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BIOQUÍMICA APLICADA Daikelly Iglesias Braghirolli Vias de metabolização do oxalacetato Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os diferentes destinos metabólicos do oxalacetato. Reconhecer as reações de transaminação que associam o oxalacetato. Diferenciar os processos anabólicos e catabólicos com participação do oxalacetato. Introdução O oxalacetato participa de diferentes reações metabólicas do nosso organismo. Ele é utilizado no ciclo do ácido cítrico, na gliconeogênese e, também, apresenta uma grande participação no metabolismo dos aminoácidos. Ainda, o oxalacetato atua como um intermediário de vários sistemas de transporte entre os compartimentos celulares. Neste capítulo, você vai identificar o papel do oxalacetato no nosso metabolismo. Você vai conhecer as principais vias metabólicas que apre- sentam o oxalacetato como um intermediário metabólico. Ainda, vai entender como o oxalacetato participa do transporte do citrato e de equivalentes redutores entre o citosol e a matriz mitocondrial. Oxalacetato O oxalacetato é uma molécula orgânica, formada por quatro átomos de car- bono, que apresenta dois grupos ácidos carboxílicos em sua estrutura (Figura 1). O oxalacetato é um intermediário metabólico bastante importante. Ele par- ticipa tanto de vias anabólicas como de vias catabólicas do nosso metabo- lismo. O oxalacetato participa do ciclo do ácido cítrico, da gliconeogênese, da biossíntese e do catabolismo de aminoácidos. Ainda, o oxalacetato é um metabólito bastante importante para o transporte de alguns substratos entre os compartimentos celulares. Figura 1. Molécula do oxalacetato. Fonte: Rodwell et al. (2018, p. 163). O oxalacetato é um substrato do ciclo do ácido cítrico. O ciclo do ácido cítrico, também chamado ciclo do ácido tricarboxílico ou ciclo de Krebs, compõe a respiração celular. Nessa via, a molécula acetilcoenzima A (acetil- -CoA) (formada na oxidação de carboidratos, ácidos graxos ou aminoácidos) é totalmente oxidada a dióxido de carbono (CO2). A energia liberada durante oxidação da acetil-CoA é armazenada na forma das coenzimas NADH e FADH2, que são utilizadas na cadeia transportadora de elétrons. O oxalacetato é utilizado na primeira reação do ciclo do ácido cítrico, em que é conjugado ao grupo acetato da molécula acetil-CoA, formando o citrato (Figura 2). A oxidação direta do acetato não é bioquimicamente possível. A quebra dessa molécula em dois carbonos originaria CO2 e metano (CH4). Contudo, para que as transformações químicas em rotas metabólicas ocorram, é importante que as moléculas orgânicas apresentem grupo carbonil (C = O), um grupo quimicamente reativo. O oxalacetato apresenta um grupo carbonil, eletrofílico. Portanto, o oxalacetato oferece um grupo mais reativo, que é atacado pela molécula de acetil-CoA, possibilitando que ela seja oxidada de maneira mais eficiente (NELSON; COX, 2014). O oxalacetato é regenerado ao final do ciclo do ácido cítrico. Na última reação dessa via metabólica, o intermediário malato é oxidado para formar o oxalacetato (BERG; TYMO- CZKO; STRYER, 2014). Vias de metabolização do oxalacetato2 Figura 2. Participação do oxalacetato no ciclo do ácido cítrico. Note que o carbono do grupo metil (-CH2) da molécula de acetato é unido ao grupo carbonil (C = O) do oxalacetato. Fonte: Nelson e Cox (2014, p. 640). O oxalacetato está disponível em concentrações limitadas no interior celular. Esse substrato do ciclo do ácido cítrico também é utilizado para a síntese de alguns aminoácidos e, também, pode ser empregado para a produção de glicose. Dessa forma, esse intermediário do metabolismo