Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TEORIA GERAL DO DIREITO APLICÁVEL AO CONDOMÍNIO I Autoria: Henrique Gomes de Araújo e Castro Indaial - 2021 UNIASSELVI-PÓS 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Cristiane Lisandra Danna Norberto Siegel Camila Roczanski Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Bárbara Pricila Franz Marcelo Bucci Revisão de Conteúdo: Bárbara Pricila Franz Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2021 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. C355t Castro, Henrique Gomes de Araújo e Teoria geral do direito aplicável ao condomínio I. / Henrique Gomes de Araújo e Castro – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 125 p.; il. ISBN ISBN 978-65-5646-395-7 ISBN Digital 978-65-5646-390-2 1.Direito civil. - Brasil. 2. Condomínio. - Brasil. II. Centro Universi- tário Leonardo da Vinci. CDD 342 Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Noções Iniciais de Legislação Civil ............................................. 7 CAPÍTULO 2 Conceito de Condomínio............................................................. 45 CAPÍTULO 3 Conceitos Iniciais do Direito do Trabalho .............................. 85 APRESENTAÇÃO A convivência condominial se tornou imprescindível para o mundo contemporâneo, porquanto a habitação compartilhada, seja nos condomínios edilícios (horizontal e vertical), loteamentos, associações, multipropriedades etc., é irreversível e, sem dúvida, a melhor e mais segura forma de moradia. Este livro tem por objetivo orientar e introduzir nas bases teóricas do direito civil e trabalhista correlacionados ao universo condominial; trataremos das matrizes históricas legais do direito à propriedade, posse, aspectos e definições dos diversos tipos de condomínios e bem como levantar a legislação aplicada nessas relações condominiais e o seu trato na legislação trabalhista. O material foi dividido em três capítulos. No primeiro capítulo, levantaremos as noções iniciais do direito civil: pormenores do direito posse e propriedade e bem como os seus efeitos e a função social. E será apresentado a definição, a natureza jurídica dos condomínios, ampliando as bases para a compreensão e consolidar na formação. No segundo capitulo apresentaremos um breve histórico e os conceitos de condomínios e bem com estudo da legislação condominial e finalizamos com estudo da forma de instituição e registro do condomínio. O terceiro capitulo abordará noções iniciais de legislação trabalhista, aspectos trabalhistas em condomínios e analisaremos a questões da contratação direita ou terceirizada. A leitura atenta e resolução das atividades propostas é o caminho para sucesso. Siga em frente e bons estudos! Prof. Henrique Gomes de Araújo e Castro CAPÍTULO 1 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVIL A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Compreender os conceitos de direito civil relativo à posse e propriedade, bem como a natureza jurídica dos condomínios. Reconhecer a importância de dominar esses conceitos iniciais para formação do gestor de propriedades. Conhecer os efeitos da posse, a função social da propriedade e todos elementos da natureza jurídica de um condomínio. Entender os conceitos básicos e necessários da legislação civil aplicada ao condomínio. Dominar as defi nições iniciais do direito à propriedade e denominação jurídica dos condomínios. Desempenhar o papel de um gestor de propriedades urbanas, tendo ciência dos conceitos iniciais de posse, propriedade e da natureza jurídica dos condomínios. 8 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I 9 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVIL Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO O Direito Civil é um ramo de direito privado que rege as relações entre os particulares (pessoas físicas e/ou jurídicas), destinando-se a reger relações, pessoas, familiares, patrimoniais e obrigacionais. O Código Civil divide-se em parte geral (das pessoas físicas e jurídicas; domicílio, bens e fatos jurídicos) e parte especial (direito das obrigações, direito de empresa, direito das coisas, direito de família, direito das sucessões e disposições fi nais e transitórias). FIGURA 1 – CÓDIGO CIVIL FONTE: O autor (2021) O presente capítulo vamos tratar da relação jurídica entre o homem e a coisa (rés), da qual poderia dispor irrestritamente. Cada indivíduo tem o poder subjetivo sobre seus pertences, relação que deve ser respeitada pelos demais membros da coletividade. Sabemos que a propriedade se trata do direito real por excelência, do qual gravita o direito das coisas. Trata-se de um direito complexo, do qual partem todos os demais atributos e poderes inerentes ao domínio. Assim, compreender os elementos que compõem os conceitos de propriedade e essa noção inicial do direito civil é essencial para que possamos acompanhar essa evolução e bem como nortear a compreensão e a defi nição normativa dos condomínios de todos seus conceitos e aspectos legais. 10 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I 2 DA POSSE E PROPRIEDADE 2.1 DA DEFINIÇÃO DE POSSE A palavra “posse” tem sido usada abrangendo variadas signifi cações impróprias, o que deve ser evitado a fi m de garantir precisão técnica da terminologia. Comumente, o conceito de posse tem sido exprimido com as seguintes signifi cações: a) “Posse” como sinônimo de propriedade. Tal equívoco remonta ao próprio direito romano e até hoje fi gura na linguagem do povo e mesmo de juristas. É certo que posse exprime, em regra, o conteúdo da propriedade, mas é errônea tecnicamente a confusão dos dois institutos. b) “Posse” como sinônimo de tradição, signifi cando condição de aquisição do domínio, o que também consiste numa imprecisão técnica, tendo em vista que a posse tem um conteúdo mais amplo do que a simples forma de aquisição da coisa. c) “Posse” signifi cando o exercício de um direito qualquer, independente de recair diretamente sobre coisas, o que tem sido alvo de grande polêmica sobre a possibilidade de posse de direitos pessoais. O nosso código civil, inclusive, utiliza a expressão “posse do estado de casados”, nos artigos 1.545 e 1.547. d) “Posse” denotando o compromisso do funcionário no qual se compromete a exercer sua função com honra. e) “Posse” na acepção de poder sobre uma pessoa. Essa confusão tem seu âmbito no direito de família, quando da referência ao poder que os pais têm sobre os fi lhos. Assim, ultrapassadas essas considerações preliminares sobre a signifi cação vulgar do termo posse, é importante ressaltarmos que vários doutrinadores se esforçaram na tentativa de precisar o signifi cado técnico desse instituto. Este é um tópico mais discutidos na esfera do direito pela sua complexidade e principalmente pelas consequências jurídicas que pode produzir. Algumas teorias são apresentadas neste contexto para que haja entendimento e integração com o tema. 11 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVIL Capítulo 1 A doutrina classifi ca posse em duas teorias, sendo a Teoria Subjetiva da Posse e Teoria Objetiva da Posse e que se contrapõe. Sendo certo que maior parte da doutrina se baseia na objetiva. A Teoria Subjetiva da posse foi idealizada por Savigny que diz: para ser o possuidor, o sujeito deveria ter o corpus e o animus, conjunção cumulativa e o corpus está relacionado ao objeto, significa dizer que ele está apreendendo o bem sobre ele. O animus chamado de elemento anímico está voltado ao animus da pessoa, ou seja, é a intenção de ser dono. Saber do animus da pessoa é algo subjetivo. Dessa forma, constata-se que é uma teoria com lacunas e abre espaço para a Teoria Objetiva da Posse, onde Ihering critica a teoria do Savigny, em um exemplo mais contemporâneo, tijolos no terreno qualquer, para construir, embora não esteja ninguém ao lado, se alguém pegar é furto. Ou seja, se perceber como proprietário, tem a posse. Não precisa ter o corpus, não precisa saber se tem animus ou não, precisa entender se está agindo como dono. POSSE: TEORIA SUBJETIVA x TEORIA OBJETIVA Teoria Subjetiva: segundo Friedrich Carl von SAVIGNY (1779-1861) posse é o poder que tem a pessoa de dispor fi sicamente de uma coisa, com intenção de tê- la para si e de defendê-la contra a intenção de outrem. Esta teoria nos aponta que dois são os elementos que constituem a posse: • o poder físico sobre a coisa, a detenção da coisa, esta é defi nição de Corpus: elemento material que se traduz no poder físico da pessoa sobre a coisa. • a intenção de ter a coisa como sua, a intenção de exercer sobre a coisa o direito de propriedade, esta é a defi nição de Animus: elemento intelectual, representada a vontade de ter a coisa como sendo sua. Nesta defi nição de Savigny, estes dois elementos devem estar sempre conjugados para que exista a posse por fazerem parte da estrutura, signifi ca dizer que a posse não vai se dar somente pela apreensão física ou somente com a intenção de ser dono, mas sim motivada pelas duas estruturas conjuntamente. (OLIVEIRA, 2010, p. 4). 