Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Julia Paris Malaco – ambulatório gastroenterologia/cirurgia Hérnias da parede abdominal Hérnia é derivada do latim, que significa ruptura e é definida como uma protusão anormal de um órgão ou tecido por um defeito em suas paredes circundantes. É a saída de uma víscera através de uma cavidade abdominal por um orifício neoformado ou pré-formado. Trígono de Hasselbach São defeitos da parede abdominal na região inguinal ou femoral que permitem a saída do peritônio com conteúdo abdominal, geralmente omento e eventualmente íleo terminal, ceco, apêndice cecal e sigmoide, formando abaulamentos e protrusões recidivante ou permanente, facilmente visíveis ao exame da região inguinal ou femoral As hérnias da parede abdominal ocorrem apenas em locais onde a aponeurose e fáscia não são cobertas por músculo estriado: áreas inguinal, femoral, umbilical, linha alba, porção inferior da linha semilunar e locais de incisões anteriores. O colo ou orifício de uma hérnia é localizado na camada musculoaponeurótica mais interna, enquanto o saco herniário é revestido por peritôneo e faz protusão no colo. As hérnias inguinais incluem Hérnias inguinais: A hérnia inguinal aparece no vinco da virilha ou no escroto. Elas são mais comuns entre os homens. Há dois tipos de hérnia inguinal, direta e indireta, dependendo exatamente de onde ela ocorre. Hérnias inguinais também ocorrem em crianças . Hérnias femorais: Uma hérnia femoral pode se desenvolver logo abaixo do vinco da virilha, no meio da coxa, onde a artéria e a veia femoral deixam o abdômen e entram na perna. Esse tipo de hérnia é mais comum entre mulheres As hérnias da parede abdominal (também denominadas hérnias ventrais) incluem Hérnias umbilicais: A hérnia umbilical ocorre ao redor do umbigo. Muitos bebês têm uma pequena hérnia umbilical porque a abertura para o cordão umbilical não foi fechada completamente pelos vasos sanguíneos. Em crianças pequenas, o médico às vezes monitora as hérnias umbilicais para ver se elas se fecham sozinhas. Alguns adultos têm hérnia umbilical devido a obesidade, gravidez ou excesso de líquido no abdômen Hérnias epigástricas: As hérnias epigástricas se formam através de pequenos defeitos naturais na linha média da parede abdominal superior (acima do umbigo). Às vezes, ocorre a formação de uma hérnia incisional através de uma incisão cirúrgica na parede abdominal. Esse tipo de hérnia pode se desenvolver muitos anos depois da cirurgia. Hérnias incisionais Classificação Redutível: quando é possível reposicionar o conteúdo da hérnia entre a musculatura circundante. Encarcerada/irredutível: quando não é possível reposicionar o conteúdo da hérnia entre a musculatura circundante. Com o tempo o anel herniário se dilata e o saco herniário aumenta progressivamente de volume. Podem se formar aderências entre o conteúdo herniário e a parede inguinal, fazendo com que a hérnia se torne permanente, irredutível e encarcerada Estrangulada: quando há comprometimento do suprimento sanguíneo para seus conteúdos. É uma complicação grave. Causada pelo encarceramento agudo através de um anel herniário estreito, que dificulta o retorno do conteúdo herniado. O estrangulamento provoca obstrução intestinal e pode evoluir para isquemia. Se não tratada imediatamente, evolui para necrose e gangrena do conteúdo herniário. Hérnia Direta: a protrusão do saco herniário começa com um ponto v ulnerável da fáscia transversal, no assoalho do triângulo inguinal (triângulo de Hasselbach) e medialmente aos vasos epigástricos inferiores. https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-digestivos/emerg%C3%AAncias-gastrointestinais/h%C3%A9rnia-inguinal https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/dist%C3%BArbios-digestivos-nas-crian%C3%A7as/h%C3%A9rnia-inguinal-em-crian%C3%A7as Julia Paris Malaco – ambulatório gastroenterologia/cirurgia Representam 40-60% dos casos em adultos, sendo 90% no sexo masculino, principalmente em idosos e pacientes debilitados. Hérnia Indireta: é a mais comum em crianças, jovens de ambos os sexos e em mulheres de qualquer idade. No homem, tende a ser mais volumosa que a direta. A protrusão ocorre pelo anel inguinal profundo, lateralmente aos vasos epigástricos inferiores e progride através do cordão espermático entre as fibras do cremaster. Além das alças intestinais, o saco herniário pode conter partes do cólon, da bexiga ou um divertículo de Meckel (hérnia de Littré) Hérnia Mista: são hérnias nas quais existem tanto o com ponente direto, através de defeito do assoalho inguinal, quanto indireta, através do anel inguinal profundo alargado. Pode ocorrer da evolução de uma hérnia indireta que leva à destruição do assoalho da região inguinal. Hérnia inguinal Anatomia Anatomia da região inguino-femoral Pele Tecido adiposo subcutâneo o Fáscia de Camper o Fáscia de Scarpa Aponeurose do músculo oblíquo externo Se a hérnia passar por cima do ligamento inguinal é hérnia direta ou indireta, se passar por trás é hérnia femural. A borda espessa da aponeurose do músculo oblíquo externo (MOE) vai da crista ilíaca até o tubérculo púbico formando o ligamento inguinal (ou de poupart). Existe uma fenda na aponeurose através da qual projeta-se o funículo espermático, chamado de anel inguinal externo. O músculo oblíquo externo é o mais superficial dos músculos da parede abdominal lateral; suas fibras são direcionadas inferior e medialmente e estão situadas profundamente nos tecidos subcutâneos. A aponeurose do músculo oblíquo externo é formada por uma camada superficial e uma profunda. Essa aponeurose, junto com as aponeuroses bilaminares do oblíquo interno e transverso do abdome, forma a bainha anterior do reto e, por fim, a linha alba por intersecção linear. A aponeurose oblíqua externa funciona como o limite superficial do canal inguinal. O ligamento inguinal (ligamento de Poupart) é a margem inferior da aponeurose oblíqua externa e estende- se da espinha ilíaca superior anterior ao tubérculo púbico, inclinando-se posteriormente para formar uma margem em prateleira. O ligamento lacunar é a expansão medial em formato de leque do ligamento inguinal, que se insere no púbis e forma a margem (borda) medial do espaço femoral. O anel inguinal externo (superficial) é uma abertura ovoide da aponeurose oblíqua externa: que é posicionada superior e levemente lateral ao tubérculo púbico. O cordão espermático sai do canal inguinal pelo anel inguinal externo. O músculo oblíquo interno forma a camada média da lateral do complexo muscoloaponeurótico. As fibras do músculo oblíquo interno são direcionadas superior e lateralmente no abdome superior; entretanto, elas correm em uma direção ligeiramente inferior na região inguinal. O músculo oblíquo interno funciona