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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DDIISSSSEERRTTAAÇÇÃÃOO DDEE MMEESSTTRRAADDOO PPRROOFFIISSSSIIOONNAALL EEMM AADDMMIINNIISSTTRRAAÇÇÃÃOO PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA O PROCESSO DE BENCHMARKING NO REFINO BRASILEIRO RODRIGO BATISTA DE OLIVEIRA ORIENTADOR: PROF. DR. LUIZ FLÁVIO AUTRAN MONTEIRO GOMES Rio de Janeiro, 24 de Fevereiro de 2014 PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA O PROCESSO DE BENCHMARKING NO REFINO BRASILEIRO RODRIGO BATISTA DE OLIVEIRA Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissional em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de concentração: Gestão das Organizações ORIENTADOR: PROF. DR. LUIZ FLÁVIO AUTRAN MONTEIRO GOMES Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 2014. FICHA CATALOGRÁFICA L48 Oliveira, Rodrigo Batista de. Proposta de diretrizes para o processo de Benchmarking no Refino Brasileiro / Rodrigo Batista de Oliveira. – Rio de Janeiro: [s.n.], 2014. 203 f. : il. color. Dissertação de Mestrado Profissional em Administração do IBMEC. Orientador: Luiz Flávio Autran Monteiro Gomes. Bibliografia: p. 190-198. 1. Benchmarking. 2. Knowledge Based View. 3. Vantagem Competitiva. 4. Refino I. Título. CDD 658 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho primeiramente a Deus que me acompanha em todos os momentos e passos dessa jornada. À minha mãe, Maria Zenaide, pelo amor infinito e incondicional, e por acreditar que a educação e perseverança são sempre o caminho para nos transformarmos em pessoas cada vez melhores. Aos meus irmãos Rafael Oliveira e Erica Morena por me fazerem perceber que amor não tem quantidade não têm limites e sempre pode ser compartilhado. Aos meus avós, Maria Bendita e José Rodrigues pelo amor e pelo lindo exemplo de vida. Ao meu pai, Romario Rodrigues de Oliveira, pelo grande apoio e patrocínio ao longo deste caminho. Aos meus amigos, de todo Brasil, que sempre me inspiram, fazem aprender e ser ainda mais feliz com a convivência e suas maravilhosas resenhas. À Bahia, e sua pluralidade, fonte de minha eterna alegria e inspiração, e sempre presente nos momentos mais emocionantes da minha vida. AGRADECIMENTOS Ao Refino pela oportunidade que me foi oferecida e confiança em mim depositada neste desafio. Ao gerente do Planejamento e Controle do Refino, Eduardo Lopes de Sousa, por acreditar no meu talento e pelo grande apoio e incentivo à realização deste trabalho. Aos colegas do Planejamento e Controle do Refino e dos Recursos Humanos pela paciência e apoio nos momentos de maior dificuldade, em especial à Luciana Ayako, pela atenção, carinho e companhia nas longas horas de estudo pós-trabalho. Aos colegas do grupo de trabalho de Custos de Manutenção do Refino pela experiência transformadora e vencedora: Ana Elisa de Aguillar Galli, Andre Aiki Ono, Andre Ricardo Chaves e Cristiano Camara da Silveira. A Jose Francisco de Oliveira (o Chiquinho) por ter atuado no verdadeiro papel de um líder, durante todo projeto, nos inspirando e incentivando a ir cada vez mais longe durante o projeto Custos de Manutenção do Refino. Ao meu orientador, professor Doutor Luiz Flávio Autran Monteiro Gomes, pela sua fundamental contribuição profissional e credibilidade para execução desta pesquisa. “Seja a mudança que você deseja ver no mundo” M. Gandhi RESUMO O trabalho tem como finalidade propor diretrizes para estruturar o processo de benchmarking na área de refino no Brasil. Durante sua elaboração foi realizada pesquisa bibliográfica, com enfoque nos principais autores deste tema e a correlação com temas como: indicadores de desempenho, alinhamento do benchmarking com a estratégia empresarial e criação de vantagem competitiva. A visão estratégica norteadora é a do Knowledge Based View, que considera o conhecimento como o mais importante recurso estratégico das organizações. Os recursos provenientes do Knowledge Based são, geralmente, difíceis de imitar e socialmente complexos, portanto a capacidade de gerá-los e as bases deste conhecimento heterogêneo são determinantes para gerar vantagem competitiva e garantir um desempenho superior das empresas. Sendo assim, o projeto analisará desde a estruturação da empresa para o processo de benchmarking até a constituição de um modelo de governança, passando pela identificação das melhores práticas e avaliação das ações de melhoria resultantes. O método adotado foi a pesquisa-ação, que se caracteriza pela busca efetiva de soluções para um problema por meio de práticas que geram aprendizado e difundem conhecimento. Os resultados obtidos permitiram a proposição de um conjunto de diretrizes para a estruturação do benchmarking e da sistemática de difusão das melhores práticas na área de manutenção industrial de uma grande empresa nacional. Palavras-chave: Benchmarking. Knowledge Based View. Vantagem Competitiva. Refino. ABSTRACT This paper aims to propose guidelines to structure the benchmarking process of Brazilian refining industry. To support this analysis, a comprehensive bibliographical research focusing not only on the most relevant authors but also on correlated topics (performance indicators, business strategic alignment benchmarking and competitive advantage creation) was conducted. The Knowledge Based View, which considers knowledge as the most important strategic resource of organizations, has been the center of this project. Having an effective Knowledge Based View enables a company to benefit from its heterogeneous knowledge, which is currently a key competitive advantage for an organization. Moreover, such advantage is difficult to copy and socially complex to implement, which makes it a key element of differentiation for a company. Thus, this project will analyze the four key steps: structuring the company for the benchmarking process, establishing governance, identifying best practices and evaluating the results of the process of benchmarking. The method used was action research, which is characterized by the search for effective solutions to a problem by learning practices that generate and disseminate knowledge. The results achieved allowed proposing a set of guidelines for the structuring of benchmarking and systematic dissemination of best practices in the field of industrial maintenance of a large national company. Keywords: Benchmarking. Knowledge Based View. Competitive Advantage. Refining. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Benchmarking e Ciclo do Aprendizado de Dewey ............................................ 29 Figura 2 – Relações entre Competitividade, Inovação e Conhecimento .............................. 30 Figura 3 – O Papel do Especialista no Benchmarking ....................................................... 38 Figura 4 – Ciclo do Benchmarking (PDCA) e Indicadores de Desempenho ........................ 43 Figura 5 – Tipos de Benchmarking quanto ao Conteúdo ................................................... 67 Figura 6 – Modelo de Benchmarkingda Xerox ............................................................... 78 Figura 7 – Modelo Benchmarking dos Modelos de Benchmarking ..................................... 80 Figura 8 – Modelo Mental de Benchmarking e Gestão do Conhecimento (PDCA) .............. 82 Figura 9 – Projeção do Desempenho Futuro da Organização .......................................... 111 Figura 10 – Rotina Mensal de Análise de Custos e Gaps ................................................ 156 Figura 11 – Modelo Matricial para Análise de Custos e Gaps ......................................... 157 Figura 12 – Painel de Custos Técnico ........................................................................... 159 Figura 13 – Modelo Plano de Ação .............................................................................. 167 Figura 14 – Ciclo da Melhoria Contínua ....................................................................... 169 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Evolução do Orçamento de Manutenção (Em R$ Milhões) ............................ 146 Gráfico 2 – Representatividade dos Custos de Manutenção no COR ................................ 152 Gráfico 3 – Evolução Histórica dos Custos de Manutenção e Paradas no COR ................. 152 Gráfico 4 – Diferenças de Desempenho entre as Unidades ............................................. 153 Gráfico 5 – Exemplo Comparação de Custo por Destilação (R$/FCM) ............................ 160 Gráfico 6 – Planejamento Plurianual ............................................................................ 165 Gráfico 7 – Redução dos Gaps por Unidade Operacional ............................................... 185 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Plano de Negócios e Gestão 2013-2017 .......................................................... 18 Tabela 2 – Conhecimento Tácito x Conhecimento Explícito ............................................. 32 Tabela 3 – O que é Benchmarking ................................................................................. 51 Tabela 4 – O que é Benchmarking II .............................................................................. 52 Tabela 5 – Os Tipos de Benchmarking ........................................................................... 65 Tabela 6 – Taxonomia dos Modelos de Benchmarking ..................................................... 