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Imunidade Natural

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Edgar Lassance Cunha
Odontologia, FFOE - UFC
Imunidade Natural (Inata)
A imunidade natural é a primeira linha de defesa contra infecções.
Os mecanismos da imunidade inata existem antes do encontro com micro-organismos, e são rapidamente ativados por eles antes do desenvolvimento da reação imune adquirida.
A imunidade natural desempenha duas importantes funções:
È a resposta inicial aos micro-organismos que impede, controla ou elimina a infecção – a inibição de qualquer um dos vários mecanismos da imunidade inata aumenta de forma marcante a suscetibilidade a infecções, ainda que a imunidade adquirida esteja intacta. Apesar disto, sabe-se que muitos micro-organismos desenvolveram mecanismos para se defender da imunidade natural, e a infecção por estes só é extinta após ação da imunidade adquirida.
Estimula as reações imunes adquiridas, inclusive informando a sua intensidade e natureza, visando a melhor resposta para qualquer seja o tipo da infecção – assim, a imunidade natural não desempenha apenas a primeira forma de defesa do organismo, mas também “avisa” que há uma infecção que requer ação da imunidade adquirida. Também, diferentes componentes da resposta imune natural reagem de formas diferentes a micro-organismos diferentes, e, desta forma, influenciam o tipo de resposta imune adquirida que será ativada.
Alguns componentes da defesa imune inata estão ativos mesmo antes da infecção (ex: epitélios). Outros estão inativos, mas prontos para rapidamente responderem à infecção (ex: fagócitos, sistema complemento).
Características do reconhecimento na imunidade inata
1 – Os componentes da imunidade natural reconhecem estruturas que são características de grupos de micro-organismos patogênicos e que não estão presentes em células próprias
O sistema imune natural reconhece um numero limitado de produtos de micro-organismos (em contraste com a imunidade adquirida, que reconhece tantos mais produtos).
As substâncias que estimulam a imunidade natural são chamadas padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs – pathogen associated molecular pattern), que são reconhecidas pelos receptores da imunidade natural chamados: receptores de reconhecimento de padrões.
Diferentes classes de micro-organismos (ex: bactérias gram+, bactérias gram-, vírus, etc.) expressam diferentes PAMPs. Os PAMPs incluem ácidos nucleicos específicos para cada classe de micro-organismo (ex: RNA de dupla hélice viral, sequências CpG de DNA não metiladas em bactérias, etc.); características proteicas específicas para cada classe de micro-organismo (ex: iniciação por N-for-metilmetionina de proteínas bacterianas, etc.); e complexos de lipídios e carboidratos sintetizados por micro-organismos mas não mamíferos (ex: lipossacarídeos de bactérias gram-, ácidos teicóicos de bactérias gram+, oligossacarídeos ricos em manose encontrados em glicoproteinas microbianas, etc.).
Com este grau de especificidade, a imunidade inata é capaz de reconhecer o que é próprio e o que é estranho.OBS: enquanto a imunidade inata tem sua especificidade baseada no desenvolvimento de mecanismos que detectam apenas o que é estranho (assim, não age em doenças autoimunes); a imunidade adquirida tem sua especificidade baseada na produção de linfócitos que reconhecem tudo, mas os que são capazes de reagir contra o próprio organismo são inativados ou eliminados.
2 – O sistema imune natural reconhece produtos microbianos que normalmente são essenciais para a sobrevivência dos micro-organismos
Isto garante que os micro-organismos não descartam seus componentes reconhecíveis pela imunidade natural, portanto, não desviando da defesa. (ex: RNA em dupla hélice de vírus, ácido teicóico da parede celular bacteriana, etc.)
3 – As moléculas reconhecedoras de padrão do sistema imune natural incluem: receptores de reconhecimento de padrão associados a células, expressos na superfície de vários tipos celulares; e proteínas solúveis no sangue e líquidos extracelulares
Os receptores associados a células podem uma ou ambas de duas funções importantes: transduzir sinais que ativam funções antimicrobianas e próinflamatórias das células em que são expressos; e facilitar a captura de micróbios para dentro das células.
