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Análise de Pinheiro Magalhães_O Papel Da Mulher e sua Possivel Mobilidade Social -11

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Análise da peça
História de uma Moça Rica
De Pinheiro Magalhães
O PAPEL DA MULHER E SUA POSSIVEL MOBILIDADE SOCIAL
 
 
“Desejo sair de cabeça erguida, à vista de todos: não é uma mulher que deixa seu marido: é uma vítima que foge do algoz – Partamos!”.
 Amélia em A história da Moça Rica.
 
  
...E quem me ofende, humilhando, pisando,
Pensando que eu vou aturar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.
E quem me vê apanhando da vida,
Duvida que eu vá revidar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chega...
Quando o Carnaval Chegar de Chico Buarque de Holanda.
 
 
Inayara Samuel Silva, turma 66_Escola de Artes Dramáticas da USP. 2014.
Na peça publicada o autor inicia dedicando sua obra a atriz Adelaide “que soube dar vida e colorido a sua obra”, qual ele mesmo define como ‘‘esboço pálido dramático”. 
No final do século XIX, surgiu a concepção do ator personalista, isso é, o ator que representa a força dramática do espetáculo teatral. Assim, as obras teatrais começaram a correr o mundo, tendo como grande objeto de divulgação a fama e o brilhantismo das grandes estrelas. O teatro brasileiro de mais ou menos 1850 a 1870 foi determinado por dois fortes gêneros teatrais (literários) porem que em variadas peças se entrecruzaram; foram os dramas românticos e a escola realista. Escrevo “literário” por acreditar no forte enlaçamento entre literatura e teatro, não somente no plano da união necessária e comum entre ambos, mas no fato histórico de que poetas, escritores e intelectuais se aventuraram nas artes dramáticas. Não vem ao caso a qualidade deste ‘’envolvimento’’, mas sim a pouca distância que havia entre o fazer literário, o fazer da obra dramática e a formação do pensamento intelectual brasileiro.[1: Faço aqui uma tentativa geralmente frustrada de traçar um plano linear nos fatos e gêneros históricos.][2: O lugar da dramaturgia nas histórias da literatura brasileira. De João Roberto Faria_ Revista USP]
Peças direcionadas para o grande publico, um teatro por muito chamado de teatro para as massas, porem contraditoriamente a nossa definição de massa, tratavam de famílias burguesas, da corte e de seus espectros; que tinham o teatro como entretenimento e informativo social, seja no sentido moral ou no que corresponde ao pensamento intelectual brasileiro em voga. O que, em sua maioria, tinha como foco tipos sociais baseados na vida cotidiana dessas famílias.  Trazia em seu enredo relacionamentos fatídicos e passionais, casos de amor entre reis, herdeiros e marginais, artistas e boêmios. 
Os dramas românticos preocupavam-se ainda com questões de formação da identidade nacional, frequentemente enfocando momentos-chave da história brasileira, com ênfase na união da nação e na superação de conflitos. Neste contexto, a mestiçagem e o silêncio diante a escravidão são um de seus pontos cruciais. 
 
‘’O romantismo como recurso intelectual, social e político disponíveis (...) os intelectuais românticos deram inicio ao processo de construção da nação mesmo em meio aos constrangimentos sociais causados pela escravidão, levaram  adiante mesmo com as ambiguidades aí advindas. E a ideia de nação por eles construída foi aos poucos tornando se senso comum’’. [3: Bernardo RICÚPERO, O romantismo e a ideia de nação no Brasil (1830-1870). São Paulo, Martins Fontes, 2004. 287 páginas.]
No Rio de Janeiro onde a ‘’vanguarda do teatro’’ realista se apresentava; as peças ainda eram transpassadas de ‘’dramas históricos’’ dignos de seu Brasil dramático. A escola realista, entretanto, seguiu outro paradigma, com montagens mais comedidas, trocando situações violentas e sentimentalismos por uma objetividade descritiva, abandonando o olhar para o passado e tentando produzir um “tipo moral” da realidade e de costumes. Tendo por base os valores éticos da nascente ou ‘’moderna’’ burguesia urbana, denunciava males como: prostituição, adultério, jogo, casamento por influência, usura, agiotagem, namoros pudicos entre jovens bem comportados, escravas destruidoras de lares, casamentos felizes e bem-ajustados.