como a margem (borda) cefálica (ou superior) do canal inguinal. A face medial da aponeurose oblíqua interna se funde com fibras da aponeurose do transverso do abdome para formar um tendão conjunto. Essa estrutura na verdade está presente em apenas 5% a 10% dos pacientes e é mais evidente na inserção desses músculos no tubérculo púbico. As fibras do músculo cremastérico se originam do oblíquo interno, englobam o cordão espermático e se fundem à túnica vaginal do testículo. Essas fibras musculares são essenciais para conservar o reflexo cremastérico, mas têm pouca relevância nos resultados dos reparos de hérnias inguinais. Funículo espermático é formado por: músculo cremaster, ducto deferente, ramo genital do nervogênito femoral, plexo venoso pampiniforme, conduto peritôneo vaginal obliterado. A fáscia transversalis localiza-se posteriormente ao músculo oblíquo interno e músculo transverso. Não recobre nenhum músculo, abaixo da fáscia transversalis temos a gordura pre peritoneal. Ao aumentar a pressão intra-abdominal o oblíquo interno e o transverso deslizam a recobrem a fáscia transversalis, impedindo que o conteúdo peritoneal projete-se para o canal inguinal. Julia Paris Malaco – ambulatório gastroenterologia/cirurgia Músculo Transverso do Abdome e Aponeurose e Fáscia Transversal: A camada do músculo transverso do abdome é orientada transversalmente por quase toda sua área; na região inguinal, essas fibras cursam em uma direção para baixo levemente oblíqua. A potência e continuidade desse músculo e aponeurose são importantes para a prevenção da hérnia inguinal. A aponeurose do músculo transverso do abdome envolve ambas as superfícies anterior e posterior. A borda inferior do transverso do abdome é arqueada com o músculo oblíquo interno sobre o anel inguinal interno para formar o arco aponeurótico do músculo transverso do abdome. A fáscia transversal é a camada de tecido conjuntivo que está sob a musculatura da parede abdominal. A fáscia transversal, algumas vezes referida como fáscia endoabdominal, é um componente do assoalho inguinal. Ela tende a ser mais densa nessa área, mas ainda permanece relativamente fina. O trato iliopúbico é uma banda aponeurótica formada pela fáscia transversal e a aponeurose do transverso do abdome e a fáscia. O trato iliopúbico está localizado posterior ao ligamento inguinal, cruza sobre os vasos femorais e insere-se na espinha ilíaca superior anterior e margem interna da asa do ílio. O pilar inferior do anel inguinal profundo é composto pelo trato iliopúbico; o pilar superior do anel profundo é formado pelo arco aponeurótico do transverso. A borda lateral do anel interno é conectada ao músculo transverso abdominal, que forma um mecanismo de obturador para limitar o desenvolvimento de uma hérnia indireta. O trato iliopúbico é uma estrutura muito importante no reparo das hérnias tanto pela abordagem anterior quanto posterior. Ele compreende a margem inferior para a maioria dos reparos anteriores. A porção do trato iliopúbico lateral ao anel inguinal interno funciona como a margem (borda) inferior abaixo da qual grampos não devem ser colocados durante o reparo laparoscópico da hérnia inguinal porque os nervos femoral, cutâneo femoral lateral e genitofemoral estão localizados inferiormente ao trato iliopúbico. Embora ele nem sempre possa ser visualizado durante reparos posteriores, se o dispositivo do grampeador não puder ser palpado na parede abdominal anterior, deve-se assumir que ele está abaixo do trato iliopúbico. Parede posterior do canal inguinal: Na embriogênese o testículo é intra-abdominal e precisa migrar para a bolsa escrotal. Atrás da parede posterior da parede inguinal, ele passa pelo anel inguinal interno e desce o canal inguinal criando um túnel de peritônio que forma o conduto peritôneo vaginal. Depois que o testículo alcança a bolsa escrotal, o conduto peritôneo vaginal fica obliterado para evitar uma comunicação da cavidade peritoneal com o canal inguinal. Hérnia inguinal indireta (mais frequentes): são formadas quando o conduto peritôneo vaginal e não se torna uma estrutura obliterada completamente, por isso, quando é feito algum esforço abdominal, estruturas intra-abdominais se passam pelo anel inguinal interno e descem o canal inguinal. Triângulo de hesselbach: área na fáscia transversalis ainda mais vulnerável a ser projetada pelas estruturas peritoneais. Essa área é formada pelos vasos epigástricos inferiores, projeção posterior do lig. Inguinal e pela borda lateral do reto abdominal. Hérnia inguinal direta: quando estruturas abdominais empurram a fáscia transversalis na região do triângulo de Hesselbach e cai no canal inguinal. Quando o saco herniário estiver localizado lateral aos vasos epigástricos, tem-se uma hérnia inguinal indireta, se for localizado medial aos vasos epigástricos, tem-se uma hérnia direta. Canal femoral Os limites do canal femoral são o trato iliopúbico anteriormente, o ligamento de Cooper posteriormente e a veia femoral lateralmente. O tubérculo púbico forma o ápice do triângulo do canal femoral. Esse canal geralmente contém tecido conjuntivo e tecido linfático. Uma hérnia femoral ocorre através desse espaço e é medial aos vasos femorais. Canal inguinal: Passagem entre a musculatura da parede abdominal apresentando aproximadamente 4cm de extensão no adulto. Julia Paris Malaco – ambulatório gastroenterologia/cirurgia o Manobra de Landivar: diagnostico diferencial para hérnia direta e indireta. O examinador coloca o índex na meia distancia entre o tubérculo púbico e a espinha ilíaca anterossuperior onde v ai detectar o a nel i nguinal profundo como uma pequena depressão na pele, ele pede ao paciente que faça a Manobra de Valsalva: nas hérnias indiretas o examinador sentirá a protrusão herniária na polpa digital, e nas hérnias indiretas a protrusão ocorrera ao lado da polpa digita. Conteúdo do canal inguinal: Homem: funículo espermático: músculo cremaster, ducto deferente com sua artéria e veia espermática externa, conduto peritônio vaginal, plexo pampiniforme e ramo genital do nervo gênito -femoral. Mulher: ligamento redondo do útero. O canal inguinal tem 4 cm de comprimento e está localizado logo acima do ligamento inguinal. O canal estende-se entre os anéis inguinal interno (profundo) e externo (superficial). O canal inguinal contém o cordão espermático em homens e o ligamento redondo uterino nas mulheres. O cordão espermático é composto de fibras do músculo cremastérico, artéria e veias testiculares, além do ramo genital do nervo genitofemoral, ducto deferente, vasos cremastéricos, linfáticos e túnica vaginal. Essas estruturas passam pelo anel inguinal interno, e vasos e ducto deferente saem do anel inguinal externo. O músculo cremaster origina-se das fibras mais inferiores do