias Magra Moderada Boa 19 21 31 34 45 42 46 61 91 Fonte: Wiltbank (1994). VI.IV ESTAÇÃO DE MONTAO estabelecimento de um período de monta, além de disciplinar as demais atividades de manejo, também faz com que o período de maior oferta de alimentos de qualidade se ajuste àquele de maior demanda nutricional por parte do animal, de forma a reduzir os custos com a suplementação, quando necessária. O sistema de monta mais primitivo é aquele em que o touro permanece no rebanho durante todo o ano. Como conseqüência, os nascimentos se distribuem por vários meses, dificultando o manejo das matrizes e das respectivas crias. Com a ocorrência de nascimentos em épocas inadequadas, o desenvolvimento dos bezerros é prejudicado e a fertilidade das matrizes pode ser reduzida por causa do aumento do intervalo parto-primeiro serviço, induzido pela restrição alimentar. No sistema de criação extensiva, a fertilidade do rebanho apresenta variações vinculadas às condições climáticas. Por isso, o estabelecimento de um período ou de uma estação de monta de curta duração é uma das decisões mais importantes do manejo reprodutivo e de maior impacto na fertilidade do rebanho. • VANTAGENS As principais vantagens de uma estação de monta reduzida são a melhoria da fertilidade e da produtividade do rebanho. Reduzindo-se a duração da estação de monta é possível identificar as fêmeas de melhor desempenho reprodutivo. As vacas mais prolíficas tendem a parir no início da época de parição e desmamam-se bezerros mais pesados. • ÉPOCA É determinada em função da melhor época de nascimento para os bezerros e do período de maior exigência nutricional das vacas. No Brasil Central, a melhor época de nascimento coincide com o período seco, quando é baixa a incidência de doenças, como a pneumonia, e de parasitos, como carrapatos, bernes, moscas e vermes. Portanto, para atender a esse requisito, o período recomendado para a monta deve ser de novembro a janeiro. Neste caso, as parições ocorrerão de agosto a outubro e o terço inicial de lactação, que apresenta as maiores exigências nutricionais, irá coincidir com o de maior oferta de alimentos de melhor qualidade (estação das chuvas). O importante é que, para reduzir o intervalo do parto ao primeiro cio, tanto vacas como novilhas têm de estar com condições corporais de moderada a boa, no início da estação de monta. Logo, o manejo nutricional durante os dois últimos meses que antecedem o parto é de vital importância para a recuperação da atividade reprodutiva. • DURAÇÃO Para vacas adultas, a meta ideal para a duração da estação de monta deve ser de 60 a 90 dias. Para novilhas, esse período não deve ultrapassar a 45 dias, e tanto seu início como final devem ser antecipados em pelo menos 30 dias em relação ao das vacas. Essa antecipação visa, principalmente, a proporcionar às novilhas, tempo suficiente para a recuperação do seu estado fisiológico e iniciar o segundo período de monta, junto com as demais categorias de fêmeas. • IMPLANTAÇÃO O estabelecimento de um período de monta é uma prática de fácil adoção e sem custo para o produtor. No entanto, deve-se evitar a mudança brusca do sistema tradicional (monta o ano inteiro) para o de curta duração, por causa do elevado número de fêmeas que terão de ser descartadas. No primeiro ano, esse período pode se estender de outubro a março (seis meses) e, nos anos seguintes, ela deve ser ajustada gradativamente, eliminando-se os meses correspondentes aos de poucos nascimentos, até a obtenção do período ideal. Para otimização da produtividade da cria, o produtor deve ter como meta a obtenção de elevados índices de concepção (acima de 70%) nos primeiros 21 dias da estação de monta e índices superiores a 90%, durante os dois primeiros meses de monta. • DESCARTES O ganho mais significativo da implantação deste método foi proporcionado pela “igualdade de condições” no uso desta técnica. Ao concentrar o período de monta, são oferecidas às vacas e às suas crias as mesmas condições ambientais, fazendo com que a performance alcançada por cada animal esteja mais relacionada com o seu potencial genético. Assim, o processo de seleção tornou-se muito mais fácil e objetivo, contribuindo muito para os ganhos de produtividade que vêm sendo observados ao longo das últimas décadas. As vacas que, dadas às mesmas condições, não concebem ou tendem a parir no final do período devem ser descartadas, pois fatalmente não irão conceber na próxima estação, e estarão prejudicando a produtividade do rebanho. VI.V MÉTODOS DE REPRODUÇÃO • MONTA NATURAL ¾ EM CAMPO: O sistema de acasalamento mais empregado na pecuária de corte extensiva é a monta em campo. Nesse regime de acasalamento, os touros permanecem junto ao rebanho de fêmeas durante toda a estação de monta, eliminando o trabalho diário de identificação dos animais em cio e a condução destes ao curral, para inseminação. Esse sistema onde vários touros são mantidos no mesmo pasto com as fêmeas é denominado de Acasalamento múltiplo. As principais desvantagens são o desconhecimento da paternidade das crias, que impossibilita a comparação do desempenho reprodutivo e produtivo dos diferentes touros, e o desgaste