77 Tabela 7 – Passos comuns nos Processos de Benchmarking .............................................. 79 Tabela 8 – Etapas do Processo de Benchmarking ............................................................. 81 Tabela 9 – Quadro Explicativo do Modelo Mental – Benchmarking (PDCA) ..................... 82 Tabela 10 – Composição de uma Equipe de Benchmarking .............................................. 98 Tabela 11 – Como entender um estudo de Benchmarking ............................................... 107 Tabela 12 – Detalhamento das Etapas do Procedimento de Pesquisa................................ 136 Tabela 13 – Composição do Grupo de Trabalho de Custos de Manutenção ...................... 141 Tabela 14 – Etapas do Processo de Benchmarking ......................................................... 150 Tabela 15 – Principais Capacitadores 2012 ................................................................... 164 Tabela 16 – Comparativo do Modelo de Benchmarking Aplicado com outros Modelos ..... 176 Tabela 17 – Diretrizes para Estruturação de um Benchmarking ....................................... 180 LISTA DE ABREVIATURAS AHP Analytic Hierarchy Process COR Custo Operacional do Refino FCM Fator de Complexidade da Manutenção FPNQ Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade KBV Knowledge Based View MEITM Indíce de Eficiência de Custos de Manutenção PDCA Plan, Do, Check, Action PMEs Pequenas e Médias Empresas UO Unidade Operacional SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15 1.1 O PROBLEMA ...................................................................................................... 17 1.1.1 Contextualização do problema............................................................................ 17 1.1.2 Formulação do problema ................................................................................... 19 1.2 OBJETIVOS .......................................................................................................... 20 1.2.1 Objetivo final ..................................................................................................... 21 1.2.2 Objetivos intermediários .................................................................................... 21 1.3 RELEVÂNCIA DO ESTUDO ................................................................................. 21 1.3.1 Criando vantagem competitiva através do Benchmarking ................................... 22 1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ............................................................................... 26 2 KNOWLEDGE-BASED VIEW .................................................................................. 27 2.1 CONCEITO E IMPORTÂNCIA .............................................................................. 29 2.2 TIPOS DE CONHECIMENTO ................................................................................ 31 2.3 GESTÃO DO CONHECIMENTO E VANTAGEM COMPETITIVA .......................... 33 2.4 COMO CRIAR, BUSCAR E PROMOVER A INTEGRAÇÃO DO CONHECIMENTO34 2.5 O PAPEL DO ESPECIALISTA NA GESTÃO DO CONHECIMENTO ...................... 36 2.5.1 Abastecimento (“Knowledge Sourcing”) .............................................................. 39 2.5.2 Transferência Interna (“Internal Knowledge Transfer”) ...................................... 39 2.5.3 Transferência Externa (“External Knowledge Transfer”) ..................................... 39 2.5.4 Integração do Conhecimento (“Knowledge Integration”) ..................................... 40 2.6 FORMAS DE PRESERVAR O APRENDIZADO CORPORATIVO ........................... 40 3 INDICADORES DE DESEMPENHO ...................................................................... 41 4 CONCEITOS DE BENCHMARKING ...................................................................... 46 4.1 DIFERENÇA ENTRE BENCHMARKING E BENCHMARK ....................................... 52 4.2 PRODUTOS DE UM BENCHMARKING ................................................................. 53 4.3 VANTAGENS DE UM BENCHMARKING .............................................................. 56 4.4 FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO ...................................................................... 59 4.5 PRINCÍPIOS DO BENCHMARKING ....................................................................... 61 4.6 CÓDIGO DE CONDUTA DE BENCHMARKING ..................................................... 62 5 TIPOS DE BENCHMARKING ................................................................................. 64 5.1 DEFINIR O TIPO E O NÍVEL DO BENCHMARKING .............................................. 68 6 ALINHAR O BENCHMARKING COM A ESTRATÉGIA ....................................... 72 7 PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DE UM BENCHMARKING .......................... 76 7.1 BENCHMARKING DOS PROCESSOS DE NEGÓCIOS ............................................ 84 7.2 PLANEJAMENTO DO PROJETO (PLAN) .............................................................. 85 7.2.1 Identificar as oportunidades ............................................................................... 86 7.2.1.1 Priorizar projetos de Benchmarking através de Análise Multicritério ...................... 92 7.2.2 Escolher os parceiros ..........................................................................................94 7.2.3 Constituir uma equipe e uma governança ........................................................... 96 7.2.3.1 Características da equipe .................................................................................. 100 7.3 RECOLHIMENTO DE DADOS (DO) ................................................................... 101 7.4 ANÁLISE DOS DADOS (CHECK) ....................................................................... 106 7.4.1 Projeção do desempenho futuro da organização ................................................ 110 7.5 IMPLEMENTAR MELHORIAS – PLANO DE AÇÃO (ACTION) ........................... 112 7.5.1 Identificar ações viáveis de melhoria, adaptar e priorizar as práticas. ............... 113 7.5.2 Integrar ao processo de planejamento da empresa ............................................ 117 7.5.2.1 Estabelecer metas para novo nível de desempenho .............................................. 118 7.5.3 Aperfeiçoar o processo e integrar ao modelo de gestão ...................................... 120 8 ESTRUTURAR UM PLANO DE COMUNICAÇÃO.............................................. 121 8.1 COMUNICAÇÃO E TREINAMENTO DA FORÇA DE TRABALHO ..................... 121 8.2 ESTRUTURAR PADRÃO E FERRAMENTAS DE TRABALHO EM BENCHMARKING ..................................................................................................... 124 8.2.1 Criar um procedimento de Benchmarking ........................................................ 124 8.2.2 Atualizar sistemas físicos e gerenciais ............................................................... 126 8.3 AVALIAR RESULTADOS E DIVULGAR MELHORIAS ...................................... 127 9 MÉTODO DE PESQUISA ..................................................................................... 129 9.1 TIPO DE PESQUISA ........................................................................................... 130 9.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA ....................................................................... 131 9.3 PROCEDIMENTO DE PESQUISA ....................................................................... 135 9.4 ANÁLISE DOS DADOS ...................................................................................... 137 10 DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO ................................................................. 140 10.1 EQUIPE E ORGANIZAÇÃO .............................................................................. 141 10.2 DESCRIÇÃO DO CASO .................................................................................... 143 10.2.1 Introdução ..................................................................................................... 143 10.2.2 Objetivo ......................................................................................................... 145 10.2.2.1 O problema ................................................................................................... 145 10.2.2.2 A oportunidade ............................................................................................. 146 10.2.2.3 A solução ..................................................................................................... 147 10.2.3 Metologia e aplicabilidade .............................................................................. 148 10.2.3.1 Sistemática de desenvolvimento do trabalho ..................................................... 148 10.2.4 Etapas do Benchmarking ................................................................................ 150 10.1.4.1 Planejamento do projeto (Plan) ....................................................................... 150 10.2.4.2 Recolhimento de dados (Do)........................................................................... 158 10.2.4.3 Análise de dados (Check) ............................................................................... 