deve ser reposto para que o ciclo do ácido cítrico continue acontecendo na matriz mitocondrial e a demanda energética celular seja suprida. O oxalacetato é produzido a partir de produtos de degradação de carboidratos ou, tam- bém, de alguns aminoácidos (NELSON; COX, 2014; BERG; TYMOCZKO; STRYER, 2014). Essa molécula pode ser formada a partir da carboxilação do piruvato, pela enzima piruvato-carboxilase (Figura 3). O piruvato é o produto da glicólise (via que realiza o catabolismo da glicose). A piruvato- -carboxilase catalisa a reação de ligação de CO2 à molécula de piruvato. Esse grupo dá origem ao ácido carboxílico do oxalacetato. A piruvato carboxilase apresenta biotina em sua estrutura e é dita uma enzima anaplerótica (“de preenchimento”), já que repõe um intermediário do ciclo de Krebs (SMITH; MARKS; LIEBERMAN, 2008). 3Vias de metabolização do oxalacetato Figura 3. Formação de oxalacetato a partir do piruvato. A enzima piruvato- -carboxilase disponibiliza o oxalacetato para o ciclo do ácido cítrico. Fonte: Voet e Voet (2013, p. 814). O transporte de coenzimas entre o citosol e a matriz mitocondrial envolve a formação de oxalacetato O ciclo do ácido cítrico conserva a energia liberada na oxidação da acetil- -CoA na forma das coenzimas reduzidas NADH e FADH2. Essas coenzimas, produzidas na matriz mitocondrial, são utilizadas para o desenvolvimento da força próton-motriz, que impulsiona a produção de adenosina trifosfato (ATP) pela fosforilação oxidativa. Coenzimas reduzidas também são produzidas pela via glicolítica. Essa via, também denominada glicólise, refere-se à via de degradação da gli- cose, em que duas moléculas de piruvato são formadas. A via glicolítica também gera a produção de quatro moléculas de ATP e de duas moléculas de NADH. Essas coenzimas reduzidas também são reoxidadas a NAD+ por meio da cadeia transportadora de elétrons. Contudo, a via glicolítica ocorre no citosol celular, enquanto que os complexos enzimáticos, que formam a cadeia transportadora de elétrons, estão inseridos na membrana mitocondrial interna. A membrana interna da mitocôndria não é permeável à coenzima NADH. Dessa forma, as moléculas reduzidas dessa coenzima, formadas pela via glicolítica, chegam até a matriz mitocondrial por meio de um transporte indireto, pelos sistemas de lançadeiras, como a lançadeira malato-aspartato (Figura 4) (NELSON; COX, 2014). A lançadeira malato-aspartato transporta os equivalentes redutores do NADH para a mitocôndria, por meio da formação de oxalacetato. Em um primeiro momento, os equivalentes redutores do NADH + H+ são transferidos ao oxala- Vias de metabolização do oxalacetato4 cetato, em uma reação reversível, catalisada pela enzima malato-desidrogenase citosólica. Com isso, ocorre a oxidação do NADH citosólico a NAD+ e a redução do oxalacetato a malato. O malato, então, consegue passar pela membrana mitocondrial interna por meio do transportador malato-α-cetoglutarato. Essa translocase troca malato por α-cetoglutarato. Já na matriz mitocondrial, o malato é reconvertido a oxalacetato pela enzima malato-desidrogenase mitocondrial. Nessa reação, o malato é oxidado e os equivalentes redutores são doados ao NAD+, formando NADH. O NADH, então, doa seus elétrons para o complexo I da cadeia transportadora. Os elétrons do NADH ocasionam a produção de aproximadamente 2,5 moléculas de ATP pela fosforilação oxidativa (NELSON; COX, 2014; SMITH; MARKS; LIEBERMAN, 2008). O oxalacetato não consegue permear a membrana mitocondrial interna. Para retornar ao citosol, o oxalacetato é transaminado com o glutamato, formando o aspartato. Essa reação é catalisada pela enzima aspartato aminotransferase (AST) mitocondrial. O aspartato, então, é transportado da mitocôndria para o citosol, pela translocase trocadora de glutamato/aspartato. Já no citosol, o aspartato é convertido de volta a oxalacetato por uma nova reação de trans- minação, catalisada pela aspartato-aminotransferase (NELSON; COX, 2014; SMITH; MARKS; LIEBERMAN, 2008). Figura 4. Lançadeira malato-aspartato. Note que os equivalentes redutores de NADH são transportadosdo citosol para a mitocôndria por conversão malato/oxalacetato. Fonte: Nelson e Cox (2014, p. 758). 