No caso de Pinheiro Guimarães, pensador e poeta da época, a peça História da Moça Rica trás justamente o realismo dessa conduta moral burguesa, o desencadear de ações sociais contidas de erros e desenganos morais, dentro de ações melodramáticas, capazes de prender um publico ansioso em se entreter e compreender seu papel social e legitimá-lo.   ”O tema liberdade primeiro para as nações depois para os indivíduos cede lugar a ideia burguesa de ordem de disciplina social; se o núcleo do drama romântico era frequentemente a nação, passa a ser, no realismo, a família, vista como célula mater da sociedade’’. [4: História Concisa do Teatro Brasileiro1570-1908 de Décio de Almeida Prado.]
Pinheiro Guimarães escreveu a peça História de Uma Moça Rica, um drama em quatro atos, neste contexto. Foi um dos maiores sucessos de palco na segunda metade do século retrasado. História de uma moça rica, também pertencente à numerosa descendência brasileira de A Dama das Camélias. [5: Dama das Camélias é considerada um clássico da dramaturgia mundial. A históriacaiu nas graças da plateia, ora mais elitista, ora mais popular, desde a sua estréia na metadedo século XIX.]
O drama realista foi capaz de trazer à tona as questões cotidianas, ou da chamada vida privada, que espelham uma sociedade cruel, na qual padrões de comportamento e papeis sociais são imutáveis. Porem, essa mesma sociedade que força os sujeitos sociais a se fixarem em seu papel social, ao mesmo tempo cria desenganos e erros morais que os tornam mutáveis; principalmente quando os excluem ou julga excluir. Retirando-os de seu lugar social e os colocando em outros grupos (pertencentes a mesma sociedade): histéricas, boêmios, prostitutas, bastardos, negros, etc. E tal como na vida, o teatro realista produz a mesma possibilidade de mobilização social julgada como exclusão; consequência de jogos de erros dramáticos. Esse gênero resgatou a razão dentro do processo naturalista com a máxima de que o homem é fruto de seu meio ou resultado inerente a ele.
“Em 1855, no Rio de Janeiro, então capital do Império, um pequeno teatro chamado Ginásio Dramático começou a representar peças francesas que fazia muito sucesso em Paris. Eram os chamados dramas de casaca ou comédias realistas, que combinavam descrições de costumes da burguesia e exaltação moralizante dos seus valores éticos, como o trabalho, a honestidade, o casamento e a família”.[6: Teatro Realista no Brasil: 1855-1865 de Roberto Faria.]
As personagens sociais, como a mulher e a mulher negra escrava, tem uma mobilidade em seus papeis no plano do drama, dos erros e dos enganos sociais que as empurram para fora da ordem social, mas que devolve a cada uma delas a necessidade de manterem o papel social que lhes cabe no final. ‘’Afinal numa obra dramática a lógica é tão necessária quanto no calculo’’ . [7: Dr.Henrique C Muzzio, introdução da obra publicada da peça de Pinheiro Guimarães, História de Uma Moça Rica.]
Mas foi no jornal Diário (Diário, 16/12/1861), que Machado de Assis, defendeu com força e certeza a peça, História de uma moça rica, do colega Pinheiro Guimarães, contra os “beatos” que obstruíam o caminho da civilização.[8: Machado de Assis e o Teatro um Caso de Amor de Francelli Aparecida. Trabalho da faculdade de letras UFMG.]
Primeiro ato.
Baronesa a seu filho, anuncia a decadência da família, denuncia a si mesma e o jogo de aparências qual ela e seu filho Arthur vivenciam a tempos. Pois a herança deixada pelo marido e pai foi toda gasta, inclusive na incompetência da Baronesa em gerir os negócios e nos anseios por luxo de ambos. 
Baronesa vai desvelando o que na verdade lhe parece ser natural na sociedade, que são as relações de famílias, mexericos e outras tramas para a realização de um possível casamento por interesse ou conveniência, qual destina seu filho Arthur à moça rica Amélia.
Arthur o filho da Baronesa, por sua vez, é o típico galanteador, metido em roupas caras,falido, vindo de Paris: cidade luz, das grandes obras, da beleza e do sonho de ostentação da burguesia.  Arthur com todos esses predicados almeja se casar, não tanto quanto a mãe deseja para o filho esse feito. Afirmando seu tipo social quando promete a mãe deixar o namorico com Isabel, mas dando lhe essa garantia até que se efetive sua posse sobre o dinheiro da moça rica ‘’depois ele o verá’’.
