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Genética é a ciência que estuda a transmissão das

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Genética é a ciência que estuda a transmissão das características hereditárias ao longo das gerações. Por volta de 1986, Gregor Mendel postulou duas Leis que serviriam como ponto de partida e até hoje são a base do estudo da hereditariedade. Abordaremos neste tema alguns conceitos básicos da genética que irão auxiliar no entendimento de outros conteúdos sobre o assunto.
A Genética é uma área da biologia que estuda os mecanismos da hereditariedade ou herança biológica.
A Genética é uma área da biologia que estuda os mecanismos da hereditariedade ou herança biológica.
Para estudar as formas de transmissão das informações genéticas nos indivíduos e populações, existem várias áreas de conhecimento que se relacionam com a genética clássica como a biologia molecular, a ecologia, a evolução e mais recentemente se destaca a genômica, em que se utiliza a bioinformática para o tratamento de dados.
Conceitos Básicos
Conheça os principais conceitos genéticos e entenda sobre cada um deles:
Células Haploides e Diploides
Células haploides e diploides
Célula diploide e haploide
As células haploides (n) possuem apenas um conjunto de cromossomos. Assim, nos animais, as células sexuais ou gametas são haploides. Essas células possuem metade do número de cromossomos da espécie.
As células diploides (2n) são aquelas que possuem dois conjuntos de cromossomos, como é o caso do zigoto, que possui um conjunto de cromossomos originários da mãe e um conjunto originário do pai. São células diploides, os neurônios, células da epiderme, dos ossos, entre outras.
VEJA TAMBÉM: Células haploide e diploide
Cromossomos
Cromossomo
Os cromossomos são encontrados no núcleo da célula
Os cromossomos são sequencias da molécula de DNA, em forma de espiral, que apresentam genes e nucleotídeos.
O número de cromossomos varia de uma espécie para outra, é representado por n.
Por exemplo, a mosca Drosophila possui 8 cromossomos nas células do corpo e 4 nos gametas. A espécie humana possui um número total de 46 cromossomos nas células diploides e 23 nos gametas.
Cromossomos Homólogos
Cada cromossomo presente no espermatozoide encontrará correspondência nos cromossomos do óvulo.
Em outras palavras, os cromossomos de cada gameta são homólogos, uma vez que possuem genes que determinam certa característica, organizados na mesma sequência em cada um deles.
Introdução à Genética
Representação de cromossomos homólogos e a localização (ou locus gênico) de alguns genes alelos, que determinam características específicas.
Genes
Gene
Genes são fragmentos de DNA encontrados no núcleo da célula
Os genes são esses fragmentos sequenciais do DNA, responsáveis por codificar informações que irão determinar a produção de proteínas que atuarão no desenvolvimento das características de cada ser vivo.
Eles são considerados a unidade funcional da hereditariedade.
Os genes alelos são aqueles que ocupam o mesmo lócus em cromossomos homólogos e estão envolvidos na determinação de um mesmo caráter.
Eles são responsáveis pela determinação de certa característica, por exemplo, cor do pelo nos coelhos, possuem variações, determinando características diferentes, por exemplo pelo marrom ou branco. Além disso, ocorrem aos pares, sendo um de origem materna e outro de origem paterna.
Saiba mais sobre Genes e Cromossomos.
Alelos e Alelos Múltiplos
Alelos
Exemplos de genes alelos
Um alelo é cada uma das várias formas alternativas do mesmo gene que ocupa um locus no cromossomos e atuam na determinação do mesmo caráter. Os alelos múltiplos ocorrem quando os genes apresentam mais de duas formas alélicas.
Nesse caso, mais de dois alelos estão presentes na determinação de um caráter.
Homozigotos e Heterozigotos
Homozigoto
Exemplos de homozigotos e heterozigotos
Os seres homozigotos são aqueles que apresentam pares de genes alelos idênticos (AA/aa), ou seja, possuem genes alelos idênticos.
Enquanto isso, os heterozigotos caracterizam os indivíduos que possuem dois genes alelos distintos (Aa).