5Vias de metabolização do oxalacetato Participação do oxalacetato no metabolismo dos aminoácidos O oxalacetato tem uma função bastante importante no catabolismo de aminoá- cidos. Além de ele ser produzido durante a degradação de alguns aminoácidos, o oxalacetato também é importante para a produção da ureia, forma como o nitrogênio dos aminoácidos é eliminado do organismo. Os aminoácidos, quando em excesso, são convertidos em intermediários metabólicos comuns, como o oxalacetato. O catabolismo dos aminoácidos envolve três etapas: remoção do grupo amino do aminoácido, incorporação do átomo de nitrogênio na ureia e conversão do esqueleto carbônico do aminoácido em um intermediário do metabolismo (VOET; VOET, 2013). A maior parte do nitrogênio proveniente dos aminoácidos é excretado pelo nosso organismo na forma de ureia. A ureia é produzida por meio da via metabólica chamada ciclo da ureia. Ela apresenta dois átomos de nitrogênio em sua estrutura. Esses átomos são provenientes da amônia e do aminoá- cido aspartato. O oxalacetato é o α-cetoácido do aspartato. Dessa forma, ele é bastante importante para o funcionamento do ciclo da ureia (VOET; VOET, 2013). A maior parte dos aminoácidos que chega ao fígado para ser degradada sofre desaminação por transaminação. As transaminações são reações em que o grupamento amino de um α-aminoácido é transferido para um α-cetoácido. O α-cetoglutarato é o principal α-cetoácido aceptor de gru- pamentos amino nos hepatócitos. As reações de transaminação são catali- sadas por enzimas chamadas transaminases ou aminotransferases. Nessas reações, o grupo amino de um aminoácido torna-se o grupo amino de um outro aminoácido. Portanto, quando o α-cetoglutarato recebe o grupo amino na reação de transaminação, o seu aminoácido correspondente, o glutamato, é formado. Ao mesmo tempo, o aminoácido que teve seu grupo amino removido origina o seu α-cetoácido correspondente. O α-cetoácido formado origina um intermediário do nosso metabolismo. As reações de transaminação coletam grupos amino de diferentes aminoácidos na forma de um único, o L-glutamato (NELSON; COX, 2014; VOET; VOET, 2013). As reações de transaminação são reversíveis. Dessa forma, elas são utilizadas no catabolismo e também na síntese de aminoácidos (BERG; TYMOCZKO; STRYER, 2014). Vias de metabolização do oxalacetato6 O glutamato formado por meio das reações de transaminação tem seu grupo amino removido pela enzima glutamato-desidrogenase, nas mitocôndrias. A partir da reação de desaminação, o glutamato libera o nitrogênio na forma de amônia (NH4+) e o α-cetoglutarato é formado. A amônia é bastante tóxica para o nosso organismo. Dessa forma, ela é eliminada na forma de ureia, um produto com dois átomos de nitrogênio e com menor toxicidade. A amônia liberada na degradação dos aminoácidos é utilizada na primeira reação do ciclo da ureia. O Segundo átomo de nitrogênio da molécula de ureia é fornecido pelo aspartato. O aspartato, por sua vez, é formado por meio da reação de transaminação envolvendo o glutamato e o oxalacetato. O grupamento amino do glutamato é transferido para o oxalacetato. Assim, o