músculo oblíquo interno e engloba o cordão espermático no canal inguinal. Os vasos cremastéricos são ramos dos vasos epigástricos inferiores e penetram na parede posterior do canal inguinal por seu próprio forame. Esses vasos suprem o músculo cremaster e podem ser seccionados para expor o assoalho do canal inguinal durante reparo de hérnia sem lesar os testículos. O canal inguinal é limitado superficialmente pela aponeurose oblíqua externa. As aponeuroses do músculo oblíquo interno e do transverso do abdome formam a parede cefálica do canal inguinal. A parede inferior do canal inguinal é formada pelo ligamento inguinal e pelo ligamento lacunar. A parede posterior ou assoalho do canal inguinal é formada pela fáscia transversal e pela aponeurose do músculo transverso do abdome. O triângulo de Hesselbach faz parte do assoalho do canal inguinal. Os vasos epigástricos inferiores funcionam como sua borda superolateral, a bainha do reto como margem medial e o ligamento inguinal como a margem inferior. Hérnias diretas ocorrem no triângulo de Hesselbach, enquanto hérnias inguinais indiretas originam-se lateralmente ao triângulo. Não é raro, entretanto, que hérnias inguinais indiretas médias e volumosas, à medida que aumentam em tamanho, envolvam o assoalho do canal inguinal. Os nervos ílio-hipogástrico e ilioinguinal e o ramo genital do nervo genitofemoral são os nervos importantes na região inguinal (Fig. 44-4). Os nervos ílio-hipogástrico e ilioinguinal proporcionam sensibilidade à pele da região inguinal,base do pênis e coxa superior e medial ipsilateral. Os nervos ílio-hipogástrico e ilioinguinal situam-se abaixo do músculo oblíquo interno a um ponto exatamente medial e superior à espinha ilíaca superior anterior, onde penetram o músculo oblíquo interno e localizam-se abaixo da aponeurose oblíqua externa. O tronco principal do nervo ílio- hipogástrico cursa na superfície anterior do músculo oblíquo interno e aponeurose medial e superior ao anel interno. O nervo ílio-hipogástrico pode fornecer um ramo inguinal que se junta ao nervo ilioinguinal. O nervo ilioinguinal situa-se anteriormente ao cordão espermático no canal inguinal e ramifica-se junto ao anel inguinal superficial. O ramo genital do nervo genitofemoral inerva o músculo cremaster e a pele do lado lateral da bolsa escrotal e/ou da vulva. Esse nervo localiza-se no trato iliopúbico e acompanha os vasos cremastéricos para formar um feixe neurovascular. Classificação Quanto a localização Indireta: saem do anel inguinal interno, onde o cordão espermático e o ligamento redondo saem do abdome Homem: saco herniário se situa no funículo espermático. Essas hérnias podem, ou não , se continuarem até a bolsa testicular, sendo então chamadas de inguinio-escrotais. A parte peritoneal do saco herniário é formada pela persistência do processo vaginal. Mulher: persistência de uma bolsa peritoneal que pode se est ender até o lábio maior do pudendo (Canal de Nuck) Direta: protrusão do conteúdo herniário acontece no assoalho do canal inguinal. Saem medialmente aos vasos epigástricos inferiores, dentro do trígono de Hesselbach Femorais: inferiores ao ligamento inguinal, saem pelo canal femoral Julia Paris Malaco – ambulatório gastroenterologia/cirurgia Quanto à etiologia Congênitas: falha no fechamento do processos vaginalis, que é uma invaginação do peritônio parietal que precede a migração dos testículos. Em homens, ocorre associada a uma falha no fechamento do anel inguinal interno. Adquiridas: enfraquecimento ou disrupção dos tecidos fibromusculares da parede abdominal, como pode ocorrer em doenças do tecido conjuntivo, lesão crônica de parede abdominal ou efeito de droga. Classificação de nyhus Tipo I Hérnia inguinal indireta – anel inguinal interno normal (p. ex., hérnia pediátrica) Tipo II Hérnia inguinal indireta – anel inguinal interno dilatado mas parede inguinal posterior intacta; vasos epigástricos profundos inferiores não deslocados Tipo III Defeito da parede posterior A. Hérnia inguinal direta B. Hérnia inguinal indireta – anel inguinal interno dilatado, invadindo os limites medialmente ou destruindo a fáscia transversal do triângulo de Hesselbach (p. ex., hérnia escrotal maciça, por deslizamento ou em pantalonas) C. Hérnia femoral Tipo IV Hérnia recidivada A. Direta B. Indireta C. Femoral D. Combinada Diagnóstico O diagnóstico é feito a partir da anamnese e exame físico. Em geral o paciente se queixa de abaulamento em região inguinal, associado a esforço físico e dor. O exame físico deve ser feito na posição supina e de pé com inspeção e palpação cuidadosa, além da realização da manobra de Valsalva. Em caso de dúvida, pode ser solicitado USG para avaliação do local. Algumas hérnias muito pequenas ou pacientes obesos, necessitam de exame de imagem para o diagnóstico, que nesse caso a TC é o melhor método para avaliação das estruturas do saco herniário Hérnia indireta: Protuberância movendo-se de lateral para medial no canal inguinal (já que o saco herniário está descendo o trajeto inguinal, porque está dentro do conduto peritôneo vaginal). Hérnia direta: Progressão de profunda para superficial através do assoalho inguinal (significa que o saco herniário está vindo da parede posterior, está sendo empurrada de dentro para fora). Hérnia estrangulada: Ao exame local, encontramos a tumoração distendida, dura, com a pele quente, rubra e tensa. Qualquer manobra tentando reduzir o conteúdo provoca fortes dores. Não conseguimos introduzir o dedo no anel inguinal, pois o paciente acusa dores e o conteúdo enche todo o saco herniário. A ausculta do abdome revela desaparecimento dos ruídos intestinais Diagnóstico diferencial: hidrocele, varicocele, linfonodos megaliais inguinais, lipomas, tumores no testículo e epidídimo, cistos Tratamento Cirúrgico Bassini – sutura dos arcos músculo- aponeuróticos do músculo transverso e do músculo obliquo interno. Shouldice - reforço da parede posterior do canal inguinal usando 4 camadas de sutura continua. Utiliza anestésico local. Lichtenstein – Reparação livre de tensão: uso de tela para hérnias inguinais; o Tension free ; o Tela de polipropileno (Marlex) Stoppa – uso de tela para hérnias bilaterais. Hérnias femorais Uma hérnia femoral ocorre pelo canal femoral, que é limitado superiormente pelo trato iliopúbico, inferiormente pelo ligamento de Cooper, lateralmente pela veia femoral e medialmente pela junção do trato iliopúbico e do ligamento de Cooper (ligamento lacunar). Uma hérnia femoral produz uma tumoração ou protuberância abaixo do ligamento inguinal. Às vezes, algumas hérnias femorais se apresentarão sobre o canal inguinal. Nessa situação, o saco herniário femoral ainda existe inferiormente ao ligamento inguinal através do canal femoral, mas ascende em uma direção