Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA MATERIAL DIDÁTICO PARA A GRADUAÇÃO LLiivvrroo:: ““RReessiissttêênncciiaa ddooss MMaatteerriiaaiiss”” Coordenador: Prof. Gílson Queiroz Belo Horizonte,23 de Junho de 2003 1 CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO 1.1 Definições Todas as construções têm componentes estruturais, que devem possuir resistência e rigidez adequadas para a finalidade prevista. Resistência é a capacidade do componente estrutural não sofrer qualquer tipo de dano, sob o efeito das ações, e rigidez é sua capacidade de não se deformar excessivamente, sob esse efeito. As ações, associadas à finalidade da construção, são todas as causas de deformações dos componentes estruturais, como peso próprio, forças aplicadas, variação de temperatura, vento, forças de inércia etc. Todos os materiais são deformáveis. Quando a deformação desaparece totalmente após a retirada das ações, diz-se que o comportamento do material é elástico. Quando alguma deformação permanece após a retirada das ações, diz-se que o comportamento é plástico. Todos os materiais comportam-se elasticamente até um certo limite das deformações a que são sujeitos; além de tal limite alguns se rompem e outros (a maioria) passam a se comportar plasticamente. 1.2 Objetivo da Resistência dos Materiais Estabelecer métodos adequados para o cálculo de tensões e deformações em componentes estruturais, de forma que eles possam ser projetados atendendo às condições necessárias de resistência e rigidez. Para estabelecer tais métodos utilizam-se modelos matemáticos, baseados em resultados experimentais, cujo campo de validade é limitado pelas hipóteses inerentes. 1.3 Limitações do curso de Resistência dos Materiais Comportamento elástico, pequenas deformações, pequenos deslocamentos. As deformações () são consideradas pequenas quando seu valor absoluto não ultrapassa determinado limite, geralmente da ordem de 0,01. Exemplo: barra com seção transversal quadrada de lado a0, comprimento L0, sujeita à tração, conforme figura 1.1.a - o diagrama tensão deformação do material é mostrado na figura 1.1.b. 2 Sejam a e L as dimensões da barra depois da aplicação da força de tração F. Tem-se: L = L - L0 x = L / L0 a = a – a0 y = z = a / a0 Relação entre as áreas final e inicial da seção transversal: (a/a0) 2 = [(a0 + a)/ao]2 = [(a0 + y a0)/a0]2 = (1 + y)2 Para y 0,01 (pequenas deformações), notando que y é negativo (porque a < a0), obtém-se (a/a0) 2 0,98 (redução da ordem de 2% na área) Assim, pode-se considerar a área constante no caso de pequenas deformações. Para x e o comportamento é linear, com = F / (a0)2 = Ex (E = módulo de elasticidade) Particularmente, no fim do comportamento linear, = e = Ee Deslocamentos são pequenos quando a geometria da estrutura deformada pelas ações difere pouco de sua geometria indeformada, de forma que seja desprezível o erro cometido quando se calculam respostas da estrutura com base na geometria inicial. Exemplo: para a determinação do momento fletor em A na peça em balanço da figura 1.2, o deslocamento u da extremidade direita seria pequeno se Pu << Fh, pois, neste caso, poder-se- ia calcular MA com base na geometria indeformada, i. é., MA = Pu + Fh Fh. 1.4 Exemplos de projetos mecânicos que envolvem Resistência dos Materiais - eixos, engrenagens e elementos de máquinas em geral; - estruturas de automóveis, navios e aviões; - guindastes e pontes rolantes; a a0 L0 L F F x e e 0,01 FIGURA 1.1 (a) (b) u F P A h FIGURA 1.2 3 - comportas, condutos-forçados e equipamentos hidro-mecânicos em geral; - vasos de pressão; - estruturas de correias transportadoras; - estruturas de máquinas em geral; - etc. 1.5 Histórico Os egípcios possuíam alguns conhecimentos de mecânica simples e de resistência dos materiais, pelo menos dois mil anos antes de Cristo. Contudo, o primeiro registro do uso de princípios científicos no campo da mecânica é atribuído a Arquimedes (287-212 A. C.), que estabeleceu o princípio da alavanca. Os romanos conheciam muitos princípios da mecânica, como o do arco, muito utilizado nas construções do Império Romano. Pouco avanço ocorreu durante o declínio do Império Romano e a Idade Média. O ressurgir do interesse pela ciência que veio com o Renascimento aparentemente concentrou- se na Itália. A primeira publicação sobre resistência dos materiais é atribuída a Leonardo da Vinci (1452-1519). O grande cientista italiano Galileu (1564-1642), em seu livro “Two New Sciences”, apresentou dois tópicos de resistência dos materiais, um a respeito de ensaios de barras tracionadas de geometria similar e outro a respeito da resistência teórica e experimental de vigas em balanço. O inglês Robert Hooke (1635-1703) contribuiu muito para o desenvolvimento da Resistência dos Materiais, com sua famosa lei de Hooke, formulada em 1660, mas, publicada somente em 1676: “a deformação é proporcional à tensão”. Esta lei foi o primeiro avanço importante na teoria dos corpos elásticos. Isaac Newton (1642-1727), além de desenvolver suas leis famosas , é também considerado o criador do cálculo diferencial. Atribui-se a John Bernoulli (1667-1748) o estabelecimento do princípio dos deslocamentos virtuais. Foi o filho de John, Daniel (1700-1782), entretanto, quem propôs, numa carta a seu discípulo, Leonard Euler (1707-1783), o princípio que levou Euler a formular a teoria de Euler- Bernoulli sobre a flexão de vigas. Leonard Euller foi um dos mais prolíferos e conceituados cientistas do século XVIII, produzindo vários livros-texto e mais de 400 artigos durante os últimos 20 anos de sua vida. 4 J. L. Lagrange (1736-1813) produziu vários trabalhos, os mais significativos tendo sido a respeito de flambagem de pilares, aplicando corretamente as teorias de Euler sobre estabilidade estrutural. Próximo ao início do século XIX, a ênfase dada a corpos de forma específica, tais como barras solicitadas axialmente e vigas fletidas, começou a mudar para corpos de forma arbitrária. A caracterização das equações de campos elásticos foi descrita por Navier (1785-1836) em 1821, e por Cauchy (1789-1857) em 1822. As formulações apresentadas pelos dois cientistas foram idênticas, exceto por uma importante diferença: Navier acreditava que havia apenas uma constante do material em meio hookeano isotrópico, enquanto Cauchy considerava que havia duas constantes. Embora se saiba atualmente que há realmente duas constantes independentes, essa diferença de opinião continuou quase até o fim do século. Certamente uma importante razão para a controvérsia ter se estendido por várias décadas é a inexatidão dos equipamentos usados em ensaios naquele período. Na mesma época em que Navier e Cauchy estavam investigando o problema do campo elástico, Fourier (1768-1830) estava formulando as equações para modelagem do campo de temperaturas em um corpo de forma arbitrária. Este grande físico e matemático é também conhecido pelo desenvolvimento das séries de Fourier. Outro famoso cientista francês foi Duhamel (1797-1852). Ele foi o primeiro cientista a estudar tensões térmicas detalhadamente e também o primeiro a aplicar o princípio da superposição de efeitos. Em 1852 Lamé publicou o primeiro livro sobre a teoriada elasticidade: “Leçons sur la Théorie Mathematique de l’Elasticité des Corps Solids”. Durante meados do século XIX, os cientistas Thomas Young (1773-1829) e Poisson (1781- 1840) contribuíram com a introdução do módulo de Young e do coeficiente de Poisson, respectivamente. Sem dúvida, o mais prolífero estudioso de elasticidade do século XIX foi o francês Barré de Saint-Venant (1797-1886). Ele é conhecido principalmente devido ao princípio de St. Venant e à sua teoria da torção, que foi modificada por Prandtl (1875-1953) em 1903. Próximo ao final de sua vida, Saint-Venant tornou-se muito interessado no estudo da plasticidade, que tinha sido iniciado por Tresca no seu famoso trabalho sobre escoamento em 1864. No final do século XIX os cientistas mostraram crescente interesse pelos métodos variacionais ou energéticos, originalmente propostos por John Bernoulli e desenvolvidos por Euler e Lagrange. 