Segue um dialogo entre a Baronesa, seu filho e quem os recebem, Amélia, seu pai Vieira e Roberto; um diálogo cheio de frases feitas, com alguns comentários ditos em tom baixo, demonstrando que partilham segredos entre si e há falsidade em seus enredos. Com pequenos gestos e reações no dialogo típico de um grupo burguês. Chega Antunes elogiando a comida; fartos e satisfeitos com o banquete, descrevem o cardápio e elogiam com veemência o cozinheiro e sua obra. Nesse momento, em um dialogo irônico e cruel, afirmam a maestria daquele que cozinhou o banquete, dedicando lhe no discurso uma coroa, tal como a de um rei.  Porem o cozinheiro é escravo.  Roberto afirma que seria mais valido e plausível para o negro cozinheiro ( já que Antunes quer tanto agradecer), dar lhe alguns reis afim de que o mesmo compre sua própria alforria, Antunes se surpreende dizendo que dar a liberdade ao negro é infelicita-lo para sempre; visto que o mesmo nasceu para ser escravo tal como o porco para ser comido.
Interessante é a comparação do negro escravo a um animal que tem uma representatividade social grotesca, mas que ao mesmo tempo estava presente no jantar e foi saboreado por todos e citado como iguaria. Depois Roberto filosofa sobre a afirmação de Antunes, trazendo a imagem do matadouro e do possível prazer que deva haver a ambos_ Porco e negro, ao cumprirem seu destino em serem abatidos.
O autor parece seguir ironizando os senhores quando na conversa das personagens, oferece comicidade e frescor em falas cruéis e absurdas, porem naturalizadas; A ironia sutil fica mais clara na fala de Doutor Roberto com a definição de que tais argumentos são dignos de um filosofo, enquanto Antunes o rebate afirmando que as falas de Roberto são de um Negrophilo. Pinheiro Guimarães parece iniciar a peça também desvelando a relação mal resolvida da escravidão na sociedade.
Para encerrar, a Baronesa diz que não entende como aqueles homens podem perder tanto tempo com um assunto ‘’desses’’ e antes de encerrar sua fala pede para que o pai solicite que Amélia toque o piano.
Ou seja, depois do dialogo do negro e o porco e suas comparações, a mulher cujo nome não é dito, mas sim o papel que ela ocupa ou parece ocupar, no caso Baronesa, diz que o assunto é perca de tempo, mas não por seus absurdos comparativos e sim pela inutilidade do tema abordado e propõe que a moça rica toque o piano, instrumento da corte, ensinado as mocinhas de boa família.
Depois os homens seguem falando e tratando de ‘negócios’ e tramites financeiro em busca de vantagens, num diálogo rápido e conciso no qual Amélia é que são os ‘’negócios’’ da vez. Antunes propõe articular em prol a Baronesa o casamento de Amélia e Arthur, pois esta lhe pagará muito mais que Magalhães e para Antunes, fazer Arthur se casar com Amélia lhe parece ser mais fácil, visto que é aparentemente um rapaz mais ‘’interessante’’ que Magalhães... Discussão que mais uma vez é interrompida pela Baronesa, que apesar de sua aparente e talvez real futilidade diante dos fatos e assuntos dos homens, tem seu foco bem mirado, quando na verdade está sempre direcionando a conversa para seu objetivo, seu tramite financeiro, ou seja, o casamento de seu filho Arthur com Amélia através de sua aproximação a menina.
Assim, afirma que Amélia seria perfeita não fosse por ser mulher.
Explica sua afirmação dúbia com o argumento, de que a presença da moça é quase perigosa frente a tantos rapazes sem ‘’elegância’’ pela cidade. [9: Dúbia, pois para o autor da peça serve como uma afirmação social que de fato lhe parece real.]
Ao sair da sala Magalhães e Antunes tentam dar o braço a Amélia, mas esta segura os braços do médico e amigo de seu pai, Roberto, Vieira logo dá um jeito de retira-lo da cena lhe incumbindo uma tarefa e assim Arthur toma os braços de Amélia. A cena agora apresenta-nos um retrato fiel das relações que se seguem na peça.
