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¹Graduado em Administração das Faculdades Integradas do Vale do Ribeira (FVR), Registro,SP. Especialista em Administração de Recursos Humanos pela Universidade Paulista (UNIP). Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, Ano 2, N° 2, art. 4, p 49-63, maio 2013, ISSN 2317-0727 Revista Ampla de Gestão Empresarial www.revistareage.com.br A Cultura Organizacional na Seleção de Funcionários Paulo Marcel de Souza Leite¹ RESUMO As pessoas constituem o maior ativo das organizações, pois é através delas que os objetivos organizacionais são alcançados. O processo seletivo busca identificar indivíduos que tenham o conhecimento, as habilidades e as capacidades necessárias para o desempenho bem-sucedido das atividades dentro da organização. Nas organizações existe um conjunto de hábitos e crenças, estabelecidos por normas, valores, atitudes e expectativas e compartilhados por todos os indivíduos da organização. A partir da inserção de novos funcionários, estes passam a conviver com esta cultura e precisam compartilhar destes mesmos valores e comportamentos. Mas nem sempre estes novos indivíduos aderem à esta cultura. Esta pesquisa tem por objetivo identificar se no processo de seleção de pessoal, os valores compartilhados pelos membros de uma organização, devem ser levados em consideração. Foi utilizada a pesquisa bibliográfica no intuito de investigar os instrumentos e critérios de seleção de novos membros e a sua relação com a cultura organizacional. Como resultado percebeu-se que a seleção de um novo membro deve estar cercada de atenção não só para as qualidades profissionais e habilidades requeridas, mas também garantindo que os valores por ele compartilhados sejam similares aos da organização em que será inserido. Palavras-chave: Recrutamento. Seleção de pessoal. Cultura organizacional. A Cultura Organizacional na Seleção de Funcionários Leite, P. M. S. 50 Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, Ano 2, N° 2, art. 4, p 49-63, maio 2013, ISSN 2317-0727 1 INTRODUÇÃO As pessoas têm sido cada vez mais valorizadas nas organizações, afinal qualquer que seja o produto de uma empresa é através de seus funcionários e colaboradores que os objetivos organizacionais são alcançados. Dada esta importância do material humano nas organizações torna-se necessária atenção especial na escolha do novo membro. A gestão de pessoas faz um trabalho de recrutamento e seleção, e deve se preocupar não somente com a capacidade e habilidade desse funcionário em exercer as funções previstas no cargo que irá ocupar, mas também em sua capacidade de se adaptar ao meio de trabalho. Um novo funcionário precisa ser inserido na organização em condições de realizar seu trabalho de forma eficaz e eficiente. Este deve ser o objetivo do responsável pelo recrutamento e seleção. A administração através de suas teorias comportamentais procura entre outras coisas demonstrar que as organizações estão vivas. Assim como o indivíduo, elas nascem se desenvolvem e se não forem bem cuidadas morrem. As organizações têm comportamentos particulares e que as diferenciam de outras organizações. Um aspecto que tem recebido atenção com relação á esse comportamento é a cultura organizacional que, em princípio, estabelece quais são os valores compartilhados e em consequência, o comportamento dos membros participantes. Se a organização define determinado padrão comportamental, os novos participantes precisam estar preparados para interagir nesse ambiente, sob este aspecto apresenta-se o seguinte problema de pesquisa: É necessário levar em consideração a cultura organizacional quando da seleção para contratação de novos funcionários? A metodologia utilizada neste trabalho foi a pesquisa bibliográfica com a intenção de buscar a resolução do problema por meio de referenciais teóricos publicados. Segundo Lima (1997, p. 34): Pesquisa bibliográfica deve reunir um conjunto de autores – os mais renomados possíveis para a discussão da questão que tenham publicado conteúdos que fundamentem uma discussão teórica. (...) Referenciais teóricos auxiliam a reforçar, justificar, demonstrar, esclarecer, explicar o fenômeno estudado; deve-se explorá-lo a fim de se dê credibilidade ao que está sendo produzido em termos de produção acadêmico-científica. Pretende-se que a pesquisa bibliográfica traga subsídios para o conhecimento e discussão do problema aventado. A Cultura Organizacional na Seleção de Funcionários Leite, P. M. S. 51 Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, Ano 2, N° 2, art. 4, p 49-63, maio 2013, ISSN 2317-0727 2 GESTÃO DE PESSOAS Gil (2001, p. 59) chama atenção para o fato de que as mudanças observadas no âmbito das