160 10.2.4.4 Adaptação, melhoria e implementação das constatações (Action) ........................ 166 10.2.5 Aplicabilidade ao modelo de gestão da empresa .............................................. 169 10.2.6 Aplicabilidade aos valores e objetivos estratégicos ........................................... 171 10.2.7 Aprendizado organizacional e possibilidade de multiplicação .......................... 171 10.2.8 Efetividade dos resultados .............................................................................. 173 11 DIRETRIZES PARA ESTRUTURAÇÃO DE BENCHMARKING ........................ 175 11.1 VALIDAÇÃO DO ESTUDO ............................................................................... 177 12 CONCLUSÕES ................................................................................................... 182 12.1 IMPLICAÇÕES GERENCIAIS ........................................................................... 185 12.3 LIMITAÇÕES DO ESTUDO .............................................................................. 187 12.4 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ................................................... 188 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 190 ANEXO A – CRONOGRAMA DO PROJETO ......................................................... 199 ANEXO B – CALENDÁRIO DE REUNIÕES 2012 ................................................... 200 ANEXO C – MODELO DE COMENTÁRIO (GOVERNANÇA) ............................... 201 15 1 INTRODUÇÃO Ao longo de seu surgimento e evolução o processo de benchmarking passa por quatro gerações: A primeira geração pode ser fundamentada como engenharia reversa ou análise competitiva de produto. Durante o período de 1950-1975 muitos empresários americanos vislumbravam o Japão como um mero copiador e, portanto este não apresentava nenhuma ameaça uma vez que o mesmo não inventava novas tecnologias. Ao nível macroeconômico isso podia ser verdade, mas o que Japão aprendeu foi inventar a capacidade de produzir produtos com desperdício mínimo, como consequência da sua realidade na qual não existe abundância de recursos e por isso a prática da produtividade é extremamente importante. A segunda geração do benchmarking caracterizou-se como um estágio da arte. Constituiu-se em uma síndrome entre os gerentes para a adoção do novo sem uma devida análise crítica sobre a sua validade ou aplicabilidade. Caracterizou-se por visitas corporativas sem uma metodologia científica associada para a adoção das melhores práticas. A terceira geração, a do benchmarking competitivo, foi aprimorada numa ciência desenvolvida pela Xerox durante a década de 1976-1986, como consequência de uma crise pela qual a empresa passou e que fez seu retorno sobre patrimônio liquido reduzir de 25 por cento para menos de 5 por cento entre 1976-1979. O benchmarking competitivo, ao longo do tempo, extrapolou as comparações orientadas para o produto com a intenção de incluir também comparações de processos com concorrentes. 16 A quarta geração, a do benchmarking de processo, desenvolveu-se a partir de 1992, à medida que mais líderes de qualidade reconheceram poder aprender mais facilmente com empresas fora de sua área do que com estudos de concorrentes. Já a quinta geração referida como benchmarking global, que iniciou em 1996 estendeu o limite geográfico do método para abranger o melhor processo que pode ser encontrado em qualquer local e em qualquer negocio análogo (WATSON, 2007). Apesar deste esquema de evolução, para o benchmarking, proposto por Watson (2007) ao longo deste estudo ficará evidente que existem também outros tipos de benchmarking além destes. Além disso, existem diversas definições para cada tipo de benchmarking, não existindo, portanto, um consenso entre os diferentes autores em relação a cada um (ANAND; KODALI, 2008). Quase que em paralelo ao surgimento do benchmarking de processo,os anos 90 determinaram também o nascimento da geração da alavancagem e do capital intelectual sendo cada vez mais urgente para as empresas aprender a fazer mais com menos, e a trabalhar de um modo mais inteligente, mais rápido melhor e mais barato. Assim, nesse contexto, o conhecimento surge como um fluido vital da era da informação e o aprendizado rápido se caracterizam como uma fonte renovável de vantagem competitiva (BOGAN; ENGLISH, 1997, p. 46-47). O fato é que quando a cultura organizacional apóia a adoção de idéias dos melhores como uma abordagem de trabalho, muitas melhorias, pequenas e grandes novídades, são rapidamente trazidas para uma organização. Esta é o resultado de diversos fatores: ações gerenciais, políticas, declarações, relatos e sistemas. Assim, essas mensagens codificadas criam certo tipo de conhecimento organizacional e comportamento habitual que são passados para sucessivas gerações atuando, portanto, para formar a cultura organizacional (BOGAN; ENGLISH, 1997, p. 42-44). 17 É nesse contexto que Bogan e English (1997, p. 49) afirmam que: “O benchmarking é um meio para um fim. É uma ferramenta ou catalisador que facilita o aprendizado”. Assim benchmarking e a estratégia baseada em conhecimento (Knowledge Based View), são temas que se correlacionam e se complementam na discursão sobre a criação de vantagem competitiva organizacional. Ficando evidente, portanto, a importância do desdobramento destes dois temas, de maneira conjunta, no planejamento estratégico das empresas. Os conceitos de benchmarking são simples, mas a maioria das empresas possuem dificuldade para implementá-los de forma eficiente por isso a importância de se estruturar um modelo, adequado, para que este processo possa extrair o máximo de resultados de um modo sistemático e contínuo. Sendo assim o presente trabalho tem como finalidade estudar e propor diretrizes para estruturar o processo de benchmarking em uma empresa de refino brasileira. Ao longo do mesmo são descritos diversos tópicos que se inter-relacionam e decorrem deste tema, como: Knowledge Based View, criação de vantagem competitiva, alinhando o benchmarking com planejamento estratégico e comunicação de um processo de benchmarking. 1.1 O PROBLEMA 1.1.1 Contextualização do problema O segmento de refino tem se caracterizado como o segundo maior negócio em importância para os resultados e investimentos da empresa, referenciada neste estudo, e a qual denominaremos Refino S/A, atrás apenas da área de Exploração Produção (E&P) e a frente de negócios importantes como Gás e Energia (G&E) e Petroquímica, conforme Tabela 1. 18 Tabela 1 – Plano de Negócios e Gestão 2013-2017 Segmentos Investimentos(Em US$ bilhões) % Exploração e Produção (E&P) 147,5 62% Refino 64,8 27% Gas e Energia (G&E) 9,9 4% Internacional 5,1 2% Biocombustiveis 2,9 1% Demais Áreas 6,5 3% Total 236,7 100% Fonte: Barbassa (2013). O fato é que com a globalização e a inserção do Brasil em um cenário cada vez mais competitivo, internacionalmente, surge a necessidade de preparar as refinarias desta empresa para esta nova realidade. Outro aspecto importante é que a atual capacidade de processamento das refinarias da empresa, é de 2.408 mil barris por dia enquanto a demanda do mercado brasileiro é de 3.380 mil barris por dia (BARBASSA, 2013). Sendo assim torna-se cada vez mais importante aprimorar os processos e as práticas de gestão destas unidades de forma a aumentar o desempenho da companhia. É nesse contexto que o benchmarking se torna importante para a busca das melhores práticas e identificação dos melhores referenciais internos e externos visto que este é um importante instrumento de capacitação profissional para melhoria de desempenho e mudança organizacional (OIKO, 2007). Existem diversas definições sobre benchmarking na literatura, e inclusíve mais atuais, como será explicitado no decorrer deste estudo, no entanto uma das mais usadas, é que “Benchmarking é a busca das melhores práticas da indústria que levarão a um desempenho superior a partir da implementação.” (CAMP, 1989). 19 Hoje a difusão das melhores práticas entre as refinarias da organização em análise acontece de maneira não sistematizada e muitas destas acabam não sendo difundidas como deveriam. Sendo assim este estudo de estruturação, do processo de descoberta e de difusão das melhores práticas, contribuirá para a obtenção de melhores resultados pela empresa. 1.1.2 Formulação do problema De acordo com Ribeiro e Cabral (2006) um processo de benchmarking possui as seguintes características: - É um estudo comparativo baseado na estruturação de indicadores qualitativos e quantitativos para avaliar, comparativamente, o desempenho dentro ou entre organizações; - Pode ser aplicado a qualquer indústria ou atividade; - Segue uma abordagem de dentro para fora. Começa com uma profunda compreensão dos processos internos e, em seguida, os concorrentes, as organizações diferentes ou unidades diferentes da mesma organização são analisadas comparativamente; - Se concentra em práticas. A principal proposta é aprender com práticas que sustentam os melhores resultados; - É uma metodologia exigente. A avaliação do desempenho atual, a busca por melhores práticas e o aprendizado e adaptação demandam muitos recursos humanos e tempo; - É uma ferramenta para o aprendizado e melhoria contínua. As práticas e desempenho mudam com freqüência. Portanto, as organizações devem adotar o benchmarking como um processo em curso. 