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Linguística A linguística e outras ciências Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Sandra Regina Fonseca Moreira Revisão Textual: Profa. Ms. Silvia Augusta Barros Albert 5 • A linguística e outras ciências • A Sociolinguística • A Geolinguística • Atividade de Sistematização (AS): são exercícios de múltipla escolha, de autocorreção, que lhe dá oportunidade de praticar o que aprendeu na unidade e de identificar os pontos em que precisa prestar mais atenção, ou pedir esclarecimentos a seu tutor. Lembre-se de que esses exercícios são pontuados. Assim, é muito importante que sejam realizados, dentro do prazo estabelecido no cronograma da disciplina. • Atividade de Aprofundamento (AP): consiste em atividades de produção escrita em um Fórum de Discussão ou em uma atividade de Produção Textual. Você deverá, então, participar de uma discussão coletiva a partir de uma questão colocada no fórum ou produzir um texto sobre o tema da Unidade, a partir de uma dada proposta. Essas atividades irão compor sua avaliação no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Blackboard (Bb). Fique bem atento às instruções! Por fim, mas não menos importante, consulte as indicações sugeridas em Material Complementar e Referências Bibliográficas para aprofundar e ampliar seus conhecimentos. Lembramos a você da importância de realizar todas as leituras e as atividades propostas dentro do prazo estabelecido para cada unidade, no cronograma da disciplina. Para isso, organize uma rotina de trabalho e evite acumular conteúdos e realizar atividades no último minuto. Em caso de dúvidas, utilize a ferramenta “Mensagens” ou “Fórum de dúvidas” para entrar em contato com o tutor. · Nesta unidade de estudos linguísticos, apresentaremos algumas correntes linguísticas que interagem com outras ciências como a Antropologia, a Sociologia, a Geografia e a Psicologia. · As correntes linguísticas em questão serão a Sociolinguística, a Geolinguística, a Etnolinguística e a Psicolinguística. A linguística e outras ciências • A Etnolinguística • A Psicolinguística 6 Unidade: A linguística e outras ciências Contextualização Antes de iniciar esta unidade assista ao vídeo disponível no link abaixo. Nele, o humorista Marcelo Adnet, entrevistado por Jô Soares, comenta a respeito de alguns sotaques paulistas. Certamente, esta será uma boa introdução para esta unidade. Preste atenção ao que se diz nessa entrevista e depois relacione aos conteúdos desta unidade! Acesse o link: http://www.youtube.com/watch?v=Vp0pMLsTSk0 7 A linguística e outras ciências Ao chegarmos a esta última unidade, podemos refletir e sintetizar alguma das inúmeras ramificações dos estudos linguísticos. Inicialmente, observamos o surgimento da Linguística enquanto ciência nos estudos estruturalistas de Saussure. Percebemos que, naquele momento, optou-se pela análise da língua (langue), por esta ser considerada menos variável que a fala (parole). Em seguida, surgiram os estudos gerativistas de Chomsky que consideraram como objeto de estudo as sentenças e a competência linguística dos falantes, e também não almejaram analisar as sentenças reais, proferidas por falantes em situações de comunicação. Para essa corrente linguística, tanto a língua analisada quanto suas sentenças eram idealizadas. Somente a partir da segunda metade do século XX, as correntes linguísticas passam a dedicar- se aos estudos de situações reais de comunicação, incluindo em seus estudos tanto os falantes envolvidos nos atos interativos como os contextos histórico e sociocultural em que ocorrem. Estudamos, assim, algumas correntes Funcionalistas, a Pragmática, a Análise da Conversação, e, na unidade anterior, a Análise do Discurso e a Teoria da Enunciação. Com o desenvolvimento dos estudos da linguagem durante muitas décadas, os estudos linguísticos tornaram-se cada vez mais associados a outras ciências como a antropologia, a sociologia, a psicologia etc. Tal fato, conforme observaremos nesta unidade, gerou e tem gerado, ainda, muita confusão terminológica, pois nem sempre é fácil distinguir os objetos de estudo de uma ou de outra corrente linguística, como se, em muitas ocasiões houvesse o encadeamento ou a justaposição de várias ciências em uma só. Tentaremos, portanto, observadas as restrições acima, delimitar o que se entende por Sociolinguística, Geolinguística, Etnolinguística e Psicolinguística. A Sociolinguística Observamos nos estudos apresentados anteriormente, a estreita relação que existe entre a linguagem e a sociedade. Entretanto, o termo Sociolinguística só surgiu em 1964, mais especificamente em um congresso organizado pelo linguista americano William Bright, na Universidade da Califórnia (UCLA). Para este pesquisador, a Sociolinguística deveria estudar as relações existentes entre as variações linguísticas observáveis em uma comunidade e as diferenciações na estrutura social dessa mesma sociedade (ALKMIM, 2003, p.28). 