organizações, sobretudo na última década, têm gerado inúmeras indagações acerca do papel a ser desempenhado pelo profissional de recursos humanos. No entanto, ainda segundo Gil (2001, p. 59), “(...) nunca as empresas dependeram tanto de seus recursos humanos, ou melhor, das pessoas que compõem a organização.” Coelho (2008, p. 207) considera o fator humano o principal ativo de uma empresa, e apresenta a sua gestão como um grande desafio, alcançando por isso nos últimos anos o nível de administração de diretoria. Para GIL (2001, p. 17), “Gestão de Pessoas é a função gerencial que visa à cooperação das pessoas que atuam nas organizações para o alcance dos objetivos tanto organizacionais quanto individuais”. Sobral (2008, p. 11) corrobora este conceito quando afirma que a gestão de pessoas tem por objetivo administrar comportamentos individuais em função dos objetivos coletivos. Alcançar a excelência organizacional é o objetivo de qualquer gestão. Para Gil (2001, p. 60), o futuro na gestão de pessoas está em "Criar um novo papel e uma nova pauta para a área, que focalizem os resultados, e não as atividades tradicionais de RH, como contratação de pessoas e remuneração". 2.1 PROCESSO DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS Para alcançar os objetivos da organização e principalmente esta excelência organizacional exigida, a administração de recursos humanos precisa de um processo eficiente e eficaz assim como outra qualquer função administrativa. Maximiano (2004, p. 31-32) define que: A função de recursos humanos, ou de gestão de pessoas, tem como objetivos encontrar, atrair e manter as pessoas de que a organização necessita. Isso envolve atividades que começam antes de uma pessoa ser empregada da organização e vão até depois que a pessoa se desliga. A função de recursos humanos tem como componentes outras funções como: Planejamento de mão-de-obra: definição da quantidade de pessoas necessárias para trabalhar na organização e das competências que elas devem ter. Recrutamento e seleção: localização e aquisição de pessoas com as habilidades apropriadas para a organização. A Cultura Organizacional na Seleção de Funcionários Leite, P. M. S. 52 Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, Ano 2, N° 2, art. 4, p 49-63, maio 2013, ISSN 2317-0727 Treinamento e desenvolvimento: transformação dos potenciais das pessoas em competências. Avaliação de desempenho: informação sobre o desempenho das pessoas e definição de ações (como encaminhar para treinamento) que permitam o aprimoramento do desempenho. Remuneração ou compensação: definição de mecanismos de recompensas para as pessoas por seu trabalho. Higiene, saúde e segurança: proteção das pessoas que trabalham para a organização e, em certos casos, de seus familiares. Administração de pessoal: realização de atividades de natureza burocrática, como registro de pessoal,manutenção de arquivos e prontuários, contagem de tempo de serviço, preparação de folhas de pagamento e acompanhamento de carreiras. Funções pós-emprego: recolocação, aposentadoria e outros tipos de benefícios para ex-funcionários. Abaixo Coelho (2008, p. 207) apresenta na Ilustração 1 o resumo das funções que estão inseridas na tarefa de administrar a força de trabalho utilizada por uma empresa. Ilustração 1 - O processo de administração de recursos humanos Como em qualquer área de uma organização, a administração de recursos humanos também precisa de um planejamento para ser bem-sucedida. E o plano de recursos humanos deve estar sintonizado com o planejamento estratégico da organização. Desta forma torna-se necessário uma avaliação que contemple cada nível hierárquico (operacional, gerencial e estratégico) e mapa detalhado de cargos e funções. A próxima etapa neste processo de administração de recursos humanos é o recrutamento e a seleção da mão-de-obra, que será abordado mais a fundo no próximo sub-capítulo, tendo em vista o escopo deste trabalho. 2.2 RECRUTAMENTO E SELEÇÃO Segundo Baldwin, Bommer, Rubin (2008, p. 140.) “Tomar decisões de seleção continua sendo uma das mais equivocadas e mais mal executadas das A Cultura Organizacional na Seleção de Funcionários Leite, P. M. S. 53 Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, Ano 2, N° 2, art. 4, p 49-63, maio 2013, ISSN 2317-0727 empreitadas de adestramento”. Esta afirmação pretende esclarecer que muitas vezes utilizam-se modelos prontos e fórmulas “mágicas” que pretendem garantir a escolha do funcionário ideal. Ainda Baldwin, Bommer, Rubin (2008, p. 140.) afirmam que “(...) uma abordagem disciplinada e sistemática o levará ao sucesso” e ainda que “(...) mesmo as melhores táticas de seleção estão sujeitas a uma certa dose de erro - nenhum método é totalmente