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O DIREITO DAS COISAS E A MULTIPROPRIEDADE: O COMPARTILHAMENTO DA UNIDADE HABITACIONAL NO TEMPO
Vinícios dos Santos Nunes (UNIRB)
viniciosnunes@gmail.com
RESUMO
O presente trabalho objetiva analisar a multipropriedade como um direito real. A multipropriedade consiste em um compartilhamento de uma unidade habitacional no tempo, a qual é possível devido a elasticidade inerente as relações jurídicas quando o objeto é o direito de propriedade. Sendo assim, conforme o princípio da autonomia da vontade privada, as partes podem convencionar a forma que poderão dispor, gozar e usufruir dos seus bens ou coisas, quer sejam eles materiais ou imateriais. Com isso, com o advento da Lei nº 13.177/18 a multipropriedade imobiliária, passa a ser reconhecida no Brasil, classificada por diversas doutrinas como direito real de coisa própria, haja vista que está ligada ao caráter objetivo da coisa, independente de ser o titular atual ou futuro, de maneira ambulatória. Para tanto, trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que tem por método uma revisão de literatura com base em materiais bibliográficos de alta relevância acadêmica e social que abordem a temática, visando compor uma pesquisa de natureza qualitativa. Conclui-se então, que ao reconhecer a multipropriedade como uma das facetas referentes ao direito real de propriedade, o Direito evidencia não só a sua dinamicidade em acompanhar as diversas relações que podem surgir dos fatos sociais hodiernos, mas permite a expansão e proteção de um dos direitos privados e bem jurídico mais importante para o cidadão que é a faculdade de gozar, usufruir, dispor e usar de seus bens, garantindo-lhes autonomia jurídica e social, bem como viabilizando que se cumpra a função social da propriedade.
Palavras-chave: Direito Real. Multipropriedade. Compartilhamento habitacional no tempo
ABSTRACT
The present work aims to analyze the property as a real right the multiproperty consists of a sharing of a housing unit in time, which is possible due to the inherent elasticity of legal relationships when the object is the property right. Thus, according to the principle of the autonomy of the private will, the parties can agree on the form that they can dispose, enjoy and enjoy their goods or things, whether they are material or immaterial. Thus, with the advent of Law No. 13.177 / 18, the real estate property is recognized in Brazil, classified by several doctrines as a right of its own, since it is linked to the objective character of the thing, regardless of whether it is the owner current or future, on an outpatient basis. To do so, this is a bibliographical research, which has as a method a literature review based on bibliographical materials of high academic and social relevance that approach the theme, aiming to compose a research of a qualitative nature. The conclusion is that, in recognizing property as one of the facets related to real property rights, the Law demonstrates not only its dynamicity in accompanying the various relationships that may arise from modern social facts, but allows the expansion and protection of a of the private and legal rights most important to the citizen, who is the right to enjoy, enjoy, dispose and use of their property, guaranteeing them legal and social autonomy, as well as enabling the fulfillment of the social function of property.
Keywords: Real Law. Multiproperty. Housing Sharing in Time
1 INTRODUÇÃO
A propriedade é um dos Direitos reais previstos no ordenamento jurídico brasileiro. De caráter constitucional, é de natureza privada, erga omnes e inviolável, tendo os seus limites estabelecidos pela 
Posto isso, é fruto da relação c da pessoa com seu bem, na qual ela exercício vínculo jurídico por meio do domínio, sendo estabelecidos como direito diversas faculdades: usar, gozar e dispor, além de ter o direito também de poder reaver a coisa, quando a posse se configurar injusta.
Com isso, a liberdade no exercício da posse e a elasticidade da propriedade, permite que desde que nos limites da lei, o proprietário, possa estabelecer com outros diversas relações, quer seja de locação, compra e venda entre dois. Sendo assim, emerge no ordenamento jurídico brasileiro a multipropriedade, que consiste no compartilhamento no tempo de um bem móvel ou imóvel, do qual neste trabalho será tratado este último. 