12 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I Teoria Objetiva: defendida por Rudolf Von Ihering (1818-1892) diz que “para que a posse seja constituída basta o Corpus”, negando completamente a existência do Animus. Ele dá ênfase no estabelecimento de diferenças entre as noções de posse e propriedade para que assim possa ser defi nido do que se trata este instituto. Para ele, não existe distinção quando a posse e a propriedade estão reunidas na mesma pessoa. A posse é poder de fato, já a propriedade é o poder de direito sobre a coisa. Sendo que, esta separação do sujeito e a coisa pode ocorrer tanto com a vontade do proprietário como contra sua vontade. Por ser normalmente o proprietário aquele que transfere para outrem o seu poder de fato sobre a coisa, trata-se aí da Posse Justa. Quando ocorre a separação em consequência de subtração da coisa ser contra a vontade do possuidor, trata-se da Posse Injusta. Entende-se, portanto, que para Ihering posse é um fato e não um direito por ser um exercício de fato dos poderes que se têm sobre a coisa. Para essa teoria pode-se ignorar a intenção de ser dono e assim, permite-se considerar como possuidores quem está com a coisa. (OLIVEIRA, 2010, p. 5) TOME NOTA: Rudolf von Ihering é também autor de um clássico da literatura jurídica ocidental, escrito em 1872, chamado A Luta Pelo Direito (no original Der Kampf ums Recht). A posse é a exteriorização da propriedade, o possuidor é aquele que age como se fosse proprietário, tratada no Código Civil (BRASIL, 1988), vejamos: Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. A posse tem lugar no mundo fático e não somente no jurídico, de modo que se revela como uma condição fática de exercício de um dos poderes inerentes à propriedade. 13 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVIL Capítulo 1 O artigo 1228 diz que o proprietário: Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. § 1° O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas fi nalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a fl ora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. § 2° São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem. § 3° O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente. § 4° O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. § 5° No caso do parágrafo antecedente, o juiz fi xará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores (BRASIL, 1988, s.p.). Nesse ponto, vale mencionar que dispor da coisa, tem suas ressalvas e uma delas é a função social, como exemplo a reserva legal da fazenda, o rodízio de veículos, respeito ao direito de vizinhança, que é uma limitação do direito de propriedade e o direito de reaver é um fundamental dos direitos reais acima dos outros. TOME NOTA: No direito brasileiro adota-se a teoria objetivista (art. 1196 Código Civil) corpus +animus = posse. 14 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I Sobre posse, acesse o site e assista o seguinte vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=GwMtvsYiFp8 2.2 DA CLASSIFICAÇÃO DE POSSE O Código Civil (BRASIL, 1988, s.p.) dispõe quem é o possuidor: Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. E poderem esse que são representados pelos direitos de gozar, reivindicar, usar e dispõe dessa propriedade. Em regra, os poderes ou faculdades do domínio se encontram reunidos em uma única pessoa. É o caso de pessoa que habita residência própria. Quando os poderes decorrentes do domínio estão distribuídos entre mais pessoas, temporariamente, tem-se a posse direta e indireta. É o caso do contrato de locação, em que o locatário tem a posse direta – possui a coisa, enquanto o locador tem a posse indireta (Artigo 1.197, Código Civil). Exemplo 1: jus possidendi: proprietário; locatário; comodatário; usufrutuário – posse embasada em contrato ou propriedade. Exemplo 2: O jus possessionis: é a posse sem causa. O ordenamento jurídico atribui efeitos ao jus possesionis, conferindo ao possuidor o direito de defender tal situação contra terceiros, e, até mesmo a aquisição pela usucapião. O artigo 1.199 do Código Civil dispõe acerca da composse, vejamos: “Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores”. É a chamada composse de mão comum, na lição de Silvio de Salvo Venosa "Nenhum dos sujeitos tem poder fático independente dos demais. É o caso da posse dos herdeiros, isto é, os herdeiros A, B e C são titulares em conjunto da posse e não cada herdeiro especifi camente" (VENOSA, 2003, p. 67). 15 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVIL Capítulo 1 Vejamos mais exemplos: Exemplo 1: Quando duas pessoas têm a posse de um bem sob o mesmo título – são compossuidores os irmãos que alugam um imóvel para passar um feriado. Exemplo 2 Sabe-se também que no comodato há duas posses: uma exercida pelo comodatário, denominada de posse direta, ao passo que o comodante mantém a posse indireta. Assim, podemos classifi car a posse quanto a sua manifestação das seguintes formas: a) Direta é a exercida diretamente por quem detém a coisa (com contato físico) e indireta é a que o proprietário conserva por fi cção legal, já que o exercício daposse direta é exercido por outra pessoa (sem contato físico) (ex.: a posse do locatário é direta e a do locador indireta); b) Justa é a posse adquirida sem vícios; não é clandestina (às escondidas), nem violenta (esbulho), nem precária (é cedida a título provisório com abuso de confi ança) e injusta é a posse que conta com tais características que a viciam; OBS: A posse clandestina e a violenta podem se tornar justas, com a cessação dos respectivos vícios, mas a posse precária jamais se tornará justa; c) De boa-fé é a posse que ocorre sem a ciência do possuidor acerca dos vícios de seu exercício e a de má-fé ocorre quando o vício não é ignorado; d) Com justo título é a amparada em causa hábil para constituir posse (ex.: contrato de locação). Justo título signifi ca qualquer ato jurídico que, em tese, seria hábil para constituir a posse, se não contivesse um determinado defeito que a maculasse. Presume-se de boa-fé o possuidor com justo título. e) Posse ad interdicta é a que pode ser defendida pelas ações possessórias (interditos possessórios) e a posse ad usucapionem é a posse que se prolonga por determinado período de tempo que gera para o seu titular o direito de aquisição do domínio pela usucapião. f) Velha é a posse que tem o lapso temporal maior que um ano e um dia (Art. 1.211, do Código de Processo Civil). 16 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I ATENÇÃO: conheça os Enunciados do Conselho da Justiça Federal acerca do tema que estamos estudando. Para exercitar seus conhecimentos adquiridos, responda à questão a seguir. 1 Qual o elemento necessário para a existência do instituto da posse? Enunciado n. 301 da IV Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal: “É possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese de exercício em nome próprio dos atos possessórios”. Enunciado n. 492 da V Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal: “O detentor (art. 1.198 do Código Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a autodefesa do bem sob seu poder”. 2.3 DA AQUISIÇÃO A posse (enquanto um direito real que é) pode ser adquirida ou perdida. São vários os negócios jurídicos que podem ter por objeto a transmissão da posse de um bem, mas, além deles, é possível também que fatos jurídicos promovam transferência da posse, como ocorre na herança por morte. A aquisição da posse pode se dar de forma originária ou derivada, sendo que a originária ocorre quando não há vínculo entre o antigo e o novo possuidor de determinado bem, enquanto, na derivada, o adquirente é sucessor do alienante, tanto nos direitos quanto nos eventuais vícios decorrentes da posse adquirida. Vamos analisar, detidamente, ambas as formas de aquisição da posse: 17 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVIL Capítulo 1 a) Posse Originária: • ocorre sem que haja um vínculo de sucessão entre o alienante e o adquirente; • eventuais vícios de possuidores anteriores não são transmitidos ao adquirente; • engloba a aquisição injusta, pois nesse caso não há uma relação negocial válida que transfi ra a posse ao adquirente; • a posse adquirida por meio de ação judicial é, também, considerada originária; • a aquisição justa pode ser originária ou derivada. Exemplo: um bem jogado no lixo ou abandonado por alguém e encontrado por outrem. Aqui não houve uma negociação entre as partes. b) Posse Derivada: • ocorre mediante negociação entre as partes ou causa mortis, mas sempre havendo uma transferência direta da titularidade da posse, do alienante para o adquirente; • os vícios que existam na posse são transmitidos com a transferência da posse; • a aquisição justa pode ser originária ou derivada; • além dos vícios, são transmitidos também os mesmos direitos que o alienante tivesse ao adquirente. Exemplo: cessão de posse, herança, aluguel etc. O momento da aquisição da posse está previsto no artigo 1.204 do Código Civil, vejamos a seguir: Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. Ou seja, ao adquirir o poder de gerenciar socioeconomicamente sobre um bem, em nome próprio, a pessoa adquire sua posse. É possível que a posse seja adquirida pela própria pessoa que a pretende, desde que seja capaz e que pratique o ato gerador da relação possessória. Caso a pessoa que pretenda adquirir a posse do bem seja