5 O teorema de Alberto Castigliano (1847-1884), apresentado em sua tese em 1873, é ainda largamente utilizado. O famoso tratado do inglês Lord Rayleigh (John William Strutt, 1842-1919), “The Theory of Sound”, foi publicado em 1877-1878. Suas aplicações de métodos variacionais a problemas de vibrações foram mais tarde corroboradas por Walter Ritz (1878-1909), resultando no método largamente utilizado de Rayleigh-Ritz. Os avanços do século XIX culminaram com a publicação de A. E. H. Love (1863-1940), intitulada “A Treatise on the Mathematical Theory of Elasticity” em 1892-1893. Certamente nenhum outro texto é tão profundo ou veio a causar tanto impacto posterior na análise estrutural. Por volta da virada do século, os cientistas dos Estados Unidos desconheciam grande parte dos métodos analíticos desenvolvidos na Europa durante o século XIX. Coube ao ucraniano Stephen P. Timoshenko (1878-1972) levar essas informações para os Estados Unidos. Após a tradução de seus trabalhos, eles têm sido utilizados por estudantes de mecânica estrutural em todo o mundo, mesmo nos dias atuais. Bibliografia do Capítulo 1 H. Allen & Walter E. Haisler, “Introduction to Aerospace Structural Analysis”, John Wiley & Sons, 1985. 6 CAPÍTULO 2 - EQUAÇÕES BÁSICAS DA ELASTICIDADE LINEAR 2.1 Tensões Seja um corpo de forma qualquer sujeito a forças P1, P2, P3 etc. e outras ações, e um ponto qualquer P no interior do corpo, conforme figura 2.1.a. Em uma seção por um plano arbitrário Q, passando por P, existem forças distribuídas, com intensidades e direções variáveis, atuando nos pontos da seção. Tais forças correspondem à interação entre as duas partes em que o corpo foi subdividido pelo plano Q. Supondo que o material é contínuo, na área infinitesimal dA, situada no plano Q e contendo o ponto P, atua uma força dF, como mostrado na figura 2.1.b. Denomina-se vetor tensão ao vetor, cuja direção é a mesma de dF, dado por: = dF/dA O vetor tensão pode ser decomposto em suas componentes Qn e Qt, nas direções ortogonal e tangencial ao plano Q, respectivamente. Conforme figura 2.1.b: Qn = dFn/dA Qt = dFt/dA É comum chamar Qn e Qt de (tensão normal) e (tensão tangencial ou de cisalhamento), respectivamente. Pelo exposto, fica claro que o vetor tensão em um ponto do corpo depende não só da posição do ponto, mas, também da inclinação do plano que passa pelo ponto. P3 FIGURA 2.1 (a) P1 P2 P4 P5 P Q (b) ) P Q dA dF dFn dFt 7 Considere-se um parelepípedo de dimensões infinitesimais contendo o ponto P, cujas faces são ortogonais às direções X, Y, Z de um sistema de coordenadas previamente definido, conforme figura 2.2.a. Isolando-se esse parelepípedo do restante do corpo, em cada face atuará um determinado vetor tensão, como na figura 2.2.b. O índice utilizado é o da direção normal à face. Em duas faces opostas, os vetores tensão tornam-se iguais e opostos, quando as dimensões do parelepípedo tendem para zero. Em cada face do paralelepípedo, o vetor tensão pode ser decomposto, como na figura 2.1.b, em uma componente normal e outra tangencial à face. A componente tangencial à face, por sua vez, pode ser decomposta nas duas direções de eixos coordenados paralelos à face considerada. Resultam as três componentes por face indicadas na figura 2.2.c. O primeiro índice de cada componente indica a direção da normal à face considerada e o segundo índice indica a direção da própria componente. Assim a componente yz, por exemplo, atua tangencialmente à face de normal Y, na direção Z. A componente xx atua perpendicularmente à face de normal X. As componentes com índices diferentes são tensões tangenciais ou de cisalhamento e as componentes com índices iguais são tensões normais. Convenção de sinais: Uma componente que atua numa face de normal externa positiva do paralelepípedo elementar é positiva se tiver o mesmo sentido do eixo coordenado que lhe é paralelo; se a normal externa à face considerada for negativa, a componente é positiva se tiver sentido oposto ao do eixo coordenado que lhe é paralelo. Na figura 2.2.c todas as componentes indicadas são positivas. De agora em diante as componentes de tensões serão designadas simplesmente por tensões. Uma tensão normal positiva é de tração e uma tensão normal negativa é de compressão. x Z P3 Y X FIGURA 2.2 P2 (b) (a) P1 P4 P5 P (c) y z XX ZZ YY XY YX XZ ZX ZY YZ Obs: não estão repre- sentadas as tensões nas faces ocultas. 8 2.1.1 Estado de tensões em um ponto. Tensor de tensões. Simetria do tensor de tensões. Conhecidos os vetores tensão atuantes nas faces do paralelepípedo elementar que contém o ponto P, cujas faces são ortogonais aos eixos coordenados pré definidos, é possível determinar o vetor tensão em qualquer plano passando por P. Com efeito, seja o vetor unitário normal ao plano arbitrário Q, passando por P – figura 2.3. Os vetores tensão , x , y , z , atuam, respectivamente, nas áreas (k, m, n são os co-senos diretores da normal ): AQ = área ABC Ax = área PAC = kAQ Ay = área PAB = m AQ Az = área PBC = n AQ Por equlíbrio vetorial das forças atuantes no tetraedro ABCP, tem-se: (AQ) = x (Ax) + y (Ay) + z (Az) = x (kAQ) + y (mAQ) + z (nAQ) Donde: = kx + my + nz cqd Em termos de componentes nas direções dos eixos coordenados, esta equação equivale a: Ou, simplesmente: = [ ] (2.1) Na equação (2.1), [] é a matriz anterior contendo as nove tensões referidas ao sistema XYZ, a qual, como se mostrou, define totalmente o estado de tensões no ponto P. Pode-se mostrar que a matriz [] é um tensor, no sentido matemático. O vetor tensão pode ser decomposto nas componentes e t, normal e tangencial ao plano Q, respectivamente: = . (produto escalar) (2.1 a) (t)2 = 2 – ()2 (Pitágoras) (2.1 b) O tensor de tensões [] é simétrico, isto é: yx = xy zx = xz zy = yz x y = z zx zy zz yx yy yz xx xy xz k m n X Y Z B A C P Q z x y FIGURA 2.3 9 Demonstra-se a seguir a primeiraigualdade; para as outras duas o procedimento é análogo. Na figura 2.4 mostram-se as tensões que produzem momento em relação ao eixo PZ. A soma dos momentos das forças resultantes das tensões, em relação a PZ, é nula: (xx-xx)(dydz)(dy/2) + (yx)(dxdz)dy – (xy)(dydz)dx + (zx-zx)(dxdy)(dy/2) + (yy-yy)(dxdz)(dx/2) + (zy-zy)(dxdy)(dx/2) = 0, donde yx = xy cqd; analogamente zx = xz e zy = yz O tensor de tensões [] tem, então, somente 6 termos independentes: [] = (2.2) 2.1.2 Exemplos de estados de tensões Solicitação uniaxial – figura 2.5.a; Solicitação de corte - figura 2.5.b. Em ambos os casos o tensor de tensões está referido ao sistema XYZ. X Y Z XX YY XY YX ZX ZY ZX ZY YY YX XX XY Z P dx dz dy FIGURA 2.4 xz yz zz xx xy xz xy yy yz D A B C P1 P1 P2 P2 X Y Z (a) (b) Na seção AB: = P1/A1 (A1 = área da seção AB) No sistema XYZ: [ ] = 0 0 0 0 0 0 0 0 Na seção CD: = P2/A2 (A2 = área da seção CD) No sistema XYZ: [ ] = 0 0 0 0 0 0 0 FIGURA 2.5 10 2.1.3 Equações de equilíbrio de tensões Seja B o vetor que representa a força de massa ou de volume (devida à gravidade, à atração magnética etc.) por unidade de volume: B = Bxi + Byj + Bzk Tomando o equilíbrio estático das forças na direção X, atuantes no elemento da fig. 2.6: [(xx/x)dx]dydz + [(yx/y)dy]dxdz + [(zx/z)dz]dxdy + Bxdxdydz = 0, ou: xx/x + yx/y + zx/z + Bx = 0 (2.3) Equações análogas de equilíbrio aplicam-se às direções Y e Z. 2.1.4 Planos principais e tensões principais Denominam-se planos principais aos três planos ortogonais entre si, que passam pelo ponto considerado, nos quais as tensões de cisalhamento são nulas. As tensões normais que atuam nos planos principais são chamadas tensões principais e designadas por 1, 2 e 3, em ordem decrescente de valor algébrico. Se o plano inclinado da figura 2.3 for um plano principal, o vetor tensão terá a direção de , podendo-se escrever: = i (2.4) onde i é uma tensão