cefálica. Aproximadamente 50% dos homens com uma hérnia femoral terão uma hérnia inguinal direta associada, enquanto essa relação ocorre em apenas 2% das mulheres. Julia Paris Malaco – ambulatório gastroenterologia/cirurgia Uma hérnia femoral pode ser tratada usando-se o reparo do ligamento de Cooper, uma abordagem pré-peritoneal, ou uma abordagem laparoscópica. Os elementos essenciais do reparo da hérnia femoral incluem dissecção e a redução do saco herniário e obliteração do defeito no canal femoral, ou por aproximação do trato iliopúbico ao ligamento de Cooper ou por colocação de uma prótese de tela para obliterar o defeito. A incidência de estrangulamento nas hérnias femorais é alta; portanto, todas as hérnias femorais devem ser reparadas, e as hérnias femorais encarceradas devem ter os conteúdos do saco herniário examinados quanto à viabilidade. Em pacientes com comprometimento intestinal, a abordagem do ligamento de Cooper é a técnica preferida porque a tela está contraindicada. Quando os conteúdos encarcerados de uma hérnia femoral não podem ser reduzidos, a secção do ligamento lacunar é mandatória. Costuma ser assintomática, sobretudo nos idosos. O paciente pode queixar de aba ulamento intermitente e sensibilidade ou dor na coxa próximo à virilha. Tratamento cirúrgico: Técnica de McVay – aproximação e sutura do arco aponeurótico do músculo transverso ao ligamento de Cooper com pontos separados. Hérnia umbilical A hérnia umbilical, também chamada de hérnia no umbigo, corresponde a uma saliência que aparece na região do umbigo e que é formada por gordura ou por parte do intestino que conseguiu atravessar o músculo abdominal. Esse tipo de hérnia é mais frequente em crianças Em crianças são congênitas e muito comuns. Se fecham espontaneamente na maioria dos casos por volta dos 2 anos de idade. Aquelas que persistem até 5 anos de idade são com frequência reparadas por operação, embora complicações relacionadas com essas hérnias em crianças sejam incomuns. Nos adultos são adquiridas. São mais comuns em mulheres e pacientes com condições que resultam em pressão intra abdominal aumentada como gravidez, obesidade, ascite ou distensão abdominal. Estrangulamento é incomum, entretanto pode ocorrerem condições de ascite crônica. Hérnias umbilicais assintomáticas pequenas que só são detectáveis no exame, não precisam de reparo. Tratamento: Pequenos defeitos são fechados primariamente após separação do saco herniário, umbigo e fáscia circundante. Já os defeitos maiores que 3 cm são fechados usando prótese de malha. As opções para implante de malha incluem um suporte de transposição do defeito, colocação de um calço pre peritoneal de malha reforçado com reparo de sutura, ou colocando o laparoscopicamente. Não existe consenso universal sobre o método mais apropriado de reparo de hérnia umbilical. Hérnia incisional ou ventral A hérnia ventral é definida por uma protrusão através da fáscia da parede abdominal anterior. Esses defeitos podem ser classificados como espontâneos ou adquiridos, ou por sua localização na parede abdominal. Hérnias epigástricas ocorrem entre o processo xifoide e o umbigo, hérnias umbilicais ocorrem na cicatriz umbilical, e hérnias hipogástricas são raras hérnias espontâneas que ocorrem abaixo do umbigo na linha média. Hérnias adquiridas ocorrem normalmente após incisões cirúrgicas e são, portanto, denominadas hérnias incisionais. Embora não seja uma hérnia verdadeira, a diástase dos retos pode apresentar-se como uma protrusão da linha média. Nessa condição, a linha alba é estirada, resultando em uma convexidade nas margens mediais dos músculos retos. Diástase da parede abdominal pode ocorrer em outros locais além da linha média. Não existe anel fascial ou saco herniário, e, a menos que significativamente sintomática, evita-se a correção cirúrgica. Anatomia A anatomia da parede abdominal anterior é direta e consideravelmente mais fácil de se apreender do que a anatomia da área inguinal. Entretanto, uma compreensão clara do suprimento sanguíneo e da inervação do abdome é importante quando da realização de reconstrução da parede abdominal. A musculatura lateral é composta de três camadas, com os fascículos de cada uma direcionados obliquamente em ângulos diferentes para criar um invólucro forte para os conteúdos abdominais. Cada um desses músculos formam uma aponeurose que se insere na linha alba, uma estrutura da linha média juntando ambos os lados Julia Paris Malaco – ambulatório gastroenterologia/cirurgia da parede abdominal. O oblíquo externo é o músculo mais superficial da parede abdominal lateral. Profundamente ao oblíquo externo localiza-se o músculo oblíquo interno. As fibras do oblíquo externo cursam na direção inferomedial (como mãos nos bolsos), enquanto as fibras do músculo oblíquo interno correm profundamente às do oblíquo externo e opostas a ele. A camada muscular mais profunda da parede abdominal é a do músculo transverso do abdome. Suas fibras cursam em uma direção horizontal. Esses três músculos laterais dão origem às camadas aponeuróticas laterais ao músculo reto abdominal, que contribuem para as camadas anterior e posterior da bainha do reto. A extensão medial da aponeurose do oblíquo externo forma a camada anterior da bainha do reto. Na linha média, as duas bainhas anteriores do reto formam a linha alba tendinosa. Em ambos os lados da linha alba estão os músculos retos do abdome, cujas fibras são direcionadas longitudinalmente e percorrem a extensão da parede anterior do abdome. Abaixo de cada músculo reto localiza-se a camada posterior da bainha do reto, que também contribui para a linha alba. Outra estrutura anatômica importante da parede abdominal anterior é a linha arqueada, que se localiza 3 a 6 cm abaixo do umbigo. A linha arqueada delineia o ponto abaixo do qual a bainha posterior do reto está ausente. Acima da linha arqueada, a aponeurose do músculo oblíquo interno contribui para as bainhas anterior e posterior do reto, e a aponeurose do músculo transverso do abdome passa posteriormente ao músculo reto para formar a bainha posterior do reto. Abaixo da linha arqueada, as aponeuroses do oblíquo interno e do transverso do abdome passam completamente anterior ao músculo reto (Fig. 44-9). A aponeurose posterior da bainha do reto abaixo da linha arqueada é composta apenas pela fáscia transversal e peritônio. A parede abdominal recebe grande parte de sua inervação dos nervos intercostais 7 a 12 e os primeiros e segundos nervos lombares. Esses ramos fornecem inervação para os músculos abdominais laterais e o músculo reto e a pele sobrejacente. Os nervos atravessam a parede abdominal lateral entre o músculo transverso abdominal e oblíquo interno e penetram a bainha do reto posterior imediatamente medial à linha semilunar. Os