destes por causa do número repetido de cobrições que uma mesma fêmea recebe de um ou mais touros. No entanto, em rebanhos comerciais, essas desvantagens são compensadas pela economia de mão-de-obra e a certeza de que a maioria das fêmeas irá conceber durante uma determinada estação de monta. No regime de Acasalamento simples, cada lote de fêmeas é mantido com um único touro. A maior vantagem é a identificação da paternidade das crias, a um custo menor quando comparado à monta dirigida ou controlada. Nesse sistema, o conhecimento da fertilidade e da capacidade reprodutiva do touro é de vital importância, pois qualquer falha na seleção poderá resultar em índices de concepção insatisfatórios. ¾ CONTROLADA: Na monta controlada, o touro é mantido separado das vacas durante a estação de monta. Quando uma fêmea é detectada em cio, ela é trazida para junto ao touro onde permanece até a cobrição. No geral, só é permitido um serviço. Quando são efetuadas duas cobrições, uma pela manhã e outra à tarde, as probabilidades de concepção são maiores. Esse método de acasalamento pode ser usado quando se deseja conhecer a paternidade. O desgaste dos touros é menor, mas existe a possibilidade de erros na identificação dos animais em cio, além do trabalho em separar os animais para a monta. • INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL No Brasil como nos Estados Unidos, somente 3% a 5% do rebanho bovino de corte utiliza a inseminação artificial (IA). Uma das grandes limitações à sua expansão está relacionada com o sistema extensivo de exploração pecuária. A dificuldade na identificação correta do cio, os problemas associados com o aparte, condução, contenção e inseminação diária dos animais e os custos envolvidos na implantação do processo têm sido apontados como os principais fatores limitantes à sua adoção por um maior número de produtores. No entanto, convém lembrar que esta tecnologia proporciona ao produtor a oportunidade de melhorar o desempenho produtivo do seu rebanho, mediante a utilização do sêmen de reprodutores de alto potencial genético. Para compensar as possíveis perdas resultantes de falhas no processo de observação do cio e inseminação, é recomendável que, após o período de inseminação, seja efetuado um repasse com touros. Com a expansão dos programas de cruzamento, a procura pela I.A. vem aumentando gradativamente. Diversas entidades de pesquisa e particulares vêm trabalhando na capacitação de mão-de-obra especializada, de forma a atender a demanda por esses profissionais. • TRANSFERÊNCIA DEEMBRIÕES Se a inseminação artificial representou a possibilidade de acelerar o progresso genético dos rebanhos, ao tornar possível que um macho excepcional tivesse uma progênie muito maior, a técnica de transferência de embriões foi o segundo passo nesta mesma direção. A possibilidade de se obter mais de dez produtos de uma concepção que envolveu um sêmen da mais alta qualidade com fêmeas selecionadas trouxe a possibilidade de seleção e ampliação de plantéis em um ritmo, até então, inimaginável. As técnicas de superovulação, coleta, inseminação a fresco, descongelamento one- step, têm progredido e se simplificado com o passar dos anos. É cada vez mais comum encontrar propriedades com tradição em comercializar genética que possuem programas já bem estabelecidos de transferência de embriões. Em breve, será difícil achar as que não os têm. VI.VI DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO O diagnóstico de gestação é de grande importância para a melhoria da eficiência reprodutiva, pois possibilita a identificação precoce das fêmeas que não ficaram prenhes durante a estação de monta. O método de diagnóstico mais utilizado é o via palpação retal realizado por um médico-veterinário experiente. Normalmente, esse exame pode ser efetuado a partir dos 45 a 60 dias após o final da estação de monta. Para facilidade de manejo, ele poderá ser realizado por ocasião da desmama (abril/maio), antes da seca. Identificadas as fêmeas vazias, elas devem ser descartadas do rebanho antes do início do inverno, pois ainda não perderam peso e o descarte dessas aumenta a disponibilidade de forrageiras para as fêmeas prenhes durante o terço final de gestação, quando as exigências nutricionais se elevam, por causa do acentuado desenvolvimento do feto. No entanto, um plano de descarte baseado unicamente no diagnóstico de gestação deve ser analisado com muito cuidado. Um número elevado de fêmeas vazias pode ser o resultado da restrição alimentar após períodos de seca prolongados, como também da fertilidade e capacidade reprodutiva dos touros e da incidência de doenças da esfera reprodutiva, que não foram diagnosticadas. Por ocasião da desmama, o produtor pode também efetuar a seleção das melhores matrizes, levando em consideração a habilidade materna e a idade. Vacas que apresentam baixa habilidade materna perdem seus bezerros precocemente ou têm bezerros com baixo peso à desmama. A idade da vaca é outro fator que interfere no seu desempenho produtivo. A partir dos dez anos de idade, o peso dos bezerros ao nascimento diminui gradativamente e, a partir dos oito anos de idade, passa a haver também