incapaz, ela deverá ser representada ou assistida (art. 1.205, I, do Código Civil). É possível, ainda, que o adquirente seja representado por procurador, munido de instrumento com poderes específi cos. 18 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I Se a posse for adquirida por terceiro sem mandato, a aquisição dependerá da ratifi cação do interessado. Nesta hipótese, o que ocorrerá será a gestão de negócio alheio e, não havendo a ratifi cação, o gestor fi cará obrigado pessoalmente perante a pessoa que ele se obrigou, devendo arcar com todas as consequências, inclusive eventuais perdas e danos. Caso ocorra a ratifi cação, entretanto, a aquisição será considerada válida desde o momento em que o gestor efetuou a aquisição (art. 1.205, II, CC). No que se refere à herança da posse, esta é transmitida aos herdeiros com os mesmos caracteres, ou seja, com todos os direitos, deveres, vícios etc., conforme artigo 1.206 do Código Civil. Adicionalmente, no que diz respeito à aquisição da posse, da mesma maneira que atos violentos ou clandestinos não autorizam a aquisição dessa, os atos de permissão ou tolerância não a induzem, conforme determina o artigo 1.208 do CC. No caso de posse de bem imóvel, até que se prove o contrário, presume-se a posse, também, das coisas móveis que estejam nele. Isto se dá com base no princípio de que os acessórios acompanham o principal (art. 1.209, CC). 2.4 PERDA DA POSSE Quanto a perda da posse o art. 1223 do Código Civil, dispõe que pode ocorrer quanto o possuidor deixar de exercer o poder fático-dominial sobre a coisa, ainda que contra a sua vontade, vejam quais são: a) Abandono: é a renúncia à posse de alguma coisa em razão da manifestação, da intenção de deixar ou largar aquilo que lhe pertence. Torna-se res derelicta (coisa abandonada). b) Tradição: é o ato de entregar coisa móvel. A partir da entrega, perde-se a posse. c) Perda da posse: dá-se por acontecimento involuntário, contra vontade do possuidor. Aquele que encontra a coisa tem dever legal de devolvê-la ou entregar à autoridade competente. d) Destruição da coisa: é o perecimento total do objeto, a coisa deixa de existir, impossível fazer o exercício de poderes fático-dominiais sobre ela. e) Pela posse de outrem: dá-se por meio do esbulho. f) Pela apreensão ou sequestro da coisa: dá-se por determinação policial ou judicial que retira a coisa da posse de alguém. 19 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVIL Capítulo 1 2.5 POSSE X DETENÇÃO O detentor de algum bem possui o corpus, porém sem tutela possessória, são hipóteses: a) Fâmulo, gestor ou servidor da posse: é aquele com ordens do possuidor ou proprietário conserva a posse deste em cumprimento de ordens ou instruções. EX: Caseiro de um sítio. Os detentores são aquelas pessoas vinculadas por um elo de subordinação oneroso ou gratuito, ao verdadeiro possuidor. Vale ressaltar que pelo enunciado 301 da III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal pode o detentor se tornar possuidor e posteriormente gozar até de usucapião. Exemplo: Caseiro o que é despedido, mas continua morando na propriedade, a contraordem e com conhecimento do proprietário. b) Atos de permissão ou tolerância: quando o possuidor permite ou tolera que outrem utilize o bem, sem afastar seu poder de possuidor. Ex.: Seu amigo vindo do interior solicita que passe algumas semanas na sua casa até se fi rmar. O amigo é apenas detentor da coisa, pois foi permitidoestar naquele local por um lapso temporal. c) Atos de violência ou clandestinidade: Durante a invasão ou a objetivação por posse nos casos de atos de violência ou clandestinidade o invasor durante o momento de invasão é um mero detentor, sendo considerado um possuidor (injusto) a partir da ciência do ofendido. d) Bens públicos: não se fala de posse em bens públicos para os fi ns de invasão ou tentativa de posse. O STJ entendeu que a ocupação regular de área pública não induz posse, mas mera detenção, portanto sem direito de retenção. Nota-se! Súmula 619-STJ: A ocupação indevida de bem público confi gura mera detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por acessões e benfeitorias Leia mais em https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/enunciados. jsp 20 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I 2.6 DA PROPRIEDADE Para contextualizar o estudo do direito de propriedade é importante ser precedido de vasto conhecimento acerca do seu histórico e criação do instituto, partindo, inicialmente, dos pensamentos fi losófi cos de Aristóteles, Locke e Hobbes para, posteriormente, adentrar no contexto da idade clássica com análise do Direito Romano até a chegada da propriedade no paradigma da contemporaneidade. A propriedade sofreu infl uência de muitos povos no decorrer da história e por essa razão que sempre foi objeto de acalorados debates em sede doutrinária. Diante disso se faz imprescindível um apanhado acerca da temática. Para dar ensejo ao histórico do direito de propriedade, Venosa (2015, p. 165) traz que antes do direito romano a sociedade só tinha propriedade sobre bens móveis, sendo esse o povo que trouxe a primeira noção da propriedade imóvel privada, conforme se depreende: Antes da época romana, nas sociedades primitivas, somente existia propriedade para as coisas móveis, exclusivamente para objetos de uso pessoal, tais como peças de vestuário, utensílios de caça e pesca. O solo pertencia a toda a coletividade, todos os membros da tribo, da família, não havendo o sentido de senhoria, de poder de determinada pessoa. Segundo Orlando Gomes (2008), a propriedade é o direito real que dá a uma pessoa, denominada proprietário, a posse de uma coisa, em todas as suas relações e desta forma poderá então ter o direito de usar, gozar e dispor desta coisa, podendo inclusive reavê-la caso tenha esta injustamente possuída. O direito à propriedade é considerado um direito humano desde o início, se não nasceu com ela, nasceu com a formação do Estado, mas sempre existiu. Os proprietários sob a lei romana tinham o direito absoluto e exclusivo de sua propriedade, eles podiam usar e desfrutar das coisas indefi nidamente e da maneira que lhes convinha. No entanto, com a queda do Império Romano, ao longo da história houve uma mudança na ideia de que a propriedade é absoluta, passando para a propriedade como um direito de igual liberdade e igualdade, um ideal trazido pela Revolução Francesa. A propriedade passou a ser reconhecida como direito fundamental de uso individual, podendo o proprietário fazer uso da coisa de forma absoluta, desde que não desobedecessem às leis, desta forma constou, inclusive, no Código Napoleônico. A mudança de paradigma do direito de propriedade trouxe uma forma de limitá-lo, dando a ele a função social do direito de propriedade para que pudesse respeitar o interesse social. 21 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVIL Capítulo 1 No fl uir da história, o direito de propriedade foi perdendo o caráter individualista e absoluto e tomando forma de propriedade em obediência à função social, entendimento que se consolidou entre o século XIX e XX. Posteriormente o Brasil elencou como cláusula pétrea na Constituição Federal de 1988 a função social do direito de propriedade. Diante disso, o estudo das diretrizes constitucionais e do Código Civil acerca do direito de propriedade e sua função social se faz importante. O direito de propriedade é exclusivo, absoluto e apresenta caráter de plenitude, tendo o proprietário o direito de dispô-la da maneira que quiser, limitando-se a determinados interesses que a sociedade impõe. A noção de direito de propriedade tem sido modifi cada ao longo do tempo, antigamente o direito de propriedade era muito absoluto, ao passar dos anos o direito de propriedade foi relativizando. Podemos levar em consideração as Gerações do Direito, sendo que a 1ª geração garantia a propriedade absoluta ao indivíduo, na 2ª geração o Estado, para defesa da sociedade retirou a propriedade dos indivíduos, na 3ª geração viu-se que a humanidade é autodestrutiva, desta forma o direito de propriedade perdeu o caráter absoluto em prol do direito social. A propriedade é “o direito complexo, absoluto, perpétuo, exclusivo, pelo qual uma coisa fi ca submetida à vontade de uma pessoa, com as limitações da lei” (GOMES, 2008, p. 99). O Código Civil não traz explicito em um artigo quais seriam as formas de aquisição da propriedade. Este assunto é tratado no código na forma de capítulos: • No Capítulo I temos – Da propriedade em Geral, que se subdivide em duas seções: disposições preliminares e da descoberta. • A seguir temos o Capítulo II, que trata da aquisição da propriedade imóvel, que por sua vez se divide em três seções. A primeira seção trata da usucapião, a segunda seção trata-se da aquisição pelo registro público e a terceira seção trata da aquisição por acessão que, por sua vez, se subdivide em cinco subseções: das ilhas; da aluvião; da avulsão; do álveo abandonado e das construções e plantações. • No Capítulo III temos da aquisição da propriedade móvel, que é dividida em seis seções: da usucapião; da ocupação; do achado de tesouro; da tradição; da especifi cação; da confusão, da comissão e da adjunção. • E, por