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Brenda Thomas – Universidade Federal da Fronteira Sul - Chapecó HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL R.M., masculino, 35 anos, trabalhador de construção civil, vem à Emergência por abaulamento e dor em região inguinal direita há 2 horas, que apareceu após esforço físico no trabalho. Exame físico: bom estado geral, lúcido, orientado e coerente, hidratado, anictérico, afebril. FC: 80 bpm, FR: 16 irpm. Abdome: depressível, presença de abaulamento em região inguinal direita, com dor moderada à palpação local. Definição Hérnia é uma protrusão anormal de um órgão ou tecido (geralmente intra- abdominal) através de um defeito da parede abdominal. Mais de 600.00 hérnias são reparadas cirurgicamente todos os anos nos EUA. É um dos procedimentos mais comuns em cirurgia geral. Anatomia da Região Inguinofemoral Camadas da região inguinal de fora para dentro: pele, tecido celular subcutâneo, aponeurose do músculo oblíquo externo e canal inguinal e seu conteúdo. Ao rebater a aponeurose do oblíquo externo é possível ver o canal inguinal, cuja parede anterior do canal inguinal é a aponeurose do oblíquo externo. Tecido Celular Subcutâneo Duas fáscias: Camper: superficial, difícil visualização; Scarpa: profunda, fácil identificação, contínua em direção à bolsa escrotal formando a túnica dartos dos testículos. Brenda Thomas – Universidade Federal da Fronteira Sul - Chapecó Aponeurose do Músculo Oblíquo Externo Na região inguinal, identifica-se apenas a aponeurose desse músculo. Forma a parede anterior do canal inguinal. A borda livre dessa aponeurose apresenta um espessamento, que segue a espinha ilíaca ântero-superior ao tubérculo púbico - ligamento inguinal ou ligamento de Poupart. O ligamento lacunar (de Gimbernat) é formado pela inserção do ligamento inguinal no púbis, formando a borda medial do canal femoral. Canal Inguinal Tem direção oblíqua, de superior para inferior, lateral para medial e de um plano profundo para superficial - aproximadamente 4 cm de extensão no adulto. Através dele passam o funículo espermático (homens) e o ligamento redondo (mulheres). Pelo anel inguinal interno passa o funículo espermático, coberto pela aponeurose do músculo oblíquo externo. O canal inguinal é abaixo da aponeurose do oblíquo externo. Abaixo do canal inguinal há oblíquo interno, transverso do abdome e fáscia transversalis, formando a parede posterior e superior do canal inguinal. Funículo Espermático Formado por: músculo cremaster, ducto deferente com sua artéria e veia, artérias e veias espermáticas externas, conduto peritônio vaginal (descida dos testículos), plexo pampiniforme, ramo genital do nervo genitofemoral. Junto ao funículo, encontramos o nervo íleo-inguinal - o mais frequentemente afetado em reparos abertos anteriores - divide a inervação da coxa interna e da bolsa escrotal com o nervo íleo-hipogástrico, localizado junto à aponeurose do oblíquo externo. Abaixo do canal inguinal estão o músculo oblíquo interno e transverso do abdome - formam a sua parede posterior e superior. As aponeuroses desses músculos inserem-se quase juntas no tubérculo púbico, formando o tendão conjunto. O canal inguinal possui duas aberturas: o anel inguinal externo (na aponeurose do oblíquo externo) e o anel inguinal interno (na parede posterior). Profundamente ao plano do músculo transverso do abdome, encontramos a fáscia transversalis. Abaixo dessa fáscia, está o tecido gorduroso pré-peritoneal e, então, o peritônio. Na parede posterior, existe uma região de maior fraqueza da fáscia transversalis, o triângulo de Hesselbach, que tem como limites o ligamento inguinal, os vasos epigástricos inferiores e a borda lateral do músculo reto abdominal. O canal femoral é limitado anteriormente pelo trato ileopúbico, ligamento de Cooper posteriormente e veia femoral lateralmente. Hérnias Inguinais - Hérnias inguinais são as mais frequentes - 75% do total; - Junto com a hérnia femoral formam as hérnias da virilha; - São muito mais comuns em homens; - Divididas em indiretas e diretas. Brenda Thomas – Universidade Federal da Fronteira Sul - Chapecó Hérnia Inguinal Indireta Secundárias ao não fechamento do conduto peritônio vaginal, que acompanha a descida do testículo. Normalmente, esse conduto é obliterado (ligamento de Cloquet). Quase a totalidade de hérnias inguinais em crianças e adolescentes (ditas “congênitas”). Entram lateralmente aos vasos epigástricos inferiores (pelo anel inguinal interno). Pode acometer adultos por evolução tardia, mas não é comum. Hérnia Inguinal Direta São resultado de alterações adquiridas de enfraquecimento da parede posterior do canal inguinal. Insinua-se medialmente aos vasos epigástricos inferiores - no triângulo de Hasselbach. Avaliação É realizada através de exame clínico. Exames complementares só devem ser solicitados em caso de dúvida diagnóstica ou diagnóstico diferencial, sendo na maioria das vezes a ecografia e em casos mais graves TC de parede abdominal. Os sintomas mais comuns são: sensação de peso e dor mal definida aos esforços na região inguinal. A dor pode ser aguda. Diferenciar sempre entre redutível, encarcerada e estrangulada - tratamentos diferentes. Hérnia Redutível: consegue empurrar de volta, são a maioria. Hérnia Encarcerada: não consegue colocar de volta, não é necessariamente estrangulada mas pode ocorrer. Urgência médica em caso de dor. Tentar reduzir com analgesia + posição de Trendelemburg. Hérnia Estrangulada: ocorre isquemia do conteúdo que saiu. Quando mais rígido o anel maior chance de estrangulamento. Ocorre na maioria dos casos de hérnia femoral. É uma emergência médica. Não pode tentar reduzir a hérnia, pois dessa forma a isquemia poderia progredir ocorrer perfuração e risco de peritonite. Caso durante a indução anestésica ocorra a redução da hérnia, realizar laparotomia exploratória. Hérnia sem sinais de isquemia pode tentar ser reduzida, as que realmente forem são as redutíveis, e as que não são encarceradas. As que tiverem sinal de isquemia são as estranguladas. Buscar fatores desencadeantes (aumento da pressão intra- abdominal): Ascite; Tosse crônica; Obstrução urinária; Constipação; Obesidade; Tumores abdominais (raros). Reduzir ou eliminar esses fatores no pré-operatório gera uma menor recidiva. O exame físico deve ser realizado inicialmente com o paciente em pé. Observar a presença de abaulamentos ao repouso e à manobra de Valsalva. Pode- se introduzir o dedo no anel inguinal externo para identificar o tipo de hérnia - se à manobra de Valsalva a hérnia tocar a ponta do dedo há maior chance de ser indireta, se tocar a polpa do dedo maior chance de ser direta. Classificação de Nyhus Tipo I: hérnia inguinal indireta, com anel inguinal interno normal. Tipo II: hérnia inguinal indireta, com anel inguinal interno dilatado, mas com parede posterior preservada. Tipo III: defeito na parede posterior. - A: hérnia inguinal direta; - B: hérnia inguinal indireta; - C: hérnia inguinal femoral. Tipo IV: hérnia recidivada (pós-cirurgia). Brenda Thomas – Universidade Federal da Fronteira Sul - Chapecó Tratamento É cirúrgico. Em hérnias redutíveis a cirurgia é eletiva. Em hérnia encarcerada, excluída a possibilidade de estrangulamento, pode-se tentar redução manual (manobra de Taxe). No caso de dificuldade pode-se realizar analgesia e posição de Trendelemburg para facilitar a redução. Se reduzir, cirurgia eletiva. Se não reduzir é cirurgia de urgência. Hérnia estrangulada é emergência cirúrgica. Abordagem preferencial pela região inguinal. Se reduzir indevidamente, laparotomia. Em crianças é indicada cirurgia na época do diagnóstico, pois tem maior risco de estrangulamento. Geralmente quando aparece emum lado, abordar o outro lado também mesmo sem sinal clínico de hérnia, pois há maior chance de aparecer posteriormente, em meninas sempre faz abordagem bilateral. É realizada a técnica de Marcy - ligadura alta e estreitamento do anel inguinal interno, sem uso de tela. Em adultos faz-se o reparo livre de tensão com tela sintética não absorvível: Técnica de Lichtenstein, técnica de cirurgia aberta. Realiza-se uma sutura contínua de polipropileno começando desde a sínfise do púbis. Essa técnica diminui as taxas de recidiva. Em caso de recidiva. Se o primeiro procedimento foi aberto, o segundo será por videolaparoscopia e assim respectivamente. Videolaparoscopia Vantagens da abordagem VLP: menor dor no pós-operatório e retorno mais precoce às atividades. Desvantagens da abordagem VLP: custo elevado e maior tempo cirúrgico. OBS: Saber que tanto a técnica aberta como a videolaparoscópica a taxa de recorrência é a mesma. Complicações Complicações da ferida - hematoma, seroma e infecção. Isquêmica - trombose do plexo pampiniforme, pode evoluir para orquite isquêmica. Dor crônica é a complicação mais comum nos reparos livres de tensão. Nervos mais afetados no reparo aberto: genitofemoral, ilioinguinal e iliohipogástrico. Pode-se utilizar medicamentos para dor crônica, como amitriptilina. Uso de ATB profilática (Cefazolina) é adequado quando se faz uso da tela; a tela não aumenta risco de infecção, mas quando presente o tratamento é mais difícil. Nervo mais afetado na VLP: cutâneo femoral lateral genitofemoral. Pode ocorrer recidiva. Hérnias Femorais São mais encontradas em mulheres obesas acima dos 45 anos. Mais frequentes à direita, bilaterais em 20%. Possuem maiores taxas de estrangulamento por causa da rigidez do canal femoral. Insinuam-se abaixo do ligamento inguinal. Por isso a cirurgia é sempre indicada. O tratamento é realizado pelo reparo de McVay - sutura do tendão conjunto no ligamento de Cooper. Atualmente, também se usa tela. São os tipos mais frequentes nas hérnias de Richter, que é uma protrusão de uma parte do intestino. Atentar que as hérnias de Richter podem ocasionar estrangulamento com necrose sem obstrução intestinal Brenda Thomas – Universidade Federal da Fronteira Sul - Chapecó Hérnias Umbilicais É mais comum em crianças negras. Grande tendência de fechamento, principalmente se anel < 2cm. Espera-se o seu fechamento até 4 a 6 anos. Defeitos > 2 cm e derivação ventrículo-peritoneal são indicações de correção mesmo em crianças. Em adultos é geralmente adquirida (trauma, ascite). Indicação de correção na presença de sintomas, grande anel herniário, ascite em cirróticos e encarceramento. O reparo é realizado pela técnica de Mayo ou colocação da tela em defeitos maiores. Outras Hérnias Hérnias epigástricas, acima da cicatriz umbilical. Hérnias incisionais: mais comum na linha média decorrente de infecção no sítio cirúrgico. Leva meses para aparecer após o procedimento. Tratamento através de cirurgia com colocação de tela. Hérnias de Spiegel: entre a borda do músculo reto abdominal e a linha semilunar (de Spiegel), geralmente abaixo da linha arqueada de Douglas (infraumbilical). Hérnia de Littré: quando o saco herniário contém o divertículo de Meckel.
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