um decréscimo gradual tanto no peso a desmama como aos doze meses de idade. Ciente desse fato, o produtor deve acompanhar o desenvolvimento dos bezerros dessas categorias e estabelecer um plano de descarte de acordo com as suas necessidades. Também descartar as que abortarem, as que sofreram problemas de parto (“distocias”), as que apresentaram retenção de placenta, e as que rejeitarem suas crias. VI.VII CUIDADOS COM A GESTAÇÃO • ATENDIMENTO À VACA PRENHE Para otimização do desempenho reprodutivo do rebanho, o produtor deve propiciar condições adequadas para as vacas prenhes, de modo que estas possam apresentar boas condições corporais ao parto e menor período de anestro. Durante o terço final de gestação, os requerimentos nutricionais das vacas se elevam a partir do 7º mês, atingindo um máximo no 9º mês, quando o feto tem o seu maior desenvolvimento. Em vacas de primeira cria, os requerimentos nutricionais são ainda maiores, pois estas ainda estão em crescimento. Logo, a restrição alimentar nesse período, além de originar bezerros fracos e mais suscetíveis a doenças, também prolonga o período de anestro, reduzindo os índices de concepção ao início da estação de monta. Como o terço final de gestação, no Brasil Central, ocorre durante o período da seca, o produtor deve tomar certas precauções para evitar esse problema. A primeira medida a ser tomada é a de assegurar uma reserva de pastagem para a seca. Portanto, o manejo adequado das pastagens durante as águas é que vai determinar as sobras necessárias para esse período. Outra prática importante é o descarte das vacas vazias ao início da seca, para aumentar a disponibilidade de forrageiras para as prenhes. Além disso, é conveniente separar as vacas e as novilhas prenhes (pasto-maternidade) das demais categorias para evitar danos que possam provocar abortos. Isso possibilita também garantir o suprimento de nutrientes necessários, registrar a ocorrência de abortos e outras anormalidades e prestar assistência ao parto quando necessária. Em determinadas circunstâncias, a suplementação protéica pode ser necessária para garantir o desempenho reprodutivo no pós-parto. Quando o teor de proteína bruta na matéria seca é inferior a 7%, o que ocorre principalmente durante a seca, o consumo de forragens é restrito. O resultado é que, para atender as demandas nutricionais nessa fase reprodutiva, o animal mobiliza as próprias reservas corporais, acentuando a perda de peso corporal; como conseqüência, o restabelecimento da atividade reprodutiva é retardado até que essas necessidades sejam satisfeitas. Convém salientar que, durante o terço final de gestação, a demanda nutricional necessária ao desenvolvimento do feto, em termos de proteína bruta, praticamente triplica entre o sétimo e o nono mês de gestação (de 66 para 188 gramas/dia). Portanto, nessa fase da vida reprodutiva do animal, a suplementação protéica tem como objetivo principal suprir a deficiência de proteína necessária ao desenvolvimento do feto e ao restabelecimento da atividade ovariana no pós-parto. VI.VIII PERÍODO DE PARIÇÃO • MANEJO NA MATERNIDADE E ATENDIMENTO AO PARTO A maternidade é uma invernada destinada à parição das vacas, concentrando desta forma os nascimentos, facilitando o atendimento aos recém-nascidos. Deverá ser limpa, com pastagens de porte baixo, livre de buracos e leiras, tamanho médio, preferencialmente próxima à moradia do materneiro. As vacas mojadas deverão ser apartadas do lote de vacas prenhes e transferidas para a maternidade pelo menos uma ou duas vezes por semana, garantindo que a parição ocorra neste piquete. O manejo consiste em visitas diárias (período da manhã e à tarde), entrada de vacas mojadas e saída de vacas paridas, conforme a intensidade de parição, e atendimento aos recém-nascidos. Esse procedimento deverá ser rigoroso, verificando e garantindo que o bezerro mame o colostro nas primeiras horas de vida e curando adequadamente o umbigo. Correrias e movimentos bruscos, além de gritos e agressividade deverão ser evitados para não agitar e estressar os animais. Realizar os rodeios, se possível, em horários fixos ou próximos e no mesmo local. Se observada qualquer anormalidade ou demora no parto, deverão ser tomadas providências como chamar ou consultar um médico-veterinário, para evitar a morte de bezerros e vacas durante o parto. Durante o período de nascimentos o materneiro deverá anotar todos os acontecimentos: nascimentos (data, sexo, nº da mãe, peso), abortos, natimortos, retenção de placenta, rejeição de bezerros, bezerros fracos, dificuldade na amamentação (ex.: tetas grandes). As vacas que apresentarem alguma destas ocorrências deverão ser apartadas para as devidas providências. VI.IX GRUPOS RACIAIS BOVINOS • CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS RAÇAS BOVINAS DE CORTE ¾ RAÇAS TAURINAS: A) RAÇAS CONTINENTAIS: Este grupo caracteriza-se por alto potencial de crescimento, boa conversão alimentar, altos pesos de abate e carcaça com poucagordura. Entretanto, apresenta problemas de partos distócicos e peso adulto elevado. Como resultado, são animais de grande exigência de energia para mantença. As vacas apresentam peso