à prova de bala.” Gil (2001, p. 91) esclarece, “Como as pessoas constituem o mais importante ativo de que dispõem as organizações, devem ser recrutadas e selecionadas com a maior competência possível, já que falhas nesse processo podem comprometer outras ações de gestão a serem desenvolvidas posteriormente.” Ocorre, porém, que com a nova postura adotada em relação à gestão de pessoas, as atividades de recrutamento e seleção em muitas empresas não vêm sendo mais confiadas a um órgão específico, mas às chefias imediatas. Como conseqüência, nem sempre as pessoas incumbidas dessas atividades dispõem dos conhecimentos e da experiência necessários. Neste ponto faz-se necessário definir os conceitos de recrutamento e seleção. Coelho (2008, p. 212) esclarece “Recrutar significa localizar, identificar e atrair funcionários capazes de atender às expectativas e necessidades da organização.” E continua: O processo de seleção está baseado na necessidade de preencher um cargo. Esse cargo possui características que já foram definidas na análise e descrição feitas no planejamento de RH. Essas características vão dar origem a um perfil que a empresa procura no mercado de trabalho. Parte desse perfil é divulgado no processo de recrutamento a fim de que os interessados saibam as características que a empresa privilegia. Sobral (2011, p. 336) igualmente define recrutamento como “(...) o processo de localização, identificação e atração de candidatos qualificados para ocupar um cargo na estrutura de pessoal da organização.”. Após o recrutamento vem a tarefa de seleção. Coelho (2008, p. 214) atenta que “Quanto mais candidatos recrutados houver, mais serão as chances de se escolher um bom profissional para a empresa. Por outro lado, com muitos candidatos inscritos no processo seletivo, a seleção torna-se muito mais demorada e difícil de ser executada.” No processo de seleção, avaliam-se as competências e qualificações dos candidatos e sua adequação às exigências do cargo. Na prática, a seleção é um exercício de previsão do desempenho futuro dos candidatos no cargo, sendo escolhido aquele que aparentar ter melhor desempenho. Nessa fase, são analisadas as competências, os conhecimentos e o potencial de cada A Cultura Organizacional na Seleção de Funcionários Leite, P. M. S. 54 Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, Ano 2, N° 2, art. 4, p 49-63, maio 2013, ISSN 2317-0727 candidato. Avaliam-se, portanto, a preparação para as exigências do cargo, valorizando dimensões da personalidade e do percurso de vida do candidato. SOBRAL (2011, p. 337) Muitas formas de seleção são utilizadas pelas empresas hoje, e todas elas têm a sua finalidade e valor. Todas as atividades realizadas em um processo de seleção devem ter um propósito bem definido para serem executadas. O interesse da empresa pode ser conhecer as expectativas do candidato, seus planos futuros, sua capacidade de raciocínio lógico e de argumentação, ou ainda sua capacidade de liderança ou de trabalho em grupo, etc. Gil (2001, p. 92-93) esclarece que é necessário definir critérios para uma adequada seleção. Para tanto afirma: (...) requer-se o conhecimento das políticas de seleção da empresa e sobretudo dos cargos que se deseja preencher. Quando, pois, a empresa define suas políticas de pessoal e dispõe de um sistema de descrição de cargos, os procedimentos relativos à seleção de pessoal tornam-se bem mais simplificados. Caso contrário, caberá ao selecionador identificar essas políticas - se existirem - e proceder, ainda que precariamente, à descrição dos cargos a serem providos. (...) Convém que a descrição dos cargos seja bastante específica e que cada uma das atribuições possa ser classificada numa destas categorias: muito importante, importante e pouco importante. De posse dessas informações, passa-se à identificação dos atributos requeridos para o desempenho das atribuições referentes ao cargo para o qual se pretende selecionar candidatos. (...) Os requisitos considerados indispensáveis devem ser mantidos em quantidade mínima para não afastar os candidatos com potencial. O mais importante, na maioria dos casos, não é a qualidade atual do candidato, mas seu potencial para a função, aliado a sua vontade de trabalhar e de aprender. Depois de identificado um grupo limitado de candidatos, o próximo passo consiste na seleção do mais qualificado para o cargo. No processo de seleção, diversos mecanismos ou instrumentos podem ser utilizados para avaliar e comparar as qualificações dos candidatos. As ferramentas de seleção variam em função da estratégia adotada pela empresa assim como da disponibilidade do mercado e das características da mão-de-obra a ser selecionada. As ferramentas mais comuns