As proteínas solúveis são responsáveis pela facilitação da remoção de micróbios do sangue e líquidos extracelulares, ao ativarem mecanismos de captação ou destruição pela célula.
4 – Os receptores de reconhecimento de padrões do sistema imune natural são determinados pela linhagem germinativa
Em contraste com o sistema imune adquirido, onde os linfócitos usam recombinação somática genética para produção de seus receptores, o sistema imune natural possui um rol muito menor de variabilidade de receptores. Por tal motivo é que a imunidade natura tem especificidade cerca de 100000 vezes menor que a imunidade adquirida.
A distribuição dos seus receptores ocorre de forma não clonal, já que as células de mesma linhagem possuem os mesmos tipos de receptores. (diferentemente da imunidade adquirida, onde os linfócitos clonam-se e geram linfócitos com receptores idênticos para cada especificidade).
5 – Além de produtos microbianos, o sistema imune natural é capaz de reconhecer células próprias estressadas ou lesadas
 Células estressadas ou lesadas frequentemente expressam moléculas não encontradas abundantemente em células sadias. Estas moléculas são reconhecidas por vários receptores da imunidade natural.
Células infectadas e as células ao seu redor podem aumentar a expressão destas moléculas também – assim, a imunidade natural é capaz de eliminar estas moléculas ainda que não haja contato direto entre o antígeno microbiano e seu receptor especifico na imunidade natural.
Receptores celulares de reconhecimento de padrão
Vários tipos celulares expressão receptores reconhecedores de padrão (que reconhecem PAMPs), e, portanto, participam da resposta imune inata. Dentre elas, estão macrófagos, neutrófilos, células dendríticas e células endoteliais; as células epiteliais e linfócitos expressam receptores reconhecedores de padrão, mas não agem na imunidade inata.
Estes receptores reconhecedores de padrão estão situados na membrana celular, em vesículas endossômicas e no citoplasma, e são capazes de reconhecer antígenos microbianos em qualquer uma dessas localizações. Eles são ligados a vias de transdução de sinais intracelulares que ativam várias respostas celulares (ex: produção de moléculas inflamatórias e antimicrobianas, etc.)
1 – Receptores semelhantes a Toll (TLRs – toll-like receptor)
São expressos nas membranas celulares e intracelulares dos principais tipos celulares, como macrófagos, células dendríticas, neutrófilos, células epiteliais das mucosas e células endoteliais.
Os TLRs dos mamíferos estão envolvidos nas respostas a tipos moleculares amplamente divergentes que são comumente expressas por células microbianas, mas não por células dos mamíferos. Por se fazerem presentes tanto na membrana celular como em membranas intracelulares, os TLRs são capazes de identificar antígenos em varias localidades.
Diversas vias de sinalização levam à ativação de fatores de transcrição, resultando na expressão de genes importantes para respostas imunes naturais. Com a ligação do antígeno ao TLR, há a dimerização (fusão de 2 monômeros) das proteínas do TLR. Então, há recrutamento de proteínas adaptadoras, que facilitam o recrutamento de proteínas quinases, levando à ativação de vários fatores de transcrição. 
Estes fatores de transcrição expressam genes que codificam muitas moléculas de atividade imune natural, como citocinas inflamatórias, quimiocinas e moléculas de adesão endotelial. Também há expressão dos genes de interfereon, importantes para a resposta antiviral.
Devido à grande diversidade de proteínas adaptadoras e fatores de transcrição há variabilidade na resposta por parte dos TLRs estimulados por diferentes antígenos.
2 – Lectinas C
São moléculas ligadoras a carboidratos cálcio-dependentesexpressas nas membranas celulares de fagócitos. Há vários tipos de lectinas C com diferentes repercussões.
Ex: receptor a manose, dectina1
3 – Receptores de varredura (scavenger)
Situados nas membranas plasmáticas de fagócitos e mediam a captação de lipoproteínas oxidadas para dentro da célula. Quando micróbios possuem este tipo de proteína, são fagocitados.