Saiba mais sobre Homozigoto e Heterozigoto.
Genes Dominantes e Recessivos
Quando um indivíduo heterozigótico possui um gene alelo dominante ele se expressa determinando uma certa característica. Os genes dominantes são representados por letras maiúsculas (AA, BB, VV) e expressos fenotipicamente em heterozigose.
Quando o gene alelo não se expressa nesse indivíduo, ele é um gene recessivo. Os genes recessivos são representados por letras minúsculas (aa, bb, vv) donde os fenótipos são expressos somente em homozigose.
Saiba mais sobre Genes Dominantes e Recessivos.
Fenótipo e Genótipo
Genótipo e Fenótipo
Fenótipo e Genótipo
O genótipo é o conjunto das informações contidas nos genes, desse modo, irmãos gêmeos têm o mesmo genótipo pois possuem os mesmo genes. Ele representa a constituição genética do indivíduo.
Já o fenótipo é a expressão dos genes, ou seja, é o conjunto das características que vemos nos seres vivos, por exemplo, a cor dos olhos, o tipo sanguíneo, a cor das flores de uma planta, a cor do pelo de um gato, entre outras.
Saiba mais sobre Fenótipo e Genótipo.
Herança Ligada ao Sexo
Os cromossomos sexuais são aqueles que determinam o sexo dos indivíduos.
As mulheres possuem 2 cromossomos X, enquanto os homens possuem um cromossomo X e um Y. Desse modo, é o gameta masculino que determina o sexo dos filhos.
Como os cromossomos X tem muito mais genes o que o Y, alguns dos genes do X não têm alelo correspondente no Y, desse modo determinam a herança ligada ao cromossomo sexual ou ligada ao sexo.
Saiba mais sobre Herança Ligada ao Sexo.
Herança ligada ao sexo
Representação da transmissão hereditária da hemofilia, cujos genes se localizam no cromossomo X
O daltonismo e a hemofilia são exemplos de doenças determinadas por genes presentes no cromossomo X. O daltonismo, que é um tipo de cegueira para cores, é uma condição produzida por um alelo mutante responsável pela produção de um dos pigmentos visuais.
Princípios de um programa de melhoramento genético Imprimir Enviar para um amigo Corrigir Comentar Aumentar fonte Diminuar fonte
 
Todo o tempo nos deparamos com a expressão "melhoramento genético". Você já parou para pensar o que é melhorar? Melhorar, no meu modo de entender, é sair de uma situação para outra mais vantajosa. Assim, um animal melhor é aquele que, em relação a outro, pode proporcionar maiores vantagens.
Pensemos numa vaca leiteira. A vaca que produz mais leite é melhor que a que produz menos, certo? Errado! Se a vaca que produz mais leite não for mais vantajosa, ela não será melhor. Na exploração agropecuária, assim como em qualquer negócio, o mais vantajoso é o que proporciona maior lucro, e aí entenda-se por lucro tudo o que possa envolvê-lo: lucro financeiro, social, ambiental... Pois bem, melhoramento animal tem que ser para gerar mais lucro.
Como fazer para melhorar geneticamente com vistas a um maior lucro? Um programa de melhoramento tem que determinar as ações que levarão a isto. Portanto há uma diferença fundamental entre programas de avaliação genética e programas de melhoramento genético. Um programa de melhoramento requer avaliação genética e avaliação econômica, e por fim, a combinação desses fatores para gerar uma composição de maior lucro. Esta composição é chamada de índice de seleção ponderado por pesos econômicos. 
Um programa de melhoramento deve funcionar assim:
O sistema de produção é decomposto de forma a visualizarmos como as características estão envolvidas nos custos e nas receitas. Como exemplo: o intervalo de partos influencia no número de cordeiros produzidos por ano, e, portanto, esta característica está ligada parte nas receitas e parte nas despesas, pois se tenho mais cordeiros tenho mais produto para venda, mas tenho mais consumo de alimentos na fazenda, mais horas de mão de obra, etc.