2 DIREITO DAS COISAS: POSSE E PROPRIEDADE
O Direito das coisas é uma das classificações do Direito Civil, o qual se ocupa do conjunto de normas que regulam as relações jurídicas que tem por objeto as coisas que são possíveis de serem apropriadas pelo homem, no mundo físico, podendo ele exercer o seu domínio sobre ela. De acordo com Gonçalves:
Coisa é o gênero do qual bem é espécie. É tudo o que existe objetivamente, com exclusão do homem. Segundo o art. 202 do Código Civil português, “diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas”. Coisas são bens corpóreos: existem no mundo físico e hão de ser tangíveis pelo homem (CC alemão, § 90; CC grego, art. 999). Bens são coisas que, por serem úteis e raras, são suscetíveis de apropriação e contêm valor econômico. Somente interessam ao direito coisas suscetíveis de apropriação exclusiva pelo homem, sobre as quais possa existir um vínculo jurídico, que é o domínio. As que existem em abundância no universo, como o ar atmosférico e a água dos oceanos, por exemplo, deixam de ser bens em sentido jurídico. (GONÇALVES, 2018, p. 17) [grifo nosso]
	Com isso, não é toda e qualquer coisa ou bem que pode ser dominado pelo homem, ou tampouco, que ele pode possuir, com a exemplo a atmosfera, o ar, entre outros, o que inviabiliza um vínculo jurídico entre ele e essa coisa. Ademais, ainda que sejam concebidos como bens de natureza jurídica, nem sempre serão coisas que poderão ser apropriadas. Sendo assim, o direito das coisas, irá regular não apenas a relação do homem com as coisas ou bens ao seu redor, mas “resume-se em regular o poder dos homens, no aspecto jurídico, sobre a natureza física, nas suas variadas manifestações, mais precisamente sobre os bens e os modos de sua utilização econômica.”(GONÇALVES, 2018, p. 17)
Posto isso, o Direito das Coisas regulará “os poderes da pessoa sobre bens materiais – móveis e imóveis – e imateriais. Tais poderes envolvem a submissão do objeto e a capacidade de produzir efeitos jurídicos.” (NADER, 2016, p.35). Em outras palavras, regulará o direito subjetivo do indivíduo de usar, gozar, dispor ou excluir/incluir outrem na relação entre ele e seu bem. Portanto, o direito das coisas dispõe sobre os direitos reais, dos quais destacam-se a posse e a propriedade, limitado pelas legislações acerca do tema. São duas as teorias que nortearão os Direitos os reais: 
Teoria personalista: teoria pela qual os direitos reais são relações jurídicas estabelecidas entre pessoas, mas intermediadas por coisas. Segundo Orlando Gomes, a diferença está no sujeito passivo. Enquanto no direito pessoal, esse sujeito passivo – o devedor – é pessoa certa e determinada, no direito real seria indeterminada, havendo nesse caso uma obrigação passiva universal, a de respeitar o direito – obrigação que se concretiza toda vez que alguém o viola. Essa teoria nega realidade metodológica aos Direitos Reais e ao Direito das Coisas, entendidas as expressões como extensões de um campo metodológico. Teoria realista ou clássica: – o direito real constitui um poder imediato que a pessoa exerce sobre a coisa, com eficácia contra todos (ergaomnes). O direito real opõe-se ao direito pessoal, pois o último traz uma relação pessoa-pessoa, exigindo-se determinados comportamentos. (TARTUCE, 2017, p. 599) [grifo nosso]
	Ante ao exposto, a teoria adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, majoritariamente, é a teoria clássica ou realista. Entretanto, Tartuce (2017) ainda explicita, que hodiernamente são os contratos que estão em evidência nos direitos reais influenciados pelo princípio da autonomia privada, no qual sobreleva-se à vontade entre elas acordadas, chamando atenção para umapossível contratualização dos Direitos das coisas. (TARTUCE, 2017)
	Os Direitos Reais previstos no art. 1.225 do CC/06 dispõe que são em numerus clausulus: I - a propriedade; II - a superfície; III - as servidões; IV - o usufruto; V - o uso; VI - a habitação; VII - o direito do promitente comprador do imóvel; VIII - o penhor; IX - a hipoteca; X - a anticrese. XI - a concessão de uso especial para fins de moradia;  XII - a concessão de direito real de uso; e XIII - a laje, os quais podem ser sobre coisas móveis ou imóveis, transmitidos por atos entre vivos, sendo o primeiro adquirido com a tradição e o segundo com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos título, ressalvadas as exceções. (BRASIL, 2006)
De acordo com Maria Helena Diniz são características dos direitos reais: a)oponibilidade erga omnes, isto é, contra todos os membros da coletividade; b) a existência de um direito de sequela que segue a coisa; c) um direito de preferência do titular sobre um direito real; d) a possibilidade de renúncia aos referidos direitos; e) a viabilidade de se incorporar a coisa por meio da posse; f) previsão do usucapião como uma forma de aquisição; g) obediência ao princípio a tipicidade dos direitos reais, que determina que o rol apresentado no art. 1.225 no CC/06 é taxativo; h) a regência pelo princípio da publicidade dos atos, no qual a entrega da coisas de bens móveis se dá pela tradição e dos imóveis pelo registro.(DINIZ, 2010)	
No que concerne às normas que regulam os direitos reais “são de natureza cogente, de ordem pública, ao passo que as que disciplinam o direito obrigacional são, em regra, dispositivas ou facultativas, permitindo às partes o livre exercício da autonomia da vontade.” (GONÇALVES, 2018, p.22). Dentre os direitos reais, destaca-se para fins deste trabalho, a propriedade e consequentemente a posse. A propriedade é o mais sólido dos direitos reais, sendo o centro do direito das coisas.