são os formulários de emprego, os testes, as simulações de desempenho e as entrevistas. Os dados obtidos através dos instrumentos de seleção só se tornam significativos após sua avaliação. O processo de avaliação requer algo mais que a simples análise de dados, requer uma adequada interpretação, de forma tal que ao final do processo seja possível, com certa margem de segurança, definir as vantagens e desvantagens da contratação do candidato. Após a avaliação vem a tomada da decisão com relação à contratação. Gil (2001, p. 112) afirma A Cultura Organizacional na Seleção de Funcionários Leite, P. M. S. 55 Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, Ano 2, N° 2, art. 4, p 49-63, maio 2013, ISSN 2317-0727 A tomada da decisão em relação à contratação é tarefa que se reveste de grande responsabilidade. Envolve, naturalmente, muito de pessoal. Todavia, há algumas recomendações que auxiliam nesta tarefa: é mais importante considerar as realizações do que as credenciais do candidato; preconceitos de raça, idadee religião devem ser excluídos, pois levam a ver nos candidatos defeitos inexistentes; candidatos fortes ameaçam gerentes fracos; candidatos superqualificados costumam sentir-se desmotivados no trabalho; candidatos finalistas não devem ser dispensados até que o escolhido aceite definitivamente o cargo. Depois dessa avaliação, segue-se a fase de negociação das condições salariais e havendo um acordo entre as partes, é efetivada a contratação. O fato de ocorrer à contratação das pessoas selecionadas não significa que elas estejam imediatamente em condições de executar as funções definidas. O fato de terem sido contratadas pessoas com bom potencial não é suficiente para que apresentem um desempenho elevado. Cabe à empresa proporcionar as condições necessárias para que essas habilidades e aptidões se desenvolvam de forma a permitir à organização alcançar seus objetivos. 3 CULTURA ORGANIZACIONAL Assim como todos os indivíduos têm o que os psicólogos chamam de personalidade, um conjunto de características relativamente permanentes e estáveis, as empresas também têm personalidade, as quais chamaram de cultura organizacional. Schein apud Maximiano (2006, p.218) define: Cultura é a experiência que o grupo adquire à medida que resolve seus problemas de adaptação externa e integração interna, e que funciona suficientemente bem para ser considerada válida. Portanto, essa experiência pode ser ensinada aos novos integrantes como forma correta de perceber, pensar e sentir-se em relação a esses problemas. Chiavenato (2007, p.287) resume: Alguns autores vêem a cultura organizacional como o modo costumeiro ou tradicional de pensar e fazer as coisas, que são compartilhadas por todos os membros da organização e as quais os novos membros devem aprender e aceitar para serem aceitos no serviço da firma. Em outras palavras, a cultura organizacional representa as normas informais e não escritas que orientam o comportamento dos membros de uma organização no dia-a-dia e direcionam suas ações para o alcance dos objetivos organizacionais. No fundo, é a cultura que define a missão e provoca a definição dos objetivos da empresa. A Cultura Organizacional na Seleção de Funcionários Leite, P. M. S. 56 Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, Ano 2, N° 2, art. 4, p 49-63, maio 2013, ISSN 2317-0727 Na sua origem a cultura de uma organização geralmente reflete a visão ou missão dos seus fundadores que refletem suas preferências costumes e ideologias, projetando uma imagem do que a organização deveria ser. O tamanho pequeno da maioria das novas organizações também ajuda os fundadores a impor seus pontos de vista aos demais membros, resultando da interação entre as preferências e suposições dos fundadores e o que os primeiros funcionários aprendem subseqüentemente de suas próprias experiências. A cultura é transmitida aos funcionários de diversas maneiras, e as mais poderosas são as histórias, os rituais, os símbolos e a linguagem. A cultura organizacional se refere a um sistema de valores compartilhados pelos membros de uma organização e que a diferencia das demais. Esse sistema é um conjunto de características que a organização valoriza. Assim, a cultura organizacional é o conjunto de hábitos e crenças, estabelecidos por normas, valores, atitudes e expectativas e compartilhados por todos os membros da organização. A cultura espelha a mentalidade que predomina em uma organização. A cultura de uma organização pode ter um efeito em sua estrutura, dependendo de quão forte ou fraca seja essa cultura. Nas organizações com uma cultura forte, esta pode acabar substituindo as regras e regulamentos que formalmente dirigem os funcionários criando previsibilidade, disciplina