glutamato é convertido em α-cetoglutarato e o oxalacetato é convertido em aspartato (SMITH; MARKS; LIEBERMAN, 2008). O aspartato participa da terceira reação do ciclo da ureia. Ele reage com o intermediário citrulina, formando argininossuccinato, no citosol celular. Na próxima reação dessa via metabólica, o argininossuccinato é clivado, formando arginina e fumarato. O fumarato é formado a partir dos carbonos provenientes do aspartato. Ele então é convertido em malato, um intermediário do ciclo de Krebs, pela enzima fumarase. O malato, então, entra na mitocôndria, na qual participa do ciclo de Krebs, regenerando o oxalacetato. O oxalacetato pode então ser transaminado com o glutamato, formando aspartato novamente. O aspartato pode ser transportado para o citosol e fornecer nitrogênio para o ciclo da ureia. Dessa forma, o oxalacetato vai sendo reciclado por meio dessas vias, sendo disponibilizado para a formação de aspartato e contribuindo para a excreção do nitrogênio (SMITH; MARKS; LIEBERMAN, 2008). Como citamos anteriormente, o catabolismo dos aminoácidos inicia com a remoção do seu grupamento amino, por meio das reações de transamina- ção. As vias catabólicas dos 20 aminoácidos convergem para a formação de apenas sete intermediários metabólicos comuns: piruvato, α-cetoglutarato, succinil-CoA, fumarato, acetil-CoA, acetoacetato e oxalacetato (VOET; VOET, 2013). O oxalacetato é formado pela degradação dos aminoácidos asparagina e aspartato (Figura 5). O aspartato é um aminoácido de quatro carbonos. Quando ele é transaminado pela enzima aspartato aminotransferase, ele origina diretamente o oxalacetato (seu α-cetoácido). A asparagina é um aminoácido que apresenta dois grupamentos amino. Em seu catabolismo, inicialmente, 7Vias de metabolização do oxalacetato ela é hidrolisada pela enzima asparaginase, resultando na liberação de NH4+ e aspartato. O aspartato é, então, desaminado, originando o oxalacetato (BERG; TYMOCZKO; STRYER, 2014). O oxalacetato produzido no citosol celular é convertido em malato para poder ser, assim, transportado para a matriz mitocondrial pelo transportador malato-α-cetoglutarato. O oxalacetato também pode ser produzido a partir do piruvato, formado no catabolismo da alanina, cisteína, glicina, serina e treonina. As moléculas de oxalacetato e piruvato, formadas a partir dessas reações catabólicas, podem ser utilizadas para a síntese de ATP e também podem ser empregadas na síntese de glicose, por meio da gliconeogênese. Figura 5. Desaminação dos aminoácidos asparagina e aspartato e formação do oxalacetato. Fonte: Rodwell et al. (2018, p. 299). Biossíntese de aminoácidos Os aminoácidos são divididos em aminoácidos essenciais e aminoácidos não essenciais. Os aminoácidos não essenciais são aqueles que o nosso organismo consegue produzir e, por isso, não necessários na dieta. Esses aminoácidos são produzidos no fígado, a partir de intermediários do metabolismo, como α-cetoglutarato, 3-fosfoglicerato, piruvato e oxalacetato. O oxalacetato é utilizado para a produção dos aminoácidos não essenciais aspartato e asparagina. Os aminoácidos essenciais metionina, treonina e lisina também são sintetizados a partir do oxalacetato. Contudo, os seres humanos não são capazes de produzi-los (NELSON; COX, 2014). O aspartato é produzido a partir de uma reação de transaminação com o glutamato. A AST transfere o grupo amino do aminoácido glutamato para o Vias de metabolização do oxalacetato8 oxalacetato, originando α-cetoglutarato e aspartato, respectivamente. A aspara- gina é formada pela amidação da molécula do aspartato. A NH4+, proveniente da glutamina, é ligada à molécula do