20 Identificar e transferir as melhores práticas é um processo complicado e difícil de implementar (JARRAR; ZAIRI, 2000). Isso é mais evidente nas pequenas e médias empresas (PMEs), pois estas normalmente possuem restrições de recursos, e conhecimento limitado das metodologias de benchmarking. Além disso, possuem em muitos casos, uma cultura organizacional, não propensa a mudar e aprender (RIBEIRO; CABRAL, 2006). Para promover o aprendizado e implantação de melhores práticas na empresa alvo do estudo de forma sustentável, é necessário desenvolver coletivamente o entendimento e prática do benchmarking como um processo sistemático que promove melhoria contínua organizacional. O benchmarking possui conceitos fáceis, mas é rico em detalhes. Considerando as características do benchmarking como um instrumento de gestão o problema deste estudo é estabelecer as diretrizes para estruturação do processo de benchmarking de uma empresa de refino de petróleo do Brasil. Para isto parte-se do princípio que o benchmarking é um processo estruturado e que segue passos sequenciais inspirados no ciclo de melhoria contínua de Deming: planejar (plan), Recolher (do), analisar (check) e adaptar (action). 1.2 OBJETIVOS Os objetivos identificam os resultados que se espera alcançar com o desenvolvimento do estudo. São as respostas esperadas como consequência da aplicação dos procedimentos metodológicos para solucionar o problema de pesquisa. Para este trabalho são estabelecidos os objetivos a seguir. 21 1.2.1 Objetivo final Propor um conjunto de diretrizes para estruturar o processo de benchmarking de uma empresa de refino de petróleo, do Brasil, que chamaremos de Refino S/A. 1.2.2 Objetivos intermediários De acordo com Carlini e Wanderley (2004) o objetivo ao comparar desempenhos entre empresas diferentes, por meio do benchmarking, é identificar as potencialidades da empresa realizadora do estudo para reforça-las e as fragilidades para afastá-las. São objetivos intermediários deste estudo: • Propor diretrizes de governançapara o processo de benchmarking; • Correlacionar benchmarking e seu impacto para criação de vantagem competitiva na empresa; • Correlacionar benchmarking, gestão do conhecimento e aprendizado organizacional. 1.3 RELEVÂNCIA DO ESTUDO A estruturação do processo de benchmarking, decorrente do estabelecimento de diretrizes, permitirá: • Introduzir novos conceitos de avaliação na organização; • Melhorar o conhecimento da empresa; • Identificar áreas que devem ser objeto de melhorias; 22 • Estabelecer metas viáveis e realistas; • Criar critérios de prioridade no planejamento; • Melhor conhecimento dos concorrentes e do nível competitivo do mercado; • Aprender com os melhores do segmento. 1.3.1 Criando vantagem competitiva através do Benchmarking Em um mundo empresarial globalizado e cada vez mais competitivo é fundamental entender como as organizações podem ampliar sua capacidade de gerar vantagem competitiva. Daí a importância de estudar a correlação do benchmarking com este tema. De acordo com Boxwell (1996, p. 21) o benchmarking proporciona à organização uma vantagem competitiva e um desempenho superior com relação à concorrência. Benchmarking é um processo positivo, pró-ativo e estruturado que conduz a mudanças, ao desempenho e à vantagem competitiva. Esse processo busca novas ideias para métodos, práticas e processos para então adotá-las e praticá-las. É a busca das melhores práticas na indústria que conduzirão ao desempenho superior e ao alcance da eficácia global (CAMP, 1993). Zairi e Leonard (1995, p. 246-248) afirmam que: A única forma de manter a vantagem competitiva e de atingir superiores níveis de desempenho é através das comparações externas. [...] O benchmarking refere-se essencialmente ao atingimento do desempenho superior a longo prazo. A curto prazo, todavia, ele pode referir-se ao frenético tentar eliminar as lacunas negativas entre as organizações e seus concorrentes. Este, contudo, não é o fim do benchmarking, o agir frenético não vai levar a superioridade. As organizações 23 devem entender que, uma vez que as lacunas sejam eliminadas, elas devem estar na posição de suplantar a concorrência e manter a superioridade por longo prazo. E reforçam que: “benchmarking refere-se à proteção da vantagem competitiva, mas também à recuperação dos processos fracos, através de seu fortalecimento por meio de novos aprendizados, novas práticas, novos métodos e novas técnicas” (ZAIRI; LEONARD, 1995, p. 246-248). De acordo com Leibfried e Mcnair (1992, p. 4): Superar os concorrentes exige que se olhe para fora da organização, através do benchmarking e de outras técnicas afins, removendo-se as camadas de ‘diferença’ para fazer comparações válidas com outras organizações, e aprender com elas. Leibfried e Mcnair (1992, p. 34) ainda reforçam que: [...] a chave para o sucesso competitivo de longo prazo não esta na paridade, mas na superioridade. Ainda que a eliminação da lacuna competitiva aumente, no curto prazo, a capacidade competitiva de uma empresa, a meta final é igualar e, depois, exceder a melhor prática, em sua forma atual. Em face da competição global, a linha de base da excelência esta constantemente subindo. Ficar parado equivale a perder terreno, degenerando em uma queda livre na crise competitiva (LEIBFRIED; MCNAIR, 1992, p. 34). Para Leibfried e Mcnair (1992, p. 236), atingir o nível de compreensão dos processos exigido por um projeto de benchmarking serve de base para o mapeamento da rota da empresa rumo a excelência. E as mesmas ainda reforçam que: A integração da organização é o resultado de conhecimentos comuns, crenças compartilhadas e comunicação aberta entre os individuos. Os conceitos de melhoria 24 contínua têm por alicerce essa intergração e a união de indivíduos e tarefas através das fronteiras tradicionais. Segundo Watson (c1994, p. 86-87) a capacidade de um sistema empresarial deve ser balanceada: um processo não deve brilhar a custo de todo o sistema. Se um processo fornece vantagem competitiva, devem ser realocados recursos para permitir que ele melhore de acordo com seu domínio competitivo. Senge (1990 apud NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 52): afirma que: “A organização que aprende tem a capacidade de aprendizado ativo e adaptativo como fontes sustentáveis de vantagem competitiva”. Curado (2006) reforça que a aprendizagem organizacional desempenha um papel importante na sustentabilidade da vantagem competitiva organizacional. Zack (2002) acrescenta que essa sustentabilidade baseada no conhecimento depende de: conhecer melhor certos aspectos do que os concorrentes, assim como as limitações de tempo que concorrentes têm para adquirir conhecimentos semelhantes, apesar da quantidade de dinheiro que eles estão dispostos a investir para alcançá-lo. Bogan e English (1997, p. 144) ressaltam que: O benchmarking para muitos pode simplesmente significar levantamento de informações. Porém, do ponto de vista gerencial, o aprendizado que não se transforma em ações de melhoria não deve ser classificado como aprendizado. Watson (c1994, p. 91) reforça que: Benchmarking é uma prática de qualidade que não requer grande sofisticação e pode ser usada por qualquer um que tenha conhecimento das ferramentas básicas de 25 qualidade, sua aplicação pode ser difundida, podendo fornecer um estímulo externo para encorajar um ambiente refletivo de aprendizado contínuo. Ele também reforça que o benchmarking facilita o aprendizado, pois envolve a formação de redes – organizações como recursos (conhecimentos) em uma determinada área que se encontram com outras organizações com necessidades (problemas ou questões) do mesmo ramo ou não. Assim o conhecimento é considerado um dos ativos mais importantes para a criação de vantagem competitiva sustentável (UMEMOTO, 2002). Os recursos de conhecimento são particularmente importantes para garantir que as vantagens competitivas de uma organização sejam sustentáveis, visto que esses recursos são difíceis de imitar eles são a base para a diferenciação sustentável (WIKLUND; SHEPHERD, 2003). Arie P. de Geus (apud WATSON, c1994, p. 95) afirmam que: A habilidade de aprender mais depressa do que os concorrentes pode ser a única vantagem competitiva sustentável. Então as empresas que são bem-sucedidas são as que cutucam seus gerentes para a revisão de suas visões do mundo. Segundo Cruceru (2013) a competitividade de uma organização pode ser desenvolvida de forma sustentada se os gestores estão conscientes de sua necessidade de alcançar metas econômicas. Esta por sua vez esta relacionada com inovação e o conhecimento organizacional por meio de um sistema de relações altamente interligado. Portanto, é fundamental que os gestores tenham habilidade no uso das habilidades do conhecimento e da inovação para determinar a diferenciação dos produtos e serviços de sua organização. 26 Logo, considerando-se que o benchmarking é uma ferramenta que facilita o aprendizado pode-se dizer que o benchmarking é uma ferramenta que permite às organizações gerar vantagem competitiva (BOGAN; ENGLISH, 1997, p. 49). 