4 – Receptores a N-formil met-leu-phe
Reconhecem peptídeos curtos que tem resíduos N-formilmetionil (presentes em toda proteína bacteriana). São expressos na membrana celular de neutrófilos e macrófagos.
Atravessam 7 vezes a membrana e são ligados a proteína G
5 – NLRs (NACHT-LRRs)
São receptores citoplasmáticos que agem como sensores de infecção bacteriana intracelular.
6 – Proteínas com domínio de ativação e recrutamento de caspase (CARD – caspase activation and recruitment domain)
São receptores citoplasmáticos que sinalização infecções virais. Levam à expressão de interferons tipo I antivirais.
Componentes do sistema imunológico natural
O sistema imunológico natural consiste em barreiras epiteliais, células circulantes e teciduais, e proteínas plasmáticas.
As principais células efetoras da imunidade natural são os neutrófilos, fagócitos mononucleares (macrófago, célula de kupffer no fígado, osteoclasto no osso, etc.) e as células NK (= natural killer) – estas atacam micro-organismos que romperam as barreiras epiteliais e entraram nos tecidos ou na circulação.
Algumas células da imunidade natural, como macrófagos e células NK, secretam citocinas que ativam outros fagócitos e estimulam a reação celular da imunidade natural, evento chamado de inflamação. 
Inflamação consiste no recrutamento e na ativação de leucócitos e no extravasamento e ativação de proteínas plasmáticas para o local de infecção visando eliminar o agente infeccioso.
OBS: a inflamação pode causar lesões dos tecidos sadios próximos à infecção.
As principais proteínas plasmáticas atuantes na imunidade natural fazem parte do sistema complemento.
1 – Barreiras Epiteliais
Superfícies epiteliais intactas formam barreiras físicas entre micro-organismos do ambiente externo e os tecidos do indivíduo. As principais regiões de contato com micro-organismos são a pele e as superfícies mucosas dos tratos gastrointestinal e respiratório – todas são revestidas por epitélios contínuos, que caso venham a perder a integridade, são mais susceptíveis a infecções.
Os epitélios produzem peptídeos de função antibiótica. Há duas famílias de antimicrobianos:
Defensinas: produzidas por células epiteliais de superfícies mucosas, granulócitos, células NK e linfócitos citotóxicos. Sua secreção pode ser aumentada por citocinas e produtos microbianos. Agem toxicamente sobre bactérias e fungos, além de ativar células envolvidas na resposta inflamatória.
Catelicidinas: produzidas por neutrófilos e vários epitélios de barreira. È sintetizada a partir da clivagem de seu precursor – ambas etapas são estimuladas por citocinas e produtos microbianos. Tem ação direta sobre vários micro-organismos e promovem ativação de leucócitos e outras células que erradicam a infecção. Também, é capaz de se ligar e neutralizar o LPS (presente na parede celular de bactérias gram-.
Os epitélios de barreira contem linfócitos T intra-epiteliais que podem reconhecer e responder a micro-organismos. Subconjuntos de linfócitos T estão presentes em diferentes proporções em diferentes locais, dependendo do tipo do tecido e da sua localização. Estes subconjuntos são separados principalmente pelo tipo de receptores que expressam. Os linfócitos T intra-epiteliais atuam na defesa mediante a secreção de citocinas, ativação de fagócitos e morte de células infectadas.
As cavidades serosas (pericárdio, peritônio, pleura, etc.) contém subpopulações de linfócitos B-1, cujos receptores são imunoglobulinas de diversidade limitada. Estes linfócitos tendem a produzir IgMs específicos para antígenos polissacarídicos e lipídicos comuns a muitas bactérias. Estes anticorpos se fazem presentes mesmo sem agente infeccioso, portanto são chamados anticorpos naturais, e agem como defesa pré-formada contra micro-organismos que penetraram com sucesso a barreira epitelial.
2 – Fagócitos e resposta inflamatória
As mais numerosas células efetoras do sistema imunológico natural são as células derivadas do monócito da medula óssea, que circulam no sangue e migram para os tecidos por diapedese.