Henrique, que ao descrever seus sentimentos por Amélia dá um texto romântico e dramático, mas que na sequencia é interrompido por Roberto que comicamente diz: AH TÁ, TÁ, TÁ. Como quem considera pouco a poética de suas palavras romantizadas, mas que depois das falas ‘tontas e enigmáticas’ do amigo Henrique, Roberto conclui numa frase rápida, pontual e oposta as elucubrações do moço, que o mesmo estaria apaixonado por Amélia e ponto.
Amélia tem uma inclinação espontânea pelo primo Henrique e este igualmente por ela, nascida de uma convivência da infância na qual os dois revelam mais adiante em um dialogo.  Contam que atravessaram sob a proteção de Henrique, um rio perigoso e o jovem a salvando de um cão contamina se numa árvore com um parasita.
E por falar em parasita, Henrique é pobre e pobre está fadado a viver afastado do corpo de Amélia, mesmo tendo crescido em sua convivência.
Henrique confessa ao amigo doutor que é correspondido, mas Doutor Roberto amigo da família tem a racionalidade ou a razão do homem lucido, da ciência... Com a linguagem fria e geométrica da razão pura, em oposição a paixão e passionalidade de Henrique, que tenta convence-lo a não se entregar a Amélia, afirmando ou lhe adiantando, que o amor não é o valor que estaria em jogo na luta pela moça rica.[10: Fala do próprio doutor Roberto. Pág. 23.]
Prestes a corresponder à paixão de Henrique Amélia é interrompida pelo pai, que encara como ofensa a postura do sobrinho Henrique, frente aos anos de educação e guarda que lhe dera, expulsando de casa o sobrinho pobre e também revelando mais uma das relações legitimadas socialmente a do agregado ou apadrinhamento. Anos depois, Amélia vem, a saber, que Henrique foi recrutado para guerra a pedido de seu pai (muito influente) e morrera na mesma guerra para alegria de Magalhães e alivio de seu pai.
Quando Amélia cai aos pés do pai desmaiada ou doente de amor, é o médico quem lhe acode, doutor Roberto, que em uma frase diz ao pai de Amélia que Vieira pode negar socorro, pois é pai, mas um médico não o pode.
O médico no ultimo ato separa a alma do corpo, dizendo que acudirá o corpo, pois a alma o pai já ‘’esmagou’’. Como se a doença da paixão já o tivesse infectado.
Segundo ato.
Bráulia e Alberto matem um dialogo construído sobre tons, ações e palavras de traição, usurpação e sedução. Ambos têm como objetivo separar Amélia de seu esposo, pois agora já casada com Magalhães cumpriu o desejo ultimo de seu pai. Mas como tirar uma jovem e correta dama da linha? Se não a envolvendo em cartas forçadas de romance, o mesmo romance patético de textos tão aclamados no teatro. Cartas que o próprio escritor Alberto ridiculariza contabilizando o numero de palavras e frases melosas, também engendradas pela negra Bráulia que esquiva do beijo de Alberto enquanto dá ordens de escrita.
Amélia lamenta pálida por seus anos perdidos, por sua inocência e vida.
Amélia com 20 anos de idade diz em um momento para que o doutor não lhe dê muita atenção, pois está velha e é dada a ‘’faniquitos’’, a meu ver esses faniquitos lembram a situação a qual a mulher oprimida cotidianamente é constantemente e de forma naturalizada acusada de ter: chiliques, toques, histerias... Ou mesmo, remete a sentimentos e afetos que para a sociedade são e devem ser dispensáveis tais como o desejo feminino.
Doutor Roberto diz que já havia visto Amélia no teatro; local de passeio das damas e moças bem portadas da época, que além de assistirem a peças tinham o costume de irem para ver gentes, para serem vistas, conhecidas e apresentadas por seus senhores à sociedade. 
No texto que segue, a fala de Amélia parece ser polemica a época, pois denuncia ao amigo Roberto os costumes da sociedade a qual eles pertencem. Améliadiz da mulher que é dada como objeto de ostentação do homem, diz do mal de interpretarem a felicidade pelas joias e rendas que a mulher usa, mal diz sobre a maneira como o seu senhor a transformou e como a usou tal como um algoz faz de sua vitima, ao mesmo tempo em que num ato quase masoquista apresenta ao publico aquela que o odeia, mas que vale a desconfiança da sociedade pelo suposto afeto não correspondido, pois a mulher possui as joias e rendas pagas pela honrosa fortuna daquele que apenas cumpre e cumpre além do esperado, o seu papel de provedor. A mulher é bem tratada por seu senhor que em troca do status, da imagem e por sua vaidade a mantêm ao seu lado.