Um maior ganho de peso dos cordeiros aumenta o peso à idade de abate, ou reduz o tempo para o abate, gerando mais
receita, mas os animais podem requerer mais alimentos quando têm maior capacidade de desenvolvimento ou alimentos mais nutritivos, o que interfere nos custos. A susceptibilidade às doenças está sempre ligada às despesas e, assim, a resistência à redução delas.
Desta forma calculamos o "valor econômico" das características, que na definição formal é o valor monetário do aumento da característica em uma unidade ou em 1% . Esta parte do trabalho deve ser sistematizada e analisada em um centro de pesquisa, mas a anotação dos dados econômicos e de produção é feita nas fazendas, pelos próprios produtores. 
Os valores econômicos das características nos permitem dar mais um passo no programa de melhoramento: a definição dos objetivos de seleção. Esse é um avanço importante, pois agora podemos definir de forma objetiva o que deve ser realmente deve ser buscado para gerar maior lucro. 
O passo seguinte é definir os critérios de seleção, ou seja, como proceder para chegar aos objetivos traçados. A definição dos critérios considerará a facilidade de medição das características a serem selecionadas, o custo de fazê-lo, a possibilidade de selecionar em conjunto as características que desejamos, ou seja, tudo o que pode interferir de forma positiva ou negativa em nosso trabalho. 
Do ponto de vista genético precisamos conhecer o modo como as características se relacionam para encontrar as alternativas mais viáveis e baratas de chegarmos aos objetivos. Assim, nem sempre as características que formam os objetivos de seleção serão aquelas que comporão os critérios.
Os dados de produção permitem a análise genética das características. Parâmetros genéticos importantes, tais como as herdabilidades das características e as correlações genéticas entre elas, são calculados a partir dos dados de desempenho produtivo. As famosas DEP's (Diferença Esperada na Progênie) são calculadas com base nesses dados dos animais e/ou de seus parentes e também na herdabilidade das mesmas, como já comentamos em outros artigos.
É preciso estar muito atento para o seguinte: as DEP's sem os valores econômicos não nos conduzem automaticamente ao melhoramento. Podemos, por exemplo, calcular a "DEP tamanho de rabo", selecionar e utilizar os reprodutores com base nessa característica e obter o resultado esperado. Mas será que isso conduzirá ao melhoramento? Pode ser que pareça óbvio que tamanho de rabo não deva ser incluído na seleção (embora esse item seja considerado importante pelos selecionadores de raça), mas a importância das características nem sempre é tão óbvia. O que deve ter peso maior, a prolificidade ou o intervalo de partos? O ganho de peso do nascimento à desmama ou a taxa de sobrevivência nesse período? Só saberemos se pudermos calcular os valores.
De posse dos valores econômicos, dos parâmetros genéticos e definidos os critérios, vamos para o próximo passo que é montar um índice de seleção. O índice de seleção nos permite maximizar o ganho econômico e direcionar a seleção nesse sentido.
Com o índice de seleção podemos comparar reprodutores tanto do ponto de vista de seu valor genético quanto do desempenho econômico esperado de seus descendentes, e assim, escolher aqueles que serão os pais da próxima geração. Os pais escolhidos deverão ser utilizados, mudando as médias das características na população, no sentido favorável. Não é tão simples, nem tão fácil, mas é o que precisa ser feito. O índice definido terá que ser alterado com o tempo, pois na medida em que muda o ambiente econômico ou que se avança geneticamente é preciso ajustá-lo para que ele continue eficiente.
Programas de Melhoramento Genético e Sustentabilidade. Gado elite para quem?
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Por Roberto Carvalheiro, Vânia Cardoso, Carlos Dario Ortiz Peña, Fernanda Varnieri Brito, Flávio Schramm Schenkel, Jorge Luiz Paiva Severo, Mario Luiz Piccoli e Vanerlei Mozaquatro Roso 1
* Versão escrita da apresentação proferida no Workshop Pecuária Sustentável (www.beefpoint.com.br/sustentavel/).