músculos abdominais laterais recebem sua irrigação sanguínea das três ou quatro artérias intercostais inferiores, artéria ilíaca circunflexa profunda e artérias lombares. O reto abdominal tem um suprimento sanguíneo mais complexo derivado da artéria epigástrica superior (um ramo terminal da artéria mamária interna), a artéria epigástrica inferior (um ramo da artéria ilíaca externa) e artérias intercostais inferiores. As artérias epigástricas superiores e inferiores se anastomosam próximo do umbigo. A área periumbilical fornece vasos perfurantes críticos que, se preservados, podem diminuir a necrose do retalho de pele durante extensivas ressecções da pele Hérnia umbilical A cicatriz umbilical é formada pelo anel umbilical da linha alba. Intra-abdominalmente, o ligamento redondo (ligamentum teres) e as veias paraumbilicais juntam-se ao umbigo superiormente, e o ligamento umbilical médio (úraco obliterado) entrainferiormente. As hérnias umbilicais nas crianças são congênitas e bastante comuns. Elas se fecham espontaneamente na maioria dos casos por volta de dois anos de idade. Aquelas que persistem após cinco anos de idade são com frequência reparadas por procedimento cirúrgico, embora complicações relacionadas com essas hérnias em crianças sejam incomuns. Há uma forte predisposição para o desenvolvimento dessas hérnias em indivíduos descendentes de africanos. Nos Estados Unidos, a incidência de hérnia umbilical é oito vezes mais alta em crianças afro-americanas que nas brancas. As hérnias umbilicais em adultos são em sua maioria adquiridas. Essas hérnias são mais comuns em mulheres e em pacientes com condições que resultam em pressão intra-abdominal aumentada, como gravidez, obesidade, ascite ou distensão abdominal. A hérnia umbilical é mais comum entre indivíduos que têm apenas um único cruzamento aponeurótico de linha média, comparado com o cruzamento normal das fibras de todos os três músculos abdominais laterais. O estrangulamento é incomum na maioria dos pacientes; entretanto, pode ocorrer estrangulamento ou ruptura em condições de ascite crônica. Hérnias umbilicais assintomáticas pequenas, apenas detectáveis no exame, não precisam de reparo. Os adultos que têm sintomas, uma hérnia volumosa, encarceramento, adelgaçamento da pele sobrejacente ou ascite incontrolável devem se submeter ao reparo da hérnia. A ruptura espontânea das hérnias umbilicais em pacientes com ascite pode resultar em peritonite e morte. Classicamente, o reparo era feito usando-se o reparo em jaquetão proposto por Mayo, que emprega imbricação das margens fasciais superior e inferior. Em função da maior tensão https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150461/epub/OEBPS/Text/B9788535288575000443_1.xhtml#f0050 Julia Paris Malaco – ambulatório gastroenterologia/cirurgia sobre o reparo e taxas de recidiva de quase 30% com o acompanhamento a longo prazo, o reparo de Mayo raramente é realizado hoje em dia. Em vez disso, pequenos defeitos são fechados primariamente após separação, do saco herniário, do umbigo sobrejacente e da fáscia circundante. Defeitos maiores que 3 cm são fechados usandotelas como prótese. Existem várias técnicas para colocar essas telas e nenhum dado prospectivo encontrou conclusivamente vantagens claras de uma técnica sobre outra. As opções para colocação de tela incluem um suporte de transposição do defeito, a posição de um calço pré-peritoneal de tela reforçado com reparo de sutura, ou colocando-o laparoscopicamente. A técnica laparoscópica exige anestesia geral e provavelmente é reservada para defeitos maiores ou hérnias umbilicais recidivadas. Não existe consenso universal sobre o método mais apropriado de reparo de hérnia umbilical. Hérnia Epigástrica Aproximadamente 3% a 5% da população têm hérnias epigástricas. As hérnias epigástricas são duas a três vezes mais comuns em homens. Essas hérnias estão localizadas entre o processo xifoide e cicatriz umbilical e são geralmente 5 a 6 cm do umbigo. Como as hérnias umbilicais, as hérnias epigástricas são mais comuns em indivíduos com um único cruzamento aponeurótico. Os defeitos são pequenos e, em geral, produzem dor fora de proporção para seu tamanho, em virtude do encarceramento de gordura pré-peritoneal. Eles são múltiplos em até 20% dos pacientes e de aproximadamente 80% na linha média. O reparo geralmente consiste na excisão do tecido pré- peritoneal encarcerado e fechamento simples do defeito fascial, semelhante ao das hérnias umbilicais. Os defeitos pequenos podem ser reparados sob anestesia local. Raramente, esses defeitos podem ser de grande tamanho e conter omento ou outra víscera intra-abdominal e podem exigir reparos com tela. Aconselha-se o reparo das hérnias epigástricas porque o defeito é pequeno e a gordura que herniou da cavidade peritoneal é difícil de reduzir. Hérnia Incisional De todas as hérnias encontradas, as hérnias incisionais podem ser as mais frustrantes e difíceis de tratar. As hérnias incisionais ocorrem como resultado de tensão excessiva e cicatrização inadequada de uma incisão prévia, que, em geral, se associa a infecção do acesso cirúrgico. Essas hérnias aumentam de volume ao longo do tempo, provocando dor, obstrução intestinal, encarceramento e estrangulamento. Obesidade, idade avançada, desnutrição, ascite, gravidez e condições que aumentam a pressão intra- abdominal são fatores que predispõem ao desenvolvimento de uma hérnia incisional. A obesidade pode causar a ocorrência de uma hérnia incisional, devido à maior tensão na parede abdominal proporcionada pelo tamanho excessivo de um panículo espesso e grande massa omental. A doença pulmonar crônica e o diabetes mellitus também foram reconhecidos como fatores de risco do desenvolvimento da hérnia incisional. Medicamentos como corticosteroides e agentes quimioterápicos e infecção do local cirúrgico podem contribuir para a cicatrização deficiente da ferida e aumentam o risco de desenvolvimento de hérnia incisional. Hérnias volumosas podem resultar em perda do domínio abdominal, que ocorre quando os conteúdos abdominais não mais estão na cavidade abdominal. Esses grandes defeitos da parede abdominal também podem resultar da incapacidade de fechar o abdome primariamente por causa de edema do intestino, tamponamento abdominal, peritonite e laparotomia repetida. Com perda do domínio, a rigidez natural da parede abdominal torna-se comprometida, e a musculatura abdominal em geral é retraída. Pode ocorrer disfunção respiratória porque esses grandes defeitos ventrais provocam movimento respiratório abdominal paradoxal. A perda do domínio abdominal também pode resultar em edema do intestino, estase do sistema venoso esplâncnico, retenção urinária e constipação. O retorno da víscera deslocada à cavidade abdominal durante