último, temos o Capítulo IV que trata da perda da propriedade. Seguindo a temática adotada pelo Código Civil, temos que a propriedade imóvel se adquire através da usucapião, do registro público e por acessão. Já a 22 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I propriedade móvel é adquirida através da usucapião, da ocupação, do achado de tesouro, da tradição, da especifi cação, da confusão, comissão e adjunção. O direito de propriedade, em nosso ordenamento jurídico é um DIREITO e uma GARANTIA fundamental. Assegurado pela Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso XXII, nos seguintes termos: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; A propriedade é formada pelos direitos de usar, usufruir, dispor da coisa e reavê-la de quem injustamente a possua, vejamos o artigo 1.228 do Código Civil: Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. § 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas fi nalidades econômicas e sociais […]. Destacamos os ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA PROPRIEDADE: a) Direito de usar (jus utendi): consiste na faculdade do dono servir-se da coisa e utilizá-la da maneira que lhe convier; b) Direito de gozar ou usufruir (jus fruendi): compreende o poder de perceber os frutos naturais e civis da coisa e aproveitar economicamente os seus produtos; c) Direito de dispor (jus disponendi ou jus abutendi): direito de transferir ou alienar coisa a outrem a qualquer título, desde que condicionado ao bem-estar social; d) Direito de reivindicar (reivindicatio): direito de reaver coisa de quem a possua injustamente. Este direito envolve a proteção específi ca da propriedade através da Ação Reivindicatória. 23 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃOCIVIL Capítulo 1 Lembre-se de que você pode circular, rabiscar, sublinhar e escrever nas margens laterais as suas refl exões e sínteses dos principais assuntos deste livro! Assim, o domínio ou propriedade é exclusivo e sem restrições, podendo o seu titular exercê-lo como melhor lhe parecer, nos três aspectos da sua manifestação: uso, gozo e disposição. Sendo tal exercício, tem apenas fronteiras: a legalidade e a função social. Quanto a extensividade da propriedade é tratada no artigo 1229 do CC: A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se às atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las (BRASIL, 1988, s.p.). A extensividade estabelecida no Código Civil é denominada de caráter ilimitado da propriedade, porém existe uma limitação de caráter econômico que deve ser observada. Isto signifi ca dizer que o proprietário não poderá interferir em obras no subsolo que não interfi ram na utilização do bem, como a construção de túneis de metrô, por exemplo. 2.6 DA AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE Para que se dê a aquisição da propriedade temos duas formas: a) Aquisição originária. b) Aquisição derivada. Na forma originária de aquisição da propriedade, a pessoa entra em contato direto com a coisa, sem a interferência de terceiros. A propriedade começará nova, sem as características do antigo dono. Já na forma de aquisição derivada existe um intermediário entre o proprietário e a coisa, há um sentido de continuidade da propriedade, como o que acontece na compra e venda, por exemplo, onde a coisa já pertence a uma pessoa, trazendo assim, as características que possuía com o antigo dono. 24 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I No Código Civil a aquisição está dividida em bens móveis e em bens imóveis. Vamos seguir esta divisão, informando quais são for, mas originárias e quais são derivadas. Da aquisição da Propriedade Imóvel A aquisição da propriedade imóvel se dá através da usucapião (forma de aquisição originária), pelo registro (forma de aquisição derivada) e pelas acessões (forma de aquisição originária). Usucapião: termo jurídico é usado para designar a aquisição pelo uso prolongado (no sentido de posse prolongada) (art. 1238 1244 do CC). Registro do título é a for usual de aquisição da propriedade imóvel, e que ocorre tal como determina o art. 1.227 do CC: Art. 1.277 Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste Código (BRASIL, 1988). Assim, para a aquisição da propriedade imóvel não basta o simples acordo de vontades entre adquirente e transmitente. Esta transferência somente se opera com o registro do título no cartório de registro de imóveis. O Código Civil apenas traça lineamentos gerais do registro imobiliário (arts. 1.245 a 1.247), e a matéria é regulada pela Lei nº 6.015/73 – Lei dos Registros Públicos. O registro obedece (dentre outros) os princípios da publicidade – visto que qualquer interessado tem acesso a seus assentos; da conservação – os arquivos com o histórico imobiliário dos bens são permanentes; e da responsabilidade – pelo qual os ofi ciais respondem por prejuízos causados por culpa ou dolo, pessoalmente ou por seus prepostos. 2.7 CLASSIFICAÇÃO DA PROPRIEDADE Analisaremos, a seguir, os critérios de classifi cação da propriedade, que podem ser divididos em cinco categorias. 25 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVIL Capítulo 1 Vejamos: a) Propriedade Corpórea x Incorpórea: a propriedade pode ser dividida em Corpórea, quando se tratar de um bem físico, material. Nesse caso, a propriedade tem o nome de Domínio e está regulada nos artigos 1.228 e seguintes do Código Civil, o estudo do Direito das Coisas aborda justamente essa categoria de Propriedades. É muito importante ressaltar que os preceitos estabelecidos para a Propriedade Corpórea não podem ser aplicados à Propriedade Incorpórea, como o contrário também não é possível, a menos que haja previsão legal específi ca que o permita. A propriedade incorpórea, como dito, não está regulada no Código Civil, mas sim em legislação esparsa. Um exemplo de propriedade incorpórea é a Propriedade Intelectual, que diz respeito ao Direito Comercial, no caso da Propriedade Industrial, ou ao Direito Civil, com a Propriedade Intelectual. b) Propriedade Mobiliária x Imobiliária: este critério de classifi cação é válido apenas para as Propriedades Corpóreas, e depende da natureza do bem. A defi nição de bens imóveis apresentada pelos artigos 79 a 81 do Código Civil é: c) Propriedade Plena x Restrita: a propriedade é plena quando não existem restrições ou limitações ao exercício do direito do proprietário sobre ela. Aqui, todos os poderes referentes ao direito de propriedade estão com o proprietário e quaisquer limitações que ocorre ao exercício desse são oriundos de força legal ou constitucional. Por sua vez, Propriedade é Restrita quando o proprietário transfere temporariamente a outrem posse, uso e administração de seu bem. Nesse caso é instituído o direito de usufruto da coisa a um terceiro, o usufrutuário, que cessa ao fi m do usufruto, momento em que a propriedade volta a ser plena. A propriedade não se presume restrita, ou seja, é plena até que se prove o contrário. Se o usufrutuário não possa provar sua condição como tal, ele será considerado apenas um possuidor. e) Propriedade Singular x Copropriedade: O critério de classifi cação aqui é o número de proprietários de um bem. Será singular quando houver apenas um proprietário, podendo ser pessoa física ou jurídica, enquanto, havendo mais de um proprietário, será o caso de uma copropriedade. 26 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I No caso da copropriedade, é importante que fi que claro que deve haver mais de um proprietário para apenas um bem, não importando a forma de copropriedade, como condomínio, comunhão ou propriedade coletiva. É possível que bens móveis ou imóveis sejam objetos de copropriedade, não importando se é um bem divisível ou indivisível. f) Propriedade Perpétua x Resolúvel: A propriedade é perpétua quando ela existir, enquanto seu proprietário tiver interesse por ela, enquanto a resolúvel deixa de existir com uma determinada condição. Via de regra as propriedades são perpétuas, duram enquanto o proprietário quiser ou estiver vivo. Isto não impede que o proprietário venha a perder seu bem em uma ação de cobrança judicial, ou mesmo por usucapião, nesse caso a perda da propriedade terá um efeito similar à alienação, será considerado que a propriedade foi transferida por intenção do proprietário. No caso da propriedade resolúvel, ela chega ao fi m por força de uma condição predeterminada. Pode ser interpretada como uma propriedade condicional. 