Obs.: os números no início dos parágrafos indicam o slide correspondente da apresentação.
[1] Diante da crescente percepção da importância da sustentabilidade na atividade pecuária, cabe aos diferentes elos da cadeia refletir e fomentar a discussão de como atuar de forma pró-ativa frente a este desafio.
Este artigo (apresentação) tem como objetivo apresentar alguns exemplos de como o melhoramento genético poderia atuar em prol de uma pecuária sustentável, assim como advertir sobre alguns pontos, relacionados ao melhoramento, que impactam de forma negativa no setor.
[2] Há consenso de que uma pecuária sustentável é alicerçada em três principais “raízes” ou atributos, devendo ser: ecologicamente correta, socialmente justa e economicamente viável. Como a preocupação por sustentabilidade está presente em diferentes setores, podemos inferir que a competitividade seja um quesito adicional chave para uma pecuária sustentável. Ou seja, é necessário ser competitiva frente a outras atividades que também sejam ecologicamente corretas, socialmente justas e economicamente viáveis.
A seguir, serão fornecidos alguns exemplos de como o melhoramento genético poderia atuar positivamente de forma “isolada” sobre os alicerces de uma pecuária sustentável.
[3] Melhoramento em prol de uma Pecuária Ecologicamente Correta
O governo da Austrália anunciou em fevereiro deste ano um investimento de $26.8 milhões de dólares em pesquisa para a redução da emissão de gases na pecuária. O melhoramento genético foi incluído como uma das três principais linhas de pesquisa, contemplando subprojetos relacionados ao melhoramento genético das pastagens, da microbiota ruminal e à busca de bovinos geneticamente mais eficientes na conversão de alimentos (1).
[4] Resultados de pesquisa em melhoramento visando uma pecuária ecologicamente correta ainda são incipientes na literatura, porém observa-se crescente preocupação e importância atribuída pela comunidade científica ao tema. Evidência disso pode ser constatada na programação do próximo Congresso Mundial de Genética Aplicada à Produção Animal (9th WCGALP), a ser realizado em 2010 na Alemanha. Uma seção plenária sobre “Melhoramento Animal, impacto ambiental e desenvolvimento econômico” e outra sobre tópicos especiais em “Melhoramento animal e desafios ambientais” foram incluídas na programação (2).
[5] Melhoramento em prol de uma Pecuária Socialmente Justa
Outro exemplo do melhoramento atuando de forma “isolada” sobre os alicerces de uma pecuária sustentável foi extraído de uma apresentação do nosso querido Fries, que hipotetizou uma comparação marginal entre dois sistemas de cria, com 10.000 vacas cada, um denominado como “Convencional” e o outro como “Diferenciado”, este último com a implementação de um programa de melhoramento genético. Observou-se que os recursos necessários para a aquisição de touros do sistema “Convencional” (necessidade de reposição de 80 touros por ano), puderam ser redirecionados no sistema Diferenciado para uma melhoria no investimento em recursos humanos.
[6] O sistema “Convencional” foi caracterizado por baixa utilização da terra, mão de obra, serviços e capital, e por imobilismo e dependência genética, com ganhos genéticos em produtividade nulos, enquanto que o sistema “Diferenciado” empregou 50% mais pessoas, remunerou melhor e exigiu/forneceu melhor qualificação desta mão de obra, além de consumir serviços terceirizados.
Mais detalhes sobre esta comparação podem ser obtidos em (3). Na prática, observa-se que essa comparação não é tão hipotética, uma vez que existem exemplos de fazendas/empresas que ao implementarem um programa de melhoramento em determinada região/município, mudaram a questão social de forma significativamente positiva.
[7] Melhoramento atuando de forma integrada em prol de uma Pecuária Sustentável
Talvez, a maior contribuição do melhoramento para uma pecuária sustentável seja a
sua atuação de forma integrada nos diferentes alicerces, pela adequação genótipo-sistema de produção. Ou seja, dado um determinado sistema que seja ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável, qual o melhor genótipo para explorar de forma racional os recursos disponíveis?