Os fagócitos são células cuja função principal é identificar, ingerir e destruir micro-organismos; Sua ação direta na defesa consiste em passos sequenciais:
1º Há recrutamento das células para o local de infecção: Neutrófilos e monócitos são recrutados do sangue por ligação a moléculas de adesão em células endoteliais e por quimioatraentes em resposta à infecção – quando não há infecção, não há migração. Esta migração é composta por uma série de passos:
Inicia-se a rolagem dos leucócitos sobre o endotélio é mediada pelas selectinas: em resposta à infecção e a citocinas (as principais são fator de necrose tumoral – TNF ou tumoral necrose factor e interleucina-1 ou IL-1) , as células endoteliais que revestem as vênulas pós-capilares do local de infecção aumentam a expressão de selectinas. As selectinas agem nos leucócitos os ligando as células endoteliais – trata-se de uma interação fraca facilmente rompida pela força do sangue fluente. Desta forma, leucócitos ciclicamente se ligam e desligam do endotélio, resultando efetivamente num rolamento. Esta aproximação permite que ocorra a segunda etapa da migração;
Ocorre aumento da afinidade das integrinas mediado por quimiocinas: quimiocinas são citocinas com pequenos polipeptídeos produzidos por várias células (macrófagos teciduais, células endoteliais, etc.) em resposta a produtos microbianos, TNF e IL-1 (2 citocinas envolvidas na infecção). As quimiocinas tem função quimiotáxica (= quimioatração). Estas quimiocinas produzidas no local infeccionado e se projetam para a superfície luminal das células endoteliais de vênulas pós-capilares. Nesta superfície, as quimiocinas se ligam a receptores específicos para quimiocinas expressos nas superfícies dos leucócitos em rolagem. Os leucócitos expressam moléculas de adesão chamadas integrinas, que estão em baixa afinidade e não produzem adesão efetiva até que as quimiocinas ajam.
Surgem adesões estáveis entre leucócitos e endotélio através das integrinas: em paralelo ao aumento da expressão de selectinas e quimiocinas, TNF e IL-1 também aumentam a expressão endotelial de ligantes de integrinas. Como resultado, varias partes dos leucócitos fixam-se firmemente ao endotélio, inclusive há “deformação” do citoesqueleto leucocitário e a célula se “derrama” sobre a superfície endotelial.
Migração de leucócitos através do endotélio: as quimiocinas agem nos leucócitos aderidos os estimulando a migrar através dos espaços intercelulares seguindo o gradiente de concentração de quimiocinas (que é menor no sangue e maior no local da infecção). Os leucócitos secretam enzimas que facilitam a passagem por entre as células. Por fim, os leucócitos se acumulam no tecido extravascular em torno do agente infeccioso.
A acumulação de leucócitos nos tecidos é importante para a inflamação. Há alguma especificidade no processo de migração leucocitária baseada nas combinações de moléculas de adesão e receptores. Isto quer dizer, neutrófilos são mais afins por certos tipos de selectinas e quimiocinas, enquanto monócitos são mais afins por outros tipos de selectinas e quimiocinas. Isto é um dos motivos para neutrófilos chegarem primeiro aos locais de infecção que os monócitos.
Resposta inflamatória - Khan Academy
Leukocyte extravasation
2º Há o reconhecimento dos micróbios: fagócitos constantemente entram em contato com células próprias sadias, mas não as fagocitam. Fagócitos expressam receptores (normalmente receptores reconhecedores de padrão, para PAMPs) que reconhecem exclusivamente micro-organismos e que são ligados a mecanismos de fagocitose.Os receptores que não são reconhecedores de padrão reconhecem certas proteínas secretadas pelo organismo que estão revestindo micróbios. Estas proteínas são chamadas opsoninas (incluem anticorpos, proteínas do sistema complemento e lectinas), e o processo de revestir um micróbio para torna-lo alvo de fagocitose chama-se opsonização. Moléculas de anticorpos possuem uma extremidade afim por antígenos e outra (região Fc) afim pela célula natural. Uma vez que muitos anticorpos diferentes, que se ligam a muitos micróbios diferentes, são produzidos pelo organismo, a opsonização mediada por anticorpos se mostra uma maneira mais intensa de contribuição para fagocitose do que pelos receptores reconhecedores de padrão para PAMPs. 
