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A ÉTICA E O SIGILO NA PERICIA CONTÁBIL

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A ÉTICA E O SIGILO NA PERICIA CONTÁBIL 
1. CONTEXTO HISTÓRICO 
Antes mesmo de comentarmos a respeito de qualquer aspecto ligado ao profissional perito contador, acreditamos ser de fundamental importância destacarmos a origem e sua Evolução.
A História da contabilidade está ligada à da civilização, que está presente nos primeiros manifestos humanos, visto que naquela época já existia a necessidade da proteção do patrimônio.
As manifestações de averiguação sobre a verdade dos fatos buscados por meios contábeis já se manifestavam entre os Sumérios-Babilônicos (habitantes da Região Mesopotâmia) por volta de 800 a 1880 a.C. Essas manifestações surgiram da necessidade de prestação de contas da arrecadação de impostos, visto que não era possível confiar na memória de apenas um administrador que realizava todas as transações. Com a necessidade de verificar, investigar, avaliar os procedimentos, surge os primeiros indícios de perícia contábil.
No Brasil, no início do século vinte, já era importante a função da contabilidade e das perícias, conforme mostra o Relatório de 19 de junho de 1779 do Vice-rei Marquês do Lavradio a seu sucessor Luis da Vasconcelos e Sousa, no qual descreve o estado físico e político da capitania do Rio de Janeiro quando assumiu a cargo de vice-rei. As características dos habitantes locais, sua situação política, as medidas realizadas e, finalmente o estado em que deixou a dita capitania quando encerrou a sua administração. 
Logo mais, o código de processo civil em 1939 já estabelecia regras sobre perícia, em seguida, 1946 com o advento do decreto lei nº 9.295/46 quando foi criado o Conselho Federal de Contabilidade e institucionalizada a Perícia Contábil no Brasil.
Embora sofrendo várias alterações, foi com a lei 5.869/73 com CPC, que as perícias judiciais foram premiadas com uma legislação mais completa. 
2. ETIMOLOGIA
Etimologicamente, o tempo perícia advém do latim "peritia" e significa "conhecimento adquirido pela experiência" (Machado, 2003. p. 1.722). Sob esse aspecto, D'Aurea (1962; p.151) menciona que "perícia é o conhecimento e experiência das coisas". Esta definição considera a etimologia da palavra, sem, no entanto, ser precisa.
A função pericial é deste modo, aquela pela qual uma pessoa conhecedora e experimentada em certas matérias e assuntos, dentro dos procedimentos contábeis da NBC, verificando as coisas e os fatos, respeitando sua autenticidade e opinando sobre as causas e efeitos da matéria examinada. 
3. ASPECTOS CONCEITUAIS
A perícia é um modo definido e delimitado, é um instrumento, portanto, e este, por sua vez, é especial porque se concretiza por uma peça ou relatório com características formais, intrínsecas e extrínsecas, também definida laudo pericial.
O perito em matéria contábil é contador regulamente registrado no Conselho Federal de Contabilidade, exercendo a atividade pericial de forma "pessoal", com profunda experiência na matéria objeto do exame.
Quanto ao termo "pessoal", Alberto (1996, p.61/62) esclarece o seu real significado: "Referimo-nos ao caráter de pessoalidade do exercício da especialização pericial, ou seja, seu exercício, na forma judicial, somente como pessoa física (também dita civil ou natural)".
Alberto (1996, p.19) "perícia é um instrumento especial de constatação, prova ou demonstração, científica ou técnica, da veracidade de situações, coisas ou fatos".
O conceito de perícia ainda se encontra sobre um estágio primário de delineamento, haja vista que nas literaturas encontradas observamos um conjunto de traços particulares em sentido prático, com contraposições entre o aspecto opinativo e o factual. O opinativo solicita do perito a emissão de opinião que considere os fatos observados, seus conhecimentos técnicos específicos e sua experiência profissional. Já o factual, considera o relato (pressupostamente) verídico dos fatos, situações ou coisas e objetos do trabalho.
A Perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técnico-científico destinados a levar à instância decisória, elementos de prova necessária a subsidiar a justa solução do litígio. Mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil. O perito-contador e perito contador-assistente, utilizam para execução dos trabalhos periciais, duas grandes ferramentas: a experiência profissional e o conhecimento de normas jurídicas, profissionais e de legislação inerentes à matéria periciada.
Segundo Gonçalves (1968 p.1) "a perícia é, pois o exame hábil (...) com objetivo de resolver questões contábeis, ordinariamente originárias de controvérsias, dúvidas e de casos específicos determinados ou previstos em lei".
As características, predominante na perícia é sua requisição formal. Essa decorre de um conflito de interesses com relação a um direito pleiteado. Pode ser um ato oficial: quando determinada ou requisitado por autoridade (juízes, promotores e delegados), é denominada Perícia Judicial; em contraposição, pode-se falar em Perícia Privada ou Perícia Extrajudicial quando os serviços contratados são oferecidos a entidades privadas e ou às partes envolvidas no litígio.
A perícia judicial surgirá sempre que o magistrado não for suficiente para realizar a verificação dos fatos que desencadearam o litígio, seja pela sua ausência de conhecimento técnico ou científico, seja pela sua impossibilidade de colher os dados necessários para o deslinde da questão. 
A partir desse momento, surge a figura do perito como auxiliar da justiça, que assessora o juiz na formação se seu convencimento quando o assunto em pauta depender de conhecimento técnico ou científico. A função deste profissional reside, portanto no processo investigativo dos fatos apontados na lide, mediante a realização de exames, vistorias e avaliações, com a finalidade de apontar a realidade dos fatos mediante a certificação da verdade. 
4. A ÉTICA E O SIGILO NA PERICIA CONTÁBIL 
Segundo Sá (2000:21) O perito precisa ser um profissional habilitado, legal, cultural e intelectual, e exercer virtudes morais e éticas com total compromisso com a verdade. 
O profissional perito contador precisa ser habilitado e possuir conhecimento técnico suficiente, não só na área contábil, mas também das ciências afins, necessárias ao desempenho da profissão, o profissional tem que exercer sua profissão de forma honesta e não tirar proveitos das situações que lhe apresentarem, pois o mesmo precisa possuir independência para fundamentar o seu parecer ou lado pericial contábil.
E não basta o perito a responsabilidade moral e intelectual. O próprio CPC já estabeleceu a sua responsabilidade civil e criminal, delegando-lhe o pagamento de indenização dos prejuízos que causar por dolo ou culpa, nos moldes do art. 147 do CPA. A responsabilidade, neste caso, refere-se a informações inverídicas e a prejuízos causados à parte, podendo ficar inabilitado de funcionar em outras perícias, por dois anos.
Segundo as Normas Brasileiras de Contabilidade NBC T 13 _ Da Perícia Contábil, aprovadas pela resolução nº 858/99, emitida pelo Conselho Federal de Contabilidade_ CFC, que regem as atividades de Perícia Contábil, que determinou que a Perícia Contábil deve ser efetuada por Contador (profissional portador de diploma universitário) devidamente inscrito no Conselho de Contabilidade, e não por Técnico em Contabilidade ou Administrador de Empresas.
O Conselho Federal de Contabilidade por meio da Resolução CFC nº 290/70, de 29/10/1970, a qual foi revogada e aprovada com a aprovação da Resolução CFC nº 803, de 10/10/1996, que posteriormente teve alguns dos seus artigos alterados alternados pelas Resoluções CFC nº. 819/97, nº 942/02 e nº 950/02, que trata de legislação sobre a ética do contabilista.
O código de Ética do Contabilista é relativamente pequeno e de rápida assimilação; está dividido em cinco capítulos e quatorze artigos. O primeiro capítulo é composto de um único artigo e determina que o Código tem por objetivo fixar a forma pela qual se devem conduzir os contabilistasno exercício profissional. O II capítulo determina quais são os deveres e as proibições do contabilista no desempenho de suas funções. O capítulo III trata das regras para a fixação dos valores dos serviços com relação ao contrato. O capítulo IV diz respeito aos deveres em relação aos colegas e às classes. E o capítulo V trata das penalidades no não cumprimento das regras do Código.