reparo pode gerar maior pressão abdominal, síndrome compartimental abdominal e insuficiência respiratória aguda. Não existe um mecanismo simples para descrever a complexidade de uma hérnia incisional ventral. O tamanho do defeito, localização na parede abdominal, perda de domínio, comorbidades do paciente, presença de contaminação, necessidade de ostomia, apresentação aguda e história de reparações prévias com ou sem prótese permitem um número infinito de possibilidades. A ausência de um sistema de classificação universal causou comparações dentro da literatura e em reuniões, atrasando indiretamente as conversações mais significativas sobre as técnicas de reparação e escolha da prótese. O modelo TNM para estadiamento do câncer é um modelo invejável, que deve ser perseguido para a reparação das hérnias. Como tal, um grupo recente tentou estratificar as hérnias ventrais em estágios usando um número limitado Julia Paris Malaco – ambulatório gastroenterologia/cirurgia de variáveis pré-operatórias para prever com acuidade os dois resultados cirúrgicos mais significativos: taxas de ocorrência no local cirúrgico (OLC) e de recidiva herniária a longo prazo. Duas das ferramentas mais populares para classificação das hérnias ventrais até esta data foram geradas pela opinião de peritos: a escala do Ventral Hernia Working Group e o sistema da European Hernia Society. A escala do Ventral Hernia Working Group usa as comorbidades do paciente e a classe da ferida para prever o risco de OLC. O sistema da European Hernia Society avalia a largura e localização da hérnia; foi inicialmente desenhado para reunir dados sobre o risco de recidiva.40 Utilizando dados de 333 reparações de hérnia ventral sem filtro para a técnica, os investigadores apresentaram uma análise multivariada que identificou a largura da hérnia (<10 cm, 10 a 20 cm, ≥20 cm) e a presença de contaminação como as duas variáveis associadas com morbidade da ferida (OLC) e recidiva da hérnia. A localização da hérnia e as comorbidades do paciente não foram significativas neste modelo para qualquer medida de resultado. As hérnias puderam ser agrupadas em estágios (I a III) utilizando apenas a largura e a classe da ferida, com aumentos ordinais em ambas as medidas de resultados. As hérnias de estágio I são menores do que 10 cm/limpas e associadas com baixa OLC e baixo risco de recidiva. As hérnias de estágio II têm 10 a 20 cm/limpas ou menores de 10 cm/contaminadas e têm um risco intermediário de OLC e recidiva. As hérnias em estágio III têm 10 cm ou mais/contaminadas ou qualquer hérnia com 20 cm ou mais, e estas estão associadas com OLC e risco de recidiva mais elevados. Taxas de ocorrência no local cirúrgico (OLC) de recidiva ESTAGIO 1 Baixa recidiva, baixa OLC <10cm limpa Taxa de 10% ESTAGIO 2 Recidiva moderada, OLC moderada <10cm contaminada 10 a 20cm limpa Taxa de 20% ESTAGIO 3 Recidiva elevada, OLC elevada >10 cm contaminada Qualquer >20cm Taxa de 40% Tratamento: O reparo cirúrgico das hérnias incisionais pode ser feito quando o defeito é menor que 2 cm e existe tecido circundante viável. Defeitos grandes tem alta taxa de recidiva se fechados primariamente e são reparados com prótese de malha. O material da prótese pode ser colocado como um enxerto de remendo para reforçar um reparo de tecido, interposto entre o defeito fascial, em forma de sanduíche entre os panos de tecido ou colocando em uma posição intraperitoneal. Hérnias incomuns Hérnia de Spiegel: A hérnia de Spiegel ocorre através da fáscia de Spiegel, que é composta do folheto aponeurótico entre o músculo reto medialmente e a linha semilunar lateralmente. Quase todas as hérnias de Spiegel ocorrem na linha arqueada ou abaixo dela. A ausência da fáscia na parte posterior do reto pode contribuir para uma fraqueza inerente nessa área. Essas hérnias em geral são interparietais, com o saco herniário situando-se posteriormente à aponeurose do oblíquo externo. A maioria das hérnias de Spiegel é de pequeno tamanho (1 a 2 cm de diâmetro)e se desenvolve durante a quarta até a sétima década de vida. Os pacientes em geral apresentam-se com dor localizada na região, sem uma protuberância, porque a hérnia se localiza abaixo da aponeurose do oblíquo externo. O ultrassom ou a TC do abdome podem ser úteis para estabelecer o diagnóstico. Apresenta-se como dor ou protrusão em ponto do cruzamento da linha semilunar de Spieghel, que é uma zona de transição entre a fáscia do reto anterior e as bainhas dos músculos laterais do abdome e a linha semilunar de Douglas. Pode ser indetectável, sendo suspeitada pela queixa de dor bem localizada referida Uma hérnia de Spiegel é reparada em função do risco de encarceramento associado a seu colo relativamente estreito. O local da hérnia é marcado antes da operação. Uma incisão transversa é feita sobre o defeito e orientada através da aponeurose do oblíquo externo. O saco herniário é aberto e dissecado até o colo da hérnia e, então, excisado ou invertido. O defeito é fechado transversalmente por sutura simples dos músculos transverso do abdome e oblíquo interno, seguida pela síntese da aponeurose do oblíquo externo. Os grandes defeitos são reparados usando-se uma tela como prótese. A recidiva é rara. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150461/epub/OEBPS/Text/B9788535288575000443_2.xhtml#bib0205 Julia Paris Malaco – ambulatório gastroenterologia/cirurgia Hérnia do Obturador: O canal do obturador é formado pela união dos ossos púbis e ísquio. Esse canal é atapetado por uma membrana trespassada na borda medial e superior pelo nervo obturador e vasos. O enfraquecimento da membrana do obturador pode resultar no alargamento do canal e formação de um saco herniário, que pode levar ao encarceramento intestinal e estrangulamento. O paciente pode apresentar evidência de compressão do nervo obturador, que causa dor na face anteromedial da coxa (sinal de Howship-Romberg), que é aliviada pela flexão da coxa. Quase 50% dos pacientes com hérnia do obturador evoluem com obstrução intestinal parcial ou completa. Se necessário, uma tomografia computadorizada do abdome pode estabelecer o diagnóstico. Sinal de Howship – Romberg : dor na face medial da coxa com irradiação para joelho. É mais frequente no sexo feminino e em pessoas delimitadas. O diagnóstico pré - operatório é difícil. Os sinais e sintomas são devido à compressão do nervo obturador. A abordagem posterior por cirurgia, aberta ou laparoscópica, é preferida. Essa abordagem permite o acesso direto à hérnia. Após a redução do conteúdo do saco herniário, qualquer gordura pré-peritoneal no interior do canal obturador deve ser reduzida. Se necessário, o forame obturador é aberto para identificação dos nervos e vasos. O nervo obturador deve ser manipulado delicadamente com reparo