3º Há a ingestão dos micróbios por fagocitose: a fagocitose é um processo de englobamento de partículas grandes dependente de energia. Após a ligação ao receptor (seja por opsonização ou não), a membrana plasmática adjacente começa a se redistribuir, formando uma concavidade. O topo da concavidade começa a se fechar (zip up) e o interior da concavidade se “destaca” para formar uma vesícula intracelular, chamada fagossomo. 
4º Há a destruição dos micróbios ingeridos: Os fagócitos ativados destroem os micro-organismos pela ação de moléculas microbicidas concentradas nos fagolisossomos (fusão de fagossomo e lisossomo).
Enzimas: fagócitos ativados produzem enzimas proteolíticas nos fagolisossomos. Uma das mais importantes são a elastase e a catepsina G, enzimas bactericidas de vasto espectro capazes de destruir varias bactéria.
Derivados reativos do O²: fagócitos ativados convertem oxigênio molecular em derivados reativos do oxigênio, altamente reativos para oxidação de agentes infecciosos (as vezes, células).
Intermediários reativos do óxido nítrico (principalmente Oxido nítrico – NO): no fagolisossomo, o NO pode se ligar com peróxido ou superóxido de hidrogênio para produzir radicais peroxinitrito altamente reativos que podem eliminar micro-organismos.
OBS: fagócitos altamente ativados podem causar lesões a tecidos sadios, pois suas moléculas microbicidas (enzimas, derivados reativos do O² e NO) não são capazes de diferenciar o que é estranho e o que é próprio, e a alta atividade fagocítica pode vir a liberar estas moléculas no meio.
Fagocitose 
Os fagócitos agem indiretamente na defesa secretando citocinas que estimulam a resposta imune adquirida e reparação tecidual.
Neutrófilos (leucócitos polimorfonucleares): São a população mais abundante de células sanguíneas brancas circulantes. Medeiam às fases inicias da resposta inflamatória. Possuem núcleos de trilobulados a pentalobulados conectados (daí surge o nome polimorfonuclear). Seu citoplasma contem dois tipos de grânulos: grânulos específicos – ricos em enzimas como lisozima, elastase e colagenase; e grânulos azurófilos – que são lisossomos com enzimas e outras substâncias bactericidas (inclusive defensinas e catelicidinas). Os neutrófilos são produzidos na medula óssea e tem ancestral comum com células fagocíticas mononucleares – a célula progenitora mieloide. Eles circulam pelo sangue por cerca de 6 horas e podem chegar aos locais de infecção em poucas horas após a exposição. Portanto, são as células efetoras predominantes na fase inicial da infecção. Se um neutrófilo não é recrutado para uma infecção em até 6 horas, sofre apoptose e é fagocitado por macrófagos do fígado ou do baço. 
Sistema de Fagócitos Mononucleares: o sistema mononuclear fagocitário consiste em células, de linhagem comum (célula progenitora mielóide monócito), cuja função principal é fagocitar, e que desempenham papéis centrais nas imunidades natural e adquirida. As células imaturas, os monócitos, são originados na medula ossea circulam pelo sangue. Tem núcleo em forma de rim, com citoplasma levemente granuloso, com lisossomos, vacúolos fagocíticos e citoesqueleto. Ao entrar nos tecidos, os monócitos maturam e tornam-se macrófagos. Os macrófagos podem assumir diversas formas morfológicas após a ativação por estimulos externos (ex: micróbios). Os macrófagos podem se fundir e formar células gigantes de corpo estranho (= célula gigante multinucleada). Macrófagos em diferentes sistemas recebem nomes diferentes: no SNC são micróglia; no fígado são Células de Kupffer; nos pulmões e nas vias aéreas são Macrófagos alveolares; nos ossos são Osteoclastos; na pele são Células de Langerhans; no baço são Macrófagos Esplênicos; e etc. Os macrófagos respondem à infecção logo após os neutrófilos, mas persistem por mais tempo no local da inflamação. Também, os macrófagos não são terminalmente diferenciados, e podem sofrer divisão celular no local da inflamação. Portanto, os macrófagos são as células efetoras dominantes nos estágios mais tardios da infecção. 