principal. Igualando-se os segundos membros das equações (2.1) e (2.4), tem-se: [] = i, ou xxk + xym + xzn = ik xyk + yym + yzn = im xzk + yzm + zzn = in, donde: (xx - i)k + xym + xzn = 0 X Z Y xx xx+(xx/x)dx Bx yx yx+(yx/y)dy zx zx+(zx/z)dz zzzzz FIGURA 2.6 dz dx dy 11 xyk + (yy - i)m + yzn = 0 (2.5) xzk + yzm + (zz - i)n = 0 Observando-se que k2 + m2 + n2 = 1, (2.6) a solução do sistema (2.5) não pode ser trivial, resultando a condição: (xx - i) xy xz xy (yy - i) yz = 0 (2.7) xz yz (zz - i) A equação (2.7) é cúbica e suas três raízes i são as tensões principais 1, 2 e 3 (pode-se demonstrar que as três raízes são reais). Para se obterem as direções normais a cada plano principal (chamadas direções principais), substitui-se, sucessivamente, cada tensão principal no sistema (2.5). Devido à condição (2.7), apenas duas das três equações (2.5) são linearmente independentes, devendo (2.6) ser usada como terceira equação. Demonstra-se que as três direções principais e, consequentemente, os três planos principais, são ortogonais entre si. Desta forma, obtidas duas direções principais (correspondentes a 1 e 2, por exemplo), a terceira pode ser obtida pelo produto vetorial das anteriores: (k3 m3 n3) = (k1 m1 n1) (k2 m2 n2) O módulo do vetor tensão atuante em qualquer plano que passa pelo ponto considerado tem valor intermediário entre os módulos das tensões principais 1 e 3, como se mostra a seguir. Utilizando-se eixos paralelos às direções principais no ponto como sistema de coordenadas, a equação (2.1) fica: x = 1k y = 2m (2.8) z = 3n Substituindo os valores de k, m, n dados por (2.8) em (2.6), obtém-se: (x)2/(1)2 + (y)2/(2)2 + (z)2/(3)2 = 1 (2.9) Esta é a equação de um elipsóide cujos semi-eixos são 1, 2 e 3, no sistema de coordenadas x y z, conforme figura 2.7. Observa-se que o módulo de qualquer vetor tensão (cujas componentes são x, y e z) tem valor intermediário entre os módulos das tensões principais 1 e 3, como se afirmou anteriormente. 12 Pode-se também demonstrar que a tensão normal atuante em qualquer plano que passa pelo ponto considerado tem valor intermediário, algebricamente, entre 1 e 3. 2.1.5 Valores extremos das tensões de cisalhamento Utilizando-se eixos paralelos às direções principais no ponto como sistema de coordenadas, as componentes cartesianas de são dadas por (2.8). O quadrado do módulo de e a componente normal de , dada por (2.1 a), ficam, respectivamente: 2 = (1k)2 + (2m)2 + (3n)2 = . = (1k 2m 3n) . (k m n) = 1k2 + 2m2 + 3n2 Substituindo-se estas expressões na equação (2.1 b), obtém-se a componente tangencial, ou de cisalhamento, de : (t)2 = 2 – ()2 = (1k)2 + (2m)2 + (3n)2 – (1k2 + 2m2 + 3n2)2 (2.10) Determinando-se matematicamente os extremos da função t(k, m, n), obtêm-se os seguintes valores de t, com os correspondentes valores de k, m, n (que definem as normais aos planos onde as tensões de cisalhamento assumem valores extremos): t k m n (1- 2)/2 1/2 1/2 0 (1- 3)/2 1/2 0 1/2 (2- 3)/2 0 1/2 1/2 (2.11) Vê-se que os planos onde atuam os valores extremos das tensões de cisalhamento são bissetores dos planos principais, e que a maior tensão de cisalhamento é igual a: (1 - 3)/2 x y z 1 2 3 FIGURA 2.7 13 2.2 Deformações (para pequenos deslocamentos e pequenas deformações) Devido ao efeito de forças e outras ações, todos os pontos de um corpo sofrem deslocamentos, definindo-se o campo de deslocamentos (figura 2.8): q = q(x, y, z) = (u, v, w) u = u(x, y, z) v = v(x, y, z) w = w(x, y, z) Considerem-se três pontos A, B, C, do corpo indeformado, no plano XY, separados por distâncias infinitesimais; o segmento AB é paralelo a X e tem comprimento dx (figura 2.9.a); o segmento AC é paralelo a Y e tem comprimento dy (figura 2.9.b). Sendo u e v os deslocamentos horizontal e vertical, respectivamente, de A, tem-se: uB = u + (u/x) dx vB = v + (v/x) dx (figura 2.9.a) uC = u +(u/y) dy vC = v +(v/y) dy (figura 2.9.b) A posição deformada de AB é A1B1, cuja projeção horizontal é: dx + uB – u = dx + (u/x)dx Assim, a variação de comprimento de AB é (u/x)dx, e a deformação linear na direção X: xx = (u/x)dx/dx = u/x (2.12) Analogamente determinam-se as outrasdeformações lineares: yy = v/y (2.13) zz = w/z (2.14) u A(x,y,z ) q(x,y,z) X Y Z w v X FIGURA 2.8 uB A X Y A X Y A1 B1 vB v u dx C dy A1 u v vC uC C1 B (a) (b) FIGURA 2.9 14 Por outro lado, o ângulo reto BAC sofre uma distorção, devido à rotação de seus lados. Rotação de AB (figura 2.9.a).: (vB – v)/(dx + uB – u) = [(v/x)dx]/[(dx + (u/x)dx)] = v/x (para pequenas deformações, u/x << 1) Rotação de AC (figura 2.9.b).: (uC – u)/(dy + vC – v) = [(u/y)dy]/[(dy + (v/y)dy)] = u/y (para pequenas deformações, v/y << 1) Assim, a distorção total do ângulo reto BAC é dada por: xy = u/y + v/x (2.15) Analogamente determinam-se as distorções nos planos XZ e YZ: xz = u/z + w/x (2.16) yz = v/z + w/y (2.17) Vê-se, pelas equações (2.15), (2.16) e (2.17), que xy = yx xz = zx yz = zy (2.18) Convenção de sinais: deformações lineares positivas correspondem a alongamentos; distorções angulares positivas correspondem a redução do ângulo reto cujos lados têm direção e sentido dos eixos coordenados antes da deformação. 2.2.1 Estado de deformações em um ponto. Tensor de deformações. Analogamente ao caso das tensões, demonstra-se que as três deformações lineares e as três distorções angulares são suficientes para descrever o estado de deformações em um ponto. Entretanto, pode-se mostrar que para a matriz de deformações tornar-se um tensor, no sentido matemático, é necessário que as distorções angulares sejam divididas por 2. Assim, o tensor de deformações, que é simétrico conforme (2.18), é dado por: [] = (2.19) onde as deformações angulares são: xy = xy/2 xz = xz/2 yz = yz/2 (2.20) O vetor deformação , em um plano cuja normal é , bem como suas componentes linear () e angular (t) são obtidos com equações análogas às equações (2.1), (2.1.a) e (2.1.b): = [] (2.21) = . (produto escalar) (2.21 a) (t)2 = 2 – ()2 (Pitágoras) (2.21 b) xz yz zz xx xy xz xy yy yz 15 2.2.2 Planos principais e deformações principais Assim como para as tensões, existem três planos ortogonais entre si, denominados planos principais, onde as deformações angulares são nulas. As deformações lineares 1, 2, 3, atuantes nestes planos, são denominadas deformações principais. A deformação linear atuante em qualquer outro plano tem seu valor algébrico compreendido entre 3 (mínima) e 1 (máxima). A determinação das deformações principais e dos planos principais é feita da mesma forma que para as tensões, utilizando-se o tensor [] em lugar do tensor []. 2.2.3 Valores extremos das deformações angulares Por analogia com as tensões, obtém-se: t k m n (1-2)/2 1/2 1/2 0 (1-3)/2 1/2 0 1/2 (2-3)/2 0 1/2 1/2 (2.22) 2.2.4 Equações de compatibilidade de deformações Definido o campo de deslocamentos q = (u, v, w), ficam definidas as deformações ij em todo o corpo, por meio das equações (2.12) a (2.20). Entretanto, para se obter um campo de deslocamentos contínuo e unívoco, a partir das deformações, é necessário que tais deformações atendam a determinadas equações de compatibilidade. Por exemplo, no plano XY tem-se: xx = u/x yy = v/y xy = u/y + v/x Derivando-se as 3 expressões acima como mostrado a seguir, obtém-se a equação (2.23) 2xx/y2 = 3u/xy2 2yy/x2 = 3v/yx2 2xy/xy = 3u/xy2 + 3v/yx2, donde: 2xx/y2 + 2yy/x2 = 2xy/xy (2.23) Duas equações similares a (2.23) são obtidas para os planos XZ e YZ, respectivamente. Além destas três equações de compatibilidade, há outras três, uma das quais (2.24) é obtida a seguir, e as outras duas podem ser obtidas por meio de troca adequada dos índices: 2xx/yz = 3u/xyz 2xy/xz = 3u/xyz + 3v/x2z 2xz/xy = 3u/xyz + 3w/x2y 2yz/x2 = 3v/x2z + 3w/x2y, donde 2xx/yz =(1/2)( /x)(- yz/x + xz/y + xy/z) (2.24) 16 2.2.5 Deformação volumétrica Considere-se um paralelepípedo retangular elementar, de lados dx, dy, dz, sujeito a um estado de deformações []. Os comprimentos finais