8 Unidade: A linguística e outras ciências Com isso se entende que, para Bright, o objeto de estudo da Sociolinguística é a diversidade linguística e, para tanto, ele associa a diversidade a certos fatores sociais como a identidade social do falante e do ouvinte, o contexto social etc. Segundo Alkmim, a Sociolinguística pode, portanto, ser definida como: [...] o estudo da língua falada [tanto na modalidade oral quanto escrita], observada, descrita e analisada, em seu contexto social, isto é, em situações reais de uso. Seu ponto de partida é a comunidade lingüística, um conjunto de pessoas que interagem verbalmente e que compartilham um conjunto de normas com respeito aos usos lingüísticos (ALKMIM, 2003, p.31). Note que, de acordo com tal definição, os estudos da Sociolinguística baseiam-se na observação dos usos que as chamadas comunidades linguísticas fazem da língua. É importante entender que por comunidade linguística, ou se você preferir, comunidade de fala, não se quer dizer grupos que falam exatamente do mesmo modo, mas grupos de pessoas que obedecem às mesmas regras linguísticas para se comunicarem. Dessa forma, pode-se denominar como uma “comunidade de fala” tanto o conjunto de todos os falantes do português quanto os habitantes de uma determinada cidade, de um bairro ou de uma região, além de grupos específicos de falantes como estudantes, advogados ou rappers. Percebe-se assim que o termo comunidade linguística/ comunidade de fala poderá ter sua significação reduzida ou ampliada dependendo dos objetivos propostos por um determinado estudo de natureza sociolinguística. De uma ou de outra forma, observamos que um fator comum a todas as comunidades linguísticas é o fato de que sempre existirá diversidade ou variação dentro de cada uma delas. Isso significa que: [...] toda comunidade se caracteriza pelo emprego de diferentes modos de falar. A essas diferentes maneiras de falar, a Sociolinguística reserva o nome de variedades lingüísticas. O conjunto de variedades lingüísticas utilizado por uma comunidade é chamado repertório verbal. (Ibid., p.32) Veja o exemplo a seguir para uma melhor compreensão dos termos apresentados: Se considerarmos a comunidade linguística da cidade de São Paulo, observaremos que seu repertório verbal se constitui de muitas variedades linguísticas distintas, pois essas serão influenciadas pelas regiões da cidade, pelas classes sociais dos falantes, por suas ocupações, por sua escolaridade dentre tantos outros fatores. Assim, um morador típico do bairro da Mooca provavelmente utilizará expressões próprias, bem como falará de modo muito mais “cantado” que os moradores de outras regiões da cidade. Esse falar foi reproduzido por Adoniran Barbosa em muitas de suas obras. 9 Explore Acesse o link abaixo e observe essa variantena letra e música da canção “Samba do Arnesto”, de Adoniran Barbosa. http://letras.terra.com.br/adoniran-barbosa/43968/ Para a Sociolinguística a diversidade não é vista como um problema, antes, é considerada uma qualidade constitutiva do fenômeno linguístico, algo inseparável da efetiva produção social do discurso. A variação linguística pode ser observada tanto no plano diacrônico, quando consideramos as alterações que as diversas línguas sofrem com o passar do tempo, quanto no plano sincrônico, no qual fatores como a origem geográfica dos falantes, a idade e o sexo podem influenciar o modo como as pessoas de uma mesma comunidade linguística fazem uso da língua numa mesma época. É possível descrever as variedades linguísticas a partir de dois parâmetros básicos: a variação geográfica (ou diatópica) e a variação social (ou diastrática). Segundo Alkmim (Ibid., p.34) a variação geográfica ou diatópica relaciona-se às diferenças linguísticas distribuídas no espaço físico e que podem ser observadas entre falantes oriundos de diferentes regiões. Observe a