2.8 DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE A Constituição assegura o direito de propriedade e estabelece o seu regime fundamental, enquanto o Código Civil não disciplina a propriedade, mas apenas as relações civis que lhe dizem respeito. Assim, verifi ca-se que o conteúdo da função social trazido pela Constituição Federal de 1988 no artigo 5º, inciso XXIII, segundo Debone (2011, p.116) “deve ser interpretado a forma mais ampla possível, a fi m de alcançar os ideais de preocupação com o desenvolvimento nacional buscando a justiça social, a realização do bem comum, a diminuição das desigualdades sociais”. A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 182, § 2º expressa: “A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor”. Nesse sentido, 27 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVILCapítulo 1 A propriedade, portanto, tendo em vista a sua função social, sofre limitações de várias naturezas, desde as limitações impostas no Código Civil de 1916 e de 2002 em razão do direito de vizinhança, até de ordem constitucional e administrativa para a preservação do meio ambiente, fauna, fl ora patrimônio artístico etc (VENOSA, 2003. p. 182). FIGURA 2 – FUNÇÃO SOCIAL FONTE: O autor (2021) Consoante o entendimento de Avvad, a função social é vista como limitador dos direitos do proprietário: [...] já vai longe a época em que se considerava a propriedade como um direito individual e absoluto, concebido exclusivamente para a satisfação dos interesses do proprietário. Contudo, pode-se afi rmar, com segurança, a fi nalidade social não exclui o direito subjetivo nem afasta o interesse e a proteção individuais, mas condicionam o exercício de tal direito ao cumprimento de determinadas obrigações, positivas ou negativas, em favor da sociedade, de acordo com as circunstâncias e segundo a natureza do bem (AVVAD, 2009. p. 78). Neste sentido, a função social da propriedade é um princípio basilar do Direito moderno. Voltada para a LIMITAÇÃO do direito subjetivo individual à propriedade. A propriedade torna-se um direito-dever desempenhando uma função social. O bem deve ser utilizado de acordo com sua destinação socioeconômica e bem estar social. A propriedade está impregnada de socialidade e limitada pelo interesse público. A comunhão social não seria possível sem a obrigação do indivíduo de sacrifi car o seu interesse privado em benefício do bem comum. Como os deveres entre os homens são correlativos e a comunhão social é uma condição de aperfeiçoamento do indivíduo, assim, o direito individual termina onde começa o da sociedade. 28 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I De acordo com a inteligência da Constituição Federal de 1988, especifi camente no artigo 5°, inciso XXIII, a propriedade deve cumprir com sua função social. Na mesma linha, o Código Civil de 2002 em decorrência das infl uências constitucionais, no seu artigo 1228 afi rma que: Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. § 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas fi nalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a fl ora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. § 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem. § 3º O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente. § 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. § 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fi xará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. Assim, interpretando-se esse artigo, infere-se que o direito do proprietário sobre sua propriedade não é pleno tendo em vista que o legislador o limitou nos termos do parágrafo segundo do artigo acima. A limitação ao direito de propriedade encontra respaldo na função social da propriedade, que segundo Carlos Roberto Gonçalves (2008, p. 224) consubstancia: [...] inúmeras leis impõem restrições ao direito de propriedade, como o Código de Mineração, o Código Florestal, a Lei de Proteção do Meio Ambiente etc. Algumas contêm restrições administrativas, de natureza militar, eleitoral etc. A própria Constituição Federal impõe a subordinação da propriedade à sua função social. E ainda existem limitações decorrentes do direito de vizinhança e de cláusulas impostas voluntariamente nas liberalidades, como inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade. Todo esse conjunto, no entanto, acaba 29 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVIL Capítulo 1 traçando o perfi l atual do direito de propriedade no direito brasileiro, que deixou de apresentar as características de direito absoluto e ilimitado, para se transformar em um direito de fi nalidade social”. O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com suas fi nalidades econômicas e sociais (art. 1.228 do CC). No parágrafo 3º do art. 1228 do código Civil, encontramos a autorização dispositiva para que o Estado intervenha na propriedade particular, isto na busca de um equilíbrio entre os interesses do indivíduo e os interesses da coletividade. Deste modo, com respaldo na supremacia do interesse público sobre o privado, é possível privar o proprietário de seu direito de propriedade. Os parágrafos 4º e 5º do art. 1228 do código Civil são motivos de controvérsias sobre a defi nição do instituto descrito. Se este seria um tipo especial de desapropriação ou se seria uma usucapião coletivo de pessoas de baixa renda. Assim, nas palavras de Flávio Tartuce (2011, p. 851 e 852): Não há dúvidas de que o instituto aqui estudado constitui uma modalidade de desapropriação e não de usucapião, como pretende parte da doutrina. Isso porque o §5º do art. 1.22 8 do CC consagra o pagamento de uma justa indenização, não admitindo o nosso sistema jurídico a usucapião onerosa. Esta forma de desapropriação é privada, uma vez que se dá no interesse direto e particular de considerável número de pessoas que ocupam extensa área. ATENÇÃO: conheça os Enunciados do Conselho da Justiça Federal acerca do tema: Enunciado 82: “É constitucional a modalidade aquisitiva de propriedade imóvel prevista nos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do novo Código Civil”. Enunciado 83: “Nas ações reivindicatórias propostas pelo Poder Público, não são aplicáveis as disposições constantes dos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do novo Código Civil”. 30 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I Enunciado 84: “A defesa fundada no direito de aquisição com base no interesse social (art. 1.228, §§ 4º e 5º, do novo Código Civil) deve ser arguida pelos réus da ação reivindicatória, eles próprios responsáveis pelo pagamento da indenização”. A autorização dispositiva para que o Estado intervenha na propriedade particular, isto na busca de um equilíbrio entre os interesses do indivíduo e os interesses da coletividade. Deste modo, com respaldo na supremacia do interesse público sobre o privado, é possível privar o proprietário de seu direito de propriedade. Constituição Federal Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; [...] Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fi m assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios [...] III - função social da propriedade; Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fi xadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes [...]. 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas noplano diretor. Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fi ns de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será defi nida em lei [...]. Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; 31 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVIL Capítulo 1 II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. FIGURA 3 – RESUMO FONTE: O autor (2021) Para exercitar seus conhecimentos adquiridos, responda à questão a seguir. Leia o enunciado e responda: 2 Na lição de Washington de Barros Monteiro (1998, p 1): “O homem no passado podia usar, gozar e dispor da coisa que lhe pertencesse, como melhor lhe aprouvesse, sem que fosse lícito opor qualquer restrição ao livre exercício deste direito. Todas as legislações, sem discrepância proclamavam então a intangibilidade do domínio, verdadeiro resquício da propriedade quiritária, no direito romano, simonia do direito absoluto, de propriedade absoluta. Gradativamente, porém, modifi cou-se esta concepção egoística e individualista, que logo se tornou obsoleta, graças às tendências fundamentais da civilização atual”. A partir desses elementos trazidos pelo renomado civilista, como caminha a defi nição e o conceito de propriedade na atualidade? 32 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I 3 DA NATUREZA JURÍDICA DOS CONDOMÍNIOS A natureza jurídica do condomínio é amplamente discutida e bastante controvertida, a legislação de fato considera o condomínio como um grupamento anômalo, sem personalidade jurídica defi nida. No Código de Processo Civil, por exemplo, ele tem classifi cação própria como parte processual e capacidade processual e que representada pelo seu síndico e/ou administrador (Art. 75, XI do CPC). Dessa forma, manifesta-se Caio Mario da Silva (2011, p. 184) acerca da natureza jurídica do condomínio: “É despiciendo mobilizar todos esses velhos conceitos para a caracterização do condomínio edilício. É ele um fenômeno econômico e jurídico moderno não se compraz com os institutos invocados para a sua explicação, nem deles necessita”. O STJ no tocante ao condomínio edilício, quanto a inexistência de personalidade jurídica vejamos: AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL CIVIL E RESPONSABILIDADE CIVIL SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO (VICIO DE CONSTRUÇÃO AÇÃO DE REPARAÇÃO AJUIZADA PELO CONDOMÍNIO ALEGADOS DANOS MORAIS EXPERIMENTADOS PELO ENTE DESPERSONALIZADO IMPOSSIBILIDADE AFASTAMENTO DOS DANOS MORAIS 1 Os danos morais estão intrinsecamente ligados aos direitos da personalidade, mas neles não se esgotam, dizendo, pois, especialmente, com a esfera existencial do ser humano, com a sua dignidade 2 A doutrina dominante reconhece que os condomínios edilícios não possuem personalidade jurídica, sendo, pois, entes despersonalizados também chamados de entes formais, com a massa falida e o espólio 3 Não havendo falar em personalidade jurídica, menos ainda se poderá dizer do maltrato a direitos voltados à personalidade e, especialmente, àqueles ligados à honra objetiva Apesar de não ser pessoa jurídica, o art. 63, § 3º, da lei 4.591/64 confere ao condomínio (no caso do edilício) a preferência para adjudicar a unidade em construção, após a realização do leilão fi nal, desde que haja autorização unânime da assembleia. Assim, pode ser titular de alguns direitos e obrigações, classifi cando-se como “quase pessoa jurídica ou ente despersonalizado”. Como não é pessoa jurídica, não pode praticar os atos jurídicos em geral, não pode, por exemplo, comprar um terreno. Entretanto, é registrado perante a Receita Federal 33 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVIL Capítulo 1 e possui um CNPJ e pode ser titular de conta bancária e que será estudo com maiores detalhes dos próximos capítulos desse livro. 