Nº 37-38 Lugar Comum – Estudos de mídia, cultura e democracia é uma publicação vinculada a professores e pesquisadores do Laboratório Territó- rio e Comunicação – LABTeC/UFRJ e à Rede Universidade Nômade. Av. Pasteur, 250 – Campus da Praia Vermelha Escola de Serviço Social, sala 33 22290-240 Rio de Janeiro, RJ EQUIPE EDITORIAL Alexandre do Nascimento Giuseppe Cocco Alexandre Mendes Leonardo Palma Barbara Szaniecki Leonora Corsini Bruno Cava Marina Bueno Fabrício Toledo Pedro Mendes Gerardo Silva DESIGN: Barbara Szaniecki REVISÃO DE TEXTOS: Leonora Corsini. CONSELHO EDITORIAL • Alexander Patez Galvão - Rio de Janeiro, Brasil • Ana Kiffer - Rio de Janeiro, Brasil • Antonio Negri - Roma, Itália • Bruno Stehling – Rio de Janeiro, Brasil • Caia Fittipaldi - São Paulo, Brasil • Carlos Alberto Messeder - Rio de Janeiro, Brasil • Carlos Augusto Peixoto Jr. - Rio de Janeiro, Brasil • Christian Marazzi - Genebra Suíça • Cristiano Fagundes – Rio de Janeiro, Brasil • Cristina Laranja – Londres, Inglaterra • Elisabeth Rondelli - Rio de Janeiro, Brasil • Fábio Malini – Rio de Janeiro, Brasil • Felipe Cavalcanti – Rio de Janeiro, Brasil • Francini Guizardi – Rio de Janeiro, Brasil • Gabriela Serfaty – Rio de Janeiro, Brasil • Gilvan Vilarim – Rio de Janeiro, Brasil • Henrique Antoun - Rio de Janeiro, Brasil • Inês de Araújo - Rio de Janeiro, Brasil • Ivana Bentes - Rio de Janeiro, Brasil • Karl Erik Scholhammer - Rio de Janeiro, Brasil • Márcia Arán - Rio de Janeiro, Brasil • Maria José Barbosa - Belém, Brasil • Maurizio Lazzarato - Paris, França • Micael Herschmann - Rio de Janeiro, Brasil • Michael Hardt - Durham, Estados Unidos • Michèle Collin – Paris, França • Olivier Borius – Paris, França • Patrícia Daros - Rio de Janeiro, Brasil • Paulo Henrique de Almeida - Salvador, Brasil • Paulo Vaz - Rio de Janeiro, Brasil • Pedro Sobrino Laureano – Rio de Janeiro, Brasil • Peter Pál Pelbart - São Paulo, Brasil • Rodrigo Guéron - Rio de Janeiro, Brasil • Sindia Martins dos Santos - Rio de Janeiro, Brasil • Suely Rolnik - São Paulo, Brasil • Tatiana Roque - Rio de Janeiro, Brasil • Thierry Baudouin - Paris, França • Vanessa Santos do Canto – Rio de Janeiro, Brasil Vanessa Santos do Canto – Rio de Janeiro, Brasil • Yann Moulier Boutang - Paris, França • Lugar Comum – Estudos de Mídia, Cultura e Democracia Universidade Federal do Rio de Janeiro. Laboratório Território e Comunicação – LABTeC/ESS/UFRJ – Vol 1, n. 1, (1997) – Rio de Janeiro: UFRJ, n. 37-38 – mai-dez 2012 Quadrimestral Irregular (2002/2007) ISSN – 1415-8604 1. Meios de Comunicação – Brasil – Periódicos. 2. Política e Cultura – Periódicos. I Universidade Federal do Rio de Janeiro. Laboratório Território e Comunicação. LABTeC/ESS. CDD 302.23 306.2 UNIVERSIDADE NÔMADE • A copesquisa nas lutas da cidade 9 Alexandre F. Mendes • A copesquisa militante no autonomismo operaísta 17 Bruno Cava • A ascensão selvagem da classe sem nome 39 Hugo Albuquerque • As duas faces do Apocalipse: uma carta de Copenhague 47 Michael Hardt DOSSIÊ 40 ANOS DO ANTI-ÉDIPO • Dois desejos, dois capitalismos 61 Carlos Augusto Peixoto Junior e Pedro Sobrino Laureano • Tratado de nomadologia: desejo e revolução 75 Vladimir Lacerda Santafé • Memória-máquina 93 Murilo Duarte Costa Corrêa • Rachar as imagens, contraefetuar o acontecimento, conceituar a comunidade: a experiência comunitária em registros fotográficos de Maio de 68 111 Eduardo Yuji Yamamoto • Os Quarenta Anos do Anti-Édipo, Política, Desejo e (sub) Deleuze-Guattarianismo 129 Hugo Albuquerque • Potências do político em Deleuze e Guattari: a megamáquina política 141 Aldo Ambrózio e Davis Moreira Alvim • Filosofia Política de Deleuze e Guattari: as relações com Marx 157 Rodrigo Guéron ARTE, MÍDIA E CULTURA • Por um design desejante: e(ntr)e o virtuo-design e o act-design 173 Maria Lucília Borges • Pelas “gagueiras” da língua: a oficina poética de Vladimir Maiakóvski 189 Pedro Guilherme M. Freire NAVEGAÇÕES • Falsificar a moeda! 