Apesar de tudo Amélia não cede aos pedidos de afetos de Alberto, que usa do desamor em sua vida para tentar corteja-la.
Bráulia anuncia sua raiva e diz a Alberto que vão conseguir a separação de Amélia e Magalhães, afirmando que uma das duas irá sucumbir aos fatos. Nesse momento, João que também é empregado da casa e escravo tal como Bráulia, fala da boa vida da escrava, dando a entender de maneira quase inocente que possuem o mesmo dono, mas não os mesmos privilégios. Vai se revelando as relações da mulher negra empregada da casa que constrói ligações de afetividade com o senhor da casa grande, miscigenadas a seu ódio, pois este que lhe tem desejo e por horas afeto, também controla seu corpo de todas as formas, ou das maneiras utilizadas para se controlar os corpos; por sua sexualidade, pelo desejo, afetividades, violência, ir e vir e uso dos espaços cotidianos.
Bráulia diz que quer ser senhora e João conclui em uma frase polemica tanto para o negro quanto para o branco; que é melhor ser escrava e ter a vida de Bráulia do que senhora e ter a vida de sua sinhá, ou seja, que a escrava ganha de seu senhor, mesmo senhor de Amélia, privilégios melhores que os da mulher branca que ele possuí.
Um dos melhores diálogos que já li no que se refere a negra escrava e a sua sinhá ou simplesmente a negra e a branca que lhe ajuda, e que por tal a negra lhe deve ter afetos ou lhe ser grata, visto que a branca tinha todos os motivos para odiá-la mas não o faz e em troca de um eterno receio entre ambas, a branca tolera e a negra lhe agradece. O ódio de Bráulia é latente em contrapartida a tolerância de João que também negro compreende que de fato tudo lhe poderia ser pior não fosse a boa índole de sua senhora. E ambos cada qual de sua maneira seguem inconformados com a reação do outro.
Bráulia ainda quer o que lhe é de direito (não fosse negra). Deixa claro que seus filhos tem tanto direito quanto a sinhá das posses de Magalhães, pois provavelmente são filhos do senhor branco, filhos que Amélia ainda não lhe deu.
Pinheiro Guimarães mostra a família e sua construção dentro do sistema escravocrata e as falhas sociais que este é capaz de causar, talvez, muito mais a família que ao próprio negro.
Bráulia se mostra ao espectador que assiste à peça, uma mulher cruel com a sinhá que tanto lhe ajudou e excessivamente ingrata. Tudo para ficar com o senhor da casa grande que por diversos fatores óbvios as regras sociais, não torna o desejo de Bráulia uma situação possível. O absurdo ainda parece estar presente no fato do senhor a defender sem pudores frente a sua própria esposa. Esta artimanha da escrava parece trazer ao publico da época uma repugnância ou um sentimento de inconformidade com as atrocidades que a escravidão causa na família brasileira. Na cena em que segue, Bráulia ainda usa o filho pequeno, em uma ação dramática e vil na qual mente sobre o sangramento no rosto da criança; agora, a criança negra também passa a ser vitima de toda situação, porem a cena parece não modificar o possível sentimento de inconformidade frente as inconveniências da presença do negro na vida privada e cotidiana do homem branco. Teoria que se confirma quando a rumores de que a escrava anos depois tenha matado o senhor branco envenenado, ação que provavelmente não lhe rendeu nenhuma mudança em sua vida de escrava e ainda a fazendo ser culpada por ser vitima.
No terceiro ato. 
O cenário é um salão de máscaras, com cortesãs e homens da elite, estudantes de medicina sem dinheiro nos bolsos e até João (homem negro que trabalhava para Amélia). O ambiente é o próprio proposito do carnaval, ou uma alusão decadente das máscaras gregas do teatro trágico.