3.1 DA DENOMINAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DO CONDOMÍNIO O condomínio existirá sempre que uma coisa indivisa tiver dois ou mais proprietários. No âmbito interno, cada coproprietário o será da coisa toda, sendo tal direito limitado pelo direito dos demais, na medida de suas quotas. Já no âmbito externo, ou seja, perante terceiros, cada um será proprietário da coisa toda. A lição do doutrinador Anderson Scheiber (2018, p. 758): [...] compreende-se que no condomínio, há um único direito de propriedade, já que, embora sendo múltiplos os titulares, cada um desses coproprietários ou condôminos atua perante terceiros como se fosse o proprietário exclusivo, absoluto, perpétuo da coisa, certo que internamente, o exercício da propriedade por cada condômino não pode excluir o exercício dos demais. Na visão de Miguel Zaim, “Juridicamente pode se conceituar o condomínio como sendo um estado de coisa indivisa sobre a qual várias pessoas exercem simultaneamente o direito de propriedade sobre um quinhão ideal” (2019, p 30). A norma jurídica brasileira que trata do condomínio está disposta nos: artigos 1314 ao 1330 / 1331 ao 1358 Código Civil e na Lei n. 4.591/64 nas seguintes modalidades: a) tradicional ou geral; b) edilício (Lei n. 4.591/64 – Lei do condomínio e incorporações imobiliárias – nas duas três espécies 1) condomínio edilício tradicional; 2) condomínios de lotes e 3) condomínio urbano simples; Multipropriedade (Lei n. 13.777/2018). Todas defi nições e detalhes serão apresentados em momento oportuno. A caracterização de um condomínio confi gura-se dos seguintes fatores: a) por determinação legal; b) em função de circunstância; c) pela vontade dos seus titulares – em caráter provisório ou fi nalístico. 34 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I O condomínio, quanto à sua origem pode ser classifi cado em: convencional (decorre da vontade dos condôminos de adquirir bem em conjunto), eventual ou incidente (resulta da vontade de terceiros – Exemplo: do doador, do testador que deixa um bem para mais de uma pessoa) e legal ou necessário (determinado pela lei – Exemplo: meação de paredes, cercas, muros e valas - Art. 1.327, Código Civil). O condomínio convencional e o eventual são ditos transitórios, já que poderão ser extintos a qualquer momento por qualquer dos coproprietários (no caso do eventual o prazo da indivisão estabelecida por doador ou testador não poderá ser superior a 05 anos), já o condomínio legal é permanente, uma vez que perdurará enquanto existir sua causa. No caso de a coisa ser indivisível, o condomínio se extinguirá pela venda da coisa comum. O condomínio, quanto à sua forma, pode ser “pro diviso” (há mera aparência de condomínio, mas cada condômino possui parte certa e determinada – Exemplo: condomínio em edifício de apartamentos) ou “pro indiviso” (não há localização das partes de cada um). Enunciado n. 89 do Conselho de Justiça Federal, I Jornada de Direito Civil. “O disposto nos artigos 1331 a 1358 do novo Código Civil aplica-se, no que couber, aos condomínios assemelhados, tais como loteamentos fechados, multipropriedade imobiliária e clubes de campos”. O citado enunciado antecedeu ao Código Civil/2002, segundo Cesar Calo Peghini “cujo objetivo foi inserir regras legais ao condomínio de lotes e em multipropriedade que, em suma, signifi ca que tudo o que se entende por condomínio edilício também se aplica, à similitude, aos condomínios de lotes e em multipropriedade, além de se aplicar aos clubes de campo” (PEGHINI, 2021, p. 20). No direito brasileiro, o condômino podealienar a fração ideal a terceiros, desde que dê preferência para os outros condôminos (Artigos 504 e 1.314, Código Civil). Esse direito de preferência decorre da inclinação legislativa no sentido de estimular o retorno da propriedade ao seu perfi l unitário, pois o condomínio tradicional. Vejamos: 35 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVIL Capítulo 1 Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de decadência. Parágrafo único: Sendo muitos os condôminos, preferirá o que tiver benfeitorias de maior valor e, na falta de benfeitorias, o de quinhão maior. Se as partes forem iguais, haverá a parte vendida os comproprietários, que a quiserem, depositando previamente o preço.” Art. 1.314. Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la. Parágrafo único: Nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da coisa comum, nem dar posse, uso ou gozo dela a estranhos, sem o consenso dos outros (BRASIl, 1988, s.p.). O Condomínio geral se caracteriza pelo fato de existir dois ou mais direitos de propriedade incidindo sobre um mesmo bem, móvel ou imóvel. Trata- se de uma “copropriedade” simultânea. No condomínio (em latim: con-dominium) ocorre um domínio sobre determinado bem, ou partes de um bem. Os condomínios podem se apresentar na forma horizontal ou vertical, residencial ou comercial. O condomínio edilício se diferencia do condomínio comum pois naqueles existem partes comuns e partes exclusivas, o que não ocorre quando falamos do condomínio comum no qual se verifi cam vários proprietários detendo, todos e ao mesmo tempo, a propriedade em comum, sem individualizações. As partes suscetíveis de utilização independente, tais como apartamentos, escritórios, salas, lojas e sobrelojas, com as respectivas frações ideais no solo e nas outras partes comuns, sujeitam-se à propriedade exclusiva, podendo ser alienadas e gravadas livremente por seus proprietários, exceto as vagas de estacionamentos ou garagens para veículos que não poderão ser alienados ou alugados a pessoas estranhas ao condomínio, salvo autorização expressa na convenção de condomínio. Existe uma distinção jurídica entre o condomínio em sentido amplo e o condomínio edilício, que é comumente conhecido apenas por condomínio de apartamentos, vertical, horizontal, cuja regulamentação se dá pela regulamentação da Lei 4.591/64, denominada Lei de Incorporação Imobiliária e do Condomínio Edilício, existindo também regulamentação de alguns aspectos nos artigos 1.331 a 1.358 da Lei 10.406/02 - Código Civil - e na Lei 8.245/91 (Lei do Inquilinato). 36 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I 3.2 PRINCÍPIOS DO DIREITO CIVIL APLICÁVEIS AO INSTITUTO DO CONDOMÍNIO Como é sabido, o que vigora hoje é a ideia de constitucionalização do direito civil, o que signifi ca que o direito civil deve ser interpretado à luz da nova ordem constitucional. Nesse sentido, a grande contribuição do neoconstitucionalismo para o ordenamento jurídico brasileiro foi a inserção dos princípios como normas jurídicas. Não obstante em relação ao tema, existem princípios de destaque que devem ser ressaltados e levados em consideração. Neste sentido, o primeiro princípio que deve analisado é o da eticidade. De acordo com Flávio Tartuce (2007, p. 106), em relação ao caso concreto, devem- se avaliar os interesses individuais e os interesses da sociedade, sendo que a ética que oportunizará o ponto de equilíbrio entre a satisfação do indivíduo e a proteção dos valores sociais. O próximo princípio diz respeito à socialidade, em que o juiz ao aplicar a lei deve observar os fi ns sociais a que ela consubstancia, priorizando interesses coletivos, atribuindo, assim, conotação social aos direitos privados, tal como na função social da propriedade, não olvidando de observar os direitos que são inerentes à pessoa humana. E, por fi m, tem-se o princípio da operabilidade que é aquele que apregoa que os institutos de direito privado devem ter sua interpretação fl exibilizada, isto é, o juiz tem maior liberdade de lançar mão de clausulas gerais e conceitos indeterminados, de acordo com a necessidade e conveniência do caso concreto. Este é o raciocínio de Flávio Tartuce (2007, p. 107). Para exercitar seus conhecimentos adquiridos, responda à questão a seguir. Leia o enunciado e responda: 3 Defi na o que é o condomínio e de forma é tratado em nossa legislação? 