217 Michael Hardt • A destruição da universidade Considerações sobre a universidade que vem (esboços) 239 Carlos Enrique Restrepo • Racificar a história e outros temores… 251 María Iñigo Clavo RESENHAS • O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia (de Gilles Deleuze e Félix Guattari) 268 Por Bruno Cava • Uma democracia a procura de radicalidade (Cittadinanza, de Étienne Balibar) 273 Por Sandro Mezzadra RESUMOS 277 Universidade Nômade LUGAR COMUM Nº37-38, pp. 9- A copesquisa nas lutas da cidade Alexandre F. Mendes Para Foucault, o “intelectual específico” é aquele que age em pontos es- pecíficos, em setores determinados onde se situa, seja por suas condições de vida, seja pelas condições de trabalho (a moradia, o hospital, o asilo, o laboratório, a universidade, as relações familiares ou sexuais). Segundo o autor, esta figura possibilita lutas locais, regionais, descontínuas, que são as lutas reais, materiais e cotidianas. Este tipo de enfrentamento possibilita lutas “transversais” e se volta contra a figura do “intelectual “universal”, portador de uma consciência justa que se aplica a todos (FOUCAULT, M. 2001, p. 109)1. Foucault, então, observa que durante muito tempo prevaleceu a ideia do intelectual universal, que representava a consciência de todos, sujeito livre, cons- ciente e justo. Esta ideia derivou de uma figura histórica bem peculiar: o homem da justiça, o homem da lei, aquele que opõe a universalidade da justiça e a eqüi- dade de uma lei ideal ao poder, ao despotismo, ao abuso e à arrogância da riqueza. O intelectual universal derivaria de figuras como “o jurista e o escritor notável”, portadores de valores que todos podem reconhecer. O intelectual específico, por sua vez, atua a partir de problemas que são colocados em suas lutas específicas e imediatas. Longe de ser o portador de uma consciência geral, ele está preocupado em mobilizar a produção de pensamento a partir de combates comuns que irrompem em seu cotidiano. Segundo François Ewald, “o universal é assim levado a tomar a forma de estratégias nas quais di- ferentes particulares vão se articulando em função de combates comuns. Há ba- talhas a empreender, mesmo que já não possam justificar-se nos céus das ideias” (EWALD, 1993, p. 183). Com essas primeiras considerações, podemos nos aproximar de outra prática de pesquisa que problematiza a relação entre teoria e prática: a conri- cerca, método desenvolvido no coração das lutas operaístas2 italianas a partir da 1 Foucault retoma o liame entre teoria e prática na entrevista L`intellectuel et les pouvoirs, afirmando que todos os seus escritos apresentam, de maneira simples e direta, uma relação entre teoria e prática, sendo em um certo sentido “fragmentos autobiográficos”. (FOUCAULT, 2001, p. 1566). 2 Sobre o pensamento pós-operaísta, conferir a introdução de Giuseppe Cocco no livro O trabalho imaterial:formas de vida e produção de subjetividade. (NEGRI, LAZZARATO, 2001). 16 10 A COPesQUisA NAs LUTAs DA CiDADe década de 1950. Segundo Gigi Roggero, “o observador não só muda de posição, movendo-se do externo ao interno dos processos analisados, mas cessa mesmo de ser observador: se transforma em sujeito de seu próprio objeto de pesquisa e intervenção” (ROGGERO, 2009, p. 113). A conricerca operária não localiza a produção de saber em um “sujeito externo”, seja o partido ou o sindicato, reforçando a clássica clivagem entre a esfera política e a esfera técnica. A conricerca é “a possibilidade de atacar essa separação: a produção de saber é imediatamente produção de subjetividade e construção de organização”. O pesquisador, portanto, se insere sem traumas no interior dos processos produtivos, dos processos de subjetivação e da capacidade de organização