aspartato, pela enzima asparagina-sintetase, formando a asparagina (HARVEY; FERRIER, 2012). Nossas células apresentam diferentes tipos de aminotransferases. A maior parte dessas enzimas apresenta afinidade por α-cetoácido e α-cetoglutarato. Contudo, são diferentes em relação ao tipo de aminoácido a que se ligam. Elas são denominadas de acordo com o aminoácido a que se ligam e que atua como doador do grupamento amino. A enzima alanina aminotransferase, por exemplo, transfere o grupo amino da alanina para o α-cetoglutarato. Outra aminotransferase bastante importante para o nosso metabolismo é a aspartato aminotransferase. Essa enzima transfere o grupo amino do aspartato para o α-cetoglutarato. As aminotransferases apresentam o grupo prostético piridoxal-fosfato (PLP), que atua como carregador dos grupos amino. Esse grupo é derivado da piridoxina, a vitamina B1 (NELSON; COX, 2014). Participaçãodo oxalacetato na gliconeogênese e na biossíntese de ácidos graxos A gliconeogênese (nova formação de açúcar) se refere à via metabólica de produção endógena da glicose. Nos períodos entre as refeições ou jejuns mais longos, o fígado libera glicose para o sangue, mantendo os níveis glicêmicos dentro da normalidade. A glicose liberada é proveniente da degradação do glicogênio (glicogenólise) e da gliconeogênese. Quando as reservas de glicogênios são reduzidas, o fígado produz glicose a partir de fontes não glicídicas, como aminoácidos, lactato, piruvato e glicerol (NELSON; COX, 2014). O oxalacetato também é um intermediário da gliconeogênese. Quando o piruvato é utilizado como substrato da via, a maioria das reações da gliconeogênese são o reverso da via glicolítica (via que degrada a glicose, formando duas moléculas de piruvato). Na última reação da via glicolítica, 9Vias de metabolização do oxalacetato o intermediário fosfoenolpiruvato é convertido em piruvato, pela enzima piruvato-quinase. Portanto, a gliconeogênese inicia pela etapa reversa, isto é, conversão do piruvato em fosfoenolpiruvato. Contudo, as nossas células não conseguem realizar essa reação diretamente. A conversão de fosfo- enolpiruvato em piruvato é uma reação extremamente exergônica, o que torna essa reação irreversível. Então, para que a conversão de piruvato em fosfoenolpiruvato ocorra, inicialmente o piruvato é convertido em oxalacetato e, então, o oxalacetato é convertido em fosfoenolpiruvato. Na matriz mito- condrial, a enzima piruvato carboxilase catalisa a carboxilação do piruvato, levando à formação do oxalacetato. O oxalacetato é, então, transportado para o citosol celular, na forma de malato. No citosol, o malato é conver- tido a oxalacetato novamente. O oxalacetato é, então, descarboxilado pela enzima fosfoenolpiruvato-carboxiquinase, originando o fosfoenolpiruvato. Dessa forma, a molécula de CO2 adicionada ao piruvato para a formação do oxalacetato é removida para a conversão deste em fosfoenolpiruvato. Essa sequência de carboxilação e descarboxilação envolvendo a formação do oxalacetato favorece a formação do fosfoenolpiruvato, pois possibilita a “ativação” do piruvato. O oxalacetato não consegue passar pela membrana mitocondrial. Para que ele possa sair da mitocôndria, em que é produzido pela enzima piruvato-carboxilase, em direção ao citosol, precisa ser convertido a aspartato ou malato. A conversão a aspartato ocorre por meio da transaminação do oxalacetato com o glutamato, catalisada pela enzima aspartato aminotransferase. Enquanto isso, a reação de conversão do oxalacetato a malato é catalisada pela enzima malato desidrogenase. Nessa reação, o oxalacetato é reduzido e a coenzima NADH H+ é oxidada à forma NAD+. O malato, então, atravessa