adulto médio de 700 a 800 kg e os machos, em torno de 1.000 a 1.200 kg. As raças continentais como o Limousin, Simental, Blond-Aquitaine, Piemontês, Pardo-Suiça, Charolês, Marchigiana, Chianina e outras, possuem características de desenvolvimento dos tecidos muscular, adiposo e ósseo completamente diferentes das britânicas. Por serem animais considerados tardios, possuem um crescimento muscular mais prolongado, podendo ser levados ao abate com peso maior que o grupo das raças britânicas – em torno de 18 a 19 arrobas , porém com mais idade. A formação de gordura se dará quando o crescimento muscular estiver quase completo. Por esta razão, é comum abaterem-se animais dessas raças com peso ideal de abate, porém sem acabamento de carcaça. É muito importante fornecer para essas raças na fase final de engorda um concentrado rico em energia, visando a acelerar a produção de gordura. As raças continentais apresentam um rendimento de carcaça superior a todas as demais raças. B) RAÇAS BRITÂNICAS: Em ambiente propício, representantes deste grupo apresentam boa taxa de sobrevivência e taxas reprodutivas e de crescimento suficientes para produzir carcaças de ótima qualidade. Caracterizam-se, porém, pelas desvantagens de partos distócicos, de muita gordura quando atingem altos pesos e de taxa de crescimento menor do que a de raças continentais e, conseqüentemente, por menor taxa de conversão alimentar e menor peso adulto. As vacas apresentam cerca de 500 a 600 kg de peso adulto e os machos, de 800 a 900 kg. Esse grupo de raças, entre elas Aberdeen Angus, Red Angus, Hereford, Devon, Shorthorn, Red Polled, Polled Hereford e outras, possui acabamento de carcaça muito rápido. Por serem raças precoces, o crescimento muscular atinge o seu ponto máximo de desenvolvimento num curto espaço de tempo, com peso ideal de abate para machos em torno de 16 arrobas. A partir do momento em que a musculatura desacelera o crescimento, a tendência é produzir mais gorduras: por esta razão não devemos deixar esses bovinos atingirem peso acima do recomendado para o abate. A carne dos bovinos das carcaças britânicas é marmorizada possui gordura entremeada na musculatura de grande aceitação no mercado nacional, americano e asiático. As raças britânicas apresentam rendimento de carcaça inferior ao das raças Nelore (zebuína) e continentais. ¾ RAÇAS ZEBUÍNAS: Em relação às taurinas (britânicas ou continentais), os representantes deste grupo apresentam baixas taxas de crescimento, baixos índices reprodutivos e carcaça com pouca aceitabilidade, principalmente por produzirem carne mais dura. Todavia, apresentam excelente taxa de sobrevivência, boa habilidade materna, é são tolerantes a parasitos e a altas temperaturas. As vacas adultas têm peso médio de 350 a 450 kg e os machos, de 600 a 700 kg. Os bovinos dessas raças possuem um comportamento intermediário entre os dois grupos de raças européias. Esse grupo de animais, que tem como principal representante a raça Nelore, cuja participação no rebanho nacional é de 80%, tem como característica produzir especialmente gordura de superfície, cobrindo com facilidade toda a carcaça, porém com muito pouca gordura intramuscular. Tal característica é apreciada por alguns mercados de exportação, principalmente na Europa, por ser um animal gordo de carne magra. O peso ideal de abate desses animais situa-se entre 16 e 17 arrobas. Os bovinos da raça Nelore apresentam rendimento superior às raças britânicas, porém inferior às continentais. Raças: Nelore, Guzerá, Gir, Tabapuã, Indubrasil, Brahman, Cangaiam, Sindi e outras. O produtor moderno, além de ter a necessidade de trabalhar com altos índices de produtividade, deverá ter como meta produzir uma carne aceita pelo mercado consumidor, cada vez mais exigente. A rastreabilidade da carne bovina é um programa que está sendo implantado na pecuária o produto final será identificado na gôndola do supermercado, constando os dados do produto e a sua origem, cabendo ao consumidor escolher a mercadoria que mais lhe agradar. A presença de gordura, além de tornar a carne mais macia, transfere ao consumidor um visual agradável, porém não pode ter excesso nem falta de gordura. Um bovino, para produzir uma carcaça com tais características, deverá no abate estar em um ponto ideal de acabamento de carcaça, isto é, com uma espessura mínima de gordura entre 3 e 5 mm, não ultrapassando 10 mm. A gordura deve cobrir, de forma homogênea, toda a superfície da carcaça. O grau de deposição de gordura influencia diretamente no rendimento de carcaça. Animais com excesso de gordura diminuem o rendimento porque o excedente é retirado por ocasião da matança. Quando o grau de deposição é insuficiente, abaixo do mínimo recomendado, diz-se que o animal não está acabado, e, nesta condição o rendimento também é menor. A gordura serve de proteção contra o frio quando a carcaça é colocada na câmara frigorífica; havendo pouca cobertura, a carcaça toma uma cor azulada, fator de depreciação. As fêmeas têm maior facilidade de produzir gordura por não terem influência do hormônio testosterona, própria dos machos, que inibe a formação de gordura. Por isso, atingem o processo