1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO Conforme será mais bem explicitado e detalhado adiante este estudo se delimita a propor diretrizes para estruturar o processo de benchmarking interno, entre as refinarias de uma empresa brasileira a qual denominaremos Refino S/A, por entender que este é o primeiro passo a ser considerado em qualquer processo de benchmarking. O período considerado para esta pesquisa compreende os anos de 2011, 2012 e 2013.De acordo com Leibfried e Mcnair (1992, p. 117) tornar-se o “melhor dos melhores” exige a exploração gradual do terreno, ou seja: Adquirir esses conhecimentos é um processo de aprendizagem que começa pela análise das práticas existentes (benchmarking interno), prossegue pela comparação do desempenho de uma empresa com suas concorrentes (benchmarking competitivo e setorial) e atinge a plenitude quando desempenho de ‘cadeias de valores’ individuais (por exemplo, o atendimento a clientes) é avaliado em relação à melhor prática daquele papel ou processo (benchmarking de empresas líderes). 27 2 KNOWLEDGE-BASED VIEW Considerando-se que o benchmarking é uma ferramenta que facilita o aprendizado e por meio deste gera de vantagem competitiva torna-se fundamental para o desenvolvimento deste trabalho uma revisão literária da teoria do “Knowledge Based View” (BOGAN; ENGLISH, 1997, p. 49). Uma organização que aprende rápido institucionaliza sua capacidade para mudar rápidamente, promover melhoria constante e evolução criativa. (BOGAN; ENGLISH, 1997, p. 22) Para Takeuchi e Nonaka (2008, p. 56): A informação proporciona um novo ponto de vista para a interpretação de eventos ou objetos, tornando visíveis significados. A informação é um meio necessário para extrair e construir o conhecimento. Gestão do Conhecimento é a capacidade de uma empresa criar um novo conhecimento, difundi-lo na organização como um todo e incorporá-lo a seus produtos, serviços e sistemas (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). 28 Makhija (2003) reforça a importância da gestão do conhecimento mencionando que os recursos físicos podem originar retornos acima da média, mas são os recursos intangíveis, desenvolvidos através de uma seqüência histórica única e com uma dimensão social complexa, que são capazes de criar e sustentar a vantagem competitiva de uma empresa. De acordo com Hall e Andriani (2002): O processo de benchmarking, como se pretende, é um processo de aprendizagem que envolve a observação das práticas externas, comparação com as práticas internas, identificação de lacunas de conhecimento e, finalmente, a decisão: eliminar as lacunas de desempenho, adquirindo novos recursos ou aproveitando os recursos internos investindo em melhorias. O resultado deste processo de aprendizagem é algo novo, decorrente da integração de imputs externos com o conhecimento prévio interno, e com as lacunas de conhecimento. Além disso, a importância de fontes externas de conhecimento para o processo de inovação é amplamente reconhecida na literatura. Assim pode-se dizer que o ciclo do benchmarking o qual é caracterizado como um processo de melhoria contínua, e baseado no ciclo de Deming (Plan-Do-Control-Check- PDCA) e o do aprendizado de Dewey´s se interelacionam e se complementam (WATSON, c1994), conforme Figura 1: 29 Figura 1 – Benchmarking e Ciclo do Aprendizado de Dewey Observações das Consequência Descoberta de Novos Conheciment Produção da Ação Invenção de Novas Possíbilidade PLANEJAR DESENVOLVERCHECAR AGIR PLANEJAR DESENVOLVERCHECAR AGIR Adaptar, Melhorar e Implementar Constatações Planejamento do Estudo Realização da PesquisaAnálise dos Dados Fonte: Watson (c1994). 2.1 CONCEITO E IMPORTÂNCIA A teoria do “Knowledge Based View” (KBV) considera o conhecimento como o recurso estratégico mais importante de uma empresa, pois os recursos baseados em conhecimento são normalmente difíceis de imitar e socialmente complexos (GRANT, 1996). Considera-se o conhecimento um recurso intangível e dinâmico e que é muito especial porque não deprecia e pode gerar retornos crescentes para as organizações (CURADO, 2006). O Knowledge refere-se ao estoque acumulado de informações e habilidades envolvidas com a conexão de novas idéias de valor comercial, com o desenvolvimento de novos produtos e processos e, sendo assim, com a capacidade de fazer negócios de uma maneira nova. Este pode ser chamado de “conhecimento para a inovação” ou “conhecimento inovador”. Embora a inovação seja um processo, o conhecimento consiste nas receitas e ingredientes a serem processados. Portanto a economia baseada no conhecimento pode ser definida como a esfera e o nexo de atividades e recursos centrados e orientados para a inovação. Assim os conceitos de conhecimento, inovação e competitividade externa estão intimamente associados e interligados (HUGGINS, IZUSHI, 2008), conforme Figura 2. 30 Figura 2 – Relações entre Competitividade, Inovação e Conhecimento Competitividade Inovação - Criação e distribuição de novas ideias - Transformação de novas ideias em valor comercial - Desenvolvimento de novos produtos e processos Conhecimento como receitas como ingredientes Fonte: Huggins e Izushi (2008). De acordo com Decarolise e Deeds (1999) Winter e Szulanski (1999) as bases do conhecimento heterogêneo de capacidades entre as empresas são os principais determinantes da vantagem competitiva e do desempenho corporativo superior. Para Dierickx e Cool (1989) o conhecimento das empresas, pode ser conceitualizado em termos de fluxos e estoques. Os estoques constituem ativos acumulados de conhecimento, enquanto os fluxos são fluxos de conhecimento dentro e entre organismos que contribuem para a acumulação de conhecimento. Superiores estoques e fluxos são vistos como fontes de vantagem competitiva sustentada e desempenho superior. O KBV tem como principal fundamento a aprendizagem organizacional. Segundo Weick (1991), aprender é um processo pelo qual novas informações são incorporadas no comportamento dos agentes, alterando seu comportamento e, possivelmente, mas nem sempre levando a melhores resultados. 31 Nonaka e Takeuchi (1995a) mencionam que a aprendizagem organizacional é um processo de mudança que é influenciado pela experiência passada, focado no desenvolvimento e modificação de rotinas e apoiado pela memória organizacional. 2.2 TIPOS DE CONHECIMENTO O conhecimento pode ser analisado sobre diferentes perspectivas: uma delas é o da gestão científica a qual relaciona o conhecimento da empresa a seleção de indivíduos e outra é a do processamento das informações que trata as organizações como máquinas que utilizam regras e rotinas para atender a os requisitos de processamento de informações individuais causados pelo trabalho independente e incerteza ambiental (SANTOS, 1999). Em contraste com esta concepção tradicional uma nova visão do conhecimento surgiu com base na distinção entre conhecimento explícito e tácito (POLANYI, 1962). De acordo com Kogut e Zander, (1992) e Grant (1996) a distinção entre tácito e explícito passou a ser particularmente importante na abordagem baseada em conhecimento para a estratégia. O Conhecimento tácito é revelado através de sua aplicação, se tácito de saberes não pode ser codificada e só pode ser observado e adquirido por meio da prática, a sua transferência entre as pessoas é lenta, cara e incerta. Conhecimento explícito é revelado pela sua comunicação, a facilidade de comunicação é sua propriedade fundamental (KOGUT; ZANDER, 1992). Nonaka e Takeuchi (1997) explicam que a diferenciação dos dois formatos mencionados situa-se no fato de que o conhecimento explícito pode ser articulado na linguagem formal, inclusive em afirmações gramaticais, expressões matemáticas, especificações, manuais e assim por diante, enquanto o conhecimento tácito é difícil de ser articulado na linguagem formal, sendo um conhecimento pessoal incorporado à experiência 32individual envolvendo fatores intangíveis, como, por exemplo, crenças pessoais, perspectivas e sistemas de valor. A interação entre essas duas formas complementares de conhecimento resulta na principal dinâmica da criação do conhecimento na organização. Polanyi (1974) afirma que o conhecimento tácito é o conhecimento que influencia comportamentos e / ou a constituição de estados mentais, mas normalmente não é acessível à consciência enquanto que o conhecimento explícito pode ser articulado e transmitido entre os indivíduos. Segundo Nonaka (1991) os conhecimentos tácito e explícito podem ser transferidos um para outro, dentro de certos limites. Essa abordagem identifica o conhecimento tácito como o recurso mais estratégico das empresas uma vez que este é difícil de imitar e relativamente imóvel, pode constituir a base da vantagem competitiva sustentada (GRANT, 1996; GUPTA; GOVINDARAJAN, 2000). Alguns pesquisadores acreditam que o conhecimento tácito pode ser mais explicitado através de um processo de codificação (KOGUT; ZANDER, 1992), enquanto outros vêem os conhecimentos tácito e explícito como formas, essencialmente, distintas e complementares do conhecimento. Enquanto o conhecimento tácito pode ser útil para gerar conhecimento explícito e vice-versa, um tipo de conhecimento não pode ser convertido num outro (COOK; BROWN, 1999). A seguir, na Tabela 2, distinção entre o conhecimento tácito e explicito. Tabela 2 – Conhecimento Tácito x Conhecimento Explícito Conhecimento Tácito (Subjetivo) Conhecimento Explícito (Objetivo) Conhecimento da experiência (corpo) Conhecimento da racionalidade (mente) Conhecimento simultâneo (aqui e agora) Conhecimento sequencial (lá e então) Conhecimento análogo (prática) Conhecimento digital (teoria) Fonte: Takeushi e Nonaka (2008). 