a membrana mitocondrial e é reconvertido a oxalacetato pela reação reversa. A oxidação de malato a oxalacetato produz NADH H+. A gliconeogênese ocorre no citosol e precisa da coenzima reduzida NADH para que possa ocorrer. Portanto, esse mecanismo de transporte é bastante importante para a disponibilização de NADH no citosol, no qual sua concentração é reduzida. Vias de metabolização do oxalacetato10 A deficiência da biotinidase é um erro inato do metabolismo que afeta a atividade da enzima piruvato-carboxilase. Essa patologia afeta a produção de oxalacetato e acarreta várias alterações bioquímicas. Aprenda um pouco mais sobre essa desordem metabólica, clicando no link a seguir. https://goo.gl/sDsCvd Dessa forma, a conversão de piruvato em fosfoenolpiruvato, por meio da geração de oxalacetato, também disponibiliza NADH para a via gliconeogênica. Veja a Figura 6 a seguir. Figura 6. Vias alternativas da transformação do piruvato em fosfoenolpiruvato. Fonte: Nelson e Cox (2014, p. 572). 11Vias de metabolização do oxalacetato Biossíntese de ácidos graxos e oxalacetato No período absortivo, ácidos graxos podem ser sintetizados e armazenados em nosso organismo na forma de triacilgliceróis. A biossíntese de ácidos graxos ocorre a partir do grupo acetato da molécula acetil-CoA, no citosol celular. A acetil-CoA é formada a partir do metabolismo da glicose ou, também, de alguns aminoácidos. Ela é formada, principalmente, na matriz mitocondrial. O oxalacetato atua como um intermediário do transporte da acetil-CoA da matriz mitocondrial em direção ao citosol. A membrana mitocondrial interna das mitocôndrias é impermeável à molécula de acetil-CoA. Dessa forma, o grupo acetato da acetil-CoA é transportado do interior das mitocôndrias para o citosol celular, na forma de citrato. Na matriz mitocondrial, a acetil-CoA reage com o oxalacetato, formando citrato. O citrato é então transportado para o citosol, por meio do transportador de citrato. Já no citosol, o citrato é clivado pela enzima citrato-liase, regenerando o oxalacetato e a acetil-CoA, que então é utilizada na síntese de ácidos graxos. O oxalacetato, por sua vez, retorna à matriz mitocondrial na forma de malato, já que a membrana mitocondrial interna não apresenta transportadores para oxalacetato. No citosol, o oxalacetato é reduzido a malato pela enzima malato-desidrogenase citosólica. O malato é, então, transportado para a mito- côndria por meio da translocase malato-α-cetoglutarato. Na matriz mitocon- drial, o malato é reoxidado a oxalacetato pela enzima malato-desidrogenase mitocondrial (NELSON; COX, 2014). Como vimos anteriormente, a AST é a enzima responsável pela transaminação do oxalacetato. Essa enzima está presente em quantidades elevadas em células musculares cardíacas e em hepatócitos. Quando essas células sofrem algum tipo de lesão, essa enzima extravasa para o meio extracelular. Em função disso, a AST é utilizada como um biomarcador de lesões cardíacas e hepáticas. Quando a sua concentração na corrente sanguínea está aumentada, lesões no coração ou no fígado devem ser investigadas. Vias de metabolização do oxalacetato12 BERG, J. M.; TYMOCZKO, J. L.; STRYER, L. Bioquímica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. RODWELL, V. W. et al. Bioquímica ilustrada de Harper (Lange). 30. ed. Porto Alegre: Penso, 2018. SMITH, C.; MARKS, A. D.; LIEBERMAN, M. Bioquímica médica básica de Marks. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. VOET, D.; VOET, J. G. Bioquímica. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. 13Vias de metabolização do oxalacetato Conteúdo:
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