37 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVIL Capítulo 1 3.2.1 O direito de vizinhança O direito de vizinhança se destinar a conciliar o direito a propriedade com a vizinhança, tentando, desta forma, evitar confl itos e que é fi xado pela lei. O direito de vizinhança tem caráter propter rem, isto é, trata-se de um direito que acompanha a coisa, ou seja, uma obrigação ambulatória. Saiba mais sobre Obrigações propter rem acesse o site e leia: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2131/tde- 17112011-113351/publico/Final.pdf O direito de vizinhança pode se corporifi car em obrigações ou abstenções. Ressalta a necessidade de lealdade e boa-fé, e parte do pressuposto de que o direito à propriedade não é absoluto ou ilimitado. A propriedade não deve existir para uso anormal. Neste sentido, o art. 1277 do Código Civil fi xa: Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha. Parágrafo único. Proíbem-se as interferências considerando- se a natureza da utilização, a localização do prédio, atendidas as normas que distribuem as edifi cações em zonas, e os limites ordinários de tolerância dos moradores da vizinhança (BRASIL, 1988, s.p.). Assim, vedam-se, em matéria de direito de vizinhança, os atos ilegais, que são ilícitos (art. 186 Código Civil). Exemplo disto são vizinhos que danifi cam plantações, devendo ser compelidos, inclusive, a indenizar os danos causados (art. 927, Código Civil). Os atos abusivos são aqueles que, embora o causador de incômodo se mantenha nos limites de sua propriedade, mesmo assim causa prejuízos. Exemplo disto é o barulho excessivo de alguém em uma morada. São atos em desacordo com a fi nalidade social da propriedade, com exercício irregular de um direito, em fl agrante abuso de direito (art. 157, Código Civil), sendo certo que a melhor doutrina procura aferir tais atos com critérios objetivos. 38 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I Atos lesivos ocorrem não necessariamente com uso anormal da propriedade. Podem ser lesivos mesmo com a existência prévia de alvará expedido pelo Poder Público. É o caso, por exemplo, de indústrias com fuligem e poluentes que danifi cam o meio ambiente e a vizinhança. Não só o proprietário pode vindicar tutela de direitos de vizinhança, sendo prerrogativa também do possuidor. Para aferir se há ato que ofende o direito de vizinhança, insta observar a extensão do dano, ver se extrapola o limite do tolerável, até porque não é todo e qualquer incômodo que é necessariamente recriminável ou anormal. Também é preciso, no exame de um ato que ofenda o direito de vizinhança, aquilatar a zona onde ocorre o confl ito, bem como eventuais usos e costumes locais. Cabe observar se a localidade é no interior ou em metrópole, se é em bairro residencial ou industrial. Na apuração da ofensa ao direito de vizinhança, cumpre saber a anterioridade da posse. Deve ser olhado, com prudência, caso a caso. Uma construção em localjá antes barulhento deve observar se realmente o local extravasa demasiadamente o tolerável. O decoro é tutelado pelo direito de vizinhança, mas sem excessos, tanto é que há decisões judiciais que não impedem que prostitutas se instalem em apartamentos, desde que não perturbem o sossego dos moradores. Tenha-se também em mente que é preciso observar, na aferição se há ou não dano ao direito de vizinhança, se o ato objeto de polêmica entre vizinhos é realmente incômodo, ou seja, se excede o tolerável. Na convivência entre vizinhos, perturbações e dissabores são inevitáveis, mas, se não forem contundentes, não são passíveis de sanção. Saber se dado ato excede ou não o limite do tolerável exige, por exemplo, que se leve em conta o local onde ocorre o confl ito, bem como seus usos e costumes. Isto varia, por exemplo, se o eventual litígio é em bairro residencial ou industrial, se ocorre em cidade grande ou pequena cidade interiorana. Além disto, também é preciso identifi car a antiguidade da posse, ou seja, pode ser minorado o dano ao direito de vizinhança reclamado por quem construiu em área na qual já havia anterior construção objeto de reclamação por gerar incômodo. Soluções saudáveis devem ser buscadas para questões inerentes à direito de vizinhança. Se o incômodo é normal, plenamente tolerável, não deve ser reprimido. Se o dano for intolerável, deve-se determinar que seja reduzido a 39 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVIL Capítulo 1 proporções normais. Se não for possível reduzir o incômodo a níveis toleráveis, cabe inclusive a cessação de atividade que gere este tipo de dano. Contudo, não será determinada a cessação da atividade vista como insuportável se for exercida em prol do interesse social, cabendo, segundo o Código Civil, art. 1277, que o prejudicado receba indenização do causador do dano. O bem imóvel que esteja com risco de ruína, ameaçando a vizinhança, pode, na dicção do art. 1280 do CC, ensejar pedido de demolição ou reparação da ruína, bem como prestação de caução pelo dano iminente. Vistas algumas questões gerais de direito de vizinhança, cabe um estudo mais pormenorizado de questões específi cas desta matéria: Árvores limítrofes entre dois imóveis geram a presunção de um condomínio (art. 1282, Código Civil), ideia que admite prova em contrário. A árvore não pode ser arrancada sem consentimento de condômino afetado. Segundo art. 1284 Código Civil, os frutos de árvore limítrofe são do proprietário ou possuidor do imóvel onde caírem naturalmente, podendo o mesmo apanhá-los da árvore antes de caírem, se maduros. A necessidade de passagem forçada por imóvel pressupõe que o proprietário ou possuidor do imóvel que requer tal passagem esteja encravado, sem acesso à via pública (art. 1285, Código Civil). Contudo, o vizinho constrangido a ceder passagem deve ser indenizado por tal ato e a passagem forçada deve representar o menor ônus possível ao que é obrigado a suportar tal condição. Cumpre dizer que não se considera imóvel encravado, e não há que se falar em direito de passagem por imóvel de vizinho, se o imóvel que requer suposta passagem já possui acesso à via pública, ainda que penoso e difícil. Passagem forçada e servidão, embora até parecidos, diferem. A passagem forçada é uma imposição legal, procurando evitar que dado imóvel fi que sem destinação ou utilização econômica. Exige que tal imóvel, conforme já exposto, esteja encravado. Já a servidão, direito real, advém de contrato, e pode nascer não necessariamente da necessidade de um imóvel encravado ter acesso á via pública, mas por ajuste para facilitar comunicação mais fácil e rápida, ou seja, foi um acordo fi rmado com base em conveniência dos contratantes. Se um imóvel deve suportar a passagem de tubulação e cabos de outro imóvel, o proprietário que é compelido a tolerar isto deve ser indenizado (CC, art. 1286). O critério de indenização deve observar a desvalorização da área remanescente. Urge também expor que tais canos e tubulações devem ser instalados da forma menos danosa possível ao constrangido a permitir tal 40 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I instalação, o que permite até eventuais remoções para outros locais do imóvel onerado. Se tais instalações gerarem risco, o proprietário do prédio onerado pode exigir obras de segurança (CC, art. 1287). No que concerne as águas, também existe forte regulamentação do tema em matéria de Direito de Vizinhança. O aqueduto ou canalização de águas é regulado pelo CC, art. 1293. É lícito, portanto, canalizar pelo prédio de outrem as águas a que tem direito, mediante, por óbvio, prévia indenização ao proprietário atingido. As sobras de águas nascentes ou pluviais, de acordo com o art. 1290 do CC, são direito do prédio inferior. Não é razoável, portanto, que o dono ou possuidor do imóvel da nascente das águas altere artifi cialmente o curso das águas, tudo com o intuito de fi car com às águas só para si, não permitindo que o prédio inferior receba águas indispensáveis para sua mantença. O dono ou possuidor de imóvel inferior deve receber as águas vindas do imóvel superior, mas não é compelido a acatar o escoamento de detrito e fezes vindas do imóvel de cima. O poluidor deve recuperar as águas poluídas, sob pena de ser compelido a indenizar o prejudicado (CC, art. 1281). A fi xação de limites entre prédios ganha volume no direito de vizinhança, suscitando a ideia do “direito de tapagem", ou seja, a demarcação de limites e a aviventação de marcos destruídos ou apagados. Tal obra, em regra, deve ter custos repartidos entre os vizinhos (art. 1297, Código Civil). O direito de cercar imóvel é legalmente reconhecido, mas não se tolera que, por exemplo, o proprietário mais abastado imponha a feitura, em detrimento de seu vizinho, de tapume demasiadamente dispendioso. O direito de construir também é repleto de contingenciamentos fi rmados pelo direito de vizinhança. Apresentamos o art. 1299 do Código Civil, que diz que o proprietário pode fazer construções, desde que respeite o direito dos vizinhos e regulamentos administrativos específi cos que regulam construções. Assim sendo, não pode construir chaminé, fogos, fornos encostados na parede divisória (art. 1308, Código Civil). Não pode também construir de maneira que seu imóvel despeje águas, diretamente, no imóvel vizinho (art. 1300, Código Civil)). Não pode construir de maneira que venha a poluir águas (CC, art. 1309). Ofensas a tais balizas dão causa ao manejo de ação demolitória, bem como indenização por danos causados. Contudo, a despeito da indenização, se os vícios de construção forem sanáveis, reparos podem ser feitos para obstar a permanência do vício que ofende direito de vizinhança. 