33 2.3 GESTÃO DO CONHECIMENTO E VANTAGEM COMPETITIVA Segundo Eisenhardt e Santos (2001) quando o Knowledge Based View (KBV) é usado como uma teoria da estratégia o conhecimento é visto como algo que pode ser adquirido, transferido ou integrado para alcançar competitividade sustentada. Lord and Ranft (1998) ressaltam que quando esse conhecimento é estrategicamente valioso, a transferência irá melhorar o desempenho organizacional. Tanto Gupta e Govindarajan (2000) e Brown e Eisenhardt (1998) também argumentam que o valor estratégico do conhecimento é fundamental para se melhorar o desempenho alcançado. Esses autores sugerem que os gestores de empresas eficazes devem concentrar os seus esforços somente sobre a transferência do conhecimento mais estrategicamente valioso. Ou seja, a busca de conhecimento, transferência, e até mesmo a integração não é necessariamente vantajosa a menos que o conhecimento seja estrategicamente importante. De fato, a transferência de menos conhecimento pode ser mais eficaz do que a transferência de mais, especialmente em ambientes de alta velocidade em que o tempo de gestores é limitado (EISENHARDT; GALUNIC, 2000). Kogut e Zander (1992) ressaltam que a capacidade de replicar o conhecimento determina a taxa de crescimento de uma empresa, mas que tal replicação também facilita a imitação pelos concorrentes. Portanto, as empresas são capazes de crescer e deter a imitação competitiva apenas pela recombinação contínua de seus conhecimentos e aplicação dos mesmos às novas oportunidades de mercado. Ou seja, em um ambiente competitivo, desempenho superior só pode ser sustentado através da inovação contínua. 34 2.4 COMO CRIAR, BUSCAR E PROMOVER A INTEGRAÇÃO DO CONHECIMENTO Para Brown e Duguid (1991) o conhecimento significativo é profundamente relacionado com o trabalho diário, bem como a aquisição de novos conhecimentos (ou seja, a aprendizagem) é construído socialmente de práticas de trabalho. Essa construção social do conhecimento ocorre dentro de comunidades informais, onde o conhecimento é livremente compartilhado através de mecanismos de colaboração, tais como narração e trabalho conjunto. Os autores também argumentam que essas comunidades de prática são propensas a se envolver em atividades de inovação porque a sua visão do mundo é constantemente desafiada pelas exigências de trabalho diário. O caráter informal dessas comunidades e sua associação fluida facilitam a inovação e reduz a tendência para estagnação de grandes organizações. Segundo eles essas comunidades devem possuir certo grau de autonomia e legitimidade para poder superar a tendência à rigidez das empresas e promover a inovação organizacional. Esta perspectiva sobre a aprendizagem organizacional e inovação implica uma visão de organizações como múltiplas comunidades de prática. A função de cada comunidade de práticas é engajar-se em atividades experimentais e interpretativas com o meio ambiente a partir do qual emerge o senso de fazer, levando a um comportamento adaptativo. Organizações, assim, evoluem com base nas perspectivas concorrentes de diferentes comunidades (MARTIN; CARLILE, 1999). Além disso Grant (1996) menciona um ponto, também enfatizado por outros estudiosos, que o conhecimento também pode ser integrado externamente, através de redes de relações que se estendem além do limite organizacional (KOGUT; ZANDER, 1996; KOGUT, 2000). Estas redes oferecem mecanismos eficientes para acessar e integrar novos conhecimentos. 35 Capacidade de absorção, de acordo com Cohen e Levinthal (1990), é a capacidade que uma empresa tem de reconhecer uma informação externa, assimilá-la e aplicar para fins comerciais. De acordo com estes autores esta também esta relacionada ao conhecimento prévio das empresas (que enfatiza a natureza cumulativa dos conhecimentos) e a história ou o caminho dependente (que enfatiza a importância das decisões anteriores). São fatores importantes determinantes da capacidade de absorção: os canais de comunicação interna, a distribuição de conhecimentos no meio ambiente e na empresa, e o padrão das decisões de investimento em P&D. Galunic e Rodan (1998) reforçam que a ponte de conhecimento e de saber implica que menos atenção deve ser dada à idéia da transferência de conhecimento (movendo um pedaço de conhecimento a partir de um lugar para outro), e mais foco deve ir para os processos de integração do conhecimento, em que o desenvolvimento do significado e da criação de novos conhecimentos ocorre através de interações individuais e é afetado por contextos sociais. De acordo com Falconi (2009, p. 50), depois de esgotados os conhecimentos de seu pessoal as organizações recorrem a outras fontes de conhecimento: Recursos externos, como consultores, técnicos, professores (cursos técnicos), análise da literatura, visita a outras empresas, congressos, entre outros. [...] Prática da análise e da síntese da informação, utilizando modelos como meio criador de novo conhecimento específico para a solução dos problemas atacados. A Pesquisa e Desenvolvimento é um caso particular de análise e síntese. Falconi (2009, p. 113) também destaca os seguintes fatores básicos que são importantes para a acumulação do conhecimento: 36 Tempo, pois o conhecimento é acumulado por meio do ser humano e este tem uma certa velocidade de aprendizado característica de cada um; Metas bem distribuídas para todas as pessoas da empresa que sejam a força motriz para a aquisição do conhecimento; Cultura de insatisfação e voltada para desempenho e busca contínua de melhores resultados; Elevada motivação do pessoal; Sistema de padronização bem estabelecido, pois o padrão é o registro do conhecimento assimilado na prática; Baixo turnover de pessoal. A mente humana é o registro do conhecimento tácito (FALCONI, 2009,p. 113). 2.5 O PAPEL DO ESPECIALISTA NA GESTÃO DO CONHECIMENTO Segundo o princípio da capacidade limitada o cérebro humano tem uma capacidade limitada para adquirir, armazenar o conhecimento do processo (SIMON, 1991). O resultado é que a eficiência na produção do conhecimento (e refiro-me à criação de novos conhecimentos, a aquisição de conhecimento existente e armazenamento de conhecimento) exige que as pessoas se especializem em áreas específicas de conhecimento. Para Grant (1996) dados os ganhos de eficiência de especialização, a tarefa fundamental da organização é coordenar os esforços de muitos especialistas. Segundo ele a essência de organizações é a sua capacidade para integrar conhecimento especializado individual e aplicá-la a novos produtos e serviços (GRANT, 1996). Esses recursos são estruturados hierarquicamente de acordo com o escopo de conhecimento que eles integram. Os mecanismos para essa integração são as diretrizes e rotinas, e que o problema central é a organização da coordenação. Segundo ele são quatro os mecanismos para a integração de conhecimento especializado: regras e diretrizes, sequenciamento, rotinas, resolução de problemas em grupo e tomada de decisão. 37 Grant (1996) também identifica três características de integração do conhecimento que aumentam o seu valor estratégico. A primeira é a eficiência de integração, o que é uma função do conhecimento comum, a freqüência e a variabilidade de tarefas, e uma estrutura que economiza na comunicação. A segunda é o âmbito de aplicação dessa integração, com um escopo mais amplo, facilitando a criação e preservação de vantagem competitiva. A terceira é a flexibilidade de integração para incluir novos conhecimentos e a reconfiguração do conhecimento existente. Segundo Grant (1996) são quatro os processos de conhecimento específicos: abastecimento, transferência interna, transferência externa e integração. E para ele esta categorização está intimamente ligada com a concepção teórica dominante do “conhecimento como recurso”, e com a concepção dominante de KBV como a teoria da estratégia em que estes processos de conhecimento são a fonte de vantagem competitiva sustentada e desempenho superior. Considerando que o ciclo do aprendizado de Dewey esta relacionado com o do benchmarking, conforme exposto anteriormente, e que o PDCA (Plan-Do-Control-Adjust) é uma metodologia baseada em oito passos no processo de resolução de problemas, considera- se como atividades do especialista em benchmarking: (1) Entender o problema (Plan) - Identificar e descrever o problema, mensurando o desvio do mesmo em relação à norma (benchmark); (2) Perceber o processo (problema). Observar o problema, perguntar aonde, quando, o que, como, quanto, etc. Relatando um histórico do mesmo; (3) Descrever o problema de modo claro, conciso e mensurável; (4) Agir para identificar as causas por meio de técnicas de análise de causa e efeito, métodos de brainstorming e outras ferramentas da qualidade; 38 (5) Tarefas (Do) - Apoiar na escolha das ações que serão executadas por membros escolhidos, da organização. A escolha destas deve considerar critérios de baixo custo, aceitação, impacto direto nas causas e implementação rápida. (6) Resultados (Check) - Atuar na avaliação dos resultados após as tarefas estarem completas, a equipe deverá avaliar os resultados recolhendo dados nos atuais processos e comparando os com dados antes das tarefas terem sido implementadas; (7) Agir (Adjust) - Standadizar o processo e treinar todos os membros da equipe para implementar o novo processo e assegurar que todos que fazem o trabalho com o processo percebam as novas instruções de trabalho; (8) Reconhecer e partilhar o sucesso com todos que contribuíram. A seguir, na Figura 3, ilustração do papel do especialista e de suas atividades no processo de benchmarking. Figura 3 – O Papel do Especialista no Benchmarking Fonte: Freitas (2010). 