Fatores relevantes para a ética na perícia segundo A NBC-P- 2:
a) A competência profissional: pelo conhecimento, não só das técnicas contábeis, como também da legislação inerente á profissão e das Normas Técnicas de Contabilidade.
b) A independência profissional: devendo denunciar quaisquer interferência que possam colocá-lo em situação de constrangimento quando do desenvolvimento de seu trabalho, de preferência evitando-as, evitando assim, compromete sua independência profissional.
c) O impedimento: o perito, embora nomeado nos outros, poderá estar impedido de executar a perícia, devendo declarar-se suspeito. As hipóteses de suspeição estão relacionadas no item 2.3 da NBC-P-2. Em resumo, está impedido de executar a perícia o contabilista que tenha vínculo de parentesco com uma das partes ou de seus procuradores; que tenha mantido nos últimos 5 (cinco) anos relação de emprego com uma das partes ou de seus procuradores; tenha mantido relação de negócio como sócio ou acionista com uma das partes ou seus procuradores; seja amigo íntimo ou inimigo capital de quaisquer da partes; tiver algum interesse no resultado do trabalho pericial.
d) A recusa: o perito nomeado, indicado ou escolhido, deverá recusar o trabalho ou renunciar á função quando ocorrer alguma das hipóteses de impedimento; quando considerar-se suspeito por razões íntimas; quando o objetivo ou acúmulo de trabalho não poderá cumprir os prazos caso venha a aceitar o encargo; quando houver motivo de força maior.
e) Os honorários: para estimativa de seus honorários, o perito deverá levar em consideração os fatores de relevância, vulto e complexidade, horas a serem consumidas, qualificação do pessoal técnico que participará dos trabalhos, a forma de reajuste, os demais custos, inclusive estadias e locomoção se for o caso. O CEPC, no seu art. 80 veda ao profissional "oferecer ou disputar serviços profissional mediante aviltamento de honorários ou concorrência desleal".
f) O sigilo: é o dever do perito mesmo depois de entregue o laudo ou terminar os compromissos assumidos, manter total sigilo do que apurar, só divulgando na hipótese de haver obrigação legal de fazê-lo.
g) Responsabilidade e Zelo: exercer sua profissão com responsabilidade, cumprindo prazos e zelando pela qualidade do seu trabalho, bem como respeitando os seus colegas peritos.
h) Utilização de trabalho especialista: durante a realização de seu trabalho, caso haja necessidade, em fase de parte da matéria periciada exigir, poderá o perito utilizar-se de especialistas de outras áreas. 
O compromisso moral e ético do perito para a sociedade e para com a classe contábil, constitui essencial fundamento de sustentação da realização profissional.
Buscando enriquecer e divulgar a linha de conduta que deve ser seguida pelos Auditores e Peritos Contábeis, na seqüência resgatamos o artigo 5º da Resolução nº 803/96, Código de Ética Profissional do Contabilista, emitida pelo CFC, no que concerne às atividades do Contador, enquanto Perito, Assistente-Técnico, Auditor ou Árbitro, atendo-nos ao tema principal que é a ética.
I. "Recusar sua indicação quando reconheça não se achar capacitado em face da especialização requerida"; 
II. Abster-se de interpretações tendenciosas sobre a matéria que constitui objeto de perícia, mantendo-se absoluta independência moral e técnica na elaboração do respectivo laudo; 
III. Abster-se de expressar argumentos ou dar a reconhecer sua convicção pessoal sobre os direitos de quaisquer das partes interessadas, ou da justiça da causa em que estiver servindo, mantendo-se o seu laudo no âmbito técnico e limitado aos quesitos propostos; 
IV. Considerar com imparcialidade o pensamento exposto em laudo submetido a sua apreciação; 
V. Mencionar obrigatoriamente fatos que conheça e repute em condições de exercer efeito sobre peça contábil objeto de seu trabalho; 
VI. Abster-se de dar parecer ou emitir opinião sem estar suficientemente informado e munido de documentos; 
VII. Assinalar equívocos em divergências que encontrar no que concerne à aplicação dos Princípios Fundamentais de Contabilidade e Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade; 
VIII. Considerar-se impedido para emitir parecer ou elaborar laudos sobre peças contábeis observando as restrições contidas nas Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade; 
IX. Atender à fiscalização dos Conselhos Regionais de Contabilidade e Conselho Federal de Contabilidade no sentido de colocar à disposição desses, sempre que solicitado, papéis de trabalho, relatórios e outros documentos que deram origem a execução dos trabalhos". 