[8] É importante ter em mente que o sistema de produção determina o componente genético que pode ser utilizado, e que a recíproca desta frase também é verdadeira. Não adianta investir em recursos se não houver animais com potencial genético para “explorá-los” de forma eficiente. (foto da esquerda – novilho com baixo potencial genético para produção a pasto; foto da direita – vacas e bezerros com alto potencial genético para produção eficiente a pasto)
[9] Nessa perspectiva, o grande desafio dos programas de melhoramento em bovinos de corte passa a ser a definição de qual o melhor genótipo para a conversão mais eficiente (sustentável!) do sistema, ou dos recursos disponíveis, em um alimento saudável e de alta qualidade.
Antes, porém, de desenvolver algumas considerações sobre esse desafio (“qual o melhor genótipo?), alguns exemplos de como o melhoramento genético poderia impactar de forma negativa para a sustentabilidade do setor serão apresentados.
[10] Gado elite para quem?
A importância do efeito da interação genótipo-ambiente parece ser frequentemente negligenciada na produção de bovinos de corte. Os pesquisadores Frisch e Vercoe (citado por (4)) advertiram para o fato de que a seleção para maior taxa de crescimento em ambiente desafiador resulta em decréscimo da produção de calor e diminuição da exigência de mantença e, inversamente, a seleção para taxa de crescimento em ambiente favorável pode resultar em aumento do tamanho adulto e, consequentemente, aumento das exigências.
Ainda é comum o caso de rebanhos comerciais, de criação predominantemente a pasto, usarem sêmen (material genético) de animais “fabricados” em ambientes artificiais de abundância alimentar. Em casos extremos, o custo por mês com trato para fabricar um animal “elite” se equivale ao custo alimentar de toda a vida de um animal criado e recriado a pasto e engordado em semi-confinamento, abatido com idade em torno de 24 meses.
Animais selecionados em sistema de abundância energética/alimentar apresentam alto metabolismo e elevada capacidade de consumo (não necessariamente de forma eficiente!), produzindo, no geral, progênie com acabamento tardio, pouco adaptada e de baixa eficiência de produção em ambientes desafiadores como os sistemas predominantes de criação no Brasil.
Para produzir de forma sustentável, é importante que as condições ambientais dos rebanhos selecionadores sejam próximas daquelas nas quais os rebanhos comerciais estão inseridos.
[11] Outro exemplo do melhoramento atuando de forma negativa na sustentabilidade é a seleção com grande ênfase no aumento (indeterminado) de peso. Animais com elevado peso adulto tendem a produzir progênie de biótipo tardio e apresentam, entre outros problemas, alto custo de mantença e baixos índices reprodutivos em criação a pasto.
[12] Garrick e Enns (5) e Vanderwert (6) foram enfáticos ao afirmar que a seleção por peso, no rebanho norte-americano, ocasionou:
• incremento na taxa de crescimento e pesos em quase todas as idades;
• incremento no peso ao nascer e dificuldades de parto;
• incremento no peso maduro de vacas e nos custos de mantença;
• redução da performance reprodutiva.
[13] Não é necessário se respaldar no exemplo norte-americano para inferir que a seleção “unidirecional” para peso também resulta em prejuízo nos sistemas de criação predominantes no Brasil. Inúmeros são os exemplos de touros geneticamente bem avaliados para peso, com avaliação medíocre para características relacionadas com a precocidade de acabamento e ao rendimento de carcaça. (vide exemplo no slide 13)
[14] Cruzamento não substitui Seleção
Para não perder o foco de como o melhoramento poderia auxiliar a sustentabilidade, vamos mencionar apenas mais um exemplo de como o melhoramento poderia impactar de forma negativa. Está relacionado à “ilusão do F1” e/ou à “crença” de que cruzamento substitui seleção.
Cardoso e colaboradores (7) evidenciaram que as perdas resultantes dos efeitos epistáticos (e de redução da heterose) em gerações avançadas de cruzamentos podem ser tão expressivas para determinados sistemas de produção quanto os ganhos iniciais obtidos com complementariedade e heterose.