Além da fagocitose, os macrófagos desempenham muitas funções secundárias para o sistema imune, muitas que são mediadas por citocinas. TNF, quimiocinas e IF-1 agem no estimulo do processo inflamatório. IL-12 (interleucina-12) induzem as células NK e linfócitos T a produzirem IFN-γ (interferon gama). Há produção de fatores de crescimento para fibroblastos e células endoteliais (participam na remodelagem tecidual após a lesão). Também produzem IFN-I, IFN-α e IFN-β que agem nas células NK e outras citocinas.
Células dendriticas: desempenham papel importante não só na imunidade inata, mas também na ligação entre as reações inata e adquirida. Elas possuem projeções membranosas e capacidade fagocítica. São amplamente distribuídas nos tecidos linfóides, epitélios de mucosas e parênquimas dos órgãos. São derivadas das células progenitoras linfóides (também originam linfócitos B e T e células NK). Possuem receptores de reconhecimento de padrão (reconhecem PAMPs) e respondem a micro-organismos secretando citocinas. Há uma subpopulação de células dendríticas, chamadas células dendríticas plasmocitóides são especializadas para combater infecções virais. Elas reconhecem virus endocitados e produzem interferons I antivirais. As células dendríticas são capazes de capturar e apresentar antigenos aos linfócitos T.
Células NK (= Natural Killer): as células NK tem linhagem relacionada aos linfócitos (provém de células progenitoras linfóides da medula óssea). São capazes de reconhecer células infeccionadas e/ou estressadas e respondem as destruindo diretamente e secretando citocinas. Recebem este nome, pois isoladamente (sem necessidade de ativação adicional) são capazes de eliminar células alvo. Também, são fonte de IFN-γ (= interferon gama), que age na ativação de macrófagos para atividade fagocitária. Apesar da linhagem relacionada a linfócitos, não expressam receptores rearranjados somaticamente nem duplicados clonalmente. A ação das células NK é regulada pelo balanço entre os sinais gerados por receptores de ativação e por receptores de inibição – A maioria destes receptores de ativação/de inibição reconhecem moleculas na superficie de outras celulas. Subunidades de sinalização transudzem sinais ativadores/inibidores para dentro da célula. Os sinais ativadores devem ser reduzidos por sinais inibidores para que a célula NK não aja contra células proprias. Os receptores inibidores se ligam a moléculas do Complexo molecular de Histocompatibilidade ( MHC – Molecular Histocompatibility Complex), que são diferentes de individuo para individuo. No caso de micro-organismos, que não possuem ou possuem diferente MHC, não há sinal inibidor, apenas sinais ativadores, resultando no ataque pela célula NK (algumas infecções virais só são combatidas por células NK por que seus receptores inibidores atuam mesmo sem ligação ao MHC, diferentemente dos receptores dos linfocitos T, por exemplo, que requerem ligação ao MHC para reconhecimento). Alguns receptores ativadores da célula NK possuem leve afinidade pela porção Fc de anticorpos, sendo, portanto, capazes de eliminar micro-organismos marcados por anticorpos – este fenomeno chama-se citotoxidade celular anticorpo-dependente.
A expansão e asatividades das células NK são estimuladas por citocinas (principalmente IL-12 e IL-15). A IL-12 age como indutor da produção de IFN-γ e da atividade citolítica; A IL-15 age como fator de crescimento da célula NK. A IL-18 estimula os efeitos das IL-12 e IL-15, e também induz a produção de IFN-γ. IFN-I, IFN-α e IFN-β (todos produzidos por macrófagos em resposta à infecção) potencializam a ação da IL-12.