dos lados deformados são dx + xdx, dy + ydy, dz + zdz, respectivamente. As deformações angulares não produzem variação de volume. Assim, a deformação volumétrica é dada por: V/V = [(dx + xdx)(dy + ydy)(dz + zdz) – dxdydz]/(dxdydz) = (1 + x)(1 + y)(1 + z) – 1 Desprezando-se o produto de duas ou mais deformações: V/V = x + y + z (2.25) 2.3 Relações entre tensões e deformações (para pequenos deslocamentos e pequenas deformações) Considerando-se a simetria dos tensores [] e [] e admitindo-se que cada tensão é função linear das 6 deformações, tem-se (índices repetidos são escritos só uma vez, tensões de cisalhamento são indicadas pela letra , distorções angulares ij são usadas em lugar das deformações correspondentes ij): x = c11x + c12y + c13z + c14yz + c15zx + c16xy y = c21x + c22y + c23z + c24yz + c25zx + c26xy z = c31x + c32y + c33z + c34yz + c35zx + c36xy yz = c41x + c42y + c43z + c44yz + c45zx + c46xy zx = c51x + c52y + c53z + c54yz + c55zx + c56xy xy = c61x + c62y + c63z + c64yz + c65zx + c66xy (2.26) Na fig. 2.10 vê-se que a variação da energia de deformação associada a uma variação dx da deformação x, no volume dxdydz, é dada por: dWx = x(dydz) dx(dx) No volume unitário: dWx0 = xdx FIGURA 2.10 dy x, x dz dx x x dWx0 dx (dx)dx 17 Considerando-se todas as tensões e deformações obtém-se, no volume unitário: dW0 = xdx + ydy + zdz + yzdyz + zxdzx + xydxy (2.27) Por outro lado, pode-se escrever: dW0 = (W0/x)dx + (W0/y)dy + (W0/z)dz + (W0/yz)dyz + (W0/zx)dzx + (W0/xy)dxy (2.28) Comparando-se (2.27) e (2.28), vê-se que W0/x = x e W0/y = y Derivando-se estas igualdades como a seguir e levando-se em conta as equações (2.26): 2W0/xy = x/y = c12 2W0/yx = y/x = c21, donde c12 = c21; em geral: cij = cji (2.29) Assim, em (2.26) só existem 21 constantes independentes (materiais anisótropos). Para materiais ortotrópicos (aqueles que têm propriedades simétricas em relação a três planos ortogonais), demonstra-se que não há interação de tensão normal com distorção, de tensão de cisalhamento com deformaçãolinear, nem de tensão de cisalhamento com distorção cujos índices não correspondem aos da tensão. A matriz dos coeficientes cij de (2.26) fica com 9 constantes independentes: c11 c12 c13 0 0 0 c12 c22 c23 0 0 0 [cij] = c13 c23 c33 0 0 0 0 0 0 c44 0 0 0 0 0 0 c55 0 0 0 0 0 0 c66 (2.30) Para materiais isótropos (cujas propriedades independem da direção considerada), tem-se: c11 = c22 = c33 = c1, c12 = c13 = c23 = c2, c44 = c55 = c66 = c3 Assim, as equações (2.26) ficam: x = c1x + c2y + c2z y = c2x + c1y + c2z z = c2x + c2y + c1z yz = c3yz zx = c3zx xy = c3xy Ou, inversamente: x = f1x + f2y + f2z y = f2x + f1y + f2z z = f2x + f2y + f1z yz = f3yz zx = f3zx xy = f3xy Fazendo f1 = 1/E, f2 = -/E, f3 = 1/G, obtém-se a chamada lei de Hooke generalizada: 18 x = (1/E)[x -(y + z)] y = (1/E)[y -(x + z)] z = (1/E)[z -(x + y)] yz = yz/G zx = zx/G xy = xy/G (2.31) Mostra-se, a seguir, que existe uma relação entre G, E e . Considere-se o estado de tensões da figura 2.11, denominado estado de cisalhamento simples. A deformação linear na direção pode ser determinada de duas formas: Em função do tensor de deformações no sistema XYZ De acordo com as equações (2.19) a (2.21.a) e (2.31): x = y = z = xz = yz = 0 xy = xy/2 = xy/(2G) = /(2G) = .[]. = [2/2 2/2 0] = /(2G) Em função das tensões normais e 11 = .[]. = 11 = 1.[].1 = - Assim, com a primeira das equações (2.31): = (1/E)[ -(11 + 0)] = (1/E)[ -(- + 0)] = (1 + )/E Igualando-se os dois valores de : /(2G) = (1 + )/E, donde G = E/[2(1 + )] (2.32) Conclui-se que bastam duas constantes físicas para se determinarem as relações entre tensões e deformações, no caso de materiais isótropos. 2.3.1 Significado físico das constantes G, E, Nas 3 últimas equações (2.31) nota-se que as tensões de cisalhamento são proporcionais às distorções angulares correspondentes, sendo G a constante de proporcionalidade: ij = Gij A constante G é denominada módulo transversal de elasticidade. -2/2 1 = 2/2 0 0 /(2G) 0 /(2G) 0 0 0 0 0 2/2 2/2 0 A B C D 1 X Y Z 0 0 []= 0 0 0 0 0 2/2 = 2/2 0 FIGURA 2.11 45 o 19 Considere-se agora o estado de tensões uniaxial (figura 2.5.a). De acordo com as 3 primeiras equações (2.31), tem-se: x = (1/E)[ -(0 + 0)] = /E y = z = (1/E)[0 -( + 0)] = -/E = -x Vê-se que a tensão normal longitudinal é proporcional à deformação linear longitudinal: = Ex (no estado de tensões uniaxial) Esta é a conhecida lei de Hooke, e a constante de proporcionalidade E é denominada módulo longitudinal de elasticidade ou simplesmente módulo de elasticidade. Observa-se também que as deformações transversais são proporcionais à deformação longitudinal: y = z = -x (no estado de tensões uniaxial) A constante de proporcionalidade é denominada coeficiente de Poisson. 2.3.2 Valores limites do coeficiente de Poisson No estado de tensões uniaxial as deformações transversais nunca têm o mesmo sinal da deformação longitudinal; assim, se esta corresponder a um alongamento, as transversais corresponderão a contrações. Para atender a este fato físico, vê-se na expressão y = z = -x que a constante não pode ser negativa, isto é, 0. Considere-se um estado de tensões onde as três tensões principais são iguais entre si e de tração, 1 = 2 = 3 = > 0. Pelas 3 primeiras equações (2.31) obtém-se: 1 = (1/E)[1 -(2 + 3)] = (/E)(1 – 2) = 2 = 3 A deformação volumétrica, de acordo com (2.25) é: V/V = 1 + 2 + 3 = (3/E)(1 – 2) Esta deformação, causada pelas três tensões de tração, não pode ser negativa; como o fator 3/E é positivo, resulta que 1 – 2 0 e, consequentemente, 1/2. O coeficiente de Poisson tem, portanto, os seguintes limites: 0 1/2 (2.33) 2.3.3 Coincidência dos planos principais de tensões e de deformações No caso de materiais isótropos, as equações (2.31) permitem concluir que os planos principais de deformações coincidem com os planos principais de tensões (quando as três tensões de cisalhamento são nulas, as três deformações angulares também são). Além disto, devido à faixa de variação de dada por (2.33), as 3 primeiras equações (2.31) mostram que nos planos 20 onde atuam a maior e a menor tensões normais, atuam também a maior e a menor deformações lineares, respectivamente. 2.3.4 Efeito da variação de temperatura As deformações correspondentes a uma variação de temperatura T são dadas por ijT. Os coeficientes ij, denominados coeficientes de dilatação térmica, têm as seguintes propriedades: materiais anisótropos ij = ji materiais ortotrópicos ij = 0, para ij, materiais isótropos (além de ij = 0 para ij) x = y = z = As equações (2.31), com inclusão do efeito da variação de temperatura, tornam-se: x = (1/E)[x-(y+z)]+T; y = (1/E)[y-(x+z)]+T; z = (1/E)[z-(x+y)]+T yz = yz/G zx = zx/G xy = xy/G (2.34) 2.3.5 Estados especiais de tensões Estado plano de tensões - ocorre quando uma chapa de pequena espessura t é sujeita somente a cargas cujas linhas de ação ficam no seu plano médio (paralelo às duas dimensões maiores da chapa). Considera-se que as tensões não variem na espessura da chapa, isto é, na direção perpendicular ao plano médio. Se esta direção for Z, tem-se: z = xz = yz = 0 e, consequentemente, xz = yz = 0 Estado plano de deformações - ocorre quando o campo de deslocamentos tem componente nula em uma determinada direção e as outras duas componentes não variam ao longo desta direção. Se esta direção for Z, tem-se: w = 0, u = u(x, y), v = v(x, y) e, consequentemente, z = w/z = 0 xz = (1/2)( u/z + w/x) = 0 yz = (1/2)( v/z + w/y) = 0 xz = yz = 0 2.3.6 - Consideração final A hipótese das relações lineares entre tensões e deformações, feita em todo o item 2.3, é válida para qualquer material, no início da solicitação. Entretanto, além de um certo nível de solicitação, chamado limite de proporcionalidade do material, tal hipótese, bem como suas consequências, perdem a validade. Salvo indicação contrária, este curso de Resistência dos 21 Materiais restringe-se a solicitações abaixo do limite de proporcionalidade. Além disto, consideram-se apenas materiais isótropos e homogêneos. 