39 2.5.1 Abastecimento (“Knowledge Sourcing”) Para se adaptar a ambientes dinâmicos, os gerentes muitas vezes precisam adaptar a base de conhecimento da sua empresa (GRANT, 1996). Dada a dispersão do conhecimento (tanto dentro como fora da empresa) e da incerteza no meio ambiente, o Knowledge Sourcing é um importante processo de conhecimento pelo qual os gestores identificam e tem acesso ao conhecimento relevante que está sendo criado no ambiente. 2.5.2 Transferência Interna (“Internal Knowledge Transfer”) A eficácia da transferência de conhecimento dentro das organizações é a razão principal para KBV tanto como uma teoria da organização (KOGUT; ZANDER, 1992, 1996; GRANT, 1996) ou uma teoria da estratégia (GRANT, 1996). Para Szulanski (1996) as três barreiras mais importantes para a transferência de conhecimento são a falta de capacidade de absorção do destinatário, a ambigüidade causal do conhecimento transferido e dificuldade em estabelecer interações pessoais entre a fonte e o destinatário. Já para Hargadon (1998) as barreiras mais importantes para a transferência de conhecimento são rotatividade de funcionários, o tamanho da organização, e uma procura crescente de tempo e eficiência individual. 2.5.3 Transferência Externa (“External Knowledge Transfer”) Segundo Lorenzoni e Lipparini (1999) as redes emergentes aumentam a capacidade de se adaptar às mudanças ambientais e de gerenciar das empresas habilitadas para mais eficazmente manter o ritmo com a evolução tecnológica da indústria. 40 Existe uma semelhança significativa entre os processos de transferência de conhecimento interno e externo. Características do conhecimento como tacitividade (ZANDER; KOGUT, 1995; LORD; RANFT, 1998), complexidade (HANSEN, 1999; SIMONIN, 1999), e ambiguidade (SZULANSKI, 1996) afetam a transferência de conhecimento tanto dentro e entre as organizações. 2.5.4 Integração do Conhecimento (“Knowledge Integration”) De acordo com Okhuysen e Eisenhardt (2000) intervenções que aumentam interações do grupo (por exemplo, direções para gerenciar o tempo e questionar outros) são eficazes em melhorar a integração do conhecimento, enquanto que outras intervenções que criaram uma auto-foco no conhecimento (por exemplo, direções para compartilhar informações) não são eficazes. 2.6 FORMAS DE PRESERVAR O APRENDIZADO CORPORATIVO Abaixo alguns exemplos, segundo (WATSON, c1994, p. 96): Os gerentes da Merck registram as melhores e as piores de suas experiências de desenvolvimento de projeto num ‘livro de conhecimento’, que os novos gerentes são solicitados a ler. [...] A IBM opera uma rede de computador para registrar e compartilhar informações sobre resultados de estudo de benchmarking. [...] A Xerox Corporation tem uma rede de informações de MELHORES Práticas para arquivar estudo de relatórios de viagem e resultados finais. 41 3 INDICADORES DE DESEMPENHO De acordo com John Young, diretor-presidente da Hewlett-Packard Company, para gerentes em Chevron, 1989 (apud WATSON, c1994, p. 113): “Se você não tem medidas, não se incomode em começar [em qualidade ou outros programas de aperfeiçoamento comercial]. [...] Não fará nenhuma diferença”. Leibfried e Mcnair (1992, p. 157) afirmam que: “As medições podem ser quantitativas (números) ou qualitativas (palavras). Entretanto, referenciais quantitativos e qualitativos para o benchmarking não são categorias estanques”. Zairi e Leonard, (1995, p. 116) ressaltam que: A mensuração de desempenho, se focalizada apenas internamente, pode ter grandes limitações, dada que pode ser concebida com foco em eficácia,em vez de em competitividade. Benchmarking assegura que o desempenho estabeleça competitividade e melhores práticas através de realização de ações corretas, logo na primeira vez, do ponto de vista do consumidor final. 42 De acordo com Leibfried e Mcnair (1992, p. 47): O enfoque no processo de benchmarking propicia, por si mesmo, às empresas grandes melhorias de desempenho. Para que esses melhoramentos persistam, e para que sejam aproveitados, o sistema de medidas tem de mudar o foco dos resultados para as ações. Eles reforçam que é preciso mudar o foco dos resultados para os processos, pois estes constituem a dimensão chave. Nenhuma pressão por resultados consegue remediar um processo problemático. Segundo Leibfried e Mcnair (1992, p. 166): “Atualmente, para terem sucesso, as empresas necessitam de um bom desempenho em quatro dimensões básicas: custo, qualidade (eficácia), produtividade (eficiência) e fornecimento (tempo)”. Os autores ainda reforçam que os indicadores financeiros não podem ser diretamente geridos, mas são causados pelo nível de desempenho nas dimensões de qualidade, produtividade e fornecimento. De acordo com Maleyeff (2003) a criação de um sistema de indicadores de desempenho interdependentes e complementares cria um sistema abrangente que realiza a tarefa de fornecer informações comprimidas e identificar situações críticas de uma organização. Segundo Denkena, Apitz e Liedtke (2006) os indicadores de desempenho são essenciais para o processo de benchmarking, no entanto, eles não fornecem respostas completas. Os indicadores de desempenho devem ser usados para identificar as diferenças entre os parceiros de benchmarking, e as mudanças nas organizações ao longo do tempo. Eles agem como indicadores para identificar áreas ou tópicos para análises posteriores. Estes 43 também reforçam que os indicadores de desempenho permitem o acompanhamento, julgamento ou avaliação sobre o desempenho de uma determinada organização. Assim, conforme a Figura 4, os indicadores possuem importância fundamental em um processo de benchmarking (PDCA) na medida em que: mostram resultados (display), evidenciam problemas (clear), permitem reconhecer a origem (acnowledge) e assim encontrar a causa básica (problem finding). Figura 4 – Ciclo do Benchmarking (PDCA) e Indicadores de Desempenho Fonte: Dias (2012). No entanto é importante ressaltar que a realização de um processo de benchmarking não acontece apenas baseada em dados quantitativos advindos de indicadores, mas também em dados qualitativos. Sobre a quantidade de indicadores a serem analisados em um estudo de benchmarking FPNQ (2005, p. 55) alerta que: É muito importante que a equipe considere um número adequado de indicadores para serem comparados. A utilização de um número superior a cinco indicadores pode fazer com que a equipe perca o foco do estudo. 44 Para Schiemann e Lingle (1999) e Manoochehri (1999 apud COSTA, 2003) o excesso de indicadores impede o entendimento das pessoas quanto ao que deve ser analisado prioritariamente, além de gastar grande quantidade de recursos para coleta e processamento dos dados. O foco não deve ser no número de medidas, mas no vínculo destas medidas com aspectos importantes, como as estratégias, as necessidades do mercado e as expectativas dos clientes. De acordo com Costa (2003) os sistemas de medição de desempenho vêm ampliando seu papel nas organizações, incorporando-se cada vez mais ao gerenciamento do negócio. No passado, esses sistemas estavam voltados, principalmente, à contabilidade das empresas. Atualmente, os mesmos tornam-se parte integrante da implementação da estratégia e da avaliação de desempenho tanto de recursos humanos quanto da competitividade de empresas em relação ao seu mercado de atuação. Watson (c1994, p. 70) reforça que indicadores de desempenho e um mapa de processo ou fluxograma indicam como um processo funciona. Em relação aos indicadores, em um processo benchmarking, de acordo com a FPNQ (2005, p. 81): Identificando que organizações possuem indicadores e resultados similares, mas que não são diretamente comparáveis, é necessário proceder a uma normalização dos dados obtidos, ou seja, ajustar os dados, colocando-os numa mesma base de comparação em relação aos dados da organização, viabilizando, assim, a comparação. Em outras palavras, a normalização busca assegurar a comparação de ‘laranja com laranja’. De acordo com Eccles e Nitin Nohria (apud BOGAN; ENGLISH, 1997, p. 59) as medidas financeiras “representam resultados de processos, apesar de que nem sempre 45 proporcionam a melhor informação sobre o que acontece nos bastidores destes processos ou como estão relacionados com outros numa análise geral”. Ainda, de acordo com Eccles (apud BOGAN; ENGLISH, 1997, p. 59-60), é normal as medidas financeiras “representarem resultados dos processos apesar de que nem sempre darem informação-chave a respeito do que realmente acontece nos seus bastidores ou como esses processos estão relacionados com outros no quadro geral”. Bogan e English (1997, p. 67) afirmam que: As diferenças em medidas de benchmark entre as diversas atividades são, às vezes, surpreendentes. Essas medidas reforçam a necessidade de cada organização desenvolver um grupo de medidas de benchmarks que reflita o melhor possível seus processos e características operacionais. Para definir benchmarks, quatro elementos de medição são especialmente importantes: o foco da medição, a perspectiva da medição, o grau de controle da medição e a capacidade de coletar dados (BOGAN; ENGLISH, 1997, p. 62). De acordo com Bogan e English (1997, p. 224) os critérios do Prêmio Baldrige atuais observam o seguinte a respeito do papel que os indicadores de desempenho e os benchmarks têm na condução das melhorias tanto incrementais quanto radicais: Os critérios orientados para resultados e as medidas de indicadores-chave não são obrigatórios, mas focalizam o que deve ser melhorado. Essa abordagem ajuda a garantir que as melhorias em todas as áreas contribuam para os objetivos gerais da organização. 