Amélia agora atende pelo nome de Revolta, a mais aclamada e desejada das cortesãs que na noite em que revela sua história é a rainha do carnaval. O carnaval que tem como um de seus significados sociais a inversão das relações e dos papeis sociais, mesmo que por algumas horas, mesmo que ilusoriamente. O autor Pinheiro Guimarães usa da comicidade do travestido e da máscara para mostrar personagens sociais negados em diversas instancias pela sociedade, porem não excluídas, posto que sejam parte do mesmo moto-contínuo qual a mesma sociedade depende e se alimenta, tal como: bêbados, escravos, mulheres, prostitutas entre outros.
Nesse contexto Amélia surge na cena com o nome de Revolta, a própria revolta que guardou ou cultivou dentro si durante os anos, mas a Revolta de Pinheiro Guimarães usa máscara, e é um apelido, uma face ou uma fase, qual ao passar da meia noite, quando o carnaval já não é mais carnaval, Revolta tem seu fim. 
De certo, que a todo o momento e principalmente no terceiro ato, um tom cômico cheio de tipos estereotipados e de saídas dramáticas comuns ou corretas para o que se espera de um drama realista’’, também são inflamadas na cena. Porem não podemos excluir o fato de que apesar da peça nos mostrar a Revolta ou a mudança radical de Amélia, a alegoriza de maneira fugaz, na personagem de uma prostituta que se torna quase um mito entre os homens, em especial porque é extremamente desejada por todos eles justamente por dentre suas características falar mal e mal dizer deles próprios, o que vai a tornando mais atraente ainda. Por tanto mais uma vez no momento em que a peça demonstra que a personagem ultrapassou os limites sociais e se rebelou, a toma novamente a jogando em outro estereótipo feminino cheio de magoas e ‘’reclamão’’ nas mãos dos homens.
Amélia revela seu segredo em um ambiente carnavalesco e de traços sociais fugazes.
 Após o depoimento de Amélia a mesma passa mal e cai doente na cama, mais uma vez quando Amélia demonstra a sociedade, aquilo que realmente sente chega a seu limite e Alma e corpo não suportam.
Amélia revela a história de sua vida, tira sua máscara e a máscara de Magalhães frente a todos (que inclusive parece lhe surtir pouco efeito no que diz respeito a esfera social), Magalhães impaciente dá uma bronca, diz que irá se vingar e sair mal humorado. 
Amélia entrega sua filha ao amigo Roberto para que o mesmo a crie, ato que depois da sua cena, montada em uma espécie de confessionário dionisíaco, à devolve de novo a posição de culpada, porque apesar da extrema dor demonstrada por Amélia, dar a filha, a meu ver, seria para a sociedade da época algo inadmissível. O discurso de Roberto ainda legitima a ação de vieira, o pai de Amélia, que para doutor Roberto, fez tudo de maneira precipitada, mas cumpriu o papel de um pai exigido por grande parte da sociedade; pai que temia pelo futuro da filha, do nome de sua família, família que tal como suas posses, é parte dele e ele parte dela. Mas doutor Roberto, médico e homem racional, ainda sente muito por tudo isso.
O quarto Ato_
Inicia-se com o dialogo de D. Maria e Frederico, Frederico que sempre foi apaixonado por Revolta a cortesã, mas nunca foi correspondido. Após alguns anos descobrimos que ele quem acolhe Amélia, que é tudo aquilo que ninguém quer por perto, por tanto Frederico lhe é um ‘’salvador’’, parceiro e amigo. Sua mãe D. Maria que em uma das cenas anteriores, Frederico acreditando erroneamente ter sido aceito pela cortesã Revolta, diz que irá escrever um bilhete a sua mãe, pois esta poderá ficar muito preocupada com sua ausência, dando indícios de sua relação com a mãe, de como ela o trata ou ao menos do laço estreito queFrederico acredita ter mesmo depois de ‘’homem feito’’ e sua constante ausência causando espera e possível sofrimento a mãe.
No quarto ato sua mãe o cobre de elogios enquanto costura um vestido para Amélia, que anda apenas de preto. 