Por não haver um conceito próprio para definir o que é a propriedade o Direito Civil Brasileiro opta por ressaltar seus componentes ou faculdades, em outras palavras, propriedade e o direito de usar, gozar, dispor, reivindicar um bem material ou imaterial, a qual refere-se as coisas corpóreas, dado que as incorpóreas são reguladas por outras legislações especificas, como a exemplo a lei de direitos autorais. (GONÇALVES, 2018)
No entanto, é sabido, que a práxis constitucional, relativiza o direito a propriedade, mantendo a garantia e proteção da propriedade privada, porém atribuindo-lhe o dever de que esta cumpra sua função social, ou seja, que propriedade cumpra a finalidade de sua utilização, limitando-a no sentido econômico e social, podendo ser fruto de desapropriações e usucapião, conforme estabelecido pelo art. 1.228 do CC/06:
§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.[...] § 3º O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente.§ 4o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.(BRASIL, 2006)
No que tange a sua classificação, “se diz absoluto, não no sentido de franquear ao titular ilimitados poderes sobre a coisa, mas porque apresenta validade erga omnes, sendo oponível a qualquer pessoa.” (NADER, p.129). Outrossim, são caraterísticas da propriedade:
Exclusividade: consiste em estabelecer que uma propriedade não pode um mesmo bem ser objeto de titularidade, de forma integral, por duas pessoas, isto é, duas pessoas não podem no mesmo momento, serem proprietárias do mesmo bem, de forma integral. (GONÇALVES, 2018)
Perpetuidade: A propriedade é um direito real perpétuo podendo ser transferido integralmente aos herdeiros, sendo, portanto, irrevogável e não limitável no tempo, excetuando-se neste caso, a propriedade resolúvel e a temporária, definidas pelso art. 1359 e 1.360, respectivamente do CC/06(GONÇALVES, 2018)
Elasticidade: A propriedade é um direito elástico, no qual pode-se comprimir ou estender a depender do número de faculdades que possui o proprietário em relação ao bem. Sendo assim, um proprietário pode ceder o gozo e o usufruto para um terceiro, por exemplo. (GONÇALVES, 2018)
Destarte, a posse, que é uma das faculdades da propriedade é a exteriorização do domínio, sendo não só o exercício do seu direito, mas um fato. Tão logo, ao obter a propriedade, o indivíduo pode requerer a posse, pois tem o ius possidendi ou pode manter-se nela por sua própria razão, uma vez que como proprietário ele possui o ius possessionis, isto é, o direito de posse. (GONÇALVES, 2018)
A posse pode ser direta ou indireta, de acordo com a teoria objetiva de Ihering. Com isso, aquele que tem o direito ao bem e cede seu uso para outro fica com a posse indireta, e aquele que o recebe a posse direta. Ademais, a posse pode ser adquirida tanto por ato inter-vivos quanto por mortis causa, sendo originária quando é a primeira vez que o individuo se assenhora do bem ou derivada quando a posse for transferida por outrem. A perda da posse decorre da inexistência de corpus ou animus em relação a propriedade. (GONÇALVES, 2018)
Sendo assim, são causas que podem decorrer da perda da posse: perda da própria coisa, destruição, posse de outrem, abandono, tradição, constituto possessório, ficar a coisa fora do comércio. No que é pertinente à perda da propriedade esta pode ser de forma voluntária, quer seja por alienação, abandono ou renúncia ou involuntária por perecimento ou desapropriação.