Sistemas de produção que suportam a condução de cruzamentos devem utilizar bases genéticas que permitam a condução de forte pressão de seleção. Caso contrário, os benefícios do cruzamento podem ser anulados por um baixo progresso genético das gerações futuras (8).
[15] Qual o melhor genótipo?
Voltando a questão da adequação genótipo-ambiente, apresenta-se como passo primordial em sua busca (na implantação de um programa de melhoramento) uma correta definição dos objetivos de seleção. A seguir, são listados alguns exemplos de objetivos de seleção comuns a diferentes programas e sistemas de produção:
• pecuária de ciclo curto;
• animais com terminação precoce e bom rendimento de carcaça;
• animais (genótipos) que não aumentem custos e exigências nutricionais;
• melhor conversão dos recursos em carne de alta qualidade;
• maior lucratividade/ha, de forma sustentável.
Definidos os objetivos de seleção, o próximo passo seria o de aplicar critérios de seleção que promovam progresso genético na direção desejada. Com uma importante restrição: os custos na obtenção das informações individuais dos animais (seja na forma de medidas fenotípica e/ou de marcadores moleculares, por exemplo), as quais permitirão avaliá-los geneticamente, devem obviamente ser menores do que o benefício gerado por obtê-las. Existem medidas de alto custo e baixo benefício, assim como de baixo custo e alto benefício, em termos de permitirem progresso genético na direção desejada.
[16] Retorno Maternal
Critérios de seleção associados à eficiência produtiva das fêmeas (Retorno Maternal) são fundamentais para uma pecuária sustentável, que almeje os objetivos de seleção listados acima. Deseja-se progresso genético na direção de novilhas/vacas que sejam sexualmente precoces, longevas e que apresentem boa habilidade materna e baixo custo de mantença, sendo adaptadas às condições de manejo e ambientais as quais estão inseridas.
A eficiência produtiva das fêmeas tem grande impacto sobre a pressão de seleção que poderá ser exercida, a taxa de desfrute e a rentabilidade dos rebanhos. Mais detalhes a esse respeito podem ser obtidos em (9; 10).
[17] Qualidade da Carcaça
A adoção de critérios de seleção relacionados à qualidade da carcaça também é importante para uma pecuária eficiente e sustentável.
As avaliações visuais de Conformação, Precocidade e Musculatura (CPM), que visam identificar animais com maior peso da carcaça, precocidade de acabamento e rendimento de carcaça, respectivamente, são medidas que apresentam excelente relação custo-benefício quanto ao progresso genético que permitem na direção de animais com biótipo precoce e com melhores carcaças. Mais informações sobre o uso de escores visuais para maior produtividade em gado de corte podem ser obtidas em (11).
[18] Uniformidade de Produção
Um dos gargalos da bovinocultura de corte é a falta de uniformidade de produção. Felizmente, já existem ferramentas de seleção que discriminam geneticamente os touros quanto à uniformidade de produção de sua progênie como, por exemplo, o DEPh (12). Estas ferramentas permitem que progresso genético permanente seja obtido na direção de uma maior uniformidade de produção (13, 14).
[19] Biotipo Equilibrado
Conforme advertido anteriormente, devemos evitar a seleção unidirecional para determinadas características (ex.: peso), pois essa prática tende a gerar animais em desequilíbrio com o sistema de produção.
É importante que se contemple em programas de melhoramento índices compostos por
diferentes características associadas aos objetivos de seleção, premiando animais com biótipo equilibrado, isto é, que não vão gerar respostas correlacionadas indesejáveis por serem geneticamente superiores para certas características, mas inferiores para outras de igual importância.
Mesmo que a adoção de índices de seleção compostos por um número maior de características possa gerar menor taxa de progresso genético (o que nem sempre é verdadeiro se as características forem positivamente correlacionadas), acreditamos que é melhor uma menor “velocidade” na direção desejada do que uma maior “velocidade” numa direção que pode ocasionar desequilíbrios ou respostas correlacionadas indesejáveis.