46 4 CONCEITOS DE BENCHMARKING Referente ao conceito de benchmarking em um estudo realizado por Anand e Kodali (2008) foi mencionada uma abundância de definições disponíveis na literatura e de acordo com Nandi e Banwet (2000), Spendolini descobriu 49 definições para benchmarking. Segundo Maire et al. (2002) as várias definições propostas expressam os vários estágios na evolução da análise comparativa sendo que com base nestas definições eles concluíram que o benchmarking passou quatro fases importantes durante sua evolução. Durante a evolução do benchmarking, algumas das definições apontadas foram dadas por Bemowski (1991), Vaziri (1993), Benchmarking Clearing House Comitê Internacional de Design (LEMA; PRICE, 1995), Epper (1999), American Productivity & Quality Centre (1993), Dervitsiotis (2000), Freytag e Hollensen (2001), Maire (2002), etc, para citar apenas alguns. De acordo Prašnikar, Debeljak e Ahčan (2005): Benchmarking é um processo de criação de conhecimento do negócio por meio da comparação e análise de informações comerciais de outras empresas com o objetivo de melhorar a qualidade da tomada de decisão. 47 Kumar, Antony e Dhakar (2006) definiram benchmarking como: O processo de identificação, compreensão e adaptação das práticas excelentes de organizações em todo o mundo para ajudar uma organização a melhorar seu desempenho. É uma atividade que olha para forapara encontrar as melhores práticas e de alto desempenho e, em seguida, mede as operações de negócios reais contra esses objetivos. Assim Anand e Kodali (2008) analisando as diversas sobre o tema definiu o benchmarking como: Uma análise contínua de estratégias, funções, processos, produtos ou serviços, performances, etc comparando dentro ou entre organizações best-in-class com obtenção de informações através de um método de coleta de dados adequado, com a intenção de avaliar os padrões atuais de uma organização e, assim, realizar o auto- aperfeiçoamento através da implementação de mudanças para melhorar ou exceder essas normas. Segundo Prašnikar, Debeljak e Ahčan (2005) as seguintes características podem ser atribuídas ao benchmarking contemporâneo: - Ele é usado para recolher vários tipos de informações comerciais sobre outras empresas; - Usa esta informação para criar novo conhecimento sobre o negócio através da analise e comparação das suas especificações com as de outras empresas; - O conhecimento adquirido é usado pela empresa para tomar melhores decisões de negócio e, consequentemente, desfrutar de um negócio mais bem sucedido e eficaz. 48 Watson (2007) identificou 56 livros escritos, sobre benchmarking, ao longo do período que começa com seu surgimento, na Xerox, em 1979 até o ano de 2004, referente ao aniversário de 25 anos da sua invenção. A seguir algumas das principais definições e características do processo, durante este tempo, segundo diferentes autores e fontes: Para Watson (c1994) a razão fundamental do benchmarking é aprender como melhorar os processos empresariais e aumentar a competitividade, sabendo que, mais do que qualquer outra prática de qualidade, pode trazer retornos mais rápidos para o que é básico na empresa. De acordo com o Westinghouse Productivity Center (apud WATSON, c1994, p. 3): “Benchmarking é a busca contínua pela aplicação de práticas significativamente melhores que levam a desempenho competitivo superior”. Para Fred Bowers gerente do programa de benchmarking corporativo da Digital Equipment Corporation (apud WATSON, c1994, p. 3), benchmarking é: “O processo por meio do qual as organizações aprendem, modelado no processo de aprendizado humano”. Ainda segundo Watson (c1994, p. 4) uma definição, desenvolvida no AQPC pela International Benchmarking Clearing house (IBC) design Steering Committee e que representa um consenso entre cerca de 100 companhias: Benchmarking é um processo sistemático e contínuo de medida; um processo para medir e comparar continuamente os processos empresariais de uma organização em relação a líderes de processos empresariais em qualquer lugar do mundo a fim de obter informações que podem ajudar a organização a agir para melhorar seu desempenho. Para Kaplan e Norton (1992, p. 74) benchmarking é uma técnica que as empresas usam para estabelecer metas baseadas em padrões externos: 49 A empresa olha para o ramo empresarial a fim de encontrar, digamos o melhor sistema de distribuição, para outro segmento em busca do processo de folha de pagamento de menor custo e então forma um composto dos melhores métodos com o intuito de estabelecer objetivos relativos a seu próprio desempenho (KAPLAN; NORTON, 1992, p. 74). De acordo com Spendolini (1993, p. 10) o benchmarking é um: [...] processo contínuo e sistemático para avaliar produtos, serviços e processos de trabalho de organizações que são reconhecidas como representantes das melhores práticas, com a finalidade de melhoria organizacional (SPENDOLINI, 1993, p. 10). Bogan e English (1997, p. 9) afirmam que: Pela sua própria natureza, os melhores métodos são dinâmicos e evolutivos. Por essa razão, o benchmarking das melhores práticas é frenquentemente chamado como um processo “perene”: regenera a organização cada vez que é executado. Assim sendo, os defensores das melhores práticas consideram o benchmarking como um processo empresarial contínuo totalmente integrado para a melhoria contínua das organizações. Camp (1996, p. 145) relata que: Sustentar um processo de benchmarking por um período extenso de tempo, digamos anos, inclui assegurar assistência externa, desenvolver um manual para os gerentes, expor os sucessos, modelar funções, inspecionar utilização e reconhecer e recompensar excelência de benchmarking. 50 Boxwell (1996, p. 18) afirma que: O benchmarking não é um exercício só de números. Estabelecer metas quantitativas, frequentemente chamadas de medições, por meio do benchmarking é provavelmente a melhor maneira de se estabelecer metas. Mas tenha em mente que estabelecer metas comparáveis ou além daquelas das melhores empresas sem entender os processos subjacentes, que capacitam as empresas a conseguir seus resultados pode ser inútil ou coisa pior. Para Zairi e Leonard, (1995, p. 243): O benchmarking não é um processo em que o sucesso é atingido de uma vez. Ele refere-se a mudanças incrementais, com o gradual processo de se mover do melhoramento contínuo para o aprendizado contínuo. Segundo o FNPQ (2005, p. 87) uma organização que não utiliza o benchmarking torna seu potencial de melhoria limitado. Leibfried e Mcnair (1992, p. 271) afirmam que: O emprego habilidoso das técnicas de benchmarking começa pelo estudo cuidadoso do que são capazes de realizar pela firma, pela clara explicitação dos objetivos da análise subjacentes e pela contínua aprendizagem dos dados e do próprio sucesso. A implementação do benchmarking tem um começo, mas não um fim. 51 De acordo com Camp (1996, p. 146): Benchmarking não é só achar dados e informações sobre as melhores práticas, mas é também, mais importante ainda, um processo de aprendizagem. Benchmarking é uma experiência de aprendizagem, não é apenas um esforço de coleta de dados. Segundo Yasin (2002, p. 220) o benchmarking pode ser visto como "uma técnica de multi-facetado que pode ser usada para identificar lacunas operacionais e estratégicas e encontrar as melhores práticas para eliminar estas diferenças". Spendolini (1993) elaborou uma tabela com a finalidade de melhor distinguir e definir o conceito de benchmarking, conforme Tabela 3 a seguir: Tabela 3 – O que é Benchmarking Benchmarking é Benchmarking não é - Um processo contínuo - Um evento que ocorre uma única vez - Um processo de investigação que fornece informações valiosas - Um processo de investigação que fornece respostas simples - Um processo de aprendizado com os outros, uma busca pragmática de idéias - Copiar, imitar - Um processo que leva tempo e dá trabalho, exigindo disciplina - Rápido e fácil - Uma ferramenta viável que fornece informações úteis para melhorar praticamente qualquer atividade de negócios - Uma novídade, uma moda Fonte: Spendolini (1993, p. 34). Em uma literatura mais recente Watson (2007) também elaborou uma distinção sobre o que constitui benchmarking e o que não constitui, conforme a Tabela 4. 52 Tabela 4 – O que é Benchmarking II Benchmarking é Benchmarking não é - Um processo de descoberta - Um processo de livro de receitas - Uma metodologia de melhoria - A panacéia para soluções de problemas - Uma fonte de idéias inovadoras - Algo habitual em um negócio - Uma oportunidade de aprendizagem - Um modismo de gestão - Uma análise objetiva do trabalho - Uma teoria subjetiva - Uma abordagem de aprendizagem baseada em processos - Apenas uma medição de desempenho do processo - Um meio que gera idéias de melhoria - Apenas uma comparação quantitativa de resultados
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