e consistência sem a necessidade de uma normalização por escrito. Em uma cultura forte, os valores essenciais da organização são intensamente acatados e amplamente compartilhados. Quanto mais membros aceitarem os valores essenciais e quanto maior seu comprometimento com eles, mais forte será a cultura e maior será a influência sobre o comportamento de seus membros por causa do grau de compartilhamento e intensidade, que cria um clima interno de alto controle comportamental. Um resultado específico da cultura forte é um índice mais baixo de rotatividade da força de trabalho. Uma cultura forte demonstra um elevado grau de concordância entre seus membros sobre os pontos de vista da organização. Essa unanimidade de propósitos gera coesão, lealdade e comprometimento organizacional. Tais qualidades, por sua vez, reduzem a propensão dos funcionários a deixar a organização. A cultura organizacional, para ROBBINS (2005, p. 376) define a maneira como os integrantes da organização devem interagir entre si e com o mundo externo, padronizando a maneira como as pessoas devem resolver esses A Cultura Organizacional na Seleção de Funcionários Leite, P. M. S. 57 Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, Ano 2, N° 2, art. 4, p 49-63, maio 2013, ISSN 2317-0727 dois problemas e reduzindo a incerteza. No dia-a-dia, as pessoas sabem que basta seguir as regras ditadas pela cultura para não errar. Lacombe (2009, p. 217) aponta que a cultura pode ser explícita ou implícita. Algumas pessoas, mesmo de nível elevado, sequer sabem que sua organização tem uma cultura. Em conseqüência, não lhes é possível identificá-la e compreendê-la, quanto mais explicitá-la. Assim, algumas organizações não têm uma cultura explícita, mas terão sempre uma cultura, que poderá ser implícita. A cultura desempenha diversas funções dentro de uma organização. Em primeiro lugar, ela tem o papel de definidora de fronteiras, ou seja, cria distinções entre uma organização e as outras. Segundo, ela proporciona um senso de identidade aos membros da organização. Terceiro, facilita o comprometimento com algo maior do que os interesses individuais de cada um. Quarto, estimula a estabilidade do sistema social. A cultura é a argamassa social que ajuda a manter a organização coesa, fornecendo os padrões adequados para aquilo que os funcionários vão fazer ou dizer. Finalmente, a cultura serve como sinalizador de sentido e mecanismo de controle que orienta e dá forma às atitudes e comportamentos dos funcionários. A socialização (ou aculturação) explica Maximiano (2006, p.447), é o processo por meio do qual os indivíduos aprendem e adquirem a cultura de uma organização ou ocupação. De maneira sutil ou coercitiva, os recém-chegados são aculturados, aprendendo a se comportar de acordo com as normas do grupo ou da organização já existente. O contrário muitas vezes acontece. Os recém-chegados transmitem seus hábitos e valores aos nativos ou aos integrantes do grupo que existia antes. A socialização ocorre basicamente por um processo de aquisição de comportamentos ou regras de conduta, associados aos papéis que as pessoas desempenham nas organizações. Os papéis, por sua vez, estão associados aos cargos ou funções que as pessoas assumem. Nas organizações e na sociedade, cada pessoa assume diferentes funções e desempenha diferentes papéis. Os papéis compreendem comportamentos ou regras de conduta, alguns destes fundamentais e devem obrigatoriamente ser incorporados se a pessoa pretende ser aceita na organização. No exército, você precisa usar cabelo curto e uniforme; na Igreja Católica, precisa usar uniforme e acreditar nos dogmas ou, pelo menos, não questioná-los publicamente. Outros comportamentos são secundários. Por exemplo, A Cultura Organizacional na Seleção de Funcionários Leite, P. M. S. 58 Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, Ano 2, N° 2, art.4, p 49-63, maio 2013, ISSN 2317-0727 você não precisa ter nenhuma crença religiosa para pertencer à maioria das organizações. O que é secundário em uma organização, no entanto, pode ser fundamental em outra. Os comportamentos ou regras de conduta são comunicados aos recém- chegados por diferentes meios. Por exemplo: descrições de cargos, manuais, políticas organizacionais e outros recursos; da organização formal; orientação dos veteranos e cerimônias de iniciação, como as semanas de integração dos calouros. Para Maximiano (2006, p.448), o processo de socialização passa por três estágios principais: (I) Expectativa e preparação. A aquisição dos comportamentos ou regras de conduta de uma cultura é um processo que começa antes do ingresso da pessoa na organização ou grupo. Suponha que você pretende ter uma profissão ou