comunicação de falantes de distintas regiões do Brasil na charge a seguir: Disponível em: http://www.balaiodeminas.com.br/conteudo/jornais/uploads/CH_Caipira.jpg Acesso: 09/04/10 Observe o uso do vocabulário, a construção de frases, as diferenças fonéticas marcadas na escrita... Isso sem falar da entonação e sotaque que perceberíamos se ouvíssemos esse diálogo ou o reproduzíssemos em voz alta. 10 Unidade: A linguística e outras ciências Um outro exemplo, bastante claro, é considerar os modos distintos de falar das pessoas que vêm dos vários estados do nordeste brasileiro. Apesar de serem tratados genericamente como “nordestinos” os paraibanos, baianos, cearenses, sergipanos, maranhenses, entre outros, possuem características linguísticas que os distinguem. Por outro lado, há variações linguísticas que não dependem apenas da situação geográfica dos falantes. Conforme postula Alkimim (2003): “A variação social ou diastrática, por sua vez, relaciona-se a um conjunto de valores que têm a ver com a identidade dos falantes e também com a organização sociocultural da comunidade de fala” (Ibid., p.35). [grifo nosso] Vejamos alguns exemplos de variação social ou diastrática: Classe social – pessoas pertencentes a grupos sociais mais pobres tendem a: • Usar a dupla negação: “ninguém não viu”, “eu nem num gosto”; • Substituir o [l] pelo [r] como em “brusa” e “grobo”. Idade • O uso de gírias está geralmente vinculado a grupos pertencentes a faixas etárias mais jovens; • A pronúncia fechada da vogal tônica da palavra “senhora” (/senhôura/ ao invés de / senhóra/) é característica de alguns falantes mais velhos. Sexo • Mulheres tendem a alongar algumas vogais como em “maaravilhoso”; • O uso de diminutivos como bonitinho, camisinha, sapatinho é característico do universo feminino. Situação ou Contexto Social – cada falante costuma adequar sua fala de acordo com o ambiente em que se encontra e também de acordo com seus interlocutores. Assim, um estudante universitário utilizará determinadas expressões e vocabulário com seus colegas diferentes das que escolherá para se dirigir a um professor. Alkmim (2003) postula, no entanto, que “As variedades lingüísticas utilizadas pelos participantes das situações devem corresponder às expectativas sociais convencionais” (Ibid., p.37). Com isso, ela evidencia que, caso não adequemos nossa linguagem ao que é esperado em cada situação, provavelmente seremos “punidos”, o que pode representar desde um simples franzir de sobrancelhas até a perda de uma vaga de emprego. 11 Disponível em: http://blog.educacional.com.br/glaucegram/files/2010/02/capoliglota.jpg Acesso: 10/04/10 A essas variações linguísticas relacionadas ao contexto chamamos de variações estilísticas ou registros. Notemos que as variedades linguísticas inserem-se nas relações sociais e, a valorização de uma variedade em relação às demais resulta muito mais da hierarquia entre os grupos sociais do que de fatores inerentes à própria língua. É o que podemos atestar conforme citação apresentada por Alkmim: “uma variedade lingüística ‘vale’ o que ‘valem’ na sociedade os seus falantes, isto é, como reflexo do poder e da autoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais” (GNERRE, 1985, p.4 apud ALKMIM, 2003, p.39) Observamos, assim, como surgem as chamadas variedades padrão dos idiomas que, em geral, coincidem com a variedade linguística utilizada pelas classes dominantes em determinado período. Em consequência, as variantes que não estejam dentro do que é considerado o padrão, serão consideradas como variantes não-padrão ou estigmatizadas. (CAMACHO, 2003, p.59, grifos nossos). Por essa razão também é possível inferir que, uma variedade tida como padrão numa determinada época, pode deixar de sê-lo em outra. Um exemplo clássico disso são formas como “frauta”, “escuitar” e “intonce” que atualmente não pertencem à língua padrão, mas que são encontradas em Os Lusíadas, de Camões. Um dos objetivos dos estudos sociolinguísticos com relação a este assunto é demonstrar que não há línguas superiores ou inferiores, antes, cada língua é adequada à comunidade que a utiliza, assim como as variações que existem dentro de uma mesma língua. Dessa forma, se uma língua não possui determinados vocábulos é porque estes não são necessários para a comunicação naquela comunidade de fala. 12 Unidade: A linguística e outras ciências A Geolinguística No tópico sobre a Sociolinguística, observamos