Realizado em linhas gerais, uma breve explicitação acerca da posse e propriedade, convém destacar um novo conceito reconhecido pelo Direito civil: a multipropriedade regulamentada pela Lei nº. 13.777/18 que dispõe em seu Art. 1.358-C que: “Multipropriedade é o regime de condomínio em que cada um dos proprietários de um mesmo imóvel é titular de uma fração de tempo, à qual corresponde a faculdade de uso e gozo, com exclusividade, da totalidade do imóvel, a ser exercida pelos proprietários de forma alternada.”, conforme será abordado no capítulo seguinte.(BRASIL, 2018)
3 MULTIPROPRIEDADE: O COMPARTILHAMENTO HABITACIONAL NO TEMPO
De acordo com Farias e Rosenvald (2017) a multipropriedade decorre de um aproveitamento econômico de uma coisa móvel ou imóvel, a qual é compartilhada e repartida em unidades fixas de tempo, o que permite o uso por diversos titulares daquela coisa com exclusividade, cada um em seu turno, podendo ser de maneira perpetua ou não. 
A multipropriedade, ou time sharing, é um consectário da faculdade do titular de dividir o bem. Além de abrigar as possibilidades de desdobramento ou loteamento de bens móveis e do fracionamento de bens móveis, a faculdade de dividir a propriedade pode se dar no aspecto temporal através da multipropriedade. A possibilidade de vender as unidades para cada mês do ano multiplica a utilização desse dinâmico modelo jurídico que, juntamente com os novos “condomínios fechados" representa a possibilidade de fracionamento de um bem pelo proprietário sem previsão legal. (FARIAS e ROSENVALD, 2017, p.279)
Ressalta-se que a multipropriedade é um condomínio temporal, trata-se então de uma ampliação no conceito, que não mais abordará apenas o parcelamento ou fracionamento espacial, mas do tempo. Em suma, a propriedade plena é fracionada no tempo, para atender as demandas de cada um dos condôminos, ou seja, daqueles que a compartilham. (FARIAS eROSENVALD, 2017)
Insta salientar, que hodiernamente é comum a multipropriedade também em coisas móveis, como a exemplo ao compartilhamento do uso de carros e afins, porém no que tange ao Direito Civil e o ordenamento jurídico brasileiro a multipropriedade abriga-se mais na área imobiliária, isto é, recai sobre os direitos imóveis, especialmente pela segurança jurídica decorrente da necessidade de um registro público. (GAGLIANO E PAMPLONA FILHO, 2017)
Tendo início com a democratização dos imóveis de férias, de acordo com Venosa (2017) o sistema de multipropriedade surge na comunidade europeia, como uma propriedade periódica, sazonal parcialmente repartida no tempo, o qual até então não possuía legislação específica, sendo mantida por muito tempo no campo obrigacional, o que dificultava a sua conceituação como um direito real.Quanto a multipropriedade estabelece o autor:
A multipropriedade cria um direito de usar, gozar e dispor da propriedade, cuja limitação não é apenas condominial, mas também temporal. Como o vínculo jurídico possui natureza real, a lei deve regular a possibilidade de registro dessa nova modalidade de propriedade em nome de cada condômino fracionário. Enquanto isso não ocorrer, procurar-se-á contornar a dificuldade, estabelecendo um multicondomínio, com relações pessoais entre os condôminos e o administrador. Para fins de registro estabelece-se a propriedade tão só do administrador ou a propriedade em condomínio entre os vários multiproprietários. (VENOSA, 2017, p.357)
Posto isso, em análise as caraterísticas referentes a propriedade, quer seja: a exclusividade, perpetuidade e elasticidade. A multipropriedade não as viola, uma vez que o fato de se haver multiproprietários, não implica em dizer que há mais de uma titularidade ao mesmo tempo sobre um bem, pois tal princípio proíbe que a titularidade seja concedida de forma integral, e neste caso a titularidade é fracionada, repartida e compartilhada no tempo. (VENOSA, 2017)
De mais a mais, no que concerne a perpetuidade, essa se mantém na multipropriedade uma vez que é assegurada a cada cotitular o seu uso exclusivo e perpetuo durante o período estabelecido, quer seja quinzenal, mensal ou anual. No que diz respeito à elasticidade, tendo em vista ser uma das características principais da propriedade esta continua plena, pois não há limitação das faculdades conferidas a cada proprietário.(GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2017)
Portanto, a multipropriedade se instituirá por ato entre vivos ou testamento, registrado no competente cartório de registro de imóveis, devendo constar daquele ato a duração dos períodos correspondentes a cada fração de tempo podendo ser convencionadas clausulas que melhor lhes aprouver, sendo respeitado o princípio da autônima privada da s partes. Insta salientar, que a multipropriedade de acordo coma alei não se extinguirá automaticamente se todas as frações de tempo forem do mesmo multiproprietário. (FARIAS e ROSENVALD, 2017)