rombo para facilitar a redução de blocos de gordura. O forame obturador é reparado com tela como prótese, tomando-se cuidado para evitar lesão do nervo obturador e vasos. Pacientes com comprometimento intestinal geralmente necessitam de laparotomia. Hérnia Lombar: As hérnias lombares podem ser congênita ou adquirida após uma operação no flanco e ocorrem na região lombar da parede abdominal posterior. Hérnias através do triângulo lombar superior (triângulo de Grynfeltt) são as mais comuns. O triângulo lombar superior é limitado pela 12a costela, músculos paraespinais e músculo oblíquo interno. Menos comuns são as hérnias através do triângulo lombar inferior (triângulo de Petit), que é limitado pela crista ilíaca, músculo grande dorsal e músculo oblíquo externo. A fraqueza da fáscia lombodorsal através de quaisquer dessas áreas resulta em protrusão progressiva de gordura extraperitoneal e um saco herniário. As hérnias lombares não são propensas ao encarceramento. Pequenas hérnias lombares são frequentemente assintomáticas. Hérnias maiores podem estar associadas à dor lombar. A TC é útil para o diagnóstico. Trígono lombar superior de Grynefelt: o Trígono lompar superior é o local mais comum das hérnias lombares; é delimitado superiormente pela 12ª costela, lateralmente pelo músculo oblíquo interno, medialmente pela musculatura da goteira vertebral e inferiormente pelo músculo serrátil póstero- inferior. Trígono lombar inferior de Petit: o Trígono lombar é delimitado inferiormente pela crista ilíaca, lateralmente pelo oblíquo externo e medialmente pelo músculo grande dorsal, e como assoalho o s músculos : oblíquo interno e transverso. Reparos abertos e laparoscópicos são úteis. O reparo satisfatório com sutura é difícil em função das margens ósseas fixas desses defeitos. O reparo é melhor executado mediante colocação de tela como prótese, que é suturada além das margens da hérnia. Em geral, existe fáscia suficiente sobre o osso para ancorar a tela. Hérnia Interparietal: As hérnias interparietais são raras e ocorrem quando o saco herniário se localiza entre os músculos da parede abdominal. Essas hérnias ocorrem mais frequentemente após incisões prévias. As hérnias de Spiegel são quase sempre interparietais. O diagnóstico pré-operatório correto da hérnia interparietal pode ser difícil. Muitos pacientes com hérnias interparietais complicadas apresentam-se com obstrução intestinal. A TC abdominal pode ajudar no diagnóstico. Volumosas hérnias interparietais em geral exigem a colocação de uma tela como prótese para sua correção. Quando isso não pode ser realizado, a técnica de separação dos componentes musculares pode ser útil para proporcionar tecidos naturais para obliterar o defeito. Hérnia Isquiática: O forame isquiático maior pode ser um local de formação de hérnia. Essas hérnias são incomuns e difíceis de diagnosticar e, com frequência, são assintomáticas até ocorrer obstrução intestinal. Na ausência de obstrução intestinal, o sintoma mais comum é a presença de uma sensação desconfortável na região glútea ou intraglútea ou mesmo a presença de fístulas. Pode ocorrer dor do nervo ciático, mas a hérnia isquiática é uma causa rara de neuralgia ciática. Uma abordagem transperitoneal é preferida caso se suspeite de obstrução intestinal ou estrangulamento. Os conteúdos da hérnia em geral podem ser reduzidos com tração delicada. Julia Paris Malaco – ambulatório gastroenterologia/cirurgia O reparo com tela como prótese é geralmente o preferido. Grampos podem ser usados se o diagnóstico é correto, mas a maioria dos cirurgiões não está familiarizado com essa abordagem. Com o paciente em posição prona, uma incisão é feita na borda posterior do trocanter maior através da massa da hérnia. O músculo glúteo maior é aberto, e o saco herniário visualizado. As bordas musculares do defeito são reaproximadas com suturas interrompidas, ou o defeito é obliterado com tela. Hérnia Perineal: As hérnias perineais são causadas por defeitos congênitos ou adquiridos e são pouco frequentes. Essas hérnias também podem ocorrer após ressecção abdominoperineal ou prostatectomia perineal. O saco herniário faz protrusão através do diafragma pélvico. Hérnias perineais primárias são raras, como ocorre em idosos e mulheres multíparas, e podem ser volumosas. Os sintomas em geral relacionam-se com a protrusão de uma tumoração pelo defeito, que se exacerba ao sentar ou ficar de pé. Uma protuberância é frequentemente detectada no exame retovaginal bimanual. As hérnias perineais são geralmente tratadas por uma abordagem transabdominal ou abordagens transabdominal e perineal combinadas. Após a redução do conteúdo do saco herniário, pequenos defeitos podem ser fechados com sutura inabsorvível, enquanto os defeitos maiores são reparados com próteses. Perdade Domínio das Hérnias: Perda do domínio implica uma hérnia volumosa, na qual o conteúdo herniário tenha residido por muito tempo fora da cavidade abdominal e que não pode simplesmente ser reintroduzido na cavidade peritoneal. Normalmente, classificamos de perda de domínio das hérnias em pacientes com e sem contaminação pré-operatória. Cada grupo é então subdividido em dois grupos. Pacientes com pequenos defeitos e um saco herniário volumoso (p. ex., hérnias inguinoescrotais volumosas) que necessitam de restauração do domínio da cavidade peritoneal, enquanto pacientes com um grande defeito e um saco herniário volumoso (abdome aberto com enxerto de pele) necessitam de restauração do domínio peritoneal e reconstrução complexa da parede abdominal. Antes da correção desses defeitos complexos, o paciente deve realizar avaliação pré-operatória cuidadosa. Um entendimento claro da morbidade e mortalidade associadas a esses procedimentos reconstrutivos é fundamental. Redução de peso, suspensão do tabagismo, reeducação alimentar e controle de glicose são todos aspectos importantes da reconstrução do complexo da parede abdominal. Originalmente, os métodos para alongar gradualmente a parede abdominal eram usados para permitir restauração do domínio abdominal e fechamento. Isso era feito por insuflação de ar na cavidade abdominal para criar um pneumoperitônio progressivo. As administrações repetidas de maiores volumes de ar em uma a três semanas permitiam que os músculos da parede abdominal se tornassem relaxados o suficiente para o fechamento primário do defeito. Esta técnica é particularmente adequada para pequenos defeitos e sacos herniários volumosos.65 Para grandes defeitos, alguns autores também descreveram uma abordagem em estágios utilizando a tela dupla em PTFEe para pacientes com perda de domínio abdominal e retração lateral da musculatura da parede abdominal. O estágio inicial envolve a redução da hérnia e colocação de uma grande tela de malha