2.4 Energia de deformação Admitindo-se que todas as ações aplicadas em um corpo cresçam lenta e proporcionalmente de zero até o respectivo valor final, todas as tensões e deformações também crescerão proporcionalmente de zero até o respectivo valor final. Na figura 2.12.a mostra-se a variação de x com x, e na figura 2.12.b o efeito da deformação x em um paralelepípedo elementar de lados paralelos aos eixos coordenados. A força resultante das tensões x é Fx =x(dydz), e o deslocamento de seu ponto de aplicação, associado a x, é ux = x(dx). A força e o deslocamento mantêm também uma relação linear entre si, assim como a tensão e a deformação (figura 2.12.a). A energia de deformação do elemento dxdydz, associada a x e x, é igual à área sob o diagrama Fx – ux: dUx = (1/2)Fxux = (1/2)x(dydz)x(dx) = (1/2)xx(dV) No volume unitário, U0x = dUx/dV = (1/2)xx Analogamente obtêm-se as energias de deformação do volume unitário, associadas a y, y e a z, z. Assim: U0x = (1/2)xx U0y = (1/2)yy U0z = (1/2)zz (2.35) Na figura 2.13.a mostra-se a variação de xy com xy, e na figura 2.13.b o efeito da deformação xy em um paralelepípedo elementar de lados paralelos aos eixos coordenados. x x FIGURA 2.12 x, x dz dy dx xdx (a) (b) Fx ux xy xy FIGURA 2.13 dz dy dx (a) (b) Fy uy u/y v/x xy yx = xy ux Fx 22 A força resultante das tensões xy é Fy = xy(dydz), e o deslocamento de seu ponto de aplicação, na direção da força, é uy = (v/x)(dx). A força resultante das tensões yx é Fx = yx(dxdz) = xy(dxdz), e o deslocamento de seu ponto de aplicação, na direção da força, é ux = (u/y)(dy). Força e deslocamento mantêm também uma relação linear entre si, assim como a tensão e a deformação (na figura 2.13.a mostra-se a relação entre Fy e uy, bem como a relação entre Fx e ux). A energia de deformação do elemento dxdydz, associada a xy e xy, é igual à soma das áreas sob os diagramas Fy – uy e Fx – ux: dUxy = (1/2)Fyuy + (1/2)Fxux = (1/2)xy(dydz)(v/x)(dx) + (1/2)xy(dxdz)(u/y)(dy) = (1/2)xy(v/x + u/y) (dV) = (1/2)xyxy(dV) No volume unitário, U0xy = dUxy/dV = (1/2)xyxy Analogamente obtêm-se as energias de deformação do volume unitário, associadas a xz, xz e a yz, yz. Assim: U0xy = (1/2)xyxy U0xz = (1/2)xzxz U0yz = (1/2)yzxz (2.36) A energia de deformação total do volume unitário é obtida somando-se todas as parcelas dadas em (2.35) e (2.36): U0 = (1/2)xx + (1/2)yy + (1/2)zz + (1/2)xyxy + (1/2)xzxz + (1/2)yzxz (2.37) 2.5 Aplicação: tração e compressão de barras prismáticas Barra prismática é uma peça em forma de prisma ou de cilindro, na qual o comprimento medido ao longo do eixo é pelo menos 10 vezes maior do que a maior dimensão da seção transversal ao eixo. Em uma barra prismática sujeita a forças externas atuando no centro de gravidade da seção transversal, perpendicularmente ao plano desta seção, surgem forças normais de tração ou de compressão. A convenção de sinais para forças normais é análoga à utilizada para tensões: a força normal em uma face da seção transversal com normal positiva é positiva se tiver o mesmo sentido do eixo de coordenadas que lhe é paralelo. Assim, forças normais de tração são positivas. Conforme figura 2.5.a, no tensor de tensões para uma barra prismática sujeita a força normal, tem-se x = = P1/A e as demais tensões nulas (X é a direção normal à seção transversal, P1 a força normal e A é a área da seção transversal). No tensor de deformações, conforme expressões (2.31), tem-se: x = x/E y = z = -x/E xy = xz = yz = 0 23 A variação do comprimento dx é dada por xdx (expressão (2.12)); a variação do comprimento L, na direção X é: L = xdx = (x/E)dx = [P1/(EA)]dx (limites de integração 0 e L) Para trechos com P1/(EA) = constante: L = P1L/(EA) A energia de deformação no volume unitário, conforme (2.37), é U0 = (1/2)xx. No volume elementar Adx tem-se: dU = (1/2)Axxdx = (1/2)A(P1/A)[P1/(EA)]dx =[P12/(2EA)]dx No volume total da barra, de comprimento L: U = [P12/(2EA)]dx (limites de integração 0 e L) Para trechos com P1 2/(EA) = constante: U = P1 2L /(2EA) Bibliografia do Capítulo 2 Boresi, A. P. e Chong, K. P. – “Elasticity in Engineering Mechanics” – Prentice Hall – N. Jersey - 1987 Féodossiev, V. – “Résistance des Matériaux” – Éditions de la Paix – Moscou - 1968 24 CAPÍTULO 3 – VASOS DE PRESSÃO AXISSIMÉTRICOS, DE PAREDE FINA Vasos de pressão podem conter gases e/ou líquidos e/ou partículas sólidas. Como exemplos de vasos de pressão axissimétricos citam-se: um bujão de gás doméstico, uma caixa d’água tronco-cônica de eixo vertical, um silo para armazenamento de grãos (com a parte superior cilíndrica e a inferior tronco-cônica) etc. Neste capítulo estudar-se-á basicamente o caso de conteúdo gasoso, considerando-se desprezíveis os efeitos do peso próprio (do vaso e do gás) e das forças externas (por exemplo as aplicadas pelos suportes). Entretanto, salienta-se que, nos casos em que o vaso contém líquido ou partículas sólidas: o peso próprio do conteúdo não pode ser desprezado e, consequentemente, a pressão interna na parede não é constante, as forças aplicadas pelos suportes têm que ser consideradas e, no caso de partículas sólidas, existem forças de atrito entre as partículas e a parede. 3.1 Caso axissimétrico geral Considere-se o estado de tensões em um ponto qualquer A, situado na parede do vaso de pressão da figura 3.1, referido ao sistema formado pelas direções: c (circunferencial), m (meridional), n (normal) p A c m n c m A FIGURA 3.1 t t = espessura da parede 25 m c m c m m c Observa-se que não existem tensões de cisalhamento nas superfícies externa e interna da parede, ou seja, nc = nm = 0. Devido à axissimetria, a parede do vaso não sofre distorções angulares no plano formado pelas direções c, m, portanto, cm = 0 e cm = Gcm = 0. Observa-se também que a tensão normal nn (ou simplesmente n) é nula na superfície externa da parede e igual a –p na superfície interna. Como se verá à frente, a tensão –p é desprezível em relação às tensões normais mm (ou m) e cc (ou c). Assim, para definir o estado de tensões em um ponto qualquer da parede do vaso, basta determinar as tensões normais m (meridional) e c (circunferencial). Na figura 3.2.a: rm, r = raios do meridiano e do paralelo, respectivamente, que passam por A rc = raio da curvatura horizontal (normal à parede entre A e o eixo do vaso) Nas figuras 3.2.b e 3.2.c aparecem as variações de direção das tensões m e c, correspondentes aos ângulos d e d, medidos no plano meridiano e no plano perpendicular ao meridiano que contém rc (a tensão m varia também em módulo, mas esta variação é desprezível em relação ao valor da tensão). Resultante da pressão p no elemento compreendido pelos ângulos d e d, direção n: p(rmd)(rcd) Projeção das resultantes das tensões m no mesmo elemento, na direção n: -2tm(rcd)d/2 Projeção das resultantes das tensões c no mesmo elemento, na direção n: -2tc(rmd)d/2 rc p A n rm r (a) FIGURA 3.2 rm d p (b) p rc d (c) t t n 26 Estabelecendo-se o equilíbrio das três forças na direção n: p(rmd)(rcd) - 2tm(rcd)d/2 – [2tc(rmd)d/2] = 0 Simplificando-se o resultado, obtém-se a equação de Laplace: p/t = m/rm + c/rc (3.1) A segunda equação necessária para a determinação de m e c é obtida pelo equilíbrio, na direção do eixo, de uma das partes em que o vaso é subdividido pelo plano doparalelo passando por A, conforme figura 3.3: p(r2) = mtcos(2r), donde m = pr/(2tcos) = prc/(2t) (3.2) As equações (3.1) e (3.2) resolvem o problema. Nos polos da superfície do vaso tem-se r = 0 e = 90o; assim, a equação (3.2) não pode ser utilizada. Observa-se, entretanto, que todas as tensões meridionais atuantes em um polo são iguais entre si, independentemente do meridiano a que pertencem. Desta forma, pode-se escrever a seguinte equação de equilíbrio na direção da normal ao polo, que coincide com a direção do eixo do vaso (figura 3.4 - r0 = raio do meridiano, no polo analisado): p(r0d)(r0d)- 2t0(r0d)d/2 – 2t0(r0d)d/2 = 0, donde: 0 = pr0/(2t) (3.3) t m m rc r p FIGURA 3.3 0 0 0 0 r0 d p FIGURA 3.4 t 27 Observação: a teoria utilizada não se aplica a tampos planos de vasos, que sofrem flexão devido à pressão interna. 