	Ademais, de acordo com a Lei da multipropriedade, o imóvel sobre o qual recai a multipropriedade é indivisível, não se sujeitando a ação de divisão ou de extinção de condomínio, na qual inclui as instalações, os equipamentos e o mobiliário destinados a seu uso e gozo. Salienta-se que, cada fração de tempo é indivisível e o período correspondente a cada fração de tempo será de, no mínimo, 7 (sete) dias, seguidos ou intercalados, e poderá ser:
I - fixo e determinado, no mesmo período de cada ano; II - flutuante, caso em que a determinação do período será realizada de forma periódica, mediante procedimento objetivo que respeite, em relação a todos os multiproprietários, o princípio da isonomia, devendo ser previamente divulgado; ou III - misto, combinando os sistemas fixo e flutuante.(BRASIL, 2018)
Deste modo, será o período considerado fixo e determinado quando recair sobre o mesmo período de cada ano, flutuante quando for convencionado e decidido entre as partes cada período, de forma prévia e isonômica entre os multiproprietários e misto, como o próprio nome destaca, quando incluir os dois sistemas. (BRASIL, 2018)
Com isso, todos os multiproprietários terão direito a uma mesma quantidade mínima de dias seguidos durante o ano, podendo haver a aquisição de frações maiores que a mínima, com o correspondente direito ao uso por períodos também maiores. Se não houver uma aquisição de tempo ou disposição original diferente da convencionada, cada multiporprietário disporá do mesmo intervalo de tempo a cada ano. (BRASIL, 2018)
O time sharing ou propriedade compartilhada é um sistema de multipropriedade limitada no tempo. Ocorre quando vários proprietários são proprietários de um único bem, utilizando-o de forma compartilhada e exclusivamente em determinado período. Melhor dizendo: a coisa pertence a diversas pessoas (possuidores indiretos) e cada uma usa-na exclusivamente em determinado período (neste momento, como possuidor direto do bem). E, pois, um condomínio de tempo. A multipropriedade é equiparada ao condomínio edilício, aplicando-se as regras deste. (MELLO, 2017, p.357)
Dessa forma, de acordo com Farias e Rosenvald, as relações no âmbito do direito real, estão se modificando com o time sharing, isto é, o relacionamento vendedor-comprador está sendo substituído pelo relacionamento fornecedor-usuário, passando de uma era de bens materiais para os de acesso, a qual tem uma relação jurídica de aproveitamento econômico, na qual incide uma pluralidade de direitos de igual conteúdo sobre o mesmo imóvel. (FARIAS e ROSENVALD, 2017)
Sendo assim, o direito de fruição será exercitado de forma exclusiva e periódica, na forma estabelecida ao tempo da aquisição, portanto, a periodicidade é primordial, pois confere particularidade a propriedade, ao tempo que limitam seu aproveitamento a intervalos regulares e descontínuos, com início e fim predeterminados, o que não exclui a faculdade do titular de usufruir as partes comuns da edificação.(BRASIL, 2018)
4 DIREITO REAL SOBRE COISA PRÓPRIA: A MULTIPROPRIEDADE E OS CONDOMÍNIOS EDILÍCIOS 
	A multipropriedade imobiliária então, é classificada como um direito real, pois trata-se de uma alienação de um direito real, na qual aplica-se de forma subsidiária as regras dos condomínios edilícios. Apesar de não está disposto no numerus clausulus que determina o que são os direitos reais, a multipropriedade não pode ser compreendida de outra forma, tendo em vista ser um direito de propriedade periódico, uma situação jurídica e real, sendo o exercício de autonomia negocial, estando presentes a autonomia da vontade e a liberdade contratual pertinentes aos direitos reais. Dessa forma, uma maneira de se realizar o direito de propriedade, possível pela elasticidade das relações jurídicas que envolvem o tema. (FARIAS e ROSENVALD, 2017)
Diante da utilidade da multipropriedade em seu perfil de novo modelo econômico de circulação de titularidades, impõe-se o registro no RGI, pois mesmo que não referida no Código Civil, adapta-se à taxatividade do elástico conceito de propriedade, A multipropriedade representa uma espécie de titularidade restrita. Mesmo que comprimida, é propriedade atípica, na qual estão presentes todos os atributos desse · direito real. Por isso, a multipropriedade se condiciona ao estabelecimento de um condomínio edilício, em que cada unidade autônoma contará com uma pluralidade de titulares, com número determinado e fixo de períodos de utilização. Não se trata, contudo, do condomínio geral (ou tradicional), nem do condomínio edilício (ou por unidades autônomas), mas de uma forma mais sofisticada. (FARIAS E ROSENVALD, 2017, p.281)
Outrossim, o registro da sociedade multiproprietária atende um dos requisitos do direito à propriedade que é a publicidade dos atos e a oponibilidade restrita, além da previsibilidade de terceiros, conforme já supramencionado. No mais por ser uma obrigação propter rem, uma convenção de condomínio será eficaz perante não só os multiproprietários atuais, mas também os futuros.