trabalhar em uma organização ou prestar um concurso público. Provavelmente, você tem uma imagem, que construiu com base em informações fornecidas por pessoas que têm essa profissão ou trabalham nessa organização. É possível que conheça pessoas que já passaram pelo processo seletivo da organização e troque idéias com outros candidatos. Muitas organizações, em seus processos de recrutamento, procuram deixar claro quais são as regras que os interessados devem aceitar. (II) Ingresso. No momento em que ingressa na organização, a pessoa começa a passar por diferentes processos formais e informais de aprendizagem de comportamentos. Por meio da orientação dos veteranos, do treinamento, da observação e do estudo dos manuais, a pessoa aprende a linguagem, as regras, os cargos, a maneira como deve relacionar-se com os colegas e todos os outros comportamentos de seus papéis. É o momento em que a pessoa começa a se comparar com os comportamentos exigidos pela organização. (III) Ajustamento e integração. Na fase de ajustamento e integração, os recém-chegados adquiriram os comportamentos esperados e passam a ser considerados membros da organização. Ao mesmo tempo, dependendo de sua quantidade, de sua própria integração e da atração que sua cultura exerça sobre os veteranos, os recém-chegados é que fazem ajustes na cultura existente. Como já foi mencionado, um processo desse tipo aconteceu no Brasil e em outros países formados basicamente por imigrantes. É por essa razão que a feijoada, criada pelos africanos, e a pizza, trazida pelos italianos, são tão consumidas no Brasil, onde não se consegue identificar uma culinária tipicamente nacional. Alternativamente, os recém- chegados podem não conseguir se integrar, sendo às vezes levados ou forçados a deixar a organização ou grupo social. Robbins (2005, p.375) afirma que “A socialização pode ser conceituada como um processo formado de três estágios: pré-chegada, encontro e metamorfose. O primeiro estágio se refere a todo o aprendizado ocorrido antes que o novo membro se junte à organização. No segundo estágio, o novo funcionário vê o que a empresa A Cultura Organizacional na Seleção de Funcionários Leite, P. M. S. 59 Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, Ano 2, N° 2, art. 4, p 49-63, maio 2013, ISSN 2317-0727 é de verdade e se confronta com a possibilidade de que as expectativas e a realidade venham a divergir. No terceiro estágio, as mudanças relativamente duradouras acontecem. O novo funcionário domina as habilidades necessárias para seu trabalho, desempenha com sucesso seus papéis e faz os ajustes devidos para se adaptar aos valores e às normas de seu grupo. Esse processo de três estágios tem um impacto sobre a produtividade do novo funcionário, sobre seu comprometimento com os objetivos da organização e sobre sua decisão final acerca de permanecer no emprego. O estilo da administração segundo Lacombe (2005, p. 216), é, em grande parte, conseqüência da cultura da organização. Uma visão negativa e pessimista da natureza humana tende a ser associada a um estilo de administração dominado pelos valores de comando e controle. Esse estilo é encontrado em organizações caracterizadas por comunicações de cima para baixo, supervisão autoritária, regras de trabalho inflexíveis e relações adversárias com sindicatos. Considera-se que as pessoas não gostam de trabalhar e que precisam de recompensas e punições para produzir. Trata-se de organizações que atuam nos moldes da teoria X. Alternativamente, organizações que acreditam no empenho das pessoas tendem a refletir uma visão mais otimista da natureza humana. O estilo de administração nessas organizações é caracterizado por ampla comunicação nos dois sentidos, regras de trabalho flexíveis, maior participação dos empregados nas decisões e boas relações de cooperação com o sindicato. Presume-se que a receptividade às idéias dos trabalhadores e participações em decisões que afetem seus empregos conduz a maior empenho para alcançar os objetivos da organização, bem como para melhorar a qualidade e a produtividade. São organizações que atuam nos moldes da teoria Y. Independente do tipo de cultura organizacional seja mais voltada para X ou mais voltada para Y, depois que uma cultura foi estabelecida, encontra-se na organização práticas que visam a mantê-la, dando aos funcionários um conjunto de experiências similares. Por exemplo, muitas das práticas de recursos humanos reforçam a cultura organizacional: O processo de seleção, os critérios de avaliação de desempenho, as atividades de treinamento e desenvolvimento de carreira e os procedimentos de promoção asseguram que os contratados se ajustem à cultura, recompensam quem a adota e penalizam (ou até