Após estas exposições, fica dispensado de demonstrações que a responsabilidade pelo respeito à ética por parte dos Auditores e Peritos é fundamental para a plena execução das suas atividades com o devido profissionalismo que estes trabalhos necessitam.
A Resolução CFC Nº 857, do artigo 2.6 do Sigilo do profissional Perito Contador, reza nos itens abaixo:
O perito contador e o perito contador assistente, em obediência ao Código de Ética Profissional do Contabilista, devem respeitar a assegurar o sigilo do que apurarem durante a execução de seu trabalho, proibida a sua divulgação, salvo quando houver obrigação legal de faze-lo. Este perdurar depois de entregue o laudo pericial contábil ou o parecer pericial contábil. 
O dever de sigilo subsiste mesmo na hipótese de o profissional se desligar do trabalho antes de concluído. 
É permitido ao perito contador e ao perito contador assistente esclarecer o conteúdo do laudo pericial contábil e do parecer pericial contábil somente em defesa da sua conduta técnica profissional, podendo, para esse fim, requerer autorização a quem de direito. 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A função do perito-contador é de grande responsabilidade, pois exerce um papel relevante para a realização da justiça.
O perito em matéria contábil é contador regulamente registrado no Conselho Federal de Contabilidade, exercendo a atividade pericial de forma "pessoal", com profunda experiência na matéria objeto do exame.
Os profissionais de contabilidade que militam no campo da perícia contábil devem possuir conhecimentos das normas legais e profissionais referentes á prova pericial, bem como experiência no campo objeto de análise.
Para bem cumprir o seu encargo na exposição da verdade, o perito deve possuir uma conduta moderada e, tanto quando possível harmonizada. A formação ética é o alicerce ou uma das partes mais nobres e relevantes que deve se levar em consideração na escola deste profissional.
Investindo como auxiliar da Justiça, o perito-contador possui diversos direitos e deveres relativos ao cumprimento do honroso encargo para qual fora nomeado. Os deveres residem na responsabilidade de realizar o trabalho pericial no prazo determinado, declarar-se impedido ou suspeito, responder os quesitos formulados, denunciar interferência ao seu trabalho, responder ao seu esclarecimento quando solicitado formalmente, manter sigilo daquilo que apurou e entender o laudo pericial. Em seu turno, ao perito cabe escusar-se do encargo por motivo legítimo, possuir diploma de bacharel em Ciências Contábeis, apresentar propostas de honorários, solicitar documentos e informações que estejam em poder de terceiros de instituições públicas, com vistas a fundamentar as conclusões constantes do laudo, solicitar a prorrogação de prazo, requer a complementação, o depósito e o levantamento de honorários, dentre outras prerrogativas.
Como se observa, a função pericial, antes detudo, requer enorme compromisso, dedicação e zelo profissional por parte daqueles que abraçam os atributos de perito judicial, principalmente os contadores na função de perito. 
REFERÊNCIAS:
MACHADO, José Pedro. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. .s.l., Confluência, vol II. 2003.
D'ÁUREA, Francisco. Revisão e Perícia Contábil -Parte Teórica. 3ª ed., São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1962.
ALBERTO, Valdez Luiz Palombo. Perícia Contábil. São Paulo: Atlas, 1996.
GOLÇALVES, Reynaldo de Souza. Peritagem Contábil. Rio de Janeiro: Forense, 1968.
LOPES DE SÁ, Antonio. Perícia Contábil. São Paulo, Ed. Atlas, 2000.
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, Resolução nº 803/96, 819/97, 857/99, 858/99, 942/02, 950/05. Brasília 1999.