de acabamento mais rapidamente que os machos, porém com menor peso, dentro do seu grupo genético. As fêmeas das raças precoces entram mais cedo em reprodução por causa da maior rapidez no acabamento de carcaça. Normalmente antecipam o acabamento em um ano se comparadas com as raças tardias. Essas fêmeas tendem a acumular gordura em excesso na carcaça, principalmente se ficarem fora da reprodução, o que interfere negativamente no aspecto reprodutivo e maternal. Para vacas de descarte recomenda-se fazer uma engorda rápida, aproveitando o ganho compensatório, abatendo-as no máximo com 45 a 60 dias de tratamento, antes que acumulem excesso de gordura que será retirada no abate, diminuindo o benefício. Os bovinos inteiros acumulam menor quantidade de gordura pela interferência da testosterona. Animais de raças tardias, sendo abatidos inteiros, sempre terão deficiente formação de gordura na carcaça. O produtor deverá conhecer detalhadamente todos os aspectos citados para poder levar ao abate um animal no seu ponto ideal de acabamento, acompanhando a matança para constatar se o produto que está oferecendo ao mercado está de acordo com o gosto do consumidor. COMPARATIVO DE CARCAÇAS Fonte: Produtor Rural, fevereiro, 2002, p. 58 e 59. VI.X CRUZAMENTOS E SEUS OBJETIVOS O produtor de bovinos de corte tem a oportunidade de melhorar a produtividade do sistema de cria e a qualidade do produto por meio de um programa de cruzamento. O cruzamento pode ser definido como o acasalamento entre duas ou mais raças com a finalidade de se utilizar a heterose ou vigor híbrido nas crias. Pela utilização dessa heterose pode-se aumentar a performance reprodutiva, a taxa de sobrevivência, a habilidade materna, a taxa de crescimento e a longevidade do rebanho. O cruzamento pode também ser utilizado para combinar e sincronizar as características desejáveis de diferentes raças bovinas, de acordo com a necessidade do mercado e da disponibilidade de alimentos, para diferentes sistemas de produção. Carcaça de raça continental com peso ideal, porém sem acabamento SIMENTAL X NELORE Carcaça de raça continental com peso ideal, porém sem acabamento. Simental X Nelore (TARDIA)Carcaça de raça britânica no ponto ideal de abatimento. Red Angus X Nelore (PRECOCE) A performance reprodutiva dos animais mestiços é superior à dos puros, por causa da maior precocidade (menor idade à maturidade sexual), maior peso das crias à desmama (melhor taxa de crescimento) e maior taxa de sobrevivência (baixa mortalidade do nascimento à desmama). Embora os índices de natalidade possam ser semelhantes entre mestiços e puros, as características mencionadas permitem que a produtividade seja maior (quilos de bezerro desmamado por hectare/ano) nos rebanhos mestiços. O programa de cruzamento é formado pelos chamados sistemas de cruzamento. Cada sistema deve ser desenvolvido para atender às necessidades específicas de um determinado sistema de produção. Diversos fatores devem ser considerados na escolha de um sistema de cruzamento, dos quais se destacam: a) ambiente, b) exigência do mercado, c) mão-de-obra disponível, d) nível gerencial, e) sistema de produção, f) viabilidade de uso da inseminação artificial, g) objetivo do empreendimento, h) número de fêmeas e i) número e tamanho dos pastos. Tecnicamente, o sistema de cruzamento ideal deveria preencher os seguintes requisitos: permitir que as fêmeas de reposição sejam produzidas no próprio sistema, a fim de evitar a introdução de material genético de qualidade inferior via aquisição de fêmeas originárias de rebanhos sem programa de seleção adequado. Esse sistema visa também a possibilitar o uso de fêmeas mestiças, junto a heterose combinada resulta em incremento na produção de quilogramas de bezerros desmamados; explorar efetivamente a heterose; não interferir com a seleção; possibilitar a adaptação de machos e fêmeas ao ambiente onde eles e suas progênies serão criados. Basicamente, os cruzamentos podem ser classificados em três sistemas: simples ou industrial; contínuo ou absorvente; rotacionado ou alternado contínuo. ¾ CRUZAMENTO SIMPLES OU INDUSTRIAL É definido como o acasalamento que envolve apenas duas raças com produção da primeira geração de mestiços, os chamados F1. Neste sistema não há continuidade, pois machos e fêmeas oriundos do cruzamento são abatidos. Assim, há necessidade de preservação de parte das fêmeas puras para produzir fêmeas de reposição, tanto para o próprio rebanho puro quanto para aquele que produzirá os mestiços. Caso contrário, essas fêmeas terão de ser adquiridas de outros criadores. No Brasil, o uso de cruzados de Zebu x Europeu tem sido um dos avanços que mais rapidamente se disseminou. A precocidade e a qualidade superior dos produtos fizeram com que os pesquisadores procurassem soluções para as dificuldades iniciais que advieram do uso de animais de sangue europeu. ¾ CRUZAMENTO CONTÍNUO OU ABSORVENTE Tem a finalidade de substituir uma raça ou grau de sangue por outra. O uso contínuo desta segunda produz animais conhecidos como “puros por cruza” ou PC. ¾ CRUZAMENTO ROTACIONADO OU ALTERNADO CONTÍNUO Neste cruzamento, a raça do pai é alternada a cada geração. Pode