expulsam) aqueles que a desafiam. Três forças têm um papel particularmente importante na manutenção da A Cultura Organizacional na Seleção de Funcionários Leite, P. M. S. 60 Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, Ano 2, N° 2, art. 4, p 49-63, maio 2013, ISSN 2317-0727 cultura: as práticas de seleção, as ações dos dirigentes e os métodos de socialização. O foco deste trabalho está nas práticas de seleção e os critérios utilizados no processo que garantam manter a cultura da organização. Lacombe (2005, p. 217) afirma: (...) a forma mais forte de se ensinar a cultura é por meio das ações e decisões administrativas, isto é, por meio de seleção cuidadosa dos candidatos (grifo nosso); orientação sobre a maneira de fazer as coisas, por meio de normas e de treinamentos; pela abertura de "canais" para promoção e divulgação dos valores e princípios da organização; pela implantação de um sistema bem definido de aferição de resultados e premiação de desempenhos; pela exigência de cumprimento dos valores mais importantes da organização; pela ênfase e reforço de aspectos do folclore da organização; e pelo reconhecimento do mérito dos profissionais que se destacaram e que se deseja que sirvam de exemplo aos demais. Além disso, as empresas podem escolher quem deve treinar seu pessoal, quem deve conduzir os seminários, que tipo de revistas e jornais técnicos são circulados pelos administradores que ensinam e reforçam a cultura da empresa. A ilustração 2 apresentada por Robbins (2005, p.385) resume como uma cultura organizacional é estabelecida e sustentada. A cultura original deriva da filosofia do fundador da empresa. Isso, por sua vez, influencia fortemente os critérios utilizados na contratação da força de trabalho. Ilustração 2 - Como se formam as culturas organizacionais As ações dos dirigentes estabelecem o clima geral que define quais comportamentos são aceitáveis e quais não são. A maneira como os funcionários serão socializados dependerá tanto do sucesso obtido no processo de seleção, em relação à adequação entre os valores dos recém-chegadose os da organização, como da preferência dos dirigentes quanto aos métodos de socialização. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO A Cultura Organizacional na Seleção de Funcionários Leite, P. M. S. 61 Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, Ano 2, N° 2, art. 4, p 49-63, maio 2013, ISSN 2317-0727 A análise da cultura organizacional é uma tarefa complexa, porque nem todos os seus componentes são observáveis. Os valores estão no íntimo da cultura organizacional. Os valores compreendem crenças, preconceitos, ideologia e todos os tipos de atitudes e julgamentos compartilhados pelos integrantes da organização, a respeito de qualquer elemento interno ou externo. Crenças, valores e preconceitos estão na base das normas de conduta, influenciando inúmeros aspectos do comportamento das pessoas nas organizações. Por exemplo, a maneira como os chefes tratam seus funcionários, a maneira como os funcionários tratam os clientes e, de forma geral, como as pessoas se relacionam. Foi apresentado no capítulo 3 que uma das principais funções da cultura é regular as relações entre os membros da organização: como devem interagir, que tratamento devem dar-se, como resolvem conflitos. Esses e muitos outros comportamentos são desenvolvidos pela convivência do dia-a-dia e passam a fazer parte da cultura. Os administradores usam a cultura, explicitamente, por meio de credos, políticas e normas de procedimento, ou, implicitamente, por meio de práticas e decisões, como recurso para ajudar a definir: a forma como a estratégia de negócio é executada; a natureza de conduta com os seguintes públicos: clientes, órgãos governamentais, comunidades, meios de comunicação, acionistas, consultores especializados, prestadores de serviços; que tipos de pessoas devem ser admitidas na organização e como elas devem ser desenvolvidas; os critérios que determinam o que é desempenho bem-sucedido e quem deve ser promovido; quem progride na organização; os tipos de comportamento que são desencorajados e que conduzem à censura, ao rebaixamento, ou à demissão; os tipos apropriados de relações interpessoais, isto é, cooperação ou competição, individualismo ou colegiados, que estabelecem o "clima" do local de trabalho e o estilo de administração. A cultura da empresa é um recurso da administração e pode ser usado para alcançar os objetivos da mesma forma que a tecnologia, os insumos de produção, os equipamentos, os recursos financeiros e os recursos humanos. No capítulo dois fica claro que o objetivo explícito do processo de seleção é identificar e contratar indivíduos que tenham o conhecimento, as habilidades e as capacidades