41 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVIL Capítulo 1 A imposição legal de não perturbar o recato e a privacidade das pessoas são as vedações ao devassamento da propriedade vizinha. Segundo o art. 1301, é proibido abrir janelas, eirado, terraço ou varanda a menos de metro e meio do terreno vizinho. Janelas cuja visão não incida sobre a linha divisória, bem como as perpendiculares, não podem ser abertas a menos de setenta e cinco centímetros. Apesar de tais vedações, tem-se admitido construções menores que as distâncias acima expostas se forem, por exemplo, janelas para ventilação, com 10 cm de largura e 20 cm de cumprimento. Também há tolerância para janelas com muros altos, janelas com vidros opacos. O uso de prédio vizinho, por vezes, é necessário. Isto já foi visto, por exemplo, no estudo de passagem forçada. Mas há outras previsões desta matéria em direito de vizinhança. Um imóvel é obrigado a tolerar que nele outro adentre, mediante prévio aviso, temporariamente, para reparos, reconstruções ou limpeza do outro imóvel vizinho ou do muro divisório, bem como para o vizinho apoderar- se de coisas suas que pôr a caso caiam no imóvel invadido, inclusive animaisque ali se encontrem casualmente (art. 1313, Código Civil). Se o uso de prédio vizinho gerar prejuízos, o usuário deve indenizar ao prejudicado. Frise-se ainda que o imóvel que cede o uso pode fazer restrições a dados horários, até em nome de suas conveniências pessoais. A criação e a manutenção do direitos de vizinhança estão na necessidade de se limitar à privacidade, havendo uma condição de subordinação de seu uso a respeito da propriedade de terceiros, isto é, deve haver uma constante verifi cação do indivíduo na utilização do seu imóvel para que esta utilização de forma alguma não ultrapasse os limites que possam afetar de alguma forma o direito de um terceiro. Assim, podemos fi nalizar com as seguintes considerações acerca do direito de vizinhança: • A norma jurídica pode limitar a extensão das faculdades de usar e gozar por parte de proprietários e possuidores de prédios vizinhos. • Impõe deveres que precisam ser obedecidos para que a convivência social seja possível. • Defi ne limites ao uso individual para que a propriedade de cada um seja respeitada. • Cria restrições recíprocas à propriedade. Assim, necessidade de conciliar o exercício dos direitos de cada proprietário em face dos seus vizinhos, em prol da harmonia social. 42 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I ALGUMAS CONSIDERAÇÕES O direito das coisas é o complexo das normas reguladoras das relações jurídicas concernentes aos bens corpóreos suscetíveis de apropriação pelo homem. O Código Civil divide a matéria em duas partes: posse e direitos reais, dedicando, nesta última, títulos específi cos à propriedade e a cada um de seus desmembramentos, denominados direitos reais sobre coisas alheias. Apontamos algumas considerações acerca do direito de vizinhança: • A norma jurídica pode limitar a extensão das faculdades de usar e gozar por parte de proprietários e possuidores de prédios vizinhos; • Impõe deveres que precisam ser obedecidos para que a convivência social seja possível; • Defi ne limites ao uso individual para que a propriedade de cada um seja respeitada; • Cria restrições recíprocas à propriedade. Levantamos os conceitos relativo à posse x propriedade no nosso ordenamento jurídico e suas distinções, sendo apresentado aspectos relevantes da sua função social isso visando dar base para futura compreensão da estrutural jurídica dos condomínios e para isso tratamos de conceitos iniciais e basilares tais como a natureza jurídica dos condomínios. A norma jurídica brasileira que trata do condomínio está disposta nos: artigos 1314 ao 1330 / 1331 ao 1358 Código Civil e na Lei n. 4.591/64 nas seguintes modalidades: a) tradicional ou geral. b) edilício (Lei n. 4.591/64 – Lei do condomínio e incorporações imobiliárias – nas duas três espécies 1) condomínio edilício tradicional; 2) condomínios de lotes e 3) condomínio urbano simples. Multipropriedade (Lei n. 13.777/2018). Assim, portanto, o Capitulo 1 traçou uma base de conceitos e ideias legais, o qual aprofundaremos nos próximos capítulos. 43 NOÇÕES INICIAIS DE LEGISLAÇÃO CIVIL Capítulo 1 REFERÊNCIAS AVVAD, P. E. Direito imobiliário. 2 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2009. BRASIL. Código Civil, lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/ l10406compilada.htm. Acesso em: 10 out. 2021. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 10 out. 2021. DEBONE, G. Propriedade privada: do caráter absoluto à função social e ambiental. Sistemas jurídicos italiano e brasileiro. Porto Alegre: Verbo Jurídico: 2011. DINIZ, M. H. Curso de direito civil brasileiro. 22 ed. rev. e atual. de acordo com a reforma do CPC. São Paulo: Saraiva: 2007. GOMES, O. Direitos Reais. 18 ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2001. GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. 3 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2008. MONTEIRO, W. de B. Curso de Direito Civil. 37 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. PEGHINI, C. C. Direito Condominial. Leme/SP: Editora Mizuno, 2021. SCHREIBER, A. Manual do Direito Civil Contemporâneo. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. SILVA, J. A. da. Comentário Contextual à Constituição. 4 ed. São Paulo: Malheiros, 2007. TARTUCE, F. Manual de Direito Civil. São Paulo: Editora Método, 2011. VENOSA, S. de S. Código civil comentado: direito das coisas, posse, direitos reais, propriedade, artigos 1.196 a 1.368. São Paulo: Atlas, 2003. 44 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I VENOSA, S. de S. Direito civil. 15 ed. São Paulo: Atlas, 2015 [Livro eletrônico]. VENOSA, S. de S. Direito Civil: Contratos em Espécies. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003. CAPÍTULO 2 CONCEITO DE CONDOMÍNIO A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Distinguir as classifi cações dos condomínios na legislação brasileira e bem com os aspectos históricos. Assegurar a compreensão da aplicação da legislação condominial pelos gestores e de suas bases históricas Conduzir os procedimentos para tomada de decisões em condomínios edilícios. Analisar a legislação aplicável aos condomínios edilícios. Identifi car como são feitas e instituição do condomínio. Desenvolver habilidades que permitam o desempenho de uma gestão de excelência, tendo a compreensão da legislação condominial base. 46 Teoria Geral do Direito APlicável ao Condomínio I 47 CONCEITO DE CONDOMÍNIO Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO O chamado direito condominial, sub-ramo do Direito Civil, vem ganhando destaque no mercado atual profi ssional (gestores, administradores, advogados, contadores e outros) estima-se que mais de 1/3 (um terço) da população brasileira reside em condomínios (sejam edilícios e/ou lotes), e inclusive com a criação de diversas comissões temática de estudos do Direito Condominial nos mais variados conselhos de classe. O mercado condominial está em ascensão, pois morar em condomínio é uma tendência nos grandes centros urbanos, uma vez que esse conceito de moradia agrega valores como segurança, utilização racional do espaço e redução de custos na construção civil. A crescente no mercado gera a necessidade de profi ssionais habilitados para tratar as relações jurídicas nesse meio. A legislação vigente não atende a nova realidade dos condomínios brasileiros, pois a lei que introduziu o tema no país, Lei n° 4.591/64 (Lei de Incorporações Imobiliárias), foi criada em uma época que os condomínios eram estruturas simplórias comparados com os complexos condomínios dos dias atuais, uma vez que na década de 60, os condomínios não possuíam área de lazer, nem eram comumente de uso misto (comercial/residencial) e faltavam outras especifi cidades que hoje existem nos condomínios. Com advento do Código de Civil de 2002, o qual derrogou parte da Lei de Incorporações Imobiliárias, avançou ao apresentar a necessidade da convenção respeitar o Código Civil para ter validade (art. 1333); multa/inadimplência (art. 1334); regras para sanções ao condômino antissocial (art. 1337); por outro lado deixou a desejar em algumas situações, como a imposição de um quórum tão rígido para modifi car as convenções de condomínio (2/3 dos condôminos), e um quórum frágil para a destituição do síndico (maioria dos presentes na assembleia), nos termos do artigo 1349 do mencionado Código Civil. Assim, neste capítulo vamos trazer um breve histórico do condomínio e suas classifi cações, bem como a normas que serão aplicadas e como se dá a instituição e registro do condomínio. Inicie agora os estudos deste capítulo. Não se esqueça de realizar todas as atividades e desafi os propostos ao longo desta unidade, sublinhe, rabisque e torne este material o mais agradável para seus estudos e refl exões. Preparado? Então, vamos lá! 48
Compartilhar