3.2 Casos particulares 3.2.1 Vasos esféricos Todos os pontos da superfície esférica podem ser considerados como polos, com raio r0 = R, sendo R o raio da superfície esférica. As tensões normais meridionais, independentemente do ponto e da direção considerados, são dadas por (3.3), substituindo-se r0 por R: 0 = pR/(2t) (3.4) 3.2.2 Vasos cilíndricos Comparando-se as figuras 3.2 e 3.5, vê-se que: rc = r = R = raio da superfície cilíndrica rm = = 0 Substituindo-se estas informações nas equações (3.1) e (3.2), respectivamente, obtém-se: c = pR/t (3.5) m = pR/(2t) (3.6) 3.3 Tubos encaixados 3.3.1 Efeito isolado da pressão interna Considere-se que os dois tubos da figura 3.6.a estejam encaixados, sem folga e sem pressão de contato, antes da aplicação da pressão interna pi. Seja ps a pressão de contato que surge após a aplicação de pi. Na figura 3.6.b mostra-se a metade do sistema situada acima do plano diametral; estabelecendo-se o equilíbrio vertical desta metade, obtém-se: Eixo rm = rc = r = R FIGURA 3.5 28 2riLpi = 2L(cete + citi) ou ripi = cete + citi (3.7) Na superfície de contato dos dois tubos, as deformações circunferenciais são iguais, ce = ci; assim, usando-se a lei de Hooke generalizada (2.31): (ce - eme)/Ee = (ci - imi)/Ei (3.8) Ee, e, me são o módulo de elasticidade, o coeficiente de Poisson e a tensão meridional, respectivamente, no tubo externo Ei, i, mi são o módulo de elasticidade, o coeficiente de Poisson e a tensão meridional, respectivamente, no tubo interno Desprezando-se o efeito das parcelas eme e imi em (3.8) (simplificação usual na prática para esta situação), obtém-se: ce/Ee = ci/Ei ou ce = (Ee/Ei)ci (3.9) Utilizando-se (3.7) e (3.9), resultam: ci = piri /[(Ee/Ei)te + ti] ce = piri /[te + (Ei/Ee)ti] (3.10) O tubo externo fica sujeito a uma pressão interna igual à pressão de contato ps, assim: ce = psrs/te, donde ps = cete /rs = piri /{rs[1 + Eiti/(Eete)]} (3.11) 3.3.2 Efeito isolado de variações de temperatura Considere-se que os dois tubos da figura 3.6 estejam encaixados inicialmente sem folga e sem pressão de contato (e também com pi = 0). A aplicação de variações de temperatura Te e te FIGURA 3.6 pi ri rs ti (a) pi ci c e ci c e L (b) 29 Ti nos tubos externo e interno, respectivamente, pode resultar no aparecimento de pressão de contato ou de folga entre os dois tubos. Sejam e e i os coeficientes de dilatação térmica dos tubos externo e interno, respectivamente; as deformações circunferenciais correspondentes, devidas somente à variação de temperatura, são eTe e iTi. Se eTe > iTi, surge folga entre os tubos e, consequentemente, nenhuma tensão. Se, ao contrário, eTe < iTi, surgem pressão de contato e tensões nos tubos. Neste caso, desprezando-se (como anteriormente) o efeito das parcelas eme e imi nas deformações circunferenciais, tem-se: ce = ce/Ee + eTe ci = ci/Ei + iTi Estabelecendo-se a compatibilidade destas deformações e notando que ce = psrs/te (tração) e ci = -psrs/ti (compressão), onde ps é a pressão de contato: psrs/(teEe) + eTe = -psrs/(tiEi) + iTi, donde ps = (iTi - eTe)/{rs[1/(teEe) + 1/(tiEi)]} (3.12) Bibliografia do Capítulo 3 Féodossiev, V. – “Résistance des Matériaux” – Éditions de la Paix – Moscou - 1968 30 CAPÍTULO 4 – TORÇÃO DE BARRAS PRISMÁTICAS Em uma barra prismática em equilíbrio, sujeita a momentos externos atuando em planos normais ao eixo da barra, aparecem momentos de torção nas seções transversais. A convenção de sinais para momentos de torção é análoga à utilizada para tensões: o momento de torção em uma face da seção transversal com normal positiva é positivo se seu vetor tiver o mesmo sentido do eixo de coordenadas que lhe é paralelo. Vários tipos de seções transversais de barras sujeitas à torção, além de sofrerem rotação em torno do eixo da barra, perdem sua planicidade na situação deformada, fenômeno denominado empenamento. Este capítulo é limitado à torção uniforme, que ocorre quando a seção transversal for isenta de empenamento (por exemplo seções circulares cheias ou vazadas), ou quando não for isenta mas não houver restrição ao empenamento. Existe restrição ao empenamento quando o momento de torção varia ao longo do eixo da barra ou quando algum apoio da barra oferece restrição ao empenamento; neste caso tem-se uma situação complexa, denominada torção não uniforme, com tensões normais e de cisalhamento nas seções transversais. Geralmente a torção não uniforme é assunto de cursos de pós graduação. 4.1 Barra de seção maciça qualquer Como já comentado, o momento de torção deve ser constante e os apoios não podem oferecer restrição ao empenamento. Condições de contorno em deslocamentos (figura 4.1.a): I - a seção da esquerda não gira em torno do eixo X (eixo de torção); II - o deslocamento u (na direção x) do ponto A é impedido, isto é, u(0, 0, 0) = 0. Hipóteses (figura 4.1.a): I - u = u(y, z), isto é, o empenamento (função dos deslocamentos u) é o mesmo para todas as seções transversais; 31 II - as projeções das seções transversais no plano YZ giram como corpo rígido em torno do eixo X, e o ângulo de rotação de uma seção em relação a outra é proporcional à distância entre elas: = x, sendo o ângulo de torção por unidade de comprimento ( = constante). Campo de deslocamentos O ponto qualquer P = P(x, y, z) desloca-se para P’. Para pequenas rotações, PP’ = r(x), com PP’ tendendo a se tornar perpendicular ao raio r (figura 4.1.b). Assim, os deslocamentos nas direções Y e Z são dados por (notando que a projeção horizontal de PP’ tem sentido contrário ao do eixo Y): -v = rxsen = xz, donde v = -xz w = rxcos = xy(4.1) Campo de deformações Com as expressões (2.12) a (2.17) obtém-se: y = v/y = 0 z = w/z = 0 x = u/x = 0 (hipótese I) yz = v/z + w/y = 0 xy = u/y + v/x = u/y - z xz = u/z + w/x = u/z + y (4.2) Observa-se que as distorções xy e xz (e consequentemante as tensões xy e xz) são funções apenas de y e z. Campo de tensões Com a lei de Hooke generalizada (eq. 2.31) obtém-se: x = y = z = yz = 0 xy = G(u/y - z) xz = G(u/z + y) (4.3) Mt Mt A X Z Y X B B’ C C’ x L =x L=L FIGURA 4.1 (a) P P (b) P’ r r x -v w Y Z 32 Compatibilidade de deformações Derivando-se a penúltima equação (4.3) em relação a z, a última em relação a y, e subtraindo- se, tem-se: xy/z - xz/y = -2G = H = constante (4.4) Pode-se mostrar que (4.4) corresponde a uma equação de compatibilidade de deformações. Equilíbrio de tensões Com as expressões (2.3), obtém-se (desprezando-se o peso da barra, Bx = By = Bz = 0): x/x + xy/y + xz/z = xy/y + xz/z = 0 xy/x + y/y + yz/z = xy/x = 0 xz/x + yz/y + z/z = xz/x = 0 (4.5) As duas últimas equações (4.5) confirmam que xy e xz são funções apenas de y e z. Condições de contorno em tensões I - Considere-se, em um ponto S qualquer da superfície lateral da barra, o sistema de coordenadas formado pelo eixo X, pela normal = (k, m, n) à superfície lateral em S, e pela tangente t ao contorno da seção em S (figura 4.2.a). Devido à simetria do tensor de tensões referido ao sistema tX, tem-se x = x. Porém, x = 0 (não existem tensões na superfície lateral da barra) e, consequentemente, x = 0. Desta forma, a tensão de cisalhamento na seção, junto ao contorno, é paralela à tangente ao contorno no ponto considerado. Expressando x em função de xy e xz, tem-se (notar que a projeção horizontal de ds tem sentido contrário ao do eixo Y): x = mxy + nxz = xy(dz/ds) + xz(-dy/ds) = 0 (4.6) II – Nas seções transversais extremas tem-se (figura 4.2.b): dMt = xz(dydz)y - xy(dydz)z, donde Mt = (yxz - zxy)dydz (4.7) Mt Z Y (b) y z xz xy dy dz (a) Y X Z FIGURA 4.2 X t x x xz xy ds dz -dy 33 Solução do problema A primeira equação (4.5) é condição necessária e suficiente para que exista uma função (y, z) tal que (a função (y, z) é denominada função de torção de Prandtl): xy = /z xz = -/y (4.8) Substituindo-se (4.8) em (4.4): 2/z2 + 2/y2 = -2G = H = constante (4.9) Substituindo-se (4.8) em (4.6): (/z)(dz/ds) + (-/y)(-dy/ds) = 0, donde d/ds = 0 (só no contorno da seção) (4.10) Observa-se que a função é constante no contorno da seção. Substituindo-se (4.8) em (4.7): Mt = (yxz - zxy)dydz = -(y/y)dydz - (z/z)dydz = -dzy(/y)dy - dyz(/z)dz Integrando-se por partes, obtém-se: Mt = -y(y2 - y1)dz + dydz - z(z2 - z1)dy + dydz Como y2, y1, z2, z1 são coordenadas de pontos situados no contorno da seção (onde é constante), tem-se y2 = y1 e z2 = z1, donde: Mt = 2dydz (4.11) A solução consiste, então, em encontrar uma função (y, z) que atenda (4.9) em toda a seção e (4.10) no contorno. Com a equação (4.11) determina-se a constante H (consequentemente, o ângulo de torção por unidade de comprimento, ). As demais respostas são determinadas, uma vez definida a função , na sequência: xy e xz pelas expressões (4.8); u por integração das expressões (4.3); xy e xz pelas expressões (4.2) ou simplesmente dividindo xy e xz, respectivamente, por G (2.31). Nota: o centro de rotação das seções transversais (sobre o eixo X) chama-se centro de torção. A determinação do centro de torção para seções transversais abertas de parede fina é apresentada no capítulo 6; a determinação genérica é objeto da Teoria da Elasticidade. Quando a seção tem um eixo de simetria, o centro de torção fica sobre ele. 4.2 Barra de seção elíptica Aplica-se o procedimento descrito no item 4.1. Devido à dupla simetria, o centro de torção coincide com o centro de gravidade. A equação do contorno da seção, na situação da figura 4.3, é y2/a2 + z2/b2 – 1 = 0. 34 Experimenta-se uma função de Prandtl dada por: (y, z) = K(y2/a2 + z2/b2 – 1), sendo K uma constante (4.12) A função atende às exigências (4.9) e (4.10), respectivamente: 2/z2 + 2/y2 = K(2/b2 + 2/a2) = constante (4.13) = 0 no contorno, donde d/ds = 0 no contorno Comparando (4.9) e (4.13), obtém-se: K(2/b2 + 2/a2) = -2G, donde K = -G a2b2/( a2 + b2) (4.14) Com (4.11), (4.12) e (4.14) relacionam-se Mt e : Mt = 2dydz = [-2G a2b2/( a2 + b2)] (y2/a2 + z2/b2 – 1)dydz = = [-2G a2b2/( a2 + b2)](ab/4 + ab/4 - ab) = a3b3G/( a2 + b2), donde = Mt/GIt (4.15) It = ( a3b3)/(a2 + b2) (4.16) Com (4.14), (4.15) e (4.16) em (4.12), obtém-se, finalmente: (y, z) = [-Mt/(ab)](y2/a2 + z2/b2 – 1) (4.17) Demais respostas: Com (4.8) xy = /z = -2Mtz/(ab3) xz = -/y = 2Mty/(a3b) (4.18) Com (4.3) xy = G(-z + u/y) xz = G(y + u/z) (4.19) Igualando-se as expressões de xy dadas em (4.18) e (4.19), e também as expressões de xz, obtém-se: u/y = -z[2Mt/(ab3G) - ] u/z = y[2Mt/(a3bG) - ] Substituindo-se nestas equações o valor de dado por (4.15), com It dado por (4.16), resulta: u/y = [Mt(b2 – a2)/(a3b3G)]z u/z = [Mt(b2 – a2)/(a3b3G)]y Nota-se que o coeficiente de z e de y nas duas equações é o mesmo e também que é uma constante; chamando esta constante de c0, obtém-se: u/y = c0z, donde u = c0zy + f1(z) u/z = c0y, donde u = c0yz + f2(y) Y Z b a FIGURA 4.3 Mt 35 Para que o valor de u seja o mesmo nas duas equações, é necessário que f1(z) = f2(y), para qualquer ponto (y, z), ou seja, f1(z) = f2(y) = constante = c1, resultando u = c0yz + c1. Com a condição de contorno II do item 4.1 (u(0, 0, 0) = 0), obtém-se c1 = 0 e, finalmente: u = c0yz = [Mt(b 2 – a2)/(a3b3G)]yz (4.20) Como b < a, vê-se que os deslocamentos u têm sinal contrário ao do produto yz das coordenadas, isto é, os deslocamentos longitudinais são positivos no segundo e no quarto quadrantes da seção e negativos no primeiro e no terceiro, caracterizando a perda de planicidade da seção. Vetor tensão No plano da seção, o vetor tensão é tangencial, sendo dado por = = (0 xy xz). Vê-se em (4.18) que xy e xz variam linearmente ao longo de um raio qualquer da elipse, com valor nulo no centro. Assim, como mostrado na figura 4.3, a direção do vetor tensão é constante ao longo de um raio e paralela à tangente ao contorno na extremidade do raio (devido à primeira condição de contorno em tensões vista no item 4.1). O módulo do vetor tensãoé dado por: = = (xy2 + xz2) = [2Mt/(ab)](y2/a4 + z2/b4) (4.21) No contorno, onde o módulo é máximo para um determinado raio, tem-se z2 = b2(1 – y2/a2). Para se obter o máximo em toda a seção substitui-se esta expressão em (4.21) e faz-se d/dy = 0, obtendo-se: y = 0 z = b (extremidades do eixo menor) max = 2Mt/(ab2) = Mt/Wt (4.22) Wt = ab2/2 (4.23) 4.2.1 Caso particular: barra de seção circular Neste caso a = b = R e y2 + z2 = r2 (figura 4.4), donde Com (4.16) It = ( a3b3)/(a2 + b2) = R4/2 (4.24) Com (4.21) = Mtr/It (4.25) Com (4.20) u = [Mt(b 2 – a2)/(a3b3G)]yz = 0 (4.26) Na expressão (4.26) vê-se que a seção circular não empena. Mt R FIGURA 4.4 Z Y r 36 Para seção em forma de coroa circular, demonstra-se que também não são sujeitas a empenamento e que (R = raio externo, ri = raio interno): It = (R4 – ri4)/2 (4.27) Wt = It/R = (R4 – ri4)/(2R) (4.28) 4.3 Barra de seção retangular maciça de pequena espessura Na figura 4.5 tem-se b >> t. Assume-se uma função de Prandtl invariável com z: = (y) Aplicando-se a a condição (4.9), tem-se d2/dy2 = -2G, donde: = -Gy2 + Ay + B, sendo A e B constantes de integração Para atender (4.10) faz-se = 0 no contorno y = t/2, obtendo-se: 0 = -Gt2/4 + At/2 + B 0 = -Gt2/4 – At/2 + B, donde: A = 0 B = Gt2/4 = (G/4)(t2 – 4y2) (4.29) Substituindo-se (4.29) em (4.11): Mt = 2dydz = 2b(G/4)(t2 – 4y2)dy = (Gb/2)(t2y – 4y3/3), com y variando de –t/2 a +t/2 Mt = Gbt3/3 e = Mt/GIt (4.30) It = bt 3/3 (4.31) As tensões de cisalhamento, calculadas com (4.8), são: xy = /z = 0 xz = -/y = 2Gy (4.32) A nulidade das tensões xy, decorrente da função assumida, não corresponde à realidade; entretanto, tais tensões são desprezadas porque (xy) max < (xz) max. A tensão xz varia linearmente com y e seu maior valor absoluto é dado por: (xz) max = max = 2Gt/2 = (Mt/It)t = Mt/Wt (4.33) Wt = It/t = bt 2/3 (4.34) Y t/2 t/2 b t FIGURA 4.5 Z Mt 37 Comentário Como se observa nas expressões (4.15) e (4.16), bem como nas expressões (4.30) e (4.31), a relação entre o ângulo de torção por unidade de comprimento e o momento de torção pode ser escrita, em geral, como = Mt/GIt, sendo It uma propriedade geométrica da seção transversal, denominada momento de inércia à torção. Analogamente, observa-se nas expressões (4.22) e (4.23), bem como nas expressões (4.33) e (4.34), que a tensão máxima de cisalhamento na seção é dada por max = Mt/Wt, sendo Wt uma propriedade geométrica da seção transversal, denominada módulo resistente à torção. 4.4 Barras com seção aberta de parede fina Quando a seção transversal é aberta e composta de vários retângulos de pequena espessura (bi >> ti), conforme figura 4.6, tem-se Mt = Mt1 + Mt2 + Mt3 + ... + Mtn, (4.35) sendo Mti (1 i n) a parcela do momento de torção assumida pelo retângulo i e n o número de retângulos componentes da seção. Por outro lado, de acordo com a hipótese II dada no item 4.1, as projeções sobre o plano YZ de todos os componentes da seção giram do mesmo ângulo, igual ao ângulo correspondente à seção inteira: 1 = 2 = 3 = ... = n = (4.36) Para cada retângulo i tem-se i = Mti/GIti, sendo Iti = biti3/3, e para a seção inteira tem-se = Mt/GIt, donde Mt1/GIt1 = Mt2/GIt2 = Mt3/GIt3 = ... Mtn/GItn = Mt/GIt (4.37) (Mt1 + Mt2 + Mt3 + ... + Mtn)/(GIt1 + GIt2 + GIt3 + ... + GItn) = Mt/GIt Eliminando-se G e aplicando-se a equação (4.35), conclui-se que: It = It1 + It2 + It3 + ... + Itn = (1/3)(biti3), para i variando de 1 a n (4.38) b1 b2 b3 b 4 t1 t2 t3 t4 FIGURA 4.6 Mt, Mt1, 1 Mt2, 2 Mt3, 3 Mt4, 4 1 2 3 4 38 O Para paredes curvas de pequena espessura, (4.38) transforma-se em (s é a coordenada ao longo da linha média da parede) It = (1/3)t3ds (4.39.a) A tensão máxima de cisalhamento em um retângulo componente da seção é dada por maxi = Mti/Wti = (Mti/Iti)ti Com (4.37) maxi = (Mt/It)ti (4.40) A maior tensão de cisalhamento