D. Maria tem em sua fala o alivio dos que temem a pobreza e a solidão, elogia sem limites o filho que agora guarda e zela por ela, e que em certo momento até a relembra do quanto passou penas ao espera-lo retornar de seus passeios noturnos, mas a mãe insiste que isso são fatos passados e que o que vale é o agora, o prazer da presença constante do filho. Insiste em fazer, entregar e convencer a Amélia a usar o vestido qual D. Maria costura, e isto de maneira um tanto ardilosa, que para ela e o filho, a priori parecem-lhe ser a melhor e mais eficaz maneira de fazer com que Amélia tire o luto; dando significado maior a vestimenta, tendemos a relacionar a troca de vestidos com uma possível nova vida, e uma vida ao lado de Frederico; que beija a mão da mãe em um ato fraterno contraditório à trama ardilosa qual a mãe engendra, ou seja, mais uma vez as pessoas próximas tramam e traem Amélia.
Mãe e filho são interrompidos por Roberto, o médico amigo que zelou anos por Emília, filha de Amélia. Roberto chega por conta de uma carta enviada por Frederico na qual ele pede que Roberto entregue a filha de Amélia de volta a mãe, pois esta se regenerou se e purificou. ‘’Amélia saiu do tumulo purificada, suas ideias que a colocaram em luta aberta e declarada com a sociedade foram mudadas; já não era mais a Revolta e sim a Arrependida’’.[11: fala de Frederico Pg.87.]
Não bastou que Amélia sofresse, mas que padecesse em uma enfermidade profunda, a beira da morte e delirando, é posta novamente em seu lugar na sociedade, que nunca irá a aceita-la completamente, mas que a tolerará posto que fica claro seu arrependimento, amargura, regeneração e principalmente a culpa, culpa que D. Maria enxerga perfeitamente no cotidiano de Amélia e que para ela e Frederico são a garantia de purificação e permanência da bondade de Amélia.
Final
Frederico pede em casamento Amélia, que o recusa.
A recusa de Amélia é como uma afirmação de sua índole pura e de sua nova dignidade inabalável, mas é também aquilo que a mantem com o livre arbítrio que a fez penar tanto durante a história. Sua escolha a legitima como mulher adversa ao que se espera do gênero feminino da época. 
Pois, mesmo depois que a filha feliz pergunta a Amélia se também tem pai, em um dialogo curto, mas dado a um extremo drama e comoção pela fala da criança e pelo abraço e beijo entre mãe e filha; ainda assim depois de comover o espectador com essa pergunta. Frederico surge na porta, como quem sugere ser o novo pai de Emília, mas Amélia nega e se mantem firme diante sua própria decisão.
Frederico se mostra, é a figura do homem que na verdade tudo fez por Amélia para que um dia a mesma o recompensasse com seu corpo, seja enquanto cortesã ou como mulher digna, mas ao fim de tudo é negado; Frederico que tanto zelou e orgulhou se em certa medida pela resignação e bondade de Amélia é desprezado pelo mesmo motivo. 
Assim, encerra chamando Amélia de desgraçada.
Amélia se agarra a filha, encerrando o único mal que ainda a perseguia e não permitia que se regenerasse que a fazia ainda muito mais culpada que vitima. Tendo de volta o perdão do espectador ou da sociedade, que alias possivelmente aguardava além da remissão, pelo homem que a salvaria ou pelo final feliz da mulher que se casa. 
Amélia termina mãe e solteira. Ou seja, ainda desqualificada. Porem honesta; “pois um homem se regenera e se purifica a mulher nunca! A nodoa uma vez que a poluiu é eterna; nem todas as suas lágrimas nem todo o seu sangue a podem lavar”. [12: Fala de Amélia pg91.  ]
 
“Amélia não tinha a menor vaidade, Amélia é que era mulher de verdade’’!
Ataulfo Alves.1942.
Bibliografia 
Décio de Almeida Prado. História concisa do teatro brasileiro: 1570-1908. Editora Edusp
Michael Fucaul. Microfisica do Poder. Editora Graal.
Gilberto Freire. Sobrados e Mucambos. Editora Global.
João Roberto Faria. O Teatro Realista no Brasil 1855-1865. Editora Edusp.
Sabáto Magaldi. Panorama do Teatro Brasileiro. Editora Global.
Luiz Felipe Miguel. O Brasil que o romantismo(re)criou_ Capitulo publicado na Revista Brasileira de Ciências Sociais._ do livro, O romantismo e a ideia de nação no Brasil (1830-1870). São Paulo, Martins Fontes, 2004. 287 páginas.
Revista Dramática-1960_ Editora Edusp 2007.
Roberto da Mata. Carnavais Malamdros e Heróis. Editora

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