que um dos parâmetros para se estudar as variedades linguísticas diz respeito às diferenças geográficas, espaciais, ou, utilizando a terminologia técnica, diatópicas. Muitos pesquisadores de orientação sociolinguística passaram a estudar as variedades dos falares com relação aos locais geográficos de onde os falantes são oriundos, dessa forma, originou-se uma corrente específica de estudos denominada Geolinguística, ou Geografia Linguística. A Geolinguística relaciona-se, ainda, com outra área de estudos denominada Dialectologia, ou seja, uma ciência que se dedica à observação dos vários dialetos existentes dentro de uma determinada região geográfica. Para alguns estudiosos, portanto, a Geolinguística passa a ser considerada como um “método por excelência da Dialectologia e vai se incumbir de recolher de forma sistemática o testemunho das diferentes realidades dialetais refletidas nos espaços considerados” (CARDOSO, 2002, p. 2). Uma das técnicas mais utilizadas para se estudar as variedades dialetais é por meio dos denominados Atlas Linguísticos que mapeiam os falares de determinadas regiões. Temos, portanto, o Atlas Linguístico da Paraíba, do Paraná, do Rio de Janeiro etc. Para se organizar um Atlas Linguístico, é necessário haver não só uma metodologia a ser seguida como também a seleção de alguns itens a ser observados, que podem variar de acordo com os objetivos da pesquisa. A maioria dos Atlas Linguísticos apresenta, principalmente, diferenças observadas no léxico de determinada região, enquanto outros estudos dedicam- se a verificar aspectos fonéticos relacionados à língua, ou seja, as formas como as pessoas pronunciam os sons em determinadas regiões. Veja na imagem ao lado, um exemplo de estudo sobre os vários nomes pelos quais é conhecida a brincadeira “cabra-cega” em diversas regiões do Brasil. Observe no mapa que essa brincadeira é muito mais conhecida por “pata-cega” (em verde) na região Norte do país; e por cobra- cega (vermelho), na região Sudeste. Disponibilizamos no item “Material Complementar” alguns links sobre este estudo e outros artigos que abordam diferentes estudos geolinguísticos brasileiros. http://www.faccar.com.br/desletras/hist/2007_g/textos/18_arquivos/image010.jpg 13O objetivo de tais estudos não é certamente homogeneizar os falares de determinadas regiões, mas delimitar o uso de certas variedades geograficamente, para, a partir daí, observar questões sociais e culturais associadas a tais variedades linguísticas, muitas vezes estigmatizadas. Desse modo, a Geolinguística compartilha muitos pontos de contato com a Sociolinguística, bem como com a Etnolinguística que é nosso próximo tópico. Vejamos por que. A Etnolinguística Assim como a Geolinguística, que possui fronteiras muito próximas com as da Sociolinguística, a Etnolinguística, por vezes também se ocupa de questões estudadas por essas outras correntes. Segundo Lyons a Etnolinguística pode ser definida como: [...] o estudo da linguagem em relação à cultura – considerando ‘cultura’ no sentido em que é usada em antropologia [...] nesse sentido, pressupõe a sociedade; e a sociedade, por sua vez, depende da cultura (LYONS, 1987, p.245). Conforme a citação acima, esses estudos aproximam-se da antropologia e, por esta razão, a Etnolinguística é por vezes chamada de Linguística Antropológica, ou Antropologia Linguística. Em qualquer denominação, seu campo de atuação é o das relações entre língua e cultura, pois, conforme nos apresenta Borba (1998, p.78) “a língua é, ao mesmo tempo, parte integrante, produto e veículo da cultura”. Com isso, entendemos que a língua tanto reproduz as concepções de uma determinada cultura, quanto é influenciada e modificada por ela. Assim, o vocabulário de cada língua irá adequar-se ao tipo de comunidade que o utiliza. Por exemplo, um povo caçador e um povo agricultor terão vocabulários bem diferenciados (BORBA, 1998, p.78). Outros elementos culturais que podem reproduzir-se na organização linguística das diversas sociedades são a religião, as crenças, as artes etc. Em resumo, os estudos etnolinguísticos visam observar as relações entre a língua e a cultura, representados nas escolhas linguísticas e estruturais feitas por seus falantes, pois, podemos inferir que, cada sociedade tem um modo diferente de observar os mesmos elementos. Vejamos os exemplos abaixo extraídos de Borba: 14 Unidade: A linguística e outras ciências Ao que