ser feito com duas (criss-cross), três (three-cross) ou mais raças. É importante, porém, que as raças sejam semelhantes em algumas características, como tamanho corporal e produção de leite, por razões que serão discutidas adiante e que se relacionam com a adequação do genótipo ao ambiente geral. Recentemente, o uso de compostos de três ou mais raças tem se firmado como uma tendência do futuro. E quem achou que os criadores fossem ter dificuldade em colocar seus animais no mercado, enganou-se. O uso dos compostos traz a necessidade de plantéis puros que tenham sua genética cada vez mais apurada. A cada ano que passa, fica mais claro que não existem respostas prontas: o que interessa é ter-se à disposição o maior número possível de alternativas, para possibilitar a escolha daquela que melhor se adaptar a cada situação. Esse esquema de acasalamento caracteriza-se pelo abate de machos e fêmeas oriundos do cruzamento. Tal esquema pode participar tanto do sistema de cruzamento simples quanto do rotacionado. No primeiro caso, todos os produtos F1 seriam abatidos, ao passo que no segundo, as fêmeas mais novas seriam mantidas num sistema rotacionado, sendo as outras acasaladas com um touro terminal. Os últimos produtos seriam todos abatidos. O objetivo é utilizar as vantagens do rápido crescimento e da boa taxa de conversão, pois, em cruzamentos terminais utilizam-se, normalmente, como touros terminais, animais de raça de grande porte. • VANTAGENS E DESVANTAGENS ¾ CRUZAMENTO ROTACIONADO Este sistema atende as condições necessárias ao uso correto do cruzamento. No Brasil, porém, seu uso tem mostrado evidências de sucesso limitado, por causa da variação entre gerações em termos de requerimentos nutricionais e de manejo. Até recentemente, a maioria absoluta dos cruzamentos envolvia a raça Nelore e uma raça européia de grande porte e/ou de maior produção leiteira. O resultado é que as gerações subseqüentes, com maior ou menor grau de sangue europeu, apresentam maior ou menor requerimento nutricional que a geração anterior. Variações semelhantes ocorrem, também, em relação ao manejo de diferentes gerações, causando variações na produtividade ou nível de desempenho de vacas e bezerros. ¾ USO DE TOUROS F1 A utilização deste esquema de cruzamentos, em sistema simples ou rotacionado, resultará em nível de heterozigose inferior ao obtido com reprodutores puros. No entanto, em condições onde a inseminação não é aconselhável ou desejável e a monta natural com touros europeus puros é inviável, sua utilização é apropriada. Possibilita, ainda, o uso máximo de heterose para fertilidade de machos, que contornaria problemas de baixa libido e avançada idade à puberdade (puberdade mais tardia), comuns em raças indianas. É de fácil manejo, flexível quanto à troca de raça européia para eventuais ajustes de adaptação às condições de mercado ou de produção. ¾ FORMAÇÃO DE POPULAÇÕES COMPOSTAS O desenvolvimento de programas de cruzamento com este objetivo teve grande impulso há quatro ou seis décadas. Esse tipo de cruzamento pode envolver duas ou mais raças. Após a formação da raça Santa Gertrudes, esse tipo de cruzamento expandiu-se, mantendo sempre a mesma linha. Começou como cruzamento rotacional e, a partir de determinado grau de sangue normalmente 5/8 europeu e 3/8 zebu , estabelecia o chamado cruzamento “inter se” ou bimestiçagem, que consiste no acasalamento de machos e fêmeas do mesmo grau de sangue. Além da Santa Gertrudes, várias raças foram formadas dentro desta concepção, como Ibagé, Canchim, Pitangueiras, Brangus, Belmont Red, e várias outras. ¾ CRUZAMENTO TERMINAL É um esquema vantajoso para produção de animais a serem terminados em condições favoráveis, principalmente no que se refere à alimentação, como pastagens de boa qualidade ou confinamento, uma vez que este cruzamento resulta em animais com altas taxas de ganho de peso e altos pesos à terminação. É, porém, de aplicação limitada na pecuária, pelo fato de serem abatidas às fêmeas. ¾ ROTACIONADO TERMINAL Neste caso, de 45% a 50% das fêmeas são acasaladas em sistema rotacionado a fim de produzir fêmeas de reposição. As fêmeas restantes, as mais velhas, são acasaladas com touro terminal. É um esquema complexo, exigindo grande capacidade gerencial e mão-de- obra qualificada. VI.XI ANEXOS MEDIDAS DE SEGURANÇA NO TRABALHO, MEIO AMBIENTE, NOVAS EXIGÊNCIAS PROFISSIONAIS E CIDADANIA.ANEXO 1 TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES • INTRODUÇÃO Embora o ovário dos mamíferos contenha centenas de milhares de ovócitos, o número de descendentes de uma fêmea é pequeno. Nos bovinos, o número de vezes que uma vaca fica prenhe é severamente limitado pela longa duração da gestação. Além disso, apenas um ou dois óvulos são liberados a cada ciclo estral nas espécies não multíparas. O número de descendentes que uma fêmea pode produzir durante sua vida pode ser bastante aumentado, permitindo repetidamente, que fique temporariamente prenhe, recolhendo-se embriões nos estágios iniciais da gestação (6 a 8 dias) e transferindo-os para outras fêmeas para completarem a gestação. Esse processo pode ser ampliado: se a doadora for superovulada. Alguns