As funções efetoras das células NK são de destruir diretamente células infectadas e ativar macrófagos para destuirem micro-organismos. O mecanismo de citotoxidade das células NK é igual ao dos linfócitos T citotóxicos (CTL – cytotoxic T linphocyte). Estes dois tipos celulares possuem grânulos proteicos que fazem a destruição celular. Quando as células NK são ativadas, ocorre exocitose destes grânulos para adjacências das células alvo. As perforinas facilita a entrada das granzimas nas células alvo. As granzimas induzem apoptose nas células alvo. Alguns tumores são alvos das células NK. O IFN-γ secretado pelas células NK ativa macrófagos para destruírem micro-organismos – isto garante retardo da infecção, a extinguindo, ou permitindo tempo que a imunidade adquirida se desenvolva.
3 – Moléculas de reconhecimento de padrão e proteínas efetoras circulantes
2Além das moléculas associadas às células, diversas proteínas solúveis encontradas no plasma e líquidos intracelulares também reconhecem padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs) e servem como efetoras do sistema imunológico natural. Outras moléculas servem para opsonização.
Sistema complemento: trata-se de uma série de proteínas plasmáticas que são ativadas por micro-organismos e promovem a sua destruição e a inflamação.
Pentraxinas: em indivíduos sadios, sua concentração é baixa, mas pode aumentar cerca de mil vezes num individuo que contenha inflamação. Sua produção é estimulada pelas IL-6 e IL-1, produzidas por fagócitos na inflamação (como conjunto, as proteínas que respondem a estas citocinas são chamadas reagentes da fase aguda).
Colcetinas: atuam como opsoninas.
Ficolinas: atuam como opsoninas e ativam o sistema complemento.
4 – Citocinas naturais
As citocinas da imunidade natural recrutam e ativam leucócitos e produzem alterações sistêmicas (ex: aumento da síntese de células efetoras; aumento da síntese proteica especifica, etc.); Na imunidade natural, as principais fontes de citocinas são macrófagos, neutrófilos e células NK. Em menor proporção vêm as células endoteliais e algumas células epiteliais.
IFN-α e IFN-β: controlam infecções virais;				IFN-γ: ativam macrófagos;
TNF, IL-1 e quimiocinas: medeiam a inflamação;			IL-10: limitam a ativação de macrófagos;
IL-15 e IL-12: estimulam proliferação e atividade das células NK;	IL-6: aumenta a produção de macrófagos na medula óssea e aumenta a síntese de algumas proteínas envolvidas na defesa.
O papel da imunidade natural na estimulação das respostas imunológicas adquiridas
A resposta imune natural fornece sinais que agem de acordo com o antígeno para estimular a proliferação e a diferenciação de linfócitos T e B antígeno específicos: paralelamente à promoção inicial de defesa, a imunidade inata da inicio à resposta imune adquirida. A ativação linfocitária requer dois sinais:
Antígeno (= sinal 1): assegura que a resposta imune que virá seja específica.
Produtos da resposta imune inata à infecção (= sinal 2): assegura que a resposta imune adquirida ocorra quando houver infecção perigosa, e não quando os linfócitos reconhecerem antígenos inofensivos ou próprios.
Co-estimuladores para linfócitos T;
Citocinas para linfócitos T e linfócitos B;
Produtos de degradação do sistema complemento para linfócitos B;
Sinais gerados pela imunidade inata a seguir acentuarão a magnitude da resposta imune adquirida, assim como influenciarão a natureza desta resposta.
O papel da imunidade inata na estimulação da imunidade adquirida é baseado na ação dos adjuvantes, que são substancias que precisam ser administradas juntamente com antígenos proteicos para desencadear o máximo das respostas imunes adquiridas. Os adjuvantes são uteis na imunologia experimental e na vacinação. Muitos adjuvantes são produtos microbianos, como o LPS (lipopolissacarídeo).
Referência
Abbas, A. K.; Lichtman, A. H.; Pillai, S. Imunologia celular e molecular. 6ª edição. Brasil: Elsevier, 2011. 3 – 18p.

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