chamamos escada rolante o francês diz escalier mécanique; nós focalizamos a função; eles, a estrutura da coisa. O nosso beija-flor é oiseau- mouche (pássaro mosca) para os franceses e humming bird (pássaro que zumbe) para os ingleses. Para denominar, chama-nos a atenção a atividade da ave; para os franceses, o tamanho; para os ingleses, o ruído que produz (Ibid, p.79). Borba ainda nos alerta para o fato de que os exemplos apresentados são extraídos de línguas aparentadas que possuem influências latinas; o que nos leva a concluir que as distinções linguísticas entre línguas provenientes de culturas mais distantes podem ser realmente grandes, uma vez que, conforme vimos, a língua é influenciada pelas concepções de mundo de cada povo. Devemos finalmente observar, com relação à Etnolinguística, que esses estudos não pretendem simplesmente estabelecer uma dualidade entre língua e sociedade, como se esses aspectos fossem dois elementos em separado, antes, “procura-se estabelecer uma identidade de relações entre fatos lingüísticos e fatos culturais, ambos condicionados pelas necessidades da vida social” (BORBA, 1998, p.80). Retornamos, desse modo, a um conceito já apresentado pela Sociolinguística que atesta que cada língua desenvolve-se de modo a suprir as necessidades da comunidade linguística que dela faz uso. No entanto, não é só na relação com a cultura e com a sociedade que os estudos linguísticos se desenvolveram. Observaremos a seguir uma corrente que mantém relações bastante estreitas com a Psicologia e que, portanto, recebe a denominação de Psicolinguística. A Psicolinguística O nome Psicolinguística surge pela primeira vez em um artigo intitulado Language and Psycolinguistics (Linguagem e Psicolinguística), de autoria de N.H. Proncko, em 1946. Neste artigo, tenta-se alinhar os estudos da Psicologia aos da Linguística a fim de observar o relacionamento existente entre o pensamento (ou o comportamento) e a linguagem (BALIEIRO JR, 2001, p.172). Observa-se, neste primeiro momento da Psicolinguística, a existência de dois movimentos opostos: um que parte da Psicologia para a Linguística e outro que opera em movimento inverso, da Linguística para a Psicologia. Os psicólogos buscavam compreender o funcionamento da linguagem para, a partir daí, 15 entender como funcionava a mente humana, pois, para muitos estudiosos da área, a mente se estruturava de forma análoga à linguagem, ou mesmo por meio dela. Na Linguística, por seu lado, desde o início do século XX, se buscava encontrar elementos na Psicologia que pudessem embasar as teorias sobre as mudanças linguísticas. Foi com o surgimento das Teorias Estruturalistas, tendo a frente Saussure, que pode ser estabelecido um contato maior entre a Linguística e a Psicologia; isso porque a língua passou a ser analisada de forma sincrônica, isto é, a partir de um determinado estado, como que “congelada”. Outra corrente linguística que muito influenciou a Psicolinguística foi o Gerativismo de Noam Chomsky, pois, dentre outras coisas, essa corrente propõe que: a) Há uma gramática interiorizada pelo indivíduo (Gramática Universal) que lhe possibilita transformar as estruturas profundas da língua (sintaxe) em estruturas superficiais (as sentenças produzidas). b) Distingue-se a competência inata do indivíduo para reconhecer o que é gramatical do agramatical em sua língua, do desempenho (ou performance) que é a realização concreta da língua. Dessa forma, se focaliza a linguagem como atividade cognitiva, ou seja, busca-se estudar os processos mentais que fazem com que o conhecimento seja adquirido. Segundo Borba (1998, p.82) o psicolinguista busca, portanto, estudar o comportamento do indivíduo como participante do processo comunicativo. Inicialmente, esse estudioso deve observar de que modo elementos psíquicos como as sensações, as percepções, as recordações, os pensamentos, os conceitos e até imagens mentais influenciam as escolhas linguísticas realizadas no momento da comunicação. A esse conjunto de escolhas dá-se o nome de comportamento encodizante, pois, é a partir de um determinado código linguístico que o indivíduo realiza sua seleção. Ainda é necessário entender o comportamento decodizante, ou seja, como ocorre a recepção e percepção das mensagens. O psicolinguista debruça-se, ainda sobre os estudos que envolvem o comportamento interpretativo, que trata da compreensão e da formulação de respostas possíveis e adequadas. De acordo com Borba(1998), Codificar, decodificar, interpretar, responder são atitudes psicológicas dos usuários do sistema lingüístico, e é essa a área de atuação da psicolinguística que abrange, então, os processos ligados à aquisição da linguagem, ao desenvolvimento da linguagem infantil, à aprendizagem de uma segunda língua (BORBA, 1998. p.82). 