na seção ocorre no retângulo componente de maior espessura max = (Mt/It)tmax = Mt/Wt (4.41) Wt = It/tmax = [(1/3)(biti3)]/tmax (4.42) 4.5 Barras com seção fechada de parede fina Neste caso admite-se que as tensões de cisalhamento na seção transversal são constantes na espessura da parede e têm direção paralela à linha média da parede, no ponto considerado, conforme figuras 4.7.a e 4.7.b (na figura 4.7.b isola-se um elemento de comprimento dx, entre os planos 1-1 e 2-2, paralelos a X). As tensões 1 e 2 na seção transversal repetem-se nos planos 1-1 e 2-2, respectivamente, devido à simetria dos tensores de tensões correspondentes. Estabelecendo o equilíbrio do elemento isolado na direção X, tem-se: 1t1dx = 2t2dx, donde 1t1 = 2t2 = t = q = constante (4.43) A constante q é denominada fluxo de cisalhamento (a direção do fluxo é tangente à linha média da parede, no ponto considerado). B FIGURA 4.7 Mt O A ds dF t h C 2 2 1 1 X 1 1 2 2 dx t2 t1 2 2 1 1 (a) (b) Área A* 39 A força dF, na figura 4.7.a, é a resultante das tensões de cisalhamento no elemento da seção de comprimento ds e espessura t: dF = tds =qds O momento de dF em relação a um ponto O qualquer é: dMt = hdF = qhds = 2qdA* (4.44) (O produto hds é igual ao dobro da área dA* do triângulo elementar OAB, uma vez que ds é colinear com dF). A integral de dMt na seção é igual ao momento de torção. Para q constante: Mt = tdM = 2q *dA = 2qA* = 2tA* = Mt/(2tA*) (4.45) A* é a área da região delimitada pela linha média. A tensão máxima de cisalhamento ocorre onde a espessura da parede for mínima: max = Mt/Wt = Mt/(2A*tmin) (4.46) Determina-se a seguir o ângulo de torção por unidade de comprimento. A energia de deformação do volume unitário é dada por (conforme equações (2.36) e (2.31)): U0 = (1/2) = (1/2)2/G No volume infinitesimal tdsdx (figura 4.7), tem-se dU = [1/(2G)] 2tdsdx = [1/(2G)] (q2/t)dsdx (4.47) A energia de deformação dU neste volume infinitesimal pode também ser obtida em função de dMt, dado por (4.44), e do ângulo de torção por unidade de comprimento (figura4.1.a): dU = (1/2)(dx)dMt = (dx)qdA* (4.48) Igualando-se (4.47) e (4.48): (dx)qdA* = [1/(2G)] (q2/t)dsdx 2GdA* = (q/t)ds Integrando-se na seção: 2GA* = (q/t)ds (4.49) Para q = constante = Mt/(2A *): = [Mt/(4GA*2)] ds/t = Mt/(GIt) It = (4A *2)/ ds/t (4.50) 4.6 Energia de deformação de barras sujeitas à torção uniforme Com base na expressão (4.48), tem-se, na seção transversal completa e no comprimento dx: dU = (dx) qdA* (4.51) Para q = constante: dU = (1/2)Mtdx = Mt2dx/(2GIt) (4.52) 40 Bibliografia do Capítulo 4 Boresi, A. P. e Chong, K. P. – “Elasticity in Engineering Mechanics” – Prentice Hall – New Jersey - 1987 Féodossiev, V. – “Résistance des Matériaux” – Éditions de la Paix – Moscou - 1968 Ugural, A. C., Fenster, S. K. - “Advanced Strength and Applied Elasticity” – Elsevier – New York – 1981 Rivello, R. M. – “Theory and Analysis of Flight Structures” – McGraw Hill, New York - 1969 41 CAPÍTULO 5 – PROPRIEDADES GEOMÉTRICAS DE FIGURAS PLANAS Neste capítulo estudam-se algumas propriedades geométricas das seções transversais de barras, necessárias para o estudo da flexão e da flambagem em capítulos posteriores. 5.1 Definições Considere-se uma seção de forma qualquer, cujo centro de gravidade é o ponto C (figura 5.1). Os eixos CY e CZ são eixos baricêntricos. A área da seção é dada por: A = S dA (5.1) Com relação aos eixos OY1 e OZ1, paralelos a CY e CZ, respectivamente, tem-se: Momentos estáticos: Qy1 = S z1dA Qz1 = S y1dA (5.2) Momentos de inércia: Iy1 = S z12dA Iz1 = S y12dA (5.3) Raios de giração: ry1 = (Iy1/A) rz1 = (Iz1/A) (5.4) Produto de inércia: Iy1z1 = S y1z1dA (5.5) Momento polar de inércia: IO = S R12dA (5.6) Como (y1 2 + z1 2) = R1 2, tem-se: Iy1 + Iz1 = IO (5.7) Vê-se que a soma Iy1 + Iz1 não se altera mediante rotação do sistema Y1Z1 em torno de O. Observa-se também que os momentos de inércia e o momento polar de inércia não se alteram quando se trocam os sentidos dos eixos coordenados. Y1 Z1 Y Z O C R1 R dA S y1 z1 y z y1C z1C FIGURA 5.1 R1C 42 Definem-se as mesmas propriedades com relação aos eixos baricêntricos, bastando substituir y1, z1, IO, R1 por y, z, IC, R, respectivamente, nas expressões (5.2) a (5.7). Devido ao conceito de centro de gravidade, tem-se, em relação a eixos baricêntricos: Qy = S zdA = 0 Qz = S ydA = 0 (5.8) 5.2 Translação a partir de eixos baricêntricos Na figura 5.1 vê-se que y1 = y + y1C z1 = z + z1C, (5.9) sendo y1C e z1C as coordenadas do centro de gravidade no sistema Y1Z1, de eixos paralelos aos eixos baricêntricos CY e CZ. Substituindo-se as relações (5.9) em (5.2), obtem-se: Qy1 = S (z + z1C)dA = S zdA + z1CA Qz1 = S (y + y1C)dA = S ydA + y1CA Considerando-se as relações (5.8), resulta: Qy1 = z1CA Qz1 = y1CA (5.10) Donde z1C = Qy1/A y1C = Qz1/A (5.11) Com as equações (5.11) pode-se locar o centro de gravidade no sistema Y1Z1. Substituindo-se as relações (5.9) em (5.3), obtem-se: Iy1 = S (z + z1C)2dA = S z2dA + 2z1C S zdA + (z1C)2A Iz1 = S (y + y1C)2dA = S y2dA + 2y1C S ydA + (y1C)2A Considerando-se as relações (5.8), resulta: Iy1 = Iy + (z1C) 2A Iz1 = Iz + (y1C) 2A (5.12) Analogamente mostra-se que Iy1z1 = Iyz + y1Cz1CA (5.13) Com (5.7) e (5.12) obtem-se: IO = Iy + Iz + [(y1C) 2 + (z1C) 2]A = IC + (R1C) 2A (5.14) 5.3 Rotação de eixos Considere-se uma rotação do sistema Y1Z1, conforme figura 5.2. As coordenadas u, v de dA no novo sistema são dadas por: u = y1cos + z1sen v = z1cos - y1sen (5.15) Desta forma: Iu = S v2dA = S (z1cos - y1sen)2 dA = Iy1cos2 + Iz1sen2 - Iy1z1sen2 (5.16) Iv = S u2dA = S (y1cos + z1sen)2 dA = Iy1sen2 + Iz1cos2 + Iy1z1sen2 (5.17) 43 Iuv = S uvdA = S (y1cos+z1sen)(z1cos-y1sen)dA = Iy1z1cos2+(1/2)(Iy1 – Iz1)sen2 (5.18) Como já mencionado, o momento polar de inércia não se altera com a rotação. 5.4 Eixos principais de inércia e momentos principais de inércia Determina-se um valor da rotação (figura 5.2) para o qual Iu assuma um valor extremo (máximo ou mínimo); como a soma Iy1 + Iz1 não se altera com a rotação, se Iu for máximo, Iv é mínimo, e vice versa. Os eixos e os momentos de inércia correspondentes a tal rotação são os eixos principais de inércia e os momentos principais de inércia, respectivamente, no ponto O. dIu/d = -2Iy1cossen + 2Iz1sencos - 2Iy1z1cos2 = (Iz1 – Iy1)sen2 - 2Iy1z1cos2 = 0, donde tg2 = 2Iy1z1/(Iz1 – Iy1) (5.19) Com (5.19) ficam determinadas as direções dos eixos principais. Os sentidos dos eixos principais dependem da escolha do quadrante para o ângulo 2 (duas opções para cada sinal de tg2): . se tg2 0 há duas soluções que diferem de , sendo uma do 1o. quadrante e outra do 3o. quadrante. Para há duas soluções que diferem de /2. Escolhe-se a correspondente a do 1o. quadrante: 0 /4 (a outra solução é a 2a. direção, perpendicular à 1a.); . se tg2 0 há duas soluções que diferem de , sendo uma do 2o. quadrante e outra do 4o. quadrante. Escolhe-se a do 4o. quadrante e - /4 0. Com (5.18) e (5.19), obtém-se: Iuv = cos2[Iy1z1 – (1/2)(Iz1 – Iy1)tg2] = cos2(Iy1z1 – Iy1z1) = 0 (5.20) Como o produto de inércia é nulo em relação aos eixos principais, o sentido destes eixos é irrelevante. Assim: V u y1 U v Y1 11 Z1 O dA z1 FIGURA 5.2 S 44 se tg2 0, considera-se que 0 2 /2 e, consequentemente, sen2 0 cos2 0 0 /4 sen2 1/2 cos2 1/2 (5.21) se tg2 0, considera-se que -/2 2 0 e, consequentemente, sen2 0 cos2 0 -/4 0 sen2 1/2 cos2 1/2 (5.22) Determinação do momento de inércia principal Iu, para tg2 0 – têm-se as seguintes relações trigonométricas, levando-se em conta (5.21): cos2 ={1+[1/(1+tg22)]1/2}/2 sen2 ={1-[1/(1+tg22)]1/2}/2 sen2 = [tg22/(1+tg22)]1/2 (5.23) Substituindo-se estas expressões trigonométricas em (5.16), obtém-se: Iu = (Iy1 + Iz1)/2 + [(Iy1 – Iz1)/2] [1/(1+tg22)]1/2 – Iy1z1[tg22/(1+tg22)]1/2 Com a equação (5.19) obtém-se, após algumas simplificações (notando que Iz1–Iy1 e 2Iy1z1 têm o mesmo sinal): Iu = (Iy1 + Iz1)/2 [(Iz1 – Iy1)2/4 + (Iy1z1)2]1/2 (5.24)
Compartilhar