[20] Diferencial Brasil
Por fim, gostaríamos de apresentar alguns pontos levantados por Fries (3) (visionário como sempre) que colocam o Brasil numa posição de destaque para a produção de carne de forma sustentável, sendo eles: “mão de obra abundante, motivada e com gosto pela atividade; interação positiva clima-solo-genótipos vegetais e animais; tecnologia nacional avançada e em contínuo desenvolvimento, sem a necessidade de importar pacotes tecnológicos que não condizem com a realidade dos país; capacidade de produzir novilhos com bom acabamento exclusivamente a pasto, produzindo um alimento rico, saudável e barato; um dos mais baixos custos de produção de carne bovina do mundo, sem qualquer forma de subsídio; condições ímpares para a exploração de uma pecuária ecológica, capaz de garantir a conservação do ambiente para as próximas gerações”; entre outros (3).
[21] Parabéns à equipe BeefPoint pela atitude pró-ativa em organizar o Workshop Pecuária Sustentável (www.beefpoint.com.br/sustentavel/) e em fomentar a discussão do assunto. Esperamos, com este artigo (apresentação), ter fornecido um pouco de subsídio para que a discussão também envolva questões relacionadas ao melhoramento genético animal.
Referências Citadas:
(1)http://www.maff.gov.au/media/media_releases/2009/february/research_to_ cut_greenhouse_gas_emissions_in_livestock
(2)http://www.wcgalp2010.org/
(3)https://www.beefpoint.com.br/perspectivas-da-genetica-de-gado- de-corte-brasileira-dentro-do-contexto-mundial_noticia_42868_60_170_.aspx
(4)http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11139/tde-14092004-161059/publico/liana.pdf
(5)http://www.beefimprovement.org/proceedings/03proceedings/Garrick.pdf
(6)http://beefmagazine.com/mag/beef_performance/index.html
(7)http://www.sbmaonline.org.br/anais/v/trabalhos/bovinocorte/bc042.pdf
(8)https://www.beefpoint.com.br/cruzamentos-em-gado-de-corte_noticia_ 43831_60_170_.aspx
(9)https://www.beefpoint.com.br/rml-em-busca-de-touros-femeiros_ noticia_32256_60_170_.aspx
(10)https://www.beefpoint.com.br/retorno-maternal-em-busca-de-touros -femeiros-ii_noticia_37300_60_170_.aspx
(11)https://www.beefpoint.com.br/uso-de-escores-visuais-para-maior -produtividade-em-gado-de-corte_noticia_44961_60_170_.aspx
(12)https://www.beefpoint.com.br/desempenho-estimado-na-progenie-retendo -propriedades-da-media-harmonica-deph_noticia_31430_60_170_.aspx
(13)http://www.sbmaonline.org.br/anais/vii/trabalhos/bovinocorte/bc030.pdf
(14)http://www.gse-journal.org/articles/gse/pdf/2008/01/g07011.pdf
Considera-se “recurso genético animal” um animal com potencial de ser utilizado na produção de alimentos, aliado ao conhecimento tradicional e ao contexto econômico e ambiental onde a raça foi desenvolvida. Já o termo “conservação de recursos genéticos” refere-se às ações que garantam a manutenção da diversidade dos recursos genéticos, a contribuição destes na produção agropecuária e a preservação de valores ecológicos e culturais. Embora qualquer material genético possa ser um “recurso”, programas de conservação e utilização de recursos genéticos animais priorizam as raças tradicionais, pouco submetidas a processos científicos de seleção e melhoramento genético. Basicamente, isso é devido à falta de informações sobre estas raças e do risco de extinção a que frequentemente estão submetidas. Assim, a conservação de recursos genéticos animais (CRGA) é compreendida como a gestão sustentável de um material genético tradicional, ora denominado de “crioulo” e internacionalmente reconhecido como “raça local ou raça autóctone”.