problemas da técnica já estão sendo resolvidos e a transferência, como a inseminação, representará uma significante atuação na reprodução animal. • OBJETIVO A transferência de embriões é usada para o melhor aproveitamento da capacidade de reprodução das fêmeas de boa qualidade. Ou seja, é usada para retirar o maior número de filhos (produtos) de uma fêmea com alto valor genético. “ A transferência de embriões não cria nada, apenas multiplica”. • CONCEITOS: A) FÊMEA DOADORA → é a matriz de alto valor genético que vai doar os embriões para serem transferidos. B) FÊMEA RECEPTORA → matriz selecionada para receber os embriões da doadora. Deve apresentar boa condição corporal (úbere, produção de leite, caixa para parir bem) e excelente comportamento para parição e cuidado com os filhotes (habilidade materna). C) SINCRONIZAÇÃO DE CIO → é a antecipação ou retardamento do momento natural do cio das fêmeas, para que possam ser fecundados em maior número e em curto espaço de tempo. D) SUPEROVULAÇÃO → tratamento hormonal que se faz nas fêmeas doadoras para se obter o maior número de óvulos para serem fecundados. • PROCEDIMENTOS ¾ Seleção de animais doadores e receptores. ¾ Sicronização dos ciclos sexuais de ambos. ¾ Superovulação dos animais doadores. ¾ Inseminação artificial das doadoras. ¾ Coleta, seleção, transferência ou conservação dos embriões. A coleta e seleção dos embriões são feitas no sétimo ou oitavo dia após a inseminação. ANEXO 2 NOVILHAS PARA REPOSIÇÃO No geral, a maioria dos produtores retém boa parte das novilhas do próprio rebanho para repor as vacas descartadas. O manejo destes animais, da desmama ao início da monta, e do primeiro parto ao período de monta seguinte, é de extrema importância na produtividade futura do rebanho de cria. Devido ao manejo inadequado ou falta de atenção necessária, o desenvolvimento desses animais fica prejudicado, resultando em baixos índices de prenhez e de natalidade, inviabilizando esse tipo de atividade. Portanto, a seleção e o preparo de novilhas para reposição são alguns dos itens mais importantes do manejo reprodutivo. Essas devem ser selecionadas e manejadas para que tanto a concepção como as parições ocorram ao início do período de monta e nascimentos, respectivamente. Para que esses objetivos sejam alcançados é necessário que o produtor observe os seguintes pontos: a) propiciar condições nutricionais e sanitárias adequadas para a redução da idade à puberdade; b) colocar em monta uma quantidade de novilhas superior à necessária para reposição das vacas descartadas. Cerca de 25% a mais; c) iniciar e terminar a estação de monta, pelo menos quatro semanas antes da estação de monta das vacas. A duração não deve ultrapassar 45 dias; d) selecionar para reposição aquelas que conceberam ao início do período de monta; efetuar o diagnóstico de gestação de 45 a 60 dias após o final da monta, para descartar as vazias; proporcionar condições nutricionais adequadas para que as novilhas apresentem condições corporais de moderada a boa ao parto. A restrição alimentar durante o último trimestre da gestação é prejudicial ao desenvolvimento das novilhas e do feto, reduz o peso do bezerro ao nascimento e os índices de concepção após o parto. Como nessa fase as exigências nutricionais destas são muito superiores às das vacas e representam apenas 13% do rebanho de cria, recomenda-se que elas sejam manejadas em separado. Por outro lado, o excesso de peso pode também contribuir para a redução dos índices de fertilidade; e e) após o parto, as novilhas devem ser mantidas em pastos separados das vacas, até a desmama, para que tenham suas necessidades nutricionais atendidas e possam conceber na próxima estação de monta. Por estarem ainda em crescimento, apresentam exigências nutricionais muito elevadas durante a fase de lactação e superiores às do terço final de gestação. ANEXO 3 CONTROLE DA AMAMENTAÇÃO AUMENTA A FERTILIDADE A fertilidade do rebanho apresenta variações vinculadas às condições climáticas, onde invernos rigorosos, ou excessivamente secos causam redução da fertilidade devido à baixa disponibilidade e qualidade da forragem. A freqüência e a intensidade da amamentação tem influência na atividade ovariana, que associadas ao efeito sazonal das pastagens, reduzem a incidência de manifestação de cios no pós-parto, e como conseqüência as vacas parem em anos alternados, devido ao longo período necessário ao restabelecimento da atividade reprodutiva. Desta forma, atender às exigências nutricionais do rebanho de cria é um fator básico para a melhoria dos índices reprodutivos. Os requerimentos nutricionais para vacas e novilhas em reprodução são maiores durante os três primeiros meses de lactação, quando comparados ao terço final de gestação, e desta forma, melhores índices de prenhez são obtidos quando o rebanho tem suplementação alimentar pós-parto, no primeiro terço da lactação. Apesar de todas as vantagens incontestáveis da suplementação da vaca de cria, seu uso está condicionado ao aspecto econômico. Outras alternativas de manejo, mais práticas e com custo mais baixo podem ser adotadas, como o controle da amamentação, cujo objetivo básico