Ao tempo do registro domemorial de incorporação serão inauguradas tantas matrículas autônomas quantos forem os períodos delimitados para cada proprietário. Afinal, quando o§ 1° do art. 1.331 do Civil faz menção à propriedade exclusiva das unidades habitacionais, em momento exclui a possibilidade de tal exclusividade ser temporal e periódica. Estabelece-se na convenção de condomínio os períodos de fruição de cada titular, a necessária segurança jurídica, eis que na qualidade de obrigação propter rem a convenção de condomínio possuirá eficácia perante os demais proprietários atuais e futuros.(FARIAS E ROSENVALD, 2017, p. 281)
	Com a necessidade de abertura de matrícula para cada unidade periódica, as unidades se equiparam as unidades no condomínio edilício, haja vista que vacada uma será considerada um imóvel autônomo, podendo ser a mesma pessoa titular de diversas unidades periódicas referente ao mesmo imóvel, sem que isso venha a extinguir o condomínio do multiproprietário, conforme já evidenciado anteriormente, sendo portanto o multiproprietário um titular de direito de propriedade.
Desse modo, no atual direito brasileiro, os direitos reais sobre coisa própria envolvem: (1) o direito real de propriedade sobre imóveis por natureza, que é solo, com as respectivas acessões; (2) o direito real de propriedade sobre unidades autônomas em condomínios edilícios, de lotes, urbano simples e em multipropriedade; e (3) o direito real de laje (para este último, há divergência doutrinária, mas preferimos a que o considera um direito real sobre coisa própria).(TARTUCE, 2018)
Com isso, a multipropriedade é um direito real de obrigação propter rem, na qual as consequência das coisas são ambulatórias e as acompanham nas mãos de qualquer titular, seja ele atual ou novo, transferindo para o adquirente todas as suas obrigações, decorrente da existência da coisa, perseguindo-a onde quer que ela esteja, sendo extinta a obrigação apenas com a desvinculação da titularidade da coisa.(TARTUCE, 2018)
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se então que a sociedade é dinâmica, bem como também o é suas relações. Com isso, o Direito com a sua tridimensionalidade deve buscar atender e regular todas as relações, bem como as necessidades e novos estilos de vidas e contratos que aparecem, visando conferir proteção a essas relações e aos direitos que possam surgir ao longo do tempo. Sendo assim, o reconhecimento da multipropriedade como uma das facetas do direito real ligado a posse e propriedade, sobrelevando as suas características, propiciam não só uma segurança jurídica, na configuração desta nova modalidade de relação, uma vez que estabelece que cada multiproprietário poderá gozar das faculdades inerente a propriedade, mas também a ratifica como um direito real de coisa própria, cabendo ao titular acompanhar a coisa, tal como arcar com as despesas a ela inerente. 
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 18 de mai de 2019
_______. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. 18 de mai de 2019
_______. Lei número 13.777 de 20 de dezembro de 2018. Altera as Leis nos 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), e 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei dos Registros Públicos), para dispor sobre o regime jurídico da multipropriedade e seu registro.  Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13777.htm. Acesso em: 18 de mai de 2019
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Direito das Coisas. 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2013
FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: direitos reais I. 13. ed. re. ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2017.
GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil.Volume Único. São Paulo: Saraiva, 2017
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 5: direito das coisas. 13. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
MELLO, Cleyson de Moraes. Direito civil: direito das coisas. Rio de Janeiro: Maria Augusta Delgado, 2017.
NADER, Paulo. Curso de direito civil, volume 4: direito das coisas. 7. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2016.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 7. ed. rev., atual. e ampl.Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.
_______. Considerações sobre a recente Lei da Multipropriedade. Jusbrasil, 2018. Disponível em: https://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/661740743/consideracoes-sobre-a-recente-lei-da-multipropriedade . Acesso em: 18 de mai de 2019
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: reais. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

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