dupla de PTFEe presa às bordas fasciais com uma sutura contínua. Os estágios subsequentes envolvem ressecções elípticas seriadas da tela até a fáscia poder ser aproximada na linha média sem tensão. Finalmente, a tela é completamente ressecada e a fáscia é reaproximada com separação dos componentes da parede abdominal e, se necessário, coloca-se um enxerto biológico.66 Essa abordagem é tecnicamente exequível, mas necessita de múltiplas operações e tempos de internamento mais longos e está associada a uma taxa de morbidade consideravelmente mais elevada. Hénia de Littré: o conteúdo é o Divertículo de Meckel no saco herniário Problemas especiais Hérnia por Deslizamento: A hérnia por deslizamento ocorre quando um órgão interno integra uma porção da parede do saco herniário. As vísceras mais comumente envolvidas são o cólon ou a bexiga. A maioria das hérnias por deslizamento é uma variante de hérnias inguinais indiretas, embora hérnias femorais e hérnias diretas por deslizamento possam ocorrer. O primeiro perigo associado a uma hérnia por deslizamento é a falha em se reconhecer o componente visceral do saco herniário antes de ocorrer a lesão da bexiga ou intestino. Os conteúdos da hérnia por deslizamento são reduzidos na cavidade peritoneal e qualquer saco herniário em excesso é ligado e seccionado. Após a redução da hérnia, uma das técnicas mencionadas pode ser utilizada para o reparo da hérnia inguinal. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150461/epub/OEBPS/Text/B9788535288575000443_2.xhtml#bib0330 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150461/epub/OEBPS/Text/B9788535288575000443_2.xhtml#bib0335 Julia Paris Malaco – ambulatório gastroenterologia/cirurgia Hérnia Recidivada: O reparo das hérnias inguinais recidivadas é desafiador, e os resultados estão associados à incidência mais alta de recidiva secundária. As hérnias recidivadas quase sempre requerem colocação de prótese de tela para um reparo bem-sucedido. A exceção é quando uma prótese infectada está associada com uma hérnia recorrente. As recidivas após hernioplastia anterior usando tela são muito mais bem tratadas por abordagem laparoscópica ou cirurgia aberta posterior com colocação de uma segunda prótese. Hérnia Estrangulada: O reparo de uma hérnia com suspeita de estrangulamento é mais seguro usando-se uma abordagem pré-peritoneal (ver anteriormente). Com essa exposição, os conteúdos do saco herniário podem ser diretamente visualizados e sua viabilidade avaliada por meio de uma única incisão. O anel constritor é identificado e pode ser incisado para redução da víscera aprisionada com mínimo perigo para os órgãos circundantes, vasos sanguíneos e nervos. Se for necessário ressecar o intestino estrangulado, o peritônio pode ser aberto e a ressecção feita sem a necessidade de uma segunda incisão. Hérnias Bilaterais: A abordagem do reparo das hérnias inguinais bilaterais baseia-se na extensão do defeito herniário. Reparo simultâneo de hérnias bilaterais tem uma taxa de recidiva semelhante ao reparo unilateral, independentemente da técnica utilizada, seja aberta ou laparoscópica.25 A utilização de um reforço com uma tela maior para grandes sacos viscerais (reparo de Stoppa)9 ou o reparo laparoscópico é preferido para reparo simultâneo das hérnias inguinais bilaterais. Complicações: Há uma série de complicações relacionadas ao reparo de hérnia inguinal aberta e laparoscópica. Algumas são complicações gerais que estão relacionados com doenças subjacentes e os efeitos da anestesia. Estes variam por risco e população. Além disso, existem complicações técnicas que estão diretamente relacionadas com o tratamento. As complicações técnicas são influenciadas pela experiência do cirurgião e são mais frequentes durante e após reparo de hérnias recidivadas. Existem maiores problemas de cicatrização e alteração da anatomia com a recidiva da hérnia, o que pode resultar em dificuldade na identificação de estruturas importantes na intervenção cirúrgica. Essa é a principal razão por que recomendamos o uso de uma abordagem diferente para hérnias recidivadas. Complicações Infecção das Telas: As infecções das telas são complicações sérias que podem ser de tratamento muito difícil. Se houver infecção do PTFEe, há que se fazer sua remoção com a resultante morbidade de outro defeito que, em geral, precisa ser fechado sob tensão, o que leva a inevitável recidiva. No reparo convencional da hérnia ventral, as infecções incisionais e das telas não são infrequentes. Usando a técnica laparoscópica, pode-se colocar um grande segmento de tela sem prejudicar o tecido subcutâneo evitando-se, assim, as complicações da ferida. Em uma série de quase 1.000 pacientes que tiveram reparo laparoscópico de hérnia ventral, as infecções da tela ocorreram em menos de 1% dos casos.72 Talvez a maior vantagem da abordagem laparoscópica para reparo de hérnias ventrais seja essa redução das complicações infecciosas. Dois ensaios controlados randomizados compararam reparo laparoscópico e o tratamento convencional nas hérnias ventrais. Seromas: A formação de seroma pode ocorrer após reparo laparoscópico e/ou cirurgia convencional nas hérnias ventrais. Na cirurgia convencional, os drenos em geral são colocados na tentativa de aspirar as coleções localizadas no espaço morto causado pela generosa dissecção tecidual. Esses drenos podem causar contaminação da tela, e os seromas podem formar-se após a retirada do dreno. Com o reparo laparoscópico, o saco herniário não é ressecado e resultará uma cavidade de seroma. A maioria desses seromas desaparecerá à medida que a tela se incorpora ao saco herniário. A informação pré- -operatória ao paciente detalhando a possibilidadeda formação de um seroma temporário é imperativa antes do reparo laparoscópico da hérnia ventral. Reservamos aspiração para seromas sintomáticos ou persistentes após seis a oito semanas. Enterotomia: A lesão intestinal durante a lise de aderências pode ser catastrófica. O tratamento de uma enterotomia durante o reparo da hérnia é controvertido e depende do segmento do intestino lesado (delgado versus intestino grosso) e volume de conteúdo intestinal extravasado. As opções incluem abortar o reparo da hérnia, usando um reparo de tecido primário ou tecido biológico, ou realizando um reparo retardado com tela após três ou quatro dias. Quando há contaminação grosseira, o uso de prótese tipo tela está contraindicado https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150461/epub/OEBPS/Text/B9788535288575000443_2.xhtml#bib0130 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150461/epub/OEBPS/Text/B9788535288575000443_2.xhtml#bib0050 https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150461/epub/OEBPS/Text/B9788535288575000443_2.xhtml#bib0365
Compartilhar