necessárias para o desempenho bem-sucedido das atividades dentro da organização. Geralmente, identificam-se mais de um candidato que preenche os requisitos. Quando isso acontece, é óbvio que a decisão final sobre quem será A Cultura Organizacional na Seleção de Funcionários Leite, P. M. S. 62 Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, Ano 2, N° 2, art. 4, p 49-63, maio 2013, ISSN 2317-0727 contratado será significativamente influenciada pelo julgamento de quem parece mais bem-ajustado à organização. Essa tentativa de ajuste, seja ela intencional ou não, resulta na contratação de pessoas que possuem valores consistentes com os da organização ou, ao menos, com parte deles. Além disso, o processo de seleção fornece aos candidatos informações sobre a organização. Os candidatos recebem essas informações e, caso percebam algum conflito entre seus valores pessoais e os da empresa, podem se retirar voluntariamente do processo. A seleção, dessa forma, é uma via de duas mãos, em que tanto a empresa como os candidatos podem desistir do "casamento" se ele parecer fadado ao fracasso. Dessa maneira, o processo de seleção sustenta a cultura organizacional por deixar de fora os indivíduos que poderiam desafiar ou atacar os valores essenciais da organização. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Fica evidente que os valores, a cultura e as metas comuns estão tomando o lugar das estruturas formais das organizações. Com o crescimento da importância da cultura na vida organizacional, parece mais que lógico que se dedique mais atenção ao considerarmos o planejamento e organização das empresas. É possível que muitas iniciativas que visam ao aprimoramento organizacional fracassem por negligenciarem-se o papel e o impacto da cultura organizacional. Considerando-se que as organizações precisam manter sua cultura forte e compartilhada pelos seus membros, a seleção de um novo membro deve estar cercada de atenção não só para as qualidades profissionais e habilidades requeridas, mas também considerando se os valores por ele compartilhados são similares aos da organização em que será inserido. Um novo contratado poderá confrontar as suas expectativas com relação ao trabalho, os colegas, o chefe e a organização de maneira geral e a realidade encontrada poderá divergir. Em casos extremos, o novo membro pode ficar totalmente desiludido com a realidade de seu trabalho e desistir do emprego. Um processo adequado de seleção pode reduzir a probabilidade de isso acontecer. Afora isso, caso ingresse na organização, um novo funcionário que não se ajuste à cultura organizacional pode ocorrer uma exclusão e até mesmo um ostracismo imposto pelos outros membros. Em qualquer uma dessas situações a organização terá perdido aquele funcionário e precisará novamente realizar um processo seletivo. A Cultura Organizacional na Seleção de Funcionários Leite, P. M. S. 63 Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, Ano 2, N° 2, art. 4, p 49-63, maio 2013, ISSN 2317-0727 Mediante ao exposto, conclui-se que é necessário levar em consideração os aspectos relacionados à cultura organizacional na hora de definir os critérios que serão utilizados nos instrumentos de seleção do novo membro da organização. Acredita-se que esse trabalho tenha alcançado o seu objetivo, entretanto trata-se de um estudo baseado em discussão de referencial teórico através de uma pesquisa bibliográfica. Um estudo de caso, com pesquisa de campo, poderia comprovar de que forma acontece na prática esta relação entre cultura organizacional e a seleção de pessoas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALDWIN, Timothy T.; BOMMER, William H.; RUBIN, Robert S. Desenvolvimento de habilidades gerenciais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. CHIAVENATO, Idalberto. Administração: teoria, processo e prática. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007 COELHO, Marcio. A essência da administração: conceitos introdutórios. São Paulo: Saraiva, 2008. GIL, Antônio Carlos. Gestão de pessoas: enfoque nos papéis profissionais. São Paulo: Atlas, 2001. LACOMBE, Francisco José Masset. Teoria geral da administração. São Paulo: Saraiva, 2009. LIMA, Manolita Correia. A engenharia da produção acadêmica. São Paulo: Unidas, 1997. MAXIMIANO, Antônio César Amaru. Introdução à administração. São Paulo: Atlas, 2004. 6. ed. ___________. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006. ROBBINS, Stephen R. Comportamento organizacional. 11. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. SOBRAL, Filipe. Administração: teoria e prática no contexto brasileiro. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
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