consiste em reduzir o estresse da amamentação e também diminuir os requerimentos nutricionais no pós-parto, principalmente em épocas de escassez de forragens. Os principais métodos de controle da amamentação são: a) desmama antecipada ou precoce; b) desmama interrompida ou temporária; c) amamentação controlada. ¾ DESMAMA ANTECIPADA OU PRECOCE Esta prática consiste na separação definitiva do bezerro, bem mais cedo que a efetuada tradicionalmente, aos 7 meses de idade. Ela é recomendada para os períodos de escassez de forragem, com a finalidade de se reduzir o estresse da lactação e os requerimentos nutricionais da vaca, antecipando assim o restabelecimento da atividade reprodutiva. Experimentos realizados constataram que a separação do bezerro aos três meses elevou substancialmente os índices de fertilidade do rebanho, durante a estação da monta de dezembro a fevereiro, chegando a reduzir em 40 dias o intervalo entre partos para animais criados em campos nativos. No entanto, a desmama aos três meses de idade resultou na mortalidade de alguns bezerros, além de um desenvolvimento ponderal inferior quanto a fertilidade e à maturidade sexual de fêmeas, quando não suplementadas após a desmama, em relação as fêmeas desmamadas aos 4 e 7 meses de idade. Já, a desmama aos quatro meses de idade seria a mais adequada, pois não prejudica o desenvolvimento dos bezerros, quando estes apresentaram peso superior a 90 kg porocasião da desmama. Outro aspecto favorável à desmama precoce é a curva de lactação de vacas Nelore, que atinge seu máximo (4,7 litros/dia) nos primeiros 30 dias de lactação, permanecendo mais ou menos estável até 90 dias, quando então declina rapidamente, até atingir a média de 2,7 litros aos 5 meses, o que nos mostra que a participação do leite na dieta do bezerro diminui, consideravelmente, a partir do terceiro mês de lactação. Para a obtenção de elevados índices de fertilidade, entretanto, é necessário que a prática da desmama precoce esteja associada à utilização de uma estação de monta de curta duração, que concentra os nascimentos numa determinada época do ano, como também disciplina as demais atividades de manejo da propriedade. Resultado da utilização da Desmama Precoce em bezerros aos 3, 4 e 7 meses de idade. IDADE NA DESMAMA Nº DE CAB. PD (kg) P 12 (kg) PM (kg) % DE PRENHEZ 3 Meses 14 94 140 265 21.4 4 Meses 16 115 157 280 50.0 7 Meses 19 153 170 280 47.4 FONTE: VALLE et. al. (1990) PD = Peso à desmama P12 = Peso aos 12 meses PM = Peso ao início da monta ou 27 meses de idade ¾ DESMAMA TEMPORÁRIA OU INTERROMPIDA A remoção temporária do bezerro é uma técnica de manejo relativamente fácil e de baixo custo operacional. Tal processo consiste em separar o bezerro da vaca, por um período que pode variar de 48 a 72 horas, a partir de 40 dias após o parto, sem prejudicar a produção de leite da vaca, ou o peso do bezerro a desmama. O efeito da remoção temporária do estímulo da amamentação provoca um aumento na liberação do LH (hormônio luteinizante), 24 horas após a remoção do bezerro. E o aumento gradual na liberação deste hormônio parece ser um requisito essencial para o restabelecimento do ciclo estral em bovinos de corte. No entanto, deve-se levar em conta o estado nutricional da vaca, pois animais em péssimo estado corporal não respondem, satisfatoriamente, à desmama temporária. Foi observado também, que a desmama temporária não melhorou a taxa de prenhez de vacas em bom estado nutricional, que já vinham manifestando cio regularmente. Efeito da Desmama Temporária (72 horas) na Taxa de Prenhez de Vacas Nelore TIPO DE DESMAMA Nº DE CABEÇAS % DE PRENHEZ Temporária (72 hs) 33 97.0 Testemunha 32 72.0 FONTE: Dode et al. (1989) ¾ AMAMENTAÇÃO CONTROLADA A amamentação controlada consiste em permitir que o bezerro tenha acesso limitado à amamentação a partir do 30º dia de idade. Os bezerros permanecem com a mãe durante dois curtos períodos do dia, entre 6 a 8 horas da manhã, e das 4 às 6 horas da tarde. Contudo, convém salientar que cuidados especiais devem ser tomados com bezerros de novilhas de primeira cria, pois como estas produzem menos leite que as vacas adultas, os bezerros poderão ter seu desenvolvimento prejudicado se não forem suplementados adequadamente durante as primeiras semanas. Não há duvida que a utilização do método mais adequado de desmama para cada caso, pode melhorar o desempenho do rebanho sem prejudicar o desenvolvimento do bezerro, desde que se tomem alguns cuidados. A eficiência de cada método vai depender da disponibilidade de forragem e do estado nutricional das vacas e novilhas, por ocasião do tratamento. Melhores resultados são obtidos quando se estabelece uma estação de monta de curta duração, de maneira que o período de maior requerimento nutricional das vacas coincida com o período de maior disponibilidade de forrageiras de boa qualidade. Efeito da Amamentação Controlada Sobre os Índices de Cio e de Prenhez AMAMENTAÇÃO Nº DE CABEÇAS % CIO % PRENHEZ SECA Tradicional 2 Vezes / dia 60 60 26.6 61.6 20.0 43.3 ÁGUAS Tradicional 2 Vezes / dia 60 59 66.6 84.7 58.3 71.2 FONTE: Fonseca et al. (1981)
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