Como estratégias de conservação, as ações podem ser realizadas mantendo-se os rebanhos nos ecossistemas em que foram originados e tradicionalmente criados (in situ) ou por métodos de criopreservação de material genético, como sêmen, embriões e DNA (ex situ). O termo conservação on farm é cada vez mais utilizado e caracteriza-se pela conservação de rebanhos realizada por pecuaristas ou em fazendas institucionais. Um ponto forte do método on farm é que pode ocorrer adaptação evolutiva do material genético ao longo das gerações. Mais do que preservar, a CRGA envolve a utilização, com vistas à geração de renda, manutenção do homem no campo, produção de alimento e desenvolvimento local. Todavia, os diversos métodos de conservação que existem são complementares.
A conservação de raças locais se justifica em parte pelo potencial que possuem para a produção animal futura. Alguns genes relacionados com características de interesse econômico já foram descobertos, como de parto gemelar e de maciez de carne. A expectativa é que as raças locais sejam “reservatórios de genes”. Isso é essencial no atual início da era genômica. Alguns estudiosos afirmam que genes, ainda desconhecidos, poderão ser determinantes para a competitividade da produção animal no futuro e apontam que a rusticidade, a maior tolerância em temperaturas extremas e os menores custos de manutenção são características que resultam do fato destes animais terem sido introduzidos pelos colonizadores no descobrimento do Brasil.
Portanto a CRGA pode ser compreendida como uma estratégia para desenvolver os territórios rurais e valorar culturas regionais, assim como os biomas e os arranjos produtivos locais. Contudo, se tratando de raças locais é urgente que exista maior aporte de infraestrutura, assistência técnica e organização da cadeia produtiva. Todavia, carências organizacionais e níveis de tecnificação discretos nem sempre são devido ao baixo poder aquisitivo dos produtores. Com modalidades de agricultura, pecuária e estilos de vida diversos no meio rural brasileiro, o objetivo de explorar raças locais pode variar bastante, incluindo geração de renda, tradição, diversão ou status social. É necessário compreender a CRGA num cenário heterogêneo e globalizado, representado por diversidades climáticas, culturais, socioeconômicas, políticas, produtivas e mercadológicas. Isso significa uma abordagem que inclui simultaneamente as comunidades tradicionais de agricultura familiar, às produções de subsistência e também de grande escala, os biomas brasileiros e os mercados emergentes.
Muito interesse nos recursos genéticos animais tem sido direcionado ao discurso da “agregação de valor”, o que inclui produtos alimentícios tradicionais, carne orgânica, o consumo atrelado às questões históricas e a certificação e indicação geográfica.
Na perspectiva de fortalecer a CRGA no mundo todo se destacam alguns eventos históricos como os informes emitidos pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) desde a década de 60 e a criação de associações de criadores e sociedades científicas de recursos genéticos no mundo todo. Mais recentemente foi estabelecido o Ano Internacional da Biodiversidade (2010) e também a Declaração de Interlaken na Conferência Técnica Internacional sobre Recursos Zoogenéticos. Nesta declaração mais de 100 países ratificaram responsabilidades na conservação de suas raças locais. Como exemplo internacional de cooperação, destaca-se a Rede Íbero-Americana de Conservação da Biodiversidade dos Animais Domésticos Locais para o Desenvolvimento Sustentável (RED CONBIAND), que além do Brasil inclui mais de 20 países. No Brasil, destaca-se o Programa Nacional de Conservação
de Recursos Genéticos (PNCRG), liderado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), e no âmbito regional a Rede Pró-Centro Oeste Caracterização, Conservação e Uso das Raças Bovinas Locais Brasileiras Curraleiro e Pantaneiro. De modo geral, todas visam minimizar as ameaças de erosão e extinção das raças locais, preconizar o desenvolvimento sustentável e a geração de conhecimento.
 
Compreender o potencial da biotecnologia genômica, o multiculturalismo global existente, a diversidade climática, mercadológica e as diferenças que existem entre os sistemas de produção animal parecem ser um ponto crítico, que divide um grupo de pessoas que percebe a necessidade da CRGA e outro grupo que não vê justificativa para isso.

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