16 Unidade: A linguística e outras ciências Sendo assim, os limites de estudos da Psicolinguística relacionam-se intimamente com algumas teorias da aprendizagem, uma vez que buscam compreender como os indivíduos aprendem, de que forma é adquirida a escrita, chegando-se até a aquisição de línguas estrangeiras. Tenta-se, dessa forma, observar quais os elementos que favorecem o aprendizado, para, a partir daí, formular hipóteses que possam minimizar problemas como os de alfabetização ou de aquisição de uma segunda língua. A esses estudos na área da Psicolinguística, que têm uma aplicação prática, dá-se o nome de Psicolinguística Aplicada. Procuramos nessa unidade, que fecha a nossa disciplina, apresentar as diferentes maneiras de associação dos estudos linguísticos comoutras ciências. Nosso objetivo foi o de apresentar a você essas várias interdisciplinaridades, de maneira a tecer um panorama geral das possibilidades abrangentes dos estudos da linguagem. Para que você aprofunde seu conhecimento a respeito desse conteúdo, não deixe de estudar o que dispusemos em Material Complementar e de fazer todas as atividades dessa unidade. 17 Material Complementar Lembre-se de que uma atitude proativa é fundamental para o melhor aproveitamento da disciplina. Por isso, o material complementar não é opcional. Para retomar os conceitos apresentados e apara aprofundá-los, deixamos aqui as seguintes sugestões: • Ler o livro A Língua de Eulália: novela sociolinguística, escrito por Marcos Bagno, Editora Contexto, e-book. Esse é um excelente material para conhecer mais a respeito dos estudos sociolinguísticos, apresentados aqui de forma romanceada. Esse livro está disponível na Biblioteca Virtual da Universidade, acessível por meio do link: http://sites. cruzeirodosulvirtual.com.br/biblioteca. Depois de acessar o sistema com seu login, clique em “E-books da Pearson (em português)”. • Acessar os seguintes links para aprofundar-se nos estudos nas áreas da Geolinguística e da Etnolinguística. http://www.faccar.com.br/desletras/hist/2007_g/textos/18.htm : Designações para “cabra- cega: um estudo geolinguístico. http://www.usp.br/revistausp/56/21-vicentina.pdf: Aspectos de Etnolinguística – a toponímia carioca e paulista – contrastes e confrontos. • Visitar o site do LAPAL (Laboratório de Psicolinguística e Aquisição da Linguagem) da PUC-Rio, para entender alguns dos estudos desenvolvidos na área de Psicolinguística Aplicada. Nele, você encontrará muitos artigos e informações interessantes. O acesso ao site está disponível no seguinte link: http://www.lapal.letras.puc-rio.br/ Lembre-se de fazer anotações a respeito de suas leituras, para que possa sempre consultá-las, sem precisar retomar o texto integralmente. 18 Unidade: A linguística e outras ciências Referências ALKMIM, T.M. Sociolingüística: Parte I In. MUSSALIM, F. BENTES, A.C. Introdução à Lingüística: domínios e fronteiras. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2003. v.1. p.21-47. BALIEIRO JR, A.P. Psicolinguística. In MUSSALIM, F. BENTES, A.C. Introdução à Lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001. v.2. p. 171-202. BORBA, F.S. Introdução aos Estudos Lingüísticos. 12 ed. Campinas: Pontes, 1998. CAMACHO, R.G. Sociolingüística: Parte II. In. MUSSALIM, F. BENTES, A.C. Introdução à Lingüística: domínios e fronteiras. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2003. v.1. p.49-75. CARDOSO, S.A.M. A Geolinguística no Terceiro Milênio: monodimensional ou pluridimensional? Disponível em: http://www.gelne.ufc.br/revista_ano4_no2_12.pdf Acesso: 10/04/10 LYONS, J. Linguagem e Lingüística: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 1987. NORMAND, C. Convite à Linguística 1ª edição, São Paulo: Editora Contexto, 2009. ebook DIAS, L. S.; Gomes, M. L.C. Estudos Linguísticos: dos problemas estruturais aos novos campos de pesquisa. 1ª ed., Curitiba: Editora IBPEX, 2008. ebook MARTELOTTA, M. E. Manual de Linguística. 1ª edição, São Paulo: Editora Contexto, 2008. ebook 19 Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000